quinta-feira, 17 de maio de 2012

TERRA: ESPAÇO FÍSICO E TERRITÓRIO POLÍTICO

  O homem espalhou-se pelo planeta, evoluiu e adquiriu as capacidades que o tornaram um dos principais agentes de transformação da Terra. As comunidades humanas não prosperaram da mesma forma e esse processo não se deu com a mesma intensidade em todos os lugares. Um dos aspectos mais importantes foi a aquisição da habilidade para domesticar as plantas e os animais, seguida pela adoção da vida sedentária.
  A vida das comunidades em um lugar fixo tornou-se possível quando elas adquiriram meios para alterá-lo, já que não mais se mudariam de um lugar para outro, em busca do ambiente mais adequado. Dessa forma, o transcorrer da história mostra o aumento da capacidade do homem para alterar o meio em que vive, transformando-o na medida do possível, em um lugar mais adequado para viver. Essa apropriação dos espaços e sua transformação de acordo com as necessidades e possibilidades das comunidades podem ser consideradas como uma espécie de domesticação dos territórios.
A domesticação de plantas e animais e a sedentarização foi uma das principais mudanças na vida do homem
BANDOS E TRIBOS
  Quando grande parte dos agrupamentos ainda estava no estágio da caça e da coleta, as comunidades se organizavam na forma de bandos, compostos por um número limitado de pessoas vagando por uma área, com a finalidade de garantir alimentos para a sobrevivência do grupo: calcula-se que eram necessários 26 km² para manter uma única pessoa nas comunidades organizadas dessa maneira. Em consequência disso, se um bando ficasse numeroso, sua abrangência territorial teria de ser maior.
  Os estudiosos consideram que grupos maiores de caçadores/coletores tinham maiores possibilidades de garantir sua sobrevivência, já que podiam deslocar com mais agilidade e necessitavam de áreas menos extensas.
A organização da vida humana em bandos era uma forma de se proteger das adversidades da época
  Os bandos tinham suas lideranças - algumas vezes os indivíduos mais fortes, outras os mais ágeis ou mais experientes etc. -, mas todos participavam do conjunto de tarefas necessárias para a sobrevivência. À medida que essa coletividade ficavam mais complexas, surgia a necessidade de pessoas que pudessem resolver conflitos e disputas internas, para que estas não degenerassem em confrontos e ameaçassem a própria sobrevivência do bando. Em geral, as pessoas que desempenhavam esse papel de mediação eram sacerdotes ou feiticeiros, reconhecidos pelos demais componentes do bando ou da tribo como portadores de conhecimentos e poderes fora do comum, com base nos quais passaram a ditar normas de comportamento para o grupo.
Na vida em bandos, geralmente o mais forte ou o mais experiente era o líder do grupo
  Para que essas pessoas pudessem executar tais funções o tempo todo, as tarefas que deveriam desempenhar para garantir a própria sobrevivência eram assumidas por outras pessoas da comunidade. É provável que esse tipo de diferenciação social somente tenha aparecido quando as comunidades atingiram o estágio de produção de excedentes (quando as comunidades são organizadas de tal forma que alguns de seus componentes produzem - por convicção ou por obrigação - uma quantidade de produtos de subsistência maior do que a necessária para a própria manutenção). A apropriação de uma parte desses excedentes pelas pessoas que são reconhecidas como portadoras de autoridade ou liderança permite que elas sejam liberadas das funções rotineiras ligadas à sobrevivência e se dediquem em tempo integral às funções de representação política, militar ou religiosa.
Na vida Pré-História, cada pessoa da comunidade desempenhava uma função específica no bando
  Como as comunidades organizadas centralmente apresentavam maiores possibilidades de organização e mobilização de recursos, o bando transformavam-se em tribos centralizadas ou eram conquistados ou dominados pelas comunidades que já se organizavam dessa maneira. Durante um longo período da história da humanidade, esses foram os principais agentes de apropriação territorial em diversos lugares, estruturando dessa forma a geografia política do planeta.
  Quando começou a passagem para a agricultura sedentária muita coisa mudou. Em alguns lugares que apresentavam condições propícias, como na Mesopotâmia e nos vales dos rios Nilo, Indo e Amarelo, as populações que haviam feito a transição encontraram um ambiente favorável para prosperar e se multiplicar, formando coletividades que não existiam no estágio anterior.
