domingo, 18 de novembro de 2012

A VIDA MODIFICANDO AS PAISAGENS

  Muitas teorias procuram explicar a origem da Terra, bem como o surgimento dos seres vivos. Entre as explicações, são apresentadas três: duas de caráter religioso, que entendem que a criação da Terra como obra de Deus ou de outros seres superiores, e outra que se apoia nos achados científicos, como as descobertas de fósseis e outras evidências, para explicar a origem e a evolução do ser humano no planeta.
  O surgimento da vida na Terra também é objeto de estudo de muitos cientistas. Para tentar explicá-lo, existem diversas teorias.
  Os fósseis são vestígios petrificados de seres vivos que viveram há milhões de anos. Eles nos ajudam a entender a dinâmica da vida na Terra.
Réptil primitivo da espécie Stereosternum tumidum, que habitou o Brasil no Período Permiano, procedente da Formação Irati, na Bacia do Paraná
TEORIAS RELIGIOSAS SOBRE A ORIGEM DA VIDA
  O criacionismo é a crença religiosa de que a humanidade, a vida, a Terra e o Universo são a criação de um agente sobrenatural. No entanto, o termo é mais comumente usado para se referir à rejeição, por motivação religiosa, de certos processos biológicos, particularmente a evolução.  
  Desde o desenvolvimento da ciência evolutiva a partir do século XVIII, vários pontos de vista criados tiveram como objetivo conciliar a ciência com a narrativa de criação do Gênesis. Nessa época, aqueles que mantinham a opinião de que as espécies tinham sido criadas separadamente eram, geralmente, chamados de "defensores da criação", mas foram ocasionalmente chamados de "criacionistas" em correspondências privadas entre Charles Darwin e seus amigos. À medida que a controvérsia da criação versus evolução se desenvolveu, o termo "anti-evolucionistas" tornou-se mais comum.
Criacionismo - uma teoria com várias versões
  Criacionistas estritos acreditam que a evolução não pode explicar adequadamente a história, a diversidade e a complexidade da vida na Terra. Criacionistas rigorosos das religiões judaica e cristã geralmente baseiam a sua crença em uma leitura literal do mito da criação do Gênesis. Outras religiões têm diferentes mitos da criação, enquanto que os diferentes membros de religiões individuais variam em sua aceitação das descobertas científicas. Em contraste com os criacionistas estritos, os criacionistas evolucionários sustentam que, embora as contas de evolução para a natureza da evolução da biosfera, por si só, é cosmologicamente atribuível a uma divindade criadora.
Representação de Michelangelo da Garganta de Deus na Capela Sistina
A TEORIA CIENTÍFICA SOBRE A ORIGEM DA VIDA
  Hoje, há três maneiras mais comumente aceitas de explicar a origem da vida. Uma delas acredita que a vida pode ter vindo de fora da Terra (origem extraterrestre) e é também chamada de panspermia. A segunda, proposta pelos criacionistas, relaciona a origem da vida a forças sobrenaturais e divinas. Apoiam-se para isso nas afirmações da Bíblia Sagrada e, em especial, no livro do Gênesis. A terceira, defendida pelos cientistas evolucionistas, aceita que a vida evoluiu a partir da matéria não viva há bilhões de anos. Esse processo não ocorre mais, nos dias de hoje, porque as condições da Terra primitiva eram muito diferentes. Esses primeiros seres de organização muito primitiva teriam sofrido modificações através dos tempos, dando origem as espécies atualmente existentes.
Terra primitiva
  Alguns grupos religiosos só aceitam a hipótese criacionista como verdadeira; outros aliam-se aos cientistas, porque não acreditam que exista incompatibilidade entre religião e evolucionismo ou qualquer outra teoria científica. Estes religiosos preferem interpretar o relato bíblico, verificar seus princípios éticos, mas não torná-los ao pé da letra. Foi Charles Darwin quem conseguiu criar uma teoria aceita até hoje e conhecida como Teoria da Seleção Natural, para explicar a evolução. Darwin pretendia ser teólogo mas, convidado para ser naturalista do navio Beagle, embarcou em uma viagem que mudou totalmente o rumo de sua vida.
Teoria da Seleção Natural proposta por Darwin
A PRESENÇA HUMANA E A MODIFICAÇÃO DAS PAISAGENS
  A paisagem da Terra vêm sofrendo modificações desde a formação do planeta. Estudando diferentes lugares da Terra, é possível verificar as transformações e supor quais foram os agentes responsáveis por elas. Dentre esses agentes está a sociedade humana que, por meio de seus valores, seu modo de vida, seu trabalho, sua cultura e sua história, interfere nas paisagens.
