domingo, 15 de fevereiro de 2015

A FLEXIBILIDADE GEOGRÁFICA DAS EMPRESAS

  Desde o final do século XIX, formaram-se as grandes empresas a partir dos trustes e oligopólios com sede nas metrópoles e filiais em diversos países, chamadas de multinacionais. Esse modelo, em geral, reproduzia tecnologias oriundas da sede, garantia a localização próxima às fontes de obtenção de matérias-primas e assegurava a venda de produtos industrializados. Mais recentemente, essas empresas ficaram conhecidas como transnacionais, termo mais apropriado, pois adotaram novos procedimentos, como a especialização das filiais em fases específicas do processo de produção, mudança da sede ou divisão dela por diversos países, deslocamento de unidades produtivas em busca de rentabilidade e a criação de centros de pesquisas e desenvolvimento de tecnologias inovadoras nas filiais.
Processo de produção numa fábrica
  As empresas transnacionais são corporações industriais, comerciais e de prestação de serviços que possuem matriz em um determinado país e atua em diversos territórios distintos dispersos pelo mundo, ultrapassando os limites territoriais dos países de origem das empresas com a instalação de filiais em outros países em busca de mercado consumidor, energia, matéria-prima e mão de obra baratas.
  As primeiras empresas transnacionais surgiram no final do século XIX, atingindo o seu auge no pós Segunda Guerra Mundial. No Brasil, essas empresas começaram a ganhar importância no governo de Juscelino Kubitschek, quando o país procurou atrair montadoras estrangeiras de veículos, como a Toyota, Volkswagen, Willys (montadora norte-americana que produzia o popular Jeep), entre outras. As montadoras norte-americanas Ford e GM já possuíam linhas de montagem de veículos no Brasil desde 1919 e 1925, respectivamente.
Juscelino Kubitschek, durante a inauguração da fábrica da Volkswagen, em 1959
  Muitas das transnacionais realizam o processo de truste. Truste é a fusão de várias empresas de modo a formar um monopólio com o intuito de dominar determinada oferta de produtos e/ou serviços. É a expressão utilizada para designar as empresas ou grupos que, sob uma mesma orientação, mas sem perder a autonomia, se reúnem com o objetivo de dominar o mercado e suprimir a livre concorrência. Essas empresas quando se unem, controlam todas as etapas da produção, desde a retirada de matéria-prima da natureza até a distribuição das mercadorias. Os trustes podem ser horizontais ou verticais.
  Nos trustes horizontais as empresas fabricam o mesmo produto e correspondem a uma estrutura de mercado de concorrência imperfeita, no qual o mercado é controlado por um número reduzido de empresas, de tal forma que cada uma tem que considerar os comportamentos e as reações das outras empresas quando tomam decisões de mercado.
  Os trustes verticais ocorre quando as empresas visam controlar, de forma sequencial, a produção de determinado gênero industrial, desde a matéria-prima até o produto acabado, sendo que as empresas podem ser de diversos ramos.
Exemplo de empresas que praticaram o truste
  O monopólio ocorre quando uma única empresa detém o mercado de um determinado produto ou serviço, conseguindo influenciar o preço do bem que comercializa. Os monopólios podem surgir devido a características particulares do mercado ou devido a regulamentação governamental (monopólio coercivo). Um exemplo prático de monopólio existente no Brasil refere-se à exploração petrolífera, onde a Petrobras é a única responsável pela exploração do petróleo no país. Isso reflete diretamente nos preços dos combustíveis, fazendo com que o Brasil tenha um dos combustíveis mais caros do mundo.
A Petrobras é o maior exemplo de monopólio existente no Brasil
  O oligopólio ocorre quando poucas empresas dominam um determinado setor da economia. Em um oligopólio, as alterações nas condições de atuação de uma empresa vai influenciar o desempenho de outras empresas no mercado. Isto provoca reações que são mais relevantes quando o número de empresas do oligopólio é reduzido. Um oligopólio é caracterizado por:
  • um estado de hegemonia, em que existe luta para alcançar a supremacia total;
  • inflexibilidade dos preços, sendo que todos os vendedores aceitam os preços estabelecidos;
  • ocorrência de ações em conjunto, frequentemente dando origem aos trustes.
  São exemplos de oligopólios no Brasil as emissoras de TVs, as operadoras de telefonia, as distribuidoras de combustíveis, entre outras.
Exemplos de oligopólios no Brasil
  As atividades produtivas, mercantis e administrativas das transnacionais ultrapassam fronteiras, estendendo-se a diversos países. Os vínculos especiais com o país de origem diminuem na proporção em que aumenta seu poder independente em um mercado globalizado e sem fronteiras. Essas corporações se espalharam pelo mundo e assumiram a hegemonia na economia mundial. O processo que permitiu essa expansão, foi o da extrema competição por meio de inovações em seus produtos e da eliminação dos concorrentes, realizando a prática de dumping.
  Dumping é uma prática comercial que consiste em uma ou mais empresas de um país a venderem seus produtos, mercadorias ou serviços por preços extraordinariamente abaixo do seu valor de mercado por um determinado tempo, com o objetivo de eliminar os seus concorrentes. É muito utilizado principalmente entre países que exportam um determinado produto, sendo uma forma de ganhar quotas de mercado. Quando uma empresa pratica o dumping e provoca a eliminação de seus concorrentes, essa empresa coloca os preços dos seus produtos acima do valor de mercado, prejudicando os consumidores.
Em 2011, o governo chinês acusou o Brasil de praticar dumping no setor de celulose
  Com enorme faturamento das transnacionais, acelerado a partir da década de 1990, essas megaempresas controlam todos os setores da economia: agricultura, indústria, comércio e serviços. Muitas delas se transformam em holding e conglomerados.
