quarta-feira, 21 de agosto de 2019

O BUDISMO

  O budismo é uma religião derivada do hinduísmo e teve origem na Índia. Seu fundador é o príncipe Sidarta Gautama, que nasceu em 560 a.C., no Nepal. Seus adeptos acreditam que Sidarta, aos 30 anos, abandonou uma vida de luxo em seu palácio para tentar conhecer a essência humana através de privações. Quando abandonou essas práticas de mortificação do corpo, atingiu o estado de suprema consciência por meio da meditação. Daí vem o nome Buda, título que significa "o iluminado". Nessa condição teria pregado sua mensagem por toda a Índia, atraindo muitos seguidores, que compilaram sua mensagem após sua morte, aos 80 anos.
  É dividido em três grandes tradições: theravada (também chamado de hinayana), mahayana e vajrayana (ou tantrayana). Essas tradições englobam as mais diversas escolas budistas, como o zen, terra pura, kadampa e o budismo tibetano. É estimado que existam 500 milhões de seguidores no mundo, sendo considerada a quinta maior religião em números de adeptos. O maior número de seus seguidores encontra-se no Oriente, em países como Japão, China, no Tibete (região autônoma da China) e Tailândia. No Brasil, segundo o Censo do IBGE 2010, existem aproximadamente 245 mil budistas.
Roda do Darma (Dharmachakra) - símbolo representando o dharma (lei) no hinduísmo e nos ensinamentos de Buda sobre o caminho para a iluminação
  No século III a.C., o chefe político do Império Mauria, Ashoka (304 a.C.-232 a.C.), que unificou o norte da Índia, converteu-se ao budismo após o morticínio em uma batalha. Deu, em sua época, grande impulso à expansão do budismo, enviando monges para territórios do atual Irã e do Turcomenistão, bem como para a Ásia Central e o Tibete. Também nessa época, o budismo se expandiu para o Sudeste Asiático (Camboja, Laos, Vietnã), chegando à atual Indonésia. No século II d.C., atingiu a China, de onde, misturado com tradições locais, chegou à Coreia e, no século V d.C., ao Japão. Com a expansão do islamismo e a retomada do hinduísmo na Índia, a presença budista se tornou pouco significativa.
  O budismo se tornou conhecido na Europa na época das Grandes Navegações, quando os portugueses chegaram à Ásia. Mas foi apenas no século XIX que começou a ser praticado nos países ocidentais. O líder budista mais conhecido na atualidade é o Dalai Lama, Tenzi Gyatso (1937-). Em razão da dominação da China sobre o território tibetano, vive exilado na Índia.
  A imensa maioria dos budistas do mundo está na Ásia Oriental. A maior parte deles vive na península da Indochina, onde a religião tem se expandido a partir dos anos 1990, após a liberação política ocorrida em vários países. Nos Estados Unidos, por exemplo, há mais de 3 milhões de budistas; na Europa, 1,5 milhão; e na América Latina, cerca de 700 mil.
Grande estátua do Buda Amitaba em Kamakura, no Japão
A VIDA DE BUDA
  Um dia ao sair do palácio, Sidarta teve contato com o sofrimento e a miséria. Foi então que resolveu isolar-se a fim de encontrar um método que pusesse fim ao sofrimento humano. Abandonou a vida mundana, tornando-se discípulo de respeitados ascetas. Anos depois, sozinho, aos 35 anos de idade, Sidarta realizou sua própria natureza búdica e, consequentemente, compreendeu o sofrimento, sua causa, extinção e o meio para extingui-lo.
  Logo, atraiu um grupo de seguidores e instituiu uma ordem monástica. A partir de então, passou seus dias ensinando o darma, viajando por toda a parte nordeste do Subcontinente Indiano. Ele sempre enfatizou que não era um Deus e que a capacidade de se tornar um buda pertencia ao ser humano. Faleceu aos 80 anos de idade, em 483 a.C., em Kushinagar, na Índia.
