terça-feira, 30 de maio de 2023

MESOPOTÂMIA: TERRA ENTRE RIOS

  Mesopotâmia, também conhecida como "terra entre rios", é a área do sistema fluvial Tigre-Eufrates, o que nos dias modernos corresponde a aproximadamente à maior parte do Iraque e do Kuwait, além de partes orientais da Síria e de regiões ao longo das fronteiras Turquia-Síria e Irã-Iraque.

  Amplamente considerado como um dos berços da civilização pelo mundo ocidental, a Mesopotâmia da Idade do Bronze abrigava a Suméria, além dos impérios Acadiano, Babilônico e Assírio, todos nativos ao território do atual Iraque. Na Idade do Ferro foi controlada pelos impérios Neoassírio e Neobabilônico. Os povos sumérios e acádios (incluindo assírios e babilônicos) dominaram a região desde o início da história escrita (c. 3.100 a.C.) até a queda da Babilônia (539 a.C.), quando foi conquistada pelo Império Aquemênida. Foi conquistado por Alexandre, o Grande, em 332 a.C. e, após sua morte, tornou-se parte do Império Selêucida, de cultura grega.

  Por volta de 150 a.C., a Mesopotâmia estava sob o controle do Império Parto. A região tornou-se um campo de batalha entre os romanos e partos, com partes da Mesopotâmia passando sob o efêmero controle do Império Romano. Em 226 d.C., foi dominado pelos persas sassânidas e permaneceu sob o domínio persa até à conquista muçulmana da Pérsia no século VII do Império Sassânida. Vários estados mesopotâmicos nativos, neoassírios e cristãos existiram entre o século I a.C. e III d.C.

Mapa da região da Mesopotâmia

Aspectos geográficos da Mesopotâmia

   A palavra "Mesopotâmia" tem origem na língua grega e significa "entre rios". a região conhecida por esse nome está localizada entre dois grandes rios - o Tigre e o Eufrates -, e essa proximidade favoreceu o desenvolvimento das primeiras civilizações conhecidas.

  O clima e o relevo da região da Mesopotâmia não são homogêneos: há grande diversidade de paisagens, compostas de áreas de pântanos, estepes, planícies férteis e planaltos com clima ameno. Ao sul, o território apresenta um clima hostil para a produção agrícola, com chuvas escassas e temperaturas altas. Ao norte, as chuvas são mais frequentes e as temperaturas mais amenas, o que permitiu que a agricultura se desenvolvesse mais facilmente.

  Além disso, todo ano, entre os meses de abril e maio, o derretimento da neve nas montanhas localizadas ao norte da região provoca grande aumento do volume das águas dos rios Tigre e Eufrates. As águas vindas das regiões altas carregam material orgânico para o leito dos rios e, quando os rios retornam ao seu volume normal, o solo de suas margens fica mais fértil, favorecendo o cultivo agrícola.

  Ao explorar o fenômeno periódico das cheias dos rios, os povos que ocuparam essa região realizaram grandes obras hidráulicas, como a construção de diques, barragens e canais entre o rio e a lavoura para conter e armazenar as águas e direcioná-las para as áreas não atingidas pelas inundações, ampliando, assim, sua área de cultivo agrícola. Essas obras hidráulicas permitiram o aumento da produtividade agrícola e, consequentemente, da oferta de alimentos, promovendo o crescimento populacional. Com maior número de pessoas, as aldeias se transformaram em cidades e sua organização social se tornou cada vez mais sofisticada, o que possibilitou a formação de sociedades complexas na Mesopotâmia.

Mesopotâmia no século III a.C.

A ocupação da Mesopotâmia

  Os primeiros grupos humanos, que se instalaram na região da Mesopotâmia entre 12.000 e 6.000 a.C., eram seminômades. À medida que foram desenvolvendo a agricultura, esses grupos passaram a se fixar próximo aos cultivos, tornando-se sedentários e formando aldeias, que mais tarde deram origem a cidades.

  Diversos povos - como sumérios, acádios, amoritas, assírios e caldeus - migraram e ocuparam a região da Mesopotâmia, muitas vezes entrando em conflito pelo domínio das terras e pelo acesso à água, o que levou à formação de grandes impérios.

  Os vestígios arqueológicos disponíveis indicam que o povo sumério foi um dos primeiros a se desenvolver na Mesopotâmia, estabelecendo-se no sul, na região chamada de Súmer, por volta de 4.000 a.C.

  Os sumérios se organizavam em cidades-Estado, que apresentavam elevado grau de urbanização, com bairros residenciais, construções monumentais usadas como templos religiosos, ruas, estabelecimentos comerciais, exército e um sistema de administração pública. A cidade suméria de Uruk foi uma das maiores da Mesopotâmia.

Ruínas da cidade suméria de Uruk, no atual território do Iraque

  Os sumérios também desenvolveram a mais antiga forma de escrita conhecida, a escrita cuneiforme, assim chamada porque as inscrições eram feitas com uma ferramenta chamada cunha, que consiste em uma haste de metal ou madeira com uma das extremidades em ângulo agudo utilizado para marcar um suporte, no caso, placas de argila úmida. Politeístas, assim como outros povos da Antiguidade, os sumérios acreditavam que a escrita era um presente dos deuses.

Escrita cuneiforme

Organização política e social

  Os templos e os palácios eram estruturas fundamentais das sociedades mesopotâmicas. Os templos consistiam em complexos agrário-artesanais onde eram administrada a produção agrícola e promovido o comércio. Ao lado dos templos existia o palácio habitado pelos governantes e pela nobreza, funcionando como estrutura política e econômica. As terras dos templos e dos palácios eram arrendadas aos camponeses, que recebiam rações e cereais em troca de seu trabalho. Também havia as terras administradas pelos sacerdotes dos templos e pelos governantes e pela nobreza dos palácios.