  Um holding, sociedade holding ou sociedade gestora de participações sociais é uma forma de sociedade criada com o objetivo de administrar um grupo de empresas. A holding administra e possui a maioria das ações ou cotas das empresas componentes de um determinado grupo. Essa forma de sociedade é muito utilizada por médias e grandes empresas e, normalmente, visa a melhorar a estrutura de capital, ou é usada como parte de uma parceria com outras empresas ou mercado de trabalho. Existem duas modalidades de holding:
  • a pura, quando, do seu objetivo social, consta somente a participação no capital de outras sociedades;
  • a mista, quando, além da participação, ela serve também à exploração de alguma atividade empresarial.
A Unilever é um exemplo de holding
  Um conglomerado é a combinação de duas ou mais corporações com atividades em diferentes tipos de negócio, mas que estão sob uma mesma estrutura corporativa (ou grupo empresarial), geralmente uma holding e várias subsidiárias.
  Os conglomerados são considerados uma forma de oligopólio e ficaram populares na década de 1960 nos Estados Unidos, devido a uma combinação de baixa taxa de juros e uma forte tendência do mercado na época. Os maiores conglomerados são norte-americanos e japoneses.
  São exemplos de conglomerados: Mitsubishi, Ambev, Coca-Cola, Fiat, Siemens, GE, Nestlé, Toshiba, Pepsico, Itaú, Grupo Guararapes, LG, Samsung, Toyota, Grupo JBS, entre outras.
Grupo JBS - exemplo de conglomerado
  Com as novas facilidades de comunicações e de transporte, as transnacionais puderam flexibilizar sua localização, instalando unidades produtoras em países onde os custos são mais baixos. Isso aumentou a integração de muitos países à economia mundial, como os chamados Tigres Asiáticos e, posteriormente, a China e o Vietnã.
  As partes de um mesmo produto pode ser fabricadas em diferentes países e montadas em outro. Muitas transnacionais nem sequer fabricam seus produtos: cuidam de projetos e da manutenção da marca. O processo de produção de componentes é realizado por indústrias localizadas em países em que existem condições atraentes (como mão de obra barata). A montagem final do produto segue o mesmo padrão em todas as partes do mundo. Com essa descentralização da produção, os produtos não possuem mais origem definida, o chamado made in. Muitas dessas empresas realizam o sistema just in time.
A grande maioria dos produtos consumidos no mundo possuem a logomarca made in
  Just in time é um sistema de administração da produção que determina que nada deve ser produzido, transportado ou comprado antes da hora exata. Pode ser aplicado em qualquer organização, para reduzir os estoques e os custos decorrentes. O just in time é o principal pilar do Sistema Toyota de Produção ou produção enxuta.
  Com esse sistema, o produto ou matéria-prima chega ao local de utilização somente no momento exato em que for necessário. Os produtos somente são fabricados ou entregues a tempo de serem vendidos ou montados.
  O conceito desse sistema está relacionado ao de produção por demanda, onde primeiramente vende-se o produto para depois comprar a matéria-prima e posteriormente fabricá-lo ou montá-lo. Nas fábricas onde esse sistema é implantado, o estoque de matéria-prima é mínimo e suficiente para poucas horas de produção. Para que isto seja possível, os fornecedores devem ser treinados, capacitados e conectados para que possam fazer entregas de pequenos lotes na frequência desejada.
  A redução do número de fornecedores para o mínimo possível é um dos fatores que mais contribui para alcançar os potenciais benefícios da política just in time. Essa redução gera vulnerabilidade em eventuais problemas de fornecimento, já que fornecedores alternativos foram excluídos e, por isso, há uma seleção cuidadosa dos fornecedores.
  As modernas fábricas de automóveis são construídas em condomínios industriais, onde os fornecedores just in time estão a poucos metros e fazem entregas de pequenos lotes na mesma frequência da produção montadora, criando um fluxo contínuo. O sistema de produção adapta-se mais facilmente às montadoras de produtos onde a demanda de peças é relativamente previsível e constante, sem grandes oscilações.
Esquema do sistema just in time
  Uma das ferramentas que contribui para um melhor funcionamento do sistema just in time é o kanban. Kanban é uma palavra de origem japonesa que significa literalmente registro ou placa visível. É um cartão de sinalização que controla os fluxos de produção ou transportes em uma indústria. O cartão pode ser substituído por outro sistema de sinalização, como luzes, caixas vazias e até locais vazios demarcados.
  Coloca-se um kanban em peças ou partes específicas de uma linha de produção, para indicar a entrega de uma determinada quantidade. Quando se esgotarem todas as peças, o mesmo aviso é levado ao seu ponto de partida, onde se converte num novo pedido para mais peças. Quando for recebido o cartão ou quando não há nenhuma peça na caixa ou local definido, então deve-se movimentar, produzir ou solicitar a produção da peça.
  O kanban permite agilizar a entrega e a produção de peças. Pode ser empregado em indústrias montadoras, desde que o nível de produção não oscile em demasia.
Esquema do kanban
  A soma de bens e serviços finais produzidos em um lugar durante determinado tempo é expressa pelo Produto Interno Bruto (PIB). No entanto, o volume de vendas de muitas transnacionais ultrapassam o PIB de muitos países, e grande parte do lucro dessas empresas é remetida aos seus países de origem.
  Por essa razão, as transnacionais contam com os governos dos países-sede (potências como os Estados Unidos, França, Alemanha, Reino Unido e Japão) para apoiá-las e defender seus interesses. E, dessa forma, acabam exercendo também enorme poder sobre a economia e as decisões políticas dos países que a acolhem.