  Marcado pela necessidade de adaptação e de sobrevivência, o ser humano encontrou na natureza os recursos necessários para manter-se vivo.
  Das rochas foram construídos diversos instrumentos e moradias. Além disso, eram usados ossos e peles de animais, árvores e folhas.
  Os diversos instrumentos, como objetos e adornos, revelam diferentes estágios do desenvolvimento da espécie humana. Essas diferenças acentuam-se com o passar do tempo, sobretudo com as novas invenções e com o avanço da tecnologia. Vejamos as mudanças que ocorreram em alguns lugares do mundo.
Tempo geológico
A TERRA HÁ 35 MILHÕES DE ANOS
  Há 35 milhões de anos, começa a distribuição dos continentes e oceanos. Algumas paisagens dessa época, em áreas onde hoje estão situadas as cidades de Nova York (EUA), Bordeaux (França) e o vale do Rio Nilo (África), eram composta por florestas quentes e úmidas e habitadas por grandes animais.
As grandes florestas cobriam o planeta há 35 milhões de anos
  Depois dos dinossauros, surgiram os mamíferos com várias formas, tamanhos e espécies, como, por exemplo, o Hesperocyon, que era carnívoro e antepassado dos lobos, cães e chacais.
  Na América, diferentes espécies de mamíferos viveram no norte e no sul, mas, quando as do norte se deslocaram para o sul, se adaptaram melhor, como os mamutes e os tigres-dentes-de-sabre.
Smilidon ou tigre-dente-de-sabre
  As diferentes espécies de cobertura vegetal, sempre mantiveram uma relação direta com o clima e, nesse período, houve uma diminuição drástica das temperaturas médias, alteração no índice pluviométrico e, consequentemente, mudanças nas espécies das coberturas vegetais.
  Ao comparar o planisfério atual com o de 35 milhões atrás, perceberá que a distribuição dos continentes e oceanos é semelhante nos dois mapas. As paisagens, porém, sofreram profundas transformações em função das zonas climáticas.
A Terra a 35 milhões de anos atrás
A TERRA HÁ 20 MIL ANOS
  Geleiras polares  avançaram e recuaram, alterando o nível dos oceanos e modificando os fatores climáticos. Algumas espécies de seres vivos desapareceram, enquanto outras puderam se desenvolver. À medida que o gelo se expandia para o sul, nos polos e no equador ocorria outro processo de formação dos desertos e florestas com chuvas abundantes. O último período glacial terminou há 10 mil anos atrás.
Mamutes - animais comuns há 10 mil anos atrás
  Nesse período, houve glaciação. Alguns ancestrais do ser humano atual, como o Homo habilis, que deu origem ao Homo erectus - surgido na África por volta de 1,7 milhão de anos -, já tinham se espalhado por certas regiões da Europa e da Ásia, nas quais tiveram de se adaptar ao clima frio que gerou a glaciação.
  O Homo sapiens habitava cavernas e caçava, mas ainda sabe-se pouco sobre seus costumes e hábitos. Instrumentos característicos feitos com sílex foram encontrados em vários lugares na Europa e no Oriente Próximo.
A Terra durante a última glaciação
A TERRA HÁ 5000 ANOS a.C.
  Nessa época, a população humana era de 6 milhões de habitantes. A maior parte encontravam-se nas margens de grandes rios, principalmente os rios Nilo, Tigres e Eufrates. Os seres humanos já conseguiam cultivar plantas e criar animais e, por isso, muitos clãs se fixavam em territórios predeterminados, deixando de ser nômades.
Há 5000 a.C. foi o apogeu das grandes civilizaões da Antiguidade
  É importante perceber que até aqui as principais mudanças nas paisagens estavam muito relacionadas às dinâmicas da natureza do que às dinâmicas da apropriação dos lugares pelos seres humanos. No entanto, com a estabilidade climática, o crescimento da população mundial e o seu deslocamento para todos os lugares do planeta interferiram no ritmo das mudanças nas paisagens.
