quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

TANZÂNIA: O PAÍS DOS GRANDES SAFARIS

  A Tanzânia é um país da África que está localizado na costa leste do continente, sendo banhado pelo oceano Índico e limitando-se ao norte com o Quênia, a noroeste com Ruanda, Uganda e Burundi, a oeste com a República Democrática do Congo (através do lago Tanganica), a sudoeste com a Zâmbia e ao sul com Malawi e Moçambique.
  É um país que apresenta paisagens naturais com características muito específicas. Localizada na parte oriental da África, é dominada pela savana, bioma que abriga os animais de grande porte do continente.
Paisagem da Tanzânia
GEOGRAFIA
  A maior reserva natural da Tanzânia é o Parque Nacional do Serengeti, com mais de 15 mil km². Nesse parque vivem as maiores populações de animais silvestres do planeta.
  O Parque Nacional de Serengeti está localizado no norte da Tanzânia e sudoeste do Quênia, sendo uma região famosa pelas migrações anuais de gnus, zebras e gazelas. No parque vivem mais de 35 espécies de grandes mamíferos como leões, hipopótamos, elefantes, leopardos, rinocerontes, girafas, antílopes e búfalos, além de hienas, chitas, macacos e mais de 500 espécies de aves.
  Na linguagem da tribo masai (grupo étnico africano de seminômades que habita o Quênia e o norte da Tanzânia), Serengeti significa "imensas planícies".
Manada de gnus no Parque Nacional de Serengeti
  O Ngorongoro é a enorme cratera de um vulcão adormecido e é uma das maiores atrações da Tanzânia. Em seu interior há uma infinidade de animais de espécies variadas. A diversidade da fauna é tanta que o Ngorongoro recebeu a denominação de "Arca de Noé". Na cratera também é possível observar uma vasta floresta tropical.
  A cratera está a 2.236 metros acima do nível do mar e é a maior caldeira intacta (vulcão desmoronado) do mundo. Mede mais de 19 quilômetros de diâmetro e tem uma superfície de 304 km².
Cratera de Ngorongoro
  Na cratera de Ngorongoro pode-se ver búfalos, elefantes, zebras, gnus, gazelas, rinocerontes-negros, cercopiteco-de-face-negra, predadores, como guepardos, hienas, chacais, leões e hipopótomos e numerosos outros animais. Na cratera há também um grande número de aves, como avestruzes, abetardas, garças, flamingos, entre outras.
  A cratera de Ngorongoro pode ser visitada durante o ano todo, mas durante os meses de abril e maio, período de chuvas, as estradas estão danificadas, prejudicando a visita.
Búfalos pastando na cratera do Ngorongoro
  A Tanzânia possui ainda paisagens de altitude. O monte Kilimanjaro, com cerca de 5.895 metros, é o ponto mais elevado do continente africano. O topo desse antigo vulcão é coberto de neve eterna, contrastando com as savanas situadas nas extensas planícies que margeiam o monte.
  O monte Kilimanjaro teve uma grande atividade vulcânica durante o Pleistoceno e está acompanhado por três outros cones vulcânicos, orientados num eixo leste-sudeste: Shira, o mais antigo, a oeste, com uma altitude de 4.500 metros; Mawenzi, a leste, com uma altitude de 5.149 metros; e o Kibo, que é o mais recente e ainda está em atividade, que é a parte mais elevada do Kilimanjaro. A última erupção do Kilimanjaro foi há aproximadamente 150.000 anos atrás, e Kibo apresenta fumarola em sua cratera.
Versão 3 D do Monte Kilimanjaro
  O Kilimanjaro é protegido pelo Parque Nacional do Kilimanjaro, classificado pela Unesco como Patrimônio da Humanidade. O topo do monte é coberto pelas geleiras eternas, que está diminuindo por causa do aquecimento global.
  Da base ao pico há uma enorme mudança na vegetação. A base é coberta por uma densa e úmida floresta tropical, com a presença de árvores de grande porte. À medida que se ganha altitude, as árvores vão diminuindo de porte e número, e a vegetação se tornando rasteira. Assim, como nas grandes altitudes, acima de 3.000 metros a pouca vegetação que ainda resta é substituída por liquens e pedras. Acima dos 4.000 metros, apenas rochas vulcânicas e gelo são encontrados.
  O monte Kilimanjaro é relativamente novo e não existia entre 1 e 2 milhões de anos atrás. Naquela época, onde hoje está o Kilimanjaro, havia apenas uma planície ondulada com algumas montanhas erodidas. O movimento das placas tectônicas fez com que as lavas expelidas pelas fraturas surgidas com o choque das placas dessem origem a um enorme pico, que atualmente forma o monte.
Monte Kilimanjaro - ponto culminante da Tanzânia e do continente africano
  O Rift Valley ou grande vale do Rift é um complexo de falhas tectônicas criado há cerca de 35 milhões de anos com a separação das placas tectônicas Africana e Arábica.
  No norte e oeste da Tanzânia, na região do Rift Valley,  estão os Grandes Lagos Africanos, com destaque para o Lago Niassa, o Lago Vitória (o maior lago africano) e o Lago Tanganica (o mais profundo da África, conhecido por suas espécies únicas de peixes).
Rift Valley, na Tanzânia
  O Lago Vitória está localizado num planalto elevado na parte ocidental do Grande Rift Valley, compreendendo áreas da Tanzânia, de Uganda e do Quênia. Com 68.870 km², é o maior lago africano, maior lago tropical do mundo e o segundo maior lago de água doce do planeta, e contém 2.760 km³ de água. Nele se encontra uma das nascentes do rio Nilo, o Nilo Branco.
