sexta-feira, 26 de julho de 2019

RELAÇÕES DE TRABALHO NO CAMPO

  As precárias condições de trabalho e a má distribuição de terras geram o fortalecimento dos movimentos sociais no campo, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em favor da reforma agrária.
  A baixa remuneração da mão de obra, a precariedade das condições de trabalho e a dificuldade de acesso à terra são alguns dos principais problemas enfrentados pelos trabalhadores rurais. Na maioria das culturas agrícolas, as atividades se concentram em uma ou duas épocas do ano (plantio e colheita) e, portanto, há poucos trabalhadores contratados e protegidos pelas leis trabalhistas (carteira de trabalho assinada).
  Os salários são baixos, principalmente nas pequenas propriedades tradicionais, nas quais a lucratividade é pequena e as incertezas são grandes quanto à comercialização da produção.
Trabalhador rural cultivando horta
  O uso de contratos de trabalho temporário, geralmente efetuados na época do plantio e da colheita, e a falta de aplicação dos direitos assegurados pelas leis trabalhistas no campo, como férias, décimo terceiro salário, aposentadoria e outros, dificultam as condições de sobrevivência do trabalhador rural.
  A modernização agrícola, ocorrida com o emprego de máquinas e equipamentos, propiciou o aumento da produtividade, principalmente nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, porém, esse aumento não é acompanhado pela expansão da oferta de emprego. Apesar disso, os empregos permanentes concentram-se nas grandes fazendas do Sudeste e Centro-Oeste. Nessas fazendas planta-se mais de uma lavoura, e as colheitas ocorrem em épocas diferentes. Assim, é necessário maior número de trabalhadores durante o ano todo.
  A melhoria das condições de trabalho e a luta pela terra constituem as principais reivindicações dos trabalhadores rurais.
A modernização do campo modificou a estrutura trabalhista no meio rural
Pequenos proprietários
  As propriedades rurais brasileiras de pequeno e médio porte são compostas por grande parte dos agricultores do país, geralmente são trabalhadores rurais que produzem diversas culturas com pouca tecnologia e mão de obra familiar.
  Ocasionalmente, essas propriedades são desprovidas de aplicação de técnicas, tecnologias e conhecimentos. Diante disso, sua produção agropecuária e agrícola é de baixa produtividade. Essa configuração rural encontra-se nessas condições em virtude da falta de incentivo por parte do governo, que não oferece linhas de crédito com facilidades para pagar, amparo técnico e subsídio.
  Mesmo com as adversidades, esses produtores respondem por grande parte dos alimentos dispostos no mercado interno. Boa parte dos alimentos da mesa dos brasileiros é oriunda dos pequenos agricultores. Esses produtores organizam-se a partir do núcleo familiar, nível baixo de profissionalização.
Geralmente nas pequenas propriedades prevalece a mão de obra familiar
Os posseiros
  Os posseiros são lavradores que, juntamente com sua família, ocupam pequenas áreas devolutas ou improdutivas, isto é, terras que não estão sendo utilizadas e que pertencem ao Estado.
  São trabalhadores rurais que têm a posse, mas não tem um documento oficial que prove que eles são os donos ou proprietários da terra.
Casas de posseiros na Amazônia
Grileiros
  O termo "grilagem" provém de uma técnica usada para o efeito de envelhecimento forçado de papéis, que consiste em colocar escrituras falsas dentro de uma caixa com grilos, de modo a deixar os documentos amarelados (devido aos excrementos dos insetos) e roídos, dando-lhes uma aparência antiga e, por consequência, verdadeiro.
  Os grileiros são, geralmente, grandes empresas ou fazendeiros que se utilizam da força e da violência para se apropriar de terras devolutas ou terras trabalhadas por posseiros. Contratam jagunços (capangas) para "limpar" o terreno, ou seja, expulsar índios e posseiros que, porventura, estejam ali fixados. Conseguem a documentação do imóvel (títulos de propriedade), muitas vezes falsificadas, transformando a terra em objeto de especulação imobiliária ou instrumento de negócios.
Os assalariados rurais temporários
  Os assalariados rurais temporários, também chamados de assalariados sazonais e mais conhecidos como boias-frias, são aqueles que trabalham temporariamente nas lavouras comerciais. Esse regime de trabalho é comumente encontrado nas lavouras de cana-de-açúcar, laranja, feijão, algodão e frutas tropicais. O emprego desse tipo de mão de obra, porém, é mais numeroso nas lavouras canavieiras, principalmente na época do corte da cana.
  Os boias-frias recebem seu pagamento de acordo com a produção diária. Essa condição leva o agricultor a trabalhar uma quantidade excessiva de horas por dia, para receber uma remuneração razoável.
  Antigamente, os boias-frias eram, em geral, moradores das áreas rurais ou filhos de agricultores que procuravam as áreas periféricas das cidades para se fixar. Mais recentemente, tem crescido o número de desempregados urbanos que procuram trabalhos temporários nas fazendas. Estas, muitas vezes, localizam-se em áreas próximas às cidades e organizam o transporte diário dos trabalhadores para as áreas de plantio.
Trabalhadores temporários no corte da cana-de-açúcar
Os assalariados permanentes
  Os assalariados permanentes são trabalhadores rurais que recebem salário fixo e são amparados por todos os direitos trabalhistas previstos em lei. Esses trabalhadores podem residir na propriedade ou não.
Parceria
  A parceria refere-se a um acordo pela qual o parceiro-proprietário cede ao parceiro-produtor o uso da terra, partilhando com este os riscos do caso imprevisto e da força maior e os frutos da colheita ou venda dos animais. Prepondera, nesse tipo de relação, a comunhão das forças e dos resultados, sendo que a partilha dos frutos deve obedecer a proporções compatíveis com os meios de produção disponibilizados por cada um dos parceiros. O lucro é dividido conforme o acordo pré-estabelecido.
Arrendatário
  O arrendamento é um contrato de cessão de um fator de produção, pelo qual seu proprietário o entrega a outro para ser explorado, mediante determinada remuneração.
  O sistema de arrendamento de terras já era usado na época da expansão romana e constitui-se um dos traços característicos dos regimes agrários de muitos países.
  Quando se realiza o contrato de arrendamento, uma pessoa se obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel rural ou partes do mesmo, incluindo ou não outros bens, benfeitorias ou facilidades, com o objetivo de nele ser exercida a atividade de exploração agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista, mediante certa retribuição ou aluguel, observados os limites percentuais da Lei.
  O traço característico nesse tipo de relação é que o arrendatário, além de cobrir todos os riscos da atividade agrícola, se obriga a pagar quantia líquida e certa para o arrendador, independente da produção.
Trabalho escravo
  Grande parte dos trabalhadores rurais ainda busca melhores condições de trabalho e a ampliação das oportunidades de emprego no campo.
  A pior situação é a dos trabalhadores submetidos a condições de escravidão. Existe trabalho escravo em todo o país. O trabalho escravo ocorre quando o trabalhador não tem direitos trabalhistas, não recebe salário, pois tudo que é utilizado é cobrado, desde a alimentação até as ferramentas de trabalho.
  Em geral, os trabalhadores são aliciados em áreas muito pobres para trabalhar temporariamente, com a promessa de receber um salário pelo serviço. No entanto, os fazendeiros cobram pela moradia e pela comida muito mais do que pagam pelo trabalho. Os trabalhadores ficam com dívidas e são impedidos de sair das fazendas. Em muitos casos, eles são ameaçados por pessoas armadas contratadas pelos fazendeiros. Os estados brasileiros com maior incidência de trabalho escravo são Pará, Mato Grosso e Goiás.
  Submeter alguém a trabalho escravo é crime pelas leis brasileiras e internacionais, constituindo um grave atentado aos direitos humanos.
REFERÊNCIA: Sampaio, Fernando dos Santos
Para viver juntos: geografia, 7º ano: anos finais: ensino fundamental / Fernando dos Santos Sampaio, Marlon Clóvis Medeiros: organizadora Edições SM: obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida por Edições SM: editor responsável Fábio Bonna  Moreirão. -- 4. ed. -- São Paulo: Edições SM, 2015. -- (Para viver juntos)

