domingo, 10 de junho de 2012

A TEORIA DO SUBDESENVOLVIMENTO

  Os importantes aumentos de renda gerados pela expansão do comércio internacional no século XX alimentaram a difusão dos novos padrões de consumo criados pela Revolução Industrial. Dessa forma, o que se universalizou não foi a nova tecnologia industrial, e sim os novos padrões de consumo surgidos nos países que lideraram o processo de industrialização.
Revolução Industrial - mudou o padrão de consumo e o modo de vida das pessoas
  As novas técnicas produtivas também tenderam a universalizar-se, particularmente em setores subsidiários do comércio internacional, como os meios de transportes. Mas, no que concerne às atividades diretamente produtivas, foi lenta a difusão das novas técnicas. Isso deu origem a diferenças qualitativas entre as estruturas econômicas e sociais dos países em que a acumulação e o progresso nas técnicas produtivas avançaram conjuntamente e as daqueles países em que esses avanços privilegiaram o vetor da acumulação em obras improdutivas e bens duráveis de consumo, em geral importados. Cabe, portanto, distinguir os dois processos históricos, cujas diferenças persistiram até o presente, independentemente das taxas de crescimento da renda e do acesso à industrialização.
Favela de Paraisópolis em meio a prédios luxuosos da cidade de São Paulo
  Essas reflexões levam à convicção de que a permanência do subdesenvolvimento se deve à ação de fatores de natureza cultural. A adoção pelas classes dominantes dos padrões de consumo dos países de níveis de acumulação muito superiores aos nossos explica a elevada concentração de renda, a persistência da heterogeneidade social e a forma de inserção no comércio internacional.
Contraste na cidade de Recife - PE
  A variável independente é, em última instância, o fluxo de inovações nos padrões de consumo, que irradia dos países de alto nível de renda. Esse mimetismo cultural tem como contrapartida o padrão de concentração da renda. Para liberar-se dos efeitos desse imperativo cultural perverso, faz-se necessário modificar os padrões de consumo no quadro  de uma ampla política social, e ao mesmo tempo elevar substancialmente a poupança, comprimindo o consumo dos grupos de elevadas rendas. Essas duas linhas de ação só têm eficácia se perseguidas conjuntamente, e requerem um planejamento que, por seu lado, deve-se apoiar-se em amplo consenso social.
  O desafio que se coloca é alcançar essas mudanças estruturais sem comprometer o espírito de iniciativa e inovação que assegura a economia de mercado. Sobre a conjugação do planejamento com a iniciativa privada, muito temos a aprender da experiência dos países de industrialização tardia do Sudeste asiático, os quais se anteciparam na difícil tarefa de reconstrução de estruturas sociais anacrônicas.
Seul, capital da Coreia do Sul - exemplo de modernidade no mundo subdesenvolvido
FONTE: FURTADO, Celso. O capitalismo global. São Paulo: Paz e Terra, 1998.. p. 58-60.

Um comentário:

Anônimo disse...

FOI MUITO BOM PRA MIM !
OBRIGADA..

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