quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A GEOPOLÍTICA NO PÓS-GUERRA

A GUERRA FRIA
  "Guerra improvável, paz impossível." Assim o intelectual francês Raymond Aron (1905-1983) definiu a Guerra Fria. Dada a capacidade bélica dos dois países - Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS) -, uma guerra efetiva nunca aconteceria, mas o clima de tensão permanente, típico dos conflitos armados, continuaria enquanto as posições políticas não fossem alteradas. Foi o que ocorreu com a URSS nos anos 1980.
Mapa da antiga União Soviética
  O período da Guerra Fria é compreendido entre os anos de 1945 e 1991. Seus marcos são o término da Segunda Guerra Mundial e a dissolução da URSS. Com o término da Guerra Fria, estabeleceu-se a ideia de uma nova ordem mundial. A vigência da Guerra Fria seria, portanto, a velha ordem mundial.
A FORMAÇÃO DA BIPOLARIDADE
  As raízes do processo que culminou com a Guerra Fria são anteriores ao desfecho da Segunda Guerra Mundial. Com o vácuo de poder deixado por França e Inglaterra, fortemente afetadas pelo conflito mundial, consolidou-se a posição dos EUA e da URSS, as duas potências vencedoras da Segunda Guerra.
  Nas conferências de Yalta e Postdam, ao final da guerra, os limites da bipolarização (divisão do mundo em dois blocos antagônicos, o socialista e o capitalista) foram esboçados, pois ali já se cogitava a questão da divisão da Europa em áreas de influência soviética e estadunidense. Apontava-se uma situação de conflito nos campos ideológico, econômico e político, assim como nas dimensões militar e estratégica.
Winston Churchill (Grã-Bretanha), Harry S. Truman (EUA) e Josef Stalin (URSS) durante a Conferência de Postdam
  Após os julgamentos de Nuremberg (entre 1945 e 1946), em que a culpa pelos conflitos da Segunda Guerra Mundial foi atribuída aos alemães, o mundo assistia à formação de dois blocos de países com sistemas políticos e econômicos diferentes, que disputariam a supremacia em nível global.
  De um lado estavam os EUA, cujo território saíra praticamente ileso da Segunda Guerra Mundial, com uma economia em franca produção - graças ao esforço de guerra e à força política de quem entrou no conflito para apoiar os Aliados (franceses, ingleses e soviéticos). Do outro a URSS, também vencedora, mas com um saldo muito amargo. Os soviéticos enfrentaram e derrotaram o exército alemão em seu território, fazendo-o recuar às fronteiras germânicas. O preço da vitória militar  foi um rastro de destruição nas cidades e nas indústrias soviéticas. Os campos foram bombardeados, o que levou à queda das safras. As perdas humanas foram imensas: estima-se que mais de 20 milhões de soviéticos perderam a vida (a maioria civis), enquanto outros milhares ficaram feridos.
Tanques de guerra alemães passam por aldeia soviética em chamas, incendiada pelo povo antes da evacuação, durante a Segunda Guerra Mundial, em julho de 1941.
  Com esse histórico, EUA e URSS iniciaram um processo de consolidação e difusão dos seus regimes e ideologias para outras partes do globo. O restante dos países do mundo, sob influência de cada um deles, se alinharia em dois blocos.
A CORTINA DE FERRO
  Após a Segunda Guerra Mundial, o governo dos EUA criou o Plano Marshall, conjunto de medidas de ajuda econômica para que os países europeus pudessem reconstruir seus territórios. No âmbito político-militar, sob a liderança dos EUA, foi fundada, em 1949, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), cujo objetivo era proteger os países aliados capitalistas.
  A resposta soviética foi a constituição de organizações semelhantes, como o Conselho para Assistência Econômica Mútua (Comecom) e o Pacto de Varsóvia (1955), uma aliança militar de defesa e ajuda mútua em caso de ataque estadunidense a um dos países do bloco socialista.
Países membros da Otan (amarelo) e do Pacto de Varsóvia (laranja).
  A fronteira entre os países socialistas e capitalistas, tão bem definida pelas alianças militares, constituía o que veio a ser chamado de Cortina de Ferro: os países do Leste Europeu localizados na interface das áreas de influência de cada bloco.
