sábado, 25 de maio de 2013

CARTOGRAFIA TEMÁTICA

  Cartografia é o conjunto de atividades científicas, tecnológicas e artísticas, cujo objetivo é a representação gráfica da superfície terrestre e de todo o universo. Essa representação gráfica constitui o mapa ou a carta.
  Todo mapa apresenta algumas informações essenciais e "responde" a certas perguntas sobre os elementos que compõem o espaço geográfico. Em toda representação cartográfica há uma escala, que nos revela a proporção entre os elementos representados no mapa e seus correspondentes na realidade.
  A Cartografia Temática é usada na elaboração de mapas temáticos e cartogramas. São convenções, símbolos e cores usadas para que haja uma melhor compreensão do tema exposto e seu espaço geográfico.
Mapa dos biomas brasileiros
  Os mapas podem mostrar mais do que a localização dos fenômenos no espaço e sua proporção. Também podem representar, em diferentes escalas geográficas, sua diversidade:
  • Qualitativa: responde à pergunta "o quê?"  e representa os diferentes elementos cartografados em diversos tipos de mapas - cidades, rios, mineração, indústrias, climas, cultivos etc. As representações qualitativas em mapas são empregados para mostrar a presença, a localização e a extensão das ocorrências dos fenômenos que se diferenciam pela sua natureza e tipo, podendo ser classificadas por critérios estabelecidos pelas ciências que estudam tais fenômenos.
  • Quantitativa: elucida a dúvida sobre "quanto?" e indica, por exemplo, o número da população urbana, a quantidade de chuva mensal, o total da produção industrial, entre outros, permitindo a comparação entre territórios diferentes;
  • Classificação: registra a ordenação, a hierarquia na qual um fenômeno está arranjado num determinado território: por exemplo, a ordem das cidades no mapa da hierarquia urbana brasileira - metrópole nacional, metrópole regional, capital regional etc.;
  • Dinâmica: mostra a variação de um fenômeno ao longo do tempo e sua movimentação no espaço geográfico: o fluxo de população no território brasileiro, o fluxo de mercadorias no comércio internacional, entre outros.
Mapa das áreas susceptíveis ao processo de desertificação no Rio Grande do Norte
   Para representar todos esses aspectos, são utilizados pontos, linhas ou áreas, dependendo da forma como o fenômeno analisado se manifesta no espaço, e que terão uma variação visual com propriedade de perspectiva compatível com a diversidade: a seletividade visual. Por exemplo: uma cidade, será um ponto no mapa da geografia política brasileira; qualquer rodovia ou ferrovia será uma linha atravessando uma determinada região ou país; a cultura de um determinado produto agrícola, terá sua área ou zona de cultivo destacado por uma cor ou textura no mapa.
  Os fenômenos pontuais, lineares e zonais podem ser representados separadamente, em mapas diferentes, mas também podem ser cartografados num mesmo mapa.
Alguns dos símbolos usados na Cartografia Temática
  Na manifestação pontual são utilizados, preferencialmente, a variação de forma ou de orientação.
  Para facilitar a memorização dos signos (símbolos), principalmente nos mapas para crianças, são explorados a analogia entre sua forma e o que elas representam. São os "símbolos" evocativos ou icônicos.
  Na manifestação linear convém usar basicamente a variação da forma.
  Na manifestação zonal, a cor tem maior eficácia. Na impossibilidade de se poder contar com a cor, pode-se empregar texturas diferentes compostas por elementos pontuais ou lineares, do mesmo valor visual.
Representações cartográficas
  A Cartografia Temática facilita o planejamento de intervenções no espaço geográfico porque nos auxilia a compreender os temas ou fenômenos que o compõem. Com a Cartografia Temática, fica mais fácil o planejamento de uma cidade a partir do registro da ocupação de seu solo urbano em cartas temáticas, nas quais são visualizadas a melhor direção para expandir a área urbana, os lugares sujeitos a alagamentos ou desmoronamentos, entre outros fenômenos.
  Os fenômenos - sociais e naturais - estão interligados no espaço geográfico; assim, a intervenção num aspecto da realidade interfere em outros e isso pode ser registrado cartograficamente.
Mapa temático da Microrregião de Quirinópolis - Goiás
FONTE: Sene, Eustáquio. Geografia geral e do Brasil, volume 1: espaço geográfico e globalização: ensino médio / Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. - São Paulo: Scipione, 2010.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