As maiores transnacionais do mundo
  Muitas vezes, as transnacionais realizam o cartel. Cartel é um acordo explícito ou implícito entre concorrentes para, principalmente, fixação de preços ou cotas de produção, divisão de clientes e de mercados de atuação ou, por meio da ação coordenada entre os participantes, eliminar a concorrência e aumentar os preços dos produtos, obtendo maiores lucros em prejuízo do bem-estar do consumidor.
  Os cartéis são considerados a mais grave lesão à concorrência e prejudicam consumidores ao aumentar preços e restringir a oferta, tornando os bens e serviços mais caros ou indisponíveis.
  Um dos exemplos mais claros de cartelização refere-se ao preço do petróleo no mercado mundial, cuja produção e distribuição do produto depende, em grande parte, da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). No Brasil, essa prática é bastante comum principalmente nos postos de combustíveis, que acrescentam os décimos de centavos com o objetivo de enganar os consumidores.
O postos de combustível é um dos exemplos mais comum de cartel no Brasil
FONTE: Terra, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil / Lygia Terra, Regina Araújo, Raul Borges Guimarães. - 2. ed. - São Paulo: Moderna, 2013.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A "ERA MAUÁ"

  A Era Mauá é determinada pelas ações do Barão de Mauá, político e industrial brasileiro, no intuito de acelerar o cenário industrial do Brasil. No começo do século XIX, o panorama socioeconômico nacional apresentava-se da seguinte forma: concentração de interesses no campo, trabalho escravo e uma aristocracia que investia somente em terras e na própria segurança. Todos esses fatores impediam o crescimento do Brasil no que se refere à industrialização e ao capitalismo. A preocupação com o comércio e com a indústria era mínima, assim como a continuidade do escravismo, que dificultava o desenvolvimento da economia.
  As dificuldades impostas ao desenvolvimento manufatureiro no Brasil, com a baixa taxa alfandegária (15%) sobre os importados britânicos (o Tratado de Comércio e Navegação feito entre o governo brasileiro - D. João VI - e o governo inglês, foi o mais importante desses tratados), diminuíram no Segundo Reinado: em 1842, o governo não renovou o tratado de comércio com a Inglaterra e decretou, em 1844, a Tarifa Alves Branco, que elevava o tributo sobre os produtos importados.
Até a primeira metade do século XIX, o comércio de escravos era a segunda maior fonte de renda do Brasil, depois do comércio do café
  A Tarifa Alves Branco recebeu o nome de seu criador e foi implementada no dia 12 de agosto de 1844, aumentando em 30% as taxas dos produtos importados no Brasil. As novas determinações causaram impacto sobre cerca de três mil produtos e despertaram a insatisfação dos ingleses, acostumados com os privilégios na comercialização de seus produtos.
  Embora não tivesse sido essa intenção (pretendia-se na verdade aumentar a arrecadação de impostos), a decisão acabou por favorecer um surto de desenvolvimento manufatureiro interno. Já no ano seguinte à implantação das novas taxas de importação, somou-se ao aumento da arrecadação alfandegária a elevação do preço dos gêneros importados, o que estimulou a implantação de indústrias, sobretudo no ramo têxtil, para abastecer o mercado interno. Mesmo assim, as exigências do fisco acabaram rebaixando em 30% a taxação sobre os tecidos de algodão importado, quando se pleiteava cerca do dobro disso, limitando empreendimentos. Pressões dos "agraristas", que viam as tarifas protecionistas como um risco de medidas similares sobre os produtos agrários nacionais que eram exportados, acabaram se sobrepondo às intenções "industrialistas" assentadas em medidas alfandegárias de proteção.
Manuel Alves Branco (1797-1855) - criador da Tarifa Alves Branco
  É na vigência da Tarifa Alves Branco que se cria a estrutura necessária para os investimentos do conhecido Barão de Mauá, o qual investiu em diversas inovações tecnológicas e comerciais para o Brasil.
  Irineu Evangelista de Sousa, barão e visconde de Mauá, foi comerciante, armador, industrial e banqueiro. Nascido em uma família de proprietários de pequena estância de criação de gado em Arroio Grande, no Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai, Irineu ascendeu socialmente pelos seus próprios méritos, estudos e iniciativa, sendo considerado um dos empreendedores mais importantes do Brasil no século XIX, estando à frente de grandes iniciativas e obras estruturadoras relacionadas ao progresso econômico do Segundo Reinado.
  No auge de sua carreira (1860), controlava dezessete empresas localizadas em seis países (Brasil, Uruguai, Argentina, Inglaterra, França e Estados Unidos). Foi pioneiro em várias áreas da economia do Brasil. Dentre as suas maiores realizações encontra-se a implantação da primeira fundição de ferro e estaleiro no país, a construção da primeira ferrovia brasileira, o início da exploração do rio Amazonas e afluentes, bem como o Guaíba e seus afluentes, no Rio Grande do Sul, com barcos a vapor, a instalação da iluminação pública a gás na cidade do Rio de Janeiro, a criação do primeiro Banco do Brasil, e a instalação do cabo submarino telegráfico entre a América do Sul e a Europa.
Irineu Evangelista de Sousa - o Barão de Mauá (1813-1889)
  Aos cinco anos de idade, em 1818, Irineu ficou órfão de pai, assassinado por ladrões de gado. Em 1821, sua mãe, Mariana de Jesus Batista de Carvalho, casou-se com João Jesus e, como seu novo esposo não desejava viver com os filhos do primeiro casamento da viúva, Irineu foi entregue para a guarda de um tio, Manuel José de Carvalho, que morava no interior de São Paulo, o qual proporcionou a sua alfabetização.
  Aos nove anos de idade, Irineu seguiu com outro tio, José Batista de Carvalho, comandante de embarcação da Marinha Mercante, que transportava em seu navio couros e charque do porto do Rio Grande para o Rio de Janeiro.