  No interior do Lago Vitória existem mais de três mil ilhas, muitas das quais habitadas, entre elas a ilha Ukerewe, na Tanzânia, que é a maior ilha lacustre da África. O lago possui baixa profundidade, com média de 40 metros e máxima de 83 metros. Em forma aproximada de retângulo com 320 km de comprimento (de norte a sul), 275 km de largura (de leste para oeste) e situado a 1.133 metros de altitude, o lago Vitória tem as bordas recortadas, formando numerosas penínsulas, baías, cabos e ilhas.
Localização do lago Vitória
  O lago Tanganica é o segundo maior lago da África e é partilhado pela Tanzânia, República Democrática do Congo, Burundi e Zâmbia. Está localizado no braço ocidental do Rift Valley, a uma altitude de 872 metros, estendendo-se por 673 km no sentido norte-sul. É o lago mais longo do mundo, com uma largura média de 50 quilômetros e uma profundidade média de 570 metros e máxima de 1.470 metros. Estima-se que este seja o segundo mais antigo e mais profundo do mundo, depois do Lago Baikal, na Sibéria. Cobre uma área de 32.900 km² e uma linha de fundo de costa de 1.828 km.
  O lago Tanganica tem como afluentes principais o rio Ruzizi, que entra pelo seu extremo norte, trazendo-lhe  água do lago Kivu, e o Malagarasi, que é o segundo maior rio da Tanzânia e que entra no lago pela sua margem oriental.
  Devido à sua enorme profundidade e localização tropical, as águas do lago não sofrem a viragem sazonal própria dos lagos das regiões frias e, como consequência, as suas águas profundas são consideradas "água fóssil" e são anóxicas (sem oxigênio).
Mapa do lago Tanganica
  Outro lago da Tanzânia é o lago Niassa (também chamado de Malawi). Está localizado entre o Malawi, a Tanzânia e o Moçambique. Com uma orientação norte-sul, o lago tem 560 km de comprimento, 80 km de largura máxima e uma profundidade máxima de 700 metros.
  O lago Niassa é único no mundo por formar uma província biogeográfica específica, com cerca de 400 espécies de peixes ciclídeos endêmicos. Estima-se que esse lago tenha uma idade entre um e dois milhões de anos.
Mapa da localização do lago Niassa ou Malawi
  O Arquipélago de Zanzibar é um arquipélago da Tanzânia que está localizado no oceano Índico e é separado do continente pelo Canal de Zanzibar. É formado por três ilhas principais (Unguja, Pemba e Mafia) e outra ilhas menores. As ilhas de Unguja e Pemba formam há séculos uma entidade independente ou quase independente (Sultanato de Zanzibar e Estado de Zanzibar), colonizada pelo Reino Unido (Protetorado de Zanzibar), ou incorporado na Tanzânia (Governo Revolucionário de Zanzibar). A ilha de Mafia esteve sempre integrada na entidade que governa a Tanzânia continental.
Arquipélago de Zanzibar
HISTÓRIA
  A Tanzânia é o lar de alguns dos mais antigos assentamentos humanos, com fósseis dos primeiros seres humanos, encontrados próximos da Garganta de Olduvai, no norte da Tanzânia, uma área muitas vezes referida como "o berço da Humanidade". Nessa localidade foram encontradas as mais antigas pegadas humanas. Os restos encontrados em Olduvai indicam que por aqui passaram os antepassados do Homem, como o Australopitecus, com mais de 3 milhões de anos.
Garganta de Olduvai
  No século VII, comerciantes persas e árabes começaram a chegar à costa da Tanzânia em busca de marfim e de especiarias, além de pessoas para escravizá-las. No século XII, imigrantes persas e indianos começaram a construir cidades, principalmente após a fundação do sultanato de Kilwa, por volta de 965, onde várias dinastias shirazi estabeleceram-se na área. Em 1405, o sultão Hassan bin Suleiman refugiou-se em Zanzibar após ser expulso de Kilwa. Neste período, a população nativa adotou a fé islâmica. Traços das ruínas shirazi são encontradas em todas as ilhas.
Ruínas shirazi, em Kaole - Tanzânia
  No final do século XV, Zanzibar tornou-se um sultanato independente. A ilha de Zanzibar e o litoral de Tanganica, que tinham se tornado centros de comércio árabe entre os séculos VII e XVI, passaram ao controle dos portugueses, em 1498, após a exploração da costa por Vasco da Gama. Em 1652, os portugueses são expulsos de Zanzibar pelo sultão de Omã. A dominação portuguesa foi marcada pelo duro tratamento à população local, com pesadas taxas e coleta de impostos.
  O poder árabe em Zanzibar tornou-se absoluto por cerca de 150 anos, e foi marcado pela construção de feudos de vários árabes, e chefes nativos mantiveram o seu poder em alguns lugares isolados.
  De 1880 até 1919, a Tanzânia passou a ser colônia alemã e, de 1919 até 1961, colônia britânica, quando se tornou independente.
Parque Nacional de Arusha - Tanzânia
  Pouco depois da independência, Tanganica e Zanzibar fundiram-se para criar a nação da Tanzânia, em 26 de abril de 1964, com a adoção do regime socialista. O regime de partido único chegou ao fim em 1995, ano em que se realizaram as primeiras eleições democráticas do país desde a década de 1970.
  Formada por 26 áreas e considerada como um Estado único, a República Unida da Tanzânia elegeu em 2005 o seu presidente, Jakaya Kikwete, que também já presidiu a União Africana, continuando no cargo até os dias atuais. As instituições governamentais estão localizadas em Dodoma, capital da Tanzânia desde 1996.
Jakaya Kikwete - presidente da Tanzânia
ECONOMIA
  A Tanzânia é um dos países mais pobres do mundo. Após adotar a economia planificada depois que se tornou independente e promover mudanças econômicas na década de 1990, o país praticamente concluiu a sua transição para a economia de mercado, embora o governo ainda controle alguns setores, como telecomunicações, bancário, energia e mineração.
