O complexo regional da Amazônia abrange a área de domínio da chamada floresta latifoliada equatorial da América do Sul, situada no território brasileiro. São aproximadamente 4,5 milhões de km², compreendendo o oeste do Maranhão, o norte de Tocantins, o norte do Mato Grosso, além da totalidade da área dos seguintes estados: Acre, Rondônia, Amazonas, Roraima, Amapá e Pará.
Historicamente, essa foi uma das primeiras áreas exploradas pelos europeus, os quais, já no século XVI, extraíam da floresta, às margens dos grandes rios, as chamadas drogas do sertão. No entanto, ainda hoje, a Amazônia é o complexo regional que apresenta as menores densidades demográficas do país, com uma rede urbana composta de algumas metrópoles, capitais regionais e cidades locais dispersas na imensidão da floresta. Cabe ressaltar, porém, que essas características do espaço geográfico amazônico vêm mudando rapidamente nas últimas décadas em razão, sobretudo, do movimento de expansão da fronteira econômica a partir do Centro-Sul do país.
Manaus - uma das metrópoles da Amazônia
O BIOMA AMAZÔNICO
A Floresta Amazônica estende-se por aproximadamente 7,5 milhões de km², abrangendo quase a metade do Brasil e boa parte do território de outros oito países (Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia). Toda essa área corresponde à chamada Amazônia Internacional.
Amazônia Internacional
Quando falamos em Amazônia, temos guardado em nosso imaginário o imenso "mar verde" de árvores, cujas copas proporcionam um aspecto paisagístico homogêneo à região. Contudo, devemos lembrar que esse bioma terrestre apresenta características naturais (geomorfológicas, hidrológicas e de fauna e flora) que compõem quatro conjuntos florestais distintos, porém, interligados. São eles: as matas de igapó, as matas de várzea, as matas de terra firme e a floresta semiúmida.
Matas de igapó - desenvolvem-se às margens de rios e igarapés, estando sempre alagadas. Os solos e a água apresentam elevado grau de acidez, decorrente da grande quantidade de matéria orgânica em decomposição nesse ambiente. São constituídas por uma densa vegetação, com árvores relativamente baixas, de no máximo 20 metros de altura, e apresentam uma abundância de arbustos e cipós. Entre as árvores típicas desse ecossistema estão a mamorana, o taxi, a oirana e o arapati.
Mata de igapó
Matas de várzea - tipo de vegetação de transição entre as matas de igapó e as matas de terra firme. Ocupam as áreas que são sazonalmente atingidas pelas cheias (áreas de várzea dos rios), localizando-se em terrenos um pouco mais elevados que os das matas de igapó. Apresentam árvores e arbustos adaptados aos ciclos de cheias e vazantes, como o pau-mulato, a seringueira e a samaúma.
Mata de várzea no período de inundação
Matas de terra firme - compõem a maior parte da floresta, ocupando cerca de 90% do total da bacia hidrográfica Amazônica, e desenvolve-se nas terras mais altas, que não são atingidas pelo regime de cheias e vazantes. É onde se encontram as árvores de maior porte da Amazônia, cujo dossel (cobertura contínua formada pelas copas das árvores que se tocam em uma floresta) encontra-se a mais ou menos 60 metros de altura e retém aproximadamente 95% dos raios solares. Por isso, o interior das matas de terra firme é bastante escuro, com espécies animais e vegetais adaptadas à baixa luminosidade. A castanheira, a sapucaia, o caucho e o cedro são exemplos de árvores típicas desse ambiente.
Mata de terra firme
Floresta semiúmida - formação vegetal de transição entre a floresta e as áreas de campinaranas e de cerrados. Constitui-se de árvores mais baixas que as de terra firme, com até 15 metros de altura, cujas folhas caducam no período de estiagem. Reúne ainda grande quantidade de arbustos, lianas e gramíneas em seu interior. As árvores típicas dessa formação são a aroeira, o jacarandá e a paineira.
Vegetação semiúmida em Roraima
No interior do bioma amazônico há também extensas áreas de campos e de cerrados. Os campos amazônicos, também denominados de campinaranas, ocorrem, sobretudo, no alto rio Negro, no estado do Amazonas, e no baixo rio Branco, no estado de Roraima. Em geral, são formações abertas, composta de gramíneas, palmeiras e pequenos arbustos adaptados ao solo rico em laterita. Já os cerrados desenvolvem-se em toda a borda setentrional-oriental da Amazônia, apresentando as mesmas características que no Centro-Oeste brasileiro.
Campinarana em Roraima
A INTERDEPENDÊNCIA DOS ELEMENTOS DO BIOMA AMAZÔNICO
A diversidade de formações vegetais presentes no bioma amazônico decorre de uma complexa interdependência que se estabelece nessa porção do território nacional, entre o clima, a hidrografia, os solos e o relevo.
O clima equatorial, dominante nessa região do país, é responsável pelas altas temperaturas (com média anual de 25ºC) e pelos elevados índices de precipitação, que variam entre 1.500 mm e 3.300 mm anuais. Esse tipo de clima é altamente favorável ao desenvolvimento de variadas espécies vegetais, com a presença de florestas mais densas e, em sua maior parte, perenifólias e higrófitas.