  Esse foi um período em que houve um intenso desenvolvimento econômico e social. O aparecimento de tecnologias caracteriza o período neolítico como revolucionário. Aos poucos foi se espalhando para o Oriente Próximo, Europa, África e Ásia mesolítica. As inovações tecnológicas desse período foram a técnica do cultivo do trigo, a domesticação de animais como cabra e gado, o uso do fogo para a preparação da cerâmica e a utilização de instrumentos de pedra polida. Como consequência, nesse período, em função das inovações agrícolas houve crescimento populacional.
A vida no Egito antigo
A TERRA ENTRE 1500 A.c. E 1300 a.C.
  Os seres humanos desenvolveram técnicas agrícolas que permitiram a construção de canais de irrigação nos rios Nilo e Eufrates. A partir desses canais, os egípcios transformaram o vale do rio Nilo e consagraram como uma das civilizações mais fascinantes da humanidade. Foi um período em que surgiram as cidades, intensificou-se o comércio, e a escrita começa a ter importância nas várias sociedades, com hieróglifos egípicios, hititas e as escritas do Sinai.
Cultivo do trigo no Egito antigo
A TERRA NO ANO 100 d.C.
  Nesse período já havia uma importante rede de circulação (estradas) para unir as cidades e expandir o comércio. As paisagens desses lugares já estavam alteradas em função das construções e do uso das técnicas. Já havia a domesticação de animais e de plantas, tornando as sociedades mais sedentárias. Elas se fixaram no meio geográfico. Assim, várias cidades nasceram. Novas técnicas de cultivo, domesticação de animais, objetos ligados à aragem e transportes de mercadorias já faziam parte da história das civilizações antigas, e as novas se formavam, adaptando-se às condições locais.
Esse período é marcado pelo apogeu do Império Romano
A TERRA NO ANO 1250
  Nessa data a Europa Ocidental começava a viver o fim da Idade Média da história da humanidade.
  A população mundial chegava a 360 milhões de pessoas, sendo que 240 milhões viviam na Ásia. Hangzhou, no sul da China, com cerca de 1,5 milhão de habitantes, era a maior cidade do mundo na época. Era um período de crescimento urbano, com expansão comercial voltada para os produtos alimentícios, têxteis e minerais. Na agricultura, as plantações de trigo, cevada e aveia espalhavam-se para o norte da Europa. O sal era obtido nas costas do Atlântico e do Mediterrâneo.
Esse período é marcado pelo apogeu do Feudalismo na Europa
  Os nativos da  ilha de Manhattan, onde hoje está a cidade de Nova York, viviam da caça, da pesca e do cultivo dos campos. A madeira das árvores era usada na construção das casas e das paliçadas que cercavam a aldeia, para evitar o ataque dos inimigos.
  O Egito e o vale do Rio Nilo estavam sob o domínio árabe e eram parte do Império Islâmico. A cultura mulçulmana deixou suas marcas na paisagem - nas mesquitas e nas sólidas muralhas construídas para proteger as cidades.
  No ano de 1250 já se percebiam grandes mudanças no modo de vida da população. Novo tipo de arado e nova técnica de cultivo permitiram aumentar a produção agrícola.
A Revolução Agrícola provocou grandes mudanças na relação homem-natureza
  O mercador, que já era uma figura importante na sociedade medieval, ampliava constantemente as regiões comerciais com o Báltico, mar do Norte e Atlântico. No Egito se comercializavam madeira, armas e ferros, em troca de algodão, açúcar e seda.
A TERRA EM 1650
  Em 1650, 600 milhões de pessoas povoavam o mundo.
  Desde o século XV, empenhados na procura de caminhos de comércio, os europeus haviam chegado a novos territórios, em especial aos continentes africano, americano e asiático, e passaram a explorar essas novas terras, instalando colônias.
  A descoberta de metais preciosos na América acelerou a conquista dos antigos impérios asteca e inca. A colonização espanhola instalou uma nova paisagem no Novo Mundo, completada pela mudança nas relações de trabalho de seus habitantes, forçados a trabalhar em regime de escravidão nas minas de ouro e prata.
As Grandes Navegações - descoberta e colonização de novas terras
  A Ilha de Manhattan foi comprada por holandeses para a fundação de uma colônia, chamada Nova Amsterdã. Os novos colonos instruíram o seu modo de vida, e a paisagem adquiriu o estilo dessa gente: construções feitas de tijolos com telhados pontiagudos, por exemplo. Em 1664, os ingleses ocuparam a ilha e mudaram o nome do lugar para Nova York.