  A economia da Tanzânia depende consideravelmente da agricultura, que é responsável por 1/4 do PIB do país, pelo emprego de 80% de sua mão de obra e por 85% das exportações. Nos últimos anos, o turismo de natureza, principalmente a realização de safáris, ganhou bastante espaço na economia, contribuindo para a geração de emprego e renda para a população. O turismo e a exploração de ouro fizeram com que o país tivesse um grande crescimento econômico nas últimas décadas.
O turismo tem sido uma importante fonte de renda para a Tanzânia
  A indústria ainda é incipiente, predominando algumas indústrias de processamento de produtos agrícolas, minerais e de bens de consumo. A extração de minério é outra importante fonte de renda. As minas de Rulawaka e as reservas de gás natural de Rufigi, estão contribuindo para a elevação do PIB do país.
ALGUNS DADOS DA TANZÂNIA
NOME OFICIAL: República Unida da Tanzânia
CAPITAL: Dodoma (382.421 habitantes)
Dodoma - capital da Tanzânia
GENTÍLICO: tanzaniano (a)
LÍNGUA OFICIAL: suali
GOVERNO: República Federal
INDEPENDÊNCIA: do Reino Unido
Tanganica: 9 de dezembro de 1961
Zanzibar: 10 de dezembro de 1963
Unificação: 26 de abril de 1964
LOCALIZAÇÃO: África Oriental
ÁREA: 945.087 km² (30°)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2014): 43.802.461 habitantes (27°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 46,34 hab./km² (131°)
MAIORES CIDADES (Estimativa 2014):
Dar es Salaam: 2.765.308 habitantes
Dar es Salaam - maior cidade da Tanzânia
Mwanza: 447.589 habitantes
Mwanza - segunda maior cidade da Tanzânia
Zanzibar: 413.628 habitantes
Zanzibar - terceira maior cidade da Tanzânia
PIB (Banco Mundial - 2013): US$ 27,978 bilhões (91°)
IDH (ONU - 2014): 0,488  (159°)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2012): 59 anos (167°)
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU - 2005-2010):  2,47% (30°)
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2013): 64,45/mil (162°). Obs: essa mortalidade é contada de menor para maior.
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook - 2014): 4,95 filhos/mulher (17°). Obs: essa taxa refere-se ao número médio de filhos que uma mulher teria até o fim do seu período reprodutivo (de 15 a 49 anos) e é contada de maior para menor.
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2014):  69,4%% (173°). Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que podem ler ou escrever.
TAXA DE URBANIZAÇÃO (Pnud - 2010/2011):  25% (172°)
PIB PER CAPITA (CIA World Factbook - 2013): US$ 703 (163°)
MOEDA: Xelim Tanzaniano
RELIGIÃO: católicos (28%), protestantes (18,6%), outras religiões cristãs (6,7%), islamismo (30,1%), crenças tradicionais (14,8%), outras religiões, sem religião e ateísmo (1,8%).
DIVISÃO: a Tanzânia divide-se em 26 regiões: Arusha, Dar es Salaam, Dodoma, Iringa, Kagera, Kigoma, Kilimanjaro, Lindi, Manyara, Mara, Mbeya, Morogoro, Mtwara, Mwanza, Pemba North, Pemba South, Pwani, Rukwa, Ruvuma, Shinyanga, Singida, Tabora, Tanga, Zanzibar South, Zanzibar North e Zanzibar West.
Mapa da divisão regional da Tanzânia
FONTE: Sampaio, Fernando dos Santos. Para viver juntos: geografia, 6° ano: ensino fundamental / Fernando dos Santos Sampaio. - 3. ed. - São Paulo: Edições SM, 2012. - (Para viver juntos)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

OS BOIAS-FRIAS E AS CONDIÇÕES DE TRABALHO NO CAMPO

  Boia-fria é o trabalhador agrícola que se desloca diariamente para a propriedade rural, geralmente para executar tarefas sob empreitada. O termo boia-fria surgiu do costume destes trabalhadores de levar uma marmita consigo logo cedo e, na hora do almoço, comê-la fria. O grande problema dos boias-frias é que suas condições de trabalho são as piores possíveis, estando muitas vezes aliadas às condições de escravidão e trabalho infantil.
  Apesar da denominação "boia-fria" a principal característica do trabalhador temporário não é tanto a forma como ele ingere sua refeição, mas sim, a forma da contratação. Está inteiramente ao desamparo da legislação trabalhista, pois é contratado por tarefa. Como trabalhador sazonal, pode ser empregado por dia, por semanas ou meses, geralmente não ultrapassando 4 a 6 meses.
  O contrato é verbal e feito pelo "gato", intermediário entre o proprietário rural e o trabalhador que se encarrega de fiscalização do trabalho e do pagamento.
Mulheres boias-frias
  Muitos dos boias-frias possuíam suas propriedades, mas, por causa das precárias condições em que viviam, venderam suas terras a baixo preço e saíram do campo para construir uma massa de trabalhadores temporários, residindo nas periferias urbanas, em casas pobres, casebres, favelas, cortiços, em vilas e povoados situados em áreas agrícolas ou à beira de estradas. Migram de uma região agrícola para outra, acompanhando o ciclo produtivo de diversas culturas. São agricultores em diversas lavouras mas não possuem suas próprias terras.
  Um drama à parte é o transporte dos volantes feito pelo "gato", na maioria das vezes, proprietário do caminhão. A falta de segurança, o excessivo número de trabalhadores transportados e a velocidade desenfreada têm feito vítimas fatais constantemente.
  Em Ribeirão Preto, em junho de 2007, foi feita uma denúncia da morte de quinze pessoas por causa de trabalho excessivo da colheita de cana-de-açúcar e pela falta de água potável, provocando acidente vascular cerebral e parada cardiovascular nesses trabalhadores.