Em vermelho a chamada "cortina de ferro" - linha que separava os países socialistas dos capitalistas na Europa.
OS CONFLITOS DA GUERRA FRIA
  Suponha-se inicialmente que, dadas as perdas soviéticas na guerra, a URSS não conseguiria enfrentar os EUA e suas bombas atômicas, como as lançadas sobre o território japonês (Hiroshima e Nagasaki, em 1945). Mas, ainda na década de 1950, os soviéticos já tinham toda a tecnologia e o know-how da bomba atômica e apresentaram seus artefatos nucleares. Depois, o primeiro satélite; o primeiro ser vivo mandado para o espaço (a cadelinha Laika); e o primeiro cosmonauta, Yuri Gagarin.
Yuri Gagarin - primeiro ser humano a sobrevoar o espaço terrestre
  Posteriormente, ocorreram as missões espaciais estadunidenses - a Apollo 8 sobrevoou o entorno da Lua e a Apollo 11 pousou em solo lunar. Os Estados Unidos ganhavam a dianteira na corrida espacial. Paralelamente aos avanços aeroespaciais, veio o crescimento dos arsenais militares, criando o chamado equilíbrio do terror: as duas potências poderiam destruir uma à outra e ao mundo.
Neil Armstrong - pisando e fincando a bandeira dos Estados Unidos no solo lunar, em 20 de julho de 1969.
  Ainda que não tenha havido guerras entre elas, houve momentos de grande tensão, como a crise dos mísseis, em 1962; mísseis nucleares soviéticos foram instalados em Cuba, sob o pretexto de auxiliar a ilha a defender seu território, que sofrera uma tentativa de invasão com apoio do governo estadunidense.
Mísseis soviéticos instalados em Cuba
  Houve também guerras, ainda que não nos territórios dos EUA e da URSS: da Coreia (1950-1953), do Vietnã (1962-1975) e do Afeganistão (1979-1989). Outros países se envolveram nas tensões da Guerra Fria, como Israel, apoiado pelos Estados Unidos. Todos esses conflitos tiveram participação direta ou indireta dos EUA e da URSS, que buscavam manter sua influência sobre o maior número possível de países.
Crianças fogem desesperadas após a explosão de uma bomba de napalm, em 1972, durante a Guerra do Vietnã.
A DESCOLONIZAÇÃO
  Na Segunda Guerra, os governos dos países colonizados pelas potências europeias perceberam que seus dominadores não tinham mais a força de outrora e não poderiam despender energia para confrontá-los. Isso fortaleceu os movimentos internos de libertação das colônias na África e no Sudeste Asiático.
  Esses movimentos assumiram características distintas, dependendo dos ideais que os norteavam e da reação das potências. O jogo político gerou em algumas colônias um processo gradual e pacífico às quais as potências concederam a independência. Em outras, o processo de descolonização deu-se por meio de sangrentas guerras.
Domínios coloniais na África, Ásia e Oceania
  A Inglaterra adotou uma postura mais pacifista, enquanto a França e a Holanda tiveram posturas mais duras, tentando conter as "insubordinações". Ambas, entretanto, acabaram cedendo à pressão dos movimentos populares de resistência e libertação.
A DESCOLONIZAÇÂO NA ÁSIA
  As Filipinas tornaram-se independentes em 1946. Antiga colônia estadunidense, o arquipélago foi o pioneiro no processo de independência. Em 1949, foi a vez da Indonésia. Apesar de perder uma guerra travada com os holandeses, as forças nacionalistas conseguiram formar um governo reconhecido pela antiga metrópole.
Domínios estrangeiros na Ásia e Oceania
  Denominada Indostão, a região que hoje abrange os territórios da Índia, de Bangladesh e do Paquistão tornou-se independente no fim dos anos 1940. Em 1942, no auge do conflito mundial, acentuou-se a luta dos indianos pela independência, sob a lideranaça de Mahatma Gandhi - que pregava a resistência pacífica contra o domínio inglês - e Jawaharlal Nehru, entre outros. Esses líderes haviam estudado em universidades britânicas e voltado ao seu país para fortalecer o movimento de libertação.
