quarta-feira, 31 de outubro de 2018

O POVO DONGRIA KONDH

  Uma das tribos mais antigas da Índia enfrenta uma ameaça renovada de destruição depois que uma nova licitação legal foi lançada pelo governo do estado para abrir suas terras ancestrais à exploração de uma gigante britânica de mineração.
  O movimento surpresa contra a tribo Dongria Kondh, no empobrecido estado de Orissa, chocou ativistas que acreditavam que um veredito final para salvar a tribo havia alcançado em uma decisão histórica em 2013.
  Ser um Dongria Kondh significa viver nas montanhas de Niyamgiri, no estado de Orissa, na Índia - eles não vivem em outro lugar. Os Dongria cultivam as encostas, plantam culturas no meio da floresta e coletam frutos silvestres e folhas para a venda. Existem mais de 8 mil membros da tribo vivendo em aldeias espalhadas nas montanhas de Niyamgiri. Chamam-se Jharnia, que significa "protetor dos córregos", pois ele protege as suas montanhas sagradas e os rios que dão a vida que se ergue na sua floresta densa.
  Até hoje, os Dongria Kondh sobrevivem buscando e caçando na espessa floresta de Orissa, complementando sua existência com o cultivo de hortifrútis, que eles trocam nos mercados locais de ferramentas de metal e bugigangas.
  Eles falam Kui, uma língua que poucas pessoas de fora entendem, e reverenciam seu lar nas montanhas como uma encarnação de sua divindade Niyam Raja.
Mulheres Dongria Kondh
  Todo o ciclo de semeadura e colheita é controlado por dharani penu, que deve ser reverenciado antes e depois da época de cultivo. Elementos naturais, água, pedras, rochas, animais são todos pensados para ter alma, que é para ser reverenciada. Assim, a crença politeísta e animista é guiada pela proximidade com os humores e ritmos da natureza, exigindo respeito e cooperação com as forças naturais. Isso reflete no modo de vida praticado pela comunidade e em suas relações socioculturais. As colinas de Niyamgiri, moradas de Niyamraja, são portanto, inteiramente sagradas, e as práticas cotidianas de vida, habitação e subsistência são, portanto, profundamente integrantes da capacidade de vida sagrada de Niyamgiri.
  Até 1835, quando encontraram os colonos britânicos pela primeira vez, a tribo realizava sacrifícios humanos - uma prática que os britânicos os forçaram a parar.
  Embora o modo de vida dos Dongria Kondh sempre tenha experimentado mudanças devido à crescente interação com o mundo exterior, a economia de mercado e o ataque da ameaça de uma indústria extrativista trouxe uma mudança radical no mundo Dongria Kondh. 
  Para os Dongria Kondh, a colina Niyam Dongar é a casa de seu deus, Niyam Raja. Para a transnacional inglesa Vedanta, é um depósito de 2 bilhões de dólares em bauxita. Os Dongria e tribos vizinhas Kondh, que também reverenciam Niyam Raja, estão determinados a proteger a montanha sagrada. Eles realizam bloqueios de estradas, uma corrente humana e inúmeras manifestações contra a empresa.
Sacerdotisas realizam ritual antes de irem buscar sementes de milho
  Os Dongria Kondh cultivam mais de 20 variedades de painço em seus campos, além de lentilhas e oleaginosas. Na década de 1970, eles foram induzidos a produzir hortifrutigranjeiros e a cultivar abacaxi, laranja, limão e banana em grande escala. Eles coletam uma grande variedade de produtos florestais, como broto de bambu, gengibre selvagem, cogumelos, entre outros produtos.
  A tradicional sociedade Dongria Kondh sempre se baseou em uma estrutura familiar rígida envolvendo pessoas de diferentes gerações e estas foram marcadas por clãs demarcados geograficamente, onde cada clã era identificado por um nome de animal macho. A identificação do clã é ainda classificada por sobrenome, onde o sobrenome do membro masculino mais velho da família mais poderosa do clã é geralmente usado par denotar aquele clã em particular.
  Esse sistema de classificação de clãs dentro da comunidade Dongria Kondh é um processo de divisão de clãs, que também é semelhante à sociedade nativa americana, onde havia uma presença de distribuição dispersa de clã por toda a terra.
Moradia Dongria Kondh
  O corpo político e de decisão sócio-político da comunidade Dongria Kondh é também conhecido como Kutumba. Para tornar o trabalho do corpo mais eficiente, a Kutumba é então dividida em dois grupos: um que funciona no nível do clã ou Kuda Kutumba, e outro no nível do assentamento, ou Nayu Kutumba. O manejo de cada clã é então feito de acordo com uma divisão mais ao nível da raiz, na qual um grupo separado de pessoas é dedicado a tratar dos assuntos religiosos e políticos dos Dongria Kondh, formando quatro grupos funcionais ou punjás.
  Os punjás dos Dongria Kondh são: jani, pujari, bismajhi e mandal. O kuda kutumba preside o mandal matha, que administra os assuntos de um determinado clã e um agrupamento de aldeias. Preside e resolve disputas relacionadas a grupos interétnicos e inter-religiosos.
  Os Dongria Kondh adotaram um sistema de transmitir valores culturais e tradicionais aos adolescentes e jovens de suas aldeias através de dormitórios exclusivo para jovens. As mulheres dongrias também recebem status igual na sociedade em questões como o novo casamento da viúva, possuindo propriedade sem a interferência de seus maridos e filhos.
  A estrutura da família Dongria Kondh depende de qual clã a pessoa pertence, pois a exogamia do clã é praticada nesta comunidade que, de acordo com algumas pessoas, é um processo de tabu do incesto que prevalece entre essas comunidades em seus costumes. Estes exogâmicos grupos de clãs resultaram na existência de grupos de clãs dominantes, devido a um processo de casamento e parentesco que se formou durante um longo período de tempo.
Mulheres Dongria Kondh
Disputa de mineração
  Em 1997, a Sterlite Industries, uma parte do grupo Vedanta Resources, apresentou propostas para construir uma refinaria de alumínio na localidade vizinha de Lanjigarh e extrair bauxita das Niyamgiri Hills como matéria-prima para a refinaria, como uma joint venture com a estatal Orissa Mining Corporation. A refinaria foi aberta em 2006, mas o desenvolvimento da mineração foi interrompido por ação legal, e descobriu-se que a construção da refinaria infringiu as leis relativas à proteção ambiental e aos direitos das pessoas locais. A empresa argumentou que a mineração em Niyamgiri deveria prosseguir, uma vez que permitiria que o alumínio fosse produzido mais economicamente do que trazer matéria-prima de distâncias maiores.
  O desenvolvimento da mineração foi suspenso pelo governo da Índia em 2010, com a afirmação de que a empresa desrespeitou a lei e desconsiderou os direitos dos Dongria Kondh. Em 2013, a Suprema Corte da Índia, ordenou que o governo de Odisha consultasse as tribos locais, citando a proteção concedida aos grupos tribais e florestais sob a Lei dos Direitos Florestais de 2006. Doze conselhos de aldeia Dongria Kondh foram consultados e todos rejeitaram a proposta da mineração.
  Em janeiro de 2014, o Ministério do Meio Ambiente, Floresta e Mudança Climática da Índia anunciou que estava recusando a liberação da mina. O governo do estado de Odisha, desde então, pediu, sem sucesso, permissão do Supremo Tribunal para reiniciar o esquema.
Refinaria Vedanta
REFERÊNCIA: Garcia, Valquíria Pires
Projeto mosaico: geografia: ensino fundamental / Valquíria Pires Garcia, Beluce Bellucci. 1. ed. - São Paulo: Scipione, 2015.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

O SOCIALISMO

  Nos anos 1960, lia-se com frequência nos jornais e revistas que o mundo estava dividido entre os blocos socialista e capitalista. Havia até mesmo um grande temor de uma nova guerra mundial de dimensões até maiores que as anteriores, por causa dos interesses conflitantes desses blocos.
