Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), suíço que viveu na França no século XVIII, de certo modo seguiu a tendência iniciada no século anterior, criticando o absolutismo real e fundamentando sua teoria com base no pacto social que legitima o governo. No entanto, a novidade do conceito de vontade geral constituiu uma diferença significativa.
O século XVIII ficou conhecido como o Século das Luzes, em razão do desenvolvimento do Iluminismo, Ilustração ou Aufklärung (em alemão, "Esclarecimento"). Como as designações sugerem, havia um otimismo em reorganizar o mundo humano por meio das luzes da razão.
Desde o Renascimento desenrolava-se a luta contra o princípio da autoridade, cujo objetivo era o reconhecimento da capacidade do ser humano de orientar-se por si mesmo sem a tutela religiosa. Livre de qualquer controle externo, sabendo-se capaz de procurar soluções para seus problemas com base em princípios racionais, o ser humano estendeu o uso da razão a todos os domínios: político, econômico, moral e até religioso.
A filosofia do Iluminismo também sofreu a influência da Revolução Científica levada a efeito por Galileu Galilei (1564-1642) no século XVII. O método experimental recém-descoberto aliou-se à técnica, o que fez surgirem as chamadas ciências modernas. Posteriormente, a ciência foi responsável pelo aperfeiçoamento da tecnologia, provocando no ser humano o desejo de conhecer melhor a natureza a fim de dominá-la.
Galileu Galilei - astrônomo, físico e engenheiro florentino |
Na França, a Enciclopédia, extensa obra que pretendia reunir todo o conhecimento produzido pela humanidade até então, foi um marco do movimento iluminista. Seu subtítulo - "Dicionário analítico de ciência, artes e ofícios" - revela o crescente interesse pelas artes e pelos ofícios naquela época, o que representou a valorização do artesão e do trabalho. Organizada por Denis Diderot (1713-1784) e Jean le Rond D'Alembert (1717-1783), contou com mais de cem colaboradores, entre eles figuras importantes como Montesquieu (1689-1755), Voltaire (1694-1778), Rousseau, Condorcet (1743-1794) e D'Holbach (1723-1789). Nesse grande projeto enciclopédico, destaca-se a esperança depositada nos benefícios do progresso da técnica e no poder da razão de combater o fanatismo, a intolerância (incluindo a religiosa), a escravidão, a tortura e a guerra.
Enciclopédia, ou dicionário racional das ciências, artes e profissões. Uma grande obra que compreendeu 35 volumes, 71.818 artigos e 2.885 ilustrações |
Rousseau, de certo modo contrariando o espírito iluminista, fez uma crítica severa ao modo como eram desenvolvidas as ciências e as artes nas sociedades de seu tempo, que, segundo ele, contribuíram para corromper os costumes. Foi esse o tema de sua obra Discurso sobre as ciências e as artes, vencedora de um concurso realizado pela Academia de Dijon, sendo que Rousseau respondeu negativamente ao desafio proposto pela instituição: o restabelecimento das ciências e das artes contribuiu para purificar os costumes?
Edição original sobre a obra de Rousseau Discurso sobre as ciências e as artes |
O bom selvagem e o contrato social
Rousseau, examinou o estado da natureza, e concluiu que os indivíduos teriam vivido sadios, cuidando de sua própria sobrevivência, até o momento em que surgiu a concepção de propriedade privada e uns passaram a se beneficiar da exploração de outros, gerando desigualdade e miséria.
Inicialmente, Rousseau criou a hipótese de um homem que teria vivido tranquilamente antes de socializar-se, até ser introduzida a desigualdade, que corrompeu o indivíduo, esmagado pela violência das relações sociais. Esse homem hipotético foi designado pelo filósofo como "bom selvagem". Tratava-se, portanto, de um enganoso pacto social que colocava as pessoas sob grilhões. Há que se considerar a possibilidade de outro contrato verdadeiro e legítimo, pelo qual o povo estaria reunido sob uma só vontade. Para ser legítimo, o contrato social deveria se originar do consentimento necessariamente unânime: cada associado se alienaria totalmente ao abdicar, sem reservas, de todos os seus direitos em favor da comunidade. Como todos abdicariam igualmente, nenhuma parte perderia nada.
Capa original da obra O contrato social, de Jean-Jacques Rousseau |
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FORTES, Luiz Roberto Salinas. Rousseau: o bom selvagem. São Paulo: Humanitas; Discurso, 2007.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre as ciências e as artes, tradução de Hugo Barros. Lisboa: Edições 70, 2019.
ROUSSEAU, J.-J. O contrato social e outros escritos. São Paulo: Cultrix, 1971.
Um comentário:
Ótimo assunto.
Postar um comentário