quarta-feira, 23 de novembro de 2011

AS TENSÕES NO MAGREB


  O Magreb é uma extensa região situada no norte da África, banhada pelo oceano Atlântico e pelo mar Mediterrâneo, e que apresenta influência predominantemente islâmica. A partir do século XIX, foi submetido ao processo de partilha da África entre as potências europeias. O Marrocos, a Argélia, a Tunísia e a Mauritânia, ficaram sob o domínio francês. O Saara Ocidental e o norte do Marrocos, sob o domínio da Espanha, e a Líbia, da Itália.
  Ao contrário do que ocorreu na África Subsaariana, onde as fronteiras entre os países foram traçadas de maneira arbitrária, no Magreb, as fronteiras já que já existiam antes do domínio europeu foram mantidas. Apenas as fronteiras ao sul, já no deserto do Saara, foram traçadas pelos próprios franceses, que dominavam também áreas na África Central. Essas fronteiras ao sul são contestadas pelo governo da Líbia, Muammar Khadafi, que presidiu o país desde 1970.
  As independências de alguns desses países ocorreram em situações diferentes: enquanto Marrocos e Tunísia tiveram processos pacíficos em 1956, a Argélia teve um processo de independência extremamente violento, com milhares de mortos, só concluído em 1962.
Conflito nas ruas de Argel, capital da Argélia na luta pela independência em 1960
  A partir das independências, os dois principais países magrebinos tomaram rumos diferentes. O Marrocos manteve-se como monarquia. A Argélia passou por um longo período de guerras civis, entre 1992 e 2002.
  Entre os países do Magreb, é na Argélia que a presença islâmica é mais forte. O contexto político-religioso e as oscilações do preço do petróleo, que geram crises econômicas, têm sido os fatores preponderantes da instabilidade argelina.
Veja agora os principais conflitos dessa região.
ARGÉLIA
  A Guerra da Argélia ocorreu entre 1954 e 1962. Foi um conflito civil pela independência do país, tendo dois principais partidos revolucionários: o FLN (Frente de Libertação Nacional) e o MNA (Movimento Nacional Argelino). Embora ambos quisessem a proclamação de independência da Argélia, havia uma divergência entre os intransigentes da Argélia francesa e os seguidores da política desenvolvida pelo General De Gaulle. Assim, surgiram duas guerras, uma contra o domínio francês e outra entre os dois partidos revolucionários argelinos. Quanto à guerra entre o principal partido, FLN, e a França, colonizadora do país desde 1830, foi marcada pelos ataques em massa, ataques terroristas de ambos os lados, além de torturas por parte do lado francês. Essas políticas da França foram escondidas da população francesa, que era claramente contra as crueldades. Para isso, o governo francês censurou vários jornais e meios de comunicação para esconder a verdade.
Ataques terrorista durante a guerra da independência na Argélia
  Na luta contra as correntes do partido MNA, o FLN venceu e após vários conflitos, a França teve que reconhecer a independência da Argélia em 5 de julho de 1962. Os enfrentamentos entre islâmicos e o governo argelino condicionam o presente e o futuro da Argélia, quatro décadas depois da proclamação da República Democrática.
  A difícil luta pela independência fortaleceu o movimento nacionalista integrado na FLN que se instalou no poder, estabelecendo um regime de partido único. As crises econômicas e políticas que assolaram o país, entretanto, fizeram com que dirigentes religiosos inserissem o radicalismo islâmico na vida argelina.
Radicais islâmicos da Argélia
  Em 30 de dezembro de 1991, os integrantes da Frente Islâmica de Salvação (FIS) ganharam o primeiro turno das eleições. Seu triunfo, porém, foi barrado pelos militares que obrigaram o presidente Chadli Benvedid a suspender o processo eleitoral, declarar o FIS ilegal e decretar estado de exceção. Diante dessa repressão, o Exército Islâmico de Salvação (EIS) constituiu-se como braço armado da FIS, concentrando seus ataques a alvos militares. Além disso, o Grupo Islâmico Armado (GIA) declarou guerra aos estrangeiros que viviam no país.
Chadli Benvedid - ex-presidente argelino
  Após o golpe militar, Benvedid saiu do poder, que foi passado para o herói da independência Mohamed Budiaf, presidente do Alto Comitê de Estado (ACE), criado especialmente para contornar a crise política. Em 29 de julho de 1992, entretanto, Budiaf foi assassinado e o militar Belaid Abdesalam assumiu a presidência declarando guerra total à Frente Islâmica de Salvação. Desde então, o enfrentamento entre os extremistas islâmicos e as forças do governo tem sido constante.