quinta-feira, 18 de julho de 2019

OS CROQUIS

  Um croquis (palavra francesa eventualmente traduzida para o português como croqui, esboço ou rascunho) costuma se caracterizar como um desenho de moda ou um esboço qualquer.
  Croqui é uma importante forma de representação utilizada no estudo dos elementos presentes em uma paisagem. Por meio desse recurso, pode-se representar uma paisagem com seus elementos naturais e culturais, destacando, dessa forma, como se apresenta a natureza nessa porção da superfície terrestre e como ela tem sido ocupada e transformada pela sociedade.
  Na Geografia, croquis é um esboço à mão de um mapa, e em Artes é um esboço de um desenho.
Croquis do Mapa-Múndi durante o período das Grandes Navegações
  Um croquis não exige grande precisão, refinamento gráfico ou mesmo cuidados com sua preservação. Costuma ser realizado em intervalos de tempo relativamente curtos, como períodos de 10 a 15 minutos. O que costuma ser mais importante no croquis é o registro gráfico de uma ideia instantânea, através de uma técnica de desenho rápida e descompromissada.
  Usa-se a palavra em francês, pois normalmente seu correspondente em português (esboço) pode possuir, dependendo do contexto, um significado diferente, especialmente quando se trata do desenho arquitetônico, para o qual o croquis possui um papel de destaque, sendo considerado uma etapa do projeto. Neste contexto, o croquis costuma ser considerado um desenho bastante pessoal usado principalmente para discutir ideias.
Croqui representando o espaço geográfico
  Um croquis, dado o seu aspecto de instantaneidade e diálogo informal, não costuma seguir regras formais de desenho ou técnicas muito elaboradas. Os principais materiais para elaboração de croquis são aqueles que não exigem um refinamento maior de desenho: lápis, barras de grafite, contés, pastéis, crayons, entre outros. Quanto à técnica de desenho, normalmente não envolve gestos elaborados ou refinados, como o claro-escuro e o sfumato. Costuma caracterizar-se como um desenho de linha pura, com eventuais texturas rápidas, mais representativas que realistas.
  Para produzir croquis cartográficos, são utilizados recursos sensoriais e cognitivos para sistematizar informações relativas ao estudo da paisagem e da linguagem cartográfica, desenvolvendo habilidades que permitem compreender os processos de produção e transformação dos lugares por meio da ação humana.
Croqui do Plano Piloto, em Brasília
REFERÊNCIA: Garcia, Valquíria Pires
Projeto mosaico: geografia: ensino fundamental / Valquíria Pires Garcia, Beluce Belucci. 1. ed. - São Paulo: Scipione, 2015.

