quarta-feira, 3 de maio de 2023

A DISPUTA ESTADOS UNIDOS X CHINA

   China e Estados Unidos são atualmente as duas maiores economias do mundo. Os países apresentam um longo histórico de tensões diplomáticas e disputas comerciais, as quais se acirram a partir da ascensão econômica da China e de uma potencial ameaça à hegemonia econômica estadunidense. Recentemente, os países se viram imersos em uma guerra comercial pela taxação de produtos importados e disputas de alegações de espionagem.

Origem do conflito China X EUA

  Os momentos de tensão e conflitos nos campos diplomático e econômico têm suas raízes em meados do século XX. Na China, o ano de 1949 foi marcado pela ascensão de Mao Tsé-Tung ao poder e à fundação da atual República Popular da China (RPC), tendo adotado um governo de regime socialista. Tal feito ocorreu mediante a vitória do Partido Comunista na Revolução Chinesa.

  O contexto mundial era o do pós-Segunda Guerra Mundial e da disputa entre Estados Unidos e União Soviética, a chamada Guerra Fria. Durante a Revolução Chinesa, os Estados Unidos haviam demonstrado apoio aos nacionalistas chineses, que saíram derrotados na revolução e se refugiaram na ilha de Formosa (que passou a ser chamada de Taiwan), enquanto que os comunistas, vitoriosos, receberam apoio da União Soviética.

  Uma das questões levantadas sobre as relações entre taiwaneses e norte-americanos era o Acordo de Tapei, que tinha como partes Estados Unidos e Taiwan, e foi assinado em 2 de dezembro de 1954. O impasse entre China e Taiwan remonta o século XVII, quando a ilha foi governada pelos chineses, durando cerca de dois séculos. Desde então, a China reivindica Taiwan como parte do seu território, considerando a ilha uma província rebelde. Os taiwaneses não reconhecem esse status e se declaram um país independente.

Mapa destacando China e Taiwan com suas respectivas bandeiras

  Na década de 1960, a China rompeu relações com a União Soviética, incitando tensões na região de fronteira entre os territórios soviético e chinês. Isso levou o governo da China a se reaproximar dos Estados Unidos, buscando retomar certa harmonia entre eles. O novo momento de relações entre norte-americanos e chineses foi representado pela visita do então presidente norte-americano, Richard Nixon, à China, em 1972.

  Estados Unidos e China retomaram suas relações oficialmente no ano de 1978, mediante a asseguração de que o Acordo de Taipei seria considerado sem validade a partir de então e do reconhecimento de que Taiwan era parte do território chinês. Apesar de o sistema socialista chinês ter se mantido, esse período foi marcado pelas reformas econômicas que visavam à abertura de mercado. Para os Estados Unidos, essas reformas significavam a expansão da dinâmica capitalista pelo planeta.

  Com a queda do bloco soviético, o socialismo de mercado chinês continuou sendo visto como um importante aliado na sustentação e na expansão do capitalismo global. No final da década de 1990, por exemplo, a crise econômica que afetou muitos países da Ásia fortaleceu a importância regional da China. O país era visto como um ponto de apoio para a expansão do modelo econômico neoliberal defendido pelos Estados Unidos.

George W. Bush (então presidente dos EUA) e Hu Jintao (então presidente da China) se cumprimentam em Zhongnanhai, em 2008

  Essa configuração, porém, começou a mudar no final dos anos 2000. Nessa época, a economia chinesa se modernizava rapidamente, o que tornava suas exportações mais competitivas. Além disso, a China ocupa uma posição estratégica na Ásia, podendo influenciar as dinâmicas políticas de muitos países da região. Diante desse contexto, a China estava se tornando uma potência regional que ameaçava a influência estadunidense em muitos países.

  Essa combinação de grande expansão econômica e fortalecimento político fez com que o governo dos Estados Unidos passasse a observar o país não mais como um aliado, mas como um grande concorrente. Dessa forma, as disputas entre os Estados Unidos e a China ganharam cada vez mais importância no contexto global, pois as duas nações buscam a hegemonia no mundo contemporâneo e visam ampliar sua influência política, cultural e econômica no mundo.

Encontro na Casa Branca em 2011 do presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, e o presidente da China, Hu Jintao

Governo Trump e o crescimento das tensões

  Ao final do governo de Barak Obama (2009-2017), os Estados Unidos já se posicionavam de forma crítica diante do avanço econômico da China. Essa situação seguiu uma intensa radicalização após a posse de Donald Trump como presidente do país, em 2017. Seu governo foi marcado por uma série de ações visando transformar a China em uma das principais ameaças ao desenvolvimento dos Estados Unidos.

  Por meio de declarações agressivas em suas redes sociais e intenso uso de propaganda, Trump e seus aliados fortaleceram a desconfiança da opinião pública sobre o país oriental. Além disso, foram tomadas diversas medidas visando conter o crescimento econômico da China.

  Em 2019, por exemplo, o governo dos Estados Unidos passou a perseguir um grande conglomerado de telecomunicações chinês (Huawei, uma das pioneiras da tecnologia 5G), ao defender a proibição global de suas operações. Essa corporação tem um papel importante no fornecimento de equipamentos necessários para a criação de redes sem fio pelo planeta.

  De forma simples, em 2020, o governo Trump defendeu medidas para proibir o funcionamento de duas redes sociais chinesas de grande influência no planeta (WeChat e TikTok). Alegando o risco de espionagem, o governo determinou que a empresa chinesa deve vender suas redes sociais para empresas estadunidenses ou ser banida dos Estados Unidos. Esses dois exemplos demonstram a relação profunda entre disputa política e econômica e o crescimento das tensões entre os dois países.

JOSWIG, D. Disputa comercial USA - China. A charge ironiza as políticas estadunidenses que visam restringir o crescimento da economia chinesa

China e Estados Unidos na atualidade

  Em 2022, as tensões geopolíticas entre China e Estados Unidos foram reacendidas com o anúncio da visita da presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, à ilha de Taiwan. A viagem aconteceu no início de agosto sob a reprovação do governo chinês, que viu nesse gesto uma provocação dos Estados Unidos. Além disso, alguns meses antes desse acontecimento, o atual presidente norte-americano, Joe Biden, afirmou que os Estados Unidos auxiliariam Taiwan militarmente. A China realizou exercícios militares próximo à ilha taiwanesa quando da visita da congressista norte-americana, o que acendeu um sinal de alerta em todo o mundo.

  O incidente de um balão espião chinês que sobrevoou os Estados Unidos, em fevereiro desse ano (2023), causou um novo atrito diplomático entre os dois países. Em 2 de fevereiro, autoridades de defesa norte-americanas observaram o que suspeitavam ser um balão de vigilância e rastrearam seu caminho pelos Estados Unidos sobre o estado de Montana. Autoridades chinesas reconheceram que o balão pertence ao país, mas afirmaram que se trata de um dispositivo civil de uso meteorológico.

  Essa situação pode se agravar ainda mais, já que o governo chinês vem agindo para enfraquecer a influência estadunidense. Por isso, essa disputa pode se tornar um dos principais focos de tensão no mundo contemporâneo.

O balão de vigilância chinês

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BECARD, Danielle Silva Ramos. O Brasil e a República Popular da China: política externa comparada e relações bilaterais (1974-2004). Brasília: FUNAG, 2008.

ARRIGHI, Giovanni. Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século XXI. São Paulo: Boitempo, 2008. Tradução Beatriz Medina.

CORREIA, Beatriz. Examinando: o que é a "Guerra Comercial" entre os Estados Unidos e a China. Revista Exame, 16 nov. 2020.

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