  Em janeiro de 1994, o Alto Comitê encerrou suas atividades. Foi criado, então, o Conselho Nacional de Transição (CNT), que, substituindo a Assembleia Nacional, impôs uma nova lei eleitoral. Em outubro desse mesmo ano foi eleito como presidente Liamin Zerual, que assumiu o cargo conclamando a população a dar um basta nos confrontos político-religiosos no país. Para isso, convocou um referendo para modificar a Constituição de 1976 e excluir os partidos religiosos ou regionais.
Liamin Zerual
  Em 1997, o Exército Islâmico de Salvação decretou uma trégua unilateral. Porém, as matanças por parte dos grupos radicais continuaram. Dois anos depois, o presidente Abdelaziz Bouteflika concedeu a anistia para vários presos políticos. Numa consulta popular, o povo argelino pronunciou-se a favor da paz no país. Porém, após a vitória nas eleições de 2002, em pleno 40º aniversário da independência da Argélia, o terrorismo islâmico voltou a assolar o país, deixando 35 mortos e mais de 80 feridos. Os enfrentamentos entre o governo e os radicais islâmicos têm se mantido sem trégua até os dias atuais.
Argel - capital da Argélia
  Atualmente a situação na Argélia continua a ser crítica, já que os massacres e atentados não cessaram. Apesar disso o poder político diz que a situação se encontra estabilizada, não negando, porém, a ajuda econômica da União Europeia e fazendo os possíveis para manter a cooperação euromediterrânica.
  A população civil na Argélia é quem mais sofre, no entanto, não se consegue apurar qual a sua verdadeira opinião, uma vez que na Argélia a população aterrorizada tenta tomar partido de uns ou de outros, conforme a situação, uma vez que nesta guerra não se pode ser neutro, há que tentar jogar com as facções em conflito de forma a assegurar a sobrevivência. A resistência continua a ser a única forma encontrada pela população para atenuar os ataques terroristas.
O SAARA OCIDENTAL
  A região conhecida como Saara Ocidental foi colonizada pelos espanhóis de 1884 a 1975. Nesse ano, a Espanha desocupou a região, deixando para trás um país sem infraestrutura e com muitas carências, cuja taxa de analfabetismo é de cerca de 90%.
  Com a saída da Espanha, os países vizinhos Marrocos e Mauritânia se aproveitaram da situação e ocuparam o território, com a maior parte dele ficando sob domínio marroquino. Ambos os países utilizaram argumentos históricos para invadirem o território. No entanto, há fortíssimos interesses econômicos, em uma região rica em recursos minerais, entre os quais o fosfato.
Extração de fosfato no Saara Ocidental
  Desde a ocupação marroquina a Argélia tem apoiado o movimento rebelde de libertação do Saara Espanhol - a Frente Polisário - e abriga acampamentos de refugiados saaráuis em seu território.
  Em fevereiro de 1976 foi formalmente proclamada a República Árabe Saarauí Democrática (RASD), que é administrada por um governo no exílio em Tindouf, na Argélia. Em 2001, a África do Sul foi o 60º país a reconhecer o Saara Ocidental como país independente. No entanto, o Marrocos continua ocupando o país.
AS ORIGENS DA FRENTE POLISÁRIO
  A Frente Polisário (Frente pela Libertação da Saguia el Hamra e Rio de Oro), foi inicialmente criada para libertar o Saara Ocidental da ocupação espanhola. Este movimento armado tornou-se independentista e anti-marroquino após os acordos de Madri de 14 de Novembro de 1975 entre a Espanha, Marrocos e Mauritânia. Nessa altura os sarauís não foram chamados para fazer parte das negociações tendo ficado o sentimento de serem simples "objetos" no xadrez político. Com isso, a Argélia aproveitou para tirar partido desse descontentamento para fomentar sua hostilidade contra o Marrocos.
Muro Militar ou Muro da Vergonha, construído pelo Marrocos no Saara Ocidental
  Após vários conflitos armados, a Frente Polisário instala-se na Argélia com vários refugiados. Um cessar-fogo foi conseguido em 1991 entre a Frente Polisário e o Marrocos. Entretanto, entre 1980 e 1987, o Marrocos já tinha erguido um muro de 2720 km, que inclui praticamente todo o território do Saara Ocidental. Ao longo dessa cintura de segurança, encontram-se 160.000 militares marroquinos para defender o território. A Argélia forneceu armamento à Frente Polisário até pelo menos 1991. Atualmente, fornece o seu apoio financeiro e, sobretudo, diplomático.
