sexta-feira, 23 de junho de 2023

MOVIMENTOS SOCIAIS NA HISTÓRIA DO BRASIL: MOVIMENTO DOS POVOS INDÍGENAS

   Partindo de uma compreensão mais ampla do conceito de movimentos sociais, pode-se reconhecer sua presença no Brasil desde o período colonial. Foram incontáveis eventos, que variaram em duração, intensidade, número de participantes e causas. Opuseram-se no início desse processo: indígenas e colonos, escravizados e senhores, colonos e governantes. As formas de resistência também variaram muito de acordo com o contexto.

  Os movimentos dos povos indígenas são os mais antigos no território onde se formou o Brasil. Resistem às mais distintas formas de exploração, aos ataques à sua forma de ser e viver e lutam pela manutenção da posse das terras onde vivem, sobretudo a partir do século XVI, com a chegada dos colonizadores europeus.

Mapa do Brasil com os principais grupos indígenas que habitavam o território brasileiro na época do descobrimento

Indígenas e bandeirantes

  A resistência à escravidão e à tomada das terras onde se viam foram as causas das primeiras lutas indígenas. As ações iniciais dos colonos depois foram potencializadas pelos paulistas - moradores da capitania de São Vicente que, em razão da falta de recursos da região, saíram em busca de riquezas pelo interior adentro. Conhecidos como bandeirantes, passaram a ser vistos como responsáveis pela expansão das fronteiras do Brasil. Em estados como São Paulo, este passado se inscreveu no nome de praças, ruas, avenidas e rodovias em diversos municípios (Anhanguera, Bandeirantes, Raposo Tavares), e em monumentos - como o Monumento das Bandeiras, de Victor Brecheret, de 1953, a Estátua de Borba Gato, de Júlio Guerra, de 1962 -, e na sede do governo: o Palácio dos Bandeirantes, todos na capital.

Estátua de Borba Gato, na Avenida Santo Amaro, em São Paulo

  Contudo, ao contrário da imagem que se construiu dos bandeirantes, eles eram em sua maioria mestiços de europeus com indígenas, sendo, assim, desprezados pelos europeus e também pelos indígenas, contra os quais atuaram muitas vezes de forma violenta. Andavam descalços e não falavam o português, mas sim a língua geral do Brasil, que misturava línguas da família tupi-guarani. Isso explica o fato de muitos lugares onde não viveram indígenas da família tupi-guarani terem nomes tupi.

  Os bandeirantes buscavam conquistar riquezas em três tipos de ação: o apresamento ou a preação de indígenas, a fim de comercializá-los com os colonos para explorarem o trabalho escravo; a busca por minerais preciosos como ouro e diamante; e o sertanismo de contrato, isto é, a contratação para realizarem algum "serviço sujo" para os colonos, como destruir uma aldeia ou um quilombo.

  Devido aos ataques contra aldeias indígenas a fim de obter prisioneiros, houve conflitos entre os bandeirantes e os jesuítas, que tentavam proteger os indígenas da escravidão, não obstante o esforço que faziam para retirar-lhes sua cultura.

Índios soldados da província de Curitiba escoltando prisioneiros nativos, de Jean-Baptiste Debret

Conflitos indígenas no período colonial

  Há dois conflitos envolvendo indígenas e colonos considerados mais significativos. Um ocorreu entre 1554 e 1567, entre os litorais de São Paulo e Rio de Janeiro e ficou conhecido como Confederação dos Tamoios, a qual reunia indígenas Tupinambá dos grupos Tupiniquim, Aimoré e Temiminó.

  Alguns portugueses se casavam com indígenas, o que lhes facilitava alianças militares e a exploração de outros grupos. Assim ocorreu com João Ramalho, que se casou com Bartira, membro da tribo dos guaianases. João Ramalho propôs escravizar os tupinambás e acabou matando o chefe da tribo, Caiçuru. Seu filho, Aimberê, reuniu os chefes das outras tribos e declarou guerra aos portugueses e aos guaianases - estava formada a Confederação dos Tamoios.

  Naquele período, os franceses estavam tentando dominar territórios na costa do Brasil. Eles se aliaram aos tamoios, oferecendo armas. Assim, uma disputa que envolvia colonos e indígenas em um primeiro momento, acabou ganhando uma proporção de conflito internacional. Aimberê tentou uma aliança com outro chefe indígena, Tibiriçá, que se mostrou leal aos portugueses. O conflito teve seu fim em 1567, com a expulsão dos franceses e a derrota da Confederação dos Tamoios.

Mapa do litoral do Sudeste destacando a Guerra dos Tamoios

  O outro conflito ficou conhecido como Confederação dos Cariris ou Guerra dos Bárbaros e ocorreu entre 1683 e 1713 na Região Nordeste do Brasil, reunindo indígenas dos grupos Inhamum, Cariú, Crateú e Tarairú. No primeiro contato com os europeus, os membros do  grupo Cariri viviam próximos aos rios Itapicuru e Paraguaçu, na Serra da Borborema, e estabeleceram contato amistoso. Contudo, com o passar do tempo, a penetração dos conquistadores portugueses no interior do país, buscando metais preciosos e expandindo fazendas, significou o massacre dos povos indígenas e a exploração deles.

  Os indígenas resistiram de várias formas: fugindo dos aldeamentos missionários e das fazendas onde eram mantidos cativos, defendendo suas aldeias dos ataques dos bandeirantes, atacando vilas e fazendas e, por vezes, se suicidando quando eram aprisionados. A Confederação foi a resistência mais significativa. Ela durou trinta anos e contou com indígenas dos atuais estados de Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Em 1713, os cariris foram derrotados. Homens, mulheres, idosos e crianças foram mortos na investida final, acabando com a Confederação dos Cariris.

Localização das línguas Kariri dentro do tronco Macro-Jê

Indígenas na atualidade

  Entre as várias estratégias de luta dos povos indígenas em defesa de seus direitos, merece destaque o protagonismo que eles têm assumido em diversas frentes. Muitos indígenas estão realizando cursos de formação para dar aulas nas escolas indígenas; outros estão realizando cursos superiores nas áreas de Direito, Pedagogia, Antropologia e Filosofia; outros, ainda, têm se destacado como palestrantes e autores de livros.

Cacique Raoni, da etnia caiapó, uma das figuras mais respeitadas do movimento indígena na atualidade

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

MAGALHÃES, Domingos José Gonçalves de; MOREIRA, Maria Eunice; BUENO, Luís. A Confederação dos Tamoios. Col: Série Letras do Brasil. Curitiba: Editora UFPR, 2007.

PUNTONI, Pedro. A Guerra dos Bárbaros: Povos Indígenas e a colonização do Sertão Nordeste do Brasil. São Paulo: Hucitec, 2002.

SILVA, Daniel Neves. "Povos indígenas do Brasil"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/o-indigena-no-brasil.htm. Acesso em: 23 de junho de 2023.

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