sábado, 28 de fevereiro de 2015

PORTUGAL: PIONEIRO NAS GRANDES NAVEGAÇÕES

  Portugal é um pequeno país situado na península Ibérica, às margens do oceano Atlântico, no extremo oeste da Europa.
  A localização de Portugal contribuiu para que o país alcançasse alto grau de desenvolvimento das técnicas de navegação e fosse pioneiro das grandes viagens marítimas europeias dos séculos XV e XVI. Do porto de Lisboa partiram navegadores que alcançaram a África, a Índia e o atual Brasil.
  Portugal deixou de ser uma grande potência marítima, e seu império colonial se desfez com a independência do Brasil (1822) e das colônias portuguesas da África (década de 1970).
Localização de Portugal
GEOGRAFIA
  Situado no extremo sudoeste da Europa, Portugal faz fronteira apenas com um país, a Espanha, a leste e a norte, sendo que a sul e a oeste é limitado pelo oceano Atlântico. O território português é dividido no continente pelo rio principal, o Tejo. A norte, a paisagem é montanhosa, intercalada por áreas que permitem o desenvolvimento da agricultura. Ao sul, até Algarve, o relevo é caracterizado por planícies. Além do rio Tejo, outros rios importantes são o Douro, o Minho e o Guadiana, todos com suas nascentes na Espanha. O ponto culminante da parte continental de Portugal é a Serra Estrela, com 1.993 metros.
Serra Estrela - segunda maior elevação de todo o território português e a mais elevada da parte continental
  Englobando as ilhas de Açores e da Madeira, o ponto mais elevado de todo o território português é a Montanha do Pico, nos Açores, com 2.351 metros. Essa montanha é um estratovulcão, sendo também o ponto mais alto da dorsal mesoatlântica. As ilhas dos Açores estão localizados no rift médio do oceano Atlântico. Algumas dessas ilhas tiveram atividade vulcânica recente.
Montanha do Pico - ponto culminante de todo o território português
  As ilhas da Madeira, ao contrário dos Açores que se situam na área do rift médio do oceano Atlântico, estão situadas no interior da placa africana e sua formação deve-se à atividade de um ponto quente não relacionado com a circulação tectônica. Esta situação de estabilidade e localização no interior da placa tectônica, faz com que essas ilhas sejam a parte do território português menos sujeito a sismos. O ponto mais elevado das ilhas da Madeira é o Pico Ruivo, com 1.862 metros de altitude, sendo também, o terceiro mais alto do território português.
Pico Ruivo - ponto mais elevado da ilha da Madeira e terceiro do território português
  A costa portuguesa é extensa, possuindo 1.230 km de litoral na parte continental, 667 km nos Açores, e 250 km na Madeira. No cenário marítimo português estão belas praias, com a presença de falésias e areais. A ilha do Porto Santo, uma formação de dunas de origem orgânica com cerca de nove quilômetros, sendo um ponto  turístico muito visitado por turistas internacionais. A ria de Aveiro, estuário do rio Vouga, com 45 km de comprimento e 11 km de largura, é bastante rica em peixes e aves marinhas.
Porto Santo - Portugal
  Portugal é dominado pelo clima mediterrâneo, caracterizado por invernos amenos e chuvosos, e verões quentes e secos, onde é comum, no verão, a ocorrência de canículas (ondas fortes de calor). Essas ondas de calor é provocada por um forte vento procedente do Saara, chamado de simum. Durante o inverno mediterrâneo, diminui o ar seco e quente vindo do Saara, ocorrendo chuvas frontais em todo o sul da Europa, quando as frentes frias vindas das montanhas e do extremo norte da Europa se encontram com as frentes quentes do litoral.   A vegetação de Portugal é do tipo mediterrânea, constituída por árvores pequenas e arbustos com espinhos, como maquis e garrigues. Os maquis são matagais que podem atingir um pouco mais que três metros de altura. São formados por uma enorme diversidade de árvores retorcidas, arbustos e plantas rasteiras. Esses matagais crescem em volta de uma árvore típica do sul da Europa, o sobreiro. Trata-se de uma árvore da família do carvalho, muito resistente. É o principal fornecedor de cortiça natural.
Árvore muito comum em Portugal, o sobreiro
  Outra árvore típica e muito importante, não só em Portugal como também em todo o sul da Europa, é a oliveira. Há mais de 4 mil anos descreve-se sua utilização na região mediterrânea. O azeite e a azeitona são componentes indispensáveis em praticamente todos os pratos da culinária dos países mediterrâneos. A vinha, uma espécie arbustiva, também é muito cultivada no país, o que faz de Portugal um dos grandes produtores de vinhos.
  Ao longo dos séculos, as florestas do Mediterrâneo foram destruídas para o aproveitamento da madeira e para dar lugar à agricultura e ao pastoreio. Como o calor é intenso, essas atividades muitas vezes não prosperavam, e o território era abandonado. Os matagais conhecidos como maquis e garrigues restaram como substitutos da vegetação original.
Cultivo de oliveira, em Portugal
HISTÓRIA
  Ao lado da Espanha, Portugal foi uma das principais nações do período das Grandes Navegações. No entanto, ao longo do tempo, o país perdeu a maioria de seus territórios coloniais, entre os quais o Brasil. Conservou apenas Moçambique, Angola, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, na África; Macau, no litoral sul da China, e Timor Leste, na Ásia. Hoje, o país não possui mais nenhuma colônia.
  A pré-história de Portugal é partilhada com a da península Ibérica. Os vestígios humanos mais antigos conhecidos são de homens Cro-Magnon (restos mais antigos na Europa do Homo sapiens) com traços de Neanderthal, com 24.500 anos e que são interpretados como indicadores de extensas populações mestiças entre as duas espécies. São também os vestígios mais recentes de seres com características de Neanderthal que se conhece, provavelmente os últimos da sua espécie.
Crânio de um homem Cro-Magnon
  Durante o Neolítico a região foi ocupada por pré-celtas, dando origem a povos como os galaicos, lusitanos e cinetes, e visitada por fenícios e cartagineses. Os romanos incorporaram o centro e o sul de Portugal ao seu império, dando o nome de Lusitânia.
  No século III, foi criada a Galécia, a norte de Douro, a partir de Tarraconense, abrangendo o norte de Portugal. A romanização marcou a cultura, em especial a língua latina, que foi a base do desenvolvimento da língua portuguesa.
  Com o enfraquecimento do Império Romano, a partir de 409 d.C., o território português é ocupado por vários povos germânicos, como os vândalos, alanos e suevos. Em 415 os visigodos entram na Península a pedido dos romanos para expulsar os invasores. Vândalos e alanos se deslocaram para o norte da África. Os suevos, que permaneceram no território, e os visigodos fundam os primeiros reinos cristãos.
  Em 711 a península Ibérica é conquistada pelos mouros. Os cristãos recolheram-se  para o norte. Em 868, durante a Reconquista, foi formado o Condado Portucalense.
Condado Portucalense, em 1070
  Muito antes de Portugal conseguir a sua independência, houve algumas tentativas de alcançar uma autonomia mais alargada e até a independência foi tentada por parte dos condes que governavam as terras do Condado da Galiza e de Portucale. Para anular as tentativas de independência da nobreza local em relação ao domínio leonês, o Rei Afonso VI entregou o governo ao Condado de Galiza (que nessa altura incluía as terras de Portucale) ao Conde Raimundo de Borgonha, seu genro. Após muitos fracassos militares de D. Raimundo contra os mouros, Afonso VI decidiu entregar, em 1096, ao primo de D. Raimundo, o Conde D. Henrique, o comando das terras mais ao sul do Condado da Galiza, (re)fundando o Condado Portucalense.
  Com o governo do Conde D. Henrique, o Condado Portucalense promoveu uma política militar mais eficaz e ativa contra os mouros. Com a morte de D. Henrique, seu filho, D. Afonso Henriques sobe ao poder, e Portugal conseguiu a sua independência com a assinatura, em 1143, do Tratado de Zamora, ao mesmo tempo que conquistou localidades importantes, como Santarém, Lisboa, Palmela (que foi abandonada pelos mouros após a conquista de Lisboa) e Évora, esta conquistada por Geraldo Sem Pavor aos mouros.
Mapa político do noroeste da Península Ibérica, no final do século XII
  Terminada a Reconquista do território português em 1249, a independência do novo reino viria a ser posta em causa várias vezes pelo Reino de Castela (um dos antigos reinos da península Ibérica), com destaque para a sequência da crise de sucessão de D. Fernando I, que culminou com a Batalha de Aljubarrota, em 1835.