Mapa do Muro Militar
O CAMPO DE REFUGIADO DE TINDOUF
  A vida nos campos de refugiados de Tindouf é miserável. A ajuda humanitária é sistematicamente desviada do povo sarauí que a devia receber para alimentar uma enorme rede de mercado negro. Recentemente, a ajuda foi reduzida por se ter chegado à conclusão que o número de refugiados era de 90.000 pessoas e não de 165.000 como o fazia crer a Frente Polisário. Esse número inflacionado da população tinha dois objetivos: uma maior ajuda humanitária e um maior número de votantes, em caso de elições com vista à autodeterminação do povo sarauí.
Campo de refugiado de Tindouf
  Sistematicamente ignorado na comunicação social ocidental, existe um movimento unionista sarauí. São eles que controlam as câmaras no Saara Ocidental ocupado pelos marroquinos, tendo igualmente representantes em ambos os órgãos parlamentares de Rabat. Estes preconizam um projeto de autonomia alargada numa união com o Marrocos.
O INTERESSE DA ARGÉLIA NO SAARA OCIDENTAL
  Além da rivalidade secular com o Marrocos, esse território é uma das mais ricas zonas de pesca do mundo. Representa também um acesso à costa Atlântica, o que facilita as suas exportações, nomeadamente de gás natural.
El Aaiún - capital do Saara Ocidental
INTERESSE DOS PAÍSES OCIDENTAIS
  A Espanha apóia a Frente Polisário por razões históricas contra o Marrocos, o rival que lhe fez frente. A França e os Estados Unidos apoiam o Marrocos, para evitar uma desestabilização da região, mantendo, contudo, boas relações com a Argélia. Porém, todos querem preservar a rica e vata zona de pesca do Saara Ocidental, e alimentam os seus apetites nos recursos minerais e no petróleo.
A TUNÍSIA
  Pela primeira vez na história, um líder árabe foi deposto por força de movimentos populares. Isso aconteceu na Tunísia, país muçulmano localizado no norte da África. O presidente Zine Al-Abdine Bem Ali renunciou em janeiro de 2011 após um mês de violentos protestos contra o governo. Ele estava há 23 anos no poder. Essa revolta que derrubou Zine Al-Abdine Ben Ali, foi chamada de Revolução de Jasmim ou Revolução Tunisiana.
Zine Al-Abdine Bem Ali
  Há décadas que governos árabes resistem a reformas democráticas. A Revolução de Jasmim, é uma sucessão de manifestações insurrecionais ocorrida na Tunísia entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011 que levou à saída do presidente da República Zine Al Abdine Bem Ali, que ocupava o cargo desde 1987.
  O novo ativismo no mundo árabe é explicado pela instabilidade econômica e pelo surgimento de uma juventude bem educada e insatisfeita com as restrições à liberdade.
  Na Tunísia, os protestos começaram depois da morte de um desempregado, em 17 de dezembro de 2010. Mohamed Bouazizi, de 26 anos, ateou fogo ao próprio corpo na cidade de Sidi Bouzid. Ele se autoimolou depois que a polícia o impediu de vender frutas e vegetais em uma barraca de rua.
Protestos na Tunísia
  O incidente motivou passeatas na região, uma das mais pobres da Tunísia, contra a inflação e o desemprego. A partir daí, o movimento se espalhou pelo país e passou a reivindicar também mudanças políticas.
  O governo foi pego de surpresa e reagiu com violência. Mais de 120 pessoas morreram em confrontos com a polícia. Na capital Tunis, foi decretado estado de emergência e toque de recolher. Mas, mesmo assim, milhares de manifestantes tomaram as ruas.
  Ben Ali foi o segundo presidente da Tunísia desde que o país se tornou independente da França, em 1956. Ele chegou à presidência por meio de um golpe de Estado. Em 2009, foi reeleito com quase 90% dos votos válidos para um mandato de mais de cinco anos.
  Depois de dissolver o Parlamento e o governo, Bem Ali deixou o país junto com a família, rumo à Arábia Saudita. No seu lugar, assumiu o primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi, um aliado político. Por isso, na prática, o regime foi mantido, e os manifestantes continuaram protestando, exigindo a saída de todos os ministros ligados ao ex-presidente.
Mohammed Ghannouchi
  A Tunísia é o país mais europeu do continente africano, com uma classe média e liberal, alta renda per capita e belas praias mediterrâneas. Mas também possui um dos governos mais corruptos e repressivos de toda a região.
