quarta-feira, 6 de julho de 2011

UNIÃO EUROPEIA

  No fim da Segunda Guerra Mundial, a Europa estava devastada. Países como Inglaterra, França, Alemanha e Itália atravessavam uma grave crise. Não podiam mais exercer a influência que tinham até esse momento. Aproveitando a situação, Estados Unidos e União Soviética ocuparam a posição de liderança que antes era dos países europeus.
Berlim após a Segunda Guerra Mundial
  Os dois países eram rivais, pois defendiam sistemas políticos e socioeconômicos muito diferentes para administrar suas nações. Enquanto os Estados Unidos defendiam a liberdade econômica com presença de empresas particulares, a União Soviética praticava uma economia estatizada, em que o governo controlava toda a produção.
  Estados Unidos e União Soviética passaram, então, a disputar a hegemonia mundial, tentando expandir suas áreas de influência, inclusive na Europa. Esse cenário, que perdurou até o fim da década de 1980, foi denominado de Guerra Fria.

  Em 1945 a União Soviética já exercia uma forte influência sobre a Europa Oriental, que foi obrigada a adotar o sistema socialista. Diante dessa situação, muitos jornalistas passaram a chamar os países dessa região da Europa de “satélites” da União Soviética.
   O crescente poder soviético preocupou os líderes capitalistas, em especial os norte-americanos e os ingleses, que temiam uma possível expansão do socialismo sobre a Europa Ocidental.
  Em setembro de 1946, em Zurique, na Suíça, Winston Churchill sugeriu que a Europa se unisse como resposta à crescente força soviética no continente: "...nós devemos construir uma espécie de Estados Unidos da Europa".
Winston Churchill - ex-Primeiro-Ministro Britânico
  Outro líder da época, o francês Charles De Gaulle, disse em 1948, que, “a Europa deverá ser uma federação de povos livres”.
  Mas o sonho de Churchill e De Gaulle, de unir a Europa, esbarrava num problema criado pela guerra: a fragilidade econômica da Europa Ocidental e as rivalidades internas.


Charles De Gaulle
OS ESTADOS UNIDOS FINANCIAM A EUROPA OCIDENTAL
  Para afastar o risco de colapso econômico da Europa e o seu possível distanciamento do capitalismo norte-americano, diante do crescente poderio soviético, os Estados Unidos (que saíram da guerra praticamente sem perdas) ofereceram à Europa cerca de 13 bilhões de dólares – valor que equivale atualmente a mais de US$ 130 bilhões. Essa ajuda econômica poderia recuperar o capitalismo no continente.
  A União Soviética, apesar das perdas significativas durante a Segunda Guerra Mundial – mais de 20 milhões de mortos, indústrias destruídas, campos arrasados -, possuía um poder militar descomunal em relação aos demais países europeus. Esse desequilíbrio de forças gerava uma enorme tensão na Europa, que se sentia ameaçada por um possível expansionismo do socialismo soviético.
  Chamada oficialmente de Programa de Recuperação Europeia, essa iniciativa ficou mais conhecida pelo nome de Plano Marshall, em homenagem ao secretário de Estado norte-americano na época, George Marshall.
George Marshall
  Curiosamente, a União Soviética e os países da Europa Oriental foram convidados a participar do Plano Marshall. Mas o líder da superpotência socialista, Josef Stalin, viu o plano como uma ameaça à autonomia do bloco socialista, pois quem aceitasse ficaria devedor dos Estados Unidos. Desse modo, pressionou para que nenhum país do Leste Europeu tomasse emprestado dinheiro dos Estados Unidos.
Josef Stalin
  O dinheiro do Plano Marshall foi bem aproveitado. Quatro anos após sua aplicação, a economia dos países da Europa Ocidental já era maior do que antes da guerra.
  Por outro lado, a dívida com os Estados Unidos obrigava os países importantes da região, como França, Itália, Inglaterra e Alemanha Ocidental, a serem grandes aliados dos Estados Unidos.
A EUROPA OCIDENTAL BUSCA RETOMAR SUA SOBERANIA
  No início da década de 1950, a Europa Ocidental já estava reconstruída. Mas precisava resolver alguns problemas, como a ameaça de novos conflitos e a dependência de sua economia em relação aos Estados Unidos.
  A solução partiu de Jean Monnet (1888-1979), um renomado político francês, sugeriu o agrupamento dos Estados do continente “numa Federação ou entidade europeia”.
  Para tanto, seria necessário evitar novos conflitos, fato que só seria possível após o fim das antigas rivalidades em todo o continente.

