O Haiti é um país do Caribe. Ocupa uma pequena porção ocidental da ilha de São Domingos, também chamada de Hispaniola, no arquipélago das Grandes Antilhas, partilhando a ilha com a República Dominicana.
O Haiti foi o primeiro país latino-americano a declarar sua independência e, ao longo de sua história, ficou marcado por golpes e ditaduras. Isso resultou no quadro social do país, que é o mais pobre do continente americano. Foi também, o primeiro a abolir a escravidão no continente.
Em 2010, o Haiti sofreu um forte terremoto, que abalou fortemente a estrutura do país, em especial sua capital, Porto Príncipe.
Mapa com a localização geográfica do Haiti |
HISTÓRIA
O território que atualmente corresponde ao Haiti, era ocupado por índios arauaques, quando, em 1492, Cristóvão Colombo chegou à ilha. Os espanhóis batizaram a ilha de Hispaniola, ocupando, primeiramente, a porção oriental do território, que corresponde atualmente à República Dominicana. Eles escravizaram os índios que ali viviam e, até o final do século XVI, a população nativa foi reduzida em quase toda sua totalidade.
Em 1697, a partir da assinatura do Tratado de Ryswick envolvendo, Espanha e França, a parte ocidental da ilha, onde atualmente fica o Haiti, foi cedida à França, e recebeu o nome de Saint Domingue, se tornando a mais importante possessão francesa na América, onde ocorreu o cultivo da cana-de-açúcar com a utilização de mão de obra escrava africana. Porém, esses africanos escravizados, influenciados pela Revolução Francesa, rebelaram-se em 1791, liderados pelo ex-escravo Toussaint L'Ouverture.
Batalha de San Domingo, pintado por January Suchodolski, representando uma luta entre tropas polonesas a serviço da França e os rebeldes do Haiti |
A abolição da escravidão ocorreu no ano de 1794, após uma revolta de escravos, tornando-se o primeiro país do mundo a abolir a escravidão. Nesse mesmo ano, a França passou a dominar toda a ilha. Em 1801, o ex-escravo Toussaint Louverture tornou-se governador-geral, sendo deposto e morto logo em seguida pelos franceses. O líder Jean Jacques Dessalines organizou o exército e derrotou os franceses em 1803. Em 1804, foi declarada a independência, tornando o segundo país independente da América (os Estados Unidos foram o primeiro), e Dessalines proclamou-se imperador. Em represália, os escravistas europeus e estadunidenses mantiveram o Haiti sob um bloqueio econômico por 60 anos.
Em 1815, Simon Bolívar refugiou-se no Haiti, após o fracasso de sua primeira tentativa de luta contra os espanhóis. Recebeu dinheiro, armas e pessoal militar, com a condição de que abolisse a escravidão nas terras que libertasse. Posteriormente, para pôr fim ao bloqueio, o Haiti, sob o governo de Jean-Pierre Boyer, cercado pela frota da ex-metrópole, concordou em assinar um tratado pelo qual seu país pagaria à França a quantia de 150 milhões de francos a título de indenização. A dívida depois foi reduzida para 90 milhões, mas trouxe reflexos negativos para a economia do país.
Após um período de estabilidade, o Haiti foi dividido em dois e a parte oriental - atual República Dominicana - reocupada pela Espanha. Em 1822, o presidente Jean-Pierre Boyer reunificou o país e conquistou toda a ilha. Em 1844, uma nova revolta derrubou Boyer e a República Dominicana conquistou a independência.
Representação do massacre de 1804 |
Da segunda metade do século XIX ao começo do século XX, vinte governantes sucederam-se no poder. Desses, 16 foram depostos ou assassinados. Entre 1915 e 1934 o Haiti foi ocupado por tropas norte-americanas sob o pretexto de proteger os interesses dos Estados Unidos no país. O almirante William B. Caperton impôs ao governo uma convenção cujas cláusulas depositavam a administração civil e militar, as finanças, as alfândegas e o banco do Estado em mãos norte-americanas. Proclamou também uma lei marcial sobre todo o território. Em 1946, foi eleito um presidente negro, Dumarsais Estimé. Após a derrubada de mais duas administrações governamentais, o médico François Duvalier, foi eleito presidente em 1957.
François Duvalier, conhecido como Papa Doc, apoiado pelos Estados Unidos no contexto da Guerra Fria, instaurou uma forte ditadura baseada no terror policial dos tontons macoutes (bichos-papões) - sua guarda pessoal - e na exploração do vodu. A partir de 1964, Papa Doc tornou-se presidente vitalício, exterminou a oposição e perseguiu a Igreja Católica. Papa Doc morreu em 1971 e foi substituído por seu filho, Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc.
