A derrubada do Muro de Berlim e a queda das Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York, sinalizaram mudanças significativas no sistema internacional. O Muro de Berlim, construído em 1961, foi um dos símbolos do período conhecido por Velha Ordem Mundial, caracterizado pelo predomínio de um sistema de poder bipolar: o mundo era comandado a partir de dois polos antagônicos, os Estados Unidos e a União Soviética.
Sun Tzu, general chinês que viveu por volta do ano 500 a.C, tornou-se mundialmente famoso quando seu tratado A arte da guerra foi associado às formas de funcionamento do mercado capitalista moderno. Em um dos pontos de sua obra, ele alerta:
"Na guerra, primeiro elabore os planos que assegurarão a vitória e só então conduza seu exército à batalha, pois quem não inicia pela construção da estratégia, dependendo apenas da sorte e da força bruta, jamais terá a vitória assegurada".
O estudo da estratégia tem por objetivo analisar como os Estados e as organizações empregam táticas militares, policiais e até mesmo econômicos e culturais para alcançar determinados propósitos políticos. É possível, assim, compreender e explicar as formas como os governos e as organizações atuam e de que modo utilizam seus diferentes recursos para atingir seus objetivos na competição com outros países ou organizações.
O arranjo multipolar europeu do século XIX entrou em crise com a unificação alemã, ocorrida em 1871. Apoiando-se na teoria de expansão territorial, a Alemanha ampliou seu território, fortaleceu-se internamente e entrou no jogo de disputa colonial, tornando-se um dos mais poderosos países europeus. Os princípios do expansionismo tomavam, assim, o lugar das ideias anteriormente defendidas, responsáveis pelo equilíbrio de poderes na Europa. A Primeira Guerra Mundial foi um trágico resultado desses novos princípios.
A Alemanha saiu da Primeira Guerra Mundial derrotada e humilhada. Porém, com a ascensão do nazismo a partir de 1933, o país retomou o impulso expansionista. Em consequência disso, eclodiu a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). As duas grandes guerras mundiais puseram fim ao sistema multipolar europeu do século XIX.
No início de 1945, Estados Unidos, URSS e Reino Unido, principais vencedores da Segunda Guerra Mundial, realizaram duas importantes conferências.
A primeira delas, a Conferência de Yalta, ocorreu em fevereiro de 1945, antes mesmo do término das hostilidades. Em Yalta, cidade localizada na Península da Crimeia, território soviético, foram definidas a posse soviética de diversos territórios do Leste Europeu e a situação dos países da Europa Oriental que, apoiados pela URSS, haviam conseguido vencer as forças de ocupação nazista. Os participantes da Conferência de Yalta cederam à pressão de Josef Stalin, líder da URSS, e concordaram com a permanência do exército soviético nesses países. Dessa forma, os países da Europa Oriental passaram a sofrer influência direta de Moscou, capital da URSS, mesmo depois da guerra.
A segunda conferência ocorreu na cidade alemã de Potsdam, em julho-agosto de 1945. Os soviéticos tinham ocupado todo o leste alemão, enquanto estadunidenses e britânicos haviam mantido seus exércitos na porção oeste do país. Os participantes da Conferência de Potsdam confirmaram as decisões de Yalta e estabeleceram a divisão do território da Alemanha e de sua capital, Berlim, em quatro zonas de ocupação militar, considerando o posicionamento dos exércitos vitoriosos ao final do conflito. A ideia era permanecer com as tropas responsáveis pela ocupação da Alemanha até que se realizassem eleições livres e um governo democrático fosse eleito. Porém, não foi isso o que aconteceu.
O primeiro teste da bomba atômica foi realizado com sucesso no Deserto do novo México (EUA), em julho de 1945, uma semana antes do início da Conferência de Postdam. No começo de agosto, duas bombas atômicas foram lançadas no Japão, que apresentava focos de resistência, mesmo depois da rendição alemã. O objetivo dos EUA era claro: encerrar definitivamente a Segunda Guerra Mundial com um ato espetacular que demonstrasse ao mundo e à URSS que seu poderio bélico incluía uma arma ainda mais letal que as que haviam causado a morte de milhões de pessoas nos campos de batalha.
