Nos últimos anos, diversos estudos têm sido dedicados à história da Didática no Brasil, suas relações com as tendências pedagógicas e à investigação do campo de conhecimentos. No Brasil, as tendências pedagógicas são classificadas em dois grupos: as de cunho liberal - Pedagogia Tradicional, Pedagogia Renovada e Tecnicismo Educacional -, e as de cunho progressista - Pedagogia Libertadora e Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos.
PEDAGOGIA TRADICIONAL
A Didática é uma disciplina normativa, um conjunto de princípios e regras que regulam o ensino. A atividade de ensinar é centrada no professor que expõe e interpreta a matéria. Às vezes são utilizados meios como a apresentação de objetos, ilustrações, exemplos, mas o meio principal é a palavra, a exposição oral. Supõe-se que ouvindo e fazendo exercícios repetitivos, os alunos "gravam" a matéria para depois reproduzi-la, seja através das interrogações do professor, seja através de provas. Para isso é importante que o aluno "preste atenção", porque ouvindo facilita-se o registro do que se transmite na memória. O aluno é, assim, um recebedor da matéria e sua tarefa é decorá-la. Os objetivos, explícitos e implícitos, referem-se à formação de um aluno ideal, desvinculado da sua realidade concreta. O professor tende a encaixar os alunos num modelo idealizado de homem que nada tem a ver com a vida presente e futura. A matéria de ensino é tratada isoladamente, desvinculada dos interesses dos alunos e dos problemas reais da sociedade e da vida. O método é dado pela lógica e sequência da matéria, é o meio utilizado pelo professor para comunicar a matéria e não dos alunos para aprendê-la. É forte a presença dos métodos intuitivos. Baseiam-se na apresentação de dados sensíveis, de modo que os alunos possam observá-los formar imagens deles em sua mente.
PEDAGOGIA RENOVADA
Inclui várias correntes: a Progressivista (que se baseia na teoria educacional de John Dewey), a não-diretiva (principalmente inspirada em Carl Rogers), a ativista-empiritualista (de orientação católica), a culturalista, a piagetiana, a montessoriana e outras. Todas de alguma forma estão ligadas ao movimento da pedagogia ativa que surge no final do século XIX como contraposição à Pedagogia Tradicional.
DIDÁTICA DA ESCOLA NOVA OU DIDÁTICA ATIVA
É entendida como "direção da aprendizagem", considerando o aluno como sujeito da aprendizagem. O que o professor tem a fazer é colocar o aluno em condições propícias para que, partindo das suas necessidades e estimulando os seus interesses, possa buscar por si mesmo, conhecimentos e experiências. A ideia é a de que o aluno aprende fazendo, no sentido de trabalho manual, ações de manipulação de objetos. Trata-se de colocar o aluno em situações em que seja mobilizada a sua atividade global e que se manifesta em atividade intelectual, atividade de criação, de expressão verbal, escrita, plástica ou outro tipo. O centro da atividade escolar não é o professor nem a matéria, é o aluno ativo e investigador. O professor incentiva, orienta, organiza as situações de aprendizagem, adequando-as às capacidades de características individuais dos alunos. Por isso a didática ativa dá grande importância aos métodos e técnicas como trabalho de grupo, atividades cooperativas, estudo individual, pesquisas, projetos, experimentações etc., bem como os métodos de reflexão e método científico de descobrir conhecimentos. Tanto na organização das experiências de aprendizagem como na seleção de métodos, importa o processo de aprendizagem e não diretamente o ensino. O melhor método é aquele que atende as exigências psicológicas do aprender. A Didática ativa dá menos atenção aos conhecimentos sistematizados, valorizando mais o processo de aprendizagem e os meios que possibilitam o desenvolvimento das capacidades e habilidades intelectuais dos alunos. Os adeptos da Escola Nova costumam dizer que o professor não ensina, antes, ajuda os alunos a aprender, ou seja, a Didática não é a direção do ensino, é a orientação da aprendizagem, uma vez que esta é uma experiência própria do aluno através da pesquisa, da investigação.
DIDÁTICA MODERNA
Surgiu a partir dos anos de 1950, sendo uma proposta de Luis Alves de Mattos. A Didática Moderna é inspirada na pedagogia da cultura, corrente pedagógica de origem alemã. Mattos identifica sua Didática com as seguintes características: o aluno é o fator pessoal decisivo na situação escolar; em função dele giram as atividades escolares para orientá-lo e incentivá-lo na sua educação e na sua aprendizagem, tendo em vista desenvolver-lhe a inteligência e formá-lhe o caráter e a personalidade. O professor é o incentivador, orientador e controlador da aprendizagem, organizando o ensino em função das reais capacidades dos alunos e do desenvolvimento dos seus hábitos de estudo e reflexão. A matéria é o conteúdo onde se encontram os valores lógicos e sociais a serem assimilados pelos alunos; está a serviço do aluno para formar as suas estruturas mentais, e por isso, sua seleção, dosagem e apresentação. Vinculam-se às necessidades e capacidades reais dos alunos. O método representa o conjunto dos procedimentos para assegurar a aprendizagem, isto é, existe em função da aprendizagem, razão pela qual, a par de estar condicionado pela natureza da matéria, relaciona-se com a psicologia do aluno.