François Duvalier, o Papa Doc (1907-1971) |
Em 1986, Baby Doc decretou estado de sítio. Os protestos populares se intensificaram e ele fugiu com a família para a França, deixando em seu lugar o General Henry Namphy. Foram convocadas eleições e Lesile Manigat foi eleito presidente, em um pleito caracterizado por grande abstenção. Manigat governou de fevereiro a junho de 1988, quando foi deposto por Namphy. Três meses depois, outro golpe de Estado pôs no poder o chefe da guarda presidencial, o General Prosper Avril.
Depois de mais um período de conturbação política, foram realizadas eleições presidenciais livres em dezembro de 1990, vencida pelo padre salesiano Jean-Bertrand Aristide, ligado à teologia da libertação. Em setembro de 1991, Aristide foi deposto num golpe de Estado liderado pelo General Raoul Cédras e se exilou nos Estados Unidos. A Organização dos Estados Americanos (OEA), a Organização das Nações Unidas (ONU) e os Estados Unidos impuseram sanções econômicas ao país para forçar os militares a permitirem a volta de Aristide ao poder.
Pétionville - com uma população de 291.996 habitantes (estimativa 2022) é a quarta cidade mais populosa do Haiti |
Em julho de 1993, Cédras e Aristide assinaram um pacto em Nova York, acordando o retorno do governo constitucional e a reforma das Forças Armadas. Em outubro de 1993, porém, grupos paramilitares impediram o desembarque de soldados norte-americanos, integrantes de uma Força de Paz da ONU. O elevado número de refugiados haitianos que tentavam ingressar nos Estados Unidos fez aumentar a pressão pela volta de Aristide. Em maio de 1994, o Conselho de Segurança da ONU decretou bloqueio total ao país. A junta militar empossou um civil, Émile Jonassaint, para exercer a presidência até as eleições marcadas para fevereiro de 1995. Os Estados Unidos denunciaram o ato como ilegal. Em julho, a ONU autorizou uma intervenção militar, liderada pelos Estados Unidos. Em 1º de agosto, Jonaissant decretou estado de sítio.
Em setembro de 1994, uma força multinacional, liderada pelos Estados Unidos, entrou no Haiti para reempossar Aristide. Os chefes militares haitianos renunciaram a seus postos e foram anistiados. Jonaissant deixou a presidência em outubro e Aristide reassumiu o poder com a economia destroçada pelo bloqueio comercial e por convulsões internas.
Croix-des-Bouquets - com uma população de 236.367 habitantes (estimativa 2022) é a quinta cidade mais populosa do Haiti |
Entre 1994 e 2000, o Haiti viveu mergulhado em crises. Devido à instabilidade, não puderam ser implementadas reformas políticas profundas. A eleição parlamentar e presidencial em 2000, foi marcada pela suspeita de manipulação por Aristide e seu partido político. O diálogo entre oposição e governo ficou prejudicado. Em 2003, a oposição passou a clamar pela renúncia de Aristide. A Comunidade do Caribe, Canadá, União Europeia, França, Organização dos Estados Americanos e Estados Unidos, apresentaram-se como mediadores, sendo que a oposição refutou as propostas de mediação, o que aprofundou a crise.
Em fevereiro de 2004, ex-integrantes do exército haitiano (tontons macoutes) deram início a um levante militar em Gonaives, espalhando-se por outras cidades nos dias subsequentes. Gradualmente, os revoltosos assumiram o controle do norte do Haiti. Apesar dos esforços diplomáticos, a oposição armada ameaçou marchar sobre Porto Príncipe, onde se preparava uma resistência pró-Aristide.
Aristide foi retirado do país por militares norte-americanos em 29 de fevereiro, contra sua vontade, e conseguiu asilo na África do Sul. De acordo com as regras de sucessão constitucional, o presidente do Supremo Tribunal, Bonifácio Alexandre, assumiu a presidência interinamente e requisitou, de imediato, assistência das Nações Unidas para apoiar uma transição política pacífica e constitucional e manter a segurança interna. Nesse sentido, o Conselho de Segurança (CS) aprovou o envio da Força Multinacional Interna (MIF), liderada pelo Brasil, que prontamente iniciou seu desdobramento.
Soldado do Exército Brasileiro da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), na favela de Cité Solei, em Porto Príncipe |
Em 12 de janeiro de 2010, um terremoto de proporções catastróficas, com magnitude sísmica de 7,0 (7,3 na escala de Richter), atingiu o país a aproximadamente 22 quilômetros da capital, Porto Príncipe. Em seguida, foram sentidos na área múltiplos tremores com magnitude em torno de 5,9 graus. O Palácio Presidencial, várias escolas, hospitais e outras construções ficaram destruídos após o terremoto e estima-se que 80% das construções de Porto Príncipe foram destruídas ou seriamente danificadas. O terremoto deixou cerca de 300 mil mortos, mais de 300 mil feridos e em torno de 1,5 milhão de desabrigados.