  Ideologia é um conjunto de ideias ou pensamentos de uma pessoa ou de grupos de indivíduos. A ideologia pode está ligada à ações políticas, econômicas e sociais. O termo ideologia foi usado de forma marcante pelo filósofo Antoine Destutt de Tracy.
  O conceito de ideologia foi muito trabalhado pelo filósofo alemão Karl Marx, que ligava a ideologia aos sistemas teóricos (políticos, morais e sociais) criados pela classe dominante. De acordo com Marx, a ideologia da classe dominante tinha como objetivo manter os mais ricos no controle da sociedade.
Estátua de Robert Owen, em Manchester - Inglaterra
A origem do socialismo
  A origem da teoria socialista está diretamente relacionada ao contexto europeu do século XIX. Já nas primeiras décadas desse século, associações de operários começaram a reivindicar melhores condições de trabalho nas fábricas, que há algumas décadas começaram a surgir na Inglaterra, depois na França e em outros países europeus. Os operários reclamavam das péssimas condições de trabalho, da inexistência de direitos do trabalhador, dos baixíssimos salários e das longas jornadas de trabalho.
  Nesse contexto, começaram a surgir pensadores que faziam críticas ao próprio sistema capitalista e propunham formas alternativas de organização do trabalho e da sociedade. Eles denunciavam a situação de exploração do trabalhador e buscavam modelos que permitissem alcançar maior igualdade social.
A Revolução Industrial contribuiu para novos pensamentos em defesa dos trabalhadores
  Entre esses pensadores, encontra-se o francês Charles Fourier (1772-1837), um forte crítico da sociedade burguesa. Ao usarem o termo "sociedade burguesa", os fundadores do pensamento socialista estavam se referindo aos capitalistas e a todos os princípios que defendiam. Um dos maiores princípios burgueses é a defesa da propriedade privada.
  Fourier acreditava que os seres humanos deveriam viver para alcançar o maior prazer individual possível. Só que estava evidente que a sociedade industrial não proporcionava isso ao impor aos trabalhadores longas e estafantes jornadas de trabalho em troca de salários miseráveis. Fourier defendia que a sociedade deveria se organizar com base em cooperativas, nas quais as tarefas e os benefícios do trabalhador seriam partilhados por todos os cooperados.
  Não haveria a propriedade privada, mas sim a propriedade coletiva. Em uma fábrica, por exemplo, os trabalhadores seriam cooperados e participariam em condição de plena igualdade das tarefas a serem executadas, recebendo igualmente os rendimentos advindos dessa atividade. Não haveria patrões e empregados, nem altos e baixos salários; todos seriam iguais. Para ele, esse seria o caminho para a implementação do socialismo, estágio em que a cooperação estaria disseminada pela sociedade e a felicidade do ser humano se tornaria possível com o fim da exploração dos trabalhadores.
Charles Fourier - pensador francês
  Outro autor que pode ser considerado um dos fundadores do pensamento socialista é o inglês Robert Owen (1771-1858). Ele era proprietário de uma fábrica, mas discordava de que o lucro do proprietário fosse a maior finalidade de uma fábrica. Com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores de sua fábrica, ele reduziu a jornada de trabalho e investiu na formação das crianças, além de contribuir para que os trabalhadores tivessem melhores condições de moradia e saúde.
  Defensor do comunismo, que seria para ele um princípio de organização social no qual prevaleceria o trabalho comunitário, foi para os Estados Unidos e, em 1824, fundou uma colônia comunitária denominada Nova Harmonia, que fracassou em 1829.
Robert Owen - empresário e pensador inglês
  Na primeira metade do século XIX, outros pensadores elaboraram novas teorias socialistas. Entre eles estão os alemães Karl Marx e Friedrich Engels, autores do Manifesto Comunista. Para eles, os socialistas que os antecederam eram "utópicos", pois não conseguiram construir um caminho possível para o socialismo. Marx e Engels autodenominavam-se fundadores do socialismo científico, cujo objetivo era fazer a crítica da sociedade capitalista e viabilizar o socialismo, ao que se seguiria o estágio mais avançado de sociedade: o comunismo.
  Para eles, a História propriamente dita se constituía da história de luta de classes. Existiam aqueles que exerciam o domínio e aqueles que eram explorados, ou seja, de um lado estavam os patrões, os donos da riqueza; e de outro, os trabalhadores, população pobre, que precisava vender sua força de trabalho para obter dinheiro suficiente para seu sustento.
Karl Marx (1818-1883) - pensador alemão
  Segundo essa teoria, na sociedade capitalista havia uma clara distinção entre os detentores da riqueza (os proprietários do capital) e os trabalhadores explorados. Enquanto os primeiros acumulavam cada vez mais riquezas, os segundos mal ganhavam o necessário para a sobrevivência. O capitalismo possui muitas desigualdades sociais, fato que levaria os trabalhadores a se organizar contra os próprios capitalistas, tornando possível uma revolução socialista. Os trabalhadores organizados tomariam o poder dos capitalistas.
  A riqueza gerada pela sociedade capitalista e o desenvolvimento das forças produtivas seriam agora utilizados a favor dos trabalhadores em uma sociedade na qual as diferenças de classe seriam eliminadas.
Friedrich Engels (1820-1895) - pensador alemão
  No socialismo de Marx e Engels, a propriedade privada seria eliminada, e toda riqueza seria redistribuída igualmente a todos pelo Estado. As fábricas, os bancos e as outras empresas pertenceriam ao Estado, que transformaria os lucros em bem-estar para a população. No estágio final (comunismo), até o Estado seria abolido.
  Eles defendiam também a internacionalização da revolução socialista. Não acreditavam na possibilidade de uma sociedade socialista obter sucesso em um único país. Por isso, em 1864, foi criada a Associação Internacional dos Trabalhadores, mais conhecida com I Internacional (que fazia parte de um grupo de movimentos que ficariam conhecidos como Internacional Comunista). Essa organização estipularia objetivos e estratégias revolucionárias para os movimentos operários de várias partes do mundo.
  Marx e Engels faleceram antes que uma revolução socialista conseguisse efetivamente tomar o poder de maneira duradoura. Isso só ocorreu pela primeira vez em 1917, com a Revolução Russa.
Tumba de Karl Marx, no Cemitério de Highgate - Londres
A Revolução Russa
  Nos anos 1900, o movimento operário começou a ganhar força na Rússia, que era um império governado pelo Czar Nicolau II. A partir dos anos 1860, a Rússia passou por um forte processo de industrialização e os trabalhadores se organizaram para reivindicar melhores salários e condições de trabalho.
  Em 1905, centenas de pessoas morreram no chamado Domingo Sangrento, quando o czar ordenou que suas tropas reprimissem uma manifestação pacífica por melhores condições de vida. Com isso, aumentou a pressão popular pelo fim do Império.
  O Domingo Sangrento foi um massacre que aconteceu em 22 de janeiro de 1905 na cidade de São Petersburgo, onde manifestantes marcharam pacificamente até o Palácio de Inverno para apresentar uma petição ao czar, mas foram baleados pela Guarda Imperial. A marcha foi organizada pelo padre George Gapon, que colaborou com Sergei Zubatov da Okhrana, a polícia secreta czarista, para destruir organizações de trabalhadores. Os grupos envolvidos nesse conflito foram a população no geral, os partidos e os movimentos revolucionários, que tiveram também seu início após esse episódio.
O massacre do Domingo Sangrento em São Petersburgo
  Em 1906, o governo czarista transformou a Rússia em uma monarquia constitucional, sendo criado o Parlamento Russo, a Duma. Começaram a surgir também os sovietes, conselhos de autogestão que reuniam representantes de fábricas.
  Com o início da Primeira Guerra Mundial, a Rússia aliou-se à França na luta contra a Alemanha, fato que elevou seus gastos e agravou a já difícil situação econômica do país. Ocorreram muitas greves e protestos e, em 1917, o czar foi deposto.
