quarta-feira, 28 de agosto de 2019

GROENLÂNDIA: A MAIOR ILHA DO MUNDO

  A Groenlândia é uma região autônoma da Dinamarca. O seu território ocupa a ilha com o mesmo nome, considerada a maior do mundo, além de diversas ilhas vizinhas, ao lado da costa nordeste da América do Norte.
  As suas costas são banhadas a norte pelo Oceano Glacial Ártico, a leste pelo mar da Groenlândia, a leste e sul pelo Oceano Atlântico e a oeste pelo mar do Labrador e pela baía de Baffin. A terra mais próxima é a ilha Ellesmere, a mais setentrional das ilhas do Arquipélago Ártico Canadiano, da qual está separada pelo estreito de Nares. Outros territórios próximos são: no mesmo Arquipélago Canadiano, a oeste, a ilha de Devon e a ilha de Baffin; a sudeste a Islândia; a leste a ilha de Jan Mayene e a nordeste o arquipélago de Esvalbarda, ambos possessões da Noruega.
Mapa da Groenlândia
HISTÓRIA
  Em tempos pré-históricos, a Groenlândia foi a residência de um certo número de culturas paleoesquimós. A partir de 984 a.C., foi colonizada por noruegueses estabelecidos em dois assentamentos na costa oeste sobre os fiordes perto da ponta sudoeste da ilha. Eles prosperaram durante alguns séculos, mas, após quase 500 anos de habitação, desapareceram por volta do século XV.
  Os dados indicam que, entre 800 e 1300 d.C., as regiões em torno dos fiordes do sul da Groenlândia enfrentaram um clima relativamente ameno em comparação com o de hoje. Árvores e plantas herbáceas eram comuns, o clima permitia o desenvolvimento da agricultura e a criação de gado. Quando os reis noruegueses converteram seus domínios ao cristianismo, um bispo foi instalado na Groenlândia, subordinado à Arquidiocese de Nidaros (à época parte da Igreja Católica, hoje parte da Igreja Luterana da Noruega). Os assentamentos parecem ter coexistido relativamente pacificamente com os inuítes, que haviam migrado do sul do Ártico para as ilhas da América do Norte por volta de 1200. Em 1261, a Groenlândia tornou-se parte da Noruega.
Cânion de gelo na Groenlândia
  Por volta dos séculos XIV e XV, os assentamentos escandinavos desapareceram, provavelmente devido à fome e conflitos crescentes com os inuítes. Outros motivos, como a erosão excessiva dos solos, devido à destruição da vegetação natural para a agricultura, a obtenção de relva e madeira e a uma diminuição da temperatura durante a chamada Pequena Era Glacial, também favoreceram o desaparecimento dos assentamentos. A condição dos ossos humanos encontrados por arqueólogos a partir deste período, indica que a população norueguesa era desnutrida. Sugeriu-se que as práticas culturais, tais como a rejeição de peixes como fonte de alimento e a utilização exclusiva de gado mal-adaptado ao clima da Groenlândia, poderiam ter causado a fome, e a degradação ambiental levou finalmente ao abandono da colônia.
Qaqortoq - com uma população de 3.388 habitantes (estimativa 2019) é a quarta maior cidade da Groenlândia
  Em 1500, o Rei D. Manuel I de Portugal, teria enviado Gaspar Corte-Real à descoberta de terras e de uma "Passagem do Noroeste para a Ásia" Corte-Real chegou à Groenlândia pensando ser a Ásia, mas não desembarcou. Fez uma segunda viagem à Groenlândia em 1501, com o seu irmão Miguel Corte-Real e três caravelas. Encontrando o mar gelado, mudaram a rota para o Sul, chegando à terra que se pensa ter sido Labrador e Terra Nova.
  Dinamarca-Noruega reafirmou a reivindicação latente da Groenlândia para a colônia em 1721. Após as Guerras Napoleônicas, separou-se a Noruega da Dinamarca por exigência do Congresso de Viena, através daquele que ficou conhecido como Tratado de Kiel (1814). A Noruega uniu-se, então, à Suécia, situação que perdurou até 1905. A Dinamarca manteve as colônias da Islândia, Ilhas Faroé e Groenlândia. Governou também a Índia Dinamarquesa (Tranquebar) de 1620 a 1869, a Costa do Ouro Dinamarquesa (Gana) de 1658 a 1850 e as Índias Ocidentais Dinamarquesas (Ilhas Virgens Americanas) de 1671 a 1917.
Aasiaat - com uma população de 3.152 habitantes (estimativa 2019) é a quinta maior cidade da Groenlândia
  Durante a Segunda Guerra Mundial, a ligação entre a Groenlândia e a Dinamarca foi interrompida em 9 de abril de 1940, por ocasião da ocupação da Dinamarca pelas tropas da Alemanha Nazista. A Groenlândia foi capaz de comprar mercadorias provenientes dos Estados Unidos e do Canadá, através da venda do criolito da mina de Iviqtut. Durante a guerra, o sistema de governo mudou. O governador Eske Brun governou a ilha através de uma lei de 1925 que permitia a governadores assumir o controle sob circunstâncias extremas. O outro governador, Aksel Svane, foi transferido para os Estados Unidos para liderar uma comissão de abastecimento da Groenlândia. A Sirius Patrol (Patrulha de Trenó), guardando a costa nordeste da Groenlândia usando trenós puxados por cachorros, detectou e destruiu várias estações meteorológicas alemãs, dando à Dinamarca uma posição melhor no tumulto pós-guerra.
Maniitsoq - com uma população de 2.925 habitantes (estimativa 2019) é a sexta maior cidade da Groenlândia
  A Groenlândia foi uma área protegida e muito isolada até 1940. O governo dinamarquês, que governava a sua colônia, acreditava que a sociedade iria enfrentar exploração do mundo exterior ou até mesmo a extinção se a região fosse aberta. Porém, durante a Segunda Guerra Mundial, a Groenlândia desenvolveu um senso de autoconfiança através do seu autogoverno e comunicação independente com o mundo exterior.
  Entretanto, uma comissão, em 1946 (com o maior conselho groenlandês, o Landsradet, como participante) recomendou paciência e nenhuma reforma radical no sistema. Dois anos mais tarde, o primeiro passo em direção à mudança de governo foi dado, quando uma grande comissão foi fundada. Em 1950, o relatório G-50 foi apresentado. A Groenlândia deveria ser uma afluente sociedade moderna com a Dinamarca como país patrono e exemplo. Em 1953, a Groenlândia se transformou em parte do território dinamarquês. A autonomia foi concedida em 1979.
Tasiilaq - com uma população de 2.024 habitantes (estimativa 2019) é a sétima maior cidade da Groenlândia
GEOGRAFIA
  A Groenlândia é uma região autônoma da Dinamarca. Ocupa a ilha do mesmo nome e ilhas adjacentes, ao largo da costa nordeste da América do Norte. É a maior ilha do mundo e possui uma costa de mais de 44 mil quilômetros. Possui a segunda maior reserva de gelo do planeta, sendo ultrapassado apenas pela Antártica.
  A vegetação é, em geral, esparsa, com uma pequena zona de floresta no município de Nanortalik no extremo sul, perto de Cabo Farewell. O Vale Qinngua é notável por ser a única floresta natural da Groenlândia. Ele possui aproximadamente 15 quilômetros de norte a sul, terminando no Lago Tasersuag.
Vale Qinngua
  O clima é ártico a sub-ártico, com verões secos e invernos muito frios. O território é pouco montanhoso, existindo uma camada de gelo de declive gradual que cobre quase toda a ilha. A costa é majoritariamente rochosa e com falésias. O ponto mais elevado é a Serra de Gunnbjorn, com 3.694 metros. O extremo norte da ilha é o cabo Morris Jesup, descoberto pelo Almirante Robert Peary, em 1909.
Gunnbjorn - ponto mais elevado da Groenlândia
  A fauna é composta por animais que vivem no Ártico, destacando-se: lebre-ártica, arminho, raposa-polar, lobo-polar, rena, boi-almiscarado e urso-polar. Nas áreas costeiras há a presença de focas, baleias e baleias-com-dentes. O cão-groenlandês é típico da ilha. Entre as aves, destacam-se: escrevedeira-das-neves, corvo, águia-rabalva e coruja-das-neves. No mar há muito bacalhau e camarão.
  Os principais recursos naturais tradicionais são o bacalhau e o camarão - base da pesca -, assim como as focas e as baleias - base da caça.
  Recursos minerais também são abundantes na ilha, como zinco, chumbo, minério de ferro, carvão, molibdénio, ouro, prata e urânio.
  O processo de aquecimento global em curso, vem provocando um derretimento sucessivo da calota de gelo que cobre a Groenlândia. Isso implica um deslocamento para o norte do camarão.