  Com o fim da guerra, Portugal deu início ao processo de exploração e expansão conhecido como as "Grandes Navegações". Nesse processo destacaram-se o infante D. Henrique, o Navegador, e o Rei D. João II, começando com a conquista de Ceuta, em 1415. Em 1434, Gil Eanes conquistou o Cabo Bojador, explorando a costa africana até 1488, quando Bartolomeu Dias cruzou o Cabo da Boa Esperança (até então era conhecido como Cabo das Tormentas, devido à grande quantidade de navios que afundavam por causa do movimento das correntes marinhas), fazendo a comunicação entre o Atlântico e o Índico.
  Em uma rápida sucessão, descobriram-se rotas e terras na América do Norte, América do Sul e no Oriente, na maioria durante o reinado de D. Manuel I, o Venturoso. Em 1500, os navegadores portugueses, tendo à frente Pedro Álvares Cabral, chegam às terras brasileiras.
As conquistas durante as Grandes Navegações
  Este período em Portugal foi conhecido como século de ouro. Porém, na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578, o jovem rei português D. Sebastião e parte da nobreza portuguesa vieram a falecer, subindo ao trono o Rei-Cardeal D. Henrique, que morre dois anos depois, abrindo a crise de sucessão de 1580: esta resolve-se com a chamada monarquia dualista, em que Portugal e Espanha mantendo coroas separadas eram regidas pelo mesmo rei, processo este que ficou sendo chamado de União das Coroas Ibéricas, com a subida ao trono português Filipe II da Espanha, dando início a Dinastia Filipina.
  Privado de uma política externa independente e envolvido na guerra travada pela Espanha com os Países Baixos (Holanda), Portugal sofreu grandes reveses no seu império, resultando na perda do monopólio do comércio com o Índico. Este domínio chegou ao fim em 1 de dezembro de 1640 pela nobreza nacional que, após ter vencido a guarda real num repentino golpe de Estado, depôs a duquesa governadora de Portugal, coroando D. João IV como Rei de Portugal.
União das Coroas Ibéricas
  A aclamação de D. João IV, o Restaurador, provocou uma guerra entre Portugal e Espanha, que terminou apenas em 1668, com a assinatura de um tratado de paz em que a Espanha reconhecia em definitivo a restauração de Portugal. Entre o final do século XVII e a primeira metade do século XVIII ocorreu, no Brasil, o florescimento da exploração mineira, onde foram descobertas grandes minas de ouro e pedras preciosas que fizeram da corte de D. João V uma das mais ricas de toda a Europa. Estas riquezas serviam frequentemente para pagar produtos importados, majoritariamente da Inglaterra.
  O comércio externo português baseava-se na indústria do vinho e o desenvolvimento econômico do reino teve um grande impulso, já no reinado de D. José, graças aos esforços do Marquês de Pombal, que foi ministro entre 1750 e 1777, objetivando inverter a situação provocada pelas grandes reformas mercantilistas. Foi nesse reinado que um violento terremoto devastou Lisboa e o Algarve, em 1 de novembro de 1755.
Ruínas de Lisboa - gravura alemã de 1755
  Por manter a aliança com a Inglaterra e recusar-se a aderir ao Bloqueio Continental, Portugal foi invadido pelos exércitos napoleônicos, em 1807. A Corte e a família real portuguesa refugiaram-se no Brasil e a capital portuguesa deslocou-se para o Rio de Janeiro, onde permaneceram até 1821, quando D. João VI, rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves desde 1816, regressou a Lisboa para jurar a primeira Constituição do país. No ano seguinte, o seu filho D. Pedro IV - conhecido como D. Pedro I - era proclamado Imperador do Brasil.
  Portugal viveu, no restante do século XIX, períodos de enorme perturbação política e social (a guerra civil e repetidas revoltas e pronunciamentos militares, como a Revolução de Setembro - golpe de Estado ocorrido em 9 de setembro de 1836, que pôs termo ao Devorismo e levou à promulgação da Constituição Portuguesa de 1838 -, a Maria da Fonte ou Revolta do Minho - revolta popular ocorrida na primavera de 1846 contra o governo cartista presidido por Antônio Bernardo da Costa Cabral -, a Patuleia - guerra civil entre Cartistas e Setembristas na sequência da Revolução da Maria da Fonte -, e a Benzelada - contra-golpe de inspiração cartista, que ocorreu na noite de 4 para 5 de novembro de 1836, em reação à Revolução de Setembro) e só com o Ato Adicional à Carta, de 1852, foi possível acalmar o país e iniciar a política de fomento protagonizada no período da Regeneração, do qual foi figura de proa Fontes Pereira de Melo.
Império Português, em 1800
  No final do século XIX, as ambições coloniais portuguesas entram em atrito com as inglesas, originando o Ultimato de 1890, que aumentou as exigências britânicas e gerou vários problemas e escândalos econômicos, fazendo com que a monarquia entrasse em grande descrédito, levando o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro D. Luís Filipe a serem assassinados em 1 de fevereiro de 1908. A monarquia ainda esteve no poder durante mais dois anos, tendo a frente D. Manuel II, mas foi abolida em 5 de outubro de 1910, quando implantou-se a República. Com a instalação da República, D. Manuel II parte para o exílio na Inglaterra.
  Após a Primeira Guerra Mundial, Portugal entrou em um período de instabilidade política que resultou num golpe de Estado, em 1926, com a instalação de um regime ditatorial que durou até 1974. O regime militar nomeou ministro das Finanças Antônio de Oliveira Salazar, em 1928, que foi nomeado, em 1932, Presidente do Conselho de Ministros. A ditadura de Antônio de Oliveira Salazar (o principal líder em todo o período) proibiu qualquer oposição ao governo e perseguiu adversários com violência, sem conseguir fazer o país crescer economicamente.
Antônio de Oliveira Salazar (1889-1970)
  Ao mesmo tempo que restaurou as finanças, Salazar instituiu o Estado Novo, regime autoritário de corporativismo de Estado, com partido único e sindicatos estatais, com afinidades bem marcadas com o fascismo. Em 1968, afastado do poder por motivo de doença, Salazar foi sucedido por Marcelo Caetano.
  A recusa do regime em descolonizar as províncias ultramarinas resultou no início da guerra colonial, primeiro em Angola (1961), em seguida em Guiné-Bissau (1963) e em Moçambique (1964). O regime iniciou a repressão militar aos movimentos de independência de suas colônias na África. As guerras coloniais agravaram os problemas econômicos e causaram grande insatisfação popular.
  Em 25 de abril de 1974, um movimento militar liderado por jovens oficiais, a Revolução dos Cravos, pôs fim à ditadura e deu início a um período de democracia e modernização econômica no país.
Revolução dos Cravos - movimento social que depôs o Estado Novo em Portugal
  Em 25 de novembro de 1975, diversos setores da esquerda radical (essencialmente paraquedistas e polícia militar da Região Militar de Lisboa), tentam promover um golpe de Estado, porém, devido a falta de uma liderança, esse movimento fracassou. O Grupo dos Nove (grupo de oficiais das Forças Armadas de Portugal) reage, pondo em prática um plano militar de resposta, liderado por Antônio Ramalho Eanes. Este triunfa e no ano seguinte consolida-se a democracia. Em 1976, Ramalho Eanes assume a presidência de Portugal, tornando-se o primeiro Presidente da República portuguesa eleito por sufrágio universal. Aprova-se uma Constituição democrática e estabelecem-se os poderes políticos locais (autarquias) e governos autônomos regionais nos Açores e Madeira.
Trabalhadores comemoram nove anos da Revolução dos Cravos, em 1983
  Entre as décadas de 1940-60, Portugal foi membro cofundador da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte - 1949), da EFTA (Associação Europeia de Comércio Livre - 1960), e da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico - 1961), saindo da EFTA em 1986, quando aderiu à então Comunidade Econômica Europeia (CEE), atual União Europeia. Em 1999, Portugal aderiu à Zona do Euro e nesse mesmo ano, entregou a soberania de Macau à China. Desde a sua adesão à União Europeia, o país presidiu o Conselho Europeu por três vezes, a última em 2007, quando foi palco da cerimônia de assinatura do Tratado de Lisboa (tratado que reformulou o funcionamento do bloco).
Assinatura do Tratado de Lisboa, em 13/12/2007
ECONOMIA
  Durante muito tempo, Portugal foi um dos países mais pobres da Europa, e grande contingente de portugueses emigrava em busca de uma vida melhor em outros países, entre eles o Brasil.
  Com a entrada de Portugal na União Europeia, o país se modernizou, reduzindo as atividades industriais e agrícolas de baixo valor e ampliando as atividades de maior valor e as relacionadas ao setor de serviços. Começa, também, a desenvolver-se outros setores no país, como o petroquímico, concentrado na cidade de Sines, e do setor automobilístico, polarizado na cidade de Palmela, ambos no distrito de Setúbal.