Estátua representando Buda feita em Sarnath, estado de Uttar Pradesh (Índia), no século IV d.C.
  De acordo com a narrativa convencional, Buda nasceu em Lumbini (hoje Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) por volta do ano 566 a.C., e cresceu em Capilvasto, ambos atuais localidades nepalesas. Logo após o nascimento de Sidarta, um astrólogo visitou o pai do jovem príncipe, Suddhodana, e profetizou que Sidarta ou iria se tornar um grande rei, ou renunciaria ao mundo material para se tornar um homem santo se, porventura, visse a vida fora das paredes do palácio.
  O rei Suddhodana estava determinado a ver seu filho se tornar um rei e, assim, impediu que ele saísse do palácio. Mas, aos 29 anos, apesar dos esforços do seu pai, Sidarta se aventurou para além do palácio diversas vezes. Em uma série de encontros (em locais conhecidos pela cultura budista como "quatro pontos"), ele soube do sofrimento das pessoas comuns, encontrando um homem velho, um outro doente, um cadáver e, finalmente, um asceta sadhu, representando a busca espiritual. Essas experiências levaram Gautama, eventualmente, a abandonar a vida material e ir em busca de uma vida espiritual.
Sidarta com seus cinco companheiros, que, mais tarde, compuseram a primeira Sangha (comunidade monástica budista). Pintura da parede de um templo budista no Laos
  Sidarta Gautama estudou sob diferentes mestres e desencantou-se com o resultado alcançado pelo que ensinavam. Chegou a praticar ascese rígida (prática que visa ao desenvolvimento espiritual), como jejum prolongado, restrição da respiração e outras formas de exposição da dor, muito comuns naquele tempo na Índia, e quase morreu ao longo do processo. Mas houve um episódio no qual uma jovem lhe ofereceu comida e ele aceitou: isso marcou sua renúncia a tais práticas. Concluiu que as práticas ascéticas extremas não traziam os resultados que buscava. Deduziu, então que as práticas eram prejudiciais aos praticantes. Ele abandonou o ascetismo, concentrando-se na meditação, através da qual descobriu o que hoje os budistas chamam de "caminho do meio": um caminho que não passa pela luxúria e pelos prazeres sensuais, mas que também não passam pelas práticas de mortificação do corpo.
  Quando tinha 35 anos, Sidarta sentou-se embaixo de uma figueira-dos-pagodes (Ficus religiosa), hoje conhecida como árvore de Bodhi, localizada em Bodh Gaya, na Índia, e prometeu não sair dali até conseguir atingir a iluminação espiritual.
  A lenda diz que Sidarta conheceu a dúvida sobre o sucesso de seus objetivos ao ser confrontado por um demônio chamado Mara, que simboliza o mundo das aparências, a tentação, comparado ao papel de Satanás, no cristianismo, e muitas vezes representado por uma cobra naja. Mara teria oferecido todos os tipos de prazeres e tentações a Sidarta, que, implacavelmente, repeliu Mara. Vencido Mara, Sidarta acordou para a Verdade, a Verdade da origem, da cessação e do caminho que levava ao fim do sofrimento, e se iluminou. Assim, por volta dos quarenta anos, Sidarta se transformou no Buda, o Iluminado.
Árvore Bodhi, em Bodh Gaya. Segundo a tradição, foi neste local que aconteceu a Iluminação de Sidarta Gautama
Carma: lei de causa e efeito
  No budismo, o Carma é a força de samsara (fluxo incessante de renascimento através dos mundos, experimentado pelos seres sencientes - sentir sensações e sentimentos) sobre alguém. Boas ações, e/ou ações ruins geram "sementes" na mente, que virão a aflorar nesta vida ou em um renascimento subsequente. Com o objetivo de cultivar as ações positivas, o sila é um conceito importante do budismo, geralmente, traduzido como "virtude", "boa conduta", "moral" e "preceito".