  A cada ano a Groenlândia perde 240 km³ de gelo. O nível médio do mar já subiu 0,5 cm. O modo de vida dos inuits está ameaçado.
Paamiut - com uma população de 1.698 habitantes (estimativa 2019) é a oitava maior cidade da Groenlândia
POPULAÇÃO
  A Groenlândia tem uma população de 55.992 habitantes, segundo estimativas da ONU para 2019, dos quais 88% são inuites ou oriundos da miscigenação entre inuítes e dinamarqueses. Os 12% restantes são de origem europeia, principalmente dinamarqueses. A maioria da população é cristã da Igreja Luterana. Quase todos os groenlandeses vivem ao longo dos fiordes, no sudoeste da ilha principal, que possuem um clima relativamente ameno.
  Os inuítes possuem antenas parabólicas, rádio, telefone e internet.  Como o urso-polar, o homem inuít sofre por causa das mudanças bruscas do clima e da política ambiental mundial. Os groenlandeses inuítes recebem uma ajuda econômica da Dinamarca, país de onde vieram os primeiros colonizadores europeus.
Crianças inuítes
ECONOMIA
  A economia da Groenlândia é uma das menores da América do Norte, especialmente por causa de sua pequena população e adversidade climática. No entanto, caracteriza-se por ser uma sociedade com elevado desenvolvimento e por possuir um IDH muito elevado.
  Recursos minerais na ilha são abundantes, principalmente zinco, chumbo, minério de ferro, carvão mineral, molibdênio, ouro, platina, urânio e petróleo. A descoberta de petróleo, zinco e ouro em 1994, transformou a economia, que antes era bastante dependente da Dinamarca, país pelo qual é responsável pela defesa e pelas relações externas da ilha.
Narsaq - com uma população de 1.692 habitantes (estimativa 2019) é a nona mais populosa cidade da Groenlândia
  A pesca e a caça à baleias e focas é a principal atividade desenvolvida pelos groenlandeses. A caça à foca marca a vida dos habitantes do norte. A Groenlândia hoje é criticamente dependente da pesca e das exportações de pescado, sendo que a indústria da pesca de camarões é a atividade mais rentável.
  O turismo é uma atividade que vem crescendo muito nos últimos anos, porém, os recursos ainda são limitados, devido essa atividade ser desenvolvida mais no verão.
Nanortalik - com uma população de 1.518 habitantes (estimativa 2019) é a décima cidade mais populosa da Groenlândia
  O setor público, incluindo empresas públicas e municípios, desempenha um papel predominante na economia da Groenlândia. Cerca de metade das receitas governamentais vêm de subsídios do governo dinamarquês - um importante complemento ao PIB.
  A Groenlândia sofreu uma recessão econômica no início da década de 1990, se recuperando a partir de 1993. O governo tem adotado uma política de aperto fiscal desde o final dos anos 1980, o que contribuiu para criar um superávit orçamentário e manter a inflação baixa. Desde 1990, quando foi fechada a última mina de chumbo e zinco, a Groenlândia registra déficit na balança comercial.
Uummannaq - com uma população de 1.362 habitantes (estimativa 2019) é a 11ª cidade mais populosa da Groenlândia
ALGUNS DADOS SOBRE A GROENLÂNDIA
NOME: Groenlândia
AUTONOMIA: da Dinamarca desde 1 de maio de 1979
Autogoverno: 21 de junho de 2009
CAPITAL: Nuuk
Porto de Nuuk
GENTÍLICO: groenlandês
LÍNGUA OFICIAL: groenlandês
GOVERNO: Democracia Parlamentar Integrada numa Monarquia Constitucional
LOCALIZAÇÃO: América do Norte
ÁREA: 2.166.086 km² (11º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa para 2019): 55.992 habitantes (187°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 0,026 hab./km² (211°). Obs: a densidade demográfica, densidade populacional ou população relativa é a medida expressa pela relação entre a população total e a superfície de um determinado território.
CRESCIMENTO POPULACIONAL (ONU - Estimativa 2019): 0,6% (154°). Obs: o crescimento vegetativo, crescimento populacional ou crescimento natural é a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade de uma  determinada população.
CIDADES MAIS POPULOSAS (Estimativa para 2019):
Nuuk: 17.902 habitantes
Nuuk - capital da Groenlândia
Sisimiut: 5.839 habitantes
Sisimiut - segunda maior cidade da Groenlândia
Ilulissat: 4.817 habitantes
Ilulissat - terceira maior cidade da Groenlândia
PIB (FMI - 2018): US$ 2,173 bilhões (194º). Obs: o PIB (Produto Interno Bruto), representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer sejam países, estados ou cidades), durante um período determinado (mês, trimestre, ano).
PIB PER CAPITA (FMI 2018): US$ 43.365 (22°). Obs: o PIB per capita ou renda per capita é o Produto Interno Bruto (PIB) de um determinado lugar dividido por sua população. É o valor que cada habitante receberia se toda a renda fosse distribuída igualmente entre toda a população. 
IDH (ONU - 2018): 0,927 (11°). Obs: o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população. Este índice é calculado com base em dados econômicos e sociais, variando de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o país. No cálculo do IDH são computados os seguintes fatores: educação (anos médios de estudos), longevidade (expectativa de vida da população) e PIB per capita. A classificação é feita dividindo os países em quatro grandes grupos: baixo (de 0,0 a 0,500), médio (de 0,501 a 0,800), elevado (de 0,801 a 0,900) e muito elevado (de 0,901 a 1,0).
  Muito alto
  Alto
  Médio
  Baixo
  Sem dados
Mapa do IDH
EXPECTATIVA DE VIDA (OMS - 2018): 72,4 anos (100º). Obs: a expectativa de vida refere-se ao número médio de anos para ser vivido por um grupo de pessoas nascidas no mesmo ano, se a mortalidade em cada idade se mantém constante no futuro, e é contada da maior para a menor.
TAXA DE NATALIDADE (ONU - 2018): 16,01/mil (126º). Obs: a taxa de natalidade é a porcentagem de nascimentos ocorridos em uma população em um determinado período de tempo para cada grupo de mil pessoas, e é classificada do maior para o menor.
TAXA DE MORTALIDADE (CIA World Factbook - 2018): 8,6/mil (100º). Obs: o índice de mortalidade reflete o número de mortes registradas, em média por mil habitantes, em uma determinada região em um período de tempo e é contada da maior para a menor.
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2018): 9,83/mil (78°). Obs: a taxa de mortalidade infantil refere-se ao número de crianças que morrem no primeiro ano de vida entre mil nascidas vivas em um determinado período, e é classificada do menor para o maior.
Mapa da taxa de mortalidade infantil no mundo
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook - 2018): 1,97 filhos/mulher (122°). Obs: a taxa de fecundidade refere-se ao número médio de filhos que a mulher teria do início ao fim do seu período reprodutivo (15 a 49 anos), e é classificada do maior para o menor.
Mapa da taxa de fecundidade no mundo
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2018): 100% (1º). Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que sabem ler e escrever.
Mapa da taxa de alfabetização no mundo
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2018): 84,4% (26°). Obs: essa taxa refere-se a porcentagem da população que mora nas cidades em relação à população total.
Mapa da taxa de urbanização no mundo
MOEDA: Coroa Dinamarquesa
RELIGIÃO: cristianismo (96,6% - a maioria protestantes), sem religião (2,2%), religiões étnicas (0,7%), outras religiões (0,5%).
DIVISÃO: administrativamente, a Groenlândia está dividida desde 2009 em quatro municípios: Kujalleq, Qaasuitsup, Qeqqata e Sermersooq. O gigantesco Parque Nacional do Nordeste da Groenlândia não pertence a nenhum deles (é uma área não-incorporada). A Base Aérea de Thule (Pituffik), localiza-se num enclave do município de Qaasuitsup, e também não pertence a nenhum dos municípios.
Mapa da divisão administrativa da Groenlândia
REFERÊNCIA: Martinez, Rogério
#Contato geografia, 2º ano / Rogério Martinez, Wanessa Pires Garcia Vidal. - 1. ed. São Paulo: Quinteto Editorial, 2016. - (Coleção #contato geografia)