Cidade de Porto - Portugal
  Portugal teve uma industrialização relativamente tardia, o que explica o fato de apresentar um setor secundário de menor peso, quando comparado às demais nações desenvolvidas da Europa. Verifica-se uma grande vinculação do setor industrial português com o setor agrícola, ligadas principalmente ao setor têxtil, de bebidas e alimentício, direcionadas ao processo de transformação das matérias-primas produzidas. Dentre os principais produtos estão o azeite, resultado da transformação da oliva, e os vinhos, resultado da transformação da uva.
  Desde 1985, o país entrou num processo de modernização num ambiente bastante estável, o que contribuiu para a sua entrada na União Europeia em 1986. Os sucessivos governos fizeram várias reformas, privatizaram muitas empresas controladas pelo Estado e liberalizaram áreas-chave da economia, incluindo os setores de telecomunicações e financeiros.
  Nas décadas de 1990 e 2000, como integrante da União Europeia, Portugal recebeu muitos investimentos desse bloco, que possibilitaram melhorias em sua infraestrutura e no desenvolvimento do turismo. O país passou também a receber imigrantes, entre os quais muitos brasileiros.
Torre de Belém, em Lisboa - um dos pontos mais visitados pelos turistas
  No entanto, a crise econômica que abalou a Europa a partir de 2008, foi particularmente grave em Portugal, e o povo português foi atingido por sérias dificuldades, dentre elas o desemprego, o aumento de impostos, o grande descontentamento da população afetada pelas condições impostas pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e o financiamento de suas dívidas públicas.
  A PEA no setor primário português é de 12%, mostrando que muita gente ainda trabalha no setor agropecuário do país, comparando com outros países da Europa desenvolvida, como Reino Unido (1%), Bélgica e Alemanha (2%) e França e Países Baixos - Holanda (3%). A agricultura portuguesa está bem adaptada devido ao clima, relevo e solos favoráveis. Nas últimas décadas intensificou-se a modernização agrícola.
  Dentre os produtos agrícolas de Portugal, destacam-se o cultivo de oliveiras, destinada à produção de azeitonas e de azeite, e da videira, destinada à produção de vinho. Outros produtos bastante cultivados no país são trigo, milho e frutas.
Região Vinhateira do Alto Douro, em Vila Nova de Foz Côa - Portugal
  A pesca, que foi uma das grandes atividades no passado, diminuiu bastante devido à concorrência de pescados com outros países, porém, Portugal ainda é um grande produtor de peixes, destacando-se sardinha, carapau, polvo, peixe-espada-preto, cavala e atum.
  Outro produto de destaque em Portugal é a cortiça, da qual o país responde por mais de 50% da produção mundial. Os recursos minerais mais significativos em Portugal são cobre, lítio, volfrâmio, estanho, urânio, feldspato, sal-gema, talco e mármore.
  O turismo continua a ser um setor extremamente importante para a economia do país. Portugal está entre os 20 países mais visitados do mundo, recebendo em média 13 milhões de turistas estrangeiros por ano. Os principais pontos turísticos de Portugal são Lisboa, Algarve e Madeira. Lisboa está entre as cidades europeias mais visitadas pelos turistas.
Aldeia de Azenhas do Mar, em Sintra - Portugal
  Portugal vem expandindo sua capacidade de geração renovável de energia de maneira notável, de 17% para 45% nos últimos cinco anos.
  Portugal possui várias empresas transnacionais, sendo que as principais são: Banco Espírito Santo, Banco Nacional Ultramarino, Banco Internacional do Funchal (Banif), Delta Cafés, Portugal Telecom (controla e gerencia no Brasil a Vivo Participações), Cimpor (produção de cimentos), entre outras.
Edifício sede da Portugal Telecom, em Lisboa - Portugal
DEMOGRAFIA
  Portugal possui uma população de pouco mais de 10 milhões de habitantes. A composição étnica do país é uma combinação rica de vários povos: celtas, árabes, romanos, lusitanos, visigodos e celtiberos.
  A distribuição da população portuguesa apresenta importantes diferenças entre o sul e o norte, e entre o interior e o litoral. O norte e o litoral têm densidades populacionais notavelmente maiores do que o resto do país. Regiões como Lisboa e Porto superam os 600 hab./km², enquanto que em regiões como Bragança, Portalegre, Évora e Beja a densidade demográfica é de pouco mais de 3 hab./km². Estas diferenças se acentuaram durante a década de 1960, quando um grande êxodo rural reduziu as populações próximas à fronteira com a Espanha. Somente na década de 1990 é que a população urbana superou a população rural.
Mapa da densidade populacional de Portugal
  A língua portuguesa é uma língua românica (do grupo íbero-românico), tal como o castelhano, catalão, italiano, francês, romeno, reto-romanche (Suíça), e outras línguas. A língua portuguesa é a língua oficial do país e a língua mirandesa é a segunda língua oficial do país.
  A língua mirandesa é falada no nordeste de Portugal, no município de Miranda do Douro e em outros lugares próximos, na fronteira com a Espanha. Atualmente, cerca de 10 mil pessoas falam a língua mirandesa. Todos os falantes de mirandês falam também português.
  Como o português, o mirandês é uma língua derivada do latim popular. No entanto, como a língua portuguesa foi o idioma que dominou todo o território português, o mirandês acabou sobrevivendo apenas em alguns lugares.
Placa de identificação de arruamento, em Genísio, com o nome da rua em mirandês e português
  Durante séculos o mirandês foi sendo transmitido de geração em geração pela fala. Em sua região, sempre tem sido a língua que se fala em casa e na comunidade. Não era aprendida na escola e havia muito poucos textos escritos em mirandês. Além disso, o mirandês foi por muito tempo considerado apenas um dialeto do português e visto como linguagem de pessoas que não seriam capazes de aprender corretamente o português.
  Em 1999, a língua mirandesa foi reconhecida legalmente como o segundo idioma de Portugal. É ensinada nas escolas da região e usada em cerimônias, festas, documentos, livros e materiais diversos.
  O reconhecimento do mirandês trouxe muito orgulho às pessoas que sempre o usaram para se comunicar e para transmitir suas tradições. Um número cada vez maior de jovens se interessa em aprender o idioma, e a literatura em mirandês tem ganhado expressão e respeito.
Placa de informação, na Sé de Miranda, com o texto em mirandês
EDUCAÇÃO
  O sistema educativo em Portugal é regulado pelo Estado através do Ministério da Educação e Ciência. O sistema de educação pública é o mais usado e mais bem implementado, existindo também escolas privadas em todos os níveis de educação.
  Em Portugal a educação é iniciada obrigatoriamente para todos os alunos aos seis anos de idade. A escolaridade obrigatória é de 12 anos. O primeiro nível de ensino, o Ensino Básico, está dividido em ciclos: 1° ciclo (1° ao 4° ano); 2° ciclo (5° ao 6° ano); e 3° ciclo (7° ao 9° ano).
  No final de cada ciclo, os alunos realizam exames nacionais sobre as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. As provas avaliam os alunos sobre a matéria lecionada durante o ciclo correspondente.
  O nível seguinte é o Ensino Secundário, abrangendo o 10°, 11° e 12° anos. Tem um sistema de organização próprio, diferente dos restantes ciclos. A mudança de ciclo pode, em vários casos, ser marcada pela mudança de escola. As escolas que abrangem o 1° ciclo são mais pequenas que as restantes, possuindo em média 200 alunos, enquanto que as do 2° e 3° ciclos e as secundárias atingem cerca de 2 mil alunos.
Palácio das Escolas - sede da Universidade de Coimbra
  Qualquer aluno pode frequentar Cursos de Formação e de Educação que dão equivalência ao 9° ano, e Cursos Profissionais, que dão equivalência ao 12° ano. O aluno que desejar possuir habilitação literária, recebe uma certificação profissional, e todos os alunos podem concluir o Ensino Secundário em regime diurno e noturno.
  A primeira universidade portuguesa foi criada em 1290, a Universidade de Coimbra. As universidades portuguesas são organizadas em faculdades. Institutos e escolas também são comuns às denominações das subdivisões das instituições autônomas do ensino superior e são sempre utilizadas no sistema politécnico. O ingresso à faculdade é feito através da média final do aluno que obteve no Ensino Secundário e após a realização dos exames necessários, chamadas de provas de ingresso, muitas vezes com nota mínima; a média de entrada é calculada com uma porcentagem sobre a média do secundário e outra sobre o exame ou exames; a fórmula de cálculo varia conforme a instituição.