Durante as duas conferências citadas anteriormente foram gestadas estratégias que iriam provocar um conflito velado entre os EUA e a URSS. Foi ali que as duas superpotências iniciaram a disputa pelo controle da Europa, estopim da Guerra Fria.
A GUERRA FRIA
Em 1947, o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, fez um discurso histórico no Congresso. Truman alertou para os perigos do expansionismo soviético e expôs os fundamentos de uma doutrina que receberia seu nome - a Doutrina Truman. Por essa Doutrina, os Estados Unidos, na condição de líderes do mundo ocidental, teriam a obrigação de conter esse expansionismo, usando, para isso, todos os recursos disponíveis e necessários. A estratégia defendida apresentava três vertentes distintas: política, econômica e geopolítica.
Já a vertente econômica propunha um plano de recuperação denominado de Plano Marshall, por meio do qual os EUA investiram cerca de 20 bilhões de dólares na recuperação dos países europeus destruídos pela guerra.
A vertente geopolítica, por sua vez, instaurou as bases para a criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), criada em 1949 com o objetivo de proteger o continente europeu de qualquer ameaça externa. A Otan existe até hoje, embora atualmente cumpra funções diferentes.
Após a deflagração do Plano Marshall, os Estados Unidos anunciaram a intenção de aplicá-lo também na reconstrução da Alemanha. Porém, de acordo com as deliberações da Conferência de Potsdam, qualquer iniciativa que tivesse como foco a revitalização econômica desse país só poderia ser implantado com o aval das quatro potências ocupantes. Evidentemente, a proposta contrariava os interesses da URSS, a quem não interessava uma Alemanha capitalista, forte e reconstruída.
Apesar da recusa soviética, os Estados Unidos resolveram aplicar o plano de reconstrução em três zonas ocidentais da Alemanha e também em Berlim Oriental, área sob a proteção de seu exército e de seus aliados. Em represália, a União Soviética criou um bloqueio para impedir o acesso dos estadunidenses e de seus aliados à porção oriental do país, que também abrangia a cidade de Berlim. As tropas soviéticas desfilavam na fronteira, impedindo o acesso terrestre e isolando Berlim.
A resposta veio em seguida. O exército dos Estados Unidos montou a maior operação de guerra em tempos de paz da história, fazendo uma ponte aérea que ligava a zona de ocupação ocidental a Berlim. Eram realizados mil voos por dia, que levavam suprimentos, materiais de reconstrução e carvão para a parte ocidental de Berlim, sem passar pelo território controlado pelo inimigo. Foram dez meses de profundas tensões, até que, finalmente, os soviéticos desistiram da estratégia de bloqueio.
Em 1961, o governo socialista da Alemanha Oriental construiu um muro separando Berlim Leste de Berlim Oeste, numa tentativa de conter os escapes. O Muro de Berlim, como ficou conhecido, passou então a representar a divisão do mundo em áreas de influência distintas, tornando-se a materialização da bipolaridade.
AS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO
Ao observarmos o mundo contemporâneo, é possível reconhecer que o conjunto de países que formam o sistema internacional aglutina-se em alianças econômicas, pois não há um governo mundial que estabeleça regras comuns. Cada país necessita criar uma esfera de proteção contra invasões externas que lhes permita lutar em favor de seus próprios interesses.
A relação entre um país e outro é fundamentada pela política externa de cada Estado. É por meio dela que os países constroem mecanismos de comércio e de segurança internacionais. Seu objetivo, portanto, é permitir alianças econômicas e estratégicas e firmar tratados para criar um sistema internacional mais seguro e eficiente, amenizando possíveis vulnerabilidades.
No final do século XIX, o sistema internacional configurou-se multipolar, cabendo aos Estados europeus a definição de alianças e interesses. O rompimento multipolar expressou-se nas duas guerras mundiais.