domingo, 14 de julho de 2019

ARQUIPÉLAGO DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO: UMA DAS ILHAS OCEÂNICAS DO BRASIL

  O arquipélago de São Pedro e São Paulo é um conjunto de pequenas ilhas rochosas e pedregosas pertencentes ao estado de Pernambuco. Se situa na parte central do Oceano Atlântico equatorial, estando distante 627 quilômetros do arquipélago de Fernando de Noronha, 986 quilômetros do ponto mais próximo do continente e 987 quilômetros de Natal - RN. Apesar de pertencer à Pernambuco é mais próximo do Rio Grande do Norte.
  Em 1998, foi inaugurada a estação científica na ilha Belmonte, dando início ao Programa Arquipélago de São Pedro e São Paulo (Proarquipélago) sob a administração da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM). A presença permanente de cientistas na estação científica é necessária para provar a habitabilidade no arquipélago, que é fundamental para obter o seu reconhecimento internacional como território brasileiro. Eventualmente, radioamadores expedicionários apoiados pelas Forças Armadas efetuam contatos internacionais via rádio HF e satélite, reforçando a presença brasileira na região.
Estação Científica e Farol da Marinha do Brasil
  Antigamente, o arquipélago era chamado popularmente de "Penedo de São Pedro e São Paulo" ou "Rochedo de São Pedro e São Paulo".
  O sistema de previsão do clima na região ocidental do oceano Atlântico Tropical, baseado apenas em dados obtidos por satélites, mostra-se insuficiente para entender a variabilidade do clima. Assim, estudos desenvolvidos a partir da instalação de uma estação meteorológica no Arquipélago de São Pedro e São Paulo, além de contribuírem para o conhecimento da climatologia do Oceano Atlântico como um todo, permitem a formulação de modelos mais eficientes de previsão climática, possibilitando, assim, a avaliação dos impactos sobre as anomalias do clima, como a seca no Nordeste do Brasil e a formação de tempestades tropicais.
  Na área de Geologia e Geofísica Marinha, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo representa uma oportunidade única para melhor conhecer a estrutura do manto superior, já que o mesmo constitui-se de uma formação geológica que decorre do fato de o Arquipélago constituir um afloramento do manto suboceânico resultante de uma falha transformante da Dorsal Meso-Atlântica. Esse afloramento se eleva de profundidades abissais - em torno de quatro mil metros - até a poucos metros acima da superfície. Devido estar situado em uma falha transformante, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo é um dos pontos do território brasileiro com maior atividade sísmica, aspecto de particular relevância para o desenvolvimento de estudos de sismologia.
Mapa da localização e posicionamento geotectônico do Arquipélago de São Pedro e São Paulo
  Em relação à Oceanografia Física, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo, em função de sua proximidade da Linha do Equador, representa um local altamente privilegiado para o desenvolvimento de estudos acerca do Sistema Equatorial de Correntes, no qual encontra-se inserido, sofrendo a influência direta da Corrente Sul-Equatorial e da Corrente Equatorial Submersa. Essa última é uma das mais rápidas, variáveis e menos conhecidas entre todas as correntes oceânicas do Atlântico, chegando a atingir velocidades superiores a 100 cm/s. Do ponto de vista hidrológico, o desenvolvimento de pesquisas no entorno do ASPSP contribui para melhor entendimento dos fenômenos de enriquecimento, resultantes da interação entre as correntes oceânicas e o relevo submarino, a exemplo de ressurgência orográfica - afloramento de águas profundas ricas em nutrientes, ao encontrarem a porção de rocha submersa da ilha.
Base Científica mantida pela Marinha do Brasil no ASPSP
  Em decorrência de sua localização, o ASPSP é, também, uma área de enorme importância biológica, pois exerce papel relevante no ciclo de vida de várias espécies que têm, no arquipélago, etapa importante de suas rotas migratórias, quer como área de reprodução - como o peixe-voador - quer como zona de alimentação, como é o caso da albacora-laje e de crustáceos (lagostim), aves (atobá), quelônios (tartaruga-de-pente), e mamíferos aquáticos (golfinho nariz-de-garrafa). Estudos genéticos para identificação das populações presentes no ASPSP, poderão esclarecer questões ainda pendentes em relação à estrutura populacional de espécies de grande valor comercial, como o espadarte. A posição estratégica do ASPSP torna-o local ideal para o desenvolvimento de um trabalho dessa natureza.
  Além de pesquisas genéticas, trabalhos de marcação e telemetria realizados com as espécies presentes no ASPSP em muito poderão contribuir para elucidar seus movimentos migratórios, tanto em pequena escala (movimentos diários, no entorno do Arquipélago), como em larga escala (migrações sazonais transoceânicas).
Golfinhos nariz-de-garrafa - espécie que procura as águas do ASPSP para se alimentar
  Em função de seu posicionamento remoto, o ASPSP apresenta também elevado grau de endemismo, ocorrência de espécies somente encontradas na região, constituindo-se a presença da Estação Científica em importante ação para o conhecimento e conservação da biodiversidade e do patrimônio genético nacional. Algumas espécies bastante raras, como o tubarão-baleia, são encontradas com relativa frequência nas proximidades do Arquipélago, que oferece, assim, excelente oportunidade para estudos de comportamento.
  Além de sua importância ecológica, do ponto de vista econômico, o ASPSP constitui também uma das mais importantes áreas de pesca do Nordeste brasileiro, sendo bastante visitada por embarcações baseadas em portos nordestinos, principalmente em Natal-RN e Recife-PE. Desde 1988, a frota atuneira sediada em Natal, mantém pesca regular nas adjacências do Arquipélago, objetivando a captura de espécies pelágicas migratórias, como o peixe-rei, a albacora-laje e o peixe-voador.
Tubarão-baleia - espécie comum nas águas do ASPSP