  A história do país é parecida com as demais nações árabes: foi domínio otomano, colônia europeia e, depois, ditadura. A falta de liberdades civis em países como a Tunísia, sempre foi compensada por progresso econômico. Porém, nos últimos anos houve um descontentamento da classe média e pobre por causa do desemprego, corrupção, pobreza e falta de liberdade.
Tunís - capital da Tunísia
  Após a Revolução de Jasmin, houve a Primavera Árabe, onda de levantes populares que começou na Tunísia e se espalhou por vários países do Oriente Médio, e que levou a queda de alguns ditadores, como Hosni Mubarak, no Egito,e Muammar al-Gaddafi, da Líbia. Este último foi morto recentemente pelas tropas rebeldes do país.
Corpo de Muammar Gadafi, após ser morto por tropas rebeldes da Líbia
 FONTE: Geografia, 3° ano: ensino médio / organizadores: Fernando dos Santos Sampaio, Ivone Silveira Sucena - 1. ed. - São Paulo: Edições SM, 2010. - (Coleção ser protagonista)

AS AGROINDÚSTRIAS

  A agropecuária é o núcleo central da produção agrícola e representa o processo de cultivo de plantas e de criação de animais. Normalmente, é o campo que fornece os produtos para a indústrias de transformação e os alimentos in natura (em sua forma natural) para o consumo.
  Assim, a agropecuária é composta pela agricultura (que se divide em lavouras temporárias e permanentes), pela pecuária (criações de aves, gado etc.) e pelo extrativismo comercial.
  Há vários tipos de agroindústria: 
1. Agroindústria de processamento - transforma os produtos vindos da agropecuária em bens de consumo. São exemplos disso o setor têxtil e de vestuário (com a transformação do algodão e de outras fibras naturais), o setor alimentício (sucos, bebidas, café, leite, alimentos processados etc.) e a agroindústria florestal (madeira, papel, celulose, móveis etc.).
Produtos da agroindústria de processamento
2. Agroindústria de bens de capital - responde pela produção de insumos e instrumentos que possibilitam o aumento da produtividade na agricultura. Estão nesse ramo industrial a produção de tratores, colheitadeiras e implementos agrícolas, os sistemas de irrigação, as indústrias de fertilizantes, corretivos e defensivos, a produção de ração animal e a de sementes melhoradas, mudas etc.
Máquinas agrícolas - fazem parte da agroindústria de bens de capitais
3. Agrosserviços - estão ligados ao desenvolvimento de serviços que influem diretamente na produção agropecuária. O agrosserviço divide-se em três ramos distintos:
a) Agrosserviço de preparação e logística - nele se incluem casas de beneficiamento para frutas frescas (laranjas, maçãs, uvas etc.), o setor de armazenamento (silos, armazéns, depósitos etc.), estruturas de seleção e empacotamento (para arroz, feijão, milho, batata, cebola etc.) e o setor de transporte (para produtos perecíveis, hortifrútis e cargas em geral).
Silos agrícolas - compreende os agrosserviços de preparação e logística
b) Agrosserviço de aprimoramento e ampliação - está associado à prestação de serviços especializados na gestão e no aprimoramento dos negócios agropecuários, tais como a manutenção de equipamentos agrícolas (assistência técnica, oficinas etc.), o planejamento e gerenciamento financeiro e contábil, serviços de terraplenagem e pesquisa e desenvolvimento para a agropecuária (adaptação de tecnologia etc.).
Crédito Agrícola - corresponde ao agrosserviço de aprimoramento e ampliação
c) Agrosserviço transacional e de distribuição - engloba pessoas e estruturas especializadas na comercialização dos produtos agropecuários, tais como atacadistas e varejistas, feiras livres e empresas de exportação, bolsas de mercadorias etc.
Comercialização de produtos agrícolas - corresponde ao agrosserviço de distribuição
FONTE: Geografia, 1° ano: ensino médio / organizadores: Fernando dos Santos Sampaio, Ivone Silveira Sucena - 1. ed. - São Paulo: Edições SM, 2010. - (Coleção ser protagonista).

terça-feira, 22 de novembro de 2011

OS CONFLITOS EM CHIAPAS - MÉXICO

  Os estados de Chiapas, Oaxaca e Guerrero são considerados as regiões mais carentes do México. Habitados principalmente por camponeses descendentes de indígenas, esses estados promoveram um grande movimento popular armado na década de 1990.
  Em 1982, formou-se em Chiapas o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), que reivindicava a manutenção das línguas, dos costumes e das tradições indígenas, o direito de cultivar a terra, além de melhorias nos setores econômico e social. A organização teve um expressivo crescimento, pois recebeu a adesão de diversas comunidades indígenas da região.