A partir de então, EUA e URSS utilizaram tanto recursos militares como econômicos e políticos para ampliar seu leque de atuação no mundo. Primeiramente, partiram para uma corrida armamentista, investindo pesadamente na expansão de seus arsenais nucleares. Além disso, promoveram estratégias de atuação direta e indireta em inúmeros conflitos regionais e estabeleceram bases militares em territórios alheios, criando cordões de proteção bélicos em diversas partes do mundo.
As duas superpotências líderes da "velha ordem", EUA e URSS, utilizaram seus sistemas econômicos como elementos aglutinadores para estabelecer suas esferas de influência na ordem bipolar. A oposição entre capitalismo e socialismo marcou o período da Guerra Fria.
Os sistemas econômicos também foram usados como forma de pressão e controle sobre as áreas em que as superpotências mantinham influência. A União Soviética financiou direta e indiretamente governos e grupos de oposição realizando campanhas para difundir os princípios socialistas. Os fundamentos marxistas de uma sociedade igualitária eram o meio pelo qual a URSS propagava seu ideário, com o intuito de contrapor-se à sociedade de mercado, símbolo do capitalismo.
Nas décadas de 1970 e 1980, seguidas crises de abastecimento de bens de consumo na URSS levaram a população a enfrentar filas intermináveis para adquirir produtos básicos como biscoitos, vassouras e papel higiênico.
Por outro lado, os EUA ampliavam o poder de atuação do sistema capitalista ao difundir os fundamentos de uma sociedade de consumo cada vez mais insaciável. Sob sua liderança, os países ocidentais lançavam no mercado uma infinidade de novos produtos, muitos deles oriundos de tecnologias provenientes da indústria armamentista, ampliando o leque de oferta de bens de consumo altamente atraentes.
Sun Tzu, general chinês que viveu por volta do ano 500 a.C, tornou-se mundialmente famoso quando seu tratado A arte da guerra foi associado às formas de funcionamento do mercado capitalista moderno. Em um dos pontos de sua obra, ele alerta:
"Na guerra, primeiro elabore os planos que assegurarão a vitória e só então conduza seu exército à batalha, pois quem não inicia pela construção da estratégia, dependendo apenas da sorte e da força bruta, jamais terá a vitória assegurada".
Sun Tzu - general chinês
Essas palavras ressaltam a necessidade de estabelecer planos e metas para atingir objetivos. Ao escrever o tratado, o intuito de Sun Tzu era ensinar estratégias militares e táticas de combate para o exército chinês. Na atualidade, porém, esses conceitos foram transferidos para outras atividades, tais como a política, a economia, a propaganda e o marketing. Nesses casos, a guerra se transforma em metáfora para a disputa acirrada entre concorrentes, também marcada por batalhas e ataques inesperados.O estudo da estratégia tem por objetivo analisar como os Estados e as organizações empregam táticas militares, policiais e até mesmo econômicos e culturais para alcançar determinados propósitos políticos. É possível, assim, compreender e explicar as formas como os governos e as organizações atuam e de que modo utilizam seus diferentes recursos para atingir seus objetivos na competição com outros países ou organizações.
Soldado norte-americano em combate no Afeganistão
Ao longo da Idade Moderna, a estratégia militar foi intensamente empregada pelos Estados europeus. Porém, no século XIX, o sistema de alianças desencadeado a partir do Congresso de Viena gerou um longo período de paz entre esses Estados. O novo arranjo contribuiu de modo decisivo para fortalecer alianças e ampliar o poder da Europa sobre outros continentes. O colonialismo afro-asiático iniciado no século XIX e a necessidade de consolidar alianças podem ser considerados os pilares geopolíticos desse pacto multipolar de poder.O arranjo multipolar europeu do século XIX entrou em crise com a unificação alemã, ocorrida em 1871. Apoiando-se na teoria de expansão territorial, a Alemanha ampliou seu território, fortaleceu-se internamente e entrou no jogo de disputa colonial, tornando-se um dos mais poderosos países europeus. Os princípios do expansionismo tomavam, assim, o lugar das ideias anteriormente defendidas, responsáveis pelo equilíbrio de poderes na Europa. A Primeira Guerra Mundial foi um trágico resultado desses novos princípios.