  Divisão Internacional do Trabalho é o nome que se dá para o comércio mundial no qual cada país está voltado para produzir e exportar determinados bens ou serviços. É uma divisão do trabalho entre as economias nacionais. Tradicionalmente, a Divisão Internacional do Trabalho é marcada pela existência de dois principais grupos de países: os exportadores de produtos industrializados, uma minoria, e os exportadores de matérias-primas (gêneros alimentícios e minérios), a imensa maioria. Os primeiros compram (importam) as matérias-primas dos segundos e estes, por sua vez, compram os produtos industrializados daqueles países do primeiro grupo.
  Foi com a Primeira Revolução Industrial que se estabeleceu essa Divisão Internacional do Trabalho. Quando ela se iniciou, em meados do século XVIII, apenas o Reino Unido (Inglaterra) produzia em suas fábricas bens industrializados em grandes quantidades. Nessa época, ele pôde dominar o mercado internacional com seus produtos industrializados, que eram praticamente exclusivos. Em outras palavras, a Grã-Bretanha se especializou na produção industrial e começou a impor  ao restante do mundo uma divisão do trabalho que beneficiasse na medida em que os produtos industrializados eram e em parte ainda são mais valorizados que as matérias-primas.
Coalbrookdale - cidade britânica considerada um dos berços da Revolução Industrial
  Como a produção industrial se tornou possível graças à invenção de máquinas, como os teares mecânicos e a máquina a vapor, ambas inventadas nesse país, o Reino Unido conquistou o monopólio do desenvolvimento tecnológico. Também a existência de carvão mineral, principal fonte de energia no período, possibilitou que a industrialização se iniciasse no Reino Unido. Com isso, ele passou a exportar para os outros países da Europa e dos demais continentes produtos industrializados - principalmente tecidos - fabricados em grande quantidade e baixo custo.
  Essa foi a origem da Divisão Internacional do Trabalho, isto é, a formação de um mercado mundial integrando praticamente todos os países, em que um pequeno número deles exporta principalmente produtos industrializados enquanto o restante exporta basicamente matérias-primas.
Motor a vapor - impulsionou a Revolução Industrial na Inglaterra e no mundo
  Logo em seguida - principalmente no século XIX - vários outros países seguiram o exemplo do Reino Unido e se industrializaram, passando também a vender produtos industrializados no mercado mundial. Esses demais países foram Alemanha, França, Itália, Rússia e outros da Europa Ocidental, além de dois não europeus: os Estados Unidos e o Japão. São os atuais países desenvolvidos.
  Assim, a Divisão Internacional do Trabalho foi o resultado da formação de um mercado mundial, um comércio entre praticamente todos os continentes, todos os povos. Esse mercado mundial já havia sido iniciado anteriormente com a colonização da Oceania e da África. A África, desde o século XVI, já participava desse mercado mundial, apesar de ainda não ser ocupada e dividida em colônias dos países europeus (como ocorreu no século XIX), pois inúmeros povos africanos recebiam bugigangas (algodão, rum, armas, joias de pouco valor) e em troca forneciam para as potências europeias marfim, madeiras e principalmente escravos. Mas foi com a Revolução Industrial, iniciada em meados do século XVIII, que essa Divisão Internacional do Trabalho se consolidou, se expandiu e passou a ser em grande parte o que é até os dias de hoje.
Mapa político do mundo em 1700
  Na época da colonização do continente americano, do século XVI até o o final do século XVIII e início do século XIX, esse mercado mundial era pouco generalizado, pois as colônias só podiam comercializar com as suas respectivas metrópoles. Mas a partir do final do século XVIII ocorreu uma progressiva independência das colônias europeias na América. Estados Unidos em 1776, Haiti em 1804, Venezuela em 1810, Paraguai em 1811, Argentina em 1816, Chile em 1818, Brasil em 1822, etc. Com essas novas nações independentes, a Divisão Internacional do Trabalho se generalizou, pois agora elas podiam comercializar com qualquer país, e não mais apenas com sua metrópole. Contudo, esses países que se tornavam independentes, com exceção dos Estados Unidos, prosseguiram com a sua economia do tipo colonial, isto é, produtora de matérias-primas (algodão, açúcar, madeiras, minérios, produtos agrícolas diversos etc.) para o mercado mundial, agora não mais apenas para a metrópole, mas também para os países que se industrializavam, principalmente o Reino Unido.
Diversas etapas da Divisão Internacional do Trabalho
  A Divisão Internacional do Trabalho manteve e até mesmo agravou as desigualdades internacionais. Antes de tudo porque os gêneros agrícolas e os minérios - isto é, as matérias-primas - se valorizam menos com o decorrer do tempo do que os produtos industrializados. Os produtos com maior tecnologia - industrializados - com o tempo se valorizam mais do que os produtos brutos ou primários. Com isso, as economias não industrializadas, que só produzem matérias-primas, tendem a ficar para trás, cada vez mais atrasadas em relação às economias industrializadas.
FONTE: Vesentini, J. William. Projeto Teláris: Geografia / J. William Vesentini, Vânia Vlach. - 1. ed. - São Paulo: Ática, 2012. - (Projeto Teláris: Geografia) Obra em 4 v. para alunos do 6° ao 9° ano.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