Sub-comandante Marcos - líder do EZLN
  Em 1994, explodiu a rebelião em Chiapas. Os integrantes do EZLN utilizaram armas de todos os tipos, desde pedaços de madeira e espingardas de ar comprimido até metralhadoras de última geração. Quinze dias após o início da rebelião, o governo federal mexicano tomou a iniciativa do cessar-fogo. Em todo o país ocorreram manifestações de apoio ao movimento de Chiapas, assim como de protestos contra o Nafta.
  Em 1996, o governo mexicano propôs alguns acordos garantindo direitos e autonomia aos indígenas, os quais foram ratificados no ano de 2001.
  Desde o início do movimento, os rebelados zapatistas declararam que não lutavam para se separar do México, mas apenas para manter suas raízes indígenas e garantir autonomia e melhores condições de vida.
Protesto de zapatistas em Palenque - Chiapas
 FONTE: Geografia, 3° ano: ensino médio / organizadores: Fernando dos Santos Sampaio, Ivone Silveira Sucena - 1. ed. - São Paulo: Edições SM, 2010. - (Coleção ser protagonista)

sábado, 12 de novembro de 2011

TERRORISMO E GUERRILHA

  De acordo com o Dicionário de política, terrorismo é a "prática política de quem recorre sistematicamente à violência contra as pessoas ou as coisas provocando o terror". Quando uma organização qualquer faz algum atentado terrorista, seja instalando uma bomba em algum local ou utilizando um homem-bomba num ataque suicida, está querendo intimidar, disseminar o medo em uma comunidade ou país para atingir algum fim, que pode ser a difusão de uma ideologia, a autonomia político-territorial, a autoafirmação étnica ou religiosa etc.
  É importante também fazer uma distinção entre guerrilha e terrorismo, embora muitas vezes um grupo guerrilheiro possa lançar mãos de táticas terroristas. A guerrilha se caracteriza por se um conflito que opõe formações irregulares de combatentes e forças armadas de um Estado. É típica de países onde há profundas injustiças políticas e sociais e, portanto, parte da população está disposta a lutar por mudanças ou apoiar o grupo que se propuser a isso. Segundo o Dicionário de política: "A destruição das instituições existentes e a emancipação social e política das populações são, de fato,  os objetivos precípuos dos grupos que recorrem a este tipo de luta armada". Em geral, os grupos guerrilheiros atacam alvos militares e pontos estratégicos do Estado contra o qual lutam. Preocupam-se em fazer o mínimo de vítimas civis e em conquistar a simpatia e o apoio da população para sua causa. Já os terroristas procuram fazer o máximo de vítimas civis, com o intuito de causar pânico, e não se interessam em dialogar com a população nem obter seu apoio.
Soldados do Exército de Libertação Nacional (ELN) - segundo maior grupo guerrilheiro da Colômbia
  Há vários exemplos históricos de grupos guerrilheiros em diversos países, especialmente na América Latina, na África e na Ásia, continentes marcados pela pobreza e injustiça social.
  Na América Latina, o grupo guerrilheiro mais representativo ainda em atuação são as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que lutam contra o Estado colombiano pelo controle de parte do seu território. Fundada em 1964 por Manuel Marulanda, no início era uma guerrilha rural de inspiração revolucionária (tinha ligações com o Partido Comunista da Colômbia) que lutavam contra as injustiças sociais. Entretanto, as Farcs se tornaram  um grupo terrorista por causa de seus métodos violentos, que inclui sequestros de civis, além de envolvimento com o narcotráfico, hoje sua principal fonte de renda. Por isso, não têm mais o apoio da população. A partir de 2002 o governo colombiano passou a combatê-los mais intensamente com recursos e armas fornecidos pelos Estados Unidos por meio de um acordo batizado por Plano Colômbia. Em 2008, as Farcs sofreram um duro golpe: numa operação forças armadas colombianas na selva, três de seus mais importantes líderes, entre os quais Manuel Marulanda, foram mortos; em outra operação, 15 reféns que estavam em poder do grupo foram resgatados.
Soldados das Farcs (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)
  Na África, em diversos países, houve grupos guerrilheiros que lutavam contra o colonialismo, como o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a União para a Independência Total de Angola (Unita) que combateram a dominação portuguesa. Entretanto, após a independência política, obtida em 1975, o conflito armado em Angola entrou na lógica da Guerra Fria. O MPLA se consolidou no poder com o apoio da União Soviética e a Unita, apoiada pelos Estados Unidos e pela África do Sul, passou a lutar contra o governo. A guerra em Angola se estendeu até 2002, quando foi selado um acordo de paz. A Unita deixou de ser um grupo guerrilheiro e se tornou um partido de oposição ao MPLA.
