quinta-feira, 10 de novembro de 2011

TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO BRASIL E A DIDÁTICA

  Nos últimos anos, diversos estudos têm sido dedicados à história da Didática no Brasil, suas relações com as tendências pedagógicas e à investigação do campo de conhecimentos. No Brasil, as tendências pedagógicas são classificadas em dois grupos: as de cunho liberal - Pedagogia Tradicional, Pedagogia Renovada e Tecnicismo Educacional -, e as de cunho progressista - Pedagogia Libertadora e Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos.
PEDAGOGIA TRADICIONAL
  A Didática é uma disciplina normativa, um conjunto de princípios e regras que regulam o ensino. A atividade de ensinar é centrada no professor que expõe e interpreta a matéria. Às vezes são utilizados meios como a apresentação de objetos, ilustrações, exemplos, mas o meio principal é a palavra, a exposição oral. Supõe-se que ouvindo e fazendo exercícios repetitivos, os alunos "gravam" a matéria para depois reproduzi-la, seja através das interrogações do professor, seja através de provas. Para isso é importante que o aluno "preste atenção", porque ouvindo facilita-se o registro do que se transmite na memória. O aluno é, assim, um recebedor da matéria e sua tarefa é decorá-la. Os objetivos, explícitos e implícitos, referem-se à formação de um aluno ideal, desvinculado da sua realidade concreta. O professor tende a encaixar os alunos num modelo idealizado de homem que nada tem a ver com a vida presente e futura. A matéria de ensino é tratada isoladamente, desvinculada dos interesses dos alunos e dos problemas reais da sociedade e da vida. O método é dado pela lógica e sequência da matéria, é o meio utilizado pelo professor para comunicar a matéria e não dos alunos para aprendê-la. É forte a presença dos métodos intuitivos. Baseiam-se na apresentação de dados sensíveis, de modo que os alunos possam observá-los  formar imagens deles em sua mente.
PEDAGOGIA RENOVADA
  Inclui várias correntes: a Progressivista (que se baseia na teoria educacional de John Dewey), a não-diretiva (principalmente inspirada em Carl Rogers), a ativista-empiritualista (de orientação católica), a culturalista, a piagetiana, a montessoriana e outras. Todas de alguma forma estão ligadas ao movimento da pedagogia ativa que  surge no final do século XIX como contraposição à Pedagogia Tradicional.
DIDÁTICA DA ESCOLA NOVA OU DIDÁTICA ATIVA
  É entendida como "direção da aprendizagem", considerando o aluno como sujeito da aprendizagem. O que o professor tem a fazer é colocar o aluno em condições propícias para que, partindo das suas necessidades e estimulando os seus interesses, possa buscar por si mesmo, conhecimentos e experiências. A ideia é a de que o aluno aprende fazendo, no sentido de trabalho manual, ações de manipulação de objetos. Trata-se de colocar o aluno em situações em que seja mobilizada a sua atividade global e que se manifesta em atividade intelectual, atividade de criação, de expressão verbal, escrita, plástica ou outro tipo. O centro da atividade escolar não é o professor nem a matéria, é o aluno ativo e investigador. O professor incentiva, orienta, organiza as situações de aprendizagem, adequando-as às capacidades de características individuais dos alunos. Por isso a didática ativa dá grande importância aos métodos e técnicas como trabalho de grupo, atividades cooperativas, estudo individual, pesquisas, projetos, experimentações etc., bem como os métodos de reflexão e método científico de descobrir conhecimentos. Tanto na organização das experiências de aprendizagem como na seleção de métodos, importa o processo de aprendizagem e não diretamente o ensino. O melhor método é aquele que atende as exigências psicológicas do aprender. A Didática ativa dá menos atenção aos conhecimentos sistematizados, valorizando mais o processo de aprendizagem e os meios que possibilitam o desenvolvimento das capacidades e habilidades intelectuais dos alunos. Os adeptos da Escola Nova costumam dizer que o professor não ensina, antes, ajuda os alunos a aprender, ou seja, a Didática não é a direção do ensino, é a orientação da aprendizagem, uma vez que esta é uma experiência própria do aluno através da pesquisa, da investigação.
DIDÁTICA MODERNA
  Surgiu a partir dos anos de 1950, sendo uma proposta de Luis Alves de Mattos. A Didática Moderna é inspirada na pedagogia da cultura, corrente pedagógica de origem alemã. Mattos identifica sua Didática com as seguintes características: o aluno é o fator pessoal decisivo na situação escolar;  em função dele giram as atividades escolares para orientá-lo e incentivá-lo na sua educação e na sua aprendizagem, tendo em vista desenvolver-lhe a inteligência e formá-lhe o caráter e a personalidade. O professor é o incentivador, orientador e controlador da aprendizagem, organizando o ensino em função das reais capacidades dos alunos e do desenvolvimento dos seus hábitos de estudo e reflexão. A matéria é o conteúdo onde se encontram os valores lógicos e sociais a serem assimilados pelos alunos; está a serviço do aluno para formar as suas estruturas mentais, e por isso, sua seleção, dosagem e apresentação. Vinculam-se às necessidades e capacidades reais dos alunos. O método representa o conjunto dos procedimentos para assegurar a aprendizagem, isto é, existe em função da aprendizagem, razão  pela qual, a par de estar condicionado pela natureza da matéria, relaciona-se com a psicologia do aluno.