A precariedade dos transportes é outro problema para os boias-frias
  Os assalariados temporários trabalham de 10 a 12 horas com o mínimo de tempo para almoço ou café. Somado ao tempo de viagem e de espera nos pontos de saída, eles ficam cerca de 18 horas fora de casa.
  Em anos recentes houve diversas denúncias e casos de boias-frias flagrados sob a exploração de trabalho escravo e semi-escravo, o que faz desta classe um tema constante na luta por direitos humanos.
  Em geral, recebem menos que o salário mínimo oficial fora do tempo de colheita, e um pouco mais no período de safra, porém, sem qualquer dos benefícios conquistados pelos trabalhadores permanentes, como férias, 13° salário, indenizações, descanso remunerado etc. No que diz respeito à assistência médica, ela é inexistente e se tornou reivindicação dos trabalhadores nos movimentos por eles realizados.   Para agravar o quadro, ainda existem regiões em que toda a família trabalha como boia-fria, inclusive as crianças, que deixam de ir à escola para ajudar a família.
É muito comum ocorrer o trabalho infantil no campo
   Os boias-frias surgiram principalmente pelo trabalho assalariado nas propriedades rurais. Em sua grande maioria eram assalariados que moravam nas fazendas, em colônias com dezenas de casas, recebiam salários, cultivavam pequenas lavouras, cuja colheita vendiam ao próprio fazendeiro ou nas cidades próximas. Outros eram pequenos proprietários, que ganhavam muito pouco com o que produziam e, quando os grandes proprietários de terras passaram a oferecer pagamento, e não parte da produção, esses pequenos proprietários venderam suas terras e foram trabalhar nas lavouras, principalmente no cultivo da cana-de-açúcar.
  Muitos dos boias-frias são analfabetos ou semianalfabetos, que se sujeitam ao trabalho no campo em diversas culturas, quase sempre em períodos de colheitas.
  Os boias-frias dirigem-se para o trabalho entre quatro e cinco horas da manhã, momento em que o caminhão (ou ônibus) passa para transportá-los até a plantação. Muitas vezes é o próprio motorista do transporte quem executa a negociação, e cada indivíduo ganha pelo que produz.
Caminhões transportando boias-frias
  Nas entressafras os trabalhadores ficam sem trabalho e buscam serviço em outras regiões. Assim, eles vivem migrando de uma região para outra. O fluxo desses trabalhadores fica entre os estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, atuando especialmente na colheita de cana-de-açúcar, algodão, café e laranja.
  Esses trabalhadores passam por muitos problemas em face das condições desgastantes de trabalho. Para obter maiores ganhos, se sujeitam a um imenso esforço físico, muitos chegam a ter problemas de saúde ou mesmo a perderem suas vidas. Como quase todos trabalham sem carteira assinada, eles não recebem nenhuma assistência por parte dos empregadores ou dos órgãos governamentais.
  Nos últimos anos, verifica-se que é cada vez maior a mecanização do campo, piorando ainda mais a situação dos boias-frias. Em muitas cidades eles estão chegando bem antes do período em que terão trabalho, para assim garantir a chance de emprego temporário.
Com a mecanização, muitos dos boias-frias acabam ficando sem renda
FONTE: Giardino, Cláudio. Geografia nos dias de hoje, 7° ano / Cláudio Giardino, Ligia Ortega, Rosaly Braga Chianca. - 1. ed. - São Paulo: Leya, 2012. - (Coleção nos dias de hoje)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A CRISE ECONÔMICA E FINANCEIRA DE 2008

  No início do segundo semestre de 2008, o mundo capitalista conheceu uma séria crise financeira e econômica, iniciada nos Estados Unidos, em 2007. Os analistas econômicos, tanto do setor privado como de governos de países e organismos internacionais, classificavam a crise como de maior gravidade desde a intensificação do processo de globalização, a partir dos anos 1970.
  As causas da crise estão relacionadas à expressiva expansão dos financiamentos para compra de imóveis nos Estados Unidos, em razão dos juros baixos, que o governo norte-americano vinha mantendo desde o início do século. Isso gerou uma forte valorização no preço dos imóveis que inclusive estimulava as pessoas que haviam contraído financiamentos (mutuários) a refinanciar suas dívidas. Nesse refinanciamento, os mutuários recebiam uma diferença em dinheiro, em geral utilizada para consumo. Diversos bancos criaram títulos que tinham como garantia os financiamentos para compra de imóveis (títulos garantidos com hipotecas). Investidores que adquiriram esses títulos emitiram, por sua vez, outros títulos que tinham como garantia os títulos anteriores. Isso se espalhou por todo o sistema financeiro.
  No entanto, com o consumo em alta, a inflação aumentou. Para frear esse aumento, o governo dos Estados Unidos elevou os juros, o que afetou também as mensalidades dos financiamentos dos imóveis, que ficaram mais caros. Como consequência, centenas de milhares de proprietários deixaram de pagar os financiamentos, os preços dos imóveis despencaram e os títulos se desvalorizaram acentuadamente.
Mapa mostrando as taxas de crescimento real do PIB para 2008
  Em decorrência, houve quebra de bancos, de empresas e cortes de empregos. Os bancos reduziram a oferta de crédito e muitos consumidores ficaram sem recursos para comprar mercadorias. As demissões reduziram o mercado de consumo, e os que não perderam o emprego preferiram poupar. Com isso, a crise se intensificou.
  A crise financeira de 2008 foi a maior da história do capitalismo desde a grande depressão de 1929. O evento detonador da crise foi a falência do banco de investimentos Lehman Brothers no dia 15 de setembro de 2008, após a recusa do Federal Reserve (Fed, banco central americano) em socorrer a instituição. Essa atitude repercutiu negativamente nos mercados financeiros, rompendo a convenção dominante de que a unidade monetária norte-americana iria socorrer todas as instituições financeiras afetadas pelo estouro da bolha especulativa no mercado imobiliário.