  A maioria da população era formada por camponeses, que constituíam a base das sociedades mesopotâmicas. Os escravos, tanto os prisioneiros de guerra quanto os endividados, eram minoria.

  Os governantes mesopotâmicos, reis e imperadores, ocupavam o lugar de intermediários entre o mundo divino e o humano, sendo considerados protetores dos súditos e responsáveis por manter a boa vontade dos deuses. Assim, seus deveres eram de ordem administrativa e religiosa.

Nota de venda de uma casa, Xurupaque

  À medida que cresciam as disputas entre os diferentes povos da região por acesso à água e às terras, o poder dos reis foi se tornando mais bélico e administrativo do que religioso: eles passaram a ser supremos comandantes militares, capazes de realizar grandes conquistas, proteger a cidade dos invasores e ampliar a produção agrícola.

  Responsáveis pelos cultos às divindades, os sacerdotes eram considerados canais de comunicação com o mundo sobre-humano. Na religião mesopotâmica, politeísta, os deuses eram considerados "donos" das terras, e os sacerdotes, seus administradores. Com isso, os sacerdotes exerciam grande domínio sobre as demais camadas sociais, e os templos possuíam terras e outras riquezas.

  Os mesopotâmicos construíam edifícios chamados zigurates para serem usados como templos religiosos, depósitos de cereais (para os períodos de baixa produtividade agrícola e para o comércio) e locais de observação astronômica. Em formato de pirâmides, possuíam vários andares e plataformas sobrepostas umas às outras, que podiam ser acessadas por grandes escadarias. As observações astronômicas deram origem a calendários que auxiliavam na organização das atividades agrícolas.

Zigurate de Ur

Economia

  A agricultura era a principal atividade econômica dos povos mesopotâmicos. Eles realizavam a agricultura de vazante, nas margens alagadas durante as cheias dos rios Tigre e Eufrates, e a agricultura de irrigação por meio de obras de engenharia hidráulica que conduziam as águas dos rios para os terrenos secos, não atingidos pelas cheias.

  Os cultivos agrícolas que ocupavam os grandes campos da Mesopotâmia eram os cereais, como trigo e cevada, com os quais se produziam pães e cervejas, além de gergelim, cebolas, ervilhas e feijões. Em pequenos terrenos chamados jardins ou pomares, que ficavam junto dos templos e palácios, também eram cultivadas frutas como romã, figo e tâmara.

Figurinha mostrando a agricultura suméria com os canais de irrigação

  Os registros deixados pelos mesopotâmicos indicam que o cultivo de tâmara, que cresce em clima quente e terrenos irrigados, foi de grande importância econômica para a região. É provável que os sumérios tenham desenvolvido técnicas de polinização artificial, conduzindo manualmente o pólen entre as plantas machos e fêmeas das tamareiras para aumentar sua produtividade. Além de o fruto da tamareira ser alimento nutritivo utilizado na alimentação humana e do gado, as outras partes da planta também tinham muitos usos: suas folhas, fibras e madeira eram empregadas como material de construção e na fabricação de objetos, como cestas, colchões e cordas.

  A importância da tamareira para os mesopotâmicos aparece em diversos documentos, como na arquitetura (em elementos decorativos das construções), na legislação e na religião. O Código de Hamurábi, que era um conjunto de leis sobre diversos aspectos da vida cotidiana na Mesopotâmia, estabelecia uma multa para quem cortasse uma palmeira de tâmara e ordenava que os produtores ficassem vigilantes sobre podas e polinização. Cultuada por diversos povos da Mesopotâmia e relacionada à fecundidade e à prosperidade, a deusa Ishtar (ou Inanna), era associada à palmeira de tâmara.

Deusa Inanna num selo acadiano, 2.350-2.150 a.C. Ela está equipada com armas nas costas, tem um capacete com chifres e está pisando em um leão

  Além da agricultura, os mesopotâmicos também se dedicavam à criação de animais, como ovelhas, cabras, porcos e aves, utilizados para fornecer leite, ovos, lã, gordura animal e couro ou diretamente como alimento. O consumo de carne bovina era restrito e geralmente ocorria em festivais sagrados. Por isso, os bovinos eram mais utilizados para tração no transporte e no preparo da terra para agricultura.

  Apesar da relativa abundância de produtos agropecuários, a Mesopotâmia dependia do comércio de longa distância com outros povos para ter acesso a madeira, marfim, pedras preciosas e, sobretudo, metais, matéria-prima para a fabricação de ferramentas agrícolas e armas para as frequentes guerras. Além disso, com ouro, prata e pedras preciosas eram confeccionados os objetos de luxo que a elite ostentava para demonstrar seu poder.

Produção de metais no Antigo Oriente Médio

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

KRAMER, S. N. Mesopotâmia: berço da civilização. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1967.

McNEILL, William. História Universal: um estudo comparado das civilizações. Tradução de Leonel Vallandro. São Paulo: ed. da Universidade de São Paulo, 1972.

NETTO, A. Mesopotâmia e seus povos. Museu de Topografia Prof. Laureano Ibrahim Chaffe. Departamento de Geodésia - UFRGS. Porto Alegre, 2009.

PETIT, Paul. As primeiras civilizações. São Paulo: Atual, 1987.

2 comentários:

Anônimo disse...

Maravilhoso amigo! 👏👏

Anônimo disse...

Uma verdadeira aula de História.

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