  O carma, na filosofia budista, refere-se especificamente a essas ações (do corpo, da fala e da mente) que brotam da intenção mental e que geram consequências (frutos) e/ou resultados (vipaka). Cada vez que uma pessoa age, há alguma qualidade de intenção em sua mente e essa intenção muitas vezes não é demonstrada pelo seu exterior, mas está em seu interior e determinará os efeitos dela decorrentes.
Tradicional thangka do budismo tibetano alusivo à "Roda da Vida", com seus seis reinos
  No budismo Teravada, não pode haver salvação divina ou perdão de um carma, uma vez que é um processo puramente impessoal que faz parte do Universo. Outras escolas, como a Maaiana, têm opiniões diferentes. Por exemplo, os textos dos sutras afirmam que, recitando ou simplesmente ouvindo seus textos, as pessoas podem expurgar grandes carmas negativos. Da mesma forma, outras escolas, como a Vajrayana, incentivam a prática dos mantras como meio de cortar um carma negativo.
  As escolas budistas variam sobre a natureza exata do caminho da libertação, a importância e a canonicidade de vários ensinamentos e, especialmente, suas práticas. Entretanto, as bases das tradições e práticas são as Três Joias: o Buda (como seu mestre), o Dharma (ensinamentos baseados nas leis do Universo) e a Sangha (a comunidade budista). Encontrar refúgio espiritual nas Três Joias ou Três Tesouros é, em geral, o que distingue um budista de um não budista. Outras práticas podem incluir a renúncia convencional de vida secular para se tornar um monge ou monja.
Templo budista em Três Coroas - RS
Renascimento
  Renascimento se refere a um processo pelo qual os seres passam por uma sucessão de vidas como uma das muitas formas possíveis de senciência (capacidade de sentir). Entretanto, o budismo rejeita conceitos de "autoestima" permanente ou "mente imutável", eterna, como é chamada no cristianismo e até mesmo no hinduísmo, pois no budismo existe a doutrina do anatta ("não eu"), sobre a existência de um "eu" permanente e imutável.
  De acordo com o budismo, o renascimento em existências subsequentes deve antes ser entendido como uma continuação dinâmica, um constante processo de mudança - "originação dependente" - determinado pelas leis de causa e efeito (carma), em vez da noção de um ser encarnado ou transmigrado de uma existência para outra.
  Cada renascimento ocorre dentro de um dos seis reinos, de acordo com os nossos reinos de desejos, podendo variar de acordo com as escolas:
1. Reino dos seres dos infernos: aqueles que vivem em um dos muitos infernos;
2. Reino dos fantasmas famintos: o reino de seres que padecem de necessidades sem alívio, sofrimento, remorsos, fome, sede, nudez, miséria, sintomas de doenças, entre outros;
3. Reino animal: um espaço de divisão com os humanos, mas considerado como outra vida;
4. Reino dos seres humanos: um dos reinos de renascimento, em que é possível atingir o nirvana (extinção definitiva do sofrimento humano alcançada por meio da supressão do desejo e da consciência individual);
5. Reino dos semideuses: variavelmente traduzido como "divindades humildes", titãs e antideuses. Não é reconhecido pelas escolas Teravada e Maaiana, que os consideram como devas de nível mais baixo;
6. Reino dividido: comparado ao paraíso.
Nascimento de Buda em Lumbini, Nepal, retratado na parede de um templo em Laos
  O renascimento em alguns dos céus mais altos, conhecido como o mundo de Suddhãvãsa (moradas puras), pode ser alcançado apenas por pessoas com enorme realização espiritual, conhecidos como não regressistas. Já o renascimento no reino sem forma, pode ser alcançado apenas por aqueles que podem meditar sobre o arupajhanas, o maior objeto de meditação.