Resultado da crise econômica de 2008
  O rompimento dessa convenção produziu pânico entre as instituições financeiras, o que resultou num aumento significativo da sua preferência pela liquidez, principalmente no caso dos bancos comerciais. O aumento da procura pela liquidez detonou um processo de venda de ativos financeiros em larga escala, levando a um processo de deflação, com quebra súbita e violenta dos preços dos ativos financeiros e a contração do crédito bancário para transações comerciais e industriais.
  Os governos dos países desenvolvidos responderam a essa crise por meio do uso de políticas fiscal e monetária expansionistas. O Fed reduziu a taxa de juros de curto prazo para 0% e aumentou o seu balanço em cerca de 300% para proporcionar liquidez para os mercados financeiros nos Estados Unidos. Políticas similares foram adotadas pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Banco do Japão. Na zona do Euro, os governos foram liberados dos acordos fiscais que tinham sido estabelecidos pelo Tratado de Maastrich, sendo autorizados a aumentar os déficits fiscais além dos limites impostos por esse tratado.
  Na China, o governo aumentou o investimento público - fundamentalmente em infraestrutura - em mais de US$ 500 bilhões com o intuito de manter uma elevada taxa de crescimento econômico.
Protesto contra a crise financeira de 2008-2009
  No Brasil, a expansão fiscal começou antes da expansão monetária devido ao comprometimento do Banco Central brasileiro com um regime de metas de inflação bastante rígido. Nesse contexto, o então presidente Luís Inácio Lula da Silva aprovou um pacote de estímulo fiscal no fim de 2008, constituído do aumento do investimento público, redução de impostos e aumento do salário mínimo e do seguro desemprego. A redução da taxa de juros começou apenas em janeiro de 2009, após o colapso da produção industrial e da disseminação de rumores quanto a possível demissão do presidente do Banco Central.
  Em razão da forte integração entre as economias nacionais no contexto da globalização, e pelo fato de a crise ter surgido nos Estados Unidos e ter afetado sua economia - país que gera 1/5 do PIB mundial -, seus efeitos rapidamente foram sentidos em todo o mundo, em maior ou menor grau.
  Os desdobramentos para a crise iniciada no segundo semestre de 2008 eram incertos e dependiam também da eficácia da intervenção dos governos dos países, particularmente dos desenvolvidos. Esses elaboraram diversas estratégias de socorro a bancos e outras empresas. O governo norte-americano, inicialmente, já havia disponibilizado cerca de 700 bilhões de dólares para suas medidas. Governos de diversos países, inclusive os subdesenvolvidos, também criaram estratégias para minimizar os efeitos da crise financeira e econômica.
Protestos em Nova York por causa da crise de 2008
  Com a crise, a desregulamentação do sistema financeiro internacional, um dos pilares do neoliberalismo, passou a ser fortemente questionada. A necessidade de fiscalização, de controle mais rigoroso da economia por parte do Estado e de investimentos públicos em saúde, educação, infraestrutura e saneamento básico, entre outros setores, passaram a ser novamente discutidos, com o objetivo de discutir quais as melhores políticas econômicas a serem  adotadas dentro do sistema capitalista.   Com efeito, é cada vez maior o volume de dinheiro aplicado nos bancos e nas bolsas de valores, sendo que boa parte dele circula em busca de melhores ganhos e lucros. Se em 1980, o PIB mundial era de US$ 10 trilhões, o volume aplicado no mercado financeiro e de ações era de US$ 12 trilhões. Já em 2007, enquanto o PIB era de US$ 48 trilhões, os investimentos em títulos e ações atingiam US$ 167 trilhões. Com isso, as possibilidades de intensa especulação, de riscos e de crises são maiores.
Em Birmingham (Inglaterra), clientes do Banco Northern Rock fazem fila para sacar dinheiro, após o banco sofrer intervenção do governo do Reino Unido, o primeiro desde 1860
  Os países em desenvolvimento tiveram um desempenho econômico muito superior ao dos países desenvolvidos durante a crise. O crescimento econômico da China foi de 8,5% em 2009, reduzindo em apenas 0,5% em relação a 2008. A Índia teve um crescimento no PIB de 5,4% em 2009, frente a 7,3% de 2008. Em 2008, o Brasil tinha apresentado um crescimento econômico de 5,1%, e com a crise, em 2009, o país recuou 0,7%, fechando em 4,4%.
  Os Estados Unidos, com a crise, cresceu apenas 1,6% em 2008, e em 2009 o país teve um crescimento negativo de 3,1%. A Rússia, após crescer 5,6% em 2008, teve uma queda de 7,5% na sua economia em 2009.
Resultado do crescimento econômico de alguns países com a crise de 2008
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Geografia: homem & espaço, 8° ano / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco. - 23. ed. - São Paulo: Saraiva, 2010.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A AMPLIAÇÃO DOS PROBLEMAS SOCIOECONÔMICOS NAS GRANDES CIDADES DOS ESTADOS UNIDOS

  Embora sejam totalmente ricos e desenvolvidos, os Estados Unidos não estão isentos de problemas: o preconceito racial, a xenofobia, a falta de matérias-primas e a manutenção de sua balança comercial estão entre os de maior controvérsia social, política e econômica do país.
  Mesmo os programas de revitalização urbana, as grandes cidades estadunidenses têm apresentado problemas cada vez mais graves, relacionados, sobretudo, à condição socioeconômica da população.