Mapa que mostra as áreas onde surgiram as primeiras civilizações da humanidade
  A organização das coletividades humanas espalhadas pelos mais diversos lugares do planeta estruturou-se de forma diferenciada e específica. O mundo era constituído de comunidades dotadas de características particulares, e os contatos se davam, sobretudo, entre as que se localizavam relativamente próximas. Com o passar do tempo, algumas comunidades humanas ampliaram seus horizontes e suas fronteiras e lançaram-se por territórios mais amplos, mas a maioria tinha abrangência restrita a determinada região, mesmo que sua extensão fosse significativa.
  Era fundamental manter o domínio do lugar onde cada comunidade se alojava e, na medida do possível e do necessário, conquistar outras terras, mesmo à custa de conflitos com as comunidades que as habitavam. Os vitoriosos podiam então estender seus domínios por uma superfície maior e mais bem servida de recursos. Durante muito tempo, essa foi uma das principais características da geografia do planeta.
  A vastidão dos territórios dominados dava a medida da importância de uma sociedade. Um exemplo disso foi o Império Romano: com base na cidade de Roma, estendeu-se por grande parte da Europa, Oriente Médio e norte da África, subjugando os diversos povos que habitavam esses lugares. No entanto, desmoronou-se depois de alguns séculos de existência, e todos aqueles territórios que se haviam unificado sob sua hegemonia dispersaram-se, e cada qual readquiriu sua autonomia política.
Império Romano
O MUNDO ESTRUTURADO EM PAÍSES
  A geografia política do mundo sofreu sua alteração mais notável em tempos mais recentes, quando todas as comunidades humanas passaram a se relacionar em escala planetária.
  Diferentemente do que ocorria nos primórdios da distribuição do homem pelo planeta, hoje as sociedades organizadas em países são a forma predominante de organização política.
  Os países são os lugares geográficos dos Estados Nacionais. Cada país tem significação geográfica, na medida em que uma parcela da superfície mundial é submetida à sua soberania: organiza-se na forma de estado independente, com governo próprio, leis, regulamentos e instituições que devem ser respeitados pelas pessoas que habitam seu território. Com base nessa autoridade constituída e reconhecida, cada um relaciona-se de forma independente com os demais.
Mapa-múndi atual
  Quando observa-se o mapa-múndi, com os contornos dos países minuciosamente definidos, tem-se a sensação de que as fronteiras são um fato permanente e que o interior de cada país não apresenta diversidade entre as populações que o habitam. No entanto, observando-se um mapa de séculos atrás, deduz-se que em muitos países a população é muito diversificada, pois as atuais fronteiras resultam de prolongada evolução histórica das formas de organização política das sociedades e da apropriação de territórios. Assim, o que hoje parece tão bem estabelecido passou, na verdade, por situações muito diferenciadas ao longo da história.
Mapa-múndi no século XVIII
  Os países formaram-se antes na Europa, geralmente a partir de unificações de comunidades diferenciadas. Entretanto, a maior parte dos territórios mundiais ainda estava organizada de maneira diferente: mesmo a Europa apresentava ainda um quadro bem diferente do atual, pois vários países que conhecemos hoje sequer haviam se formado (como a Itália e a Alemanha, por exemplo).
Mapa da unificação da Itália
  Valendo-se do poderio militar, alguns países europeus iniciaram a conquista de territórios em diversos lugares do mundo e neles instituíram colônias, subordinada aos seus interesses. Essas colônias, em geral, agrupavam povos diferentes, mas o que interessava aos países dominantes era desfrutar as vantagens advindas da soberania sobre esses territórios, mesmo que povoados por comunidades com grandes diferenças entre si. Posteriormente, essas colônias transformaram-se em países independentes, sendo que alguns deles conseguiram manter intacta grande parte do antigo território colonial, como o Brasil, e outros se dividiram, como os territórios dominados pelos espanhóis na América.
Continente africano dividido entre as potências europeias por meio da Conferência de Berlim