Soldados da Unita
  Há outros grupos guerrilheiros que adotam táticas terroristas contra um Estado nacional tentando separar parte do território ou expulsar tropas de ocupação. Encaixam-se nessa definição o ETA (Pátria Basca e Liberdade, dobasco Euskadi Ta Askatasuna), no norte da Espanha, os grupos chechenos, na Rússia, e os curdos, na Turquia. É o caso também dos atuais grupos palestinos, como o Hamas, o Jihad Islâmica e as Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, que reivindicam territórios ocupados por Israel.
Militantes do Hamas, na Faixa de Gaza - Palestina
  Finalmente, há grupos que espalham o terror como afirmação de seu fundamentalismo religioso contra a hegemonia da sociedade cristã ocidental, representada pelos Estados Unidos. É esse o caso da rede terrorista Al Qaeda ("a base", em árabe), que teve como fundador e líder o milionário saudita Osama Bin Laden - morto em maio de 2011 no Paquistão pelas tropas norte-americanas.
Osama Bin Laden - foi o fundador e líder do grupo terrorista Al Qaeda
  O terrorismo também pode ser praticado pelo Estado. Nos anos 1920, Josef Stálin, então secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), perseguiu seus opositores e os mandou para campos de concentração. Na Alemanha, no início dos anos 1930, com a ascensão dos nazistas sob a liderança de Hitler, o Estado deu início a um processo de genocídio contra judeus, comunistas e ciganos.
Holocausto - morte de milhões de judeus provocado pelo regime nazista
  Na África do Sul, enquanto vigorou o regime segregacionista chamado apartheid ("separação", em inglês), também havia um Estado terrorista. Após a independência política em 1961, chegou ao poder o Partido Nacional, controlado pelos descendentes de holandeses e alemães (conhecidos como afrikaners); a partir de então, a minoria branca (14% da população) oficializou o apartheid. Essa minoria controlava o aparelho estatal, as empresas, as terras e explorava a maioria negra (composta por diversas etnias: zulus, xhosas, pedis, sothos etc.), que vivia confinada em guetos, coagida pela violência e sem direitos políticos  mínimos. Em 1994, quando Nelson Mandela (de etnia xhosa), após 27 anos preso, foi eleito presidente, esse regime segregacionista foi extinto.
Apartheid - regime segregacionista da África do Sul que separava os negros dos brancos
  O terrorismo de Estado também foi comum na América Latina durante as várias ditaduras militares que se instalaram durante a Guerra Fria: Brasil (1964-1985), Chile (1973-1990), Argentina (1976-1983), entre outras. Nesse período, milhares de pessoas foram presas sem julgamento, torturadas e muitas delas assassinadas, apenas porque faziam oposição ao governo vigente. Em reação ao fechamento político e à ausência de diálogo surgiram grupos armados que passaram a adotar práticas terroristas contra os governos ditatoriais, acirrando o conflito e a violência.
Ditadura militar no Brasil - uma página na história do terrorismo do país
 FONTE: Sene, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil, volume 2: espaço geográfico e globalização: ensino médio / Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. - São Paulo: Scipione, 2010.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO BRASIL E A DIDÁTICA

  Nos últimos anos, diversos estudos têm sido dedicados à história da Didática no Brasil, suas relações com as tendências pedagógicas e à investigação do campo de conhecimentos. No Brasil, as tendências pedagógicas são classificadas em dois grupos: as de cunho liberal - Pedagogia Tradicional, Pedagogia Renovada e Tecnicismo Educacional -, e as de cunho progressista - Pedagogia Libertadora e Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos.
PEDAGOGIA TRADICIONAL
  A Didática é uma disciplina normativa, um conjunto de princípios e regras que regulam o ensino. A atividade de ensinar é centrada no professor que expõe e interpreta a matéria. Às vezes são utilizados meios como a apresentação de objetos, ilustrações, exemplos, mas o meio principal é a palavra, a exposição oral. Supõe-se que ouvindo e fazendo exercícios repetitivos, os alunos "gravam" a matéria para depois reproduzi-la, seja através das interrogações do professor, seja através de provas. Para isso é importante que o aluno "preste atenção", porque ouvindo facilita-se o registro do que se transmite na memória. O aluno é, assim, um recebedor da matéria e sua tarefa é decorá-la. Os objetivos, explícitos e implícitos, referem-se à formação de um aluno ideal, desvinculado da sua realidade concreta. O professor tende a encaixar os alunos num modelo idealizado de homem que nada tem a ver com a vida presente e futura. A matéria de ensino é tratada isoladamente, desvinculada dos interesses dos alunos e dos problemas reais da sociedade e da vida. O método é dado pela lógica e sequência da matéria, é o meio utilizado pelo professor para comunicar a matéria e não dos alunos para aprendê-la. É forte a presença dos métodos intuitivos. Baseiam-se na apresentação de dados sensíveis, de modo que os alunos possam observá-los  formar imagens deles em sua mente.