Para Mattos, o ensino é a atividade direcional sobre o processo de aprendizagem e a aprendizagem é a atividade mental intensiva e propositada do aluno em relação aos dados fornecidos pelos conteúdos culturais.
Definindo a Didática como disciplina normativa, técnica de dirigir e orientar eficazmente a aprendizagem das matérias tendo em vista os seus objetivos educativos, Mattos propõe a "Teoria do Ciclo Docente", que é o método didático em ação. O ciclo docente, abrangendo as fases de planejamento, orientação e controle da aprendizagem e suas subfases, é definido como "o conjunto de atividades exercidas, em sucessão ou ciclicamente, pelo professor, para dirigir e orientar o processo de aprendizagem dos seus alunos, levando-o a bom termo. É o método em ação.
TECNICISMO EDUCACIONAL
Embora seja considerada como uma tendência pedagógica, inclui-se, em certo sentido, na Pedagogia Renovada. Desenvolveu-se no Brasil na década de 1950, à sombra do progressivismo, ganhando nos anos 60 autonomia quando constituiu-se especificamente como tendência, inspirada na teoria behaviorista da aprendizagem e na abordagem sistêmica do ensino.
A Didática instrumental está interessada na racionalização do ensino, no uso de meios e técnicas mais eficazes. O sistema de instrução se compõe das seguintes etapas:
a) especificação de objetivos instrucionais operacionalizados;
b) avaliação prévia dos alunos para estabelecer pré-requisitos para alcançar objetivos;
c) ensino ou organização das experiências de aprendizagem;
d) avaliação dos alunos relativo ao que se propôs nos objetivos iniciais.
O arranjo mais simplificado dessa sequência resultou na fórmula: objetivos, conteúdos, estratégias, avaliação. O professor é um administrador e executor do planejamento, o meio de previsão das ações a serem executadas e dos meios necessários para atingir os objetivos.
PEDAGOGIA LIBERTADORA
Retomou as propostas de educação popular dos anos 60, refundindo seus princípios e práticas em função das possibilidades do seu emprego na educação formal em escolas públicas, e inicialmente tinha caráter extra-escolar, não-oficial e voltada para o atendimento da clientela adulta. Na Pedagogia Libertadora, o professor se põe diante de uma classe com a tarefa de orientar a aprendizagem dos alunos. A atividade escolar é centrada na discussão de temas sociais e políticos, em um ensino centrado na realidade social, em que o professor se põe diante da classe com a tarefa de orientar a aprendizagem dos alunos, em que professor e alunos analisam problemas e realidade do meio socioeconômico e cultural, da comunidade local, com seus recursos e necessidades, tendo em vista a ação coletiva frente a esses problemas e realidades. O trabalho escolar não se assenta, prioritariamente, nos conteúdos de ensino já sistematizados, mas no processo de participação ativa nas discussões e nas ações práticas sobre questões da realidade social imediata. Nesse processo em que se realiza a discussão, os relatos da experiência vivida, a assembleia, a pesquisa participante, o trabalho em grupo etc., vão surgindo temas geradores que podem vir a ser sistematizados para efeito de consolidação de conhecimentos. É uma didática que busca desenvolver o processo educativo como tarefa que se dá no interior dos grupos sociais e por isso o professor é coordenador ou animador das atividades que se organizam sempre pela ação conjunta dele e dos alunos.
Paulo Freire - principal nome da Pedagogia Libertadora
PEDAGOGIA CRÍTICO-SOCIAL
Inspirou-se no materialismo histórico dialético, constituindo-se como movimento pedagógico interessado na educação popular, na valorização da escola pública e do trabalho do professor, no ensino de qualidade para o povo e, especificamente, na acentuação da importância do domínio sólido por parte dos professores e alunos, dos conteúdos científicos do ensino como condição para a participação efetiva do povo nas lutas sociais. Para essa tendência pedagógica, o ensino consiste na mediação de objetivos-conteúdos-métodos, que assegure o encontro formativo entre os alunos e as matérias escolares, que é o fator decisivo da aprendizagem.
A Pedagogia Crítico-Social dos conteúdos atribui grande importância à Didática, cujo objetivo de estudo é o processo de ensino nas suas relações e ligações com a aprendizagem. As ações de ensinar e aprender formam uma unidade, mas cada uma tem a sua especificidade. A Pedagogia Crítico-Social busca uma síntese superadora de traços significativos da Pedagogia Tradicional e da Escola Nova. Postula para o ensino a tarefa de propiciar aos alunos o desenvolvimento de suas capacidades e habilidades intelectuais, mediante a transmissão e assimilação ativa dos conteúdos escolares, articulando, no mesmo processo, a aquisição de noções sistematizadas e as qualidades individuais dos alunos que lhes possibilitam a auto-atividade e a busca independente e criativa das noções.
FONTE: Libâneo, José Carlos. Didática / José Carlos Libâneo. - São Paulo: Cortez, 1994. - (Coleção magistério. 2º grau. Série formação do professor).