  O estabelecimento das fronteiras de um país não deve ser encarado como um fator permanente e definitivo. Da mesma maneira que a formação de impérios absorve países, cujos territórios passam a fazer parte da potência dominante, a dissolução dessas formas de organização política resulta na formação de vários países.  Um exemplo relativamente atual desse processo ocorreu quando a União Soviética (constituída após uma revolução, em 1917) dissolveu-se, em 1991. Praticamente da noite para o dia, quatorze das repúblicas que a compunham transformaram-se em países independentes.
CEI (Comunidade dos Estados Independetes) - repúblicas que faziam parte da antiga União Soviética
  Alguns países que se formaram por meio da unificação de vários territórios, muitas vezes mediante conflitos e guerras, estão às voltas, na atualidade, com movimentos pacíficos que visam mobilizar e motivar a população para conquistar a independência ou, na pior das hipóteses, maior autonomia em relação ao poder central. No Canadá, por exemplo, foi feita uma consulta aos habitantes da província de Quebec, para saber se concordavam com a transformação em país independente: a maioria preferiu manter-se como província canadense. Na Escócia também se faz notar um movimento político para conseguir a independência em relação ao Reino Unido, mas que ainda não atingiu o mesmo estágio de Quebec.
Província canadense de Quebec
  Em outros países a situação não é tão pacífica, por existirem movimentos políticos estruturados que, além de lutarem pela independência, se opõe radicalmente à atual situação. É o caso, por exemplo, do IRA (Exército Republicano Irlandês), que luta pela separação da Irlanda do Norte do Reino Unido, e do grupo ETA (sigla derivada da expressão Euzkadi Ta Askatasuna, que significa "Pátria Basca e Liberdade"), lutando para separar as províncias bascas da Espanha.
  Há outros povos em processo permanente de luta para estabelecer seus territórios independentes, como os palestinos, que perderam suas terras para Israel, e os curdos, cujo espaço nacional foi dividido entre Turquia, Iraque, Irã, Armênia, Azerbaijão e Síria. Nesses casos percebe-se a existência de movimentos políticos ativos e com forte base popular, absolutamente empenhados em traçar novas fronteiras para alojar seus territórios.
Curdistão
  Mas, já há bastante tempo, a disputa por poder e hegemonia não se limita a conquistas territoriais ou intervenções armadas em outros países; a imposição na escala internacional se faz, sobretudo, por meio do poderio econômico. As potências reservam as intervenções militares, de maneira geral, apenas para casos específicos. Assim, as fronteiras não são alteradas e o controle político dos territórios permanece intacto.
  Em geral, os países que dispõem de menores condições econômicas não conseguem impor seus interesses e incorporam-se nas relações internacionais de maneira subordinada. Assim, apesar de serem, formalmente, países independentes, veem-se obrigados a executar políticas que acentuam ainda mais o poder das grande potências internacionais.
O INCREMENTO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
  Houve um tempo em que a humanidade era constituída de comunidades isoladas que vagavam incessantemente por vastos territórios e mantinham relações esporádicas com os seus vizinhos, em geral, apenas para disputar territórios. Hoje, o mundo é formado por países cada vez mais interligados em uma cadeia de relações, e suas atitudes devem levar em conta a participação internacional em diferentes aspectos, moldando a geografia política do planeta e definindo um novo conteúdo para a açãode cada país.
  A autoridade dos países sobre seus assuntos internos é uma das características dos sistemas políticos atuais. Quando um país participa de uma organização ou assina um tratado internacional, manifesta autonomia política porque se trata de uma ação que ocorre por decisão interna do próprio país. Por outro lado, significa também que está abrindo mão da autoridade exclusiva sobre os assuntos da organização ou tratado, pois deverá seguir os regulamentos e acordos que foram negociados com a comunidade internacional em suas diversas manifestações e dimensões.
Símbolo da Comunidade Internacional da Paz
  Muitas vezes um país é levado a assinar um acordo ou a participar de um órgão internacional, mesmo considerando que esse não seria o melhor caminho para a defesa de seus interesses. Entretanto, nesses casos, a adesão a tais acordos ou órgãos é o mal menor, pois de outra forma seria marginalizado de algum aspecto importante das relações internacionais. A participação, então, segue a estratégia de tentar influir na condução das políticas estabelecidas, embora países com menor poder econômico tenham menor influência política e poucas chances de alterar a dinâmica de funcionamento desses organismos internacionais.