PEDAGOGIA RENOVADA
  Inclui várias correntes: a Progressivista (que se baseia na teoria educacional de John Dewey), a não-diretiva (principalmente inspirada em Carl Rogers), a ativista-empiritualista (de orientação católica), a culturalista, a piagetiana, a montessoriana e outras. Todas de alguma forma estão ligadas ao movimento da pedagogia ativa que  surge no final do século XIX como contraposição à Pedagogia Tradicional.
DIDÁTICA DA ESCOLA NOVA OU DIDÁTICA ATIVA
  É entendida como "direção da aprendizagem", considerando o aluno como sujeito da aprendizagem. O que o professor tem a fazer é colocar o aluno em condições propícias para que, partindo das suas necessidades e estimulando os seus interesses, possa buscar por si mesmo, conhecimentos e experiências. A ideia é a de que o aluno aprende fazendo, no sentido de trabalho manual, ações de manipulação de objetos. Trata-se de colocar o aluno em situações em que seja mobilizada a sua atividade global e que se manifesta em atividade intelectual, atividade de criação, de expressão verbal, escrita, plástica ou outro tipo. O centro da atividade escolar não é o professor nem a matéria, é o aluno ativo e investigador. O professor incentiva, orienta, organiza as situações de aprendizagem, adequando-as às capacidades de características individuais dos alunos. Por isso a didática ativa dá grande importância aos métodos e técnicas como trabalho de grupo, atividades cooperativas, estudo individual, pesquisas, projetos, experimentações etc., bem como os métodos de reflexão e método científico de descobrir conhecimentos. Tanto na organização das experiências de aprendizagem como na seleção de métodos, importa o processo de aprendizagem e não diretamente o ensino. O melhor método é aquele que atende as exigências psicológicas do aprender. A Didática ativa dá menos atenção aos conhecimentos sistematizados, valorizando mais o processo de aprendizagem e os meios que possibilitam o desenvolvimento das capacidades e habilidades intelectuais dos alunos. Os adeptos da Escola Nova costumam dizer que o professor não ensina, antes, ajuda os alunos a aprender, ou seja, a Didática não é a direção do ensino, é a orientação da aprendizagem, uma vez que esta é uma experiência própria do aluno através da pesquisa, da investigação.
DIDÁTICA MODERNA
  Surgiu a partir dos anos de 1950, sendo uma proposta de Luis Alves de Mattos. A Didática Moderna é inspirada na pedagogia da cultura, corrente pedagógica de origem alemã. Mattos identifica sua Didática com as seguintes características: o aluno é o fator pessoal decisivo na situação escolar;  em função dele giram as atividades escolares para orientá-lo e incentivá-lo na sua educação e na sua aprendizagem, tendo em vista desenvolver-lhe a inteligência e formá-lhe o caráter e a personalidade. O professor é o incentivador, orientador e controlador da aprendizagem, organizando o ensino em função das reais capacidades dos alunos e do desenvolvimento dos seus hábitos de estudo e reflexão. A matéria é o conteúdo onde se encontram os valores lógicos e sociais a serem assimilados pelos alunos; está a serviço do aluno para formar as suas estruturas mentais, e por isso, sua seleção, dosagem e apresentação. Vinculam-se às necessidades e capacidades reais dos alunos. O método representa o conjunto dos procedimentos para assegurar a aprendizagem, isto é, existe em função da aprendizagem, razão  pela qual, a par de estar condicionado pela natureza da matéria, relaciona-se com a psicologia do aluno.
  Para Mattos, o ensino é a atividade direcional sobre o processo de aprendizagem e a aprendizagem é a atividade mental intensiva e propositada do aluno em relação aos dados fornecidos pelos conteúdos culturais.