  Algumas medidas tomadas pelo governo, como a excessiva elevação de impostos e o corte de verbas destinadas à realização de obras sociais (habitação, saúde e educação), causaram o empobrecimento de alguns segmentos da população do país nas últimas décadas. Essas medidas contribuíram para o aumento da concentração de renda e, como consequência, também do número de pobres, que hoje correspondem a mais de 15% do total da população (cerca de 47 milhões de habitantes). É justamente essa parcela da população que sofre com a falta de moradia e acaba residindo nas áreas mais deterioradas das cidades, bairros onde proliferam a violência, a criminalidade e o tráfico de drogas.
Bairro periférico de Nova York - EUA
  Esses problemas atingem principalmente a população afrodescendente e imigrante, bastante discriminada na sociedade estadunidense. Atualmente, a discriminação racial é proibida por lei em todo o país, mas nem por isso vem sendo possível eliminá-la. Os afrodescendentes, por exemplo, são marginalizados, e muitos dos crimes cometidos no país estão relacionados à prática do racismo.
  Até os anos 1970, a questão étnica era restrita, na prática, à população negra, habitante dos estados do sul, nos quais os negros e demais minorias étnicas tiveram seus direitos socialmente restritos. Esse problema foi se agravando cada vez mais devido ao crescente fluxo de estrangeiros que imigraram da América Latina e da Ásia nas últimas décadas. Geralmente, as taxas de natalidade dessas minorias são mais elevadas do que a do resto da população, favorecendo a pressão demográfica e os problemas urbanos nas grandes cidades norte-americanas.
Estimativa da população étnica dos EUA em 2020
  Apesar de serem iguais perante a lei, a população de origem africana é colocada em atraso social e economicamente em relação à população branca. Os afro-americanos são a maior minoria racial e o terceiro maior grupo racial dos Estados Unidos, perdendo apenas para os brancos e os hispânicos.
  Nova York, como todas as grande metrópoles mundiais, enfrenta enormes problemas de cunho socioeconômico. Cerca de um milhão de habitantes recebem algum tipo de ajuda social, e dezenas de milhares de famílias vivem em guetos espalhados pela cidade. Muitas pessoas sem teto são obrigadas a viver na rua, além de conviverem com a poluição, a desigualdade socioeconômica e o alto custo de vida. As altas taxas de criminalidade e os conflitos raciais são também problemas que a cidade enfrenta.
  A partir de 2013, o número de pessoas desabrigadas, que iam dormir em abrigos de Nova York era de 60 mil, dos quais, 22 mil eram crianças. O motivo da crise em Nova York (no quesito moradores de rua) era a falta de assistência de habitação local para indivíduos e famílias que não tem moradia. Apesar de todos esses problemas, Nova York, desde 2005, apresenta a menor taxa de criminalidade entre as 25 maiores cidades dos Estados Unidos.
Ruas de Bronx, em Nova York - EUA

  Cerca de 2,6 milhões de pessoas nos Estados Unidos passaram da classe média para abaixo da linha de pobreza. Cerca de 15,4 milhões de pessoas vivem em extrema pobreza no país. Tudo isso é resultado da recessão que atingiu o país em 2008, e que vem se arrastando até os dias atuais, levando desemprego e empobrecimento da população.
  Muitas cidades norte-americanas têm escolhido punir criminalmente as pessoas que moram nas ruas por estarem fazendo o que qualquer ser humano faria para sobreviver, inclusive criando leis que penalizam as pessoas que realizam o simples ato de sentarem ou deitarem em lugares como parques e praias. A cidade de Los Angeles tem uma das maiores concentrações de pessoas sem-teto dos Estados Unidos, com mais de 60 mil pessoas desabrigadas, perdendo apenas para Nova York.
  O governo dos Estados Unidos reconhece quatro categorias de pessoas que se qualificam como legalmente desabrigados:
  • aqueles que estão atualmente sem abrigo;
  • aqueles que se tornaram sem-teto no futuro iminente;
  • certos jovens e famílias com crianças que sofrem de instabilidade causada por uma dificuldade;
  • aqueles que sofrem de instabilidade causado por violência doméstica.
Morador de rua de Los Angeles - EUA
  Por causa de sua condição econômica, os Estados Unidos são o país do mundo que mais recebe imigrantes, a maioria proveniente da América Latina e da Ásia. Atraídos pela possibilidade de melhores condições de vida, proporcionadas por maiores remunerações, muitos imigrantes entram ilegalmente nos Estados Unidos. Nessa condição, a maioria ingressa nas atividades informais e de baixa qualificação, cujos salários geralmente são menores (como as atividades desempenhadas por faxineiros, garçons, lavadores de carros, empregados domésticos, etc.).   Os imigrantes engrossam a parcela da população mais pobre, o que leva o governo estadunidense a adotar medidas que restringem a imigração, como o maior rigor na emissão de vistos de entrada no país e uma intensa fiscalização nas áreas de fronteira.
Contraste socioeconômico entre Tijuana, no México (direita) e San Diego, EUA (esquerda)
FONTE: Geografia espaço e vivência: a dinâmica dos espaços da globalização, 9° ano / Levon Boligian ... [et al.]. -- 4. ed. -- São Paulo: Saraiva, 2012.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

A FLEXIBILIDADE GEOGRÁFICA DAS EMPRESAS

  Desde o final do século XIX, formaram-se as grandes empresas a partir dos trustes e oligopólios com sede nas metrópoles e filiais em diversos países, chamadas de multinacionais. Esse modelo, em geral, reproduzia tecnologias oriundas da sede, garantia a localização próxima às fontes de obtenção de matérias-primas e assegurava a venda de produtos industrializados. Mais recentemente, essas empresas ficaram conhecidas como transnacionais, termo mais apropriado, pois adotaram novos procedimentos, como a especialização das filiais em fases específicas do processo de produção, mudança da sede ou divisão dela por diversos países, deslocamento de unidades produtivas em busca de rentabilidade e a criação de centros de pesquisas e desenvolvimento de tecnologias inovadoras nas filiais.