O CRESCIMENTO ECONÔMICO INDIANO

  Nas últimas décadas a Índia vem se destacando no cenário mundial devido ao acelerado crescimento da sua economia.
  A modernização econômica da Índia teve início na década de 1950, logo após o país se libertar da dominação inglesa. A partir de então, a política econômica do governo indiano deu prioridade ao desenvolvimento das indústrias de base (mineração, siderúrgicas, metalúrgicas, petroquímicas). Posteriormente, já nas décadas de 1970 e 1980, foram feitos grandes investimentos em infraestrutura (energia, transporte, comunicação) e também ao desenvolvimento científico e tecnológico.
Trânsito caótico em Hydebarad. As grandes cidades indianas são conhecidas pelo seu trânsito confuso e caótico.
  Grandes investimentos estrangeiros privados se instalaram no país a partir do início da década de 1990, atraídos pelo baixo custo da mão de obra e incentivos fiscais (redução e isenção de impostos) concedidos nas chamadas zonas de processamento de exportação (ZPEs), áreas criadas especificamente para atrair capital estrangeiro.
  Com a expansão da atividade industrial, o parque fabril indiano se diversificou. O país também dispõe de um grande potencial mineral, com importantes jazidas de ferro, bauxita, carvão, manganês, cobre, ouro e prata, o que contribui para o crescimento industrial.
Centro Comercial UB City, em Bangalore
  Outro destaque industrial do país está ligado à ampliação dos setores de alta tecnologia, como a produção de artefatos nucleares, satélites espaciais, informática (softwares, componentes eletrônicos, fibras óticas etc.). O país já desponta como o maior exportador mundial de softwares, cuja produção concentra-se principalmente em Bangalore, conhecida como "Vale do Silício indiano". O desenvolvimento desse setor tem se apoiado em grandes investimentos em instituições e centros de pesquisa e ensino universitário voltados para a formação de uma mão de obra altamente qualificada para as indústrias de alta tecnologia.
Satélite indiano INSAT 1B sendo preparado para ser enviado a bordo da missão STS-8
FONTE: Garcia, Valquíria Pires. Projeto radix: geografia / Valquíria Pires Garcia -- Beluce Bellucci. -- 2. ed. -- São Paulo: Scipione, 2012. -- (Coleção projeto radix)