  Além da importância do Arquipélago de São Pedro e São Paulo nos aspectos científico, econômico e social, soma-se, ainda, seu significado estratégico para o País, no cenário político internacional. A convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), assinada pelo Brasil em 1982 e ratificada em dezembro de 1988, mudou a ordem jurídica internacional relativa aos espaços marítimos, instituindo o direito de os Estados costeiros explorarem e aproveitarem os recursos naturais da coluna d'água, do solo e do subsolo dos oceanos, presentes na sua Zona Econômica Exclusiva. No entanto, em relação ao Regime de Ilhas, o artigo 121 da Convenção, em seu parágrafo 3°, afirma que: "os rochedos por si próprios não se prestam à habitação humana ou à vida econômica não devem ter Zona Econômica Exclusiva nem Plataforma Continental". O desenvolvimento do Programa Arquipélago, a partir da garantia da presença humana permanente, além da geração contínua de informações científicas, contribui, de forma decisiva, para o efetivo estabelecimento da Zona Econômica Exclusiva brasileira no entorno do ASPSP, como diz a CNUDM.
O Brasil e sua Zona Econômica Exclusiva
  Outro aspecto político de grande significação estratégica reside no fato de o ASPSP situar-se no Atlântico Norte, fator de importância crucial na definição de cotas de capturas dos recursos de atuns e afins do Atlântico.
  Além de constituir um ecossistema único para o desenvolvimento de pesquisas científicas nas áreas de meteorologia, geologia e oceanografia, incluindo seus componentes físico, químico e biológico, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo possui grande importância ecológica, econômica, social e política para o Brasil.
  O Arquipélago de São Pedro e São Paulo situa-se na zona de expansão entre a Placa Sul-Americana e a Placa Africana. O sistema da falha transformante de São Paulo (Saint Paul Transform Fault System) é uma das maiores falhas transformantes do Oceano Atlântico, ocorrendo em cerca de 630 quilômetros de descontinuidade dos segmentos da cadeia mesooceânica. Esta é uma das regiões mais profundas do Oceano Atlântico e algumas localidades têm mais de 5.000 metros de profundidade. A morfologia abissal apresenta que o Arquipélago situa-se no topo de uma elevação morfológica submarina, com comprimento de 100 quilômetros, largura de 20 quilômetros e altura aproximada de 3.800 metros a partir do fundo do oceano, denominada Cadeia Peridotítica de São Pedro e São Paulo. Sendo de diferentes vulcões submarinos, esta saliência é constituída por duas elevações tabulares orientadas segundo o sentido leste-oeste, apresentando uma forma similar a  Brachiosaurus cuja cabeça é direcionada à leste. Nos flancos do Arquipélago, a partir do nível do mar até 1.000 metros de profundidade, ocorre taludes de alto ângulo, em torno de 50° de inclinação. Ao sul do Arquipélago existe uma escarpa vertical com altura maior que 2.000 metros. Essas morfologias submarinas instáveis sugerem que o soerguimento do Arquipélago foi originado de um tectonismo recente, que está em continuação até o presente.
Morfologia submarina em torno do Arquipélago de São Pedro e São Paulo
  A rocha constituinte do Arquipélago de São Pedro e São Paulo é o peridotito serpentinizado, uma rocha ultramáfica. O ASPSP corresponde à única localidade do Oceano Atlântico em que o manto abissal está exposto acima do nível do mar.
  Os artigos científicos revelam que as rochas ultramáficas do manto abissal expostas no Arquipélago são, provavelmente, originado de megamullion. Este fato é devido ao soerguimento tectônico ativo que ocorreu após sua exposição no fundo do oceano, há aproximadamente 7 milhões de anos. Esse soerguimento está em aceleração e continuará por até mais 7 milhões de anos.
Duas plataformas de abrasão marinha encontradas na Ilha Belmonte
  As rochas foram descobertas acidentalmente por navegadores portugueses, quando a Armada de 20 de abril de 1511, composta por seis caravelas, sob o comando do Capitão-mor D. Garcia de Noronha, com destino à Índia aí registrou o seu primeiro naufrágio (de acordo com o Livro das Armadas, apenas duas das suas embarcações chegaram ao seu destino). Navegando em mar aberto, em noite fechada, ouviu-se de súbito o rugir das ondas, e antes que fosse possível qualquer providência, a "São Pedro", sob o comando do capitão Manuel de Castro Alcoforado, encontrava-se encalhada sobre um dos rochedos, com os fundos abertos. A tripulação foi resgatada por outra caravela da mesma esquadra, a "São Paulo", tendo o episódio dado o nome aos rochedos. Figuram pela primeira vez em um mapa espanhol de 1513, de autoria do navegador Juan da Nova Castello e, posteriormente, em 1529, em outro, do navegador português Diego Ribero.
  O primeiro desembarque registrado nos rochedos foi o do francês Bouvet du Losier (1738), seguido pelo do norte-americano Amasa Delano, no comando do Perseverance (1803) e pelo britânico George Criton, a bordo do HMS Rhin (1806). O seu visitante mais famoso foi Charles Darwin, que ali desembarcou na manhã de 16 de fevereiro de 1832, na primeira parte de sua viagem ao redor do mundo, a bordo do "HMS Beagle".
Arquipélago visto do periscópio do submarino nuclear estadunidense USS Triton
  As primeiras fotos dos rochedos foram feitas pela equipe do Scotia, em viagem à Antártida em 1902. Pouco mais tarde, em 1911, a tripulação do Deutschland iniciou um estudo dos mesmos. Por eles também passou o irlandês Ernest Henry Shackleton, a bordo do "Quest", em 1921.
  Outros visitantes ilustres foram Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que ali amarraram com o Lusitânia em 1922, para reabastecimento com o Cruzador República, da Marinha Portuguesa.
  Em 1930, o navio Belmonte, da Marinha do Brasil, instalou o primeiro farol, missão que levou um ano para ser concluída. Um terremoto destruiria parcialmente esse farol em 1933 e o atual foi inaugurado apenas em 1995.
  À época da Segunda Guerra Mundial, a área recebeu a visita de embarcações norte-americanas e, na década de 1960, de cientistas estrangeiros. O Brasil só passou a ocupar os rochedos de forma permanente a partir de 1996.
  Nenhum dos rochedos dispõe de água potável. Apenas a maior ilha possui vegetação, que é rasteira e rala. Essa vegetação, no entanto, não é natural do arquipélago, sendo suas sementes transportadas do continente em meio a terra utilizada para o preparo do cimento e concreto na construção e manutenção da estação científica e do farol. Os penedos servem de abrigo a diversas espécies de aves marinhas, que os cobrem com os seus excrementos, formando o guano, um tipo de adubo orgânico natural.
Aves que visitam constantemente os arquipélagos
REFERÊNCIA: Geografia espaço e vivência, 7º ano / Levon Boligian [et al.]. -- 5. ed. -- São Paulo: Saraiva, 2015.