Soldados e civis se manifestam durante a Revolução Russa de 1917
  Foi instalado um governo provisório sob a liderança de Alexander Kerenski, membro de um dos partidos socialistas mais moderados. Faziam parte desse governo membros de diversos partidos. Entre eles o Partido Operário Social Democrata Russo, dividido entre mencheviques e bolcheviques.
  Os mencheviques acreditavam que era necessário a Rússia passar pelo estágio de desenvolvimento capitalista para depois se transformar em socialista. Em oposição a eles, os bolcheviques defendiam a instalação imediata do socialismo e do fortalecimento dos sovietes. Entre os principais líderes desse grupo estavam Vladimir Ilitch Ulianov (1870-1924), conhecido como Lênin, e Leon Trotsky (1879-1940). Eles eram contrários à formação de uma república parlamentar e defendiam o confisco dos latifúndios e a nacionalização das terras, fábricas e bancos.
Vladimir Ilitch Ulianov (Lênin) - político e teórico político russo
  O Partido Bolchevique foi posto na ilegalidade e Lênin passou a ser perseguido pelo governo provisório. Ao mesmo tempo, os sovietes, diretamente ligados às lideranças operárias, ganhavam cada vez mais força e apoiavam Lênin.
  Assim, em outubro de 1917, foi organizado um comitê revolucionário com o intuito de derrubar o governo provisório. Sob a liderança de Trotsky, foi criado o Exército Vermelho, formado por soldados desertores e operários, que conseguiram dominar as forças militares do governo menchevique e depor Kerenski. Foi criado o Conselho de Comissários do Povo, o novo governo russo que seria presidido por Lênin.
Alexander Kerenski (1881-1970)
  Após a revogação da Assembleia Constituinte, que deveria criar as bases de um governo multipartidário, o governo bolchevique fundou a República Soviética Russa. Entre as primeiras medidas tomadas pelos bolcheviques, estavam a reforma agrária e a estatização das indústrias e dos bancos.
  No entanto, os bolcheviques sofreram a resistência armada dos mencheviques e dos czaristas que pretendiam derrubar o governo socialista. Instaurou-se, assim, uma longa guerra civil que se estendeu até 1921. Somente nesse ano, consolidou-se a vitória dos partidários de Lênin.
Leon Trotsky - intelectual marxista e revolucionário bolchevique
  Em 1921, Lênin instituiu a Nova Política Econômica (NEP), que estimulou a pequena produção privada e o livre-comércio para normalizar o abastecimento e desenvolver a economia. Em uma combinação de planejamento estatal socialista com as práticas capitalistas de mercado. Recorrer a essas práticas capitalistas era uma forma de acelerar a construção de uma economia socialista mais sólida.
  Como defensores da internacionalização da revolução socialista, os bolcheviques criaram, em 1922, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Expandir a revolução ao maior número de países possível, era uma forma de se defender das economias capitalistas e de consolidar o socialismo.
Mapa da União Soviética
  Lênin morreu em 1924, e um grande desafiou rondou seus partidários: encontrar seu substituto. Um dos aspirantes ao cargo era Trotsky, líder da revolução ao lado de Lênin. Além dele, Josef Stalin, secretário-geral do partido, que defendia o "socialismo em um só país", ou seja, o fortalecimento interno do regime antes da internacionalização da revolução socialista.
  Já Trotsky defendia a chamada "revolução permanente". Para ele o sucesso do socialismo dependia da sua capacidade de difundir-se pelo restante do mundo, minando o capitalismo. Stalin foi o escolhido pelo Partido Comunista, apoiado por parte do exército, e governou a União Soviética até 1953, quando morreu.
Josef Stalin (1878-1953)
  Em 1925, o Partido Operário Social-Democrata Russo foi transformado em Partido Comunista da União Soviética (PUCS). Esse era um partido único (não era permitida a existência de outros) e deveria reprimir os inimigos do socialismo.
  Stalin conseguiu fortalecer a socialização da economia russa, ao mesmo tempo que modernizou e incrementou a indústria. Entretanto, governou de maneira ditatorial, perseguindo seus opositores políticos no país.
  Um de seus principais opositores, Trotsky, foi exilado em 1929 e assassinado no México, em 1940. Milhões de pessoas que se opunham às diretrizes de Stalin foram eliminadas ou enviadas para campos de trabalhos forçados na Sibéria.
Campo de trabalho forçado na Sibéria
  Após a morte de Stalin, vários outros governos se sucederam, só ocorrendo um processo efetivo de abertura política nos anos 1980, quando Mikhail Gorbachev assumiu o poder. Gorbachev propôs uma reforma econômica (Perestroika) e uma reforma política (Glasnost). O objetivo era descentralizar o poder e reestruturar a economia.
  Para isso, pôs fim ao regime de partido único, permitindo a criação de novos partidos políticos. Em 1990, Boris Yeltsin, defensor de uma grande abertura política e econômica, foi eleito presidente do Congresso do Povo das Repúblicas Russas e do Soviete Supremo da Rússia.
Mikhail Gorbachev
  Em dezembro de 1991, Yeltsin articulou o fim da União Soviética, sendo fundada a Comunidade dos Estados Independentes (CEI), que reunia a maioria dos antigos países da URSS. A partir de então, ocorreu um rápido processo de transformação econômica, no qual muitas repúblicas soviéticas foram aderindo ao capitalismo de mercado. A propriedade privada voltou a dominar e grandes empresas capitalistas mundiais passaram a realizar negócios nesses países.
Boris Yeltsin (1931-2007)
A Revolução Chinesa
  Em 1949, ocorreu a revolução socialista na China. No entanto, a história desse movimento revolucionário começou a se construir nos anos 1920, quando foi fundado o Partido Comunista.
  Em 1927, o Partido Comunista foi colocado na ilegalidade pelo governo de Chiang Kai-shek, líder do Kuomintang, partido que governava o país com o apoio de empresários capitalistas. Nesse contexto, sob a liderança de Mao Tsé-tung, os comunistas começaram a mobilizar os camponeses contra o governo de Chiang Kai-shek. Em 1928, foi criado o Exército Vermelho, que tomava terras de proprietários para redistribuir aos camponeses. As massas camponesas foram se tornando, aos poucos, a principal força da revolução comunista.
Chiang Kai-shek (1887-1975)
  Em 1934, Chiang Kai-shek começou a perseguir os comunistas que atuavam no campo. Com isso, teve início a Longa Marcha, quando os comunistas se retiraram de suas áreas de atuação e aproximadamente 100 mil soldados vermelhos se dirigiram para o norte do país com o objetivo de ampliar suas forças militares contra o governo nacionalista de Chiang Kai-shek. Após um ano de marcha, o grupo ficou bastante reduzido, pois muitos foram mortos pelo exército nacionalista ou morreram de fome. Apesar dessas dificuldades, o apoio aos comunistas liderados por Mao Tsé-tung continuava crescendo.
Mao Tsé-tung (1893-1976)
  No ano de 1940, o Exército Vermelho continuou a promover a reforma agrária no interior do país e aumentou ainda mais o apoio popular aos comunistas e a Mao Tsé-tung. Em 1949, o Exército Vermelho conseguiu tomar Pequim. Meses depois os comunistas proclamaram a República Popular da China, tendo Mao como presidente.
  O episódio obrigou Chiang Kai-shek a se refugiar na ilha de Formosa (Taiwan), que foi reconhecida como sede do governo chinês por vários países , entre eles os Estados Unidos. Dessa forma, os países que lutavam contra o comunismo  procuraram isolar a China e o governo de Mao Tsé-tung. O país aproximou-se então da União Soviética, mas ocorreram disputas territoriais e discordância política entre eles. Os russos não admitiam que os chineses tivessem o seu próprio arsenal atômico, e os chineses, por sua vez, acusavam os russos de manterem uma atuação imperialista na Ásia e em parte da Europa.