Em 2010, Michel Martelly foi eleito presidente, assumindo em 2011, deixando a presidência em 2016 numa profunda crise eleitoral, onde não houve um resultado formal do vencedor e cujo Senado teve que refazer uma eleição indireta, empossando Jocelerme Privert, presidente do Senado, após um breve vácuo na presidência, onde o país ficou sob o comando do então Primeiro-Ministro Evans Paul.
Em 7 de julho de 2021, o presidente Moïse foi assassinado em um ataque à sua residência privada, com a primeira-dama, Martine Moïse, tendo sido hospitalizada.
Carro da ONU patrulhando as ruas de Porto Príncipe após o terremoto de 2010 |
GEOGRAFIA
O Haiti está localizado na parte ocidental da ilha de Hispaniola, a segunda maior ilha das Grandes Antilhas, no Caribe. Partilha uma fronteira de 360 quilômetros com a República Dominicana, a leste. Possui o segundo maior litoral das Grandes Antilhas, com 1.771 quilômetros.
A noroeste, está situada Cuba, que se separa do território haitiano pelo canal de Barlavento, enquanto a oeste, estende-se o canal da Jamaica, que separa a ilha de São Domingos do território jamaicano.
O país encontra-se em um território com grande instabilidade tectônica, devido encontrar-se na falha geológica do sistema Enriquillo-Plantain Garden. O limite norte da falha é onde a placa tectônica do Caribe se desloca para leste por cerca de 20 mm por ano em relação à placa Norte-Americana. O sistema de falhas transcorrentes na região tem duas áreas no Haiti: a Falha Setentrional-Oriental no norte, e a Falha de Enriquillo-Plantain Garden no sul.
Falha de Enriquillo-Plantain Garden, na ilha de Hispaniola. O círculo vermelho foi o epicentro do terremoto de 2010 no Haiti; as setas brancas indica a direção de movimentação das placas tectônicas |
O país é banhado pelo mar do Caribe, que envolve também um pequeno conjunto de ilhas que integram o seu território, que são: Tortuga, Gonâve, Cayemitas e Île-à-Vache.
O relevo haitiano é bastante jovem, com terrenos montanhosos e acidentados e com ao menos quatro cordilheiras atravessando o território do país. O ponto mais elevado é o Pico La Selle, localizado no departamento administrativo Oeste, com uma altitude de 2.680 metros, e que faz parte da cordilheira de La Selle.
Pic la Selle - ponto mais elevado do Haiti |
O clima predominante no Haiti é o tropical úmido, com variações locais determinadas pelo relevo. Uma das suas principais características é a elevada amplitude térmica diária e baixa variação anual.
As temperaturas médias anuais ficam entre 25ºC e 30ºC. Nas áreas mais elevadas, as temperaturas são mais amenas, com mínimas de até 16ºC. O volume de chuvas varia bastante, ficando com uma média de 700 milímetros ao ano nas encostas das montanhas. As áreas a leste são mais secas devido à presença de cadeias montanhosas, que impedem a chegada dos ventos úmidos à região.
Mapa climático do Haiti segundo a classificação de Köppen |
A vegetação natural do Haiti é formada por florestas tropicais. No entanto, a vegetação remanescente dessa formação são encontradas nas áreas mais elevadas, em especial nos maciços do sul e do centro-sul. Campos e bosques são encontrados em planícies ou áreas de relevo menos acidentado, enquanto no litoral há a presença de mangues.
Mapa da vegetação do Haiti |
O principal e maior rio do Haiti e também de toda a ilha de São Domingos é o rio Artibonite, com uma extensão de 253 quilômetros. Sua nascente está localizada nos montes Cibao, na Cordilheira Central, na República Dominicana. Sua foz é no Golfo de Gonâve. O rio é usado para irrigação e também para a produção de energia. O rio Artibonite dá nome a um dos departamentos do Haiti e forma parte da fronteira com a República Dominicana.
A maior parte dos cursos d'água que banham o território haitiano deságua no golfo de Gonâve, um golfo triangular que forma toda a costa oeste do Haiti, que também é o maior golfo do mar do Caribe.
Rio Artibonite |
ECONOMIA
O Haiti é considerado o país mais pobre do continente americano, o que se deve a uma série de fatores socioeconômicos e históricos, perpetuados ao longo do tempo, e também políticos, dos quais se destacam os períodos de instabilidade política e institucional e dos golpes de Estado, seguidos de longas ditaduras que imperaram no país.