Reitoria da Universidade do Porto
SAÚDE
  O sistema de saúde português é caracterizado por três sistemas coexistente: o Sistema Nacional de Saúde (SNS), os regimes de seguro social de saúde especiais para determinadas profissões (subsistemas de saúde) e seguros de saúde de voluntariado privados. O SNS oferece uma cobertura universal. Cerca de 25% da população portuguesa é coberta por sistemas de saúde, 10% por seguros privados e 7% por fundos mútuos.
  O Ministério da Saúde é responsável pelo desenvolvimento da política de saúde, bem como de gerir a SNS. Cinco administrações regionais de saúde são responsáveis pela execução dos objetivos da política nacional de saúde, desenvolvimento de orientações e protocolos e de supervisionar a prestação de cuidados da saúde.
Hospital Santa Maria, em Lisboa - Portugal
LITERATURA
  A literatura portuguesa, uma das primeiras literaturas ocidentais, desenvolveu-se através de texto e música. Até 1350, os trovadores galego-portugueses espalharam a sua influência para a maior parte da península Ibérica. Gil Vicente (1465-1536), foi um dos fundadores das tradições dramáticas portuguesa e espanhola.
  Aventureiro e poeta, Luís de Camões (1524-1580) escreveu o poema épico Os Lusíadas, com a Eneida de Virgílio como a sua principal influência. A poesia moderna portuguesa está enraizada nos estilos neoclássico e contemporâneo, como exemplificado por Fernando Pessoa (1888-1935). Outros poetas da literatura moderna portuguesa são Almeida Garrett, Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, entre outros.
Luís de Camões - considerado o maior nome da Literatura portuguesa
ALGUNS DADOS SOBRE PORTUGAL
NOME OFICIAL: República Portuguesa
CAPITAL: Lisboa
Castelo de São Jorge, em Lisboa
GENTÍLICO: português, portuguesa
LÍNGUA OFICIAL: português
GOVERNO: República Constitucional Unitária Semipresidencialista
FORMAÇÃO: 1093 d.C.
Independência: 1139
Reconhecida: entre 1143 e 1149
LOCALIZAÇÃO: Europa Meridional (Península Ibérica)
ÁREA: 92.152 km² (109°)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2014): 10.716.414 habitantes (74°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 116,29 hab./km² (65°)
MAIORES CIDADES (Estimativa 2014):
Lisboa: 553.812 habitantes
Lisboa - capital e maior cidade de Portugal
Sintra: 382.028 habitantes
Sintra - segunda maior cidade de Portugal
Vila Nova de Gaia: 305.650 habitantes
Vila Nova de Gaia - terceira maior cidade de Portugal
PIB (Banco Mundial - 2013): US$ 210,620 bilhões (45°)
IDH (ONU - 2014): 0,822 (41°)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2012): 80,0 anos (33°)
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU - 2005-2010): 0,37% (174°)
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2013): 4,45/mil (23°). Obs: essa mortalidade é contada de menor para maior.
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook - 2014): 1,52 filhos/mulher (189°). Obs: essa taxa refere-se ao número médio de filhos que a mulher teria até o fim do seu período reprodutivo (de 15 a 49 anos) e é contada de maior para menor.
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2014): 95,4% (91°). Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que podem ler e escrever.
TAXA DE URBANIZAÇÃO (Pnud - 2010/2011): 59% (93°)
PIB PER CAPITA (CIA World Factbook - 2014): US$ 21.000 (42°)
MOEDA: Euro
RELIGIÃO: católicos (92,2%), protestantes (1,5%), outras religiões cristãs (1,1%), islâmicos (0,1%), outras religiões (5,1%).
DIVISÃO: as principais divisões administrativas de Portugal são os 18 distritos no continente e as duas Regiões Autônomas dos Açores e Madeira, que se subdividem em 308 concelhos e 3.092 freguesias. Os números dos distritos correspondem aos números do mapa. São eles: 1. Lisboa 2. Leiria 3. Santarém 4. Setúbal 5. Beja 6. Faro 7. Évora 8. Portalegre 9. Castelo Branco 10. Guarda 11. Coimbra 12. Aveiro 13. Viseu 14. Bragança 15. Vila Real 16. Porto 17. Braga 18. Viana do Castelo. Os distritos permanecem como a mais relevante subdivisão do país, servindo de base para uma série de utilizações administrativas.
Mapa com a divisão dos distritos de Portugal
  Antes de 1976, os dois arquipélagos atlânticos estavam também integrados na estrutura geral dos distritos portugueses, embora com uma estrutura administrativa diferenciada, contida no Estatuto dos Distritos Autônomos das Ilhas Adjacentes, que se traduzia na existência de Juntas Gerais com competências próprias. Havia três distritos autônomos nos Açores (Distrito de Angra do Heroísmo, Distrito da Horta e Distrito de Ponta Delgada) e um em Madeira (Distrito de Funchal).
Angra do Heroísmo - uma das principais cidades dos Açores
  Após 1976, os Açores e a Madeira passaram a ter o estatuto de Região Autônoma, deixando de se dividirem em distritos, passando a ter um estatuto político-administrativo e órgãos de governo próprios.
Funchal - capital da Ilha da Madeira
FONTE: Sampaio, Fernando dos Santos. Para viver juntos: geografia, 7° ano: ensino fundamental / Fernando dos Santos Sampaio, Marlon Clóvis de Medeiros. - 3. ed. - São Paulo:: Edições SM, 2012. - (Para viver juntos)

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

LAGOA DO PEIXE: PARAÍSO DAS AVES

  A Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul, é parada obrigatória para milhares de espécies migratórias vindas do norte e do sul do planeta. Elas vêm tanto da Patagônia como das proximidades do Círculo Polar Ártico, do outro lado do mundo. Algumas chegam a voar nove mil quilômetros desde o norte do Canadá até o Rio Grande do Sul em cinco dias. É ali, no Parque Nacional da Lagoa do Peixe, uma área de 344 km², que se encontra o principal refúgio de aves migratórias da América do Sul e o único lugar do Brasil onde se podem observar flamingos o ano inteiro.
  O Parque Nacional da Lagoa do Peixe está localizado no litoral sul do estado do Rio Grande do Sul, abrangendo os municípios de Tavares, Mostardas e São José do Norte. A unidade foi criada através do Decreto n° 93.546, emitido em 6 de novembro de 1986. Atualmente, esse parque é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
  Entre os meses de outubro e abril, período de maior incidência de aves migratórias, é possível avistar uma multidão de várias espécies e cores. São garças, biguás, cisnes, talha-mares, maçaricos, marrecos, batuíras, trinta-réis, entre outros.
Flamingos - símbolo da Lagoa do Peixe
  Com a chegada do inverno, adultos e filhotes fogem do frio e viajam para lugares cujas temperaturas são mais amenas.
  O clima do parque é o subtropical úmido, apresentando uma temperatura média de 16,5°C e uma precipitação média de 1.186 mm.
  A Lagoa do Peixe - tecnicamente uma laguna, devido possuir um canal de comunicação entre o mar durante a maior parte do ano - é abrigo para grandes concentrações de aves migratórias do Hemisfério Norte (no verão) e Sul (no inverno), destacando-se capororocas, flamingos, biguás, maçaricos-de-peito-vermelho, gaivotas, talhamares, pirus-pirus, cisne-de-pescoço-preto, entre outros.
  Dentre os mamíferos podem ser avistados graxains, tatus, pequenos roedores e, entre os meses de julho e outubro, a baleia franca, que passa por lá migrando em direção à Santa Catarina. Devido aos movimentos das correntes marinhas, não é raro encontrar nas areias da praia tartarugas marinhas, pinguins, lobos-marinhos, entre outros animais da Antártida.
Aves migratórias na Lagoa do Peixe
  A Lagoa do Peixe tem recebido atenção internacional como uma das áreas mais importantes para abrigo de aves migratórias da América Latina, e sua proteção é essencial para a existência continuada do fantástico mecanismo biológico que garante o ciclo da vida de inúmeras espécies da fauna e flora.
  As águas da Lagoa do Peixe são rasas - variam de 10 a 60 cm - e a extensão é de cerca de 35 km de comprimento e 1,5 km de largura, estendendo-se paralela à praia oceânica, entre os cordões de dunas e a restinga com sua mata nativa.
  A alta concentração de nutrientes, de espécies de moluscos, algas, plânctons, caranguejos, siris, peixes e camarões garante alimento farto para as aves.