domingo, 30 de junho de 2019

PARQUE NACIONAL DA LAGOA DO PEIXE: O PARAÍSO DAS AVES

  A Lagoa do Peixe, localizada no Rio Grande do Sul, é parada obrigatória para milhares de espécies migratórias vindas do norte e do sul. Elas vêm tanto da Patagônia como das proximidades do Círculo Polar Ártico, do outro lado do mundo. Algumas chegam a voar 9 mil quilômetros desde o norte do Canadá até o Rio Grande do Sul em cinco dias. É ali, no Parque Nacional da Lagoa do Peixe, uma área de 344 km², que se encontra o principal refúgio de aves migratórias da América do Sul e o único lugar do Brasil onde se pode observar flamingos o ano inteiro.
Visão aérea do Parque Nacional da Lagoa do Peixe
  Está situada no litoral sul do estado do Rio Grande do Sul, no istmo formado pela Laguna dos Patos e o Oceano Pacífico, no território do município de Tavares. Tecnicamente uma laguna - pois tem um canal de comunicação com o mar durante a maior parte do ano -, o espelho d'água de 35 quilômetros de extensão é ponto de encontro e verdadeiro "restaurante" para grande concentração de aves migratórias do Hemisfério Norte (verão) e do Sul (inverno), dentre elas as capororocas, os flamingos, os biguás, os maçaricos-de-peito-vermelho, as gaivotas, os talha-mares, os pirus-pirus, os trinta-réis, os maçaricos e o cisne-de-pescoço-preto. Dentre os mamíferos podem ser avistados graxains, tatus e pequenos roedores. Não só as aves se alimentam dos frutos da lagoa, também os pescadores da região praticam a pesca do camarão-rosa na época da safra, com licenças de pesca concedidas pelo IBAMA. O período de maior incidência de aves vai de outubro a abril.
Flamingos na Lagoa do Peixe
  O Parque Nacional da Lagoa do Peixe abrange os municípios de Tavares (80%), Mostardas (17%) e São José do Norte (3%). A unidade foi criada através do Decreto Nº 93.546, emitido em 6 de novembro de 1986, abrangendo uma área de 36.722 hectares e um perímetro de 138,84 km². Atualmente é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
  O acesso norte é feito a partir de Porto Alegre, através da RS-040 até Capivari  do Sul (90 km - estrada asfaltada); de Capivari do Sul, pela RST-101 até Mostardas (120 km de estrada asfaltada), onde se localiza a seda administrativa do Parque, na Praça Prefeito Luiz Martins.
Interior do parque, em Mostardas
  O clima é o subtropical úmido, apresentando temperatura média de 16,5ºC e precipitações médias de 1.186 milímetros.
  Trazidos pelas correntes marinhas, não é raro se encontrar nas areias da praia tartarugas marinhas, pinguins e mesmo lobos-marinhos, conforme a época do ano. A mata de restinga, os banhados e as dunas complementam as atrações da unidade.
  O Parque não dispõe de infraestrutura de visitação e é proibido acampar em sua área. No parque também podem ser encontrados vestígios de diversos naufrágios e faróis que registram o grande perigo para os navegantes. Dentre eles, destacam-se o Farol de Mostardas e o Farol da Solidão na orla do Atlântico, e o Farol Cristóvão Pereira e o Farol Capão da Marca, às margens da Laguna dos Patos.
Vegetação do Parque Nacional da Lagoa do Peixe
REFERÊNCIA: Geografia nos dias de hoje, 6º ano / Cláudio Giardino ... [et al.]. -- 2. ed. -- São Paulo: Leya, 2015. -- (Coleção geografia nos dias de hoje)