Processo de produção numa fábrica
  As empresas transnacionais são corporações industriais, comerciais e de prestação de serviços que possuem matriz em um determinado país e atua em diversos territórios distintos dispersos pelo mundo, ultrapassando os limites territoriais dos países de origem das empresas com a instalação de filiais em outros países em busca de mercado consumidor, energia, matéria-prima e mão de obra baratas.
  As primeiras empresas transnacionais surgiram no final do século XIX, atingindo o seu auge no pós Segunda Guerra Mundial. No Brasil, essas empresas começaram a ganhar importância no governo de Juscelino Kubitschek, quando o país procurou atrair montadoras estrangeiras de veículos, como a Toyota, Volkswagen, Willys (montadora norte-americana que produzia o popular Jeep), entre outras. As montadoras norte-americanas Ford e GM já possuíam linhas de montagem de veículos no Brasil desde 1919 e 1925, respectivamente.
Juscelino Kubitschek, durante a inauguração da fábrica da Volkswagen, em 1959
  Muitas das transnacionais realizam o processo de truste. Truste é a fusão de várias empresas de modo a formar um monopólio com o intuito de dominar determinada oferta de produtos e/ou serviços. É a expressão utilizada para designar as empresas ou grupos que, sob uma mesma orientação, mas sem perder a autonomia, se reúnem com o objetivo de dominar o mercado e suprimir a livre concorrência. Essas empresas quando se unem, controlam todas as etapas da produção, desde a retirada de matéria-prima da natureza até a distribuição das mercadorias. Os trustes podem ser horizontais ou verticais.
  Nos trustes horizontais as empresas fabricam o mesmo produto e correspondem a uma estrutura de mercado de concorrência imperfeita, no qual o mercado é controlado por um número reduzido de empresas, de tal forma que cada uma tem que considerar os comportamentos e as reações das outras empresas quando tomam decisões de mercado.
  Os trustes verticais ocorre quando as empresas visam controlar, de forma sequencial, a produção de determinado gênero industrial, desde a matéria-prima até o produto acabado, sendo que as empresas podem ser de diversos ramos.
Exemplo de empresas que praticaram o truste
  O monopólio ocorre quando uma única empresa detém o mercado de um determinado produto ou serviço, conseguindo influenciar o preço do bem que comercializa. Os monopólios podem surgir devido a características particulares do mercado ou devido a regulamentação governamental (monopólio coercivo). Um exemplo prático de monopólio existente no Brasil refere-se à exploração petrolífera, onde a Petrobras é a única responsável pela exploração do petróleo no país. Isso reflete diretamente nos preços dos combustíveis, fazendo com que o Brasil tenha um dos combustíveis mais caros do mundo.
A Petrobras é o maior exemplo de monopólio existente no Brasil
  O oligopólio ocorre quando poucas empresas dominam um determinado setor da economia. Em um oligopólio, as alterações nas condições de atuação de uma empresa vai influenciar o desempenho de outras empresas no mercado. Isto provoca reações que são mais relevantes quando o número de empresas do oligopólio é reduzido. Um oligopólio é caracterizado por:
  • um estado de hegemonia, em que existe luta para alcançar a supremacia total;
  • inflexibilidade dos preços, sendo que todos os vendedores aceitam os preços estabelecidos;
  • ocorrência de ações em conjunto, frequentemente dando origem aos trustes.
  São exemplos de oligopólios no Brasil as emissoras de TVs, as operadoras de telefonia, as distribuidoras de combustíveis, entre outras.
Exemplos de oligopólios no Brasil
  As atividades produtivas, mercantis e administrativas das transnacionais ultrapassam fronteiras, estendendo-se a diversos países. Os vínculos especiais com o país de origem diminuem na proporção em que aumenta seu poder independente em um mercado globalizado e sem fronteiras. Essas corporações se espalharam pelo mundo e assumiram a hegemonia na economia mundial. O processo que permitiu essa expansão, foi o da extrema competição por meio de inovações em seus produtos e da eliminação dos concorrentes, realizando a prática de dumping.
  Dumping é uma prática comercial que consiste em uma ou mais empresas de um país a venderem seus produtos, mercadorias ou serviços por preços extraordinariamente abaixo do seu valor de mercado por um determinado tempo, com o objetivo de eliminar os seus concorrentes. É muito utilizado principalmente entre países que exportam um determinado produto, sendo uma forma de ganhar quotas de mercado. Quando uma empresa pratica o dumping e provoca a eliminação de seus concorrentes, essa empresa coloca os preços dos seus produtos acima do valor de mercado, prejudicando os consumidores.
Em 2011, o governo chinês acusou o Brasil de praticar dumping no setor de celulose
  Com enorme faturamento das transnacionais, acelerado a partir da década de 1990, essas megaempresas controlam todos os setores da economia: agricultura, indústria, comércio e serviços. Muitas delas se transformam em holding e conglomerados.
  Um holding, sociedade holding ou sociedade gestora de participações sociais é uma forma de sociedade criada com o objetivo de administrar um grupo de empresas. A holding administra e possui a maioria das ações ou cotas das empresas componentes de um determinado grupo. Essa forma de sociedade é muito utilizada por médias e grandes empresas e, normalmente, visa a melhorar a estrutura de capital, ou é usada como parte de uma parceria com outras empresas ou mercado de trabalho. Existem duas modalidades de holding:
  • a pura, quando, do seu objetivo social, consta somente a participação no capital de outras sociedades;
  • a mista, quando, além da participação, ela serve também à exploração de alguma atividade empresarial.
A Unilever é um exemplo de holding
  Um conglomerado é a combinação de duas ou mais corporações com atividades em diferentes tipos de negócio, mas que estão sob uma mesma estrutura corporativa (ou grupo empresarial), geralmente uma holding e várias subsidiárias.