Interior do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, em Mostardas - RS
  A Lagoa do Peixe comunica-se com o Oceano Atlântico através de uma barra que chega a ter dois metros de profundidade. Este imenso viveiro natural abriga 181 espécies de aves - entre elas 26 visitantes do hemisfério Norte e 5 do hemisfério Sul. As aves migratórias descobriram a Lagoa do Peixe por causa da enorme quantidade de alimentos, fazendo deste lugar uma parada obrigatória e seu maior refúgio na América Latina.
  O Parque Nacional da Lagoa do Peixe possui diversas trilhas. As principais são as trilhas das: Praias, Dunas, Talha-Mar, Figueiras, Porto do Barquinho e Laguna dos Patos, Farol Mostardas, Farol Solidão e Farol Capão da Marca.
Andorinha-polar, sobrevoando a Lagoa do Peixe
FONTE: Giardino, Cláudio. Geografia nos dias de hoje, 6° ano / Cláudio Giardino, Lígia Ortega, Rosaly Braga Chianca. - 1. ed. - São Paulo: Leya, 2012. - (Coleção nos dias de hoje)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

TANZÂNIA: O PAÍS DOS GRANDES SAFARIS

  A Tanzânia é um país da África que está localizado na costa leste do continente, sendo banhado pelo oceano Índico e limitando-se ao norte com o Quênia, a noroeste com Ruanda, Uganda e Burundi, a oeste com a República Democrática do Congo (através do lago Tanganica), a sudoeste com a Zâmbia e ao sul com Malawi e Moçambique.
  É um país que apresenta paisagens naturais com características muito específicas. Localizada na parte oriental da África, é dominada pela savana, bioma que abriga os animais de grande porte do continente.
Paisagem da Tanzânia
GEOGRAFIA
  A maior reserva natural da Tanzânia é o Parque Nacional do Serengeti, com mais de 15 mil km². Nesse parque vivem as maiores populações de animais silvestres do planeta.
  O Parque Nacional de Serengeti está localizado no norte da Tanzânia e sudoeste do Quênia, sendo uma região famosa pelas migrações anuais de gnus, zebras e gazelas. No parque vivem mais de 35 espécies de grandes mamíferos como leões, hipopótamos, elefantes, leopardos, rinocerontes, girafas, antílopes e búfalos, além de hienas, chitas, macacos e mais de 500 espécies de aves.
  Na linguagem da tribo masai (grupo étnico africano de seminômades que habita o Quênia e o norte da Tanzânia), Serengeti significa "imensas planícies".
Manada de gnus no Parque Nacional de Serengeti
  O Ngorongoro é a enorme cratera de um vulcão adormecido e é uma das maiores atrações da Tanzânia. Em seu interior há uma infinidade de animais de espécies variadas. A diversidade da fauna é tanta que o Ngorongoro recebeu a denominação de "Arca de Noé". Na cratera também é possível observar uma vasta floresta tropical.
  A cratera está a 2.236 metros acima do nível do mar e é a maior caldeira intacta (vulcão desmoronado) do mundo. Mede mais de 19 quilômetros de diâmetro e tem uma superfície de 304 km².
Cratera de Ngorongoro
  Na cratera de Ngorongoro pode-se ver búfalos, elefantes, zebras, gnus, gazelas, rinocerontes-negros, cercopiteco-de-face-negra, predadores, como guepardos, hienas, chacais, leões e hipopótomos e numerosos outros animais. Na cratera há também um grande número de aves, como avestruzes, abetardas, garças, flamingos, entre outras.
  A cratera de Ngorongoro pode ser visitada durante o ano todo, mas durante os meses de abril e maio, período de chuvas, as estradas estão danificadas, prejudicando a visita.
Búfalos pastando na cratera do Ngorongoro
  A Tanzânia possui ainda paisagens de altitude. O monte Kilimanjaro, com cerca de 5.895 metros, é o ponto mais elevado do continente africano. O topo desse antigo vulcão é coberto de neve eterna, contrastando com as savanas situadas nas extensas planícies que margeiam o monte.
  O monte Kilimanjaro teve uma grande atividade vulcânica durante o Pleistoceno e está acompanhado por três outros cones vulcânicos, orientados num eixo leste-sudeste: Shira, o mais antigo, a oeste, com uma altitude de 4.500 metros; Mawenzi, a leste, com uma altitude de 5.149 metros; e o Kibo, que é o mais recente e ainda está em atividade, que é a parte mais elevada do Kilimanjaro. A última erupção do Kilimanjaro foi há aproximadamente 150.000 anos atrás, e Kibo apresenta fumarola em sua cratera.
Versão 3 D do Monte Kilimanjaro
  O Kilimanjaro é protegido pelo Parque Nacional do Kilimanjaro, classificado pela Unesco como Patrimônio da Humanidade. O topo do monte é coberto pelas geleiras eternas, que está diminuindo por causa do aquecimento global.
  Da base ao pico há uma enorme mudança na vegetação. A base é coberta por uma densa e úmida floresta tropical, com a presença de árvores de grande porte. À medida que se ganha altitude, as árvores vão diminuindo de porte e número, e a vegetação se tornando rasteira. Assim, como nas grandes altitudes, acima de 3.000 metros a pouca vegetação que ainda resta é substituída por liquens e pedras. Acima dos 4.000 metros, apenas rochas vulcânicas e gelo são encontrados.
  O monte Kilimanjaro é relativamente novo e não existia entre 1 e 2 milhões de anos atrás. Naquela época, onde hoje está o Kilimanjaro, havia apenas uma planície ondulada com algumas montanhas erodidas. O movimento das placas tectônicas fez com que as lavas expelidas pelas fraturas surgidas com o choque das placas dessem origem a um enorme pico, que atualmente forma o monte.
Monte Kilimanjaro - ponto culminante da Tanzânia e do continente africano
  O Rift Valley ou grande vale do Rift é um complexo de falhas tectônicas criado há cerca de 35 milhões de anos com a separação das placas tectônicas Africana e Arábica.
  No norte e oeste da Tanzânia, na região do Rift Valley,  estão os Grandes Lagos Africanos, com destaque para o Lago Niassa, o Lago Vitória (o maior lago africano) e o Lago Tanganica (o mais profundo da África, conhecido por suas espécies únicas de peixes).
Rift Valley, na Tanzânia
  O Lago Vitória está localizado num planalto elevado na parte ocidental do Grande Rift Valley, compreendendo áreas da Tanzânia, de Uganda e do Quênia. Com 68.870 km², é o maior lago africano, maior lago tropical do mundo e o segundo maior lago de água doce do planeta, e contém 2.760 km³ de água. Nele se encontra uma das nascentes do rio Nilo, o Nilo Branco.
  No interior do Lago Vitória existem mais de três mil ilhas, muitas das quais habitadas, entre elas a ilha Ukerewe, na Tanzânia, que é a maior ilha lacustre da África. O lago possui baixa profundidade, com média de 40 metros e máxima de 83 metros. Em forma aproximada de retângulo com 320 km de comprimento (de norte a sul), 275 km de largura (de leste para oeste) e situado a 1.133 metros de altitude, o lago Vitória tem as bordas recortadas, formando numerosas penínsulas, baías, cabos e ilhas.
Localização do lago Vitória
  O lago Tanganica é o segundo maior lago da África e é partilhado pela Tanzânia, República Democrática do Congo, Burundi e Zâmbia. Está localizado no braço ocidental do Rift Valley, a uma altitude de 872 metros, estendendo-se por 673 km no sentido norte-sul. É o lago mais longo do mundo, com uma largura média de 50 quilômetros e uma profundidade média de 570 metros e máxima de 1.470 metros. Estima-se que este seja o segundo mais antigo e mais profundo do mundo, depois do Lago Baikal, na Sibéria. Cobre uma área de 32.900 km² e uma linha de fundo de costa de 1.828 km.
  O lago Tanganica tem como afluentes principais o rio Ruzizi, que entra pelo seu extremo norte, trazendo-lhe  água do lago Kivu, e o Malagarasi, que é o segundo maior rio da Tanzânia e que entra no lago pela sua margem oriental.
  Devido à sua enorme profundidade e localização tropical, as águas do lago não sofrem a viragem sazonal própria dos lagos das regiões frias e, como consequência, as suas águas profundas são consideradas "água fóssil" e são anóxicas (sem oxigênio).
Mapa do lago Tanganica
  Outro lago da Tanzânia é o lago Niassa (também chamado de Malawi). Está localizado entre o Malawi, a Tanzânia e o Moçambique. Com uma orientação norte-sul, o lago tem 560 km de comprimento, 80 km de largura máxima e uma profundidade máxima de 700 metros.
  O lago Niassa é único no mundo por formar uma província biogeográfica específica, com cerca de 400 espécies de peixes ciclídeos endêmicos. Estima-se que esse lago tenha uma idade entre um e dois milhões de anos.