  No Rio de Janeiro, Irineu foi empregado em um estabelecimento comercial por indicação do seu tio, e ali se ocupou como caixeiro do armazém, a troco de moradia e comida. Aos onze anos foi trabalhar no comércio do português Antônio Pereira de Almeida, onde se vendiam desde produtos agrícolas até escravos - essa última a maior fonte de renda do comerciante -, de quem se tornou empregado de confiança, vindo a ser promovido, em 1828, a guarda-livros.
Cidade do Rio de Janeiro, no final do século XIX
  Diante da falência do comerciante, na crise do Primeiro Reinado, Irineu liquidou as dívidas do patrão. Por recomendação do antigo empregador, foi admitido na empresa de importação do escocês Richard Carruthers em 1830, onde aprendeu inglês, contabilidade e aperfeiçoou a arte da comercialização. Aos 23 anos tornou-se gerente e logo depois sócio da empresa. Quando Carruthers retornou para o Reino Unido, em 1839, Irineu assumiu os negócios da empresa.
  Uma viagem de negócios que fez à Inglaterra, em 1840, permitiu a Irineu conhecer fábricas, fundições de ferro e o mundo dos empreendimentos capitalistas, convencendo-o de que o Brasil deveria trilhar o caminho da industrialização.
  Ao retornar ao Brasil, diante da decretação da Tarifa Alves Branco e da alta dos preços do café no mercado internacional, Irineu decidiu tornar-se um industrial.
Foram as fábricas inglesas que inspiraram o Barão de Mauá a investir na industrialização do Brasil
  Tendo obtido junto ao governo imperial brasileiro a concessão do fornecimento de tubos de ferro para a canalização do rio Maracanã, na cidade do Rio de Janeiro (1845), liquidou os interesses da Casa Carruthers e, no ano seguinte, adquiriu uma pequena fundição situada na Ponta da Areia, em Niterói, na então Província do Rio de Janeiro, que depois transformou-a em um estaleiro de construções navais, dando início à indústria naval brasileira. O Estabelecimento de Fundição e Companhia Estaleiro da Ponta de Areia tornou-se o maior empreendimento industrial do Brasil na época, onde empregava mais de mil funcionários e produzia navios, caldeiras para máquinas a vapor, engenhos de açúcar, guindastes, prensas, artilharias, postes de iluminação e canos de ferro para água e gás. O estaleiro foi destruído por um incêndio em 1857 e reconstruído três anos mais tarde.
  Mauá foi muito conhecido também por suas ideias contrárias à escravidão, o que o distanciava das elites políticas do Império.
Estabelecimento de Fundição e Companhia Estaleiro da Ponta de Areia, em 1846
  Com a extinção do tráfico negreiro a partir da Lei Eusébio de Queirós (1850), os capitais até então empregados no comércio de escravos passaram a ser investidos na industrialização. Aproveitando essa oportunidade, Mauá passou a se dividir entre as atividades de industrial e banqueiro.
  Em meados do século XIX, possuía inúmeros empreendimentos industriais particulares. Mauá também se associou ao governo na construção de ferrovias e rodovias e, em 1874, fez instalar o cabo submarino para comunicação telegráfica entre o Brasil e a Europa. Mesmo assim, seu sucesso relativo foi muito mais decorrente de suas relações pessoais do que de uma política governamental de incentivos. Em 1860, por pressão dos cafeicultores ("agraristas"), foi reduzida a taxa para os importados, o que desestimulou investimentos em produção nacional.
  A sobrevivência de algumas fábricas nos anos 1860-1870 deveu-se também a uma conjuntura favorável: a Guerra de Secessão nos Estados Unidos (1861-1865), que quebrou sua produção de algodão, estimulando a produção têxtil no Brasil, e a Guerra do Paraguai (1866-1870), cujas despesas obrigaram o governo a buscar maior arrecadação, elevando as tarifas alfandegárias de importação. Mauá perdeu seus empreendimentos para os ingleses e acabou falindo em 1878.
Inauguração da Estrada de Ferro Dom Pedro II, em 1858 - uma das obras do Barão de Mauá
  A atuação de Mauá e de outros empreendedores mostrou a potencialidade da economia brasileira, que podia integrar-se à modernidade capitalista e desenvolver-se de maneira autônoma, embora ainda fosse inibidas pelas permanências em sua estrutura escravocrata e provinciana.
  A instalação de empreendimentos industriais no Brasil do Segundo Reinado, significou uma mudança nas relações entre o país e as potências capitalistas da época (Inglaterra e Estados Unidos, principalmente), sem, entretanto, romper a dependência. Apesar de certa modernização tecnológica, que permitiu rearranjos econômicos à medida que se desenvolviam as forças produtivas globais do capitalismo, o surgimento de novas e várias indústrias no Brasil nada mais foi que um "surto", e não um verdadeiro processo de industrialização.
Cédula impressa pelo Banco Mauá
  Outro aspecto do processo de modernização da economia brasileira foi a instalação de estradas de ferro com o objetivo de melhorar o sistema de comunicações e transportes e, assim, facilitar o escoamento da produção agrícola. Em 1854, foi inaugurada a primeira estrada de ferro do Brasil, a Rio-Petrópolis, obra de Mauá, ligando a Baía da Guanabara ao sopé da serra, com 14 km de extensão. No ano seguinte, com o patrocínio de empresas inglesas, teve início a construção da Ferrovia Recife-São Francisco e da Ferrovia Dom Pedro II, mais tarde chamada de Central do Brasil, que recebeu também recursos do governo e de diversos empresários brasileiros, devendo interligar o Rio de Janeiro e São Paulo.
  A modernização dos transportes esteve intimamente relacionada ao desenvolvimento econômico do Império, unindo os centros produtores aos portos pelos quais a produção escoava, com destaque para o açúcar no Nordeste e, especialmente, o café no Centro-Sul. Após a implantação da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, as ferrovias foram avançando até a Zona da Mata, em Minas Gerais, e pelo interior paulista.
Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, em 1870
  A combinação das suas ideias, juntamente com o agravamento da instabilidade política da região platina, tornou o Barão de Mauá alvo das intrigas dos conservadores. As suas instalações passaram a ser alvo de sabotagens criminosas e os seus negócios foram abalados pela legislação que reduziu a taxa de importação sobre as importações de máquinas, ferramentas e ferragens. Com a falência do Banco Mauá, em 1875, pediu moratória por três anos, sendo obrigado a vender a maioria de suas empresas a capitalistas estrangeiros e os seus bens pessoais para liquidar as dívidas.
  Doente, minado pelo diabetes, após liquidar as suas dívidas, encerrou um capítulo de sua vida empresarial. Com o pouco que lhe restou e o auxílio de familiares, dedicou-se à corretagem de café até falecer, aos 76 anos de idade, em sua residência, na cidade de Petrópolis poucas semanas antes da queda do Império.
Gravura de Mauá, em 1884
FONTE: Vicentino, Cláudio. História geral e do Brasil / Cláudio Vicentino, Gianpaolo Dorigo. - 2. ed. - São Paulo: Scipione, 2013.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

MUDANÇAS NA CORRENTE DO GOLFO

  A corrente do Golfo ou Gulf Stream, em inglês, é um corrente marítima quente do oceano Atlântico que tem sua origem no Golfo do México, nas Antilhas, passa pelo estreito da Flórida e segue pela costa leste dos Estados Unidos, até atingir a Europa, aumentando a temperatura nos países do oeste deste continente (pois se não fosse essa corrente, os países costeiros da Europa teriam temperaturas baixíssimas).
  Na sua origem, a corrente do Golfo surge a partir da força dos ventos que sopram no golfo do México, mas no Atlântico Norte essa corrente é mantida graças a circulação termoalina (circulação oceânica global movida pelas diferenças de densidade das águas dos oceanos devido a variações de temperatura ou salinidade em alguma região oceânica superficial). Essa circulação oceânica não sofre influência direta da atmosfera devido a sua profundidade.
Circulação termoalina
  No Atlântico Norte, a corrente do Golfo, que vai do Equador em direção ao Polo Norte, transporta o calor da zona equatorial para toda a Europa Ocidental. Ao chegar ao Mar da Noruega, a água da corrente do Golfo, mais quente e mais salgada, encontra as águas frias e menos salgadas vindas do polo; sendo mais densa devido à sua maior salinidade, ela desce em direção às profundezas do oceano.
  A corrente do Golfo é uma das mais fortes correntes marinhas conhecidas. Movimenta-se com fluxo de 30 milhões de metros cúbicos por segundo. Após passar pelo Cabo Hatteras (na costa da Carolina do Norte - EUA), esse fluxo aumenta para 80 milhões m³/s, ultrapassando facilmente o volume de todos os rios que desaguam no Atlântico.
  O efeito da corrente do Golfo é suficiente para fazer com que certas regiões do oeste da Grã-Bretanha, do sudoeste da Noruega e de toda a Irlanda tenham uma temperatura média de vários graus Celsius mais elevada do que outras regiões desses países, fazendo com que plantas de clima tropical consigam sobreviver aos invernos rigorosos dessa parte da Europa.
Em amarelo e laranja está a corrente do Golfo
  Em 2005, depois de 50 anos de observação, pesquisadores do Centro Nacional de Oceanografia da Grã-Bretanha concluíram que as correntes derivadas da corrente do Golfo estão enfraquecendo.
  Quando se origina no Mar das Antilhas e, ao se dirigir para latitudes mais altas, a corrente do Golfo se divide. Um ramo chega ao nordeste da Europa, aquecendo a atmosfera e o continente. A outra parte da corrente retorna para o Atlântico.
  Quando alcança a Islândia e a Groenlândia, a água já esfriou, tornando-se mais densa e indo para regiões mais profundas do oceano. Em profundidade, a água fria forma a corrente de retorno, que se dirige para o sul. A partir daí o ciclo se repete.
  Os cientistas constataram mudanças na corrente nos últimos 50 anos. A corrente fria de profundidade está perdendo intensidade. Esse fenômeno pode estar ocorrendo em função de variações naturais ou por causas antropogênicas, ou seja, provocadas pelo homem. O fato é que isto causará mudanças na costa oeste da Europa nas próximas décadas.
Movimentos das correntes marinhas
  O motor que impele a corrente do Golfo está enfraquecendo e desacelerando o movimento circular das águas. Esse fluxo é mantido e impulsionado por um redemoinho que se forma pela mistura de água gelada, proveniente do Ártico, com água quente trazida de áreas tropicais.
  O aquecimento global está fazendo com que as geleiras do Ártico derretam, mas também faz aumentar a pluviometria do Atlântico Norte. Esses dois fenômenos reunidos constituem um fator no aumento da água doce nessa região. Se esse fenômeno for muito grande, a corrente do Golfo poderia parar, e uma grande quantidade de água doce aumentaria a diferença de salinidade da água entre o Equador e o Mar da Noruega. O local de mergulho das águas quentes e salgadas iria localizar-se sobre a região dos Açores, e a corrente do Golfo iria contrair-se sobre si mesma, não passando além dessa região.
  Essa mudança seria bastante rápida, em menos de dez anos, e a temperatura de toda a Europa Ocidental (de Portugal à Finlândia) baixaria em torno de 5°C, fazendo com que os países que possuem o clima mediterrâneo (como é o caso da Espanha e de Portugal, cujos invernos não possuem temperaturas muito baixas e os verões são bastante quentes), poderiam ter temperaturas iguais as de Oslo, capital da Noruega, onde as temperaturas são baixíssimas durante o inverno e não muito elevadas no verão, modificando todo o ciclo natural da região.