Indostão
  No final da Segunda Guerra Mundial, graves distúrbios sociais abalaram a Índia e, em 1947, a diplomacia britânica concedeu a liberdade ao país.  Nehru tornou-se o primeiro chefe de Estado indiano. Mas o governo sofreu forte oposição da Liga Muçulmana, que defendia a existência de um Estado muçulmano independente. No mesmo ano, o território foi dividido em dois Estados soberanos: a Índia (de população hindu) e o Paquistão (de população muçulmana). Em 1948, Gandhi foi assassinado por um radical hindu revoltado pela atitude de conciliação do líder para com os muçulmanos. Bangladesh só viria a se tornar independente em 1971, após conflito armado com o Paquistão.
Mahatma Gandhi - a "Grande Alma"
  Ainda hoje são percebidas marcas da colonização britânica, como o idioma inglês, falado por grande parte da população indiana, e o gosto pelo críquete, tradicional esporte britânico.
  Na Indochina, entre 1946 e 1954, a França entrou em violento conflito, que deixou como saldo a fragorosa derrota do exército francês. O resultado disso foi a independência da região que se dividiu em três países: Laos, Camboja e Vietnã. Este último dividiu-se em Vietnã do Norte e Vietnã do Sul, cada qual sob a influência de uma das potências da Guerra Fria, tornando-se mais tarde palco de uma violenta guerra de mais de uma década (1962-1975), que impôs aos EUA uma grande derrota.
Península da Indochina
A DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA
  O processo de descolonização da África iniciou-se nos anos 1950. Nesse continente, a questão da independência tem características específicas, pois os países estão presos às fronteiras projetadas pelos cartógrafos europeus que realizaram a divisão africana na Conferência de Berlim. São Estados forjados no processo de divisão colonial, cujos territórios abrigam grupos étnicos historicamente rivais, que passaram a disputar oficialmente o poder.
  Manter os traçados dos colonizadores é um paradoxo: ao mesmo tempo que isso desrespeita a história, é o caminho mais viável para a consolidação de um processo de paz no continente. Desfazer as fronteiras é muito mais difícil do que estabelecê-las.
Divisão da África de acordo com a Conferência de Berlim
Processos violentos e pacíficos
  Uma das principais marcas do processo de colonização africana foi o racismo dos colonizadores, expressado com mais clareza no apartheid, implantado na África do Sul.
  Houve movimentos de libertação na África, principalmente nas antigas colônias inglesas, como Gana e Nigéria, que mesmo sendo países pluriétnicos conquistaram a independência de modo rápido e relativamente pacífico. Também na Líbia o processo foi relativamente fácil, dada a inexpressiva resistência da Itália, em 1951.
Mapa da independência dos países da África
  Após nove anos de guerra, a França foi obrigada a reconhecer a independência da Indochina, derrota que estimulou a manutenção de uma postura firme na África. Assim, a região do Magreb, no norte da África, sofreu por anos com um dramático conflito. Durante quase uma década, até o armistício de 1962, o exército francês guerreou na Argélia. Aproveitando que o conflito acontecia com maior intensidade no país vizinho, Marrocos e Tunísia declararam-se independentes em 1956, sendo reconhecidos pelo governo da França.
Em destaque a região do Magreb
  Com a chegada de Charles de Gaulle ao poder na França, em 1958, o processo de descolonização foi facilitado. De Gaulle buscava restabelecer a imagem da França no continente europeu e recuperar o prestígio do país, que ficou muito abalado após as duas grandes guerras e o desgaste com as guerras coloniais. Todas as ex-colônias francesas foram libertadas.
Charles de Gaulle
  As colônias portuguesas (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe) foram as que mais demoraram a se libertar. Até 1974, Portugal manteve com mão de ferro seus domínios na África. Portugal nunca fora uma potência industrial e mantinha um vínculo com as colônias ao estilo antigo, como no tempo das Grandes Navegações (séculos XV e XVI). Apenas com a Revolução dos Cravos, em 1974, as colônias portuguesas alcançaram a independência.
Colônias portuguesas na África: 1 - Guiné-Bissau; 2 - Moçambique; 3 - São Tomé e Príncipe; 4 - Cabo Verde; 5 - Angola.
