segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

HAITI: O PAÍS MAIS POBRE DO CONTINENTE AMERICANO

   O Haiti é um país do Caribe. Ocupa uma pequena porção ocidental da ilha de São Domingos, também chamada de Hispaniola, no arquipélago das Grandes Antilhas, partilhando a ilha com a República Dominicana.

  O Haiti foi o primeiro país latino-americano a declarar sua independência e, ao longo de sua história, ficou marcado por golpes e ditaduras. Isso resultou no quadro social do país, que é o mais pobre do continente americano. Foi também, o primeiro a abolir a escravidão no continente.

  Em 2010, o Haiti sofreu um forte terremoto, que abalou fortemente a estrutura do país, em especial sua capital, Porto Príncipe.

Mapa com a localização geográfica do Haiti

HISTÓRIA

  O território que atualmente corresponde ao Haiti, era ocupado por índios arauaques, quando, em 1492, Cristóvão Colombo chegou à ilha. Os espanhóis batizaram a ilha de Hispaniola, ocupando, primeiramente, a porção oriental do território, que corresponde atualmente à República Dominicana. Eles escravizaram os índios que ali viviam e, até o final do século XVI, a população nativa foi reduzida em quase toda sua totalidade.

  Em 1697, a partir da assinatura do Tratado de Ryswick envolvendo, Espanha e França, a parte ocidental da ilha, onde atualmente fica o Haiti, foi cedida à França, e recebeu o nome de Saint Domingue, se tornando a mais importante possessão francesa na América, onde ocorreu o cultivo da cana-de-açúcar com a utilização de mão de obra escrava africana. Porém, esses africanos escravizados, influenciados pela Revolução Francesa, rebelaram-se em 1791, liderados pelo ex-escravo Toussaint L'Ouverture.

Batalha de San Domingo, pintado por January Suchodolski, representando uma luta entre tropas polonesas a serviço da França e os rebeldes do Haiti

  A abolição da escravidão ocorreu no ano de 1794, após uma revolta de escravos, tornando-se o primeiro país do mundo a abolir a escravidão. Nesse mesmo ano, a França passou a dominar toda a ilha. Em 1801, o ex-escravo Toussaint Louverture tornou-se governador-geral, sendo deposto e morto logo em seguida pelos franceses. O líder Jean Jacques Dessalines organizou o exército e derrotou os franceses em 1803. Em 1804, foi declarada a independência, tornando o segundo país independente da América (os Estados Unidos foram o primeiro), e Dessalines proclamou-se imperador. Em represália, os escravistas europeus e estadunidenses mantiveram o Haiti sob um bloqueio econômico por 60 anos.

  Em 1815, Simon Bolívar refugiou-se no Haiti, após o fracasso de sua primeira tentativa de luta contra os espanhóis. Recebeu dinheiro, armas e pessoal militar, com a condição de que abolisse a escravidão nas terras que libertasse. Posteriormente, para pôr fim ao bloqueio, o Haiti, sob o governo de Jean-Pierre Boyer, cercado pela frota da ex-metrópole, concordou em assinar um tratado pelo qual seu país pagaria à França a quantia de 150 milhões de francos a título de indenização. A dívida depois foi reduzida para 90 milhões, mas trouxe reflexos negativos para a economia do país.

  Após um período de estabilidade, o Haiti foi dividido em dois e a parte oriental - atual República Dominicana - reocupada pela Espanha. Em 1822, o presidente Jean-Pierre Boyer reunificou o país e conquistou toda a ilha. Em 1844, uma nova revolta derrubou Boyer e a República Dominicana conquistou a independência.

Representação do massacre de 1804

  Da segunda metade do século XIX ao começo do século XX, vinte governantes sucederam-se no poder. Desses, 16 foram depostos ou assassinados. Entre 1915 e 1934 o Haiti foi ocupado por tropas norte-americanas sob o pretexto de proteger os interesses dos Estados Unidos no país. O almirante William B. Caperton impôs ao governo uma convenção cujas cláusulas depositavam a administração civil e militar, as finanças, as alfândegas e o banco do Estado em mãos norte-americanas. Proclamou também uma lei marcial sobre todo o território. Em 1946, foi eleito um presidente negro, Dumarsais Estimé. Após a derrubada de mais duas administrações governamentais, o médico François Duvalier, foi eleito presidente em 1957.

  François Duvalier, conhecido como Papa Doc, apoiado pelos Estados Unidos no contexto da Guerra Fria, instaurou uma forte ditadura baseada no terror policial dos tontons macoutes (bichos-papões) - sua guarda pessoal - e na exploração do vodu. A partir de 1964, Papa Doc tornou-se presidente vitalício, exterminou a oposição e perseguiu a Igreja Católica. Papa Doc morreu em 1971 e foi substituído por seu filho, Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc.

François Duvalier, o Papa Doc (1907-1971)

  Em 1986, Baby Doc decretou estado de sítio. Os protestos populares se intensificaram e ele fugiu com a família para a França, deixando em seu lugar o General Henry Namphy. Foram convocadas eleições e Lesile Manigat foi eleito presidente, em um pleito caracterizado por grande abstenção. Manigat governou de fevereiro a junho de 1988, quando foi deposto por Namphy. Três meses depois, outro golpe de Estado pôs no poder o chefe da guarda presidencial, o General Prosper Avril.

  Depois de mais um período de conturbação política, foram realizadas eleições presidenciais livres em dezembro de 1990, vencida pelo padre salesiano Jean-Bertrand Aristide, ligado à teologia da libertação. Em setembro de 1991, Aristide foi deposto num golpe de Estado liderado pelo General Raoul Cédras e se exilou nos Estados Unidos. A Organização dos Estados Americanos (OEA), a Organização das Nações Unidas (ONU) e os Estados Unidos impuseram sanções econômicas ao país para forçar os militares a permitirem a volta de Aristide ao poder.

Pétionville - com uma população de 291.996 habitantes (estimativa 2022) é a quarta cidade mais populosa do Haiti

  Em julho de 1993, Cédras e Aristide assinaram um pacto em Nova York, acordando o retorno do governo constitucional e a reforma das Forças Armadas. Em outubro de 1993, porém, grupos paramilitares impediram o desembarque de soldados norte-americanos, integrantes de uma Força de Paz da ONU. O elevado número de refugiados haitianos que tentavam ingressar nos Estados Unidos fez aumentar a pressão pela volta de Aristide. Em maio de 1994, o Conselho de Segurança da ONU decretou bloqueio total ao país. A junta militar empossou um civil, Émile Jonassaint, para exercer a presidência até as eleições marcadas para fevereiro de 1995. Os Estados Unidos denunciaram o ato como ilegal. Em julho, a ONU autorizou uma intervenção militar, liderada pelos Estados Unidos. Em 1º de agosto, Jonaissant decretou estado de sítio.