A cidade de Nova York, na época Nova Amsterdã, retratada por pintor holandês do século XVII
  No vale do Nilo, o Egito continuou parte do poderoso império otomano, com sede na Turquia. Os soldados do império fiscalizavam e controlavam a vida da população. Os habitantes do Egito continuavam a praticar a agricultura e a pecuária, além de desenvolver atividades comerciais.
  Os portugueses também instalaram colônias na América, nas terras que hoje formam o Brasil. Aqui desenvolveram a cultura da cana-de-açúcar, alterando significativamente as paisagens das regiões onde elas se instalaram, em especial no Nordeste e no Sudeste.
Formação territorial do Brasil
  Nos séculos XVIII e XIX, desenvolveram-se as indústrias na Europa, transformando mais ainda a paisagem. Novos conjuntos arquitetônicos passaram a concentrar os trabalhadores e toda a produção, que anteriormente era feita na casa de cada artesão independente.
 Os reflexos da nova vida instalada nas cidades foram também sentidos no campo, com as mudanças nas técnicas de plantio e na organização das propriedades.
Revolução Industrial - mudança nas paisagens, principalmente urbanas
A TERRA EM 1900
  O mundo em 1900 reúne 1 bilhão e 600 milhões de habitantes. Nessa época, Londres era a maior cidade do mundo. Essa grandeza deve-se ao avanço que a Inglaterra conseguiu em relação aos outros países do mundo, devido ao desenvolvimento da indústria e à expansão colonial. Os ingleses tornaram-se os maiores colonizadores mundiais. Interferiram nas paisagens de várias localidades, nos mais distantes lugares, impondo seu modo de vida, seus produtos e leis.
Commonwealth - reúne alguns dos países que foram colônias do Reino Unido
  Foi construído um aterro na Ilha de Manhattan para ampliá-la até a costa. Essa zona da cidade foi ocupada com as casas das pessoas mais ricas. Os cabriolés - transportes puxados por cavalos - e os bondes já circulavam pelas ruas, cercadas de construções de luxo. Os navios traziam mercadorias de todo o mundo. Muitos imigrantes procuravam os Estados Unidos para aí viver e trabalhar.
Ruas de Nova York em 1900
  O Egito estava sob o domínio inglês, como muitas outras regiões do mundo. O comércio era uma atividade importante, pois o Egito era um grande centro comercial, para onde se destinavam os produtos vindos de regiões da África e da Ásia. A população europeia, que veio morar no lugar, misturou-se aos egípcios, compondo a nova paisagem.
  As cidades transformaram-se, e o avanço tecnológico atingiu vários setores da vida: mudaram os meios de comunicação, a arte, a medicina, as formas de trabalho. A mecanização atingiu fortemente a agricultura e a indústria.
No início do século XX, o automóvel começa a modificar os meios de transporte
A TERRA HOJE
  Hoje, mudaram e continuaram em transformação as paisagens e o modo de vida dos grupos sociais, em função principalmente dos avanços das técnicas e da tecnologia.
  Além das transformações promovidas pela natureza (terremotos, vulcões, inundações, secas), ocorrem as transformações resultantes da ação dos seres humanos, que se apropriam dos lugares, usando e interferindo na natureza. A agricultura, por exemplo, ocupou muitas áreas de vegetação nativa.
Com o avanço das fronteiras agrícolas, muitas áreas de florestas foram derrubadas
  O surgimento das cidades transformou o relevo, os rios e até o clima dos lugares. A dinâmica natureza demorou milhões de anos para criar na superfície terrestre o relevo, a cobertura vegetal, os cursos dos rios etc. Os seres humanos vêm modificando rapidamente essas paisagens, em função das suas necessidades de recursos naturais.
Poluição - reflexo das mudanças do homem sobre a natureza
  As inter-relações existentes entre a sociedade e a natureza provocam mudanças nas paisagens. Hoje, notamos que as mudanças nas paisagens são mais rápidas. Podemos, então, entender o que são as paisagens, considerando que são unidades visíveis, aquilo que conseguimos olhar, mas que têm dimensão cultural, social e natural, foram formadas em vários lugares e tempos e não são homogêneas.
  A partir da leitura da paisagem podemos compreender o lugar em diferentes tempos.
FONTE: Castellar, Sônia. Geografia: uma leitura do mundo: introdução, 6° ano / Sônia Castellar, Valter Maestro. -- 1. ed. -- São Paulo: Quinteto Editorial, 2009. -- (Coleção geografia)

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