terça-feira, 21 de maio de 2013

IRÃ - REVOLUÇÃO ISLÂMICA E OPOSIÇÃO AO OCIDENTE

  Até 1979, o Irã foi um dos principais aliados dos Estados Unidos entre os países do Oriente Médio. O país havia apoiado em 1953 o golpe de Estado promovido pelo xá Reza Pahlevi.
  Com Reza Pahlevi, o Irã construiu toda a política econômica e social do país apoiada no modelo ocidental. Ocorreu nesse período um profundo questionamento das correntes mais radicais do islamismo. Líderes religiosos foram perseguidos e alguns foram expulsos do país. Do ponto de vista econômico, foi um período de desenvolvimento industrial e de crescimento.
Mohammad Reza Pahlavi - o último  xá da dinastia Pahlavi
  Em 1979, uma onda de manifestações populares depôs o governo do xá (título dado aos soberanos do Irã) e empossou o líder xiita Aiatolá (autoridade máxima na hierarquia religiosa xiita) Khomeini. surgiu a República Islâmica do Irã, que se caracterizou pela busca de um caminho próprio, não alinhado a nenhuma das grandes potências (Estados Unidos e ex-União Soviética).
Ruhollah Khomeini - líder da Revolução Iraniana
  Desde então, o Irã rompeu relações com os Estados Unidos. É controlado pelos chefes religiosos (aiatolás), que estabeleceram normas sociais rígidas, de acordo com os princípios do islamismo, formalizando um Estado teocrático (o atual governo do Irã, apesar de civil, está submetido ao poder dos aiatolás).
  Apesar do controle do governo do Irã, no sentido de manter as tradições culturais-religiosas do islamismo, vêm ocorrendo mudanças de comportamento por parte de alguns iranianos, especialmente dos jovens, que buscam acesso à informação e à cultura ocidental, como filmes, música, internet.
Aiatolá Khamenei - atual chefe supremo da República Islâmica do Irã
  Atualmente o Irã é, entre os países islâmicos, aquele que exerce maior influência no Oriente Médio e tem mantido relações estáveis com praticamente todos os países vizinhos. É o maior opositor à existência de Israel e à presença dos Estados Unidos.
  O atual governo do país distanciou-se da Europa e dos Estados Unidos e fortaleceu as relações com a China e a Rússia. Essas relações incluem cooperação técnica, associação para exploração de petróleo em subsolo iraniano, venda de armas e de combustível para as usina termonucleares.
Teerã - capital e maior cidade do Irã
  Outro motivo de enfrentamento entre o Irã e o Ocidente é o desenvolvimento de um programa nuclear. Os Estados Unidos alertam que o governo iraniano tem a ambição de produzir armas de destruição em massa e que o país está próximo de conquistar a tecnologia necessária para alcançar tal objetivo.
  Alemanha, França e Reino Unido reforçam os argumentos estadunidenses sobre a ameaça que o programa nuclear representaria para o Oriente Médio e outras regiões do mundo. No entanto, o Irã afirma que seu programa nuclear tem objetivo exclusivamente pacífico e energético, negando qualquer intenção militar.
Mahmoud Ahmadinejad - atual presidente do Irã
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Geografia: homem & espaço, 9° ano / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco. - 23 ed. - São Paulo: Saraiva, 2010

