terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

O MAIO DE 1968 NA FRANÇA

   O Maio de 1968 foi um movimento político na França que, marcado por greves gerais e ocupações estudantis, tornou-se ícone de uma época onde a renovação dos valores veio acompanhada pela proeminente força de uma cultura jovem. A liberação sexual, a Guerra do Vietnã, o movimento pela ampliação dos direitos civis compunham toda a pólvora de um barril construído pela fala dos jovens estudantes da época. Mais do que iniciar algum tipo de tendência, o Maio de 68 pode ser visto como desdobramento de toda uma série de questões já propostas pela revisão dos costumes feita por lutas políticas, obras filosóficas e a euforia juvenil. Essa foi a maior revolta estudantil da década na França.

Barricadas em Bordeaux, em maio de 1968

  Vários fatores contribuíram para essa insurreição: desde a década de 1950, repercutia na França a luta pela descolonização e independência de países africanos que estavam sob o domínio de nações europeias; o desemprego crescia; havia insatisfação com a Guerra do Vietnã, então em sua fase mais violenta. Ademais, protestos de universitários e grupos políticos em todo o mundo começaram a questionar a ocupação do Vietnã pelos Estados Unidos.

  Outros eventos que refletiram nos movimentos estudantis francesas foram o assassinato de Martin Luther King Jr. (1929-1968), líder da luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, e os acontecimentos da Primavera de Praga.

  Os estudantes franceses, que já se encontravam em um estado de efervescência, ficaram ainda mais mobilizados contra as reformas propostas pelo governo para o sistema educacional do país, que aumentava consideravelmente o ingresso de universitários em um sistema que não estava preparado física, organizacional e intelectualmente para receber um influxo tão grande. Em uma visão mais ampla, as manifestações estudantis na França aconteciam esporadicamente desde 1966.

Policial lança bomba de gás para dispersar a multidão em Paris (França), em maio de 1968. A revolta estudantil francesa demonstrava a profunda insatisfação com a falta de liberdade e perspectiva.

  O início das manifestações se deu quando estudantes franceses da Universidade Paris X Nanterre (atual Universidade Paris Nanterre, uma das treze resultantes da divisão ocorrida em 1971, da antiga Universidade de Paris) ocuparam a instituição em retaliação à punição de colegas que protestavam contra a Guerra do Vietnã. Em 2 de maio de 1968, ocorreu um confronto violento com a polícia, e os estudantes que participavam foram ameaçados de expulsão pela administração da universidade.

  Diante da violência e da repressão policial, os protestos espalharam-se por outras universidades, chegando à Soubonne, unidade mais importante da antiga Universidade de Paris. As ruas da capital francesa foram tomadas por barricadas, e o número de pessoas e feridos aumentou. Segundo o sociólogo Michel Thiollent, os policiais incendiavam carros para que a opinião pública ficasse contra os estudantes, que respondiam lançando paralelepípedos. O movimento ganhou o apoio dos trabalhadores que, por sua vez, aproveitaram para reivindicar melhorias em suas condições de trabalho. Convocados pelos sindicatos, eles iniciaram uma greve geral que, segundo estimativas, mobilizou cerca de 10 milhões de trabalhadores franceses.

Estudantes no Quartier Latin, em Paris, durante as manifestações

  O governo do general Charles de Gaulle (1890-1970) recorreu às Forças Armadas para acabar com os protestos dos estudantes e concedeu aumento salarial aos operários, que terminaram a greve. Sem o apoio dos trabalhadores, os estudantes ficaram enfraquecidos. A população se dividia: uns eram a favor das reivindicações; outros clamavam pela volta da "ordem".

  Mesmo após seu fim, o movimento continuou provocando uma grande revisão de valores pela geração dos anos 1960. Os questionamentos morais e políticos dos jovens ganharam visibilidade e serviram de incentivo para vários movimentos sociais no mundo que defendiam as liberdades civis e democráticos, a liberdade sexual, a luta feminista, a igualdade entre negros e brancos, o consumo consciente, os direitos dos imigrantes e outras minorias.

  Nas eleições convocadas pelo governo francês, os políticos vinculados à figura de Gaulle conseguiram expressiva vitória. O presidente saiu do episódio como uma figura capaz de contornar os problemas enfrentados pela sociedade da época.