Oslo, Noruega, durante o inverno
  Essas mudanças poderiam trazer consequências também para o Brasil, principalmente para a região Nordeste, onde o ciclo de chuvas do sertão depende de vários fatores, principalmente da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT).
  A ZCIT atua na área que circunda a Terra próxima ao Equador, onde os ventos originários dos hemisférios norte e sul se encontram, entre as latitudes 10° N e 5°S. Ela se apresenta como uma faixa de nuvens com grande desenvolvimento vertical (cumulonimbus), de 3 a 5 graus de largura, frequentemente de tempestades.
  As nuvens da chuva da zona de convergência intertropical são alimentadas em boa parte pelo sistema de baixa pressão atmosférica da região da Terra Nova, no Canadá, próximo ao Círculo Polar Ártico. Quando a baixa pressão é mais forte na Terra Nova, o ar úmido engrossa a ZCIT que se desloca em direção as águas mais quentes próximas ao Equador, acompanhando com um pequeno atraso o movimento do sol. Assim, quando o sol atravessa a linha do Equador no equinócio de outono do hemisfério sul (que ocorre entre os dias 20 e 21 de março), a ZCIT atinge sua posição mais ao sul, com o seu centro sobre o sertão nordestino, provocando chuvas.
Área de atuação da ZCIT


.
  Às vezes, porém, a chuva não chega, porque o movimento da ZCIT depende da temperatura das águas do oceano, que na região equatorial varia entre 26° e 29°C. Com as águas do Atlântico Norte mais frias, a ZCIT desloca-se para o sul, trazendo suas nuvens carregadas. Se as águas do Atlântico Sul estiverem mais frias, as nuvens carregadas vão em direção à Amazônia e à Ilha do Marajó, provocando seca no sertão nordestino. A mudança na corrente do Golfo pode quebrar o ciclo da ZCIT e, consequentemente, provocar mudanças no regime de chuvas do sertão do Nordeste. Até agora não se sabe se essa mudança trará mais chuvas ou mais secas para o Nordeste.
A mudança na corrente do Golfo pode afetar também o regime de chuvas no Brasil
FONTE: Terra, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil / Lygia Terra, Regina Araújo, Raul Borges Guimarães. - 2. ed. - São Paulo: Moderna, 2013.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

OS EMIRADOS ÁRABES UNIDOS (EAU): PAÍS RICO E MODERNO

  Um dos países mais importantes do Oriente Médio são os Emirados Árabes Unidos (EAU). Trata-se de uma confederação de Estados autônomos - chamados Emirados -, situada no sudeste da Península Arábia, no Golfo Pérsico.
  Os sete emirados são Abu Dhabi, Dubai, Sharjah, Ajman, Umm al-Quwain, Ras al-Khaimah e Fujairah. A capital e segunda maior cidade dos Emirados Árabes Unidos é Abu Dhabi.
  Antes de 1971, os Emirados Árabes Unidos eram conhecidos como Estados da Trégua, em referência a uma trégua do século XIX entre o Reino Unido e vários xeiques árabes. O nome Costa Pirata também foi utilizado em referência aos emirados que ocuparam a região do século XVIII até o início do século XX. O país tem a sexta maior reserva de petróleo do mundo.
Localização dos Emirados Árabes Unidos no globo
GEOGRAFIA
  O território dos Emirados Árabes é desértico, com alguns oásis, regiões montanhosas e praias. Faz fronteiras com o Golfo de Omã e o Golfo Pérsico, entre Omã e a Arábia Saudita, além de fazer fronteira com o Catar. O país localiza-se em uma posição estratégica ao longo das aproximações do Estreito de Ormuz, um ponto de trânsito vital para o petróleo bruto mundial. Com a Arábia Saudita, os EAU compartilha uma fronteira de 530 quilômetros ao oeste, sul e sudeste, e com Omã, são 450 quilômetros ao sudeste e nordeste. Com o Catar, a fronteira é de 90 quilômetros, na área de Khawr al Udayd, porém, essa área é disputada entre os dois países.
  O litoral dos EAU se estende por mais de 650 quilômetros ao longo da costa sul do Golfo Pérsico. A maior parte da costa consiste de salinas que se estendem para o interior. O maior porto natural está em Dubai, embora outros portos tenham sido dragados em Abu Dhabi, Sharjah e em outras cidades. Inúmeras ilhas são encontradas no Golfo Pérsico, e as propriedades de algumas delas têm sido objeto de disputas internacionais entre os EAU, o Irã e o Catar. As ilhas menores, bem como muitos recifes de corais e bancos de areia que se deslocam constantemente, ameaçam a navegação. Forte marés e tempestades de vento ocasionais complicam ainda mais a navegação próxima à costa.
Oásis Liwa, próximo de Abu Dhabi - Emirados Árabes Unidos
  O território da federação é formado por uma grande extensão desértica, coberta por salinas e areia. Essa paisagem só é quebrada pela presença das últimas ramificações dos montes al-Hajar, que se estendem pelo território de Omã. O ponto mais elevado do país é o Jabal Yibir, com 1.527 metros.
  O clima é quente e seco, com temperaturas que oscilam entre 15°C e 21°C, no inverno, e 32°C e 46°C no verão, na costa e no interior, respectivamente. A precipitação média se situa entre 75 e 100 mm anuais. Devido à aridez da região, os rios são praticamente inexistentes, e a presença de água reduz-se a pequenos oásis, onde crescem palmeiras e tamareiras.