  Em setembro de 1994, uma força multinacional, liderada pelos Estados Unidos, entrou no Haiti para reempossar Aristide. Os chefes militares haitianos renunciaram a seus postos e foram anistiados. Jonaissant deixou a presidência em outubro e Aristide reassumiu o poder com a economia destroçada pelo bloqueio comercial e por convulsões internas.

Croix-des-Bouquets - com uma população de 236.367 habitantes (estimativa 2022) é a quinta cidade mais populosa do Haiti

  Entre 1994 e 2000, o Haiti viveu mergulhado em crises. Devido à instabilidade, não puderam ser implementadas reformas políticas profundas. A eleição parlamentar e presidencial em 2000, foi marcada pela suspeita de manipulação por Aristide e seu partido político. O diálogo entre oposição e governo ficou prejudicado. Em 2003, a oposição passou a clamar pela renúncia de Aristide. A Comunidade do Caribe, Canadá, União Europeia, França, Organização dos Estados Americanos e Estados Unidos, apresentaram-se como mediadores, sendo que a oposição refutou as propostas de mediação, o que aprofundou a crise.

  Em fevereiro de 2004, ex-integrantes do exército haitiano (tontons macoutes) deram início a um levante militar em Gonaives, espalhando-se por outras cidades nos dias subsequentes. Gradualmente, os revoltosos assumiram o controle do norte do Haiti. Apesar dos esforços diplomáticos, a oposição armada ameaçou marchar sobre Porto Príncipe, onde se preparava uma resistência pró-Aristide.

  Aristide foi retirado do país por militares norte-americanos em 29 de fevereiro, contra sua vontade, e conseguiu asilo na África do Sul. De acordo com as regras de sucessão constitucional, o presidente do Supremo Tribunal, Bonifácio Alexandre, assumiu a presidência interinamente e requisitou, de imediato, assistência das Nações Unidas para apoiar uma transição política pacífica e constitucional e manter a segurança interna. Nesse sentido, o Conselho de Segurança (CS) aprovou o envio da Força Multinacional Interna (MIF), liderada pelo Brasil, que prontamente iniciou seu desdobramento.

Soldado do Exército Brasileiro da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), na favela de Cité Solei, em Porto Príncipe

  Em 12 de janeiro de 2010, um terremoto de proporções catastróficas, com magnitude sísmica de 7,0 (7,3 na escala de Richter), atingiu o país a aproximadamente 22 quilômetros da capital, Porto Príncipe. Em seguida, foram sentidos na área múltiplos tremores com magnitude em torno de 5,9 graus. O Palácio Presidencial, várias escolas, hospitais e outras construções ficaram destruídos após o terremoto e estima-se que 80% das construções de Porto Príncipe foram destruídas ou seriamente danificadas. O terremoto deixou cerca de 300 mil mortos, mais de 300 mil feridos e em torno de 1,5 milhão de desabrigados.

  Em 2010, Michel Martelly foi eleito presidente, assumindo em 2011, deixando a presidência em 2016 numa profunda crise eleitoral, onde não houve um resultado formal do vencedor e cujo Senado teve que refazer uma eleição indireta, empossando Jocelerme Privert, presidente do Senado, após um breve vácuo na presidência, onde o país ficou sob o comando do então Primeiro-Ministro Evans Paul.

  Em 7 de julho de 2021, o presidente Moïse foi assassinado em um ataque à sua residência privada, com a primeira-dama, Martine Moïse, tendo sido hospitalizada.

Carro da ONU patrulhando as ruas de Porto Príncipe após o terremoto de 2010

GEOGRAFIA

  O Haiti está localizado na parte ocidental da ilha de Hispaniola, a segunda maior ilha das Grandes Antilhas, no Caribe. Partilha uma fronteira de 360 quilômetros com a República Dominicana, a leste. Possui o segundo maior litoral das Grandes Antilhas, com 1.771 quilômetros.

  A noroeste, está situada Cuba, que se separa do território haitiano pelo canal de Barlavento, enquanto a oeste, estende-se o canal da Jamaica, que separa a ilha de São Domingos do território jamaicano.

  O país encontra-se em um território com grande instabilidade tectônica, devido encontrar-se na falha geológica do sistema Enriquillo-Plantain Garden. O limite norte da falha é onde a placa tectônica do Caribe se desloca para leste por cerca de 20 mm por ano em relação à placa Norte-Americana. O sistema de falhas transcorrentes na região tem duas áreas no Haiti: a Falha Setentrional-Oriental no norte, e a Falha de Enriquillo-Plantain Garden no sul.

Falha de Enriquillo-Plantain Garden, na ilha de Hispaniola. O círculo vermelho foi o epicentro do terremoto de 2010 no Haiti; as setas brancas indica a direção de movimentação das placas tectônicas

  O país é banhado pelo mar do Caribe, que envolve também um pequeno conjunto de ilhas que integram o seu território, que são: Tortuga, Gonâve, Cayemitas e Île-à-Vache.

  O relevo haitiano é bastante jovem, com terrenos montanhosos e acidentados e com ao menos quatro cordilheiras atravessando o território do país. O ponto mais elevado é o Pico La Selle, localizado no departamento administrativo Oeste, com uma altitude de 2.680 metros, e que faz parte da cordilheira de La Selle.

Pic la Selle - ponto mais elevado do Haiti

  O clima predominante no Haiti é o tropical úmido, com variações locais determinadas pelo relevo. Uma das suas principais características é a elevada amplitude térmica diária e baixa variação anual.

  As temperaturas médias anuais ficam entre 25ºC e 30ºC. Nas áreas mais elevadas, as temperaturas são mais amenas, com mínimas de até 16ºC. O volume de chuvas varia bastante, ficando com uma média de 700 milímetros ao ano nas encostas das montanhas. As áreas a leste são mais secas devido à presença de cadeias montanhosas, que impedem a chegada dos ventos úmidos à região.

Mapa climático do Haiti segundo a classificação de Köppen

  A vegetação natural do Haiti é formada por florestas tropicais. No entanto, a vegetação remanescente dessa formação são encontradas nas áreas mais elevadas, em especial nos maciços do sul e do centro-sul. Campos e bosques são encontrados em planícies ou áreas de relevo menos acidentado, enquanto no litoral há a presença de mangues.