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

O BUDISMO

  O budismo é uma religião derivada do hinduísmo e teve origem na Índia. Seu fundador é o príncipe Sidarta Gautama, que nasceu em 560 a.C., no Nepal. Seus adeptos acreditam que Sidarta, aos 30 anos, abandonou uma vida de luxo em seu palácio para tentar conhecer a essência humana através de privações. Quando abandonou essas práticas de mortificação do corpo, atingiu o estado de suprema consciência por meio da meditação. Daí vem o nome Buda, título que significa "o iluminado". Nessa condição teria pregado sua mensagem por toda a Índia, atraindo muitos seguidores, que compilaram sua mensagem após sua morte, aos 80 anos.
  É dividido em três grandes tradições: theravada (também chamado de hinayana), mahayana e vajrayana (ou tantrayana). Essas tradições englobam as mais diversas escolas budistas, como o zen, terra pura, kadampa e o budismo tibetano. É estimado que existam 500 milhões de seguidores no mundo, sendo considerada a quinta maior religião em números de adeptos. O maior número de seus seguidores encontra-se no Oriente, em países como Japão, China, no Tibete (região autônoma da China) e Tailândia. No Brasil, segundo o Censo do IBGE 2010, existem aproximadamente 245 mil budistas.
Roda do Darma (Dharmachakra) - símbolo representando o dharma (lei) no hinduísmo e nos ensinamentos de Buda sobre o caminho para a iluminação
  No século III a.C., o chefe político do Império Mauria, Ashoka (304 a.C.-232 a.C.), que unificou o norte da Índia, converteu-se ao budismo após o morticínio em uma batalha. Deu, em sua época, grande impulso à expansão do budismo, enviando monges para territórios do atual Irã e do Turcomenistão, bem como para a Ásia Central e o Tibete. Também nessa época, o budismo se expandiu para o Sudeste Asiático (Camboja, Laos, Vietnã), chegando à atual Indonésia. No século II d.C., atingiu a China, de onde, misturado com tradições locais, chegou à Coreia e, no século V d.C., ao Japão. Com a expansão do islamismo e a retomada do hinduísmo na Índia, a presença budista se tornou pouco significativa.
  O budismo se tornou conhecido na Europa na época das Grandes Navegações, quando os portugueses chegaram à Ásia. Mas foi apenas no século XIX que começou a ser praticado nos países ocidentais. O líder budista mais conhecido na atualidade é o Dalai Lama, Tenzi Gyatso (1937-). Em razão da dominação da China sobre o território tibetano, vive exilado na Índia.
  A imensa maioria dos budistas do mundo está na Ásia Oriental. A maior parte deles vive na península da Indochina, onde a religião tem se expandido a partir dos anos 1990, após a liberação política ocorrida em vários países. Nos Estados Unidos, por exemplo, há mais de 3 milhões de budistas; na Europa, 1,5 milhão; e na América Latina, cerca de 700 mil.
Grande estátua do Buda Amitaba em Kamakura, no Japão
A VIDA DE BUDA
  Um dia ao sair do palácio, Sidarta teve contato com o sofrimento e a miséria. Foi então que resolveu isolar-se a fim de encontrar um método que pusesse fim ao sofrimento humano. Abandonou a vida mundana, tornando-se discípulo de respeitados ascetas. Anos depois, sozinho, aos 35 anos de idade, Sidarta realizou sua própria natureza búdica e, consequentemente, compreendeu o sofrimento, sua causa, extinção e o meio para extingui-lo.
  Logo, atraiu um grupo de seguidores e instituiu uma ordem monástica. A partir de então, passou seus dias ensinando o darma, viajando por toda a parte nordeste do Subcontinente Indiano. Ele sempre enfatizou que não era um Deus e que a capacidade de se tornar um buda pertencia ao ser humano. Faleceu aos 80 anos de idade, em 483 a.C., em Kushinagar, na Índia.
Estátua representando Buda feita em Sarnath, estado de Uttar Pradesh (Índia), no século IV d.C.
  De acordo com a narrativa convencional, Buda nasceu em Lumbini (hoje Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) por volta do ano 566 a.C., e cresceu em Capilvasto, ambos atuais localidades nepalesas. Logo após o nascimento de Sidarta, um astrólogo visitou o pai do jovem príncipe, Suddhodana, e profetizou que Sidarta ou iria se tornar um grande rei, ou renunciaria ao mundo material para se tornar um homem santo se, porventura, visse a vida fora das paredes do palácio.
  O rei Suddhodana estava determinado a ver seu filho se tornar um rei e, assim, impediu que ele saísse do palácio. Mas, aos 29 anos, apesar dos esforços do seu pai, Sidarta se aventurou para além do palácio diversas vezes. Em uma série de encontros (em locais conhecidos pela cultura budista como "quatro pontos"), ele soube do sofrimento das pessoas comuns, encontrando um homem velho, um outro doente, um cadáver e, finalmente, um asceta sadhu, representando a busca espiritual. Essas experiências levaram Gautama, eventualmente, a abandonar a vida material e ir em busca de uma vida espiritual.
Sidarta com seus cinco companheiros, que, mais tarde, compuseram a primeira Sangha (comunidade monástica budista). Pintura da parede de um templo budista no Laos
  Sidarta Gautama estudou sob diferentes mestres e desencantou-se com o resultado alcançado pelo que ensinavam. Chegou a praticar ascese rígida (prática que visa ao desenvolvimento espiritual), como jejum prolongado, restrição da respiração e outras formas de exposição da dor, muito comuns naquele tempo na Índia, e quase morreu ao longo do processo. Mas houve um episódio no qual uma jovem lhe ofereceu comida e ele aceitou: isso marcou sua renúncia a tais práticas. Concluiu que as práticas ascéticas extremas não traziam os resultados que buscava. Deduziu, então que as práticas eram prejudiciais aos praticantes. Ele abandonou o ascetismo, concentrando-se na meditação, através da qual descobriu o que hoje os budistas chamam de "caminho do meio": um caminho que não passa pela luxúria e pelos prazeres sensuais, mas que também não passam pelas práticas de mortificação do corpo.
  Quando tinha 35 anos, Sidarta sentou-se embaixo de uma figueira-dos-pagodes (Ficus religiosa), hoje conhecida como árvore de Bodhi, localizada em Bodh Gaya, na Índia, e prometeu não sair dali até conseguir atingir a iluminação espiritual.
  A lenda diz que Sidarta conheceu a dúvida sobre o sucesso de seus objetivos ao ser confrontado por um demônio chamado Mara, que simboliza o mundo das aparências, a tentação, comparado ao papel de Satanás, no cristianismo, e muitas vezes representado por uma cobra naja. Mara teria oferecido todos os tipos de prazeres e tentações a Sidarta, que, implacavelmente, repeliu Mara. Vencido Mara, Sidarta acordou para a Verdade, a Verdade da origem, da cessação e do caminho que levava ao fim do sofrimento, e se iluminou. Assim, por volta dos quarenta anos, Sidarta se transformou no Buda, o Iluminado.
Árvore Bodhi, em Bodh Gaya. Segundo a tradição, foi neste local que aconteceu a Iluminação de Sidarta Gautama
Carma: lei de causa e efeito