sexta-feira, 28 de junho de 2019

EL SALVADOR

  El Salvador é um país da América Central Continental. Faz fronteira com o Oceano Pacífico a sul, a Guatemala a oeste e Honduras norte e leste. Sua região oriental fica na costa do Golfo de Fonseca, em frente à Nicarágua. Com uma população de mais de 6,7 milhões de habitantes distribuída por uma área de pouco mais de 21 mil km², é o país mais densamente povoado e o menor em tamanho territorial da América Central Ístmica.
  O território de El Salvador compreende o que antes era a província de Sonsonate, o qual juntou-se ao município de San Salvador, formando a maior parte do território atual do país. Ambas as províncias ganharam independência da Espanha, em 1821, pela Capitania-Geral da Guatemala, e em 1824, se fundiram para formar o "Estado de El Salvador", como parte dos Estados Unidos da América Central. Em tempos pré-colombianos, houve um importante núcleo indígena, conhecido como o Senhorio de Cuzcatlán, que significa "Lugar de joias ou colares", na língua nahuati.
Mapa de El Salvador
GEOGRAFIA
  El Salvador é o único país da América Central que não é banhado pelo Mar do Caribe, tendo apenas costa pacífica.
  O relevo é composto de um planalto central pouco elevado, com altitudes variando entre 400 e 800 metros, recortado por vales fluviais e abrangido por numerosos vulcões, como o Santa Ana, San Vicente, San Salvador, Tepaca e Conchagua, alguns dos quais ainda se encontram ativos.
Vulcão Santa Ana
  Os pontos mais elevados encontram-se no norte, na área conhecida como Maciço de Monte Cristo. Nessa área encontra-se o ponto mais elevado do país, o Cerro El Pital, na fronteira com Honduras, possuindo uma altitude de 2.730 metros. A faixa costeira é bastante estreita, não ultrapassando os 25 quilômetros de largura.
  As montanhas são cobertas em parte de carvalhos e pinhos. No restante do país, a vegetação é composta por plantas caducifólias e campos. No território salvadorenho existe uma abundância de frutos tropicais e de plantas medicinais.
Cerro El Pital - ponto mais elevado de El Salvador
  A fauna de El Salvador é menos variada que seus vizinhos devido à grande densidade populacional, compreendendo nomeadamente por macacos, coiotes, jaguaris, pumas e ocelotes (espécie de felino).
  O país possui um clima tropical, com estações secas e úmidas bem definidas. As temperaturas variam principalmente em função da altitude, apresentando pequena amplitude térmica anual. As planícies costeiras apresentam clima quente, tornando-se moderado de acordo com o aumento da altitude. O Rio Lempa é o principal rio do país, sendo parcialmente navegável.
Rio Lempa
HISTÓRIA
  Embora de origem desconhecida, os grupos indígenas que habitaram o território que hoje corresponde a El Salvador, possuíam uma civilização avançada. Os pipiles, mais importante dos grupos que habitaram o atual território salvadorenho no século XV, tinham sua capital Cuzcatlán. A parte ocidental era habitada pelos maias bem antes da chegada dos europeus.
  El Salvador foi descoberto por Andrés Niño, piloto da expedição de Gil González Dávila à Nicarágua, em 1522. Em 1524, os espanhóis chegaram ao país, comandados por Pedro de Alvarado, representante de Hernán Cortés. Após ocuparem Cuzcatlán por um breve período, fundaram San Salvador em 1525 e subjugaram os pipiles. San Salvador integrou a província da Guatemala, fundada a leste do rio Lempa, em 1530. Só foi elevada à categoria de intendência em 1786, subordinada ao governo guatemalteca.
Pedro de Alvarado (1486-1541)
  Durante o período colonial, a região fazia parte do vice-reinado da Nova Espanha, mas estava sujeita à jurisdição do comandante-geral estabelecido na cidade de Guatemala (Capitania Geral da Guatemala). San Salvador desempenhou importante papel no rápido processo de evolução política pelo qual passou a América Central entre 1811 e 1840. O primeiro movimento de independência em relação à Espanha ocorreu na intendência de San Salvador, liderado pelo padre José  Matias Delgado e seu sobrinho Manuel Arce, em novembro de 1818. Essa tentativa e outra verificada em 1814 fracassaram. A proclamação de independência da Guatemala, em 15 de setembro de 1821, suscitou a adesão de El Salvador. Em fevereiro de 1823, as forças mexicanas, lideradas por Agustín de Iturbide, ocuparam o país. Poucos meses depois ocorreu a queda de Iturbide e a 11 de julho deste mesmo ano foi proclamada, na Guatemala, a independência da Federação das Províncias Unidas da América Central (com Guatemala, Honduras, Nicarágua e Costa Rica), que teve Arce como seu primeiro presidente. Por duas vezes, em 1832 e 1833, El Salvador tentou separar-se. A união foi extinta em 1839, e Francisco Morazán, segundo e último presidente, teve de abandonar o país. El Salvador tornou-se uma república independente.
Manuel José Arce (1787-1847)
  Em janeiro de 1841 foi proclamada a República de El Salvador, e durante mais de 40 anos a instabilidade política predominou no país. Conflitos internos entre liberais e conservadores e uma série de choques nas fronteiras com os vizinhos, retardaram o desenvolvimento durante o século XIX.
  No começo do século XX, os conservadores ganharam influência política e a presidência permaneceu nas mãos das famílias da elite como se fosse seu patrimônio pessoal.
  Desde o final do século XIX, a economia salvadorenha se baseava na produção e exportação de café, mas a crise de 1929 resultou na queda internacional dos preços internacionais do produto, e o país entrou em profunda crise econômica.
  Diante dos protestos da população, que reivindicava melhores condições de vida, os militares deram um golpe de Estado, e o general Maximiliano Hernandez Martínez ocupou o cargo de presidente, iniciando um longo período de ditadura militar no país.
San Miguel de la Frontera - com uma população de 254.054 habitantes (estimativa 2019) é a quarta maior cidade de El Salvador
  Após a presidência do doutor Pío Romero Bosque (1927-1931), nenhum candidato obteve a maioria dos votos populares para se tornar seu sucessor. O congresso então escolheu Arturo Araújo, líder do Partido Trabalhista, que tivera pouco menos de 50% dos votos.
  Araújo toama  posse na Presidência da República em 1º de março de 1931, em meio de circunstâncias extremamente difíceis no plano econômico em razão da crise de 1929, e em pleno desenvolvimento de grandes batalhas populares, sobretudo no campo, além da adversão franca da burguesia cafeeira e dos grandes fazendeiros, setores que lhe negam seus quadros para formar o gabinete.
  A baixa nos preços dos cereais leva à fome e ao desespero dos pequenos camponeses minifundistas e arrendatários. Os funcionários públicos, inclusive os militares, ficaram sem receberem seus salários, pois os cofres públicos estavam vazios. Muitos funcionários e empregadores, pressionados pela oligarquia, renunciam a seus cargos, o que torna pesado o funcionamento do aparato estatal em função da improvização de novos e inexperientes burocratas. A luta dos trabalhadores no campo é duramente reprimida pelo Ministro da Guerra, o General Martinez. O regime, que inicialmente gozava do apoio das massas, logo se desprestigia, tornando-se impopular.
Santa Tecla - com uma população de 190.963 habitantes (estimativa 2019) é a quinta maior cidade de El Salvador
  O governo é deposto em 2 de dezembro de 1931 por um golpe militar chefiado pelo vice-presidente e ministro da guerra Maximiliano Hernández Martínez, com uma fração mínima da oligarquia cafeeira. Hernández Martínez assume o poder, governando despoticamente e realizando execuções em massa. O ditador se manteve no poder até 1944, e adotou medidas enérgicas, como o estabelecimento de um novo sistema monetário, a organização de um banco nacional, o controle estatal da comercialização do café e a complementação da Rodovia Pan-Americana.