Mapa da vegetação do Haiti

  O principal e maior rio do Haiti e também de toda a ilha de São Domingos é o rio Artibonite, com uma extensão de 253 quilômetros. Sua nascente está localizada nos montes Cibao, na Cordilheira Central, na República Dominicana. Sua foz é no Golfo de Gonâve. O rio é usado para irrigação e também para a produção de energia. O rio Artibonite dá nome a um dos departamentos do Haiti e forma parte da fronteira com a República Dominicana.

  A maior parte dos cursos d'água que banham o território haitiano deságua no golfo de Gonâve, um golfo triangular que forma toda a costa oeste do Haiti, que também é o maior golfo do mar do Caribe.

Rio Artibonite

ECONOMIA

  O Haiti é considerado o país mais pobre do continente americano, o que se deve a uma série de fatores socioeconômicos e históricos, perpetuados ao longo do tempo, e também políticos, dos quais se destacam os períodos de instabilidade política e institucional e dos golpes de Estado, seguidos de longas ditaduras que imperaram no país.

  Destaca-se, ainda, a má distribuição de renda e a intensa concentração nas mãos de um pequena parcela da população. Outro fator que contribui para a pobreza que impera no país, refere-se aos intensos desastres naturais que o país sofre frequentemente, como furacões e terremotos, que fragilizam ainda mais a situação da população haitiana. A pesca e o turismo também são uma importante fonte de renda para o país.

Jacmel - com uma população de 142.325 habitantes (estimativa 2022) é a sexta cidade mais populosa do Haiti

DEMOGRAFIA

  Embora a densidade demográfica do país seja de 423,8 hab./km², sua população se concentra fortemente mais nas áreas urbanas, nas planícies costeiras e nos vales. De acordo com estimativas para 2022, a população haitiana é de 11.762.847 habitantes. Cerca de 95% dos haitianos são negros, descendentes de escravos africanos, o que faz do país o que tem a maior porcentagem de população negra fora da África no mundo. Os 5% restantes são brancos ou mulatos. Milhões de haitianos vivem no exterior, principalmente nos Estados Unidos, na República Dominicana, em Cuba e no Canadá.

  Devido ao sistema de casta racial instituído no Haiti colonial, os mulatos haitianos se tornaram uma elite social dentro da nação e foram racialmente privilegiados. Vários líderes ao longo da história do país eram mulatos. Os mulatos têm mantido a sua preeminência evidente na hierarquia política, econômica, social e cultural do país. Alexandre Pétion, cuja mãe era haitiana e o pai era um francês bastante rico, foi o primeiro presidente do país.

Cabo Haitiano - com uma população de 139.075 habitantes (estimativa 2022) é a sétima cidade mais populosa do Haiti

CULTURA

  O arcabouço cultural do Haiti é bastante rico e diverso, sendo formado com base na influência predominante dos africanos e também dos franceses e espanhóis. Isso reflete em vários aspectos e nas formas de manifestação cultural, em especial na música, nas artes em geral, no idioma e na religiosidade.

  O crioulo haitiano e o francês são considerados os idiomas falados oficiais do país. O francês é utilizado principalmente para propósitos políticos e administrativos, além de ser também a principal língua utilizada para a escrita. A língua crioula é falada pela grande maioria dos haitianos e possui variações regionais.

Léogáne - com uma população de 138.430 habitantes (estimativa 2022) é a oitava cidade mais populosa do Haiti

  A religiosidade é outro aspecto interessante da cultura haitiana. O sincretismo religioso é amplamente presente no Haiti, com a predominância das religiões cristãs de origem europeia e das religiões africanas, com destaque para o Vodu, que tem origem nas tradições da África Ocidental. O vodu foi oficializado como religião no Haiti no ano de 2003, e muitos dos seus elementos são empregados em várias práticas religiosas no país.

Les Cayes - com uma população de 129.774 habitantes (estimativa 2022) é a nona cidade mais populosa do Haiti

  A música haitiana combina uma ampla gama de influências extraídas dos muitos povos que se instalaram na ilha caribenha. Ela reflete ritmos franceses, africanos, espanhóis e de outras culturas que habitaram a ilha de Hispaniola. Entre os estilos musicais exclusivos da nação estão músicas derivadas de tradições cerimoniais do vodu haitiano, entre outros.

  O futebol é o esporte mais tradicional do Haiti, com centenas de pequenos clubes de futebol competindo em nível local. Em 1974, a Seleção Haitiana de Futebol se tornou a segunda seleção do Caribe a se classificar para a Copa do Mundo de Futebol FIFA (a primeira foi Cuba, em 1938). A seleção venceu a Copa das Nações do Caribe em 2007. O Haiti participa dos Jogos Olímpicos desde o ano de 1900, tendo ganhado duas medalhas em 1924 e 1928.

Petit-Goáve - com uma população de 121.217 habitantes (estimativa 2022) é a décima cidade mais populosa do Haiti
ALGUNS DADOS SOBRE O HAITI