Mao Tsé-tung proclama a República Popular da China, em 1949
  Uma vez no poder, Mao Tsé-tung criou um plano de desenvolvimento econômico e estimulou o desenvolvimento industrial da China, além de combater a fome. Nos anos 1950, foram criadas as comunas populares, unidades coletivas de produção que executavam tanto a produção agrícola como o processo de industrialização de muitos produtos.
  Nos anos 1960, ocorreu na China o que se chama de Revolução Cultural, a qual procurou radicalizar a implementação dos ideais revolucionários e fazer a crítica dos valores burgueses. Estimulou-se a crítica às relações hierárquicas e pregou-se a igualdade social, mas ocorreu também a perseguição de intelectuais e militantes contrários às ideias veiculadas pelo Partido Comunista.
  O movimento opunha-se à burocracia que tomava conta do partido e existiu entre 1966 e 1969, quando, sob o risco de uma guerra civil, Mao Tsé-tung ordenou sua dissolução.

Cartaz sobre a Revolução Cultural Chinesa
  Em 1976, Mao Tsé-tung faleceu e iniciou-se um processo de transformação da economia chinesa com Deng Xiaoping no poder. Começou a ser empreendida a abertura da economia chinesa ao mercado internacional, que, nos anos 1980, denominou-se economia socialista de mercado. Foi permitido que empresas capitalistas estrangeiras instalassem indústrias no país. O Estado interveria para evitar e reduzir as desigualdades sociais, mas a produção da riqueza teria origem na indústria capitalista.
  Nesse período foram criadas as chamadas Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), que permitiram a instalação de grandes indústrias estrangeiras com vantagens fiscais e baixo custo de salários, que seriam compensados pelos benefícios oferecidos pelo Estado, como educação, saúde e preços subsidiados aos trabalhadores. Dessa forma, a China despontou como uma grande força econômica no mercado mundial, exportando produtos para todo o mundo com preços muito competitivos.
  Nos primeiros anos do século XXI, a China vem sustentando um grande índice de desenvolvimento econômico. No entanto, esse crescimento tem provocado riscos ao meio ambiente, com o aumento da poluição das águas e do ar, além do risco de esgotamento dos recursos naturais.
Mapa econômico da China
A Revolução Cubana
  Em 1959, Cuba foi o primeiro país da América a fazer uma revolução socialista.
  Até 1897, o país foi uma colônia espanhola. A independência cubana ocorreu sob a liderança de José Martí e com o apoio dos Estados Unidos, que lutou contra a Espanha.
  No entanto, a liberdade cubana logo se transformou em dependência dos Estados Unidos. Em 1901, o Congresso cubano aprovou a emenda Platt, que permitia a interferência estadunidense na sociedade cubana. Com a emenda, os Estados Unidos puderam instalar uma base militar em Guantánamo, ampliando sua presença militar no continente. A região se transformou em importante centro turístico, onde estavam presentes cassinos e casas de prostituição. Além disso, empresas estadunidenses dominavam o comércio de produtos locais, como o açúcar e o fumo.
Base Naval de Gaunatánamo
  Mesmo com a revogação da emenda Platt em 1933, os Estados Unidos continuaram a exercer grande influência sobre a ilha. Nos anos 1930, um movimento nacionalista lutava contra a interferência estadunidense. Em 1952, Fulgêncio Batista tronou-se presidente de Cuba por meio de um golpe militar apoiado pelos Estados Unidos. Instalou uma ditadura no país e mandou prender os nacionalistas que se opunham ao regime.
Fulgêncio Batista (1901-1973)
  Foi nesse contexto que surgiram lideranças como Fidel Castro e Ernesto Che Guevara, que faziam oposição à ditadura de Fulgêncio Batista. Em 1953, Castro, que era estudante da Universidade de Havana, organizou um ataque ao quartel de La Moncada, em Santiago. Foi a primeira tentativa de abalar as bases do governo de Batista. No entanto, com o fracasso militar do movimento, Fidel Castro acabou preso.
  Em 1955, Fidel Castro foi anistiado e partiu para o México, onde, junto com Ernesto Che Guevara e outros guerrilheiros, começou a organizar um movimento contra o governo cubano. Voltaram para o país em 1956 e, depois de nova tentativa fracassada contra o governo de Batista, refugiaram-se na região de Sierra Maestra, onde obtiveram o apoio de grupos guerrilheiros e de parte da população camponesa.
Fidel Castro na prisão, em julho de 1953, após o assalto ao Quartel de La Moncada
  A partir de 1957, as precárias condições de vida da população cubana resultaram em greves, protestos e crescente apoio ao grupo revolucionário. Em 1958, os partidários de Fidel já dominavam parte da ilha, tendo criado hospitais, fábricas e escolas. No segundo semestre desse ano, os revolucionários marcharam rumo a Santiago e depois em direção a Havana, onde chegaram em janeiro de 1959. Sem ter como resistir às forças rebeldes, Batista deixou Havana sob ameaça dos guerrilheiros. Em fevereiro, Fidel assumiu o poder.
Fidel Castro saúda a multidão após a sua entrada em Havana, em 1959
  Dentre as primeiras medidas do novo governo, destacam-se a redução de preços em vários setores essenciais da economia, o combate à prostituição e o fechamento dos cassinos, além de ser anunciada a reforma agrária.
  A partir de 1961, Cuba começou a caminhar mais decisivamente na direção do socialismo, e empresas estadunidenses sofreram intervenção do governo.
  Ocorreu nesse ano o alinhamento com a União Soviética e foi criado o Partido Único da Revolução Socialista, depois chamado de Partido Comunista Cubano (PCC).
  Com isso, houve o rompimento definitivo das relações políticas e diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba.
  Nesse mesmo ano, aviões estadunidenses bombardearam Santiago e invadiram uma praia na Baía dos Porcos, na porção sul da ilha, mas o exército de Fidel conseguiu conter o avanço das tropas dos Estados Unidos.
Grupo de contra-revolucionários cubanos, membros da Brigada de Assalto 2506, é capturado na Baía dos Porcos, após tentativa fracassada de invasão apoiada pelos Estados Unidos
  No ano seguinte, os Estados Unidos decretaram o bloqueio econômico a Cuba, impondo sanções aos países que mantivessem relações comerciais com a ilha. Assim, Cuba tornou-se dependente do bloco socialista para obter insumos como petróleo, remédios e vários produtos industrializados. O país teve que realizar um grande racionamento para sobreviver ao bloqueio.
  Do ponto de vista social, a revolução obteve sucesso quanto à melhoria das condições de vida da população. O analfabetismo foi erradicado, a população goza de boa infraestrutura de saúde, não faltam escolas e o desemprego é muito baixo quando comparado ao das economias capitalistas.
  No entanto, os adversários políticos do regime cubano no mundo capitalista condenam a presença da censura e a impossibilidade de constituir um pensamento crítico ou divergente em relação ao governo socialista.
Fidel Castro (1926-2016), em Washington (EUA) em abril de 1959
REFERÊNCIA: Campos, Flávio de
Oficina de história: volume 2 / Flávio de Campos, Júlio Pimentel Pinto, Regina Claro. -- 2. ed. -- São Paulo: Leya, 2016.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

LÍBIA

  A Líbia é um país da região do Magreb, no norte da África, sendo banhada pelo mar Mediterrâneo ao norte. O país tem fronteiras com o Egito a leste, o Sudão a sudeste, o Chade e o Níger ao sul, e com a Argélia e a Tunísia ao oeste. As três partes tradicionais do país são a Tripolânia, a Fazânia e a Cineraica.
  Em 1911, o território líbio foi invadido pela Itália e, depois do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, foi dividido entre França e Reino Unido. Em 1951, o país tornou-se independente e deu origem a uma monarquia comandada pelo Rei Idris I (1890-1983).
