terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A ATUAL GEOECONOMIA AFRICANA

  A África não é uma região simples nem homogênea, com seus 54 estados (países), cinco grandes regiões e seus mais de 1 bilhão de habitantes. Um mosaico gigantesco e fragmentado de territórios, onde não existe um verdadeiro sistema estatal competitivo, tampouco uma economia regional integrada. [...] O término da Guerra Fria contribuiu decisivamente para o fim do apartheid na África do Sul e para a independência da Namíbia. Mas, na década de 1990, depois da Guerra Fria, e no auge da globalização financeira, o continente africano ficou praticamente à margem dos fluxos de comércio e de investimento direto estrangeiro. Desde 2001, entretanto, este panorama econômico africano reverteu, em particular na África Negra. O crescimento econômico médio, que era de 2,4% em 1990, passou para 4,5% entre 2000 e 2005, alcançando a taxa de 5,3% em 2006, 5,5 entre 2007 e 2010, chegando a 6% em 2011.
Feira de frutas na cidade de Luanda, capital de Angola, um dos países que mais cresce na África
  Por trás desta transformação africana está o crescimento e a nova pressão econômica da China e da Índia, através do comércio e dos investimentos diretos. Hoje existem no continente africano mais de 800 companhias, com mais de novecentos projetos de investimento e quase 90 mil trabalhadores chineses. Um verdadeiro "desembarque econômico" liderado por empresas estatais que obedecem a uma estratégia muito clara e ousada, seguidas, ainda que em menor escala, pelo Governo e pelos capitais privados indianos que estão fazendo  um movimento semelhante de investimento maciço e de aprofundamento das suas relações políticas, econômicas e culturais com a África.
Mapa dos investimentos chineses na África
  Deste ponto de vista, todos os sinais econômicos estão apontando na mesma direção: a África Subsaariana está se transformando na área de "acumulação primitiva" do capitalismo asiático e na principal fronteira de expansão econômica e política da China e da Índia nas primeiras décadas do século XXI. Por isso, está aumentando a competição e a tensão geopolítica entre a China, a Índia e as demais potências que já estavam instaladas, ou que estão chegando ao continente africano, em busca de sua "segurança energética".
Lagos - Nigéria. Um dos países que mais recebem investimentos chineses e indianos
  E neste ponto reaparecem, inevitavelmente, os Estados Unidos. Em 1993, depois da fracassada "intervenção humanitária" norte-americana na Somália, o então presidente Bill Clinton visitou o continente e definiu uma estratégia de "baixo teor" para a África Negra: democracia e crescimento econômico através da globalização dos seus mercados nacionais. Mas depois de 2001, os Estados Unidos mudaram sua política africana, em nome do combate ao terrorismo e da proteção dos seus interesses energéticos, sobretudo na região do "Chifre da África" e do Golfo da Guiné. [...]
Mapa do Golfo da Guiné
  Esse aumento da presença militar americana, entretanto, não é um fenômeno isolado, e vem sendo seguido de perto pela União Europeia e pela Rússia, que já assinou vários acordos econômicos e militares com países africanos. Em poucos anos, o cenário africano mudou e aumentou a competição das grandes potências, sobretudo na África Negra. E, neste sentido, não há como se enganar: todos os sinais indicam que a África será - pela terceira vez - o território privilegiado da nova "corrida imperialista" que está começando.
FONTE: FIORI, J. L.; MEDEIROS, C.; SERRANO, F. O mito do colapso do poder americano. Rio de Janeiro: Record, 2008. p. 53-55.

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