Destaca-se, ainda, a má distribuição de renda e a intensa concentração nas mãos de um pequena parcela da população. Outro fator que contribui para a pobreza que impera no país, refere-se aos intensos desastres naturais que o país sofre frequentemente, como furacões e terremotos, que fragilizam ainda mais a situação da população haitiana. A pesca e o turismo também são uma importante fonte de renda para o país.
Jacmel - com uma população de 142.325 habitantes (estimativa 2022) é a sexta cidade mais populosa do Haiti |
DEMOGRAFIA
Embora a densidade demográfica do país seja de 423,8 hab./km², sua população se concentra fortemente mais nas áreas urbanas, nas planícies costeiras e nos vales. De acordo com estimativas para 2022, a população haitiana é de 11.762.847 habitantes. Cerca de 95% dos haitianos são negros, descendentes de escravos africanos, o que faz do país o que tem a maior porcentagem de população negra fora da África no mundo. Os 5% restantes são brancos ou mulatos. Milhões de haitianos vivem no exterior, principalmente nos Estados Unidos, na República Dominicana, em Cuba e no Canadá.
Devido ao sistema de casta racial instituído no Haiti colonial, os mulatos haitianos se tornaram uma elite social dentro da nação e foram racialmente privilegiados. Vários líderes ao longo da história do país eram mulatos. Os mulatos têm mantido a sua preeminência evidente na hierarquia política, econômica, social e cultural do país. Alexandre Pétion, cuja mãe era haitiana e o pai era um francês bastante rico, foi o primeiro presidente do país.
Cabo Haitiano - com uma população de 139.075 habitantes (estimativa 2022) é a sétima cidade mais populosa do Haiti |
CULTURA
O arcabouço cultural do Haiti é bastante rico e diverso, sendo formado com base na influência predominante dos africanos e também dos franceses e espanhóis. Isso reflete em vários aspectos e nas formas de manifestação cultural, em especial na música, nas artes em geral, no idioma e na religiosidade.
O crioulo haitiano e o francês são considerados os idiomas falados oficiais do país. O francês é utilizado principalmente para propósitos políticos e administrativos, além de ser também a principal língua utilizada para a escrita. A língua crioula é falada pela grande maioria dos haitianos e possui variações regionais.
Léogáne - com uma população de 138.430 habitantes (estimativa 2022) é a oitava cidade mais populosa do Haiti |
A religiosidade é outro aspecto interessante da cultura haitiana. O sincretismo religioso é amplamente presente no Haiti, com a predominância das religiões cristãs de origem europeia e das religiões africanas, com destaque para o Vodu, que tem origem nas tradições da África Ocidental. O vodu foi oficializado como religião no Haiti no ano de 2003, e muitos dos seus elementos são empregados em várias práticas religiosas no país.
Les Cayes - com uma população de 129.774 habitantes (estimativa 2022) é a nona cidade mais populosa do Haiti |
A música haitiana combina uma ampla gama de influências extraídas dos muitos povos que se instalaram na ilha caribenha. Ela reflete ritmos franceses, africanos, espanhóis e de outras culturas que habitaram a ilha de Hispaniola. Entre os estilos musicais exclusivos da nação estão músicas derivadas de tradições cerimoniais do vodu haitiano, entre outros.
O futebol é o esporte mais tradicional do Haiti, com centenas de pequenos clubes de futebol competindo em nível local. Em 1974, a Seleção Haitiana de Futebol se tornou a segunda seleção do Caribe a se classificar para a Copa do Mundo de Futebol FIFA (a primeira foi Cuba, em 1938). A seleção venceu a Copa das Nações do Caribe em 2007. O Haiti participa dos Jogos Olímpicos desde o ano de 1900, tendo ganhado duas medalhas em 1924 e 1928.
Petit-Goáve - com uma população de 121.217 habitantes (estimativa 2022) é a décima cidade mais populosa do Haiti |
Mapa-múndi representando as quatro categorias do Índice de Desenvolvimento Humano, baseado no relatório publicado em 15 de dezembro de 2020, com dados referentes a 2019 |
Planisfério com a expectativa de vida dos países |
Mapa da taxa de mortalidade infantil no mundo |
Mapa da taxa de fecundidade de acordo com o CIA World Factbook de 2020 |
Mapa da taxa de alfabetização no mundo em 2020 |
Mapa da taxa de urbanização no mundo em 2020 |
FONTES:
FRANCISCO, Wagner de Cerqueira e. "História do Haiti"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historia-da-america/historia-haiti.htm. Acesso em: 20/12/2022.
GUITARRARA, Paloma. Haiti, Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/haiti.htm. Acesso em: 26/12/2022.
Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Haiti. Acesso em: 20/12/2022
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