NOME: República do Haiti
INDEPENDÊNCIA: da França
Declarada: 1 de janeiro de 1804
Reconhecida: 1825
CAPITAL: Porto Príncipe
Visão aérea de Porto Príncipe
GENTÍLICO: haitiano (a)
LÍNGUA OFICIAL: francês e crioulo haitiano
GOVERNO: Republica Unitária Semipresidencialista
LOCALIZAÇÃO: América Central (Grandes Antilhas)
ÁREA: 27.750 km² (144º).
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa para 2022): 11.762.847 habitantes (81°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 423,88 hab./km² (28°). Obs: a densidade demográfica, densidade populacional ou população relativa é a medida expressa pela relação entre a população total e a superfície de um determinado território.
CRESCIMENTO POPULACIONAL (ONU - Estimativa 2022): 1,58% (81°). Obs: o crescimento vegetativo, crescimento populacional ou crescimento natural é a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade de uma  determinada população.
CIDADES MAIS POPULOSAS (Estimativa para 2022):
Porto Príncipe:1.273.762 habitantes
Porto Príncipe - capital e maior cidade do Haiti
Carrefour: 456.128 habitantes
Carrefour - segunda cidade mais populosa do Haiti
Delmas: 395.020 habitantes
Delmas - terceira cidade mais populosa do Haiti
PIB (FMI - Estimativa 2022): US$ 20,182 bilhões (118º). Obs: o PIB (Produto Interno Bruto), representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer sejam países, estados ou cidades), durante um período determinado (mês, trimestre, ano).
PIB PER CAPITA (FMI 2021): US$ 784 (169°). Obs: o PIB per capita ou renda per capita é o Produto Interno Bruto (PIB) de um determinado lugar dividido por sua população. É o valor que cada habitante receberia se toda a renda fosse distribuída igualmente entre toda a população.
Mapa-múndi mostrando a renda per capita dos países em 2019
IDH (ONU - 2021): 0,535 (163°). Obs: o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população. Este índice é calculado com base em dados econômicos e sociais, variando de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o país. No cálculo do IDH são computados os seguintes fatores: educação (anos médios de estudos), longevidade (expectativa de vida da população) e PIB per capita. A classificação é feita dividindo os países em quatro grandes grupos: baixo (de 0,0 a 0,500), médio (de 0,501 a 0,800), elevado (de 0,801 a 0,900) e muito elevado (de 0,901 a 1,0).
Mapa-múndi representando as quatro categorias do Índice de Desenvolvimento Humano, baseado no relatório publicado em 15 de dezembro de 2020, com dados referentes a 2019
EXPECTATIVA DE VIDA (OMS - 2021): 60,99 anos (156º). Obs: a expectativa de vida refere-se ao número médio de anos para ser vivido por um grupo de pessoas nascidas no mesmo ano, se a mortalidade em cada idade se mantém constante no futuro, e é contada da maior para a menor.
Planisfério com a expectativa de vida dos países
TAXA DE NATALIDADE (ONU - 2021): 35,87/mil (35º). Obs: a taxa de natalidade é a porcentagem de nascimentos ocorridos em uma população em um determinado período de tempo para cada grupo de mil pessoas, e é classificada do maior para o menor.
Mapa com a taxa de natalidade dos países
TAXA DE MORTALIDADE (CIA World Factbook 2021): 12,17/mil (47º). Obs: a taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um índice demográfico que reflete o número de mortes registradas, em média por mil habitantes, em uma determinada região por um período de tempo e é classificada do maior para o menor.
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2021): 59,69/mil (188°). Obs: a taxa de mortalidade infantil refere-se ao número de crianças que morrem no primeiro ano de vida entre mil nascidas vivas em um determinado período, e é classificada do menor para o maior.
Mapa da taxa de mortalidade infantil no mundo
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook 2021): 2,48 filhos/mulher (74º). Obs: a taxa de fecundidade refere-se ao número médio de filhos que a mulher teria do início ao fim do seu período reprodutivo (15 a 49 anos), e é classificada do maior para o menor.
Mapa da taxa de fecundidade de acordo com o CIA World Factbook de 2020
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2021): 52,9% (188º). Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que sabem ler e escrever.
Mapa da taxa de alfabetização no mundo em 2020
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2021): 57,1% (109°). Obs: essa taxa refere-se a porcentagem da população que mora nas cidades em relação à população total.
Mapa da taxa de urbanização no mundo em 2020
MOEDA: Gourde
RELIGIÃO: cerca de 56,8% dos haitianos professam o catolicismo romano, 29,6% o protestantismo, 10,6% não têm religião, 2,2% praticam a religiosidade popular e 0,8% não tem uma religião definida.
DIVISÃO: o Haiti está dividido em dez departamentos (os números correspondem ao departamento no mapa): 1. Artibonite, 2. Centro, 3. Grande Enseada, 4. Nippes, 5. Norte, 6. Nordeste, 7. Noroeste,  8. Oeste, 9. Sudeste, 10. Sul.
Mapa com a divisão administrativa do Haiti

FONTES:

FRANCISCO, Wagner de Cerqueira e. "História do Haiti"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historia-da-america/historia-haiti.htm. Acesso em: 20/12/2022.

GUITARRARA, Paloma. Haiti, Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/haiti.htm. Acesso em: 26/12/2022. 

Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Haiti. Acesso em: 20/12/2022


quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

A PRIMEIRA DEMOCRACIA BRASILEIRA

  Em 1889, um golpe militar derrubou dom Pedro II, que era o Imperador do Brasil na época, e proclamou a República. A partir de então, uma nova forma de organização de governo foi adotada.

  Após o golpe, foi criada, em 1891, uma nova Constituição, que determinou a implantação de uma democracia presidencialista. Os cidadãos com direito ao voto podiam escolher os representantes dos poderes Executivo e Legislativo. Entretanto, apenas uma pequena parcela da população participava das eleições. Mulheres e analfabetos eram os principais grupos excluídos do direito de cidadania.

  Outro problema do sistema de governo adotado nesse momento é que o voto era aberto. Assim, era possível pressionar e intimidar eleitores para assegurar a vitória de candidatos alinhados com os interesses das elites locais. Além disso, ocorriam muitas fraudes e arranjos políticos que dificultavam a eleição de políticos de oposição.

  O período de 1891 a 1930 foi marcado pela existência de um governo controlado pelas elites de diferentes regiões do Brasil, que se afastava do ideal de democracia como exercício da vontade e dos interesses dos cidadãos.

Deodoro da Fonseca (1827-1892) - primeiro presidente do Brasil

A Primeira República

  A Primeira República Brasileira, também conhecida como República Velha ou República das Oligarquias, é o período da história do Brasil que se estendeu da Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, até a Revolução de 1930, que depôs seu 13º e último presidente efetivo, Washington Luís. Nesse período o Brasil foi nomeado de Estados Unidos do Brasil.

  A Primeira República é dividida pelos historiadores em dois períodos. O primeiro período, chamado de "República da Espada", foi dominada pelos setores mobilizados do Exército apoiados pelos republicanos, e vai da Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, até a posse do primeiro presidente civil, Prudente de Morais, em 15 de novembro de 1894. Nesse período, exerceram a presidência do país o Marechal Deodoro da Fonseca (de 15 de novembro de 1889 a 23 de novembro de 1891) e o Marechal Floriano Peixoto (23 de novembro de 1891 a 15 de novembro de 1894).

  A República da Espada teve viés mais centralizador do poder, em especial por temores da volta da Monarquia, bem como para evitar uma possível divisão do Brasil.