  No budismo, o Carma é a força de samsara (fluxo incessante de renascimento através dos mundos, experimentado pelos seres sencientes - sentir sensações e sentimentos) sobre alguém. Boas ações, e/ou ações ruins geram "sementes" na mente, que virão a aflorar nesta vida ou em um renascimento subsequente. Com o objetivo de cultivar as ações positivas, o sila é um conceito importante do budismo, geralmente, traduzido como "virtude", "boa conduta", "moral" e "preceito".
  O carma, na filosofia budista, refere-se especificamente a essas ações (do corpo, da fala e da mente) que brotam da intenção mental e que geram consequências (frutos) e/ou resultados (vipaka). Cada vez que uma pessoa age, há alguma qualidade de intenção em sua mente e essa intenção muitas vezes não é demonstrada pelo seu exterior, mas está em seu interior e determinará os efeitos dela decorrentes.
Tradicional thangka do budismo tibetano alusivo à "Roda da Vida", com seus seis reinos
  No budismo Teravada, não pode haver salvação divina ou perdão de um carma, uma vez que é um processo puramente impessoal que faz parte do Universo. Outras escolas, como a Maaiana, têm opiniões diferentes. Por exemplo, os textos dos sutras afirmam que, recitando ou simplesmente ouvindo seus textos, as pessoas podem expurgar grandes carmas negativos. Da mesma forma, outras escolas, como a Vajrayana, incentivam a prática dos mantras como meio de cortar um carma negativo.
  As escolas budistas variam sobre a natureza exata do caminho da libertação, a importância e a canonicidade de vários ensinamentos e, especialmente, suas práticas. Entretanto, as bases das tradições e práticas são as Três Joias: o Buda (como seu mestre), o Dharma (ensinamentos baseados nas leis do Universo) e a Sangha (a comunidade budista). Encontrar refúgio espiritual nas Três Joias ou Três Tesouros é, em geral, o que distingue um budista de um não budista. Outras práticas podem incluir a renúncia convencional de vida secular para se tornar um monge ou monja.
Templo budista em Três Coroas - RS
Renascimento
  Renascimento se refere a um processo pelo qual os seres passam por uma sucessão de vidas como uma das muitas formas possíveis de senciência (capacidade de sentir). Entretanto, o budismo rejeita conceitos de "autoestima" permanente ou "mente imutável", eterna, como é chamada no cristianismo e até mesmo no hinduísmo, pois no budismo existe a doutrina do anatta ("não eu"), sobre a existência de um "eu" permanente e imutável.
  De acordo com o budismo, o renascimento em existências subsequentes deve antes ser entendido como uma continuação dinâmica, um constante processo de mudança - "originação dependente" - determinado pelas leis de causa e efeito (carma), em vez da noção de um ser encarnado ou transmigrado de uma existência para outra.
  Cada renascimento ocorre dentro de um dos seis reinos, de acordo com os nossos reinos de desejos, podendo variar de acordo com as escolas:
1. Reino dos seres dos infernos: aqueles que vivem em um dos muitos infernos;
2. Reino dos fantasmas famintos: o reino de seres que padecem de necessidades sem alívio, sofrimento, remorsos, fome, sede, nudez, miséria, sintomas de doenças, entre outros;
3. Reino animal: um espaço de divisão com os humanos, mas considerado como outra vida;
4. Reino dos seres humanos: um dos reinos de renascimento, em que é possível atingir o nirvana (extinção definitiva do sofrimento humano alcançada por meio da supressão do desejo e da consciência individual);
5. Reino dos semideuses: variavelmente traduzido como "divindades humildes", titãs e antideuses. Não é reconhecido pelas escolas Teravada e Maaiana, que os consideram como devas de nível mais baixo;
6. Reino dividido: comparado ao paraíso.
Nascimento de Buda em Lumbini, Nepal, retratado na parede de um templo em Laos
  O renascimento em alguns dos céus mais altos, conhecido como o mundo de Suddhãvãsa (moradas puras), pode ser alcançado apenas por pessoas com enorme realização espiritual, conhecidos como não regressistas. Já o renascimento no reino sem forma, pode ser alcançado apenas por aqueles que podem meditar sobre o arupajhanas, o maior objeto de meditação.
  De acordo com o budismo praticado no leste asiático e o budismo tibetano, há um estado intermediário (o bardo) entre uma vida e a próxima. A posição Teravada ortodoxa rejeita esse conceito, no entanto, existem passagens no Samyutta Nikaya do Cânone Páli (coleção de textos em que a tradição Teravada é baseada) que parecem dar apoio à ideia de que Buda ensinou que existe um estado intermediário entre esta vida e a próxima.
Estátua de Buda Amida em Camacura, Japão
O ciclo Samsara
  Samsara é o ciclo das existências nas quais reinam o sofrimento e a frustração engendrados pela ignorância e pelos conflitos emocionais que dela resultam. O samsara compreende os três mundos superiores (deva, espiritual e seres humanos) e os três inferiores (seres ignorantes, inferiores e animais), julgados não por um valor, mas em função da intensidade de sofrimento.
  Os budistas acreditam, em sua maioria, no samsara. Este, por sua vez, é regido pelas leis do carma: a boa conduta produzirá bom carma e a má alma produzirá carma maléfico. Assim como os hindus, os budistas interpretam o samsara não esclarecido como um estado de sofrimento. Só nos libertaremos do samsara se atingirmos o estado total de aceitação, visto que nós sofremos por desejar coisas passageiras, e alcançamos o nirvana ou a salvação.
Monastério budista Taktsang, no Butão
As Quatro Nobres Verdades
  De acordo com o Cânone Páli, As Quatro Nobres Verdades foram os primeiros ensinamentos deixados por Buda depois de atingir o nirvana. Algumas vezes são consideradas como a essência dos ensinamentos do Buda e são apresentadas na forma de um diagnóstico médico:
1. a vida como a conhecemos é finalmente levada ao sofrimento e/ou mal-estar (dukkha), de uma forma ou de outra;
2. o sofrimento é causado pelo desejo (trishna). Isso é, muitas vezes, expressado como um engano agarrado a um certo sentimento de existência, a individualidade, ou para coisas ou fenômenos que consideramos causadores da felicidade e infelicidade. O desejo também tem seu aspecto negativo;
3. o sofrimento acaba quando termina o desejo. Isso é conseguido através da eliminação da ilusão (maya). Assim, alcançamos o estado de libertação do iluminado (bodhi);
4. esse estado é conquistado através dos caminhos ensinados pelo Buda.
Templo Angkor Wat, em Siem Reap - Camboja
O Nobre Caminho Óctuplo
O Nobre Caminho Óctuplo (A Quarta Nobre Verdade do Buda) é o caminho para o fim do sofrimento (dukkha). Tem oito seções, cada uma começando com a palavra samyak (que em sânscrito significa "corretamente" e "devidamente"), e são apresentados em três grupos:
  • prajnaé a sabedoria que purifica a mente, permitindo-lhe atingir uma visão espiritual da natureza de todas as coisas;
  • sila - é a ética ou moral, a abstenção de atos nocivo;
  • samadhi - é a disciplina mental necessária para desenvolver o domínio sobre a própria mente. Isso é feito através de práticas.
Palácio de Potala, em Lhasa - Tibete
Caminho do Meio
  Um importante princípio orientador da prática budista é o Caminho do Meio, que se diz ter sido descoberto por Buda, antes da sua iluminação. O Caminho do Meio tem várias denominações:

1. a prática de não extremismo - um caminho de moderação e distância entre a autoindulgência e a morte;
2. o meio-termo entre determinadas visões metafísicas;
3. uma explicação do nirvana (perfeita iluminação), um estado no qual fica claro que todas as dualidades aparentes do mundo são ilusórias;
4. outros termos para o sunyata, a última natureza de todos os fenômenos (na escola Maaiana).
Sera Monastery, em Lhasa - Tibete

REFERÊNCIA: Moreira, Igor
Vivá: geografia: volume 3: ensino médio / Igor Moreira - Curitiba: Positivo, 2016.

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

O GOLFO PÉRSICO E A PRODUÇÃO DE PETRÓLEO

  O Golfo Pérsico está localizado no Oriente Médio, como um braço do Mar da Arábia, entre a Península da Arábia e o Irã. Trata-se de um mar interior com cerca de 233.000 km², ligado ao mar da Arábia a leste pelo Estreito de Ormuz e pelo Golfo de Omã, e com seu limite a oeste marcado pelo delta do Xatalárabe, chamado Arvand-Rood pelos iranianos, que carrega as águas dos rios Tigres e Eufrates.
  Os países com litoral banhado pelo Golfo Pérsico são: Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Catar (que ocupa a península avançada sobre o golfo), Barein (uma ilha no golfo), Kuwait, Iraque e Irã. Todos estes países (com exceção do Iraque e do Irã), formam uma união econômica denominada Conselho de Cooperação do Golfo.
Mapa do Golfo Pérsico
  Existem diversas ilhas no golfo, algumas das quais são contestadas por estados vizinhos.
  O nome "Golfo Pérsico" foi emprestado de numerosas línguas antigas (inclusive o grego), sendo utilizado amplamente desde a Antiguidade, em razão de ali ter existido a Nação-Estado da Pérsia (onde hoje é o Irã).
  Em meados da década de 1960, com o surgimento do nacionalismo árabe, os países da região passaram a chamar o golfo de "Golfo da Arábia". O Irã, então, enviou duas petições para as Nações Unidas (em 1971 e 1984) exigindo o reconhecimento oficial da região como "Golfo Pérsico".
  A maioria dos países denomina a região "Golfo Pérsico", mas alguns países árabes usam o termo "Golfo da Arábia" ou simplesmente "o Golfo", havendo ainda uma proposta para o denominar "o golfo entre o Irã e a Península Arábica". O Irã tem feito uma campanha para garantir que o golfo seja oficialmente conhecido como Golfo Pérsico e não como Golfo da Arábia.
  Em outubro de 2018, a Organização Mundial da Propriedade Intelectual, como agência das Nações Unidas, registra em certificado oficial o Golfo Pérsico, baseado no Acordo de Lisboa para a Proteção de Denominações de Origem e seu Registro Internacional. O reconhecimento desse nome no Certificado de Registro da Pérola do Golfo Pérsico indicava o reconhecimento do nome da massa de água como tal. De acordo com este acordo baseado no direito internacional, nenhum país, governo ou organização pode usar outro nome para se referir ao Golfo Pérsico.
Navio petroleiro em chamas no Golfo Pérsico
  As maiores reservas de petróleo do mundo estão localizadas na região do Golfo Pérsico. Nesta região estima-se que existam aproximadamente 741 mil barris em jazidas de petróleo. A dinâmica das placas tectônicas é, em parte, responsável por essa grande concentração de petróleo.
  Durante a Era Mesozoica, e particularmente no período Cretáceo, quando a maior parte do petróleo se formou, a área do Golfo Pérsico era uma ampla e estável plataforma marinha que se estendia a leste da África, onde incontáveis micro-organismos viviam nas águas superficiais do oceano. Os restos desses organismos se acumularam com os sedimentos, no fundo desse oceano, e foram soterrados. Então, começou o complexo processo de formação das camadas geradoras de petróleo.
Distribuição dos campos petrolíferos do Golfo Pérsico
  Como consequência da abertura do Mar Vermelho e do Golfo de Aden, durante a Era Cenozoica, a placa da Arábia foi se afastando do nordeste da África e subductando sob o território do Irã. Como os sedimentos da passiva margem continental foram inicialmente subductados, durante os primeiros estágios da colisão entre Arábia e Irã, o calor quebrou as moléculas orgânicas e permitiu que o petróleo recém-formado migrasse para o seu interior. A subducção continuada, e a colisão com o Irã, dobrou as rochas, criando armadilhas estruturais para acumulação do petróleo. Assim, a vasta área ao sul da zona de colisão (conhecida como sutura de Zagros) é uma importante região petrolífera mundial.
Dubai - uma das cidades banhadas pelo Golfo Pérsico
REFERÊNCIA: Torrezani, Neiva Camargo
Vontade de saber geografia, 8º ano / Neiva Camargo Torrezani. 2. ed. - São Paulo: FTD, 2015