Hernández Martínez (1882-1966)
  Uma revolta camponesa, liderada por Farabundo Martí, fundador e dirigente do Partido Comunista Salvadorenho, eclodiu em 1932 na zona ocidental do país, quando milhares de camponeses se ergueram contra o regime. Armados principalmente de facões, estes atacaram as terras dos grandes latifundiários e vários quartéis militares, obtendo o controle de alguns povoados, como Juayúa, Nahuizalco, Izalco e Tacuba. A reação do governo foi violenta e ficou conhecido como la matanza, quando cerca de 30 mil indígenas, camponeses e opositores políticos foram assassinados, exilados ou presos.
  Martí foi fuzilado em 1 de fevereiro de 1932 por forças militares (organizadas pelos Estados Unidos) junto a outros líderes da revolta, como Feliciano Ama (líder indígena de Izalgo), Francisco López (que dirigiu o levante de Juayúa), os estudantes universitários Mário Zapata e Alfonso Luna.
Farabundo Martí (1893-1932)
  Uma revolta popular, em 2 de abril de 1944, fracassa. Os julgamentos terminam em fuzilamento, provocando indignação extrema em todas as camadas da sociedade. Os estudantes universitários, expoentes fiéis dos interesses da pequena burguesia e grupos médios em geral, decidem declarar-se em greve, condicionando o fim da mesma à queda do ditador. A greve estudantil deflagra um movimento popular de greve geral, a "greve dos braços caídos", que obriga Martínez a renunciar à presidência e deixar o país.
  Acelera-se um processo eleitoral viciado, sendo vencedor o general Salvador Castañeda de Castro, empossado em 1º de março de 1945. O regime de governo do general Castañeda, expressão dos interesses cafeeiros, é a continuação do martinato, apesar da promulgação de algumas leis de trabalho e da criação de instituições, como "Melhoramento Social", supostamente dedicadas a solucionar alguns problemas populares. Castañeda Castro governou até 14 de dezembro de 1948, sendo deposto por uma junta militar.
General Salvador Castañeda (1888-1965)
  O Conselho de Governo Revolucionário integrado por dois civis e três militares assumiu o poder, obtendo apoio popular maciço com programas de reformas e justiça social. Foi criado um partido oficial, o Partido Revolucionário de Unificação Democrática (PRUD), que elegeu o presidente seguinte, o major Oscar Osório, que governou de 1950 a 1956, proporcionando ao país uma fase de considerável progresso. Osório não teve dificuldade em fazer seu sucessor, o tenente-coronel José María Lemus, que continuou a política do antecessor. Tanto Oscar Osório quanto José María Lemos mostraram-se simpáticos às reformas sociais e foram mantidos em xeque por seus colegas militares mais conservadores, em comum acordo com as oligarquias civis.
Oscar Osório (1910-1969)
  José María Lemos foi deposto em 26 de outubro de 1960 por um novo golpe de Estado, do qual participaram setores burgueses, pequenos burgueses e a esquerda, e substituído por uma Junta de Governo, integrada por três civis e três militares. A Junta expressa tendências heterogêneas, não se propondo a realizar mudanças estruturais, mas apenas restabelecer a legalidade, promovendo eleições livres. O conflito entre as forças populares e a oligarquia se acentua e, em 25 de janeiro de 1961, graças a um golpe de Estado, a Junta de Governo cedeu lugar a outra junta, o Diretório Militar, de feição nitidamente pró-americana, justificando seus atos com apoio no anticomunismo.
  Esta pôs na ilegalidade os partidos de orientação esquerdista, e criou, em 1962, uma Constituinte em que a totalidade dos deputados pertencia ao novo Partido de Conciliação Nacional. Foi eleito de forma fictícia um novo presidente para o período de 1962 a 1967, o coronel Júlio Adalberto Rivera. Sucedeu ao coronel Rivera o coronel Fidel Sánchez Hernández, que governou de 1º de julho de 1967 a 1º de julho de 1972.
Mejicanos - com uma população de 163.721 habitantes (estimativa 2019) é a sexta maior cidade de El Salvador
  A crise econômica e a superpopulação de El Salvador obrigou mais de 300 mil salvadorenhos a emigrarem ao longo das décadas de 1950 e 1960 para o vizinho Honduras. Quando o governo deste país promoveu um programa de reforma agrária em 1969, muitos imigrantes, obrigados a abandonar as terras que haviam ocupado, tiveram que retornar a El Salvador. A tensão entre as populações dos dois países culminou, em 14 de julho de 1969, com um grave conflito, que tomou como pretexto uma partida de futebol entre as seleções das duas nações. Somente depois da chamada "Guerra do Futebol" ou "Guerra das Cem Horas", responsável por mais de cinco mil mortes, a Organização dos Estados Americanos (OEA) conseguiu uma trégua, com a criação de uma zona desmilitarizada, em 1971.
  No início da década de 1970, a mobilização popular começou a aumentar e se tornar mais organizada, culminando na criação de vários movimentos guerrilheiros que, em 1980, unificaram-se para formar a Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN). A ofensiva armada contra o governo salvadorenho por parte da FMLN resultou em uma guerra civil que durou até 1992, causando a morte de aproximadamente 75 mil pessoas.
Apopa - com uma população de 152.711 habitantes (estimativa 2019) é a sétima maior cidade de El Salvador
  O governo do coronel Fidel Sánchez Hernández terminou em julho de 1972. Nas eleições presidenciais é imposta a candidatura do coronel Arturo Armando Molina, contra a opinião majoritária do partido oficial e dos membros do exército. A União Nacional Opositora (UNO) lança como candidato à presidência o democrata-cristão engenheiro José Napoléon Duarte. Mesmo sob acusação de fraude, Arturo Armando Molina, do PCN, foi eleito presidente e empossado. Governou até 1977, quando o partido novamente venceu as eleições com o general Carlos Humberto Romero Mena.
  O governo de Carlos Humberto Romero se caracterizou pela brutalidade repressiva e por uma linha de ação ultradireitista. A combatividade popular não foi dobrada e, pelo contrário, determinou uma profunda crise no interior do governo e do Exército. A miséria no campo facilitou o surgimento de vários movimentos guerrilheiros de esquerda, que intensificaram-se a partir de 1979. Romero tentou levar à frente o que denominou "diálogo nacional", que foi rejeitada tanto pelos partidos que participavam das eleições, quanto pelas organizações populares armadas. Em 1980, alguns dos grupos guerrilheiros se uniram para formar a Frente Farabundo Martí pela Libertação Nacional (FMLN). Medidas repressivas, a campanha de terror patrocinada pela direita e a violação dos direitos humanos pelo Exército durante os anos 1970 e 1980, foram documentadas por várias agências internacionais e o número de refugiados acarretou um grande problema.
Carlos Humberto Romero Mena (1924-a917)
  Durante esse período trágico da História do país, a política de El Salvador era dominada por três grupos principais. Um deles era formado pelo Partido Democrata Cristão (PDC) e contava com o apoio do governo estadunidense; outro era liderado pelo partido Aliança Republicana Nacionalista (Arena); e por fim, havia o grupo representado pela FMLN.
  Em 15 de outubro de 1979, uma junta cívico-militar derrubou o presidente Carlos Humberto Romero e assumiu o poder. A Junta Revolucionária de Governo, integrada pelos coronéis Jaime Abdul Gutiérrez e Adolfo Arnoldo Majano e três civis: Guillermo Manuel Ungo (MNR), Román Mayorga Quiroz (reitor da Universidade Católica - UCA) e Mario Andino (representante do empresariado médio), entretanto não foi capaz de controlar a situação, unificar o país ou derrotar as guerrilhas que controlavam parte do país.
  Em março de 1980, quando rezava uma missa, foi assassinado o bispo de San Salvador, Oscar Romero. Em dezembro, com o apoio dos democrata-cristãos, de alguns setores das Forças Armadas e dos Estados Unidos, foi eleito presidente José Napoleón Duarte, reeleito em 1982 e 1984. Duarte tentou, sem resultado, a paz com a guerrilha. Em 1983, a guerrilha controlava diversas áreas do país, e os Estados Unidos aumentaram a ajuda militar ao governo. Em 1987, firmou um plano de paz para a região, assinado por outros presidentes de países vizinhos (Costa Rica, Guatemala, Honduras e Nicarágua).
José Napoleón Duarte (1925-1990)
  Com a realização das primeiras eleições diretas em quase meio século, em 1989, o Arena saiu como vencedor e o presidente eleito, Alfredo Cistiani, passa a negociar uma trégua com a FMLN.
  Em 16 de janeiro de 1992, foram firmados os os históricos Acordos de Paz, mediados pela ação da ONU, no castelo de Chapultepec, na Cidade do México. Esses acordos representaram um marco para a população salvadorenha, pondo fim a uma longa guerra civil e consolidando o início do processo de democratização.
  A FMLN transformou-se em partido político. Nas eleições de 1994, acompanhadas por observadores da ONU, foi eleito presidente da República o candidato direitista Armando Calderón Sol, da Arena, com a árdua tarefa de reconstruir a economia do país e cicatrizar as feridas da guerra civil. Em março de 1999, Francisco Flores, candidato da Arena à presidência do país, derrotou o ex-líder da guerrilha durante a guerra civil de El Salvador (1979-1992), Facundo Guardado, da FMLN.
Francisco Flores (1959-2016)
ECONOMIA
  Apesar de ser o menor país da América Central Continental em termos geográficos, El Salvador possui a terceira maior economia da região, perdendo apenas para Costa Rica e Guatemala. Porém, a economia salvadorenha possui pouca expressividade. A cana-de-açúcar é o principal produto de exportação. Outros produtos agropecuários importantes são café, camarão, milho, arroz, feijão, sementes oleaginosas, algodão, sorgo, fumo, carne e produtos de granja.
  No setor industrial, destaque para as indústrias de processamento de alimentos, bebidas, petróleo, tabaco, têxtil, móveis e cimento. Atualmente, uma importante fonte de recurso é o dinheiro enviado por cerca de 1 milhão de salvadorenhos que trabalham em outros países, especialmente nos Estados Unidos. O turismo é uma das fontes de recursos recentes que mais vem crescendo.