  Mesmo sem alcançar algum tipo de conquista objetiva, o movimento de Maio de 1968 indicou uma mudança de comportamento. As artes, a filosofia e as relações afetivas seriam o espaço de ação de um mundo marcado por mudanças.

Manifestantes em enfrentamento com a polícia nos arredores da Universidade de Soubonne

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

THIOLLENT, Michel. Maio de 1968 em Paris: testemunho de um estudante. Tempo Social (Rev.sociol. USP), São Paulo, v. 10 n. 2, out. 1998.

1968, quando a Terra tremeu. Roberto Sander. São Paulo: Vestígio, 2018.

1968, o ano que não terminou. Zuenir Ventura. São Paulo: Objetiva, 2018.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

REGIÃO SUDESTE

  A Região Sudeste do Brasil é a segunda menor região do país, sendo maior apenas que a Região Sul. A região ocupa uma área de 924.620,678 km², e uma população, segundo estimativas do IBGE em 2021, de 89.632.912 habitantes. É composta por quatro estados: Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Limita-se ao norte e a nordeste com a Bahia; ao sul e a leste como o oceano Atlântico; a sudoeste com o Paraná; a oeste com o Mato Grosso do Sul; e a noroeste com Goiás e Distrito Federal.

  É a região mais desenvolvida do país, sendo responsável por cerca de 55,2% do PIB brasileiro. Começou a ser colonizada pelos portugueses no século XVI. A primeira vila, São Vicente, foi fundada em 1532. O desenvolvimento da região se deu a partir da descoberta de ouro em Minas Gerais, no século XVIII. Em 1763, o porto do Rio de Janeiro, por onde escoava o ouro, passou a ser a capital do Brasil. No início do século XX, a expansão da atividade cafeeira transformou São Paulo no maior centro econômico do Brasil.

Mapa político da Região Sudeste

HISTÓRIA

  Os primeiros habitantes da região Sudeste foram os índios, pertencentes aos grupos macro-jê e tupi. Mais tarde, em 1500, começam a chegar os portugueses, que fizeram expedições para conhecer a região e explorar o pau-brasil, abundante nas matas do litoral.

  Os portugueses também fundaram as primeiras vilas do litoral, sendo a Vila de São Vicente o marco inicial da povoação no Brasil, fundada pelos jesuítas portugueses, apoiada na produção de cana-de-açúcar. O povoamento do interior teve início com a fundação da vila de São Paulo de Piratininga.

Fundação da Vila de São Vicente, por Benedito Calixto

  Os moradores da vila de São Paulo adentraram mais para o interior à procura de índios para escravizá-los. Eles organizaram as entradas e bandeiras. No final do século XVII, os bandeirantes paulistas encontraram pedras preciosas na região de Minas Gerais, dando início ao ciclo do ouro.

  Com a mineração, as atenções da Coroa Portuguesa se voltaram para a região Sudeste, tendo em vista que as plantações de cana-de-açúcar no Nordeste estavam em plena decadência. Ocorreu um grande movimento de pessoas para a região das Minas, acarretando na Guerra dos Emboabas.

  A Guerra dos Emboabas ocorreu entre os anos de 1708 e 1709, e envolveu paulistas e estrangeiros pelo domínio da exploração da região das minas. Os bandeirantes paulistas foram os primeiros a descobrir ouro na região e queriam ser os únicos a explorar a riqueza. Porém, com a chegada constante de pessoas vindas de outras regiões brasileiras e também de Portugal, a exclusividade bandeirante não se realizou.

Pintura representando a Guerra dos Emboabas

  O conflito trouxe mudanças para o Brasil Colônia. O sertão brasileiro começou a ser povoado, pois o litoral não trazia mais lucro com o açúcar. A Coroa Portuguesa fez-se presente, dividiu as capitanias de São Paulo e Rio de Janeiro e criou a Capitania das Minas de Ouro. Além disso, a cobrança de impostos passou a ser uma rotina para os exploradores da região. Era possível explorar os metais preciosos, desde que se pagassem os impostos à Coroa.

  Após a derrota dos emboabas, os paulistas foram para a região onde hoje é Goiás e Mato Grosso, descobrindo novas minas de metais preciosos e expandindo o ciclo do ouro para o oeste brasileiro.