sexta-feira, 26 de julho de 2019

RELAÇÕES DE TRABALHO NO CAMPO

  As precárias condições de trabalho e a má distribuição de terras geram o fortalecimento dos movimentos sociais no campo, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em favor da reforma agrária.
  A baixa remuneração da mão de obra, a precariedade das condições de trabalho e a dificuldade de acesso à terra são alguns dos principais problemas enfrentados pelos trabalhadores rurais. Na maioria das culturas agrícolas, as atividades se concentram em uma ou duas épocas do ano (plantio e colheita) e, portanto, há poucos trabalhadores contratados e protegidos pelas leis trabalhistas (carteira de trabalho assinada).
  Os salários são baixos, principalmente nas pequenas propriedades tradicionais, nas quais a lucratividade é pequena e as incertezas são grandes quanto à comercialização da produção.
Trabalhador rural cultivando horta
  O uso de contratos de trabalho temporário, geralmente efetuados na época do plantio e da colheita, e a falta de aplicação dos direitos assegurados pelas leis trabalhistas no campo, como férias, décimo terceiro salário, aposentadoria e outros, dificultam as condições de sobrevivência do trabalhador rural.
  A modernização agrícola, ocorrida com o emprego de máquinas e equipamentos, propiciou o aumento da produtividade, principalmente nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, porém, esse aumento não é acompanhado pela expansão da oferta de emprego. Apesar disso, os empregos permanentes concentram-se nas grandes fazendas do Sudeste e Centro-Oeste. Nessas fazendas planta-se mais de uma lavoura, e as colheitas ocorrem em épocas diferentes. Assim, é necessário maior número de trabalhadores durante o ano todo.
  A melhoria das condições de trabalho e a luta pela terra constituem as principais reivindicações dos trabalhadores rurais.
A modernização do campo modificou a estrutura trabalhista no meio rural
Pequenos proprietários
  As propriedades rurais brasileiras de pequeno e médio porte são compostas por grande parte dos agricultores do país, geralmente são trabalhadores rurais que produzem diversas culturas com pouca tecnologia e mão de obra familiar.
  Ocasionalmente, essas propriedades são desprovidas de aplicação de técnicas, tecnologias e conhecimentos. Diante disso, sua produção agropecuária e agrícola é de baixa produtividade. Essa configuração rural encontra-se nessas condições em virtude da falta de incentivo por parte do governo, que não oferece linhas de crédito com facilidades para pagar, amparo técnico e subsídio.
  Mesmo com as adversidades, esses produtores respondem por grande parte dos alimentos dispostos no mercado interno. Boa parte dos alimentos da mesa dos brasileiros é oriunda dos pequenos agricultores. Esses produtores organizam-se a partir do núcleo familiar, nível baixo de profissionalização.
Geralmente nas pequenas propriedades prevalece a mão de obra familiar
Os posseiros
  Os posseiros são lavradores que, juntamente com sua família, ocupam pequenas áreas devolutas ou improdutivas, isto é, terras que não estão sendo utilizadas e que pertencem ao Estado.
  São trabalhadores rurais que têm a posse, mas não tem um documento oficial que prove que eles são os donos ou proprietários da terra.
Casas de posseiros na Amazônia
Grileiros
  O termo "grilagem" provém de uma técnica usada para o efeito de envelhecimento forçado de papéis, que consiste em colocar escrituras falsas dentro de uma caixa com grilos, de modo a deixar os documentos amarelados (devido aos excrementos dos insetos) e roídos, dando-lhes uma aparência antiga e, por consequência, verdadeiro.
  Os grileiros são, geralmente, grandes empresas ou fazendeiros que se utilizam da força e da violência para se apropriar de terras devolutas ou terras trabalhadas por posseiros. Contratam jagunços (capangas) para "limpar" o terreno, ou seja, expulsar índios e posseiros que, porventura, estejam ali fixados. Conseguem a documentação do imóvel (títulos de propriedade), muitas vezes falsificadas, transformando a terra em objeto de especulação imobiliária ou instrumento de negócios.
Os assalariados rurais temporários
  Os assalariados rurais temporários, também chamados de assalariados sazonais e mais conhecidos como boias-frias, são aqueles que trabalham temporariamente nas lavouras comerciais. Esse regime de trabalho é comumente encontrado nas lavouras de cana-de-açúcar, laranja, feijão, algodão e frutas tropicais. O emprego desse tipo de mão de obra, porém, é mais numeroso nas lavouras canavieiras, principalmente na época do corte da cana.
  Os boias-frias recebem seu pagamento de acordo com a produção diária. Essa condição leva o agricultor a trabalhar uma quantidade excessiva de horas por dia, para receber uma remuneração razoável.
  Antigamente, os boias-frias eram, em geral, moradores das áreas rurais ou filhos de agricultores que procuravam as áreas periféricas das cidades para se fixar. Mais recentemente, tem crescido o número de desempregados urbanos que procuram trabalhos temporários nas fazendas. Estas, muitas vezes, localizam-se em áreas próximas às cidades e organizam o transporte diário dos trabalhadores para as áreas de plantio.
Trabalhadores temporários no corte da cana-de-açúcar
Os assalariados permanentes
  Os assalariados permanentes são trabalhadores rurais que recebem salário fixo e são amparados por todos os direitos trabalhistas previstos em lei. Esses trabalhadores podem residir na propriedade ou não.
Parceria
  A parceria refere-se a um acordo pela qual o parceiro-proprietário cede ao parceiro-produtor o uso da terra, partilhando com este os riscos do caso imprevisto e da força maior e os frutos da colheita ou venda dos animais. Prepondera, nesse tipo de relação, a comunhão das forças e dos resultados, sendo que a partilha dos frutos deve obedecer a proporções compatíveis com os meios de produção disponibilizados por cada um dos parceiros. O lucro é dividido conforme o acordo pré-estabelecido.
Arrendatário
  O arrendamento é um contrato de cessão de um fator de produção, pelo qual seu proprietário o entrega a outro para ser explorado, mediante determinada remuneração.
  O sistema de arrendamento de terras já era usado na época da expansão romana e constitui-se um dos traços característicos dos regimes agrários de muitos países.
  Quando se realiza o contrato de arrendamento, uma pessoa se obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel rural ou partes do mesmo, incluindo ou não outros bens, benfeitorias ou facilidades, com o objetivo de nele ser exercida a atividade de exploração agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista, mediante certa retribuição ou aluguel, observados os limites percentuais da Lei.
  O traço característico nesse tipo de relação é que o arrendatário, além de cobrir todos os riscos da atividade agrícola, se obriga a pagar quantia líquida e certa para o arrendador, independente da produção.
Trabalho escravo
  Grande parte dos trabalhadores rurais ainda busca melhores condições de trabalho e a ampliação das oportunidades de emprego no campo.
  A pior situação é a dos trabalhadores submetidos a condições de escravidão. Existe trabalho escravo em todo o país. O trabalho escravo ocorre quando o trabalhador não tem direitos trabalhistas, não recebe salário, pois tudo que é utilizado é cobrado, desde a alimentação até as ferramentas de trabalho.
  Em geral, os trabalhadores são aliciados em áreas muito pobres para trabalhar temporariamente, com a promessa de receber um salário pelo serviço. No entanto, os fazendeiros cobram pela moradia e pela comida muito mais do que pagam pelo trabalho. Os trabalhadores ficam com dívidas e são impedidos de sair das fazendas. Em muitos casos, eles são ameaçados por pessoas armadas contratadas pelos fazendeiros. Os estados brasileiros com maior incidência de trabalho escravo são Pará, Mato Grosso e Goiás.
  Submeter alguém a trabalho escravo é crime pelas leis brasileiras e internacionais, constituindo um grave atentado aos direitos humanos.
REFERÊNCIA: Sampaio, Fernando dos Santos
Para viver juntos: geografia, 7º ano: anos finais: ensino fundamental / Fernando dos Santos Sampaio, Marlon Clóvis Medeiros: organizadora Edições SM: obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida por Edições SM: editor responsável Fábio Bonna  Moreirão. -- 4. ed. -- São Paulo: Edições SM, 2015. -- (Para viver juntos)