Vitória régia - típico exemplo de planta higrófita da Amazônia
Essa imensa biomassa responde, ainda, por 50% da umidade atmosférica que alimenta as fortes chuvas diárias que ocorrem em boa parte Amazônia: as chamadas chuvas de convecção. A elevada umidade é fornecida ao ar atmosférico por meio da evapotranspiração das plantas. A outra parcela de umidade provém da evaporação das águas dos rios e dos lagos, assim como das massas de ar dominantes na região.
Esquema de uma chuva de convecção
Ainda que os altos índices de pluviosidade e as elevadas temperaturas sejam características climáticas marcantes desse complexo regional, é importante lembrar que existem diferenças sensíveis entre as diversas áreas da Amazônia. Na porção mais ocidental, há uma distribuição regular de chuvas durante o ano, com médias de precipitação superiores a 2.500 mm anuais. Em Roraima e no Pará encontra-se uma estação mais seca (de dezembro a fevereiro), contabilizando índices de precipitação abaixo dos 2.000 mm anuais. Já em Tocantins, existem duas estações bem definidas, uma seca e outra chuvosa, apresentando médias de precipitação em torno de 1.600 mm anuais. Em razão dessas variações, estabelece-se três tipos climáticos para a região: equatorial superúmido, equatorial e tropical típico.
Climograma equatorial
Além da interdependência de clima e vegetação, aspectos ligados ao solo e à hidrografia da região também influenciam as características da floresta. De maneira geral, os solos da região Amazônica são predominantemente arenosos e pobres em nutrientes, apresentando uma fina camada superficial de matéria orgânica (excrementos de animais, folhas, galhos e troncos em decomposição), produzida pela própria floresta. É dessa camada superficial rica em húmus, chamada serrapilheira, que árvores e plantas extraem praticamente todos os nutrientes de que necessitam. Entretanto, existem variações no interior da própria floresta: os solos das matas de igapó e de várzea, por exemplo, apresentam maior fertilidade, já que recebem, sazonalmente, nas épocas de cheias, os sedimentos depositados pelos rios e igarapés. Nesse sentido, os cursos de água têm papel fundamental na manutenção da vida na Amazônia.
Serrapilheira na Floresta Amazônica
Com mais de sete mil cursos de água principais, a bacia hidrográfica Amazônica é a maior do mundo. No leito de seus rios correm cerca de 20% da água doce existente na Terra. Nela está localizado o rio Amazonas, o maior rio em extensão e em volume de água do mundo, com cerca 6,9 mil km de extensão.
Na maior parte da bacia hidrográfica Amazônica, em razão do relevo predominantemente plano, os rios são caudalosos e repletos de meandros. Esses cursos de água são as principais vias de transporte na região.
Meandros do rio Tefé, afluente do rio Amazonas
Além da interdependência dos elementos naturais, outra particularidade importante do bioma amazônico está em sua espetacular biodiversidade. Especialistas estimam que, dos 1,5 milhão de espécies de vegetais e animais catalogadas até o momento em todo o planeta, aproximadamente 10% vivem na Amazônia. Cerca de 80% dessas espécies, que incluem árvores, arbustos, plantas, fungos, insetos, répteis, aves, peixes, mamíferos, entre outras formas de vida, são endêmicas, ou seja, são organismos encontrados exclusivamente nesse bioma, dos quais boa parte vive em ecossistemas específicos no interior da floresta.
Cacajao - macaco típico da Floresta Amazônica
Amazônia: um bioma ameaçado
Ainda que a Amazônia compreenda uma vastidão de florestas, dispondo de uma imensa biodiversidade, o equilíbrio desse bioma apresenta grande fragilidade. Como os ecossistemas existentes no interior desse domínio natural relacionam-se intensamente uns com os outros, sendo possível afirmar que qualquer alteração em um dos seus elementos deverá interferir na particularidade dos demais. Um exemplo disso é a derrubada de árvores para uso agrícola ou para atividade de garimpo. A retirada da floresta elimina a serrapilheira, onde está a camada de húmus que fertiliza e protege os horizontes mais superficiais dos solos amazônicos. Sem ela, as camadas arenosas ficam expostas às intempéries, sobretudo às chuvas torrenciais que caem diariamente na região, causando a laterização dos solos e o assoreamento dos rios e igarapés.
Desmatamento - uma ameaça à Floresta Amazônica
Nas últimas décadas, o processo de ocupação e de exploração dos recursos naturais da Amazônia intensificou o ritmo de desflorestamento da região, ameaçando o equilíbrio dos ecossistemas e a biodiversidade existente nesse domínio natural, incluindo espécies da flora e da fauna ainda desconhecidas por estudiosos e cientistas.
Vários estudos, produzidos com base em levantamentos de campo e por sensoriamento remoto (imagens de radar e satélites), mostram um progressivo aumento da área desflorestada na região Amazônica. A maioria dos desmatamentos está em uma faixa de terras que vai do nordeste do Pará, passando pelo noroeste do Maranhão e do Tocantins, pelo norte do Mato Grosso e por Rondônia, até o Acre. É o chamado arco de desflorestamento da Amazônia.
Mapa do desmatamento feito pelo INPE no período de agosto de 2009 e fevereiro de 2010
FONTE: Boligian, Levon. Geografia espaço e vivência, volume único / Levon Boligian, Andressa Turcatel Alves Boligian. -- 3. ed. -- São Paulo: Atual, 2011.
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