Mapa da Líbia
HISTÓRIA
  O território que hoje corresponde à Líbia já foi dominado por diversos povos, tais como os fenícios, gregos, romanos, egípcios, vândalos, bizantinos, berberes, até a invasão árabe de 643 que trouxe o islamismo e a língua árabe ao seu território. Eles deixaram vestígios de suas paisagens que hoje são atrações turísticas. O nome Líbia foi dado pelos colonos gregos, no século II a.C.
  Os cartagineses, herdeiros das colônias fenícias, fundaram na Tripolitânia uma província e, no século I a.C., o Império Romano se impôs em toda a região, deixando monumentos admiráveis.
  A Líbia permaneceu como província romana até ser conquistada pelos vândalos, em 455 d.C.. Após ser reconquistada pelo Império Bizantino, a região passou a ser dominada pelos brasiil, em 643. Os árabes estenderam a área cultivada em direção ao interior do deserto do Saara. Durante mais de três séculos, os berberes almôadas mantiveram o domínio sobre a região tripolitana, enquanto a Cirenaica esteve sob o controle egípcio.
Templo de Apolo, em Cirene - Líbia
  Em 1517, os otomanos conquistaram a Cirenaica. Em 1551, Solimão I, o Magnífico, incorporou a região da Tripolitânia ao Império Otomano, estabelecendo o poder central em Trípoli. A autoridade do regime turco da Porta Sublime, se concentrou apenas em uma pequena área costeira.
  No século XVIII, o reinado da dinastia Karamanli, que dominou Trípoli durante 120 anos, contribuiu para assentar mais solidamente as regiões de Fezã (ou Fazânia), Cirenaica e Tripolitânia.
  Em 1835, o Império Otomano restabeleceu o controle sobre a Líbia, embora a confraria muçulmana dos Senussi tenha conseguido, em meados do século XIX, dominar os territórios da Cirenaica e de Fezã.
As ruínas de Cirene - antiga colônia grega na região da Cirenaica
  Em 1843, Maomé Ali Senussi fundou a Ordem Senussi, que era um movimento que pregava o renascimento islâmico, defendendo uma visão austera, uma ordem sufista tradicional que se opunha as inovações de algumas outras ordens sufistas que incrementaram práticas que não são aprovadas no Islão, fazendo com que essa religião se tornasse bastante influente no território líbio. Os puritanos da Ordem Senussi, que também atuavam no Egito, ganharam adeptos entre as tribos do interior e logo controlaram a maior parte da Líbia. Essa organização, também foi responsável pela assistência educacional e material aos seus seguidores.
Mapa com as regiões da Líbia
  Em 1911, com o declínio do Império Otomano, a Itália invadiu a Líbia com o pretexto de defender seus colonos estabelecidos no Vilaiete de Tripolitânia, desencadeando a Guerra Ítalo-Turca (1911-1912), na qual a Ordem aliou-se aos turcos. A Itália venceu o conflito e passou a dominar o litoral do país, que era a última possessão otomana no Norte da África. Os Otomanos renunciaram a seus direitos sobre a Líbia em favor da Itália por meio do Tratado de Lausana, também chamado de Tratado de Ouchy (1912).
  Em 1914, todo o território líbio estava ocupado pelos italianos que, assim como os turcos, nunca conseguiram afirmar sua autoridade sobre as tribos sanusi do interior do deserto.
Zepelins italianos bombardeando posições turcas em território líbio durante a Guerra Ítalo-Turca
  Em 1917, Amade Xarife Senussi fugiu para a Turquia, após perder uma batalha contra as forças italianas e britânicas e Idris Senussi assumiu o comando da ordem, assinando uma trégua com o Império Britânico.
  Em 1920, a Itália reconheceu Idris como Emir do Interior da Líbia, mas a ordem continuou a apoiar um movimento armado na Cirenaica contra os colonizadores, que foi derrotado em 1931, quando Sidi Omar al-Mukhtar, seu principal comandante, foi enforcado pelos italianos.
  Esta situação alterou-se com a tomada do poder na Itália por parte dos fascistas, que nomearam de imediato um governador capaz de impor a vontade italiana no território. A colonização italiana, que foi reforçada em 1935 por uma colonização demográfica, como a denominou Benito Mussolini, contribuiu para um rápido desenvolvimento a todos os níveis, sendo a Líbia incorporada ao Reino da Itália, em 1939, situação que permaneceu até a Segunda Guerra Mundial, quando as campanhas no Norte da África destruíram quase por completo a estrutura econômica do país. A colonização não afetou os aspectos econômicos do país, mas contribuiu para melhorar sua infraestrutura, como a rede de estradas e o fornecimento de água para as cidades.
Tobruque - com uma população de 146.529 habitantes (estimativa 2018) é a quarta cidade mais populosa da Líbia
  Durante a Segunda Guerra Mundial, o território líbio foi cenário de combates decisivos. Entre 1940 e 1943, houve a campanha da Líbia entre o Afrikakorps do general alemão Rommel e as tropas inglesas. Com o apoio dos Aliados, a Líbia contrariou os interesses da Itália de permanecer no país. Finalizado as hostilidades, com o encerramento da Campanha da Líbia, o Reino Unido encarregou-se de nomear o governo da Cirenaica e da Tripolitânia, enquanto a França passou a administrar Fezã. Essas nações mantiveram a Líbia sobre forte governo militar, até que a Assembleia Geral das Nações Unidas votou uma resolução onde se podia ler que a Líbia deveria tornar-se um reino independente até 1 de janeiro de 1952.
Soldados italianos enfrentando as forças otomanas em Trípoli durante a guerra Ítalo-Turca
  Em 1950, o líder religioso dos senússitas, o pró-britânico Sidi Maomé Idris Madi Senussi (Emir Idris) foi escolhido como rei por uma assembleia nacional, sendo coroado com o nome Idris I. O rei Idris declarou a independência do país em 24 de dezembro de 1951, reunindo o território em um único Estado federal, com o nome de Reino Unido da Líbia, ao mesmo tempo que proibia a existência de partidos políticos, orientando o seu poder por linhas fundamentalistas.
  A Constituição de 1951 estabeleceu uma monarquia constitucional com características federalistas, que tinha instituições como um Primeiro-Ministro, que presidia o Conselho de Ministros, e um Poder Legislativo bicameral, com uma Câmara de Deputados com todos os integrantes eleitos, e um Senado que tinha metade dos seus integrantes nomeados pelo monarca. A primeira eleição foi realizada em fevereiro de 1952.
Rei Idris I (1890-1983)
  Idris baseou o seu poder sobre a autoridade religiosa e teve apoio das famílias líbio-turcas residentes nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Depois da admissão na Liga Árabe, em 1953, a Líbia firmou acordos para a implantação de bases estrangeiras em seu território. Em 1954, houve a concessão da Base Aérea de Wheelus, perto de Trípoli, aos norte-americanos, enquanto os britânicos obtiveram concessão semelhante perto de Tobruque. Assim, a influência dos Estados Unidos e do Reino Unido, autorizados a manter tropas no país, tornou-se cada vez mais poderosa.
  Em 1957 foram descobertas as primeiras jazidas de petróleo, cuja exploração começou em 1961. Em 1963, o sistema federalista de governo foi substituído por uma monarquia unitária, que deu mais poder ao Monarca. Os três estados do sistema federal (Fazânia, Tripolitânia e Cirenaica) foram substituídos por 10 províncias com menor autonomia.
Seba - com uma população de 104.880 habitantes (estimativa 2018) é a quinta cidade mais populosa da Líbia
  Em 1966, Muammar Kadhafi, filho de beduínos nômades, que havia se incorporado ao exército, enquanto estudava em Londres, fundou a União dos Oficiais Livres e, após o retorno à sua terra natal, continuou o trabalho de conspiração política dentro do Exército.