YAKUTSK: A CIDADE MAIS FRIA DO MUNDO

  A 5 ºC negativos o frio é bem refrescante e um gorro e um cachecol são suficientes para se manter aquecido. A 20 ºC abaixo de zero, a umidade nas nossas narinas congela, e o ar frio começa a impossibilitar a tosse. A 35 ºC negativos, o ar esfria o suficiente para rapidamente paralisar a pele exposta, fazendo das feridas um perigo constante. E a 45 ºC negativos, até usar óculus torna-se arriscado: o metal gruda em suas bochechas e arranca um bocado de carne se você decidir tirá-los.
  Yakutsk é uma remota cidade do leste da Sibéria, com 235.600 habitantes, famosa por duas coisas: aparecer no clássico jogo de tabuleiro War, e, não sem razão, ter a pretensão de ser a cidade mais fria do mundo. Em janeiro, o mês mais frio, as elevações médias giram em torno de 40 ºC negativos, deixando a cidade submersa em opressiva cobertura de nevoeiro congelado, que restringe a visibilidade a 10 metros. Os moradores cobertos de pele, apressam-se rumo à praça central enfeitada com uma árvore de Natal de gelo (deixada para o feriado do Ano Novo) e uma estátua de Lênin, com um braço estendido apontando para a frente, estridente, completamente impassível ao frio.
Praça de Yakutsk com neve
  Yakutsk ganhou manchetes de jornais depois de uma série de rompimentos em tubulações ocorridas em Artyk e Markha, duas cidades próximas, tendo seu aquecimento suspenso por vários dias. As temperaturas, na ocasião, alcançaram 50 ºC abaixo de zero. Imagens televisivas do subsequente 'grande congelamento' mostraram grupos de pessoas amontoadas em rolos de cobertores junto a improvisados fornos à lenha para se aquecerem. Temperaturas de 40 ºC negativos são descritas como 'fria mas não tão frias'.
  A Rússia está cheia de regiões que podem reivindicar o status de muito grandes, muito remotas e muito frias, mas Yakutsk leva o (gélido) troféu. Lá é extremo, mesmo para os padrões siberianos. Yakútia, a região da qual é a capital, cobre mais de um milhão de quilômetros quadrados, mas abriga menos de um milhão de pessoas. A região ostenta o fato de ter poucas e grandes cidades, e ser dividida em unidades administrativas do tamanho da Grã-Bretanha, com centros regionais individuais que não passam de vilarejos.
Região da Yakútia em destaque
  Os moradores locais alegam que, na região, há tantos lagos e rios que cada habitante pode ter um de cada. Vangloriam-se de a região conter cada elemento da tabela periódica. De acordo com uma lenda local, o Deus da criação estava voando pelo mundo para distribuir riquezas e recursos naturais, mas, quando chegou a Yakútia, sentiu tanto frio que suas mãos ficaram paralisadas e ele soltou tudo.
  Até a Revolução Russa de 1917, Yakutsk permanecia como um insignificante posto porovincial. No século XIX ela era usada, como muitas cidades siberianas, como uma prisão aberta para dissidentes políticos. Juntamente com o seu fascínio misterioso e a vastidão de recursos naturais, a conotação de prisão sempre emprestou à Sibéria uma reputação de lugar cruel e infeliz, não apenas entre os estrangeiros, mas também entre os russos.
Taiga Siberiana - uma das formações vegetais de Yakutsk
FONTE: WALKER, Shaun. Yakutsk: journey to the coldest city on earth. The Independent, Londres, 21 jan. 2008.

