quinta-feira, 18 de abril de 2013

TERRORISMO

  No início do século XXI, o terrorismo foi proclamado como a principal ameaça à humanidade. Isso por conta de sua imprevisibilidade, pela dificuldade ou até impossibilidade de controle e pela falta de visibilidade do inimigo. Desse modo, o terrorismo e a luta contra ele têm sido colocados como assuntos obrigatórios nas relações internacionais.
  Os Estados Unidos declararam guerra ao terrorismo. Após o atentado ao World Trade Center, em 2001, o combate a ele justificou as principais ações militares norte-americanas no Afeganistão e no Iraque. No entanto, essa meta já proclamada na década de 1980 pelo governo Reagan, não evitou que milhares de atentados ocorressem nos últimos anos e que aumentasse o número de grupos que utilizam o terrorismo como estratégia de luta. Muitos são bastante conhecidos, como o ETA, na Espanha; os Tigres Tâmeis, no Sri Lanka; e os grupos islâmicos fundamentalistas em diversos países africanos e asiáticos. Outros não têm a mesma projeção internacional, mas podem ser contados à dezenas.
As Torres Gêmeas em chamas após o atentado em 11 de setembro de 2001
  Ações de caráter terrorista como instrumento de luta política passaram a ocorrer já no século XIX. Ao longo dos séculos XX e XXI, diversos outros grupos promoveram ações terroristas na Europa e em outras partes do mundo. As motivações, as estratégias e as consequências foram diversas, segundo o momento histórico e as nações envolvidas.
  Foi, no entanto, durante o período da Guerra Fria que o terrorismo adquiriu dimensão internacional. Grupos terroristas de diversos matizes ideológicos (de oposição a governos, ditatoriais ou não; nacionalistas em luta pela independência e pela autonomia nacional; seitas e grupos religiosos) foram formados em todos os continentes. Na maioria dos casos, esses grupos eram apoiados pelos Estados Unidos ou pela ex-URSS.
Minutos após o assassinato de Fernando Ferdinando, herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, em 1914, em Sarajevo, capital da Bósnia. Esse assassinato foi o estopim para o início da Primeira Guerra Mundial.
  Na década de 1970, surgiram na Europa diversas organizações terroristass de cunho político, somadas às já existentes IRA e ETA: na Itália, as Brigadas Vermelhas; na França, a Ação Direta; e na Alemanha, o Baader Meinhof. Esses grupos aterrorizavam a população europeia ao mesmo tempo em que recebiam a simpatia de parcela da população.
  No Oriente Médio, considerado hoje o grande foco do terrorismo internacional, os primeiros grupos tiveram origem entre os judeus na Palestina, na década de 1960. Mas foi somente a partir da década de 1980 que ocorreu a disseminação de grande quantidade de grupos terroristas na região. Além do uso de carros-bombas, utilizados originalmente por organizações terroristas europeias, foi acrescentado, por alguns grupos, o terrorismo suicida.
Carro-bomba colocado pelo ETA em Pamplona em 2008
FUNDAMENTALISMO ISLÂMICO
  O islamismo é a religião que mais cresce no mundo. Conta, atualmente, com 1 bilhão e 200 milhões de fiéis espalhados, sobretudo, pelo Oriente Médio, norte da África e sudeste asiático. Essa religião foi fundada por Maomé, no século VII, e baseia-se no Corão, ou Alcorão, também chamado Livro de Deus (Kitsb Alah). Os seguidores do islamismo são denominados muçulmanos.
  A interpretação do Corão não é a mesma para todos os muçulmanos. Pra os chamados fundamentalistas, certos aspectos das sociedades ocidentais, como, por exemplo, a liberdade de expressão e de religião e a igualdade de direitos para homens e mulheres, são incompatíveis com a lei do Corão. Para eles, o Ocidente, com seus valores, constitui uma ameaça à sociedade muçulmana.
Mapa do mundo muçulmano com as principais escolas da lei islâmica (madhhab)
  Superado o "perigo vermelho", representado pla extinção da URSS, o fundamentalismo islâmico surgiu como um dos grandes "vilões" do Ocidente. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, essa imagem foi muito explorada pelos EStados Unidos, que relacionavam os grupos islâmicos de orientação fundamentalista ao terrorismo.
  Além dos esforços de preservação cultural, o crescimento do fundamentalismo islâmico está relacionado aos sucessivos fracassos econômicos e políticos dos governos de vários países muçulmanos da Ásia e do norte da África. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, esses países conquistaram a sua independência e passaram a ter governos próprios. Desde então, o caos econômico e social, aliado ao autoritarismo e à corrupção da classe política dirigente, é a base fértil da expansão do fundamentalismo. A população muçulmana depositou cada vez mais suas esperanças de uma vida melhor nas próprias raízes religiosas e culturais, já que a chegada da modernidade só trouxe benefícios para uma minoria - a elite econômica.
Peregrinação (hajj) a Meca - um dos "cinco pilares do Islão".
  Além disso, a independência política conquistada por esses países não significou o fim das interferências externas das grandes potências mundiais - sobretudo dos Estados Unidos -, cuja posição sempre foi ambígua. No Oriente Médio, por exemplo, o petróleo foi o fio condutor que determinou o apoio norte-americano a um ou outro governante, de acordo com as vantagens econômicas e estratégias que pudessem ser obtidas nessa região.
A QUESTÃO AFEGÃ E O TALIBÃ