Jean Monnet
  A maior rivalidade na Europa era entre França e Alemanha. Os dois países se envolveram em guerras, conflitos e disputas territoriais durante muito tempo. Além disso, sempre fizeram parte de alianças opostas.
  Uma das regiões mais disputadas por esses rivais era a Alsácia-Lorena. Rica em ferro e carvão, fundamentais para a industrialização, essa região fronteiriça foi um dos motivos principais das discórdias entre os dois países.
 Alsácia-Lorena
  Um grande passo para superar as rivalidades entre franceses e alemães foi dado em 1950. Monnet propôs que a Alemanha e a França compartilhassem a administração da região.
  Essa proposta foi prontamente aceita pelos dois países, que acabaram assinando a Declaração de Schuman. Robert Schuman (1886-1963), era o Ministro dos Negócios Estrangeiros da França, e apresentou um plano para uma cooperação europeia.
Robert Schuman
  A Declaração de Schuman inspirou outros quatro países: Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Em 1951, convencidos da necessidade de uma efetiva integração continental, assinaram, juntamente com a França e a Alemanha, o Tratado de Paris, que estabeleceu a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca). Essa organização também ficou conhecida como Europa dos Seis.
  A Ceca, vigorou até 2002, e reunia esses produtores de carvão e de aço. A principal meta do grupo era reduzir as tarifas de importação e exportação desses produtos, facilitando sua circulação entre os países membros.
Europa dos Seis
A CECA DÁ ORIGEM À CEE
  Os bons resultados da Ceca levaram muitos de seus líderes políticos dos anos 1950 a buscar maior integração econômica. Pensava-se em na possibilidade de ampliar as trocas, incluindo bens de consumo como roupas, sapatos, alimentos etc.
  Nesse período, já funcionava informalmente uma aliança entre Bélgica, Holanda e Luxemburgo, o Benelux, que permitia a livre troca de mercadorias entre esses três países. Os outros países foram influenciados pelo sucesso do Benelux, um dos primeiros e mais bem-sucedidos casos de integração europeia.
Benelux
O sucesso do Benelux encorajou os integrantes da Ceca a assinarem o Tratado de Roma, em 1957, que criou a Comunidade Econômica Europeia (CEE). Seu objetivo principal foi aprofundar a integração já existente.
  Uma das primeiras decisões tomadas pela CEE foi eliminar qualquer restrição ao comércio entre seus membros. Assim, deixaram de ser cobradas tarifas alfandegarias sobre grande parte das mercadorias fabricadas nos países membros.
  Os resultados foram muito positivos. Mais mercadorias passaram a circular no interior da comunidade. Mais empregos foram gerados, elevando a qualidade de vida da população. Desde a fundação da CEE até 1970, o comércio entre os países membros cresceu seis vezes e as trocas de mercadorias do bloco com o mundo triplicaram.
  O Tratado de Roma era um projeto de integração continental que ia muito além do livre comércio de produtos. Em 1962, entrou em vigor a Política Agrícola Comum (PAC). Esse programa, composto por financiamentos, subsídios e ajuda técnica, aumentou consideravelmente a produção agropecuária de toda a CEE. Gerou também autossuficiência na produção de alimentos e elevou os rendimentos dos agricultores.
Agricultura na Europa
  Em 1974, a CEE criou o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, com a função de transferir recursos financeiros das regiões ricas para as mais pobres. Os seus recursos deviam ser investidos na melhoria da infraestrutura de transportes e sistemas de comunicações.
  À medida que as regiões mais carentes recebiam recursos financeiros, geravam mais empregos. Esse resultado favorável, explica por que, atualmente, um terço do orçamento europeu é destinado a esse fundo.
Parque Industrial em Duisburg - Alemanha
A EXPANSÃO DA COMUNIDADE ECONÔMICA EUROPEIA
  O dinamismo da economia não foi o único resultado alcançado pela CEE. Pouco a pouco o bem-estar da população foi ficando mais patente. Esse fato chamou a atenção de outros países europeus, que passaram a solicitar seu ingresso no bloco.
  A primeira expansão da CEE se deu em 1973, quando ingressaram a Dinamarca, o Reino Unido e a Irlanda.
Europa dos Nove
  Nessa época o mundo enfrentava o “Primeiro Choque do Petróleo”, decorrente da Guerra do Yom Kippur, entre árabes e israelenses. Em decorrência disso, o Reino Unido iniciava uma intensa exploração petrolífera no Mar do Norte. Por isso, ao aceitar o ingresso do Reino Unido, a Comunidade Econômica Europeia passou a contar com um membro rico em recursos energéticos.
Plataforma de petróleo no Mar do Norte
  Na década de 1980 foi a vez da Grécia, da Espanha e de Portugal ingressarem na comunidade. Apesar de serem mais pobres do que os demais membros da CEE, esses países foram aceitos porque são grandes produtores de alimentos. Outro atrativo desses países era sua mão de obra abundante e barata, um item importante para as grandes empresas dos países ricos.
Madri - capital da Espanha
  O ingresso de novos Estados na CEE transformou-a, gradativamente, no grande polo de estabilidade politica e econômica da Europa. A crescente influência do bloco na politica e na economia mundiais tornou necessária sua participação nas mais importantes reuniões internacionais, como fóruns econômicos e ambientais.