Jabal Yibir - ponto culminante dos Emirados Árabes Unidos
HISTÓRIA
  A habitação humana mais antiga dos Emirados Árabes Unidos data do período neolítico, há cerca de 5.500 anos a.C.. Nesta fase, há provas de interação com o mundo exterior, em particular com civilizações do norte. Estes contatos persistiram e tornaram-se abrangentes, provavelmente motivados pelo comércio de cobre nas montanhas Hajar. O comércio exterior floresceu em períodos posteriores, facilitado pela domesticação do camelo.
  Por volta do século I a.C., teve início o comércio entre a Síria e cidades do sul do Iraque, seguido pela viagem marítima ao porto de Omana (atual porto de Umm al-Quwain) e, daí para a Índia, tornando-se, também, uma alternativa para a rota do Mar Vermelho pelos romanos.
  Com a chegada dos enviados do profeta Maomé, em 630 d.C., começou o processo de islamização dessa área. Após a morte do profeta, realizou-se uma das maiores batalhas no atual território dos EAU, a Guerra da Apostasia, que culminou na derrota dos não-muçulmanos e a propagação do islamismo na península Arábica.
  A expansão portuguesa pelo oceano Índico, no início do século XVI, seguindo a rota de exploração do navegador Vasco da Gama, culminou numa uma batalha entre os portugueses e os turcos-otomanos pela costa do Golfo Pérsico. A vitória dos portugueses culminou no controle dessa área durante 150 anos, levando a conquistar os habitantes da península Arábica.
Camelos andam sobre o deserto dos EAU
  No século XVI, o Império Otomano conseguiu conquistar algumas partes dos EAU e, posteriormente, essa região passou a ser denominada pelos britânicos, de "Costa Pirata", por causa de invasores que ali se concentraram e assaltavam navios marítimos. Entre os séculos XVII e XIX, europeus e árabes patrulharam a região, objetivando diminuir os ataques dos "piratas". Expedições britânicas para proteger o comércio indiano de invasores de Ras al-Khaimah levaram à campanhas contra estas sedes e de outros portos ao longo da costa em 1819. No ano seguinte, um tratado de paz foi assinadopor todos os xeiques.
  As invasões continuaram até 1835, quando os xeiques não concordaram em participar das hostilidades do mar. Em 1853, eles assinaram um tratado com o Reino Unido, sob o qual os xeiques ("Xeiques da Trégua") concordaram com uma "trégua perpétua". O tratado foi executado pelo Reino Unido, porém, disputas entre os xeiques foram encaminhadas para que os britânicos buscassem uma resolução para essas disputas.
  Em reação à ambição de outros países europeus, o Reino Unido e os Xeiques da Trégua levaram a ambos estreitarem vínculos por meio de um tratado, em 1892, onde os xeiques concordaram em ceder os territórios somente aos britânicos e a não estabelecer relações com qualquer governo estrangeiro. Em troca, os ingleses prometeram proteger a Costa da Trégua de qualquer agressão marítima e ajudar em caso de ataque terrestre.
Mesquita em Umm al-Quwain - EAU
  No fim do século XIX e início do século XX, a indústria de pérolas prosperou, proporcionando renda e emprego no Golfo Pérsico. Porém, vários fatores, como a Primeira Guerra Mundial, a crise de 1929, a Segunda Guerra Mundial e o aumento dos impostos sobre as pérolas importadas do Golfo Pérsico por parte da Índia, levaram a indústria de pérolas a desaparecer, resultando numa grave crise econômica na região.
  Em 1955, durante uma disputa com Omã pelo Oásis Buraimi, os EAU receberam apoio do Reino Unido, o que causou a vitória dos EAU, porém, essa disputa ainda continua incerta. Outra disputa territorial envolvendo os EAU refere-se à fronteira entre Abu Dhabi e a Arábia Saudita.
  No início da década de 1930 começou as pesquisas e uma tímida exploração de petróleo nos EAU. Em 1962 saiu o primeiro carregamento de petróleo bruto com destino à exportação, partindo de Abu Dhabi. O petróleo proporcionou o aumento de receitas, e o governador de Abu Dhabi, o Xeique Zayed bin Sultan Al Nahyan, empreendeu um programa de construções, construindo escolas, moradias, hospitais e rodovias. Isso aconteceu também em Dubai, onde o Xeique Rashid bin Saeed Al Maktoum, governante local, começou a utilizar as reservas, em 1969, para melhorar a qualidade de vida da população.
Ajman - Emirados Árabes Unidos
  Com o aumento da exploração petrolífera, os britânicos começaram a perder o controle sobre a exploração petrolífera. Assim, os xeiques dos Estados decidiram formar um conselho para coordenar as questões entre eles e tomar conta do programa de desenvolvimento. Eles formaram o Conselho dos Estados da Trégua, provocando o movimento que culminou na independência dos EAU. Em 1968, o Reino Unido acatou a decisão da formação do Conselho dos Estados da Trégua. Com a independência do Bahrein e do Catar, em agosto e setembro de 1971, respectivamente, os Estados que compunham os EAU decidiram, em 2 de dezembro deste ano, a se tornarem independentes.
  Os mandantes de Abu Dhabi e Dubai, formaram uma união entre seus dois emirados independentes, prepararam uma Constituição, e chamaram os mandantes dos outros cinco emirados para uma reunião e ofereceram-lhes uma oportunidade de participar deste novo país.
  Em 1991, os EAU participaram da coalizão internacional que lutou contra o Iraque na Guerra do Golfo. A partir desse ano, a federação buscou expandir suas relações internacionais e a exercer um importante papel em diversas questões relativas ao Golfo Pérsico.