  O Afeganistão, composto por uma variedade de etnias rivais, era uma monarquia desde 1933. Em 1973, sofreu um golpe de Estado, liderado pelo general Mohammed Daud, que transformou o país numa república e assumiu a presidência. No período da Guerra Fria, principalmente após a crise do petróleo de 1973, o Afeganistão tornou-se um país estratégico, cujo território passou a ser disputado pelas duas superpotências na época. Os soviéticos aspiravam à dominação da região para controlar o acesso ao Golfo Pérsico, e os Estados Unidos buscavam inibir a expansão soviética na região do Oriente Médio.
Mapa do Afeganistão
  Em 1978, Mohammed Daud foi derrubado e assassinado por membros do Partido Democrático do Povo (comunista). Esse episódio desencadeou a disputa pelo poder entre grupos guerrilheiros de etnias diversas, principalmente a muçulmana. Hafizullah Amim, líder de uma das facções do Partido Democrático do Povo, acabou conquistando a presidência, mas não se mostrou capaz de contemplar os interesses soviéticos. No final de 1979, a União Soviética invadiu o país. O presidente Hafizullah Amim foi assassinado e o presidente nomeado, Babrak Karmal, passou a governar o Afeganistão apoiado pelas forças soviéticas, que em pouco tempo chegaram a mobilizar quase cem mil soldados para a região.
Mapa da intervenção soviética no Afeganistão em 1981
  A resistência contra o regime de Babrak Karmal, por parte dos vários grupos de mujahedins (conhecidos como guerreiros da liberdade), foi implacável. Instaurou-se no país uma guerra civil, que os soviéticos nunca conseguiram controlar. Estados Unidos, China, Paquistão, Irã e Arábia Saudita forneceram armas e dinheiro aos guerrilheiros que lutavam contra a ocupação soviética. Durante a década de 1980, os Estados Unidos estiveram diretamente envolvidos no recrutamento e treinamento dos mujahedins, entre eles, Osama Bin Laden.
Retirada de tropas soviéticas do Afeganistão em 1988
  No final da Guerra Fria, em 1989 - no governo Gorbatchev -, o exército soviético retirou-se do Afeganistão, e a guerra continuou entre as facções de grupos muçulmanos que disputavam o poder entre si. Em 1996, o Talibã, grupo islâmico ultrarradical, assumiu o poder e o controle de 95% do território afegão, e o país se tornou abrigo seguro do principal suspeito dos atentados terroristas de 11 de setembro, o milionário saudita Osama Bin Laden.
  Os mujahedins treinados pelos Estados Unidos para combater a expansão do comunismo soviético voltaram-se contra o seu principal provedor de armas.
Osama Bin Laden em 1997
AS NOVAS DIMENSÕES DO TERRORISMO
  Durante o século XX, proliferaram grupos terroristas em praticamente todos os continentes, com objetivos os mais diferentes possíveis: grupos de esquerda em luta contra governos capitalistas, grupos de direita contra governos de orientação socialista, grupos nacionalistas, grupos separatistas, lutas pela independência, descolonização etc.
  No entanto, os atentados terroristas de grande dimensão são elementos marcantes da nova ordem mundial. Colocam em evidência a continuidade dessa estratégia de luta por grupos radicais que tentam derrotar Estados organizados, já que nada conseguiriam num combate frontal. O terrorismo é, portanto, uma guerra assimétrica, mas de grandes proporções, que amedronta e coloca a sociedade em estado de permanente tensão.
Momento em que o assassino salta em direção ao carro e dispara contra seus ocupantes, no episódio conhecido como Assassinatos de Marselha de 1934, onde foram mortos o rei Alexandre I da Iugoslávia e o Ministro das Relações Exteriores da França, Louia Barthou, em 9 de outubro de 1934, em Marselha - França.
 A rede Al Qaeda, gestada no contexto da Guerra do Afeganistão com a fusão de facções islâmicas ultrarradicais com  conexões espalhadas pelo mundo islâmico, inaugurou o terrorismo de "espetáculo", de grandes dimensões e projeção internacional. Neste início do século XXI, três atentados chocaram o mundo por sua crueldade: o de 11 de setembro de 2001, em Nova York; o de 11 de março de 2004, em Madri; e o de Beslan, na Ossétia do Norte, também em 2004. Os dois primeiros atentados foram atribuídos à rede terroristaAl Qaeda e o terceiro, a um grupo separatista da Chechênia.
Na manhã de 11 de março de 2004 dez bombas explodiram em quatro comboios que faziam a ligação entre Alcalá de Henares e a estação madrilhena de Atocha, que deixou 191 pessoas mortas e milhares feridas.
  Mesmo que o terrorismo seja uma forma de luta antiga e bem conhecida, os grandes atentados realizados pela Al Qaeda mostram que foram executados com base em planejamento minucioso, visando alcançar o máximo impacto e repercussão internacional.
  Quanto mais gigantesca e violenta é a ação, mais o terrorismo conta com a cobertura dos meios de comunicação, que transforma a barbárie em espetáculo para ser acompanhado por milhões de pessoas em todo o mundo. No atentado do World Trade Center, depois de o primeiro avião ter atingido uma das torres, as câmaras de televisão passaram a transmitir ao vivo o acontecimento. Pessoas do mundo todo puderam ver, em tempo real, um segundo avião mergulhar na outra torre. Foi também ao vivo que os telespectadores  assistiram ao edifício desabando e o desespero da população sob a poeira e os escombros.
A Torre Norte em chamas após o atentado de 11 de setembro
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Território e sociedade no mundo globalizado: geografia: ensino médio, volume 3 / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco, Cláudio Mendonça. - 1. ed. - São Paulo: Saraiva, 2010.

Um comentário:

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