Fundação de São Paulo, quadro de 1913 de Antônio Parreiras

  A capital da Colônia é transferida de Salvador para o Rio de Janeiro em 1763. No final do século XVIII a exploração do ouro entrou em decadência em decorrência do esgotamento das minas, porém, a Coroa Portuguesa continuava a cobrar altas taxas tributárias, fazendo surgir a Inconfidência Mineira.

  A Inconfidência Mineira, também chamada de Conjuração Mineira, foi uma revolta de caráter separatista que ocorreu na capitania das Minas Gerais no final do século XVIII. Essa revolta foi organizada pela elite socioeconômica de Minas Gerais e acabou sendo descoberta pela Coroa Portuguesa antes de ser iniciada. Tiradentes foi um dos envolvidos nessa revolta.

A condenação de Tiradentes foi um dos principais acontecimentos da Inconfidência Mineira

  O povoamento também aumentou com o comércio de gado. Os comerciantes levavam os animais do Sul do Brasil para serem vendidos na região das minas. No caminho por onde passavam as tropas de animais apareceram ranchos e pousadas. Os ranchos e as pousadas deram origem a várias cidades.

  Em 1808, fugindo da invasão das tropas napoleônicas, a Família Real Portuguesa se instalou no Rio de Janeiro. A época foi marcada por diversas mudanças econômicas na região, com a abertura dos portos às nações amigas, em 1810, e a elevação do Brasil à Reino Unido de Portugal e Algarves, em 1816. Em 1821, o Rei Dom João VI, retorna para Portugal, deixando seu primogênito, Pedro Alcântara, como Príncipe Regente do Brasil.

  Novas fazendas de plantação de cana-de-açúcar surgiram nos antigos caminhos por onde seguiam as entradas e bandeiras. Essas fazendas também deram origem à várias cidades.

Igrejas em estilo barroco em Mariana, cidade mineira erguida durante o ciclo do ouro, no século XVIII

  A partir da década de 1840, as plantações de café se espalharam por toda a região, principalmente no Vale do Paraíba e no Oeste Paulista, tornando-se a base da economia brasileira. Usou-se, inicialmente, o trabalho escravo mas, com a abolição da escravatura, em 1888, a falta de mão de obra foi preenchida com a vinda de uma grande massa de imigrantes europeus, principalmente italianos.

  Em 1889, a monarquia é derrubada e é proclamada a República, dando início à política do café-com-leite, em que as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais se revezavam no poder.

  O povoamento aumentou com a chegada dos imigrantes e com a abertura das ferrovias. Na década de 1920, com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, o preço do café despencou no mercado internacional. O presidente Getúlio Vargas iniciou um processo de industrialização em São Paulo que, posteriormente, se espalhou pelos outros estados do Sudeste. A instalação de indústrias também contribuiu para que muitas pessoas de outros estados e de outros países viessem morar na região Sudeste.

Café sendo embarcado no Porto de Santos, em 1880, por Marc Ferrez

GEOGRAFIA

  Há vários aspectos importantes que nos auxiliam a compreender a formação e a transformação das paisagens do Sudeste. O clima, o relevo, a vegetação e a hidrografia dessa região formam um conjunto contrastante e rico.

  A região Sudeste é formada por quatro estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito santo) que, juntos, ocupam uma área de 924.620,678 km², correspondente a cerca de 11% do território brasileiro.

Clima e vegetação do Sudeste

  O clima predominante na região Sudeste é o clima tropical e suas variações. No litoral, há a ocorrência do clima tropical úmido. Em razão do relevo acidentado, os morros e as serras próximos ao litoral bloqueiam a umidade trazida pelos ventos oceânicos, provocando chuvas constantes nas áreas costeiras e na porção leste da região. A umidade característica dessas áreas permite o desenvolvimento da floresta tropical densa e diversificada, denominada de Mata Atlântica.

  Nas áreas mais elevadas, como nas regiões serranas, ocorre o clima tropical de altitude, devido à influência das altas altitudes na temperatura e na pressão atmosférica. No extremo norte de Minas Gerais, há o clima semiárido, influenciado pela proximidade com a região Nordeste do Brasil. Nas demais áreas da região Sudeste, como no interior de São Paulo e de Minas Gerais, ocorre o clima tropical típico, marcado por duas estações bem definidas, uma quente e úmida e outra amena e seca.