Floriano Peixoto (1839-1895) - segundo presidente do Brasil

  O segundo período ficou conhecido como "República Oligárquica", e se estendeu de 1894 até a Revolução de 1930. Caracterizou-se por dar maior poder para as elites regionais, em especial da região Sudeste. As oligarquias dominantes eram as forças políticas republicanas de São Paulo e Minas Gerais, que se revezavam na presidência. Essa hegemonia denomina-se política do café com leite, devido à influência do setor agrário paulista - com grande produção de café -, e do setor agrário mineiro - produtor de leite -, que impediam a ocupação do principal cargo do Poder Executivo por representantes dos interesses de outros estados economicamente importantes à época, como Rio Grande do Sul e Pernambuco.

Primeira Bandeira Republicana, criada por Ruy Barbosa, usada entre 15 e 19 de novembro de 1889

Sistema eleitoral na Primeira República

  No início da Primeira República foi instituído o voto aberto para maiores de 21 anos aos cidadãos que sabiam ler e escrever. No entanto, soldados e religiosos estavam excluídos do processo eleitoral.

  Já as mulheres viviam uma situação ambígua, pois a Constituição brasileira especificava que somente os homens podiam votar, mas não proibia explicitamente o voto feminino. Esta brecha foi aproveitada para que algumas mulheres solicitassem seu direito ao voto. Uma delas foi a potiguar Celina Guimarães Viana (1890-1972), que foi a primeira eleitora de que se tem registro oficial no Brasil, ao votar em 5 de abril de 1928, na cidade de Mossoró (RN).

Celina Guimarães votando onde atualmente funciona a Biblioteca Municipal de Mossoró (RN), em 1928

  No entanto, a maioria da população era analfabeta e dos 12 milhões de habitantes, somente 10% conseguia participar do processo eleitoral.

  As eleições eram marcadas por fraudes e os coronéis indicavam em quem o eleitor pobre deveria votar, o chamado voto de cabresto.

  O resultado das eleições estava a cargo da Comissão Verificadora. Essa comissão era favorável ao presidente e, não raro, distorcia resultados aprovando nomes de deputados e senadores aliados.

Charge da Revista Careta, de 1927, ironizando o voto de cabresto

A economia na Primeira República

  A economia deste período era predominantemente rural, com ênfase na produção de café, que correspondia a mais de 50% das exportações brasileiras durante toda a Primeira República. Também fazia parte a produção de açúcar, algodão, borracha e cacau.

  O estado que concentrava a maior produção de café na época era São Paulo. A região tornou-se um polo de atração tanto para brasileiros como para imigrantes.

  Nesta época, começa o desenvolvimento da indústria no país, com destaque para a cidade de São Paulo, que concentrava 31% das fábricas do Brasil.

  Paralelo ao crescimento do operariado, há o início dos movimentos operários reivindicando melhores condições de trabalho e garantia de direitos trabalhistas. Muitas dessas organizações eram comandadas por imigrantes que trouxeram novas ideias e que na Europa era conhecida como anarquismo.

Estação da Luz, um dos símbolos do poder paulista no auge da política do café com leite

O Convênio de Taubaté

  Durante a República Velha, a situação política brasileira era pautada pela economia cafeeira e os arranjos que os governadores conseguiam para obter favores do governo federal.

  A produção brasileira correspondia a dois terços do mercado internacional. Antes cuidado por negros escravizados, os cafezais possuíam agora mão de obra assalariada estrangeira.

  Para obter mais lucros, os fazendeiros aumentaram a produção e isso acarretou em excesso de café, fazendo com que o preço caísse drasticamente, diminuindo os ganhos.

  Assim, os produtores de café se reuniram na cidade paulista de Taubaté, em 1906, com a finalidade de solucionar a crise. Este encontro ficou denominado de Convênio de Taubaté.

  Nesta reunião ficou decidido que o governo seria o responsável por estocar o excedente para vender quando os preços do café melhorassem. Dessa maneira, os fazendeiros não teriam prejuízos. Para comprar o café em excesso, o governo fez empréstimos no exterior.

  A superprodução continuou e o governo estocou café sem conseguir encontrar oportunidade para vendê-lo. A situação se agravou com a Crise de 1929, e o governo teve que queimar o café devido à falta de lugar para armazenar o produto.

Charge ironizando os signatários do Convênio de Taubaté que retiraram o dinheiro público para beneficiar os cafeicultores

Fim da Primeira República e o Golpe de 1930

  O ciclo da Primeira República chega ao fim com o Golpe de 1930, contra o presidente Washington Luís.

  A crise econômica provocada pela queda dos preços do café e a insatisfação dos governadores que ficavam fora da política oligárquica, terminaram por causar uma ruptura nesse sistema.

  Outro fator que contribuiu para o fim da Primeira República foi o fato de, em vez de Washington Luís indicar um mineiro para sucedê-lo, indicou o governador de São Paulo, Júlio Prestes, quebrando o acordo da política do café com leite.

  Os governadores do Rio Grande do Sul (Getúlio Vargas) e da Paraíba (João Pessoa), apoiados por estados que não se beneficiavam da política do café com leite, se aliaram para apresentar a candidatura de Getúlio Vargas.

  Nessas eleições, Júlio Prestes é o vencedor, porém, Getúlio Vargas, apoiado por parte do Exército, impede a posse de Prestes, se declarando vencedor das eleições, alegando fraude na contagem dos votos. Outro fator que contribuiu para que Vargas desse o golpe, foi o assassinato do seu vice, João Pessoa, em Recife.

  Como não houve reação para defender o governo, Vargas assume a presidência da República, pondo fim à Primeira República, e instalando um novo governo, que ficou denominado de Nova República.

Comemoração da Revolução de 1930, em outubro deste mesmo ano

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ARRUDA, Pedro Fassoni. "Liberalismo, direito e dominação da burguesia agrária na Primeira República brasileira (1889-1930)", in Ponto-e-vírgula, vol. 1, 2007.

FAUSTO, Boris. História Geral da Civilização Brasileira - o Brasil Republicano: estrutura de poder e economia. São Paulo: DIFEL/Difusão Editorial S. A., 1977.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

OS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS (RSU)

  Os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), vulgarmente denominado como lixo, resultam de várias atividades humanas e pela sua natureza são substâncias sem utilidade nem valor econômico para quem descarta. A composição varia muito, dentro dos próprios países, dependendo do poder de compra, das condições e hábitos de quem gera.

  De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela lei nº 12.305 de 2010, pertencem à categoria de RSU:

  • "a) resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em residências urbanas;
  • "b) resíduos de limpeza urbana: os originários da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana;" (Art. 13)

Aterro sanitário de Santana do Paraíso (MG), destinação final dos resíduos gerados no Vale do Aço

  A produção industrial, associada ao consumo de bens e mercadorias, criou um enorme acúmulo de resíduos sólidos no planeta. Muitos objetos acabam sendo descartados. Raramente as pessoas se questionam para onde vão esses resíduos após o descarte nos lixos domésticos.