  Um importante fato na organização política da Líbia ocorreu em 1969. O então Coronel Muammar Kadhafi (1942-2011) promoveu um golpe contra o rei e instalou uma ditadura. Além disso, ele nacionalizou as empresas de petróleo e adotou as leis islâmicas no país. Com a entrada de dinheiro de fora do país, Kadhafi investiu em armas e passou também a apoiar ações de grupos terroristas.
  O caso mais emblemático foi a derrubada de um avião de uma empresa dos Estados Unidos em Lockerbie (Escócia), causada pela explosão de uma bomba deixada por dois agentes líbios, em 1988. Nessa ocasião, 270 pessoas morreram, e os Estados Unidos e o Reino Unido pediram entrega dos agentes para que fossem julgados, o que não foi aceito pelo governo líbio. Como consequência, a ONU aprovou um embargo econômico à Líbia, em 1992, impedindo que aviões de empresas desse país voassem a outros territórios, além de proibir a venda de armas. O embargo acabou em 1999, quando Kadhafi concordou que aqueles agentes fossem julgados nos Países Baixos.
Bani Ualide - com uma população de 96.133 habitantes (estimativa 2018) é a sexta cidade mais populosa da Líbia
  Em 1990, foi fundado o Grupo de Combate Islâmico Líbio (GCIL) por líbios que lutaram contra as forças soviéticas no Afeganistão, e que, em sua maior parte, estavam no Sudão. Tal grupo tinha como objetivo estabelecer um Estado islâmico na Líbia e via o Regime de Kadhafi como opressivo e anti-muçulmano, sua campanha contra o Regime Líbia atingiu seu apogeu em 1996.
  Em outubro de 1993, militares dos uarfalas tentaram derrubar o Regime Líbio, e essa rebelião resultou em dezenas de mortes, mas foram derrotados pelas tropas fiéis à Kadhafi. Em 18 de fevereiro de 1994, Kadhafi anunciou que a xaria seria aplicado na Síria.
  Em 1996, foi inaugurada uma etapa de uma grande rede de aquedutos projetada para fornecer água para populações isoladas do deserto. No mesmo ano ocorreu o Massacre da Prisão de Abu Salim, evento repudiado pelas organizações defensoras dos direitos humanos, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch. Em 2000, foi decretada uma radicalização da política de descentralização do Estado, posta em prática no início da década de 1990.
Grande Rio Artificial - rede de tubagens que distribui água pelo deserto da Líbia
  Em janeiro de 2005, após quatro décadas, ocorreu o primeiro leilão de licenças de exploração de gás e petróleo, sendo as maiores beneficiárias as empresas norte-americanas. Em fevereiro de 2006, as manifestações contra as caricaturas que satirizavam o profeta Maomé, publicadas em um jornal dinamarquês, resultaram em atos de violência que foram objeto de forte repressão policial.
  Em 2007, o governo anunciou que em poucos anos, dispensaria mais de 400 mil funcionários públicos e do exército, mas, em contrapartida, se comprometeu a pagar três anos de salários como forma de compensação. Na época, a Líbia tinha mais de 1 milhão de funcionários públicos, o que exigia mais de 3,5 bilhões de dólares por ano em salários. O objetivo da medida era aliviar o peso das contas públicas e incentivar o investimento no setor privado.
  Entre março de 2010 e fevereiro de 2011, foram libertados da Prisão de Abu Salim mais de 800 fundamentalistas islâmicos, dentre os quais muitos ex-integrantes do GCIL, em um processo liderado por Ceife Islam.
Zauia - com uma população de 92.476 habitantes (estimativa 2018) é a sétima cidade mais populosa da Síria
Primavera Árabe e presença da Otan
  A influência da Primavera Árabe chegou às cidades litorâneas do Mediterrâneo, as mais populosas da Líbia. Mesmo com o melhor padrão de vida entre todos os países africanos, os líbios queriam mais. Eles aspiravam por liberdade para escolher seus governantes e, assim, saíram às ruas, principalmente em Benghazi, em fevereiro de 2011. Os rebeldes avançaram rapidamente e passaram a controlar várias cidades da Líbia, mas o governo reagiu por meio da contratação de mercenários.
  Diante da nova ofensiva das tropas de Kadhafi, os rebeldes recuaram. As imagens de tropas bombardeando civis levaram o Conselho de Segurança da ONU a impor uma zona de exclusão aérea à Líbia. O órgão também autorizou medidas mais drásticas, caso fossem necessárias, com o argumento de que era preciso acabar com a morte de civis. Logo depois, uma coalizão de países, liderados pela França, invadiu a Líbia. Tratava-se de uma ação da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que contou com forte apoio dos Estados Unidos e do Reino Unido.
Rebeldes líbios comemoram a tomada do controle de uma vila pró-Kadhafi
  Depois da ofensiva das tropas da coalizão, o governo de Kadhafi não conseguiu resistir. Ele foi morto em outubro de 2011, em Sirte (Líbia), sua cidade natal.
  Logo após sua morte, a Otan retirou as tropas do país. Foi criado um Conselho Nacional de Transição para preparar as eleições no território líbio. Em 2012, ocorreram eleições para o Congresso, que indicou Ali Zeidan primeiro-ministro do país. Ele tinha a meta de realizar novas eleições para definir uma nova Constituição para a Líbia.
  Porém, uma série de eventos ocorreram após a deposição de Kadhafi, muitos deles violentos, envolvendo grupos que defendem um país sob as leis islâmicas, e outro, mais moderado.
Os países onde a Primavera Árabe foi mais violenta
  Após o fim da Guerra Civil Líbia, que derrubou Muammar Kadhafi, ocorreu no país um conflito armado envolvendo várias milícias e as novas forças de segurança do Estado. As milícias incluíram guerrilheiros, grupos pró-Kadhafi, islamitas e milícias que lutaram contra Kadhafi, mas se recusaram a depor as armas quando a guerra terminou, em outubro de 2011. De acordo com alguns líderes civis, estas últimas milícias passaram apenas a atrasar a entrega de suas armas para afirmar ativamente um papel político, continuando como "guardiões da revolução". Algumas das maiores e mais bem equipadas milícias estão associadas a grupos islâmicos, que agora formam partidos políticos.
  Em setembro de 2012, islamitas atacaram o prédio do Consulado dos Estados Unidos em Bengasi, matando o embaixador estadunidense e mais três pessoas. Isso levou a um clamor popular contra as milícias semi-legais que ainda estavam operando e resultou na invasão de diversas bases de milícias islâmicas por manifestantes, além da repressão em larga escala do governo.
Consulado norte-americano em Bengasi, após o atentado em 12 de setembro de 2012
  Em 14 de fevereiro de 2014, o general Khalifa Haftar, um ex-alto oficial do regime Kadhafi, ordenou a dissolução do CGN e apelou para a formação de um comitê de governo interino para supervisionar novas eleições. O CGN ignorou suas demandas e denunciou isso como uma tentativa de "golpe de Estado".
  No dia 18 de maio de 2014, o edifício do Parlamento foi invadido por tropas leais ao general Khalifa Haftar.
  Os moradores da cidade oriental de Xaate, juntamente com manifestantes de Baida e Sousse, fizeram uma grande manifestação, rejeitando o plano de prorrogação do CGN e exigindo a renúncia do Congresso, seguida por uma transição de poder pacífica para um órgão legítimo. Também protestaram contra a falta de segurança, culpando o CGN por não terem reconstruído o exército e a polícia. Outros líbios, rejeitando a proposta de mandato, se reuniram na Praça dos Mártires de Trípoli e fora do Hotel Tibesti, em Bengazi, pedindo o congelamento de partidos políticos e a reativação do sistema de segurança do país.
Manifestantes organizam uma grande manifestação em Xaate contra o plano de prorrogação do mandato do CGN
  Em 28 de maio, a força aérea da Operação Dignidade bombardeou posições da Brigada dos Mártires de 17 de Fevereiro, o que fez seus membros responderem com mísseis antiaéreos.