Mapa climático da região Sudeste

  No interior da região Sudeste, há o predomínio de um clima com baixa umidade em alguns meses do ano. Isso dificulta o desenvolvimento de uma vegetação mais densa, exceto próximo às margens dos rios. Essas áreas, geralmente, mostram-se cobertas por vegetação mais esparsa, como o Cerrado e até mesmo a Caatinga (no norte de Minas Gerais), e apresentam amplos campos de vegetação rasteira com plantas adaptadas ao calor e aos períodos de pouca chuva.

  No sul do estado de São Paulo, em razão da presença do clima subtropical, e na região da Serra da Mantiqueira, entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, em razão da altitude do relevo, há áreas que se desenvolve a Mata de Araucárias.

Mapa da vegetação da região Sudeste

Relevo e hidrografia do Sudeste

  Podemos identificar cinco grandes divisões no relevo do Sudeste: planícies e terras baixas costeiras, serras e planaltos do Leste e do Sudeste, Planalto Meridional, Planalto Arenito-Basáltico e Depressão Periférica.

Mapa do relevo da região Sudeste

Planícies e terras baixas costeiras - apresentam larguras variáveis, ora aparecendo na forma de grandes baixadas, ora estreitando-se e favorecendo a formação de costas altas, onde a Serra do Mar entra diretamente em contato com o oceano Atlântico. São comuns, ao longo da planície, muitas praias e algumas restingas, que formam lagoas costeiras e grandes baías.

Vista da Serra do Mar, em Ubatuba - SP

Serras e planaltos do Leste e do Sudeste - conhecidas como planalto Atlântico ou planalto Oriental, é a parte mais acidentada do planalto Brasileiro. Caracterizando-se, na região Sudeste, pelo grande número de serras (escarpas de planalto) cristalinas. Aparece como verdadeira muralha constituída por rochas cristalinas muito antigas ou como um verdadeiro "mar de morros" em áreas mais erodidas. A escarpa desse planalto voltada para o Atlântico constitui a Serra do Mar, que no sul recebe o nome de Serra de Paranapiacaba. Logo adiante, no oeste, encontramos o vale do Paraíba do Sul, que separa a Serra do Mar da Serra da Mantiqueira. Mais para o norte, as elevações afastam-se do litoral, dando origem à Serra do Espinhaço.

Parte da Serra da Mantiqueira, em Passa Quatro - MG

  Ao norte de São Paulo e a oeste de Minas Gerais, encontra-se a Serra da Canastra. A noroeste da região, atrás da Serra do Espinhaço, encontram-se as chapadas sedimentares, já na transição para a região Centro-Oeste, destacando-se a Serra do Espigão Mestre, vasta extensão aplainada constituída por rochas antigas e intensamente trabalhadas pela erosão. Entre as serras do Espigão Mestre e do Espinhaço encontra-se a Depressão São Franciscana, área de terras baixas cortadas pelo rio São Francisco.

Pico da Bandeira - localizado entre o Espírito Santo e Minas Gerais, possui uma altitude de 2.891,32 metros, sendo o ponto mais elevado da Região Sudeste e o terceiro mais elevado do Brasil

Planalto Meridional - de estrutura sedimentar, ocupa todo o centro-oeste de São Paulo e o oeste de Minas Gerais. É formado por dois blocos: o planalto Arenito-Basáltico e a Depressão Periférica.

Depressão Periférica - zona de contato baixa e plana, que se assemelha a uma canoa, entre as Serras e Planaltos do Leste e Sudeste (de estrutura cristalina) e o Planalto Arenito-Basáltico (de estrutura sedimentar).

Serra dos Órgãos visto de Teresópolis - RJ

Planalto Arenito-Basáltico - apresenta alternância de rochas pouco resistentes, como o arenito (sedimentar), e outras bastante resistentes, como o basalto (vulcânica), favorecendo o aparecimento das cuestas, acidentes de relevo que se mostram íngremes e abruptas em uma vertente e na direção oposta descem em suave declive. Essas cuestas são conhecidas popularmente pelo nome de serras, como a Serra de Botucatu.

Cuesta de Botucatu

  Devido à suas características de relevo, predominam na região Sudeste rios de planalto, naturalmente encachoeirados.

  Em áreas de planalto, por causa dos desníveis dos terrenos e, consequentemente, da maior vazão de água, vários rios do Sudeste apresentam forte potencial hidrelétrico e são utilizados para a produção de energia.