  Lixões e aterros sanitários são criados para servir de depósito final aos descartes provenientes do consumo humano. No lixão, a céu aberto, o lixo é exposto sem nenhum cuidado nem critério sanitário, resultando em um ambiente insalubre. Já o aterro sanitário, em tese, representa um avanço ao impermeabilizar o solo, evitando sua contaminação.

  Com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, são propostas a criação de metas para a eliminação de lixões e a recuperação das áreas em que estão localizados. Além de considerar o aspecto ambiental, também é colocada em pauta a inclusão social e a emancipação econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis que possuem relações com esses espaços.

  A Lei nº 14.026/2020 (Novo Marco Legal do Saneamento), que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, em seu art. 3º-C diz que os resíduos originários de atividades comerciais, industriais e de serviços cuja responsabilidade pelo manejo não seja atribuída ao gerador pode, por decisão do poder público, ser considerado resíduo sólido urbano.

Lixão em Sumé (PB)

  A caracterização e análise dos componentes dos resíduos sólidos urbanos pelos municípios são fundamentais para a adequada gestão e para o gerenciamento dos RSU.

  Estima-se que praticamente metade da massa de RSU coletada no país seja composta de matéria orgânica. A outra metade é composta por resíduos recicláveis secos e rejeitos, o que aponta para uma grande oportunidade e para o necessário equacionamento do problema dos resíduos sólidos recicláveis secos e orgânicos, por meio, em especial, de arranjos regionalizados.

  Políticas públicas focadas no fortalecimento das etapas hierárquicas e na gestão dos resíduos sólidos são fundamentais para viabilizar a valorização dessas duas funções.

  Portanto, devemos separar os resíduos recicláveis secos (vidro, metal, plástico e papel), do orgânico (cascas de frutas, restos de legumes e verduras, borra de café, resíduos verdes) e dos rejeitos antes de descartá-los. Isso permite que sejam reciclados, tratados ou dispostos de forma ambientalmente adequada.

Gráfico mostrando os principais RSU coletados no Brasil em 2020, segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais)

FONTES:

LEI Nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/lei/12305.htm. Acesso em: 05. dez. 2022.

PANORAMA dos resíduos sólidos no Brasil, Abrelpe, 2020. Disponível em: https://abrelpe.org.br/pdfs/panorama_abrelpe_2020.pdf. Acesso em: 6 dez. 2022.

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

A ECONOMIA AÇUCAREIRA NO BRASIL COLÔNIA

  O início efetivo da colonização do Brasil está relacionado ao plantio da cana-de-açúcar, espécie originária da Índia, trazida pelos portugueses a partir da década de 1530. A lavoura canavieira demandava mais investimentos do que a extração do pau-brasil. Além disso, para produzir açúcar era necessário trabalho constante. Por isso, colonos portugueses começaram a se fixar na América.

  A cana-de-açúcar foi amplamente explorada, sobretudo no território correspondente ao da atual Região Nordeste. A produção açucareira se organizou principalmente nas proximidades de Recife e Olinda, em Pernambuco, e em Salvador e Recôncavo Baiano, na Bahia, causando impactos significativos na vegetação nativa, especialmente  na Mata Atlântica.

  A lavoura açucareira ocupou grande parte da terra agricultável na faixa litorânea, forçando os indígenas que lá viviam a migrar para o interior e o norte do território. A abertura de campos de cultivo era feita com a derrubada e a queima da mata nativa.

  Parte da madeira derrubada era utilizada para a construção das instalações de engenhos. Faziam parte dessas instalações, além da plantação, as estruturas necessárias à moagem da cana e à produção do açúcar, a residência do senhor de engenho (conhecida como casa grande), o alojamento dos trabalhadores, a maioria escravizados, e, muitas vezes, uma capela.

Representação de indígenas carregando o pau-brasil

  Outra parte da madeira era usada para alimentar as fornalhas, nas quais o caldo de cana era cozido e convertido em melaço, que era transformado em açúcar. O consumo de lenha nunca parava, pois ela também era utilizada para cozinhar os alimentos consumidos cotidianamente no engenho.

  Além da lenha, outro recurso natural era importante na produção de açúcar: a água. Nas propriedades maiores e mais ricas, chamadas engenhos reais, usava-se a força da água para movimentar as moendas, nas quais a cana era processada. Nos engenhos menores, conhecidos como engenhocas ou trapiches, eram usadas juntas de bois para fazer esse trabalho.

  A vida nos engenhos também demandava a produção de alimentos e a criação de animais, sobretudo gado bovino. Para realizar essas atividades, usava-se a água para a irrigação e para o consumo (humano e animal). Além disso, o solo acabava desgastado devido a métodos de cultivo inadequados e às pastagens.

Engenho de açúcar em Pernambuco colonial, pelo pintor holandês Frans Post (século XVII)

O ciclo do açúcar

  O ciclo do açúcar, também referido como ciclo da cana-de-açúcar, foi um período da história do Brasil Colônia compreendido entre meados do século XVI e meados do século XVIII. O açúcar representou a primeira grande riqueza agrícola e industrial do Brasil e, durante muito tempo foi a base da economia colonial.

  O ciclo do açúcar teve início em 1516, quando a cana-de-açúcar foi introduzida na ilha de Itamaracá, litoral de Pernambuco, pelo administrador colonial Pero Capico. Com a criação das capitanias hereditárias, Pernambuco e São Vicente despontaram na produção açucareira, sendo esta última sobrepujada pela Bahia após a implantação do governo-geral.

  As plantações ocorriam no sistema plantation, ou seja, cultivo de um só produto agrícola em latifúndios. Sua produção era destinada ao comércio externo, e tinha como principal destino o mercado europeu.

  O Nordeste brasileiro foi a região que mais se desenvolveu o cultivo da cana-de-açúcar devido a vários fatores, como: proximidade com a Europa, clima quente e úmido, e o solo de massapê.

Olinda foi o local mais rico do Brasil Colônia devido ao cultivo da cana-de-açúcar

A sociedade açucareira

  Os engenhos eram bem mais do que os locais onde se produzia o açúcar para exportação. Eram espaços onde as relações sociais se desenvolviam e onde acontecia a maioria das celebrações e das festividades da colônia. Neles conviviam o senhor de engenho, sua família e agregados, além de trabalhadores livres e escravizados.