  Para Mattos, o ensino é a atividade direcional sobre o processo de aprendizagem e a aprendizagem é a atividade mental intensiva e propositada do aluno em relação aos dados fornecidos pelos conteúdos culturais.
  Definindo a Didática como disciplina normativa, técnica de dirigir e orientar eficazmente a aprendizagem das matérias tendo em vista os seus objetivos educativos, Mattos propõe a "Teoria do Ciclo Docente", que é o método didático em ação. O ciclo docente, abrangendo as  fases de planejamento, orientação e controle da aprendizagem e suas subfases, é definido como "o conjunto de atividades exercidas, em sucessão ou ciclicamente, pelo professor, para dirigir e orientar o processo de aprendizagem dos seus alunos, levando-o a bom termo. É o método em ação.
TECNICISMO EDUCACIONAL
  Embora seja considerada como uma tendência pedagógica, inclui-se, em certo sentido, na Pedagogia Renovada. Desenvolveu-se no Brasil na década de 1950, à sombra do progressivismo, ganhando nos anos 60 autonomia quando constituiu-se especificamente como tendência, inspirada na teoria behaviorista da aprendizagem e na abordagem sistêmica do ensino.
  A Didática instrumental está interessada na racionalização do ensino, no uso de meios e técnicas mais  eficazes. O sistema de instrução se compõe  das seguintes etapas:
a) especificação de objetivos instrucionais operacionalizados;
b) avaliação prévia dos alunos para estabelecer pré-requisitos para alcançar objetivos;
c) ensino ou organização das experiências de aprendizagem;
d) avaliação dos alunos relativo ao que se propôs nos objetivos iniciais.
  O arranjo mais simplificado dessa sequência resultou na fórmula: objetivos, conteúdos, estratégias, avaliação. O professor é um administrador e executor do planejamento, o meio de previsão das ações a serem executadas e dos meios necessários para atingir os objetivos.
PEDAGOGIA LIBERTADORA
  Retomou as propostas de educação popular dos anos 60, refundindo seus princípios e práticas em função das possibilidades do seu emprego na educação formal em escolas públicas, e inicialmente tinha caráter extra-escolar, não-oficial e voltada para o atendimento da clientela adulta. Na Pedagogia Libertadora, o professor se põe diante de uma classe com a tarefa de orientar a aprendizagem dos alunos. A atividade escolar é centrada na discussão de temas sociais e políticos, em um ensino centrado na realidade social, em que o professor se põe diante da classe com a tarefa de orientar a aprendizagem dos alunos, em que professor e alunos analisam problemas e realidade do meio socioeconômico e cultural, da comunidade local, com seus recursos e necessidades, tendo em vista a ação coletiva frente a esses problemas e realidades. O trabalho escolar não se assenta, prioritariamente, nos conteúdos de ensino já sistematizados, mas no processo de participação ativa nas discussões e nas ações práticas sobre questões da realidade social imediata. Nesse processo em que se realiza a discussão, os relatos da experiência vivida, a assembleia, a pesquisa participante, o trabalho em grupo etc., vão surgindo temas geradores que podem vir a ser sistematizados para efeito de consolidação de conhecimentos. É uma didática que busca desenvolver o processo educativo como tarefa que se dá no interior dos grupos sociais e por isso o professor é coordenador ou animador das atividades que se organizam sempre pela ação conjunta dele e dos alunos.
Paulo Freire - principal nome da Pedagogia Libertadora
PEDAGOGIA CRÍTICO-SOCIAL
  Inspirou-se no materialismo histórico dialético, constituindo-se como movimento pedagógico interessado na educação popular, na valorização da escola pública e do trabalho do professor, no ensino de qualidade para o povo e, especificamente, na acentuação da importância do domínio sólido por parte dos professores e alunos, dos conteúdos científicos do ensino como condição para a participação efetiva do povo nas lutas sociais. Para essa tendência pedagógica, o ensino consiste na mediação de objetivos-conteúdos-métodos, que assegure o encontro formativo entre os alunos e as matérias escolares, que é o fator decisivo da aprendizagem.
  A Pedagogia Crítico-Social dos conteúdos atribui grande importância à Didática, cujo objetivo de estudo é o processo de ensino nas suas relações e ligações com a aprendizagem. As ações de ensinar e aprender formam uma unidade, mas cada uma tem a sua especificidade. A Pedagogia Crítico-Social busca uma síntese superadora de traços significativos da Pedagogia Tradicional e da Escola Nova. Postula para o ensino a tarefa de propiciar aos alunos o desenvolvimento de suas capacidades e habilidades intelectuais, mediante a transmissão e assimilação ativa dos conteúdos escolares, articulando, no mesmo processo, a aquisição de noções sistematizadas e as qualidades individuais dos alunos que lhes possibilitam a auto-atividade e a busca independente e criativa das noções.
FONTE: Libâneo, José Carlos. Didática / José Carlos Libâneo. - São Paulo: Cortez, 1994. - (Coleção magistério. 2º grau. Série formação do professor).

4 comentários:

Roberta Yankees disse...

Muito bem elaborado parabéns!

Marciano Dantas de Medeiros disse...

Obrigado Roberta

Anônimo disse...

Muitíssimo bom, posso usar suas postagens para trabalhar com curso do normal?

Marciano Dantas de Medeiros disse...

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