Império alemão
A Primeira Guerra Mundial ocorreu entre os anos de 1914 e 1918. Foi um evento brutal, em que, pela primeira vez, exércitos se enfrentaram recorrendo a estratégias militares modernas, como a guerra de trincheiras, e adotaram equipamentos bélicos sofisticados, como tanques blindados e aviões. Apesar de toda a estratégia, o conflito mundial não conseguiu reestabelecer o equilíbrio de forças entre os países europeus.A Alemanha saiu da Primeira Guerra Mundial derrotada e humilhada. Porém, com a ascensão do nazismo a partir de 1933, o país retomou o impulso expansionista. Em consequência disso, eclodiu a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). As duas grandes guerras mundiais puseram fim ao sistema multipolar europeu do século XIX.
Guerra de trincheiras - tática bastante utilizada durante a Primeira Guerra Mundial
As guerras mundiais resultaram em uma mudança profunda no papel da Europa no sistema internacional. O continente europeu, até então centro hegemônico mundial, entrou numa irreversível decadência geopolítica. Em seu lugar, emergiram as duas potências que haviam garantido a vitória dos aliados na Segunda Grande Guerra: os Estados Unidos, líder entre os países capitalistas, e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), potência líder socialista. Essas novas forças deram origem ao que se convencionou chamar de ordem bipolar: elas formaram dois polos opostos, responsáveis por aglutinar uma parcela de países do mundo sob suas esferas de influência durante quase toda a segunda metade do século XX.
Mundo bipolar: o reordenamento de forças
O REORDENAMENTO DE FORÇASNo início de 1945, Estados Unidos, URSS e Reino Unido, principais vencedores da Segunda Guerra Mundial, realizaram duas importantes conferências.
A primeira delas, a Conferência de Yalta, ocorreu em fevereiro de 1945, antes mesmo do término das hostilidades. Em Yalta, cidade localizada na Península da Crimeia, território soviético, foram definidas a posse soviética de diversos territórios do Leste Europeu e a situação dos países da Europa Oriental que, apoiados pela URSS, haviam conseguido vencer as forças de ocupação nazista. Os participantes da Conferência de Yalta cederam à pressão de Josef Stalin, líder da URSS, e concordaram com a permanência do exército soviético nesses países. Dessa forma, os países da Europa Oriental passaram a sofrer influência direta de Moscou, capital da URSS, mesmo depois da guerra.
Os chefes de Estado: Winston Churchill (Reino Unido), Franklin Delano Roosevelt (EUA) e Josef Stalin (URSS) durante a Conferência de Yalta
Após a Conferência de Yalta, representantes dos EUA e do Reino Unido manifestaram suas preocupações quanto às possíveis consequências do enorme poder conquistado pelo estado soviético. Winston Churchill, primeiro-ministro britânico, criou uma expressão para representar o significado da expansão soviética em direção ao Leste Europeu: segundo ele, a União Soviética se estendia como uma "cortina de ferro" sobre a Europa.A segunda conferência ocorreu na cidade alemã de Potsdam, em julho-agosto de 1945. Os soviéticos tinham ocupado todo o leste alemão, enquanto estadunidenses e britânicos haviam mantido seus exércitos na porção oeste do país. Os participantes da Conferência de Potsdam confirmaram as decisões de Yalta e estabeleceram a divisão do território da Alemanha e de sua capital, Berlim, em quatro zonas de ocupação militar, considerando o posicionamento dos exércitos vitoriosos ao final do conflito. A ideia era permanecer com as tropas responsáveis pela ocupação da Alemanha até que se realizassem eleições livres e um governo democrático fosse eleito. Porém, não foi isso o que aconteceu.