  Os senhores de engenho, no geral, faziam parte da pequena nobreza lusitana ou integravam a administração metropolitana e formavam a aristocracia da colônia. Isso, porém, não significava que eles levassem uma vida luxuosa. Na maioria dos engenhos, as condições de vida eram muito simples. Na residência da maioria dos senhores de engenho, o chão era de terra batida e havia poucos móveis e utensílios - as roupas e os demais produtos manufaturados eram caros, pois eram importados da Europa.

Antigo Solar de Megaípe, casa grande do Engenho Megaípe, em Jaboatão dos Guararapes (PE)

  Na sociedade açucareira, haviam alguns trabalhadores livres que exerciam atividades especializadas nos engenhos em troca de salário, como o mestre de açúcar, responsável pela qualidade do produto, e o purgador, que administrava o processo de clareamento do açúcar. Além disso, haviam muitos lavradores que não possuíam engenho. Parte deles cultivava a cana em suas terras e negociava com os senhores as condições para moê-la nos engenhos. Outra parte arrendava as terras de um senhor e era obrigada a moer a cana naquele engenho e a entregar ao senhor uma parcela de sua produção.

  Nos primeiros engenhos montados, era utilizada apenas a mão de obra indígena. No entanto, com a ampliação das atividades, os portugueses passaram a explorar principalmente o trabalho de africanos escravizados, que, desde então, foram trazidos em grande escala para a colônia. Os escravizados trabalhavam em todas as fases do processo de produção dos engenhos, do plantio e do corte da cana ao transporte do açúcar. Os locais em que viviam, chamados senzalas, eram precários e pouco ventilados. Eles eram obrigados a trabalhar por longas horas, recebiam pouca alimentação e estavam sujeitos à violência, incluindo castigos físicos.

  Nessa sociedade, marcada pela grande propriedade agroexportadora e pela escravidão, os recursos naturais disponíveis eram considerados abundantes e foram intensamente utilizados, sem preocupação em conservá-los. Com o esgotamento de uma área, ocupavam-se outras, ampliando a devastação.

Casa Grande, Senzalas e Armazéns

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ANDRADE, Manuel Correia de. Espaço e tempo na agroindústria canavieira de Pernambuco. São Paulo: Estudos Avançados, n. 15, v. 43, 2001.

FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. Rio de Janeiro: Editora Record, 1998.

GOMES, G. Engenho & arquitetura: tipologia dos antigos engenhos de açúcar de Pernambuco. Recife: Fundação Gilberto Freyre, 1997.

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

OS SÍMBOLOS DO JARDIM JAPONÊS

  Tranquilidade, paz e harmonia com a natureza são elementos presentes na cultura do povo oriental. No corre-corre diário, muitas pessoas recorrem a lugares calmos e tranquilos como uma espécie de refúgio. Os jardins fazem parte  da cultura do Japão e constituem uma significativa manifestação artística. O jardim japonês expressa a essência da natureza em um espaço restrito e repleto de simbologias e misticismos.
  Simples e deslumbrantes, os jardins japoneses, mais do que uma simples técnica de paisagismo, são frutos de uma das modalidades artísticas mais sublimes da cultura oriental. Feitos para conduzir naturalmente seus visitantes a um estado de meditação, calma e espiritualidade, esses jardins incorporam elementos simbólicos e naturais, de forma a estabelecer uma harmonia perfeita com o entorno.
  Em um jardim oriental, os aspectos visuais, como a textura e as cores, são menos importantes do que os elementos filosóficos, religiosos e simbólicos. Estes elementos incluem a água, as pedras, as plantas e variados acessórios.
Jardim Ritsurin, em Takamatsu, Japão
  Dentre os principais símbolos do jardim japonês, estão:
  • Lanterna de Pedra (Toro)
  A pedra possui vários significados: um monte, uma montanha, a família, entre muitos outros. O Toro é uma lanterna japonesa feita de pedra, madeira ou metal, tradicional do Extremo Oriente. Na China, os espécimes existentes são muito raros, e na Coreia não são tão comuns quanto no Japão, onde foram originalmente utilizados em templos budistas para iluminar os caminhos.
  Durante o Período Heian (794-1185), passaram a ser usados em santuários xintoístas e em residências privadas. Seu significado é a iluminação da mente de quem percorre o jardim, induzindo à concentração. Os pontos de luz são estrategicamente distribuídos para não ofuscarem a visão. Todas as lanternas têm os mesmos elementos básicos: telhado grande, um compartimento aberto e três ou quatro pernas, a simplicidade fica por conta da textura rústica da pedra.
Toro do Castelo Himeji, em Himeji, na província de Hyogo, Japão
  • Lago com carpas (Koi)
  A água simboliza a purificação; reflete a imagem induz as pessoas a enxergarem a si mesmas; o som suave que emite ao passar entre as pedras estimula a reflexão.
  As carpas, além de conferir cor e movimento ao jardim, são símbolo de fertilidade e prosperidade; admiradas pela capacidade de nadar contra a correnteza, são verdadeiro símbolo de determinação e superação de obstáculos. Seu colorido adiciona movimento ao jardim.
Lago com carpas no Museu Ojiya, em Ojiya, província de Niigata, Japão
Fonte (Tsukubai)
  No Japão, um tsukubai é uma pia fornecida na entrada de locais sagrados para que os visitantes purifiquem-se pelo ritual de lavar as mãos e pelo enxágue da boca. Esse tipo de ritual de limpeza é o costume para convidados participando de uma cerimônia do chá ou visitando uma área de templo budista. O nome origina-se do verbo tsukubau, que significa "curvar-se", um ato de humildade.
  Os tsukubai são geralmente de pedra e normalmente fornecidos com uma pequena colher, deitada acima, pronta para uso. O fornecimento de água é fornecido através de um tubo de bambu, chamado kakei.
  O bambu enverga-se ao vento, mas não quebra;  sugere assim o comportamento que deveria ser copiado pelos seres humanos: adaptação a situações difíceis sem se deixar vencer.
Tsukubai, em Ryõan-ji, Kyoto, Japão
  • Cascata com pedra
  A cascata fica localizada no centro do jardim. A cascata, além de oxigenar a água, significa, também, a continuidade da vida. E como a vida, ela segue um ciclo representado pela intensidade da água. O fluxo da água simboliza o nascimento, o crescimento e a morte: desde as ondas até um simples murmúrio de água correndo.
  A posição das pedras, geralmente em números ímpares, são uma analogia da formação do homem e da sociedade: a princípio estamos sós, depois em grupo (como pai, mãe e descendentes). A pedra colocada em posição vertical representa o pai, e na horizontal a mãe. As outras pedras simbolizam os descendentes, sendo estas distribuídas em torno do lago.
Yoshikien Jardim, em Nara, Japão
  • Pontes
  Todo jardim japonês precisa de ao menos uma ponte de madeira para relaxar, apreciar as belezas e ver as carpas. As pontes também podem simbolizar a transição do mortal para o sagrado.
Jardim Hamamrikyu, em Chuo, Japão 
  • Plantas
  Todo jardim precisa de plantas. No Japão não pode faltar um bonsai ou uma flor de lótus, que é bastante icônica no Japão. Árvores que desabrocham na primavera e ficam vermelhas no outono, são um dos grandes destaques nos jardins japoneses.
Jardim Sankeien, em Yokohama, Japão
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
ATLAS National Geographic. Ásia I; Ásia II. São Paulo: Abril, 2008. v. 7; v. 8.