  A independência do Congo Belga (atual República Democrática do Congo - RDC) também foi sangrenta. Fruto de uma aquisição pessoal do rei Leopoldo II, da Bélgica, esse território ficou de herança para o país após a morte do soberano. Nos anos 1950, explodiram os movimentos de libertação nacional, e em 1960 a independência foi reconhecida. Os anos seguintes foram marcados por guerras e massacres levados a cabo por Mobutu Sese Seko, que tomou o poder, mudou o nome do país para Zaire e governou até sua ditadura ser derrubada, em 1997.
República Democrática do Congo
O MOVIMENTO DOS NÃO ALINHADOS
AS ORIGENS
  O movimento dos países africanos e asiáticos não alinhados teve suas origens na Conferência de Bandung, em 1955. Nela, os representantes desses países se posicionaram contra um alinhamento aos blocos capitaneados pelas grandes potências, EUA e URSS. Todavia, participaram desse evento países como a Turquia, o Paquistão, o Iraque, a China e o Vietnã do Norte, que mantinham relações políticas e laços muito estreitos com os blocos que compunham o sistema bipolar.
  Inicialmente, compunham o movimento alguns países que haviam acabado de ser libertados da dominação dos impérios coloniais, como a Índia, a Indonésia e o Egito.
  Depois da conferência, começou um movimento de rejeição à política dos dois blocos hegemônicos da Guerra Fria. As discussões avançaram com a realização da Convenção dos Países Não Alinhados, na cidade do Cairo, e da Cúpula dos Países Não Alinhados, em Belgrado, na então Iugoslávia, ambas em 1961.
Países que participaram do Movimento dos Países Não Alinhados.
A POSIÇÃO POLÍTICA
  Ser um país não alinhado tinha, inicialmente, muitos significados, uma vez que eles eram desmerecidos pelas duas potências. Os EUA os consideravam traidores da democracia e os soviéticos contrapunham-se a qualquer país que não pertencesse ao bloco socialista.
  Alguns desses significados eram extremamente importantes, como a manutenção de uma posição anti-imperialista. Outro ponto relevante era abster-se de configurar nas opções políticas e estratégicas dos países de ambos os blocos, ainda que suas fronteiras fossem próximas. Um terceiro ponto de relevância era a postura de não assumir posições militares de apoio. Ou seja, esses países não adeririam a nenhum tratado militar que fosse proposto, tampouco cederiam suas bases territoriais para quaisquer tipos de atividade ou ação militar de países pertencentes a um dos blocos.
A DESCOLONIZAÇÃO E O TERCEIRO MUNDO
  Com as guerras de independência e o constante movimento de descolonização e dissolução dos impérios coloniais, principalmente na Ásia e na África, uma série de novos países foi surgindo no globo. Por conta de suas economias destruídas pelas guerras e/ou pelos longos períodos de dominação colonial, eles foram engrossando as fileiras do movimento dos não alinhados. Dos 29 países que se encontraram em Bandung, em 1955, o grupo hoje conta com mais de cem países.
Movimento dos Países Não Alinhados em 2005: países membros (azul escuro) e observadores (azul claro)
O TERCEIRO MUNDO E O NÃO ALINHAMENTO
  Durante a Guerra Fria, era comum dividir o mundo em três blocos: Primeiro Mundo (países capitalistas desenvolvidos), Segundo Mundo (países socialistas) e Terceiro Mundo (países capitalistas não desenvolvidos). Foram fundamentalmente os países pertencentes a este último grupo que formaram o bloco dos não alinhados.
  É importante notar que esse é um bloco heterogêneo, que abriga desde países como Cuba (socialista) até países como a Índia e o Egito, que sempre se declararam capitalistas.
Divisão dos países durante a Guerra Fria em: Primeiro Mundo (azul), Segundo Mundo (vermelho) e Terceiro Mundo (verde).