Mapa da localização do lago Niassa ou Malawi
  O Arquipélago de Zanzibar é um arquipélago da Tanzânia que está localizado no oceano Índico e é separado do continente pelo Canal de Zanzibar. É formado por três ilhas principais (Unguja, Pemba e Mafia) e outra ilhas menores. As ilhas de Unguja e Pemba formam há séculos uma entidade independente ou quase independente (Sultanato de Zanzibar e Estado de Zanzibar), colonizada pelo Reino Unido (Protetorado de Zanzibar), ou incorporado na Tanzânia (Governo Revolucionário de Zanzibar). A ilha de Mafia esteve sempre integrada na entidade que governa a Tanzânia continental.
Arquipélago de Zanzibar
HISTÓRIA
  A Tanzânia é o lar de alguns dos mais antigos assentamentos humanos, com fósseis dos primeiros seres humanos, encontrados próximos da Garganta de Olduvai, no norte da Tanzânia, uma área muitas vezes referida como "o berço da Humanidade". Nessa localidade foram encontradas as mais antigas pegadas humanas. Os restos encontrados em Olduvai indicam que por aqui passaram os antepassados do Homem, como o Australopitecus, com mais de 3 milhões de anos.
Garganta de Olduvai
  No século VII, comerciantes persas e árabes começaram a chegar à costa da Tanzânia em busca de marfim e de especiarias, além de pessoas para escravizá-las. No século XII, imigrantes persas e indianos começaram a construir cidades, principalmente após a fundação do sultanato de Kilwa, por volta de 965, onde várias dinastias shirazi estabeleceram-se na área. Em 1405, o sultão Hassan bin Suleiman refugiou-se em Zanzibar após ser expulso de Kilwa. Neste período, a população nativa adotou a fé islâmica. Traços das ruínas shirazi são encontradas em todas as ilhas.
Ruínas shirazi, em Kaole - Tanzânia
  No final do século XV, Zanzibar tornou-se um sultanato independente. A ilha de Zanzibar e o litoral de Tanganica, que tinham se tornado centros de comércio árabe entre os séculos VII e XVI, passaram ao controle dos portugueses, em 1498, após a exploração da costa por Vasco da Gama. Em 1652, os portugueses são expulsos de Zanzibar pelo sultão de Omã. A dominação portuguesa foi marcada pelo duro tratamento à população local, com pesadas taxas e coleta de impostos.
  O poder árabe em Zanzibar tornou-se absoluto por cerca de 150 anos, e foi marcado pela construção de feudos de vários árabes, e chefes nativos mantiveram o seu poder em alguns lugares isolados.
  De 1880 até 1919, a Tanzânia passou a ser colônia alemã e, de 1919 até 1961, colônia britânica, quando se tornou independente.
Parque Nacional de Arusha - Tanzânia
  Pouco depois da independência, Tanganica e Zanzibar fundiram-se para criar a nação da Tanzânia, em 26 de abril de 1964, com a adoção do regime socialista. O regime de partido único chegou ao fim em 1995, ano em que se realizaram as primeiras eleições democráticas do país desde a década de 1970.
  Formada por 26 áreas e considerada como um Estado único, a República Unida da Tanzânia elegeu em 2005 o seu presidente, Jakaya Kikwete, que também já presidiu a União Africana, continuando no cargo até os dias atuais. As instituições governamentais estão localizadas em Dodoma, capital da Tanzânia desde 1996.
Jakaya Kikwete - presidente da Tanzânia
ECONOMIA
  A Tanzânia é um dos países mais pobres do mundo. Após adotar a economia planificada depois que se tornou independente e promover mudanças econômicas na década de 1990, o país praticamente concluiu a sua transição para a economia de mercado, embora o governo ainda controle alguns setores, como telecomunicações, bancário, energia e mineração.
  A economia da Tanzânia depende consideravelmente da agricultura, que é responsável por 1/4 do PIB do país, pelo emprego de 80% de sua mão de obra e por 85% das exportações. Nos últimos anos, o turismo de natureza, principalmente a realização de safáris, ganhou bastante espaço na economia, contribuindo para a geração de emprego e renda para a população. O turismo e a exploração de ouro fizeram com que o país tivesse um grande crescimento econômico nas últimas décadas.
O turismo tem sido uma importante fonte de renda para a Tanzânia
  A indústria ainda é incipiente, predominando algumas indústrias de processamento de produtos agrícolas, minerais e de bens de consumo. A extração de minério é outra importante fonte de renda. As minas de Rulawaka e as reservas de gás natural de Rufigi, estão contribuindo para a elevação do PIB do país.
ALGUNS DADOS DA TANZÂNIA
NOME OFICIAL: República Unida da Tanzânia
CAPITAL: Dodoma (382.421 habitantes)
Dodoma - capital da Tanzânia
GENTÍLICO: tanzaniano (a)
LÍNGUA OFICIAL: suali
GOVERNO: República Federal
INDEPENDÊNCIA: do Reino Unido
Tanganica: 9 de dezembro de 1961
Zanzibar: 10 de dezembro de 1963
Unificação: 26 de abril de 1964
LOCALIZAÇÃO: África Oriental
ÁREA: 945.087 km² (30°)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2014): 43.802.461 habitantes (27°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 46,34 hab./km² (131°)
MAIORES CIDADES (Estimativa 2014):
Dar es Salaam: 2.765.308 habitantes
Dar es Salaam - maior cidade da Tanzânia
Mwanza: 447.589 habitantes
Mwanza - segunda maior cidade da Tanzânia
Zanzibar: 413.628 habitantes
Zanzibar - terceira maior cidade da Tanzânia
PIB (Banco Mundial - 2013): US$ 27,978 bilhões (91°)
IDH (ONU - 2014): 0,488  (159°)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2012): 59 anos (167°)
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU - 2005-2010):  2,47% (30°)
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2013): 64,45/mil (162°). Obs: essa mortalidade é contada de menor para maior.
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook - 2014): 4,95 filhos/mulher (17°). Obs: essa taxa refere-se ao número médio de filhos que uma mulher teria até o fim do seu período reprodutivo (de 15 a 49 anos) e é contada de maior para menor.
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2014):  69,4%% (173°). Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que podem ler ou escrever.
TAXA DE URBANIZAÇÃO (Pnud - 2010/2011):  25% (172°)
PIB PER CAPITA (CIA World Factbook - 2013): US$ 703 (163°)
MOEDA: Xelim Tanzaniano
RELIGIÃO: católicos (28%), protestantes (18,6%), outras religiões cristãs (6,7%), islamismo (30,1%), crenças tradicionais (14,8%), outras religiões, sem religião e ateísmo (1,8%).
DIVISÃO: a Tanzânia divide-se em 26 regiões: Arusha, Dar es Salaam, Dodoma, Iringa, Kagera, Kigoma, Kilimanjaro, Lindi, Manyara, Mara, Mbeya, Morogoro, Mtwara, Mwanza, Pemba North, Pemba South, Pwani, Rukwa, Ruvuma, Shinyanga, Singida, Tabora, Tanga, Zanzibar South, Zanzibar North e Zanzibar West.
Mapa da divisão regional da Tanzânia
FONTE: Sampaio, Fernando dos Santos. Para viver juntos: geografia, 6° ano: ensino fundamental / Fernando dos Santos Sampaio. - 3. ed. - São Paulo: Edições SM, 2012. - (Para viver juntos)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

OS BOIAS-FRIAS E AS CONDIÇÕES DE TRABALHO NO CAMPO

  Boia-fria é o trabalhador agrícola que se desloca diariamente para a propriedade rural, geralmente para executar tarefas sob empreitada. O termo boia-fria surgiu do costume destes trabalhadores de levar uma marmita consigo logo cedo e, na hora do almoço, comê-la fria. O grande problema dos boias-frias é que suas condições de trabalho são as piores possíveis, estando muitas vezes aliadas às condições de escravidão e trabalho infantil.
  Apesar da denominação "boia-fria" a principal característica do trabalhador temporário não é tanto a forma como ele ingere sua refeição, mas sim, a forma da contratação. Está inteiramente ao desamparo da legislação trabalhista, pois é contratado por tarefa. Como trabalhador sazonal, pode ser empregado por dia, por semanas ou meses, geralmente não ultrapassando 4 a 6 meses.
  O contrato é verbal e feito pelo "gato", intermediário entre o proprietário rural e o trabalhador que se encarrega de fiscalização do trabalho e do pagamento.