  Para tornar as relações internacionais menos instáveis, os países criaram organizações em escala global e regional. Embora diversas e com diferentes objetivos, essas organizações partem da ideia de que é mais conveniente, para os participantes, estabelecer algumas regras de comum acordo, de modo que as relações não deem origem a conflitos dos mais diversos tipos.
  Entre essas organizações, a maior e mais complexa é a Organização das Nações Unidas (ONU), estruturada após a Segunda Guerra Mundial com o fim de estabelecer algumas regras de convivência internacional. Vários temas foram objeto de atenção, e o resultado foi o estabelecimento de uma série de acordos e procedimentos que grande parte dos países aceita como válidos para garantir a estabilidade mundial.
Símbolo da ONU
  Seus órgãos atuam sobre os diversos aspectos das relações entre os diferentes países, como o comércio, as finanças, a agricultura e alimentação, a cultura etc. Evidentemente, como se trata de um organismo de participação internacional, sua atuação e implementação de políticas não está isenta de discordâncias e polêmicas, além de imposições por parte de países com maior poderio econômico e maior influência política.
Órgãos da ONU
OS PAÍSES E A GESTÃO POLÍTICA
  Os países desempenham um papel extremamente importante  e determinante para a geografia do planeta. A existência dos países materializa-se na apropriação de uma determinada parte da superfície terrestre, sobre a qual impõe a sua soberania, ou seja, exerce autoridade.
  A soberania do país é a afirmação de sua independência que se manifesta em diversos aspectos: cria as leis, executa-as e fiscaliza o seu cumprimento, define regras de relacionamento com os outros países (inclusive com seus cidadãos e empresas), protege a integridade do território frente a possíveis ameaças externas e também implementa a gestão dos recursos e a proteção do meio ambiente.
Países da Europa
  A execução das diversas políticas por parte dos países deve levar em consideração as potencialidades do seu território, abrangendo seu meio físico e biológico, sua população, as atividades econômicas e a relação entre esses fatores.
  Para indicar essas potencialidades é importante saber quais são os diversos aspectos dessa realidade. O conhecimento da estrutura geológica, por exemplo, indicará a necessidade ou não de se estabelecerem regras de edificação para resistir a terremotos ou a deslizamentos, bem como uma avaliação da ocorrência de jazidas de recursos minerais, como petróleo, carvão mineral, ferro etc., para poder tomar decisões fundamentais para a sociedade e a economia com absoluto conhecimento de causa.
As políticas exercidas pelos países podem diminuir os prejuízos causados por catástrofes naturais, como o do terremoto que devastou a capital do Haiti, Porto Príncipe em janeiro de 2010
  Da mesma forma, a implementação de políticas ligadas à produção agropecuária exige conhecimentos dos solos, dos climas e da adaptabilidade das plantas e animais ao meio ambiente.
  A partir desse conhecimento podem-se ainda formular propostas em relação à formação escolar da população, aos rumos que deve tomar a pesquisa científica, quais setores industriais incentivar etc.
  Mesmo que haja conhecimento profundo da realidade, porém, nem sempre são tomadas medidas adequadas para promover o desenvolvimento dos países. Entretanto, sem esse conhecimento, as possibilidades de ação eficaz frente aos problemas são praticamente nulas.
Conhecer bem o terreno de um país é essencial para a prática da agricultura, como a agricultura de terraceamento realizada em muitos países, como na Indonésia
  O estudo do país é a condição para que se possa entender sua realidade específica, como ele implementa suas potencialidades e como se articula internacionalmente.
FONTE: Carvalho, Marcos Bernardino de. Geografias do mundo: fundamentos, 6° ano / Marcos Bernardino de Carvalho, Diamantino Alves Correia Pereira. - 1. ed. renovada. - São Paulo: FTD, 2009. - (Coleção geografias do mundo). p.161-170

2 comentários:

eric disse...

tomara que me ajude na prova!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Marciano Dantas de Medeiros disse...

Obrigdo. Com certeza vai ajudar Eric.

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