quinta-feira, 18 de julho de 2019

OS CROQUIS

  Um croquis (palavra francesa eventualmente traduzida para o português como croqui, esboço ou rascunho) costuma se caracterizar como um desenho de moda ou um esboço qualquer.
  Croqui é uma importante forma de representação utilizada no estudo dos elementos presentes em uma paisagem. Por meio desse recurso, pode-se representar uma paisagem com seus elementos naturais e culturais, destacando, dessa forma, como se apresenta a natureza nessa porção da superfície terrestre e como ela tem sido ocupada e transformada pela sociedade.
  Na Geografia, croquis é um esboço à mão de um mapa, e em Artes é um esboço de um desenho.
Croquis do Mapa-Múndi durante o período das Grandes Navegações
  Um croquis não exige grande precisão, refinamento gráfico ou mesmo cuidados com sua preservação. Costuma ser realizado em intervalos de tempo relativamente curtos, como períodos de 10 a 15 minutos. O que costuma ser mais importante no croquis é o registro gráfico de uma ideia instantânea, através de uma técnica de desenho rápida e descompromissada.
  Usa-se a palavra em francês, pois normalmente seu correspondente em português (esboço) pode possuir, dependendo do contexto, um significado diferente, especialmente quando se trata do desenho arquitetônico, para o qual o croquis possui um papel de destaque, sendo considerado uma etapa do projeto. Neste contexto, o croquis costuma ser considerado um desenho bastante pessoal usado principalmente para discutir ideias.
Croqui representando o espaço geográfico
  Um croquis, dado o seu aspecto de instantaneidade e diálogo informal, não costuma seguir regras formais de desenho ou técnicas muito elaboradas. Os principais materiais para elaboração de croquis são aqueles que não exigem um refinamento maior de desenho: lápis, barras de grafite, contés, pastéis, crayons, entre outros. Quanto à técnica de desenho, normalmente não envolve gestos elaborados ou refinados, como o claro-escuro e o sfumato. Costuma caracterizar-se como um desenho de linha pura, com eventuais texturas rápidas, mais representativas que realistas.
  Para produzir croquis cartográficos, são utilizados recursos sensoriais e cognitivos para sistematizar informações relativas ao estudo da paisagem e da linguagem cartográfica, desenvolvendo habilidades que permitem compreender os processos de produção e transformação dos lugares por meio da ação humana.
Croqui do Plano Piloto, em Brasília
REFERÊNCIA: Garcia, Valquíria Pires
Projeto mosaico: geografia: ensino fundamental / Valquíria Pires Garcia, Beluce Belucci. 1. ed. - São Paulo: Scipione, 2015.