Mulheres boias-frias
  Muitos dos boias-frias possuíam suas propriedades, mas, por causa das precárias condições em que viviam, venderam suas terras a baixo preço e saíram do campo para construir uma massa de trabalhadores temporários, residindo nas periferias urbanas, em casas pobres, casebres, favelas, cortiços, em vilas e povoados situados em áreas agrícolas ou à beira de estradas. Migram de uma região agrícola para outra, acompanhando o ciclo produtivo de diversas culturas. São agricultores em diversas lavouras mas não possuem suas próprias terras.
  Um drama à parte é o transporte dos volantes feito pelo "gato", na maioria das vezes, proprietário do caminhão. A falta de segurança, o excessivo número de trabalhadores transportados e a velocidade desenfreada têm feito vítimas fatais constantemente.
  Em Ribeirão Preto, em junho de 2007, foi feita uma denúncia da morte de quinze pessoas por causa de trabalho excessivo da colheita de cana-de-açúcar e pela falta de água potável, provocando acidente vascular cerebral e parada cardiovascular nesses trabalhadores.
A precariedade dos transportes é outro problema para os boias-frias
  Os assalariados temporários trabalham de 10 a 12 horas com o mínimo de tempo para almoço ou café. Somado ao tempo de viagem e de espera nos pontos de saída, eles ficam cerca de 18 horas fora de casa.
  Em anos recentes houve diversas denúncias e casos de boias-frias flagrados sob a exploração de trabalho escravo e semi-escravo, o que faz desta classe um tema constante na luta por direitos humanos.
  Em geral, recebem menos que o salário mínimo oficial fora do tempo de colheita, e um pouco mais no período de safra, porém, sem qualquer dos benefícios conquistados pelos trabalhadores permanentes, como férias, 13° salário, indenizações, descanso remunerado etc. No que diz respeito à assistência médica, ela é inexistente e se tornou reivindicação dos trabalhadores nos movimentos por eles realizados.   Para agravar o quadro, ainda existem regiões em que toda a família trabalha como boia-fria, inclusive as crianças, que deixam de ir à escola para ajudar a família.
É muito comum ocorrer o trabalho infantil no campo
   Os boias-frias surgiram principalmente pelo trabalho assalariado nas propriedades rurais. Em sua grande maioria eram assalariados que moravam nas fazendas, em colônias com dezenas de casas, recebiam salários, cultivavam pequenas lavouras, cuja colheita vendiam ao próprio fazendeiro ou nas cidades próximas. Outros eram pequenos proprietários, que ganhavam muito pouco com o que produziam e, quando os grandes proprietários de terras passaram a oferecer pagamento, e não parte da produção, esses pequenos proprietários venderam suas terras e foram trabalhar nas lavouras, principalmente no cultivo da cana-de-açúcar.
  Muitos dos boias-frias são analfabetos ou semianalfabetos, que se sujeitam ao trabalho no campo em diversas culturas, quase sempre em períodos de colheitas.
  Os boias-frias dirigem-se para o trabalho entre quatro e cinco horas da manhã, momento em que o caminhão (ou ônibus) passa para transportá-los até a plantação. Muitas vezes é o próprio motorista do transporte quem executa a negociação, e cada indivíduo ganha pelo que produz.
Caminhões transportando boias-frias
  Nas entressafras os trabalhadores ficam sem trabalho e buscam serviço em outras regiões. Assim, eles vivem migrando de uma região para outra. O fluxo desses trabalhadores fica entre os estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, atuando especialmente na colheita de cana-de-açúcar, algodão, café e laranja.
  Esses trabalhadores passam por muitos problemas em face das condições desgastantes de trabalho. Para obter maiores ganhos, se sujeitam a um imenso esforço físico, muitos chegam a ter problemas de saúde ou mesmo a perderem suas vidas. Como quase todos trabalham sem carteira assinada, eles não recebem nenhuma assistência por parte dos empregadores ou dos órgãos governamentais.
  Nos últimos anos, verifica-se que é cada vez maior a mecanização do campo, piorando ainda mais a situação dos boias-frias. Em muitas cidades eles estão chegando bem antes do período em que terão trabalho, para assim garantir a chance de emprego temporário.
Com a mecanização, muitos dos boias-frias acabam ficando sem renda
FONTE: Giardino, Cláudio. Geografia nos dias de hoje, 7° ano / Cláudio Giardino, Ligia Ortega, Rosaly Braga Chianca. - 1. ed. - São Paulo: Leya, 2012. - (Coleção nos dias de hoje)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A CRISE ECONÔMICA E FINANCEIRA DE 2008

  No início do segundo semestre de 2008, o mundo capitalista conheceu uma séria crise financeira e econômica, iniciada nos Estados Unidos, em 2007. Os analistas econômicos, tanto do setor privado como de governos de países e organismos internacionais, classificavam a crise como de maior gravidade desde a intensificação do processo de globalização, a partir dos anos 1970.
  As causas da crise estão relacionadas à expressiva expansão dos financiamentos para compra de imóveis nos Estados Unidos, em razão dos juros baixos, que o governo norte-americano vinha mantendo desde o início do século. Isso gerou uma forte valorização no preço dos imóveis que inclusive estimulava as pessoas que haviam contraído financiamentos (mutuários) a refinanciar suas dívidas. Nesse refinanciamento, os mutuários recebiam uma diferença em dinheiro, em geral utilizada para consumo. Diversos bancos criaram títulos que tinham como garantia os financiamentos para compra de imóveis (títulos garantidos com hipotecas). Investidores que adquiriram esses títulos emitiram, por sua vez, outros títulos que tinham como garantia os títulos anteriores. Isso se espalhou por todo o sistema financeiro.
  No entanto, com o consumo em alta, a inflação aumentou. Para frear esse aumento, o governo dos Estados Unidos elevou os juros, o que afetou também as mensalidades dos financiamentos dos imóveis, que ficaram mais caros. Como consequência, centenas de milhares de proprietários deixaram de pagar os financiamentos, os preços dos imóveis despencaram e os títulos se desvalorizaram acentuadamente.
Mapa mostrando as taxas de crescimento real do PIB para 2008
  Em decorrência, houve quebra de bancos, de empresas e cortes de empregos. Os bancos reduziram a oferta de crédito e muitos consumidores ficaram sem recursos para comprar mercadorias. As demissões reduziram o mercado de consumo, e os que não perderam o emprego preferiram poupar. Com isso, a crise se intensificou.
  A crise financeira de 2008 foi a maior da história do capitalismo desde a grande depressão de 1929. O evento detonador da crise foi a falência do banco de investimentos Lehman Brothers no dia 15 de setembro de 2008, após a recusa do Federal Reserve (Fed, banco central americano) em socorrer a instituição. Essa atitude repercutiu negativamente nos mercados financeiros, rompendo a convenção dominante de que a unidade monetária norte-americana iria socorrer todas as instituições financeiras afetadas pelo estouro da bolha especulativa no mercado imobiliário.
Resultado da crise econômica de 2008
  O rompimento dessa convenção produziu pânico entre as instituições financeiras, o que resultou num aumento significativo da sua preferência pela liquidez, principalmente no caso dos bancos comerciais. O aumento da procura pela liquidez detonou um processo de venda de ativos financeiros em larga escala, levando a um processo de deflação, com quebra súbita e violenta dos preços dos ativos financeiros e a contração do crédito bancário para transações comerciais e industriais.
  Os governos dos países desenvolvidos responderam a essa crise por meio do uso de políticas fiscal e monetária expansionistas. O Fed reduziu a taxa de juros de curto prazo para 0% e aumentou o seu balanço em cerca de 300% para proporcionar liquidez para os mercados financeiros nos Estados Unidos. Políticas similares foram adotadas pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Banco do Japão. Na zona do Euro, os governos foram liberados dos acordos fiscais que tinham sido estabelecidos pelo Tratado de Maastrich, sendo autorizados a aumentar os déficits fiscais além dos limites impostos por esse tratado.
  Na China, o governo aumentou o investimento público - fundamentalmente em infraestrutura - em mais de US$ 500 bilhões com o intuito de manter uma elevada taxa de crescimento econômico.
Protesto contra a crise financeira de 2008-2009
  No Brasil, a expansão fiscal começou antes da expansão monetária devido ao comprometimento do Banco Central brasileiro com um regime de metas de inflação bastante rígido. Nesse contexto, o então presidente Luís Inácio Lula da Silva aprovou um pacote de estímulo fiscal no fim de 2008, constituído do aumento do investimento público, redução de impostos e aumento do salário mínimo e do seguro desemprego. A redução da taxa de juros começou apenas em janeiro de 2009, após o colapso da produção industrial e da disseminação de rumores quanto a possível demissão do presidente do Banco Central.