Líderes mundiais na Conferência de Potsdam: Churchill (Reino Unido), Harry Truman (que havia assumido o governo norte-americano após a morte de Roosevelt) e Stalin (URSS)
Entre as duas conferências, o cenário geopolítico europeu tornou-se cada vez mais tenso. De um lado, consolidando sua presença nos países da Europa Oriental, a URSS ampliara sua esfera de influência. De outro, os EUA intensificaram seus esforços para aumentar sua capacidade militar, investindo na bomba atômica.O primeiro teste da bomba atômica foi realizado com sucesso no Deserto do novo México (EUA), em julho de 1945, uma semana antes do início da Conferência de Postdam. No começo de agosto, duas bombas atômicas foram lançadas no Japão, que apresentava focos de resistência, mesmo depois da rendição alemã. O objetivo dos EUA era claro: encerrar definitivamente a Segunda Guerra Mundial com um ato espetacular que demonstrasse ao mundo e à URSS que seu poderio bélico incluía uma arma ainda mais letal que as que haviam causado a morte de milhões de pessoas nos campos de batalha.
Cidade de Hiroshima após o lançamento da bomba atômica pelos Estados Unidos em 06/08/1945
A Europa do pós-guerra representou fisicamente a divisão geopolítica do mundo. A partir da segunda metade do século XX, o continente passou a ser dividido em Europa Ocidental e Europa Oriental.Durante as duas conferências citadas anteriormente foram gestadas estratégias que iriam provocar um conflito velado entre os EUA e a URSS. Foi ali que as duas superpotências iniciaram a disputa pelo controle da Europa, estopim da Guerra Fria.
A GUERRA FRIA
Em 1947, o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, fez um discurso histórico no Congresso. Truman alertou para os perigos do expansionismo soviético e expôs os fundamentos de uma doutrina que receberia seu nome - a Doutrina Truman. Por essa Doutrina, os Estados Unidos, na condição de líderes do mundo ocidental, teriam a obrigação de conter esse expansionismo, usando, para isso, todos os recursos disponíveis e necessários. A estratégia defendida apresentava três vertentes distintas: política, econômica e geopolítica.
Discurso de Harry Truman quando criou a Doutrina Truman
A vertente política teve início com a deflagração da teoria da contenção, que propunha políticas para conter o avanço soviético em qualquer parte do mundo.Já a vertente econômica propunha um plano de recuperação denominado de Plano Marshall, por meio do qual os EUA investiram cerca de 20 bilhões de dólares na recuperação dos países europeus destruídos pela guerra.
A vertente geopolítica, por sua vez, instaurou as bases para a criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), criada em 1949 com o objetivo de proteger o continente europeu de qualquer ameaça externa. A Otan existe até hoje, embora atualmente cumpra funções diferentes.
Países integrantes da Otan
A RECONSTRUÇÃO DA ALEMANHAApós a deflagração do Plano Marshall, os Estados Unidos anunciaram a intenção de aplicá-lo também na reconstrução da Alemanha. Porém, de acordo com as deliberações da Conferência de Potsdam, qualquer iniciativa que tivesse como foco a revitalização econômica desse país só poderia ser implantado com o aval das quatro potências ocupantes. Evidentemente, a proposta contrariava os interesses da URSS, a quem não interessava uma Alemanha capitalista, forte e reconstruída.
Apesar da recusa soviética, os Estados Unidos resolveram aplicar o plano de reconstrução em três zonas ocidentais da Alemanha e também em Berlim Oriental, área sob a proteção de seu exército e de seus aliados. Em represália, a União Soviética criou um bloqueio para impedir o acesso dos estadunidenses e de seus aliados à porção oriental do país, que também abrangia a cidade de Berlim. As tropas soviéticas desfilavam na fronteira, impedindo o acesso terrestre e isolando Berlim.
A resposta veio em seguida. O exército dos Estados Unidos montou a maior operação de guerra em tempos de paz da história, fazendo uma ponte aérea que ligava a zona de ocupação ocidental a Berlim. Eram realizados mil voos por dia, que levavam suprimentos, materiais de reconstrução e carvão para a parte ocidental de Berlim, sem passar pelo território controlado pelo inimigo. Foram dez meses de profundas tensões, até que, finalmente, os soviéticos desistiram da estratégia de bloqueio.