  Definindo a Didática como disciplina normativa, técnica de dirigir e orientar eficazmente a aprendizagem das matérias tendo em vista os seus objetivos educativos, Mattos propõe a "Teoria do Ciclo Docente", que é o método didático em ação. O ciclo docente, abrangendo as  fases de planejamento, orientação e controle da aprendizagem e suas subfases, é definido como "o conjunto de atividades exercidas, em sucessão ou ciclicamente, pelo professor, para dirigir e orientar o processo de aprendizagem dos seus alunos, levando-o a bom termo. É o método em ação.
TECNICISMO EDUCACIONAL
  Embora seja considerada como uma tendência pedagógica, inclui-se, em certo sentido, na Pedagogia Renovada. Desenvolveu-se no Brasil na década de 1950, à sombra do progressivismo, ganhando nos anos 60 autonomia quando constituiu-se especificamente como tendência, inspirada na teoria behaviorista da aprendizagem e na abordagem sistêmica do ensino.
  A Didática instrumental está interessada na racionalização do ensino, no uso de meios e técnicas mais  eficazes. O sistema de instrução se compõe  das seguintes etapas:
a) especificação de objetivos instrucionais operacionalizados;
b) avaliação prévia dos alunos para estabelecer pré-requisitos para alcançar objetivos;
c) ensino ou organização das experiências de aprendizagem;
d) avaliação dos alunos relativo ao que se propôs nos objetivos iniciais.
  O arranjo mais simplificado dessa sequência resultou na fórmula: objetivos, conteúdos, estratégias, avaliação. O professor é um administrador e executor do planejamento, o meio de previsão das ações a serem executadas e dos meios necessários para atingir os objetivos.
PEDAGOGIA LIBERTADORA
  Retomou as propostas de educação popular dos anos 60, refundindo seus princípios e práticas em função das possibilidades do seu emprego na educação formal em escolas públicas, e inicialmente tinha caráter extra-escolar, não-oficial e voltada para o atendimento da clientela adulta. Na Pedagogia Libertadora, o professor se põe diante de uma classe com a tarefa de orientar a aprendizagem dos alunos. A atividade escolar é centrada na discussão de temas sociais e políticos, em um ensino centrado na realidade social, em que o professor se põe diante da classe com a tarefa de orientar a aprendizagem dos alunos, em que professor e alunos analisam problemas e realidade do meio socioeconômico e cultural, da comunidade local, com seus recursos e necessidades, tendo em vista a ação coletiva frente a esses problemas e realidades. O trabalho escolar não se assenta, prioritariamente, nos conteúdos de ensino já sistematizados, mas no processo de participação ativa nas discussões e nas ações práticas sobre questões da realidade social imediata. Nesse processo em que se realiza a discussão, os relatos da experiência vivida, a assembleia, a pesquisa participante, o trabalho em grupo etc., vão surgindo temas geradores que podem vir a ser sistematizados para efeito de consolidação de conhecimentos. É uma didática que busca desenvolver o processo educativo como tarefa que se dá no interior dos grupos sociais e por isso o professor é coordenador ou animador das atividades que se organizam sempre pela ação conjunta dele e dos alunos.
Paulo Freire - principal nome da Pedagogia Libertadora
PEDAGOGIA CRÍTICO-SOCIAL
  Inspirou-se no materialismo histórico dialético, constituindo-se como movimento pedagógico interessado na educação popular, na valorização da escola pública e do trabalho do professor, no ensino de qualidade para o povo e, especificamente, na acentuação da importância do domínio sólido por parte dos professores e alunos, dos conteúdos científicos do ensino como condição para a participação efetiva do povo nas lutas sociais. Para essa tendência pedagógica, o ensino consiste na mediação de objetivos-conteúdos-métodos, que assegure o encontro formativo entre os alunos e as matérias escolares, que é o fator decisivo da aprendizagem.
  A Pedagogia Crítico-Social dos conteúdos atribui grande importância à Didática, cujo objetivo de estudo é o processo de ensino nas suas relações e ligações com a aprendizagem. As ações de ensinar e aprender formam uma unidade, mas cada uma tem a sua especificidade. A Pedagogia Crítico-Social busca uma síntese superadora de traços significativos da Pedagogia Tradicional e da Escola Nova. Postula para o ensino a tarefa de propiciar aos alunos o desenvolvimento de suas capacidades e habilidades intelectuais, mediante a transmissão e assimilação ativa dos conteúdos escolares, articulando, no mesmo processo, a aquisição de noções sistematizadas e as qualidades individuais dos alunos que lhes possibilitam a auto-atividade e a busca independente e criativa das noções.
FONTE: Libâneo, José Carlos. Didática / José Carlos Libâneo. - São Paulo: Cortez, 1994. - (Coleção magistério. 2º grau. Série formação do professor).

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