  A construção de usinas, em alguns pontos, transformou o curso de alguns rios em represas artificiais, submergindo até mesmo algumas quedas-d'água.

  A construção de eclusas, viabilizando a conexão entre trechos em desnível, possibilitou a formação de grandes percursos navegáveis, utilizados como hidrovias. Entre elas, destaca-se a Tietê-Paraná, com aproveitamento de 1,7 mil quilômetros de extensão, chegando até a Argentina e o Paraguai.

  Merecem destaque as seguintes bacias hidrográficas presentes na região Sudeste: do Paraná, do São Francisco, do Leste e do Sudeste-Sul.

Mapa da hidrografia da região Sudeste

Bacia do Paraná - o rio principal é formado pela junção dos rios Paranaíba e Grande. Nessa bacia se localizam algumas das maiores hidrelétricas do país, tanto no rio Paraná (Urubupungá e Itaipu) como nos rios Paranaíba (Cachoeira Dourada e São Simão) e Grande (Furnas e Volta Grande).

Rio Tietê (afluente do rio Paraná) entre os municípios de Barra Bonita e Igaraçu do Tietê - SP. Ao fundo a Usina Hidrelétrica de Barra Bonita

Bacia do São Francisco - o principal rio nasce em Minas Gerais, na Serra da Canastra, atravessa a Bahia e alcança Pernambuco, Alagoas e Sergipe, no Nordeste. Recebe alguns grandes afluentes e outros menos, que são intermitentes. No seu alto curso, que vai da nascente a Pirapora, em Minas Gerais, o São Francisco é acidentado e não navegável, porém, com alto potencial hidrelétrico. A Usina Hidrelétrica de Três Marias foi aí construída a fim de regularizar o curso do rio, fornecer energia elétrica e ampliar seu trecho navegável, através de comportas que fazem subir o nível das águas. Já no médio curso, que se estende de Pirapora a Juazeiro (BA), o rio é inteiramente navegável. O baixo curso do rio localiza-se totalmente na região Nordeste.

Rio São Francisco entre os municípios de Ponto Chique e Várzea da Palma, em Minas Gerais

Bacias do Leste - são um conjunto de bacias secundárias de diversos rios que descem das serras litorâneas para o Atlântico, merecendo destaque as bacias dos rios Pardo, Rio Doce e Jequitinhonha, em Minas Gerais, e Paraíba do Sul, entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Rio Paraíba do Sul no município de Cruzeiro - SP

Bacias do Sudeste-Sul - a região Sudeste é drenada também por estas bacias, com destaque para a bacia do rio Ribeira do Iguape, em São Paulo. O rio Ribeira do Iguape banha os estados do Paraná e de São Paulo e forma a bacia hidrográfica do rio Ribeira e o Complexo Estuarino Lagunar de Iguape, Cananeia e Paranaguá, denominada Vale do Ribeira.

Rio Ribeira do Iguape, em Iguape - SP

POPULAÇÃO

  A região Sudeste é a região mais populosa do Brasil. Segundo estimativas do IBGE, em 2021 a região contava com uma população de mais de 89 milhões de habitantes. É também a região mais povoada do país, com uma densidade demográfica de quase 97 hab./km². Sua elevada densidade demográfica é decorrente da concentração das atividades econômicas, como a indústria e o comércio. É também uma região altamente urbanizada.

  A população do Sudeste foi formada pela miscigenação entre vários povos. A região recebeu um grande número de imigrantes, tanto de origem estrangeira, como os europeus e asiáticos, como também de migrantes internos, em especial, nordestinos, que buscavam melhores condições de vida nas cidades sudestinas.

São Paulo (SP) - maior cidade do Brasil

  O gráfico abaixo mostra o crescimento populacional do Brasil e das regiões de 1940 até 2010, quando ocorreu o último censo feito pelo IBGE. Ao observarmos o gráfico vemos que a região Sudeste foi a que mais cresceu em termos de população no país. Esse crescimento pode ser explicado por alguns aspectos demográficos: o ritmo elevado do crescimento natural da população, a vinda de imigrantes estrangeiros para o Sudeste, a migração interna, entre outros.

Gráfico mostrando o crescimento populacional do Brasil e das regiões brasileiras entre 1940 e 2010

  O crescimento natural da população do Sudeste, sobretudo em meados do século XX, foi proporcionado pelas melhorias nas condições médico-sanitárias. A ampliação de campanhas de vacinação, o acesso a medicamentos mais eficazes, a expansão de serviços médico-hospitalares, além da melhoria nos serviços de saneamento básico, contribuíram para a melhor qualidade de vida das pessoas.