domingo, 19 de maio de 2013

A QUESTÃO AGRÍCOLA NA ÁFRICA

  Os países situados na África Subsaariana apresentam, em geral, índices de crescimento econômico baixos, conflitos étnicos, guerras civis e economia dependente dos setores primários da agricultura e da mineração dirigidos para a exportação, apesar de terem ocorridos alguns avanços em termos de ampliação da capacidade de produção e da economia. Nesses países, a fome é um grave problema social, e os resultados das políticas de combate a ela são pouco animadores. De modo geral, esses problemas resultam do processo histórico do continente, marcado, desde o século XVI, pela escravidão e pelo colonialismo.
Mapa do tráfico negreiro
  A ocupação da África no século XIX, durante a expansão imperialista europeia, provocou a substituição das culturas de subsistência, nas regiões com solos mais férteis, pelas monoculturas de exportação, que permanecem até os dias atuais. Esse modelo de ocupação imperialista gerou concentração fundiária e impediu muitas comunidades de praticar a lavoura para o consumo, ampliando os problemas sociais e levando a fome a boa parte da população africana. Os efeitos do imperialismo também se fazem presentes na instabilidade política herdada da formação dos Estados africanos. As disputas pelo poder e as guerras civis desviam boa parte dos recursos para o financiamento dos conflitos, que ocorrem desde a época da descolonização.
Mapa dos principais conflitos na África
  A agricultura de subsistência, ou para o consumo próprio, se caracteriza pelo uso de instrumentos e técnicas rudimentares e tem baixo rendimento. É praticada principalmente no interior do continente, nas áreas de savanas. O lavrador faz a queimada para limpar o terreno e, posteriormente, com a enxada, tira os torrões de terra e faz a semeadura, utilizando as próprias cinzas, ricas em potássio, como fertilizante. O uso constante de queimadas prejudica o solo, obrigando o agricultor a se deslocar para outras áreas, onde reproduz o mesmo sistema de cultivo. O fogo ateado às matas destrói os microorganismos do solo e transforma troncos e folhas em cinzas, impedindo a formação da matéria orgânica fundamental à manutenção da fertilidade do solo.
Agricultores africanos preparando a terra para realizar a queimada e, posteriormente, o plantio
  As comunidades que habitam o Sahel, região que se estende ao sul do deserto do Saara, na África, são as mais atingidas pela tragédia da fome. A doação de alimentos promovida por organizações internacionais evita uma mortandade ainda maior e ameniza o sofrimento dos povos da região mas pouco tem sido feito para ajudá-los a garantir a própria sobrevivência
  A região saheliana é relativamente povoada e aos poucos tem sido incorporada ao Saara, devido ao rápido processo de desertificação. Desde a década de 1970, com o avanço do deserto, o drama da seca se intensificou, a agricultura tornou-se impraticável em boa parte da sua extensão, o capim não se desenvolve e não se formam pastagens adequadas ao rebanhos. Nos seus cerca de 5 milhões de km² de superfície, a produção agrícola tem ficado muito reduzida, e em várias áreas habitadas a criação de gado praticamente desapareceu. O deslocamento da população é constante, na maioria das vezes sem destino, em busca de água e pastagens.
Área desertificada na região do Sahel - África
  Na região do Magreb (Marrocos, Argélia e Tunísia) e no extremo sul da África do Sul, os cereais (centeio, trigo e cevada), oliveira e videira é feito na faixa de clima mediterrâneo. No Magreb, as fazendas foram implantadas pelos franceses durante o processo de colonização (do século XIX até a segunda metade do século XX, quando foram expulsos). A atividade agropecuária nessa região tem rendimento superior à média africana.
  Nas áreas mediterrâneas e nas regiões do Saara próximas ao relevo montanhoso da cadeia do Atlas, prevalece o pastoreio nômade (de ovelhas, cabras e camelos), com deslocamento do gado para as montanhas durante a primavera e o verão, devido à abundância de água formada pelo derretimento da neve dos cumes mais elevados.
Região agrícola de Cap Bon - Tunísia
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Território e sociedade no mundo globalizado: geografia: ensino médio, volume 2 / Elian Lucci Alabi, Anselmo Lázaro Branco, Cláudio Mendonça. - 1. ed. - São Paulo: Saraiva, 2010. 