Avião norte-americano levando mantimentos para Berlim Ocidental
Em 1949, ainda sob o efeito do "Bloqueio de Berlim", EUA e URSS anunciaram a divisão da Alemanha em dois países, de acordo com suas esferas de influência. Na porção ocidental surgia a República Federal da Alemanha (RFA), aliada aos Estados Unidos e tendo como capital a cidade de Bonn. Na porção leste criou-se a República Democrática da Alemanha (RDA), sob a influência da União Soviética.
Mapa da Alemanha dividida
Berlim, a capital, também foi dividida em Berlim Oeste e Berlim Leste. Os habitantes de Berlim Leste, assim como a Alemanha Oriental, eram proibidos de atravessar a fronteira em direção ao lado ocidental. Muitas pessoas conseguiam burlar a vigilância da guarda de fronteira e escapar para o outro lado, mas outras tantas foram presas ou executadas na tentativa de fuga.
Mapa de Berlim e suas áreas de influência
O MURO DE BERLIMEm 1961, o governo socialista da Alemanha Oriental construiu um muro separando Berlim Leste de Berlim Oeste, numa tentativa de conter os escapes. O Muro de Berlim, como ficou conhecido, passou então a representar a divisão do mundo em áreas de influência distintas, tornando-se a materialização da bipolaridade.
Operários trabalhando na construção do Muro de Berlim
Na década de 1980, a população dos países da chamada "cortina de ferro", entre eles a Alemanha, influenciados pelas reformas políticas liberalizantes iniciadas no governo soviético de Mikhail Gorbatchev, clamavam por liberdade política e democracia. Foi nesse contexto que, em novembro de 1989, uma multidão enfurecida destruiu o Muro de Berlim, sem que a polícia disparasse um só tiro.
Manifestante arrebenta o Muro de Berlim sob o olhar dos guardas impassíveis
Para o conjunto dos países do Leste Europeu, o socialismo havia desmoronado. Em alguns casos, como na Alemanha e na Tchecoslováquia, o processo foi pacífico. Em outros, como na Bulgária, a violência tomou conta das ruas. A Alemanha unificou-se novamente, e a partir desse momento a derrubada do Muro de Berlim transformou-se no maior símbolo do fim da ordem mundial em vigor até então e do advento de uma Nova Ordem Mundial.AS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO
Ao observarmos o mundo contemporâneo, é possível reconhecer que o conjunto de países que formam o sistema internacional aglutina-se em alianças econômicas, pois não há um governo mundial que estabeleça regras comuns. Cada país necessita criar uma esfera de proteção contra invasões externas que lhes permita lutar em favor de seus próprios interesses.
A relação entre um país e outro é fundamentada pela política externa de cada Estado. É por meio dela que os países constroem mecanismos de comércio e de segurança internacionais. Seu objetivo, portanto, é permitir alianças econômicas e estratégicas e firmar tratados para criar um sistema internacional mais seguro e eficiente, amenizando possíveis vulnerabilidades.
No final do século XIX, o sistema internacional configurou-se multipolar, cabendo aos Estados europeus a definição de alianças e interesses. O rompimento multipolar expressou-se nas duas guerras mundiais.
Divisão da África de acordo com a Conferência de Berlim - exemplo da dominação europeia no século XIX
Após a Segunda Guerra Mundial, com o declínio de poder das potências europeias, despontaram duas novas forças: os Estados Unidos e a União Soviética. durante a segunda metade do século XX, a Guerra Fria estabeleceu um sistema bipolar, fundamentado no equilíbrio entre as superpotências nucleares.A partir de então, EUA e URSS utilizaram tanto recursos militares como econômicos e políticos para ampliar seu leque de atuação no mundo. Primeiramente, partiram para uma corrida armamentista, investindo pesadamente na expansão de seus arsenais nucleares. Além disso, promoveram estratégias de atuação direta e indireta em inúmeros conflitos regionais e estabeleceram bases militares em territórios alheios, criando cordões de proteção bélicos em diversas partes do mundo.
Corrida espacial - uma das estratégias da Guerra Fria
SISTEMAS ECONÔMICOS: ARMAS DA BIPOLARIDADEAs duas superpotências líderes da "velha ordem", EUA e URSS, utilizaram seus sistemas econômicos como elementos aglutinadores para estabelecer suas esferas de influência na ordem bipolar. A oposição entre capitalismo e socialismo marcou o período da Guerra Fria.