Fórum Econômico Mundial em Davos - Suíça
NASCE A UNIÃO EUROPEIA
  Desde 1957, os membros da CEE têm como meta aprofundar sua integração. Por isso, em 1992, foi assinado um novo documento na cidade holandesa de Maastrich. Nesse tratado foram definidas as regras gerais de um bloco mais avançado que a CEE. Nasceu, assim, a União Europeia.
Assinatura do Tratado de Maastrich em 1992 na Holanda
  A União Europeia é a substituta imediata da CEE. Começou a vigorar um ano após a assinatura do Tratado de Maastrich, quando as “quatro liberdades fundamentais” começaram a sair do papel. Além da livre circulação de mercadorias, também os serviços, as pessoas e os capitais devem circular livremente no interior da comunidade.
Bandeira da União Europeia
   Em 1995 a Áustria, a Suécia e a Finlândia entraram na União Europeia. Assim, a comunidade ficou conhecida como “Europa dos Quinze”.
Europa dos Quinze
  Em 1999, houve um avanço ainda maior rumo à unidade europeia. Criou-se a União Monetária e Econômica, um modelo revolucionário de integração de nações baseado na implantação de uma moeda única, que foi batizada com o nome de euro.
Cédulas de Euro
  Para administrar a integração monetária e econômica foi criado o Banco Central Europeu. Essa instituição financeira é responsável por importantes questões, como a emissão de euros. O euro circula livremente na União Europeia desde 2002.
Banco Central Europeu
  Três países da União Europeia – Dinamarca, Reino Unido e Suécia – não permitem a livre circulação do euro em seu território. Eles não quiseram adotar a moeda porque temem perder sua autonomia. Na Zona do Euro, os assuntos econômicos são decididos em conjunto e não individualmente. Os países que aderirem à moeda única devem acatar as decisões do Banco Central Europeu, e por isso, esses três países não aderiram ao euro.
OS MAIS NOVOS MEMBROS DA UNIÃO EUROPEIA
  À medida que evoluía a integração da União Europeia, mais países mostravam interesse em entrar para o bloco.
  Vários países-candidatos tinham sido satélites da União Soviética durante a Guerra Fria. Eram socialistas e enfrentaram uma profunda crise econômica na década de 1980. Para superar essa condição, passaram por uma transição para a economia capitalista nos anos 1990.
Europa Oriental
  O cotidiano dos habitantes desses países também mudou bastante. Antes de 1990, o Estado controlava toda a economia e centralizava as decisões. As empresas e os meios de comunicação eram estatais, assim como os transportes, a educação e a saúde.
  Esse sistema socialista modelado pela União Soviética não conseguiu satisfazer algumas necessidades da população. Por isso, no início da década de 1990, vários governantes do Leste Europeu permitiram o ingresso de empresas privadas em seus países, o que transformou o cotidiano. Ao mesmo tempo, as relações capitalistas foram fortalecidas e muitas das antigas empresas estatais foram privatizadas. Assim, houve uma maior aproximação desses países com a União Europeia.
  Nos últimos anos, diversas transnacionais europeias e norte-americanas têm investido no Leste Europeu, atraídas pela mão de obra extremamente barata. Outra vantagem dessa mão de obra é a sua elevada escolaridade. Apesar de receber salários mais baixos em relação aos trabalhadores da Europa Ocidental, grande parte dessa mão de obra é qualificada – herança da fase socialista que priorizava a excelência na educação e no esporte. 
Varsóvia - capital da Polônia
  Isso impulsionou uma nova industrialização em algumas cidades do Leste Europeu, que começaram a ficar conhecidas por sua capacidade produtiva. Indústrias automobilísticas ocidentais têm se instalado em Budapeste, na Hungria. Essa cidade é chamada de Detroit do Leste, uma referência à cidade norte-americana que é considerada a Capital do Automóvel.
Budapeste - capital da Hungria
  A Estônia, devido ter atraído capitais ligados ao setor de informática, é conhecida como o Vale do Silício do Báltico, uma referência à região da Califórnia onde estão as principais empresas especializadas nessa área tecnológica.
Tallin - capital da Estônia
  Eslovênia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, República Tcheca, Eslováquia e Hungria ingressaram no bloco europeu em 2004. Mas seus governos ainda estão se adequando às condições impostas pela União Europeia. Juntamente com esses oito ex-países socialistas, as ilhas de Malta e Chipre também ingressaram, em 2004 na União Europeia. Em 2007 entraram a Bulgária e a Romênia, que também fizeram parte do bloco socialista.
Mapa da União Europeia
  Com o ingresso da Romênia e da Bulgária, a União Europeia passou a ter mais de 500 milhões de habitantes em 2007.
  A Bulgária e a Romênia registram agora a mesma situação vivida pelos outros ex-países socialistas que ingressaram no bloco em 2004. Receberão uma grande ajuda financeira da União Europeia, estimada em mais de 40 bilhões de euros. Esses recursos deverão ser usados para a ampliação e a melhoria das rodovias, ferrovias, aeroportos e sistemas de telecomunicações. Esse dinheiro também se destina ao desenvolvimento da agropecuária associada a projetos de proteção ao meio ambiente e ao investimento em educação e segurança, entre outros fins.