sábado, 18 de maio de 2013

AS FERROVIAS NO BRASIL: DO ABANDONO À PRIVATIZAÇÃO

  O sistema ferroviário brasileiro possui uma extensão de cerca de 30 mil quilômetros, distribuídos numa malha viária que se concentra, principalmente, nos estados da região Sul e Sudeste. No Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, seu traçado atinge os países vizinhos, como a Argentina, Uruguai e Bolívia.
  Ao contrário do que aconteceu em outros países, como os Estados Unidos, no Brasil as ferrovias não foram planejadas para integrar o território. Grande parte da malha ferroviária brasileira foi construída entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX, com o objetivo de ligar as áreas de produção de artigos primários aos portos exportadores.
Mapa ferroviário brasileiro
  Geralmente, os trens partiam do interior em direção ao litoral carregados de produtos agrícolas ou minerais e, na maior parte dos casos, voltavam praticamente vazios. Mesmo assim, as linhas ferroviárias eram um excelente negócio para os investidores particulares, muitos dos quais companhias estrangeiras, pois sempre havia carga a ser exportada. No estado de São Paulo, por exemplo, a malha ferroviária existente é principalmente uma herança da economia cafeeira: os ramais foram abertos em forma de leque, ligando as áreas produtoras do interior do estado ao Porto de Santos e avançando junto com a marcha do café.
Estação da Luz em São Paulo na década de 1900
  Com o processo de industrialização, o modelo ferroviário entrou em decadência no Brasil. Enquanto as rodovias cresciam em importância e em extensão, ligando as diferentes regiões brasileiras e articulando a troca de mercadorias e a circulação de pessoas pelo território, as ferrovias perdiam carga e se tornavam deficitárias. Paulatinamente, os investidores privados abandonaram o setor e a maior parte das ferrovias foi encampada pelo governo.
  Assim, surgiram a Rede Ferroviária Federal (RFFSA), unificando 18 linhas ferroviárias que passaram a ser controladas pelo governo federal, e a Companhia Paulista de Estradas de Ferro (Fepasa), abrangendo a malha ferroviária paulista, que passou a ser controlada pelo governo estadual.
Estação de Cruzeiro (SP) na Estrada de Ferro Minas e Rio em 1885
  A RFFSA, criada em 1957, já nasceu como a maior empresa brasileira do setor, responsável por 22 mil quilômetros de linhas férreas (73% de todas as existentes no país). A Fepasa, de 1971, foi criada a partir da centralização administrativa de companhias férreas que já eram do governo do estado de São Paulo. Pela Fepasa e pela RFFSA, circulavam cerca de 70% da carga transportada por ferrovia no Brasil. Isso incluía, por exemplo, derivados de petróleo, adubo, cimento, açúcar e trigo.
Locomotiva a vapor da RVPSC (Rede Viação Paraná Santa Catarina) no Viaduto do Carvalho pouco após a Estação de Marumby na Serra do Mar, na década de 1940
  Para o transporte do minério de ferro, a predominância absoluta era e continua sendo de duas linhas ferroviárias operadas pela Companhia Vale do Rio Doce (atualmente Vale), a maior empresa brasileira no setor de extração mineral. Uma delas é a Estrada de Ferro Carajás, que liga as jazidas minerais de ferro do sul do Pará, na Serra dos Carajás, ao Terminal Marítimo de Itaqui, no Maranhão. A outra é a Estrada de Ferro Vitória-Minas, que liga as jazidas de ferro de Minas Gerais ao Porto de Tubarão, no Espírito Santo.
Estrada de Ferro Vitória-Minas
A PRIVATIZAÇÃO DAS FERROVIAS
  Até o início da década de 1990, quase todo o sistema ferroviário brasileiro era de propriedade do governo. Isso valia também para as linhas férreas operadas pela Companhia Vale do Rio Doce, as mais modernas, já que ela era uma empresa estatal.
  Porém, a partir de meados da década de 1990, essa situação começou a mudar. Todas as malhas da RFFSA, a maior parte delas em situação de abandono total, foram cedidas em concessão para a iniciativa privada, e hoje a empresa não existe mais. O mesmo aconteceu com a Fepasa. As linhas da Companhia Vale do Rio Doce continuam operando e dando lucros, mas a empresa também foi privatizada e suas ferrovias passaram a ser operadas pelos novos proprietários.
Estrada de Ferro Carajás
  A privatização não alterou de maneira significativa o panorama ferroviário do país. Mas o governo tem planos para revitalizar o setor, obrigando as empresas concessionárias a investir na modernização da malha existente e atrair novos investidores, dispostos a construir novas linhas para o transporte de carga.
  Entre os planos de novos investimentos, destaca-se a Ferronorte, que está em construção para ligar Cuiabá, no Mato Grosso, e Uberaba, em Minas Gerais, facilitando o escoamento de soja do Brasil Central. A Ferrovia Norte-Sul, por sua vez, estabelecerá a conexão da malha viária do Sudeste e do Nordeste, a partir da ligação entre Goiânia, em Goiás, e Imperatriz, no Maranhão.
Locomotiva da Vale S.A. no Pátio Multimodal de Palmas-Porto Nacional (TO), situado no Ferrovia Norte-Sul
  Na Região Nordeste, está sendo implementada a Ferrovia Transnordestina, que vai ligar os portos de Pecem (CE) e de Suape (PE) com o município de Eliseu Martins, no Piauí. A intenção é permitir o escoamento de soja para exportação.
  Além disso, principalmente pelo trabalho da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), que procurou reunir os interessados na preservação e divulgação da história das ferrovias no país, alguns trechos ferroviários desativados estão sendo recuperados para fins turísticos. É o caso da antiga Estação de Ferro Oeste de Minas. É também resultado do trabalho dessa Associação a restauração de uma linha desativada da antiga Mogiana, de 24 km, em Campinas (SP). Nos finais de semana, trens turísticos com locomotiva a vapor percorrem o trecho Campinas-Jaguariúna.
Trem da ALL (América Latina Logística), a maior concessionária do Brasil, no trecho de Boa Vista - SP
FONTE: Ribeiro, Wagner Costa. Por dentro da geografia, 7° ano: Brasil / Wagner Costa Ribeiro. 1. ed. - São Paulo: Saraiva, 2012.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