  Em 2 de junho os combates retornaram a Bengazi, quando militantes da Ansar al-Sharia atacaram forças de Haftar em resposta ao bombardeio aéreo de uma das suas bases no dia anterior. Os soldados responderam novamente atacando helicópteros no oeste da cidade. Pelo menos 22 pessoas morreram e 70 ficaram feridas, com ambos os lados se acusando de ter disparado em áreas residenciais.
  Em 4 de junho, quatro pessoas foram mortas e várias ficaram feridas, incluindo o general da divisão aérea Saghr al-Jerushi, em uma tentativa de assassinato contra Haftar em sua própria casa, na cidade de Abiar, a leste de Bengazi.
  Em 15 de junho, as forças de Haftar lançaram um novo ataque em vários campos jiadistas em Bengazi Ocidental, com tanques e lançadores de foguetes. Vários líderes milicianos foram mortos no ataque.
Marines norte-americanos se preparando na estação aeronaval Sigonella para evacuar a embaixada dos Estados Unidos em Trípoli
  No dia 4 de agosto de 2014, foi criada na cidade de Tobruque um novo Parlamento da Líbia, a Câmara dos Representantes da Líbia. No entanto, o antigo presidente do Congresso Geral, o islamita Nouri Abusahmain, se recusou a transferir oficialmente os poderes para o novo órgão, uma vez que era exigido que este se reunisse em Trípoli, sob o controle de milícias islâmicas. No entanto, a Câmara dos Representantes passou a legislar ainda que com boicote de alguns dos membros de ideologia islamita.
  Inicialmente, a Casa permaneceu neutra no conflito entre Haftar e os jihadistas, e ordenou a dissolução, em 13 de agosto de 2014, de todas as milícias formadas na Líbia após a guerra de 2011, incluindo a islamita Brigada Escudo da Líbia e as brigadas Qaqaa e Sawaig, da Operação Dignidade. Ao mesmo tempo em que se solicitou a intervenção da ONU para conseguir um cessar-fogo entre os dois lados. Mas, finalmente, após a tomada e destruição do aeroporto de Trípoli pelos islamitas, o órgão classificou o Amanhecer Líbio e o Conselho Shura de Bengazi como grupos terroristas.
  Entre setembro a dezembro de 2014, o exército líbio lançou ataques aéreos contra as cidades de Misurata, Derna (sob o controle do Estado Islâmico) e ao aeroporto de Trípoli. Por outro lado, lançaram uma grande ofensiva terrestre em Bengazi contra o Ansar al-Sharia.
  Em 5 de janeiro de 2015, a Força Aérea da Líbia atingiu um petroleiro de propriedade grega na costa de Derna que agia "suspeitamente". Em 16 de janeiro deste mesmo ano, as facções Operação Dignidade e Amanhecer Líbio declararam um cessar-fogo e concordaram em formar um governo de unidade.
Milicianos nas ruas de Trípoli, em janeiro de 2012
GEOGRAFIA
  A Líbia situa-se no Norte da África, sendo banhada pelo Mar da Líbia, uma parte (reentrância) do Mar Mediterrâneo e ladeado pelo Egito a leste e pela Tunísia e Argélia a oeste. Ao sul limita-se como o Níger e Chade, e a sudeste um pequeno trecho com o Sudão. Divide-se em três regiões geográficas: a Cirenaica, a Tripolitânia e a Fazânia.
  Ao longo da costa, o clima é mediterrâneo, mas o interior é desértico, devido à presença do deserto do Saara, onde por vezes sopra um siroco (vento quente, muito seco e que sopra do Saara em direção ao litoral norte da África e que é responsável pela ocorrência das canículas - ondas fortes de calor - no sul da Europa) quente, seco e carregado de poeira (conhecido no país como ghibli). No deserto também são comuns as tempestades de areia.
Deserto do Saara no Maciço de Tadrart Acacus, na Líbia
  Na parte oriental do deserto do Saara, repousa o Sistema Aquífero Arenito da Núbia, a maior reserva de água subterrânea existente no mundo, que abrange uma enorme área que, segundo as estimativas, contém 150.000 km³ de água. A maior parte do suprimento de água da Líbia vem de dispendiosas usinas de dessalinização, situadas no litoral, de modo que havia pouca água para destinar à irrigação. O aquífero, historicamente usado em Trípoli, estava contaminado, e seu grau de salinidade estava aumentando. Em 1983, um grande projeto de engenharia, conhecido como Grande Rio Artificial, foi criado para o abastecimento da região costeira do país e para expandir a agricultura através da irrigação.
Oásis Gaberoun - Líbia
  O deserto da Líbia, que abrange grande parte do país, é um dos lugares mais áridos e calcinados pelo Sol na Terra. Em alguns lugares, é comum passar décadas sem haver nenhuma precipitação e, mesmo nas planícies, raramente apresenta a ocorrência de chuvas.
  Da mesma forma, a temperatura no deserto da Líbia, apresenta-se de forma extrema: no dia 13 de setembro de 1922, a cidade de Al'Aziziyah, que está localizada a oeste de Trípoli, registrou uma temperatura de 58ºC, considerado um recorde mundial.
Deserto da Líbia
  Existem alguns oásis pequenos, desabitados e dispersos, geralmente ligados às depressões maiores, onde a água é encontrada há alguns metros de profundidade. No oeste, há um grupo amplamente disperso de oásis em depressões rasas desconectadas.
  No sul encontram-se os maciços de Arkenu, Ueinate e Kissu. Na fronteira com o Chade encontra-se o monte Bikku Bitti, o ponto mais elevado do país, com uma altitude de 2.266 metros acima do mar, que faz parte da cordilheira Tibesti.
  Além das escarpas, a planicidade geral só é interrompida por uma série de planaltos e maciços perto do centro do deserto, em torno da convergência das fronteiras entre Egito, Sudão e Líbia. Um pouco mais ao sul estão os maciços de Arkenu, Ueinate e Kissu. Essas montanhas de granito são antigas, formadas muito antes dos arenitos que as cercam.
Monte Bikku Bittir - ponto mais elevado da Líbia
  A planície ao norte de Ueinate é pontilhada com características vulcânicas erodidas. Com a descoberta de petróleo na década de 1950, também veio a descoberta de um aquífero maciço por baixo de grande parte do território em que se encontra a Líbia. A água neste aquífero antecede as últimas eras glaciais e o próprio deserto do Saara. Esta área contém as estruturas de Arkenu, que podem ser duas crateras de impacto.
Imagem de satélite do território líbio
CULTURA
  Cerca de 97% dos líbios professam o islamismo, a maioria pertencente ao ramo sunita. Pequenos números de muçulmanos ibadistas, sufistas e ahmadistas também vivem no país.
  Antes da década de 1930, o movimento senussi era o principal movimento islâmico na Líbia. Este foi um renascimento religioso adaptado à vida no deserto. Sua zawaaya (lar) era encontrada na Tripolitânia e no Fezã, mas a influência senussi foi mais forte na Cirenaica. Resgatando a região da inércia e da anarquia, o movimento senussi deu ao povo tribal apego religioso, além de sentimentos de unidade e propósito. Este movimento islâmico, que acabou por ser destruído tanto pela invasão italiana como depois pelo governo de Kadhafi era muito conservador e um tanto diferente do islamismo que existe atualmente na Líbia. Kadhafi afirmava ser um muçulmano devoto e seu governo estava assumindo um papel no apoio às instituições islâmicas e no proselitismo mundial em nome do islã.
  Desde a queda de Kadhafi, as tensões ultraconservadoras do islamismo se reafirmaram em diversos lugares. Derna, no leste da Líbia, historicamente um foco de pensamento jihadista, ficou sob o controle de militantes alinhados ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante, em 2014. Elementos jihadistas também se espalharam para Sirte e Bengazi, entre outras áreas, como resultado da Segunda Guerra Civil da Líbia.