CHIPRE, UM PROBLEMA PARA A UNIÃO EUROPEIA
  A ilha de Chipre está localizada no mar Mediterrâneo. Essa ex-colônia inglesa tem uma população majoritariamente cristã de origem grega, mas possui uma importante minoria muçulmana de origem turca, que habita o norte do país.
  Na década de 1960, os habitantes de origem grega declararam a independência da ilha e prometeram que a vice-presidência ficaria sempre com um cipriota turco.
  Em 1974, militares de origem grega lideraram um golpe de Estado que afastou os cipriotas turcos do poder. Diante dessa situação, no mesmo ano a Turquia invadiu o norte da ilha e apoiou a criação de um país chamado de República Turca do Norte do Chipre.
Mesquita Selimiye, em Nicósia Chipre. Uma das heranças da ocupação turca no século XVI.
  Até hoje, essa região se encontra política e economicamente separada do restante da ilha, e por isso, não faz parte da União Europeia. Já o sul, habitado pela população de origem grega, ingressou na UE em 2004 e usa o euro como moeda oficial desde 2008.
Nicósia - capital de Chipre
ÒRGÃOS IMPORTANTES DA UNIÃO EUROPEIA
  A União Europeia avançou muito além das "quatro liberdades fundamentais". A prova disso é a existência de vários órgãos que fiscalizam, apoiam e executam as decisões do bloco.
  Um desses órgãos administrativos é o Parlamento Europeu, sediado em Estraburgo, na França. Seus 785 deputados são eleitos diretamente pelos cidadãos dos 27 países membros por um período de cinco anos. O Parlamento Europeu é responsável pelo orçamento da União Europeia, e são esses deputados que decidem onde devem ser investidos os recursos dos impostos. O Parlamento Europeu vem, nos últimos anos, se preocupando com as leis trabalhistas para garantir a liberdade de circulação no interior da União Europeia aos trabalhadores do bloco.
Edifício do Parlamento Europeu em Estrasburgo - França
  O Conselho da União Europeia, é o órgão que reúne os ministros dos países membros para discutir questões internas como agricultura, educação, e telecomunicações.
  A Comissão Europeia, situada em Bruxelas, é o órgão executivo da União Europeia. É responsabilidade sua aplicar os tratados e as decisões do Parlamento e do Conselho da União Europeia.
Edifício Berlaymont, em Bruxelas - sede da Comissão Europeia
OS IMPACTOS DA UNIFICAÇÂO NO COTIDIANO DAS PESSOAS
  Muitas coisas mudaram na vida do cidadão europeu em decorrência da unificação do continente. O passaporte europeu passou a ser uma realidade. Ele permite que se atravessem livremente as fronteiras internas da Europa. O livre trânsito favorece os profissionais, que podem exercer suas funções em qualquer país da União. Aos europeus é permitido também desfrutar de uma carteira de motorista comum e dirigir automóveis em qualquer país membro do bloco.
  Após sucessivos avanços, a União Europeia encontrou uma barreira para continuar sua unificação. Desde o final da década de 1990, os líderes europeus vêm se manifestando contra ou a favor de uma Constituição única para o bloco. Essa Constituição seria o auge para o processo de unificação, pois levaria a União Europeia a ter leis comuns para todos os países membros.

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