A CABANAGEM

  A Cabanagem foi uma revolta ocorrida no Grão-Pará, entre 1835 e 1840, durante o período regencial brasileiro, que se alastrou até a província do Amazonas.
  A sociedade da província do Pará era pobre e instável se comparada à de outras regiões, marcada por pobreza extrema, fome e doenças. O nome dessa revolta se deu porque os revoltosos - chamados de cabanos -, habitavam as cabanas - precárias casas localizadas nas margens dos rios. Ali os proprietários rurais tinham pouca força política e pouco espaço social. Os comerciantes portugueses concentravam certo domínio  sobre uma sociedade composta por mestiços, índios, escravos e brancos pobres. O centro das atividades econômicas e políticas era a cidade de Belém.
Belém do Pará na segunda metade do século XIX
  Para agravar o quadro de instabilidade social e econômica, no início da década de 1830 ocorreram disputas políticas entre os setores da elite da província, devido à nova nomeação do presidente da província pelo poder central. Substituir o governador e reprimir a insatisfação não solucionou a questão nem os conflitos políticos, abrindo caminho para a explosão de uma autêntica rebelião popular.
  Em 1835, os cabanos se organizaram em tropas compostas por negros, mestiços e índios, que tomaram a cidade de Belém. Inicialmente houve disputas políticas entre os líderes revoltosos, como Clemente Malcher e Francisco Vinagre, que procuravam controlar a província e ao mesmo tempo manter vínculos com o governo regencial. Em agosto desse ano, as forças legalistas já haviam retomado a capital e prendido seus líderes, mas, no interior, Eduardo Angelim, um jovem cearense, resistiu e proclamou a República dos Cabanos, tornando-se seu terceiro líder.
Eduardo Angelim - um dos líderes da Cabanagem
  No ano seguinte, as forças repressivas do governo central conseguiram algumas vitórias contra os cabanos, inclusive a prisão de Angelim, em outubro. Todavia, a rebelião já havia se alastrado por várias áreas da região, interiorizando-se; por isso foi mais difícil acabar com ela. Venceram os últimos rebeldes em território do Amazonas, em março de 1840. Calcula-se que tenham morrido cerca de 30 mil pessoas nesses anos de revolta.
  A historiografia trata a Cabanagem como a mais representativa revolta regencial, por sua variada composição, a ampla participação popular, e por seus integrantes terem assumido temporariamente o poder na província.
Paisagem frequentada pelos rebeldes cabanos durante o movimento no século XIX, por Johann Bachta
FONTE: Moraes, José Geraldo de, 1960 - História: geral e do Brasil: volume único / José Geraldo Vinci de Moraes. - 2. ed. - São Paulo: Atual, 2005. - (Coleção Ensino Médio Atual) 

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