  De acordo com o budismo praticado no leste asiático e o budismo tibetano, há um estado intermediário (o bardo) entre uma vida e a próxima. A posição Teravada ortodoxa rejeita esse conceito, no entanto, existem passagens no Samyutta Nikaya do Cânone Páli (coleção de textos em que a tradição Teravada é baseada) que parecem dar apoio à ideia de que Buda ensinou que existe um estado intermediário entre esta vida e a próxima.
Estátua de Buda Amida em Camacura, Japão
O ciclo Samsara
  Samsara é o ciclo das existências nas quais reinam o sofrimento e a frustração engendrados pela ignorância e pelos conflitos emocionais que dela resultam. O samsara compreende os três mundos superiores (deva, espiritual e seres humanos) e os três inferiores (seres ignorantes, inferiores e animais), julgados não por um valor, mas em função da intensidade de sofrimento.
  Os budistas acreditam, em sua maioria, no samsara. Este, por sua vez, é regido pelas leis do carma: a boa conduta produzirá bom carma e a má alma produzirá carma maléfico. Assim como os hindus, os budistas interpretam o samsara não esclarecido como um estado de sofrimento. Só nos libertaremos do samsara se atingirmos o estado total de aceitação, visto que nós sofremos por desejar coisas passageiras, e alcançamos o nirvana ou a salvação.
Monastério budista Taktsang, no Butão
As Quatro Nobres Verdades
  De acordo com o Cânone Páli, As Quatro Nobres Verdades foram os primeiros ensinamentos deixados por Buda depois de atingir o nirvana. Algumas vezes são consideradas como a essência dos ensinamentos do Buda e são apresentadas na forma de um diagnóstico médico:
1. a vida como a conhecemos é finalmente levada ao sofrimento e/ou mal-estar (dukkha), de uma forma ou de outra;
2. o sofrimento é causado pelo desejo (trishna). Isso é, muitas vezes, expressado como um engano agarrado a um certo sentimento de existência, a individualidade, ou para coisas ou fenômenos que consideramos causadores da felicidade e infelicidade. O desejo também tem seu aspecto negativo;
3. o sofrimento acaba quando termina o desejo. Isso é conseguido através da eliminação da ilusão (maya). Assim, alcançamos o estado de libertação do iluminado (bodhi);
4. esse estado é conquistado através dos caminhos ensinados pelo Buda.
Templo Angkor Wat, em Siem Reap - Camboja
O Nobre Caminho Óctuplo
O Nobre Caminho Óctuplo (A Quarta Nobre Verdade do Buda) é o caminho para o fim do sofrimento (dukkha). Tem oito seções, cada uma começando com a palavra samyak (que em sânscrito significa "corretamente" e "devidamente"), e são apresentados em três grupos:
  • prajnaé a sabedoria que purifica a mente, permitindo-lhe atingir uma visão espiritual da natureza de todas as coisas;
  • sila - é a ética ou moral, a abstenção de atos nocivo;
  • samadhi - é a disciplina mental necessária para desenvolver o domínio sobre a própria mente. Isso é feito através de práticas.
Palácio de Potala, em Lhasa - Tibete
Caminho do Meio
  Um importante princípio orientador da prática budista é o Caminho do Meio, que se diz ter sido descoberto por Buda, antes da sua iluminação. O Caminho do Meio tem várias denominações:

1. a prática de não extremismo - um caminho de moderação e distância entre a autoindulgência e a morte;
2. o meio-termo entre determinadas visões metafísicas;
3. uma explicação do nirvana (perfeita iluminação), um estado no qual fica claro que todas as dualidades aparentes do mundo são ilusórias;
4. outros termos para o sunyata, a última natureza de todos os fenômenos (na escola Maaiana).
Sera Monastery, em Lhasa - Tibete

REFERÊNCIA: Moreira, Igor
Vivá: geografia: volume 3: ensino médio / Igor Moreira - Curitiba: Positivo, 2016.

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