Os fluxos populacionais no mundo
globalizado constituem-se de múltiplas formas de migração e revelam-se cada vez
mais como uma característica marcante do processo de globalização.
O
fenômeno da migração é tão antigo quanto a própria humanidade, que sempre se
deslocou para novos territórios, às vezes já ocupados por outros grupos. Cada
vez mais pessoas têm migrado nas últimas décadas, ao mesmo tempo em que os
fenômenos migratórios e a presença de migrantes entre as populações nativas tem
sido marcantes em outros contextos. Uma delas tem sido a formação dos Estados
nacionais no continente americano, principalmente entre os séculos XVIII e XIX.
Ela contou com numerosas levas de imigrantes, sobretudo europeus e asiáticos,
aos quais se somaram os africanos, trazidos à força do continente africano.
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Chegada de imigrantes na Ellis Island, Nova York, em 1904. |
Os
movimentos migratórios contemporâneos são fenômenos sociais amplamente
discutidos e sua dinâmica global é um importante aspecto da atual fase da
globalização.
Os
fluxos populacionais atuais contrastam com os ocorridos em outros períodos da
história. Porém, não pela proporção de migrantes no conjunto das populações,
ainda que sua quantidade absoluta seja cada vez maior. O principal contraste em relação a períodos anteriores da história são suas novas características,
como: direção predominante, principais emissores e, especialmente, a forma
contraditória como são tratados os imigrantes nos países de destino.
Entre os séculos XIX e início do século XX predominou a migração de
europeus para os outros continentes, mas, atualmente, ocorre o inverso: povos
de todos os continentes migram em direção à Europa e à América do Norte,
principalmente.
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Correntes imigratórias até a metade do século XX |
Em
ambos os casos, a principal motivação para o deslocamento é de ordem econômica.
Trata-se de fluxos de trabalhadores em busca de melhores condições de vida e
trabalho, tendo, geralmente, o sonho de um dia retornar ao seu país de origem.
Assim, os fluxos de trabalhadores no mundo, em geral, caracterizaram
importantes contribuições econômicas e culturais para outros países. No
entanto, em países mais ricos, tem crescido a onda de discriminação e
preconceito contra imigrantes de países pobres, expressa nas legislações cada
vez mais restritiva a estrangeiros. Há também um número crescente de agressões
e hostilidades de grupos locais contra famílias de trabalhadores imigrantes.
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Fluxo migratório no final do século XX |
Tal
reação é provocada pelo sentimento conhecido como xenofobia, caracterizado pela
aversão a pessoas, crenças e modos de vida externos à sua comunidade. Esse
problema está fortemente associado a um pensamento equivocado de que os
imigrantes seriam “concorrentes” e, portanto, causadores de problemas, como o
mercado de trabalho cada vez mais saturado nos países desenvolvidos, ameaçando
a mão de obra local, aumentando o desemprego e pressionando os salários para
níveis mais baixos.
Os
estudos desenvolvidos pela ONU contestam essa visão e contrapõem-se fortemente
a ela, alegando que é ilegítima e repudiando atitudes de grupos xenófobos.
Segundo os pesquisadores da organização, a presença de migrantes tende a
enriquecer social, econômica e culturalmente os locais receptores, e os
recentes problemas de desemprego nesses países têm outras causas, mais ligadas
às questões demográficas de diminuição de mão de obra para determinados cargos e
processos econômicos do mundo globalizado.
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Imigrantes haitianos no Brasil |
Uma
evidência contemporânea bastante contundente de que os fluxos populacionais de
países subdesenvolvidos não devem ser vistos simplesmente como problemas para a
população dos países ricos é a recepção diferenciada dada a turistas e
trabalhadores qualificados, provenientes de países subdesenvolvidos ou em
desenvolvimento. Esses trabalhadores, compondo o fenômeno conhecido como “fuga
de cérebros”, deixam seu país de origem, também, em busca de oportunidades mais
promissoras de trabalho.
Nesse sentido, são conhecidos os numerosos casos de chineses e indianos
altamente qualificados, geralmente em áreas ligadas à informática, trabalhando
ou especializando-se em universidades norte-americanas ou em outras
universidades de renome internacional. Até mesmo atletas sul-americanos,
levados por universidades e às vezes naturalizados em países da Europa ou nos
Estados Unidos, são, por vezes, considerados mão de obra altamente valorizada.
Em geral, os países de origem desses profissionais sofrem com esses fluxos de
indivíduos, já que são muito importantes para o seu desenvolvimento. No
entanto, os países desenvolvidos que recebem esses jovens profissionais são
beneficiados por seus talentos.
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Membros da comunidade paquistanesa em protesto em Atenas, Grécia |
Outra tendência significativa em relação aos fluxos populacionais atuais
é a intensificação da chamada migração Sul-Sul. Esse tipo de migração
representa uma parcela cada vez maior das migrações mundiais, sendo composta de
trabalhadores oriundos de países subdesenvolvidos que vão para países
emergentes, com grau de desenvolvimento e industrialização mais elevado. Um
desses exemplos, é a vinda de trabalhadores bolivianos, principalmente para a
cidade de São Paulo ou o fluxo de países da África Subsaariana, como Zimbábue,
Botsuana, Zâmbia, Angola e Moçambique para a África do Sul.
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Imigrantes africanos tentando entrar na Europa |
FONTE: Torrezani, Neiva
Camargo. Vontade de saber geografia: 9° ano / Neiva Camargo Torrezani. – 1. ed.
– São Paulo: FTD, 2012.