A DINÂMICA INTERNA
  As bases do movimento, discutidas em três conferências - Bandung (1955), Cairo (1961) e Belgrado (1961) - foram levadas à Organização das Nações Unidas (ONU), de modo que dessem maior publicidade  a sua posição de neutralidade política. Esse foi um gesto eminentemente político, pois sendo os países membros das Nações Unidas, a neutralidade clássica foi quase impossível, devido a estrutura da própria organização, que mantém um Conselho de Segurança e possui algumas prerrogativas para formar forças de paz e de intervenção em conflitos armados em diferentes territórios.
  Também houve mudanças na atuação e na linha política do bloco. O ímpeto inicial anti-imperialista e anti-Guerra Fria foi se alterando com as mudanças ocorridas nas relações entre EUA e URSS ao longo do tempo. Ainda hoje o movimento existe formalmente, e sua última conferência foi realizada em Havana, capital de Cuba, em 2006. Mas no mundo atual é difícil verificar a posição de não alinhamento, dados o fim da Guerra Fria e o esgarçamento das bandeiras iniciais do movimento.
Representantes de vários países durante a XVI Cúpula do Movimento dos Países Não Alinhados, em Havana, Cuba, em setembro de 2006.
O FIM DA UNIÃO SOVIÉTICA E A NOVA ORDEM MUNDIAL
  A União Soviética constituiu, por mais de cinquenta anos, um sistema antagônico ao capitalismo; firmou-se como uma grande potência militar após vencer os alemães, fez frente aos Estados Unidos, da ideologia política aos processos industriais, desenvolvendo poderio atômico e forte  indústria aeroespacial.
  Durante as décadas de 1970 e 1980, o planejamento estatal dava sinais de fadiga. A excessiva burocracia político-administrativa soviética gerava corrupção, pouca motivação e acomodação. Os excessos burocráticos também causavam desperdícios de matéria-prima, levando a diminuição da produtividade e à falta de produtos.
Kremlin - era a sede oficial do Soviete Supremo da União Soviética
  Envolvido em conflitos externos, como a guerra com o Afeganistão, e em disputas políticas internas, o país assistiu ao fracasso de seus planos de melhoria em setores como habitação e transporte. Os recursos destinados a esses setores eram alocados em outros, especialmente no militar. Além disso, a população estava insatisfeita com a falta de liberdade e de participação política no país, que era subordinada ao partido único, o Partido Comunista.
  Esse conjunto de fatores contribuiu para a dissolução da União Soviética.
  Diante desses desafios, Mikhail Gorbachev assumiu a liderança do país, em 1985.
  Ele conhecia as agruras do sistema, pois fizera carreira política no Comitê Central do Partido Comunista. Seu programa de mudanças acabou levando o regime comunista à dissolução.
  Em 1986, a URSS revogou, de maneira unilateral, os testes nucleares subterrâneos. No dia seguinte, assinou um tratado de eliminação de mísseis de médio alcance e logo depois retirou as tropas do Afeganistão (invadido em 1979). Seu plano era fortalecer a economia, diminuindo o peso dos gastos militares.
Retirada das tropas soviéticas do Afeganistão em 1988
  Paralelamente, Gorbachev colocou em prática uma reforma interna pautada na perestroika (reestruturação econômica) e na glasnost (abertura política). Reduziu ainda a estrutura estatal repressiva e as atribuições da KGB (a polícia secreta da URSS), liberou a formação de novos partidos políticos e arrefeceu o controle exercido sobre os países-satélites europeus.
Mikhail Gorbachev
  Prontamente houve reações. Os conservadores eram contra as mudanças; outros setores queriam que se estabelecesse o capitalismo. Quando as repúblicas bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia) defenderam sua autonomia, a pressão interna aumentou. Em agosto de 1991, Gorbachev sofreu um golpe de Estado e foi restituído do poder; mas, enfraquecido, passou o cargo a Boris Yeltsin, presidente da Rússia, em dezembro. Era o fim da URSS, que se fragmentou em 15 Estados nacionais.
  Nascia assim a Comunidade dos Estados Independentes (CEI), cuja república principal é a Federação Russa (Rússia). A máquina militar, debilitada abriu espaço também para o processo  de desmontagem da Cortina de Ferro: os antigos países sob a influência da URSS desvincularam-se dela e mudaram de lado. Redesenhou-se o mapa da Europa e da Ásia.