  Os conglomerados são considerados uma forma de oligopólio e ficaram populares na década de 1960 nos Estados Unidos, devido a uma combinação de baixa taxa de juros e uma forte tendência do mercado na época. Os maiores conglomerados são norte-americanos e japoneses.
  São exemplos de conglomerados: Mitsubishi, Ambev, Coca-Cola, Fiat, Siemens, GE, Nestlé, Toshiba, Pepsico, Itaú, Grupo Guararapes, LG, Samsung, Toyota, Grupo JBS, entre outras.
Grupo JBS - exemplo de conglomerado
  Com as novas facilidades de comunicações e de transporte, as transnacionais puderam flexibilizar sua localização, instalando unidades produtoras em países onde os custos são mais baixos. Isso aumentou a integração de muitos países à economia mundial, como os chamados Tigres Asiáticos e, posteriormente, a China e o Vietnã.
  As partes de um mesmo produto pode ser fabricadas em diferentes países e montadas em outro. Muitas transnacionais nem sequer fabricam seus produtos: cuidam de projetos e da manutenção da marca. O processo de produção de componentes é realizado por indústrias localizadas em países em que existem condições atraentes (como mão de obra barata). A montagem final do produto segue o mesmo padrão em todas as partes do mundo. Com essa descentralização da produção, os produtos não possuem mais origem definida, o chamado made in. Muitas dessas empresas realizam o sistema just in time.
A grande maioria dos produtos consumidos no mundo possuem a logomarca made in
  Just in time é um sistema de administração da produção que determina que nada deve ser produzido, transportado ou comprado antes da hora exata. Pode ser aplicado em qualquer organização, para reduzir os estoques e os custos decorrentes. O just in time é o principal pilar do Sistema Toyota de Produção ou produção enxuta.
  Com esse sistema, o produto ou matéria-prima chega ao local de utilização somente no momento exato em que for necessário. Os produtos somente são fabricados ou entregues a tempo de serem vendidos ou montados.
  O conceito desse sistema está relacionado ao de produção por demanda, onde primeiramente vende-se o produto para depois comprar a matéria-prima e posteriormente fabricá-lo ou montá-lo. Nas fábricas onde esse sistema é implantado, o estoque de matéria-prima é mínimo e suficiente para poucas horas de produção. Para que isto seja possível, os fornecedores devem ser treinados, capacitados e conectados para que possam fazer entregas de pequenos lotes na frequência desejada.
  A redução do número de fornecedores para o mínimo possível é um dos fatores que mais contribui para alcançar os potenciais benefícios da política just in time. Essa redução gera vulnerabilidade em eventuais problemas de fornecimento, já que fornecedores alternativos foram excluídos e, por isso, há uma seleção cuidadosa dos fornecedores.
  As modernas fábricas de automóveis são construídas em condomínios industriais, onde os fornecedores just in time estão a poucos metros e fazem entregas de pequenos lotes na mesma frequência da produção montadora, criando um fluxo contínuo. O sistema de produção adapta-se mais facilmente às montadoras de produtos onde a demanda de peças é relativamente previsível e constante, sem grandes oscilações.
Esquema do sistema just in time
  Uma das ferramentas que contribui para um melhor funcionamento do sistema just in time é o kanban. Kanban é uma palavra de origem japonesa que significa literalmente registro ou placa visível. É um cartão de sinalização que controla os fluxos de produção ou transportes em uma indústria. O cartão pode ser substituído por outro sistema de sinalização, como luzes, caixas vazias e até locais vazios demarcados.
  Coloca-se um kanban em peças ou partes específicas de uma linha de produção, para indicar a entrega de uma determinada quantidade. Quando se esgotarem todas as peças, o mesmo aviso é levado ao seu ponto de partida, onde se converte num novo pedido para mais peças. Quando for recebido o cartão ou quando não há nenhuma peça na caixa ou local definido, então deve-se movimentar, produzir ou solicitar a produção da peça.
  O kanban permite agilizar a entrega e a produção de peças. Pode ser empregado em indústrias montadoras, desde que o nível de produção não oscile em demasia.
Esquema do kanban
  A soma de bens e serviços finais produzidos em um lugar durante determinado tempo é expressa pelo Produto Interno Bruto (PIB). No entanto, o volume de vendas de muitas transnacionais ultrapassam o PIB de muitos países, e grande parte do lucro dessas empresas é remetida aos seus países de origem.
  Por essa razão, as transnacionais contam com os governos dos países-sede (potências como os Estados Unidos, França, Alemanha, Reino Unido e Japão) para apoiá-las e defender seus interesses. E, dessa forma, acabam exercendo também enorme poder sobre a economia e as decisões políticas dos países que a acolhem.
As maiores transnacionais do mundo
  Muitas vezes, as transnacionais realizam o cartel. Cartel é um acordo explícito ou implícito entre concorrentes para, principalmente, fixação de preços ou cotas de produção, divisão de clientes e de mercados de atuação ou, por meio da ação coordenada entre os participantes, eliminar a concorrência e aumentar os preços dos produtos, obtendo maiores lucros em prejuízo do bem-estar do consumidor.
  Os cartéis são considerados a mais grave lesão à concorrência e prejudicam consumidores ao aumentar preços e restringir a oferta, tornando os bens e serviços mais caros ou indisponíveis.
  Um dos exemplos mais claros de cartelização refere-se ao preço do petróleo no mercado mundial, cuja produção e distribuição do produto depende, em grande parte, da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). No Brasil, essa prática é bastante comum principalmente nos postos de combustíveis, que acrescentam os décimos de centavos com o objetivo de enganar os consumidores.
O postos de combustível é um dos exemplos mais comum de cartel no Brasil
FONTE: Terra, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil / Lygia Terra, Regina Araújo, Raul Borges Guimarães. - 2. ed. - São Paulo: Moderna, 2013.

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