domingo, 18 de janeiro de 2015

TUAREGUES: POVOS DO DESERTO DIVIDIDO POR FRONTEIRAS

  Os tuaregues são um povo berbere (grupo étnico nômade que ocupa o norte da África desde a Pré-história e que vive hoje principalmente nas regiões montanhosas do Marrocos e da Argélia e em parte do deserto do Saara) constituído por pastores seminômades, agricultores e comerciantes. No passado, controlavam a rota das caravanas do deserto do Saara. Majoritariamente muçulmanos, são os principais habitantes da região saariana do norte da África. Distribuídos hoje em diferentes países, os tuaregues foram os primeiros povos a habitar o deserto do Saara. Ainda que estejam distribuídos por uma extensa região, atualmente a população tuaregue está reduzida.
  Os tuaregues estão distribuídos pelo sul da Argélia, norte de Mali, Níger, sudoeste da Líbia, Chade e, em menor número, em Burkina Faso e leste da Nigéria. Falam línguas berbere e preservam uma escrita peculiar, o tifinagh. A principal língua tuaregue é denominada tamasheq, além das outras como o tamahaq, tahaggart, tayart, tawallammat e o tetserret.
Mapa da área habitada pelos tuaregues
  A palavra "tuaregue" deriva de Targa, que é o nome berbere da província da Fazânia, no sul da Líbia. Porém, alguns estudiosos acreditam que a palavra deriva do árabe "abandonados", referência à região que habitam, uma região inóspita e hostil à ocupação humana.
  Tradicionalmente, para os tuaregues, as fronteiras não tinham nenhum significado. Mas, desde a colonização europeia, que fragmentou o território africano, a vida desses nômades se tornou muito difícil. A colonização desestruturou esses povos.
  Os tuaregues já foram um povo rico, com sua técnica de criação de camelos, os quais eram vendidos como animais de carga para as caravanas. Mais tarde, destacaram-se também na condução dessas caravanas, quando obtiveram o monopólio do sal de Bilma, no comércio saariano.
Tuaregue da Argélia
  O meio de locomoção dos tuaregues é o camelo, têm como vestimenta característica o véu de azul índigo, com que cobre toda a cabeça e a maior parte do rosto, com exceção dos olhos, para protegerem-se do sol, que é extremamente forte.
  A alimentação dos tuaregues tem sua base no leite e derivados. Só abatem animais nas grandes festas. Possuem também ovelhas e cavalos.
  Apesar de serem tradicionalmente nômades, os tuaregues constituíram importantes centros nos países em que estão presentes, como Agadez, no norte do Níger, e Gao, Kidal e Timbuktu no Mali. Timbuktu foi no passado um importante centro do comércio trans-saariano e centro de pesquisa, contando com uma universidade e uma grande quantidade de intelectuais, que aproveitaram-se do auge da intelectualidade islâmica, na época da baixa Idade Média.
Timbuktu - Mali
  Os tuaregues usam uma linhagem materna, embora não sejam matriarcais. Sua hierarquização é formada por castas que descendem da tradicional rainha guerreira Tin Hinan e seu companheiro Takama.
  A casta nobre, Imajeren, são os guerreiros. Portam a tradicional espada Takoba, cujo formato lembra as espadas medievais das cruzadas. Há pequenas distinções no formato e detalhes entre as espadas de acordo com a região de origem ou dos artesãos-ferreiros que as fazem. A lâmina larga de dois gumes tem um friso longitudinal e o punho é guarnecido por uma peça retangular, que lembra uma cruz.
  O motivo dos homens não dispensarem o véu azul índigo é, segundo tradições tuaregues, protegê-los dos maus espíritos. A norma entre os tuaregues é fornecer chá de menta aos grupos de turistas.
Tuaregues de Mali
  A religião dos tuaregues fica a cargo dos Ineselmen, que significa Muçulmanos, e têm muito cuidado na observação das leis do Alcorão. Os tuaregues aderiram ao islamismo no século XVI. Apesar da grande observação nas leis do Alcorão, o nomadismo impossibilita-os de algumas obrigações das leis islâmicas, como é o caso do Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos. Combinam a tradição Sunita (Maliki madhhab) com algumas crenças pré-islâmicas animísticas, como a presença dos espíritos Kel Asuf e a divinização do Qur'an.
  Os "Homens Livres" (Imrad - que quer dizer "povo das cabras") são a maioria e se dizem descendentes de Takama. Os escravos, chamados de Iklan, são compostos por descendentes dos antigos cativos. Desde a dominação francesa, no final do século XIX, a escravidão foi abolida. Porém, eles permanecem em quantidade considerável e têm as suas subcastas.
Tuaregues de Níger
  Diferentemente de outros povos berberes, os tuaregues não usam tatuagens. Homens e mulheres pintam os olhos com kohl, pó negro de sulfato de antimônio. Os rapazes raspam a cabeça, deixando apenas uma espécie de crista no centro. Segundo a crença, o motivo de fazerem isso é que servirão para que Alá os "arraste" ao paraíso.
  As mulheres, ao contrário das outras muçulmanas, não usam véus e possuem cabelos longos e trançados. São bem consideradas e pode ser delas a iniciativa do pedido de divórcio, caso se considerem maltratadas pelo marido. Em certas ocasiões, elas pintam o rosto de vermelho ou amarelo e os lábios de azul, formando uma espécie de máscara, que serve de enfeite e de símbolo mágico. Possuem autoridade no acampamento, pois os homens estão frequentemente ausentes, cumprindo suas atividades como pastores, comerciantes ou guerreiros. Geralmente, sabem escrever e são mais instruídas que os homens. Participam dos conselhos e assembleias da linhagem e são consultadas nos assuntos da tribo.

Mulheres tuaregues de Níger
  Antes de se tornarem pacíficos com são atualmente, os tuaregues cobravam pedágios altíssimos dos outros viajantes, assaltando e massacrando os que deixavam de pagar. Em 1946, com a chegada de novos governos, os tuaregues entraram em guerra por sua liberdade, provocando a morte de milhares de pessoas. Atualmente, eles se dedicam à música, ao comércio, ao artesanato e ao pastoreio de animais, principalmente cabras e dromedários.
  O povo tuaregue recusa-se a aceitar as fronteiras de cinco estados - Argélia, Mali, Líbia, Níger e Burkina Faso - estabelecidas nos tempos coloniais, em territórios que sempre lhes pertenceram. Expulsos da Argélia em 1986, e obrigados a sair da Líbia em 1990, refugiaram-se no Níger e no Mali, onde criaram vários problemas e passaram a sofrer a dura reação dos governantes locais.
Tuaregues de Burkina Faso
FONTE: Geografia nos dias de hoje, 8° ano / Cláudio Giardino ... [et al.]. - 1. ed. - São Paulo: Leya, 2012. - (Coleção nos dias de hoje)

4 comentários:

Antonio Soares disse...

O nome de Burkina Fasso no mapa está sem um "S".

Marciano Dantas de Medeiros disse...

Ok, muito obrigado Antônio Soares, mas o certo mesmo é com um "S", foi erro meu ter colocado com dois "S" no texto.

Unknown disse...

Porque para os tuaregues, as fronteiras não tinham nenhum significado

Unknown disse...

As fronteiras para os tuaregues não tinham nenhum significado; pois, os berbéres, são um povo livre. Literalmente o significado "povo livre" .

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