As imigrações

  As imigrações tiveram grande peso no aumento da população entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Nesse período, o Brasil recebeu um grande número de imigrantes vindos, principalmente, da Europa.

  Incentivados pelo governo brasileiro, muitos desses imigrantes, também chamados colonos, deixaram seu país de origem para trabalhar nas fazendas de café do Sudeste do Brasil.

  Nessa época, a cafeicultura estava se expandindo em direção ao oeste paulista. A maior parte dos imigrantes que chegaram no Brasil nesse período destinaram-se para essa porção do território em busca de melhores condições de vida.

Imigrantes posando para fotografia no pátio da Central de Hospedaria dos Imigrantes, em São Paulo, por volta de 1890

Principais grupos de imigrantes no Sudeste

  Grande parte dos imigrantes europeus, sobretudo italianos, portugueses e espanhóis, veio para o Brasil em busca de melhores condições de vida. Eles desembarcaram no porto de Santos para, posteriormente, serem transportados até as fazendas do interior.

  Mais tarde, muitos japoneses vieram também para essa região do país. O maior número deles chegou por volta dos anos 1925 e 1935, dedicando-se a princípio ao cultivo de café e, depois, ao cultivo de hortaliças, chá e arroz.

Imigrantes japoneses esperando acomodações na Hospedagem dos Imigrantes em São Paulo, por volta de 1935

A migração interna e a população do Sudeste

  A migração interna também foi importante para o crescimento populacional do Sudeste. Entre as décadas de 1920 e 1970, um grande número de nordestinos, principalmente dos estados do Ceará, de Pernambuco e da Bahia, chegou às grandes cidades do Sudeste, em especial às capitais dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

  Atraídos, principalmente, pelas oportunidades de emprego oferecidas em fábricas, na construção civil e no comércio, esses nordestinos deixaram suas cidades de origem para buscar melhores condições de vida no Sudeste, sobretudo em São Paulo, capital do estado.

  Esses migrantes, além de trazerem sua força de trabalho, contribuíram para diversificar a cultura do Sudeste, principalmente com sua culinária e festas típicas.

Fotografia aérea do Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, no Rio de Janeiro - RJ

População atual da região Sudeste

  No final do século XX e início do século XXI, o crescimento da população da região Sudeste passou a diminuir. Essa diminuição se deve a dois fatores principais:

  • a redução do crescimento natural da população da região, acompanhando uma tendência nacional da queda nas taxas de natalidade;
  • a diminuição da imigração.

  Contudo, essa população, assim como ocorre com o restante da população brasileira, continua crescendo, porém em ritmo mais lento.

  A redução das migrações internas para o Sudeste aconteceu em razão de vários fatores, entre eles, a diminuição das ofertas de emprego e o consequente aumento do número de desempregados nas metrópoles dessa região. A atração exercida pelas novas oportunidades de trabalho nas áreas de fronteiras agrícolas nas regiões Norte e Centro-Oeste também contribuiu para a diminuição das migrações para o Sudeste.

Gráfico mostrando a porcentagem da população urbana e rural na região Sudeste

  A população do Sudeste apresenta-se distribuída de forma bastante irregular pelo espaço da região, com áreas de grande concentração populacional, como é o caso das regiões metropolitanas, e áreas de baixa concentração populacional, como é o caso do norte de Minas Gerais e em áreas elevadas.

  Atualmente a região Sudeste é considerada a mais populosa do Brasil, com cerca de 89 milhões de habitantes vivendo em municípios do interior e em grandes centros urbanos. Essa região é a mais urbanizada do país, onde cerca de 93% da população vivem nas cidades. O Sudeste possui também a mais alta densidade demográfica do Brasil.

Gráfico mostrando a porcentagem da população urbana por região no Brasil

ECONOMIA

  A região Sudeste é responsável por mais da metade do PIB do Brasil e possui as mais altas taxas de industrialização e urbanização do país.

  Entre as razões que explicam essa importante participação no PIB nacional, podemos citar seu parque industrial moderno e diversificado, a presença de uma significativa variedade de atividades ligada ao setor de serviços, como comércio, empresas de telecomunicações, publicidade e instituições financeiras, além da elevada produção agropecuária.