Ciudad Delgado - com uma população de 139.819 habitantes (estimativa 2019) é a oitava maior cidade de El Salvador
POPULAÇÃO
  A população de El Salvador gira em torno de 6.704.864 habitantes (segundo estimativas da ONU para 2019). Cerca de 90% é mestiça (principalmente resultado da miscigenação entre espanhóis e indígenas), 8% são brancos, 1% são indígenas e o restante é composto por negros e outras raças. Poucos ameríndios mantiveram seus costumes, tradições e línguas.
  Cerca de 55,7% dos salvadorenhos professam a religião católica, 26,4% são protestantes e o restante praticam outras religiões ou não possuem religião definida.
Ahuachapan - com uma população de 128.546 habitantes (estimativa 2019) é a nona maior cidade de El Salvador
CULTURA
  Em El Salvador existem diferentes tipos de fantasias, dos quais a maioria é usada em festas religiosas. No vestuário feminino é comum ver elementos como um escapulário, um xale e um lenço de algodão com diferentes adornos coloridos. Como calçado é normal usar sandálias. No setor masculino é comum o uso de um terno ou uma camisa de algodão usado com jeans, com sandálias ou botas e chapéu.
  Guerra com bolas de fogo é tradição na cidade de Nejapa, e o dia 31 de agosto é comemorado com bolas de fogo em chamas. As bolas de fogo têm o objetivo de marcar a destruição por um vulcão da antiga cidade de Nitchapa, que foi reconstruída como Nejapa.
Ilopango - com uma população de 120.812 habitantes (estimativa 2019) é a décima maior cidade de El Salvador
ALGUNS DADOS SOBRE EL SALVADOR
NOME: República do Salvador
INDEPENDÊNCIA: da Espanha, em 15 de setembro de 1821
CAPITAL: San Salvador
San Salvador, capital de El Salvador, com destaque para a Catedral Metropolitana
GENTÍLICO: salvadorenho (a)
LÍNGUA OFICIAL: espanhol
GOVERNO: República Presidencialista
LOCALIZAÇÃO: América Central Continental ou Ístmica
ÁREA: 21.041 km² (149º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa para 2019): 6.704.864 habitantes (106°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 318,65 hab./km² (22°). Obs: a densidade demográfica, densidade populacional ou população relativa é a medida expressa pela relação entre a população total e a superfície de um determinado território.
CRESCIMENTO POPULACIONAL (ONU - Estimativa 2019): 1,37% (94°). Obs: o crescimento vegetativo, crescimento populacional ou crescimento natural é a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade de uma  determinada população.
CIDADES MAIS POPULOSAS (Estimativa para 2019):
San Salvador: 629.278 habitantes
San Salvador - capital e maior cidade de El Salvador
Santa Ana: 285.473 habitantes
Santa Ana - segunda maior cidade de El Salvador
Soyapango: 280.799 habitantes
Soyapango - terceira maior cidade de El Salvador
PIB (FMI - 2018): US$ 25,766 bilhões (100º). Obs: o PIB (Produto Interno Bruto), representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer sejam países, estados ou cidades), durante um período determinado (mês, trimestre, ano).
PIB PER CAPITA (FMI 2018): US$ 4.040 (104°). Obs: o PIB per capita ou renda per capita é o Produto Interno Bruto (PIB) de um determinado lugar dividido por sua população. É o valor que cada habitante receberia se toda a renda fosse distribuída igualmente entre toda a população. 
IDH (ONU - 2018): 0,674 (121°). Obs: o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população. Este índice é calculado com base em dados econômicos e sociais, variando de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o país. No cálculo do IDH são computados os seguintes fatores: educação (anos médios de estudos), longevidade (expectativa de vida da população) e PIB per capita. A classificação é feita dividindo os países em quatro grandes grupos: baixo (de 0,0 a 0,500), médio (de 0,501 a 0,800), elevado (de 0,801 a 0,900) e muito elevado (de 0,901 a 1,0).
  Muito alto
  Alto
  Médio
  Baixo
  Sem dados
Mapa do IDH
EXPECTATIVA DE VIDA (OMS - 2018): 71,43 anos (112º). Obs: a expectativa de vida refere-se ao número médio de anos para ser vivido por um grupo de pessoas nascidas no mesmo ano, se a mortalidade em cada idade se mantém constante no futuro, e é contada da maior para a menor.
TAXA DE NATALIDADE (ONU - 2018): 26,13/mil (66º). Obs: a taxa de natalidade é a porcentagem de nascimentos ocorridos em uma população em um determinado período de tempo para cada grupo de mil pessoas, e é classificada do maior para o menor.
TAXA DE MORTALIDADE (CIA World Factbook - 2018): 5,78/mil (155º). Obs: o índice de mortalidade reflete o número de mortes registradas, em média por mil habitantes, em uma determinada região em um período de tempo e é contada da maior para a menor.
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2018): 19,66/mil (127°). Obs: a taxa de mortalidade infantil refere-se ao número de crianças que morrem no primeiro ano de vida entre mil nascidas vivas em um determinado período, e é classificada do menor para o maior.
Mapa da taxa de mortalidade infantil no mundo
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook - 2018): 1,84 filhos/mulher (146°). Obs: a taxa de fecundidade refere-se ao número médio de filhos que a mulher teria do início ao fim do seu período reprodutivo (15 a 49 anos), e é classificada do maior para o menor.
Mapa da taxa de fecundidade no mundo
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2018): 84,5% (152º). Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que sabem ler e escrever.
Mapa da taxa de alfabetização no mundo
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2018): 61,4% (86°). Obs: essa taxa refere-se a porcentagem da população que mora nas cidades em relação à população total.
Mapa da taxa de urbanização no mundo
MOEDA: Dólar Americano
RELIGIÃO: católicos romanos (55,7%), protestantes (26,4%), outras religiões e/ou sem religião (2,8%).
DIVISÃO: El Salvador está dividido geograficamente em três zonas: Zona Ocidental, Zona Oriental e Zona Paracentral. Além disso, o país é dividido em 14 departamentos, que são (entre parênteses estão suas respectivas capitais): Ahuachapan (Ahuachapan), Cabañas (Sensuntepeque), Chalatenango (Chalatenango), Cuscatlán (Cojutepeque), La Libertad (Santa Tecla), La Paz (Zacatecoluca), La Unión (La Unión), Morazán (San Francisco Gotera), San Miguel (San Miguel), San Salvador (San Salvador), San Vicente (San Vicente), Santa Ana (Santa Ana), Sonsonate (Sonsonate) e Usulután (Usulután).
Mapa da divisão administrativa de El Salvador
REFERÊNCIA: Furquim Júnior, Laércio
Geografia cidadã, 8º ano: ensino fundamental II / Laércio Furquim Jr. -- 1. ed. -- São Paulo: Editora AJS, 2015. -- (Geografia cidadã).

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