  Em razão da forte integração entre as economias nacionais no contexto da globalização, e pelo fato de a crise ter surgido nos Estados Unidos e ter afetado sua economia - país que gera 1/5 do PIB mundial -, seus efeitos rapidamente foram sentidos em todo o mundo, em maior ou menor grau.
  Os desdobramentos para a crise iniciada no segundo semestre de 2008 eram incertos e dependiam também da eficácia da intervenção dos governos dos países, particularmente dos desenvolvidos. Esses elaboraram diversas estratégias de socorro a bancos e outras empresas. O governo norte-americano, inicialmente, já havia disponibilizado cerca de 700 bilhões de dólares para suas medidas. Governos de diversos países, inclusive os subdesenvolvidos, também criaram estratégias para minimizar os efeitos da crise financeira e econômica.
Protestos em Nova York por causa da crise de 2008
  Com a crise, a desregulamentação do sistema financeiro internacional, um dos pilares do neoliberalismo, passou a ser fortemente questionada. A necessidade de fiscalização, de controle mais rigoroso da economia por parte do Estado e de investimentos públicos em saúde, educação, infraestrutura e saneamento básico, entre outros setores, passaram a ser novamente discutidos, com o objetivo de discutir quais as melhores políticas econômicas a serem  adotadas dentro do sistema capitalista.   Com efeito, é cada vez maior o volume de dinheiro aplicado nos bancos e nas bolsas de valores, sendo que boa parte dele circula em busca de melhores ganhos e lucros. Se em 1980, o PIB mundial era de US$ 10 trilhões, o volume aplicado no mercado financeiro e de ações era de US$ 12 trilhões. Já em 2007, enquanto o PIB era de US$ 48 trilhões, os investimentos em títulos e ações atingiam US$ 167 trilhões. Com isso, as possibilidades de intensa especulação, de riscos e de crises são maiores.
Em Birmingham (Inglaterra), clientes do Banco Northern Rock fazem fila para sacar dinheiro, após o banco sofrer intervenção do governo do Reino Unido, o primeiro desde 1860
  Os países em desenvolvimento tiveram um desempenho econômico muito superior ao dos países desenvolvidos durante a crise. O crescimento econômico da China foi de 8,5% em 2009, reduzindo em apenas 0,5% em relação a 2008. A Índia teve um crescimento no PIB de 5,4% em 2009, frente a 7,3% de 2008. Em 2008, o Brasil tinha apresentado um crescimento econômico de 5,1%, e com a crise, em 2009, o país recuou 0,7%, fechando em 4,4%.
  Os Estados Unidos, com a crise, cresceu apenas 1,6% em 2008, e em 2009 o país teve um crescimento negativo de 3,1%. A Rússia, após crescer 5,6% em 2008, teve uma queda de 7,5% na sua economia em 2009.
Resultado do crescimento econômico de alguns países com a crise de 2008
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Geografia: homem & espaço, 8° ano / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco. - 23. ed. - São Paulo: Saraiva, 2010.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A AMPLIAÇÃO DOS PROBLEMAS SOCIOECONÔMICOS NAS GRANDES CIDADES DOS ESTADOS UNIDOS

  Embora sejam totalmente ricos e desenvolvidos, os Estados Unidos não estão isentos de problemas: o preconceito racial, a xenofobia, a falta de matérias-primas e a manutenção de sua balança comercial estão entre os de maior controvérsia social, política e econômica do país.
  Mesmo os programas de revitalização urbana, as grandes cidades estadunidenses têm apresentado problemas cada vez mais graves, relacionados, sobretudo, à condição socioeconômica da população.
  Algumas medidas tomadas pelo governo, como a excessiva elevação de impostos e o corte de verbas destinadas à realização de obras sociais (habitação, saúde e educação), causaram o empobrecimento de alguns segmentos da população do país nas últimas décadas. Essas medidas contribuíram para o aumento da concentração de renda e, como consequência, também do número de pobres, que hoje correspondem a mais de 15% do total da população (cerca de 47 milhões de habitantes). É justamente essa parcela da população que sofre com a falta de moradia e acaba residindo nas áreas mais deterioradas das cidades, bairros onde proliferam a violência, a criminalidade e o tráfico de drogas.
Bairro periférico de Nova York - EUA
  Esses problemas atingem principalmente a população afrodescendente e imigrante, bastante discriminada na sociedade estadunidense. Atualmente, a discriminação racial é proibida por lei em todo o país, mas nem por isso vem sendo possível eliminá-la. Os afrodescendentes, por exemplo, são marginalizados, e muitos dos crimes cometidos no país estão relacionados à prática do racismo.
  Até os anos 1970, a questão étnica era restrita, na prática, à população negra, habitante dos estados do sul, nos quais os negros e demais minorias étnicas tiveram seus direitos socialmente restritos. Esse problema foi se agravando cada vez mais devido ao crescente fluxo de estrangeiros que imigraram da América Latina e da Ásia nas últimas décadas. Geralmente, as taxas de natalidade dessas minorias são mais elevadas do que a do resto da população, favorecendo a pressão demográfica e os problemas urbanos nas grandes cidades norte-americanas.
Estimativa da população étnica dos EUA em 2020
  Apesar de serem iguais perante a lei, a população de origem africana é colocada em atraso social e economicamente em relação à população branca. Os afro-americanos são a maior minoria racial e o terceiro maior grupo racial dos Estados Unidos, perdendo apenas para os brancos e os hispânicos.
  Nova York, como todas as grande metrópoles mundiais, enfrenta enormes problemas de cunho socioeconômico. Cerca de um milhão de habitantes recebem algum tipo de ajuda social, e dezenas de milhares de famílias vivem em guetos espalhados pela cidade. Muitas pessoas sem teto são obrigadas a viver na rua, além de conviverem com a poluição, a desigualdade socioeconômica e o alto custo de vida. As altas taxas de criminalidade e os conflitos raciais são também problemas que a cidade enfrenta.
  A partir de 2013, o número de pessoas desabrigadas, que iam dormir em abrigos de Nova York era de 60 mil, dos quais, 22 mil eram crianças. O motivo da crise em Nova York (no quesito moradores de rua) era a falta de assistência de habitação local para indivíduos e famílias que não tem moradia. Apesar de todos esses problemas, Nova York, desde 2005, apresenta a menor taxa de criminalidade entre as 25 maiores cidades dos Estados Unidos.
Ruas de Bronx, em Nova York - EUA

  Cerca de 2,6 milhões de pessoas nos Estados Unidos passaram da classe média para abaixo da linha de pobreza. Cerca de 15,4 milhões de pessoas vivem em extrema pobreza no país. Tudo isso é resultado da recessão que atingiu o país em 2008, e que vem se arrastando até os dias atuais, levando desemprego e empobrecimento da população.
  Muitas cidades norte-americanas têm escolhido punir criminalmente as pessoas que moram nas ruas por estarem fazendo o que qualquer ser humano faria para sobreviver, inclusive criando leis que penalizam as pessoas que realizam o simples ato de sentarem ou deitarem em lugares como parques e praias. A cidade de Los Angeles tem uma das maiores concentrações de pessoas sem-teto dos Estados Unidos, com mais de 60 mil pessoas desabrigadas, perdendo apenas para Nova York.
  O governo dos Estados Unidos reconhece quatro categorias de pessoas que se qualificam como legalmente desabrigados:
  • aqueles que estão atualmente sem abrigo;
  • aqueles que se tornaram sem-teto no futuro iminente;
  • certos jovens e famílias com crianças que sofrem de instabilidade causada por uma dificuldade;
  • aqueles que sofrem de instabilidade causado por violência doméstica.
Morador de rua de Los Angeles - EUA
  Por causa de sua condição econômica, os Estados Unidos são o país do mundo que mais recebe imigrantes, a maioria proveniente da América Latina e da Ásia. Atraídos pela possibilidade de melhores condições de vida, proporcionadas por maiores remunerações, muitos imigrantes entram ilegalmente nos Estados Unidos. Nessa condição, a maioria ingressa nas atividades informais e de baixa qualificação, cujos salários geralmente são menores (como as atividades desempenhadas por faxineiros, garçons, lavadores de carros, empregados domésticos, etc.).   Os imigrantes engrossam a parcela da população mais pobre, o que leva o governo estadunidense a adotar medidas que restringem a imigração, como o maior rigor na emissão de vistos de entrada no país e uma intensa fiscalização nas áreas de fronteira.
Contraste socioeconômico entre Tijuana, no México (direita) e San Diego, EUA (esquerda)
FONTE: Geografia espaço e vivência: a dinâmica dos espaços da globalização, 9° ano / Levon Boligian ... [et al.]. -- 4. ed. -- São Paulo: Saraiva, 2012.

ADSENSE

Pesquisar este blog