Os sistemas econômicos também foram usados como forma de pressão e controle sobre as áreas em que as superpotências mantinham influência. A União Soviética financiou direta e indiretamente governos e grupos de oposição realizando campanhas para difundir os princípios socialistas. Os fundamentos marxistas de uma sociedade igualitária eram o meio pelo qual a URSS propagava seu ideário, com o intuito de contrapor-se à sociedade de mercado, símbolo do capitalismo.
Karl Marx - um dos idealizadores do socialismo
Entretanto, a aplicação do socialismo, na URSS e no Leste Europeu, não obedeceu os princípios teóricos originais. O socialismo soviético pode ser considerado o melhor exemplo de descompasso entre a teoria e as práticas socialistas. Muitos autores, por isso, estabelecem uma diferença entre os fundamentos do socialismo histórico, também denominado científico, e o socialismo real, aplicado na União Soviética e em sua área de influência. De acordo com eles, o regime soviético descaracterizou o que foi proposto na teoria, gerando uma sociedade dividida, na qual os interesses de uma minoria eram sobrepostos aos da maioria. Na URSS e nos países do Leste Europeu, governos ditatoriais impuseram severas restrições à liberdade e ao bem-estar das populações, beneficiando apenas os que se alinhavam ao partido comunista. Não havia eleições livres, o poder era conduzido pela força, e os investimentos eram direcionados para alimentar a disputa de poder. Além disso, uma sucessão de governos corruptos desestabilizou as economias desses países, dificultando a vida da população.
Mapa da ex-URSS
Como o regime socialista soviético sustentou-se por meio de uma ferrenha ditadura, a necessidade de ampliar os esquemas de segurança interna, tanto em seu próprio território quanto no dos países sob sua influência, aliada às pressões exercidas pela corrida armamentista, fez com que os gastos militares sobrepujassem os investimentos sociais. Esse fato levou a um descompasso entre a oferta de produtos necessários ao bem-estar da população e os investimentos direcionados ao setor armamentista.Nas décadas de 1970 e 1980, seguidas crises de abastecimento de bens de consumo na URSS levaram a população a enfrentar filas intermináveis para adquirir produtos básicos como biscoitos, vassouras e papel higiênico.
Fila de consumidores em uma padaria em Berlim
A ausência de democracia, o desabastecimento, a corrupção interna, os baixos investimentos em tecnologias da informação e a excessiva burocracia estatal estão entre os fatores que acabaram por desestabilizar o regime soviético.Por outro lado, os EUA ampliavam o poder de atuação do sistema capitalista ao difundir os fundamentos de uma sociedade de consumo cada vez mais insaciável. Sob sua liderança, os países ocidentais lançavam no mercado uma infinidade de novos produtos, muitos deles oriundos de tecnologias provenientes da indústria armamentista, ampliando o leque de oferta de bens de consumo altamente atraentes.
Loja da McDonald's em Moscou
Nas décadas subsequentes à Segunda Guerra Mundial, os países ocidentais reorganizaram suas economias e passaram a apresentar índices econômicos cada vez mais positivos. Os países europeus e o Japão, principalmente, investiram em novos setores, como eletroeletrônica e informática, disponibilizando grande quantidade de aparatos de alta tecnologia para o mercado. A economia capitalista beneficiava-se cada vez mais dos avanços provenientes dos investimentos militares, e essas tecnologias fundamentaram uma verdadeira revolução técnico-científica, responsável pelas grandes mudanças ocorridas na produção, na distribuição, no consumo e na comunicação mundiais a partir das últimas décadas do século XX.
Moscou
FONTE: Araújo, Regina. Observatório de geografia: 9º ano: territórios da globalização / Regina Araújo, Ângela Corrêa da Silva, Raul Borges Guimarães. - São Paulo: Moderna, 2009.
2 comentários:
Excelente artigo! Parabéns!!
Ok, obrigado Ana.
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