domingo, 14 de julho de 2019

ARQUIPÉLAGO DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO: UMA DAS ILHAS OCEÂNICAS DO BRASIL

  O arquipélago de São Pedro e São Paulo é um conjunto de pequenas ilhas rochosas e pedregosas pertencentes ao estado de Pernambuco. Se situa na parte central do Oceano Atlântico equatorial, estando distante 627 quilômetros do arquipélago de Fernando de Noronha, 986 quilômetros do ponto mais próximo do continente e 987 quilômetros de Natal - RN. Apesar de pertencer à Pernambuco é mais próximo do Rio Grande do Norte.
  Em 1998, foi inaugurada a estação científica na ilha Belmonte, dando início ao Programa Arquipélago de São Pedro e São Paulo (Proarquipélago) sob a administração da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM). A presença permanente de cientistas na estação científica é necessária para provar a habitabilidade no arquipélago, que é fundamental para obter o seu reconhecimento internacional como território brasileiro. Eventualmente, radioamadores expedicionários apoiados pelas Forças Armadas efetuam contatos internacionais via rádio HF e satélite, reforçando a presença brasileira na região.
Estação Científica e Farol da Marinha do Brasil
  Antigamente, o arquipélago era chamado popularmente de "Penedo de São Pedro e São Paulo" ou "Rochedo de São Pedro e São Paulo".
  O sistema de previsão do clima na região ocidental do oceano Atlântico Tropical, baseado apenas em dados obtidos por satélites, mostra-se insuficiente para entender a variabilidade do clima. Assim, estudos desenvolvidos a partir da instalação de uma estação meteorológica no Arquipélago de São Pedro e São Paulo, além de contribuírem para o conhecimento da climatologia do Oceano Atlântico como um todo, permitem a formulação de modelos mais eficientes de previsão climática, possibilitando, assim, a avaliação dos impactos sobre as anomalias do clima, como a seca no Nordeste do Brasil e a formação de tempestades tropicais.
  Na área de Geologia e Geofísica Marinha, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo representa uma oportunidade única para melhor conhecer a estrutura do manto superior, já que o mesmo constitui-se de uma formação geológica que decorre do fato de o Arquipélago constituir um afloramento do manto suboceânico resultante de uma falha transformante da Dorsal Meso-Atlântica. Esse afloramento se eleva de profundidades abissais - em torno de quatro mil metros - até a poucos metros acima da superfície. Devido estar situado em uma falha transformante, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo é um dos pontos do território brasileiro com maior atividade sísmica, aspecto de particular relevância para o desenvolvimento de estudos de sismologia.
Mapa da localização e posicionamento geotectônico do Arquipélago de São Pedro e São Paulo
  Em relação à Oceanografia Física, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo, em função de sua proximidade da Linha do Equador, representa um local altamente privilegiado para o desenvolvimento de estudos acerca do Sistema Equatorial de Correntes, no qual encontra-se inserido, sofrendo a influência direta da Corrente Sul-Equatorial e da Corrente Equatorial Submersa. Essa última é uma das mais rápidas, variáveis e menos conhecidas entre todas as correntes oceânicas do Atlântico, chegando a atingir velocidades superiores a 100 cm/s. Do ponto de vista hidrológico, o desenvolvimento de pesquisas no entorno do ASPSP contribui para melhor entendimento dos fenômenos de enriquecimento, resultantes da interação entre as correntes oceânicas e o relevo submarino, a exemplo de ressurgência orográfica - afloramento de águas profundas ricas em nutrientes, ao encontrarem a porção de rocha submersa da ilha.
Base Científica mantida pela Marinha do Brasil no ASPSP
  Em decorrência de sua localização, o ASPSP é, também, uma área de enorme importância biológica, pois exerce papel relevante no ciclo de vida de várias espécies que têm, no arquipélago, etapa importante de suas rotas migratórias, quer como área de reprodução - como o peixe-voador - quer como zona de alimentação, como é o caso da albacora-laje e de crustáceos (lagostim), aves (atobá), quelônios (tartaruga-de-pente), e mamíferos aquáticos (golfinho nariz-de-garrafa). Estudos genéticos para identificação das populações presentes no ASPSP, poderão esclarecer questões ainda pendentes em relação à estrutura populacional de espécies de grande valor comercial, como o espadarte. A posição estratégica do ASPSP torna-o local ideal para o desenvolvimento de um trabalho dessa natureza.
  Além de pesquisas genéticas, trabalhos de marcação e telemetria realizados com as espécies presentes no ASPSP em muito poderão contribuir para elucidar seus movimentos migratórios, tanto em pequena escala (movimentos diários, no entorno do Arquipélago), como em larga escala (migrações sazonais transoceânicas).
Golfinhos nariz-de-garrafa - espécie que procura as águas do ASPSP para se alimentar
  Em função de seu posicionamento remoto, o ASPSP apresenta também elevado grau de endemismo, ocorrência de espécies somente encontradas na região, constituindo-se a presença da Estação Científica em importante ação para o conhecimento e conservação da biodiversidade e do patrimônio genético nacional. Algumas espécies bastante raras, como o tubarão-baleia, são encontradas com relativa frequência nas proximidades do Arquipélago, que oferece, assim, excelente oportunidade para estudos de comportamento.
  Além de sua importância ecológica, do ponto de vista econômico, o ASPSP constitui também uma das mais importantes áreas de pesca do Nordeste brasileiro, sendo bastante visitada por embarcações baseadas em portos nordestinos, principalmente em Natal-RN e Recife-PE. Desde 1988, a frota atuneira sediada em Natal, mantém pesca regular nas adjacências do Arquipélago, objetivando a captura de espécies pelágicas migratórias, como o peixe-rei, a albacora-laje e o peixe-voador.
Tubarão-baleia - espécie comum nas águas do ASPSP
  Além da importância do Arquipélago de São Pedro e São Paulo nos aspectos científico, econômico e social, soma-se, ainda, seu significado estratégico para o País, no cenário político internacional. A convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), assinada pelo Brasil em 1982 e ratificada em dezembro de 1988, mudou a ordem jurídica internacional relativa aos espaços marítimos, instituindo o direito de os Estados costeiros explorarem e aproveitarem os recursos naturais da coluna d'água, do solo e do subsolo dos oceanos, presentes na sua Zona Econômica Exclusiva. No entanto, em relação ao Regime de Ilhas, o artigo 121 da Convenção, em seu parágrafo 3°, afirma que: "os rochedos por si próprios não se prestam à habitação humana ou à vida econômica não devem ter Zona Econômica Exclusiva nem Plataforma Continental". O desenvolvimento do Programa Arquipélago, a partir da garantia da presença humana permanente, além da geração contínua de informações científicas, contribui, de forma decisiva, para o efetivo estabelecimento da Zona Econômica Exclusiva brasileira no entorno do ASPSP, como diz a CNUDM.
O Brasil e sua Zona Econômica Exclusiva
  Outro aspecto político de grande significação estratégica reside no fato de o ASPSP situar-se no Atlântico Norte, fator de importância crucial na definição de cotas de capturas dos recursos de atuns e afins do Atlântico.
  Além de constituir um ecossistema único para o desenvolvimento de pesquisas científicas nas áreas de meteorologia, geologia e oceanografia, incluindo seus componentes físico, químico e biológico, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo possui grande importância ecológica, econômica, social e política para o Brasil.
  O Arquipélago de São Pedro e São Paulo situa-se na zona de expansão entre a Placa Sul-Americana e a Placa Africana. O sistema da falha transformante de São Paulo (Saint Paul Transform Fault System) é uma das maiores falhas transformantes do Oceano Atlântico, ocorrendo em cerca de 630 quilômetros de descontinuidade dos segmentos da cadeia mesooceânica. Esta é uma das regiões mais profundas do Oceano Atlântico e algumas localidades têm mais de 5.000 metros de profundidade. A morfologia abissal apresenta que o Arquipélago situa-se no topo de uma elevação morfológica submarina, com comprimento de 100 quilômetros, largura de 20 quilômetros e altura aproximada de 3.800 metros a partir do fundo do oceano, denominada Cadeia Peridotítica de São Pedro e São Paulo. Sendo de diferentes vulcões submarinos, esta saliência é constituída por duas elevações tabulares orientadas segundo o sentido leste-oeste, apresentando uma forma similar a  Brachiosaurus cuja cabeça é direcionada à leste. Nos flancos do Arquipélago, a partir do nível do mar até 1.000 metros de profundidade, ocorre taludes de alto ângulo, em torno de 50° de inclinação. Ao sul do Arquipélago existe uma escarpa vertical com altura maior que 2.000 metros. Essas morfologias submarinas instáveis sugerem que o soerguimento do Arquipélago foi originado de um tectonismo recente, que está em continuação até o presente.
Morfologia submarina em torno do Arquipélago de São Pedro e São Paulo
  A rocha constituinte do Arquipélago de São Pedro e São Paulo é o peridotito serpentinizado, uma rocha ultramáfica. O ASPSP corresponde à única localidade do Oceano Atlântico em que o manto abissal está exposto acima do nível do mar.
  Os artigos científicos revelam que as rochas ultramáficas do manto abissal expostas no Arquipélago são, provavelmente, originado de megamullion. Este fato é devido ao soerguimento tectônico ativo que ocorreu após sua exposição no fundo do oceano, há aproximadamente 7 milhões de anos. Esse soerguimento está em aceleração e continuará por até mais 7 milhões de anos.
Duas plataformas de abrasão marinha encontradas na Ilha Belmonte
  As rochas foram descobertas acidentalmente por navegadores portugueses, quando a Armada de 20 de abril de 1511, composta por seis caravelas, sob o comando do Capitão-mor D. Garcia de Noronha, com destino à Índia aí registrou o seu primeiro naufrágio (de acordo com o Livro das Armadas, apenas duas das suas embarcações chegaram ao seu destino). Navegando em mar aberto, em noite fechada, ouviu-se de súbito o rugir das ondas, e antes que fosse possível qualquer providência, a "São Pedro", sob o comando do capitão Manuel de Castro Alcoforado, encontrava-se encalhada sobre um dos rochedos, com os fundos abertos. A tripulação foi resgatada por outra caravela da mesma esquadra, a "São Paulo", tendo o episódio dado o nome aos rochedos. Figuram pela primeira vez em um mapa espanhol de 1513, de autoria do navegador Juan da Nova Castello e, posteriormente, em 1529, em outro, do navegador português Diego Ribero.
  O primeiro desembarque registrado nos rochedos foi o do francês Bouvet du Losier (1738), seguido pelo do norte-americano Amasa Delano, no comando do Perseverance (1803) e pelo britânico George Criton, a bordo do HMS Rhin (1806). O seu visitante mais famoso foi Charles Darwin, que ali desembarcou na manhã de 16 de fevereiro de 1832, na primeira parte de sua viagem ao redor do mundo, a bordo do "HMS Beagle".
Arquipélago visto do periscópio do submarino nuclear estadunidense USS Triton
  As primeiras fotos dos rochedos foram feitas pela equipe do Scotia, em viagem à Antártida em 1902. Pouco mais tarde, em 1911, a tripulação do Deutschland iniciou um estudo dos mesmos. Por eles também passou o irlandês Ernest Henry Shackleton, a bordo do "Quest", em 1921.
  Outros visitantes ilustres foram Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que ali amarraram com o Lusitânia em 1922, para reabastecimento com o Cruzador República, da Marinha Portuguesa.
  Em 1930, o navio Belmonte, da Marinha do Brasil, instalou o primeiro farol, missão que levou um ano para ser concluída. Um terremoto destruiria parcialmente esse farol em 1933 e o atual foi inaugurado apenas em 1995.
  À época da Segunda Guerra Mundial, a área recebeu a visita de embarcações norte-americanas e, na década de 1960, de cientistas estrangeiros. O Brasil só passou a ocupar os rochedos de forma permanente a partir de 1996.
  Nenhum dos rochedos dispõe de água potável. Apenas a maior ilha possui vegetação, que é rasteira e rala. Essa vegetação, no entanto, não é natural do arquipélago, sendo suas sementes transportadas do continente em meio a terra utilizada para o preparo do cimento e concreto na construção e manutenção da estação científica e do farol. Os penedos servem de abrigo a diversas espécies de aves marinhas, que os cobrem com os seus excrementos, formando o guano, um tipo de adubo orgânico natural.
Aves que visitam constantemente os arquipélagos
REFERÊNCIA: Geografia espaço e vivência, 7º ano / Levon Boligian [et al.]. -- 5. ed. -- São Paulo: Saraiva, 2015.

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