A indústria da região Sudeste

  Na região Sudeste estão concentrados importantes tipos de indústrias, como siderúrgicas, metalúrgicas, mecânicas, alimentícias, extrativas minerais, além das indústrias de alta tecnologia, como informática e aeroespacial.

  No entanto, a maneira como elas estão distribuídas pelo espaço regional é bastante desigual. A maior parte está localizada nos grandes centros urbanos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Só a região metropolitana da Grande São Paulo, por exemplo, absorve a maior parte das unidades fabris e, consequentemente, o maior número de pessoas empregadas nesse setor.

  A indústria da região Sudeste responde por 58% do PIB gerado pelo setor industrial do país. Muitos produtos fabricados pelas indústrias, além de abastecer o mercado interno, são responsáveis por incrementar a diversidade de produtos exportados pelo Brasil.

Desconcentração industrial  no Sudeste

  Nos últimos anos, um grande número de indústrias tem deixado áreas de concentração industrial tradicionais do Sudeste para se instalar em outras regiões do Brasil ou até mesmo em outras áreas no interior da própria região Sudeste, movimento conhecido como desconcentração industrial. Esse movimento se deve à busca de custos mais baixos com transportes, imóveis, impostos e mão de obra com salários menores.

Figura mostrando a porcentagem do setor industrial no país. Nela podemos observar que os três principais estados da região Sudeste são responsáveis por mais da metade da produção industrial no Brasil em 2021

Extrativismo na região Sudeste

  Entre os principais recursos naturais explorados na região Sudeste, merecem destaque o petróleo e o minério de ferro. A região conhecida como Quadrilátero Ferrífero, localizada na porção central do estado de Minas Gerais, é a principal área mineradora do Sudeste. Nela estão concentradas importantes jazidas minerais de ouro, manganês, topázio imperial, bauxita e, sobretudo, ferro.

  O alto teor metálico dos minérios, a forte infraestrutura, com portos e ferrovias adequados para atender o escoamento mineral, além das proximidades com os centros consumidores são alguns fatores que têm levado importantes indústrias extrativas para o Quadrilátero Ferrífero.

  Além do Quadrilátero Ferrífero, o Sudeste apresenta significativa produção de petróleo. Nessa região estão localizadas as principais bacias petrolíferas do país.

Mapa com os principais recursos minerais encontrados na região Sudeste

Agropecuária da região Sudeste

  O Sudeste destaca-se não só pelo seu desenvolvimento urbano-industrial, mas também pelo êxito alcançado na produção agropecuária.

  Em várias propriedades rurais do Sudeste, a introdução de um sistema produtivo de alto padrão tecnológico no campo tem garantido elevado índice de produtividade, tanto no cultivo de diversos gêneros agrícolas como na criação de animais.

  Na região, também existem pequenas propriedades com técnicas tradicionais de cultivo e criações. Como em outras regiões brasileiras, elas coexistem com a expansão das grandes propriedades monocultoras comerciais.

Mapa agropecuário da região Sudeste

  A atividade agropecuária do Sudeste representa, aproximadamente, 22% do PIB nesse setor. Além de abastecer o mercado interno, essa atividade tem peso significante entre os principais produtos que o Brasil exporta.

  Com o interesse de expandir cada vez mais o mercado exportador de produtos agropecuários, várias regiões do Brasil estão optando por produzir em extensas áreas agrícolas monocultoras. Na região Sudeste, entre as principais lavouras cultivadas nessas propriedades estão o café, a cana-de-açúcar e a laranja.

  As agroindústrias localizadas na região Sudeste participam intensamente do crescimento agropecuário regional. Elas processam uma parcela muito grande de produtos agropecuários exportados pelo país.

 A pecuária também tem grande destaque na região Sudeste, sendo o seu rebanho bovino o segundo maior do país. A grande produção de carne bovina (pecuária de corte) e suína permite a instalação e o desenvolvimento de frigoríficos e indústrias de laticínios (pecuária leiteira). A criação de aves (avicultura) e a produção de ovos são as maiores do país, concentrando-se no estado de São Paulo.

Plantação de café em São João de Manhuaçu - MG

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

ARBEX JÚNIOR, José; OLIC, Nelson Bacic. O Brasil em regiões: Sudeste. São Paulo: Moderna, 1999.


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