terça-feira, 22 de novembro de 2022

A PRIMAVERA DOS POVOS

   Dá-se o nome de Revoluções de 1848 ou Primavera dos Povos uma série de revoluções na Europa Centro e Oriental que eclodiram em função de regimes governamentais autocráticos, de crises econômicas, do aumento da condição financeira e da falta de representação política das classes médias e do nacionalismo, despertado nas minorias da Europa central e oriental, que abalaram as monarquias europeias, onde tinham fracassado as tentativas de reformas políticas e econômicas.

  Este conjunto de revoluções, de caráter nacionalista, liberal, socialista e democrático, foi iniciado por uma crise na França, e foi a onda revolucionária mais abrangente da Europa, embora em menos de um ano, forças revolucionárias tenham retomado o controle e as revoluções em cada nação tenham sido dissipadas.

O início das revoltas

  Ao fim dos anos 1840, a sociedade europeia  encontrava-se em plena ebulição, com as chaminés e a pobreza do mundo industrial alastrando-se rapidamente pelas paisagens urbanas do continente, ao mesmo tempo que desmoronava o mundo dos reis absolutos.

  O suspiro final do Antigo Regime havia começado em 1815, com a derrota de Napoleão Bonaparte e a propagação pela Europa de um movimento de restauração do poder dos reis. A onda reacionária vinha impulsionada pelo Congresso de Viena e pela Santa Aliança, responsáveis por reconduzir ao poder antigas dinastias, sustentada exclusivamente pelos princípios absolutistas.

  Esse ímpeto conservador não se sustentou por muito tempo, perdendo força para uma sociedade ansiosa por maior participação política e controle do Estado. Ao longo dos anos 1820, já se multiplicavam instabilidades e conflitos pelo continente, como as revoluções liberais na Espanha e em Portugal.

A liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix, 1830 (óleo sobre tela, 260 cm x 325 cm), concebida para enaltecer o movimento revolucionário de 1830, na França

  Em 1830, a contestação ao absolutismo ganhou maior vigor, com a eclosão de um movimento revolucionário na França. Naquele país, o cenário político havia regressado ao controle de antigas elites capitaneadas pela nobreza, com forte restrição à participação popular.  Essa conjuntura se mostrou bastante frágil diante de uma forte crise econômica, que o governo resolveu enfrentar com o aumento de impostos, acirrando ainda mais o descontentamento popular.

  Para sufocar os opositores, o governo tomou atitudes dentro dos padrões absolutistas, com a dissolução da câmara dos deputados, a imposição de limites à imprensa e a restrição ainda maior ao direito do voto. A população reagiu, tomando as ruas de Paris, o que fez o rei fugir assustado. O governo seria ocupado então pelo rei Luís Filipe, com o apoio da burguesia, alarmada com a intensa participação popular.

  O clima revolucionário acabou por se estender por outros locais da Europa, como Bélgica, Polônia, norte da península Itálica e Confederação Germânica.

Onda revolucionária na Europa (1830)

As revoltas de 1848

  Ao longo dos anos seguintes, o ímpeto revolucionário diminuiu na Europa, para retornar com todo vigor em 1848, quando as populações de diversos países estavam desgastadas por outra crise econômica. A nova onda começou novamente na França, onde a sociedade enfrentava problemas na agricultura, com péssimas colheitas e aumento do preço dos alimentos.

  Nas cidades, a situação mostrava-se crítica com altos índices de desemprego e baixos salários, com os problemas atingindo inclusive setores privilegiados da sociedade. A situação incentivou a formação de forte oposição, que incluía desde industriais, que sofriam com a concorrência inglesa, até operários, afetados pelo desemprego e pela carestia.

  Temendo a ação popular, o governo adotou medidas repressivas, limitando a atuação da imprensa e as reuniões públicas. Para driblar as proibições, os opositores lançaram a campanha dos banquetes, evento convocado para homenagear o rei, mas que servia mesmo para inflamadas manifestações contestatórias. A repressão do governo a um desses eventos foi o estopim para uma ampla revolta popular, com as ruas de Paris sendo novamente tomadas por barricadas, levando o rei a renunciar ao poder.

Barricada na rua Soufflot. O Panteão é mostrado em segundo plano

  Um governo provisório assumiu o comando do país, e a monarquia foi substituída pela república. Para a população, prometiam-se maior participação política e adoção de medidas para diminuir a pobreza e o desemprego. As ações do novo governo, porém, mostraram-se insuficientes para conter a revolta popular. Pior, as autoridades adotaram violenta repressão: estima-se que mais de 10 mil opositores perderam a vida e cerca de 4 mil homens foram enviados ao exílio.

  Em dezembro de 1848, Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão, foi eleito presidente com o apoio de vários setores da burguesia e de grande parte dos segmentos populares da sociedade. Em 1851, ele deu um golpe de Estado e instituiu um governo hereditário.

  O movimento revolucionário francês, como nas vezes anteriores, iria se irradiar por diversas partes da Europa, atingindo locais como Espanha, Áustria, Península Itálica e Confederação Germânica. O absolutismo, com isso, deixaria de ser hegemônico no continente, de uma vez por todas.

Onda revolucionária na Europa (1840)

REFERÊNCIAS:

BARBOSA, Mariana de Oliveira Lopes. "Primavera dos Povos". Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/primavera-dos-povos.htm. Acesso em 22 de novembro de 2022.

https://vestibular.uol.com.br/ultnot/resumos/primavera-dos-povos.jhtm. Acesso em 22 de novembro de 2022.

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