Países que faziam parte da antiga União Soviética: 1 - Armênia; 2 - Azerbaijão; 3 - Bielorrúsia (Belarus); 4 - Estônia; 5 - Geórgia; 6 - Cazaquistão; 7 - Quirguistão; 8 - Letônia; 9 - Lituânia; 10 - Moldávia; 11 - Federação Russa (Rússia); 12 - Tadjiquistão; 13 - Turcomenistão; 14 - Ucrânia; 15 - Uzbequistão.
UM NOVO MAPA PARA A EUROPA
  A derrocada da URSS formalizou o fim da Guerra Fria, mas os sinais de deterioração já eram claros. Em novembro de 1989, a queda do Muro de Berlim - que dividia Berlim Oriental (comunista) de Berlim Ocidental (capitalista) - foi o mais evidente símbolo do fim da hegemonia da União Soviética e anunciou a dissolução do bloco socialista.
  Outros países passaram por processos de desmonte das estruturas comunistas e adaptação ao capitalismo. Houve uma redefinição das fronteiras nacionais da Europa e a busca de um rearranjo étnico nos países.
Mapa da Europa durante a Guerra Fria
  Na Tchecoslováquia, a Revolução de Veludo (1989) derrubou o comunismo. Alguns anos depois, por uma série de razões de ordem econômica, cultural e social, o país foi dividido em dois: República Tcheca e Eslováquia. A Polônia, também em 1989, proclamou a chamada Terceira República e, em 1990, instituiu um programa de reformas internas para se adequar às estruturas capitalistas.
República Tcheca (azul) e Eslováquia (verde)
  Na Romênia, a derrubada do regime comunista ocorreu de maneira sangrenta. Nicolae Ceausescu, líder do país por mais de duas décadas, foi fuzilado pelo Exército romeno após ser acusado de genocídio e outros crimes e julgado culpado.
  A situação mais dramática aconteceu na Iugoslávia. Norman Stone escrevia, em 1992, no jornal inglês Sunday Times: "Na Iugoslávia havia seis repúblicas (Eslovênia, Croácia, Bósnia, Sérvia, Montenegro e Macedônia), cinco povos (eslovenos, croatas, sérvios, albaneses e montenegrinos), cinco idiomas (sérvio, macedônio, bósnio, croata e eslovênio) , três religiões (católica, muçulmana e ortodoxa), dois alfabetos (cirílico e latino) e um partido - o comunista". A frase sintetiza o caldeirão étnico-cultural que compunha o país. De 1945 a 1980, a Iugoslávia foi governada por Josip Broz Tito, que conseguiu manter a unidade do país. Com sua morte, porém, surgiram os primeiros problemas relacionados à xenofobia interna, embora o comunismo ainda fosse o sustentáculo do Estado.
Mapa da étnico-religioso da ex-Iugoslávia
  Com a queda do regime comunista, as repúblicas da Croácia e da Eslovênia declararam independência. O governo respondeu com violentos ataques do exército, mas os países foram reconhecidos internacionalmente.
  Em 1992 iniciou-se um violento conflito na Bósnia-Herzegóvina. A guerra, que durou até 1995, envolveu sérvios, croatas e muçulmanos. As forças de Paz da ONU intervieram, bem como a Otan, o que pôs fim ao conflito e confirmou a independência da Bósnia-Herzegóvina.
  Ainda em 1992, a Macedônia conseguiu autonomia por acordo político. Em 1999, a província de Kosovo declarou-se independente e teve seu território invadido pelas tropas sérvias. Os albaneses, maioria da população de Kosovo, acusou o presidente iugoslavo, Slobodan Milosevic, de praticar uma carnificina na província. A Iugoslávia foi invadida por tropas da Otan, pondo fim ao conflito. Em 2003, o território remanescente da Iugoslávia passou a chamar-se Sérvia e Montenegro. Depois de um plebiscito, Montenegro separou-se da Sérvia em 2006.
Atual divisão da ex-Iugoslávia
FONTE: Geografia, 3° ano: ensino médio / organizadores Fernando dos Santos Sampaio, Ivone Silveira Sucena. 1. ed. - São Paulo: Edições SM, 2010. (Coleção ser protagonista).

2 comentários:

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