Agedábia - com uma população de 84.434 habitantes (estimativa 2018) é a oitava cidade mais populosa da Líbia
ECONOMIA
  A economia nacional líbia é bastante dependente do petróleo, que é responsável por mais de 90% das exportações do país. Reservas importantes de petróleo, descobertas em 1959, modificaram a vida do país, que tem oferta hídrica muito baixa (cerca de 99 m³ por habitante por ano, menos da metade recomendada pela ONU, de acordo com a FAO), mas que consegue suprir a demanda de sua população de pouco mais de 6,4 milhões de habitantes. Na década de 1960, muitas empresas se instalaram para extrair petróleo, o que gerou riqueza, mas também disputas internas pelo poder no país.
  O dinheiro da venda de petróleo permitiu aos líbios atingir um bom padrão de vida. Depois do fim do embargo, Kadafi voltou a admitir a presença de grupos estrangeiros na exploração e comercialização do óleo. Ao mesmo tempo, conseguiu promover uma aliança política com chefes de tribos que estão dispersas pelo território líbio, o que lhe garantiu certa estabilidade política. A maior parte da população trabalha na indústria e no setor de serviços.

Sirte - cidade natal do ex-ditador Muamar Gadafi e destruída após bombardeios que atingiram a cidade. Segundo estimativas 2018, sua população é de 87.832 habitantes, sendo a noma cidade mais populosa da Líbia
DEMOGRAFIA
  Existem cerca de 140 tribos e clãs na Líbia. A vida em família é importante para os líbios, a maioria dos quais vivem em blocos de apartamentos e outras unidades habitacionais independentes, com modos precisos de habitação em função de sua renda e riqueza. Embora na Líbia os árabes tradicionalmente tenham vivido em estilo de vida nômade, eles já se estabeleceram em várias vilas e cidades. Devido à isso, seus antigos modos de vida estão gradualmente desaparecendo. Um pequeno número desconhecido de líbios continuam a viver no deserto como suas famílias têm feito por séculos.
Exploração de petróleo na Líbia
  Segundo a Pesquisa Mundial de Refugiados de 2016, publicado pelo Comitê para Refugiados e Imigrantes dos Estados Unidos, a Líbia acolheu uma população de refugiados e requerentes de asilo, que somavam aproximadamente 16 mil pessoas. Deste grupo, cerca de nove mil pessoas eram da Palestina, 3.200 do Sudão, 2.500 da Somália e 1.100 do Iraque.

Bayda - com uma população de 86.132 habitantes (estimativa 2018) é a décima cidade mais populosa da Líbia
  Segundo a Agência Central de Inteligência (CIA), a língua oficial da Líbia é o árabe. O árabe líbio, a variante local, é falada ao lado do árabe padrão. Várias línguas bérbere também são faladas, incluindo o tamsheq, ghadamis, nafusi, suknah e awjilah. Além disso, o italiano e o inglês são amplamente entendidos nas principais cidades, sendo que o primeiro é usado no comércio e ainda é falado entre a população italiana restante.
Mapa dos grupos étnicos da Líbia
ALGUNS DADOS SOBRE A LÍBIA
NOME: Grande República Socialista Popular Árabe da Líbia
INDEPENDÊNCIA: da Itália, em 10 de fevereiro de 1947
CAPITAL: Trípoli
Centro financeiro de Trípoli
GENTÍLICO: líbio (a), líbico (a)
LÍNGUA OFICIAL: árabe
GOVERNO: Governo Provisório
LOCALIZAÇÃO: Norte da África
ÁREA: 1.759.540 km² (17º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2018): 6.649.029 habitantes (109°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 3,77 hab./km² (197°). Obs: a densidade demográfica, densidade populacional ou população relativa é a medida expressa pela relação entre a população total e a superfície de um determinado território.
CRESCIMENTO POPULACIONAL (ONU - Estimativa 2018): 1,97% (56°). Obs: o crescimento vegetativo, crescimento populacional ou crescimento natural é a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade de uma  determinada população.
CIDADES MAIS POPULOSAS (Estimativa 2018):
Trípoli: 1.078.850 habitantes
Trípoli - capital e maior cidade da Líbia
Bengasi: 670.343 habitantes
Bengasi - segunda maior cidade da Líbia
Misurata: 302.647 habitantes
Misurata - terceira maior cidade da Líbia
PIB (FMI - 2017): US$ 38,300 bilhões (88º). Obs: o PIB (Produto Interno Bruto), representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer sejam países, estados ou cidades), durante um período determinado (mês, trimestre, ano).
PIB PER CAPITA (FMI 2018): US$ 6.059 (83°). Obs: o PIB per capita ou renda per capita é o Produto Interno Bruto (PIB) de um determinado lugar dividido por sua população. É o valor que cada habitante receberia se toda a renda fosse distribuída igualmente entre toda a população. 
IDH (ONU - 2017): 0,716 (102°). Obs: o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população. Este índice é calculado com base em dados econômicos e sociais, variando de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o país. No cálculo do IDH são computados os seguintes fatores: educação (anos médios de estudos), longevidade (expectativa de vida da população) e PIB per capita. A classificação é feita dividindo os países em quatro grandes grupos: baixo (de 0,0 a 0,500), médio (de 0,501 a 0,800), elevado (de 0,801 a 0,900) e muito elevado (de 0,901 a 1,0).
  Muito alto
  Alto
  Médio
  Baixo
  Sem dados
Mapa do IDH
TAXA DE NATALIDADE (ONU - 2017): 26,09/mil (67º). Obs: a taxa de natalidade é a porcentagem de nascimentos ocorridos em uma população em um determinado período de tempo para cada grupo de mil pessoas, e é classificada do maior para o menor.
TAXA DE MORTALIDADE (CIA World Factbook 2017): 3,48/mil (191º). Obs: a taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um índice demográfico que reflete o número de mortes registradas, em média por mil habitantes, em uma determinada região por um período de tempo e é classificada do maior para o menor.
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2017): 19,34/mil (126°). Obs: a taxa de mortalidade infantil refere-se ao número de crianças que morrem no primeiro ano de vida entre mil nascidas vivas em um determinado período, e é classificada do menor para o maior.
Mapa da taxa de mortalidade infantil no mundo
TAXA DE FECUNDIDADE (Population Reference Bureal - PRB - 2017): 2,3 filhos/mulher (103º). Obs: a taxa de fecundidade refere-se ao número médio de filhos que a mulher teria do início ao fim do seu período reprodutivo (15 a 49 anos), e é classificada do maior para o menor.
Mapa da taxa de fecundidade no mundo
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2017): 94,2% (101º). Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que sabem ler e escrever.
Mapa da taxa de alfabetização no mundo
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2017): 78,8% (36°). Obs: essa taxa refere-se a porcentagem da população que mora nas cidades em relação à população total.
Mapa da taxa de urbanização no mundo
MOEDA: Dinar Líbio
RELIGIÃO: islamismo (96,4%), outras religiões (3,4%), sem religião (0,2%).
DIVISÃO: desde 2007, a Líbia é dividida em 22 distritos, que são (os números em negrito correspondem ao número no mapa): 1. Nigat al-Homs 2. Zauia 3. Jafara 4. Trípoli 5. Murgub 6. Misurata 7. Sirte 8. Bengasi 9. Marje 10. Jabal Acdar 11. Derna 12. Al Butnan 13. Nalut 14. Jabal Algarbi 15. Ash Shatii 16. Jufra 17. Oásis 18. Gate 19. Uádi Alhaia 20. Saba 21. Murzuque 22. Cufra.
Mapa com a divisão administrativa da Líbia
REFERÊNCIA: Ribeiro, Wagner Costa
Pode dentro da Geografia, 9º ano / Wagner Costa Ribeiro. - 3. ed. - São Paulo: Saraiva, 2015.

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