 Ras al-Khaimah - Emirados Árabes Unidos
  Em 1992, os EAU entraram em conflito com o Irã pela disputa de ilhas. Desde então, o governo vem investindo em equipamentos bélicos. Em 2011, aumentou a tensão entre os dois países por causa da crescente cooperação dos Emirados Árabes com a comunidade internacional na aplicação de sanções impostas ao Irã. Em 1994, a federação assinou um acordo militar de defesa com os Estados Unidos e, no ano seguinte, com a França. Em 1996, a Constituição Provisória, que vinha sendo renovada desde 1986 pelo Conselho, tornou-se permanente.
  Após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, os EAU foram identificados como um importante centro financeiro usado pela Al-Qaeda para transportar dinheiro para os sequestradores (dois dos sequestradores Marwan al-Shehhi e Fayez Ahmed Bannihammad, eram cidadãos emiratenses). A nação imediatamente cooperou com os Estados Unidos, congelando contas ligadas aos suspeitos de terrorismo e reprimindo fortemente a lavagem de dinheiro no país. Desde então, o governo do país passou a ser inimigo dos integrantes do Al-Qaeda.
Fujairah - Emirados Árabes Unidos
ECONOMIA
A exploração do petróleo e do gás natural é a base da economia, sendo que o país é o oitavo maior produtor de petróleo e possui a sexta maior reserva petrolífera do mundo. Nas últimas décadas, o país vem investindo em outros setores, como o comércio e o turismo.
  Os EAU têm uma economia aberta com um elevado rendimento per capita e um superávit comercial anual considerável.
  A economia dos EAU, especialmente a de Dubai, foi duramente atingida pela crise econômica de 2008-2009, levando a economia do país a encolher. Porém, com a alta do preço do petróleo no mercado mundial, o país voltou a crescer economicamente. O boom da construção civil, a base industrial em expansão e o próspero setor de serviços estão ajudando os Emirados Árabes Unidos a diversificar sua economia.
  O aumento significativo das importações de bens manufaturados, como máquinas e equipamentos de transporte, representam juntos 80% das importações do país. Mais de 200 fábricas operam no complexo de Jebel Ali, em Dubai, que inclui um porto de águas profundas e uma zona franca para a fabricação e distribuição, em que todas as mercadorias para exportação desfrutam de 100% de isenção de impostos. Uma usina de grande potência com uma unidade de dessalinização de água, associada a uma fundição de alumínio e uma unidade de fabricação de aço são instalações de destaques no complexo.
Zona Franca de Jebel Ali - Dubai - EAU
  Exceto nas zonas francas, os EAU exigem, pelo menos, 51% de impostos dos cidadãos locais em todas as operações financeiras no país, como parte de sua tentativa de colocar os EAU em posições de liderança. Porém, esta lei está sob revisão por causa das normas da Organização Mundial do Comércio (OMC).
PROBLEMAS SÓCIO-POLÍTICOS
  Os direitos humanos são legalmente protegidos pela Constituição dos Emirados Árabes Unidos, que confere igualdade, liberdade, estado de direito, presunção de inocência em procedimentos legais, inviolabilidade de propriedades particulares, várias liberdades (de circulação, imprensa, expressão, comunicação, religião, associação, profissão, ser eleito para algum cargo, entre outras), desde que dentro dos limites da lei. Os EAU são considerados um dos países mais liberais do Oriente Médio, sobretudo, quando comparado com seu vizinho, a Arábia Saudita. O país tem um dos mais fortes níveis de direitos humanos da região, o que contribuiu para que os EAU passasse a fazer parte, em 2012, do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas para um mandato de três anos.
Mulheres em praia de Abu Dhabi
  Porém, muitas irregularidades ainda acontecem no EAU, principalmente no que se refere aos trabalhadores estrangeiros, em sua maioria de origem asiática, que são transformados em servos através de dívidas após sua chegada no país. A confiscação dos passaportes, apesar de ser ilegal, ocorre em grande escala, principalmente com trabalhadores não qualificados ou semi-qualificados. Operários trabalham no verão sob calor intenso, com temperaturas chegando a atingir entre 40°C e 50°C nas cidades em agosto, sem intervalo de trabalho, além de trabalharem mais do que permitido, e as leis trabalhistas, muitas vezes, não são cumpridas.
  O governo restringe a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa, enquanto a mídia local pratica a autocensura, evitando criticar diretamente o governo. A liberdade de associação e de religião também são limitadas.
Mesquita em Abu Dhabi
O EMIRADO DE DUBAI: UM GRANDE COMPLEXO TURÍSTICO
  Dubai tornou-se um grande complexo turístico, considerado hoje uma das cidades mais modernas do Oriente Médio e a cidade mais populosa dos Emirados Árabes.
  Cerca dos 20% dos habitantes nasceram nos EAU; os demais são imigrantes, com destaque para indianos, que correspondem a quase metade dos imigrantes.
  As principais formas de obtenção de receita em Dubai são provenientes do turismo, do comércio, do setor imobiliário e dos serviços financeiros. Já as receitas de petróleo e gás natural, que no passado foram responsáveis pela consolidação da economia dos EAU, atualmente contribuem bem menos.
  Duas das mais ambiciosas construções na cidade de Dubai são o The World e o Palm Islands, espécies de arquipélagos artificiais. O primeiro tem formato do mapa-múndi e é composto por cerca de 300 ilhas artificiais. O segundo arquipélago é formado por três ilhas artificiais com formato de palmeiras: Jumeirah, Jebel Ali e Deira. As moradias foram colocadas à venda e, em apenas 72 horas, as casas foram totalmente vendidas.
As ilhas artificiais de The World e Palm Islands
  Dubai tornou-se a oitava maravilha do mundo. A construção das ilhas artificiais não foi bem aceita por algumas pessoas, principalmente pelos ambientalistas. Para eles, a construção das ilhas artificiais representam uma ameaça para o percurso normal da natureza, pois matou os recifes de coral, destruiu locais de nidificação de tartarugas e desestabilizou a economia marinha (pesca) da região ocidental do Golfo Pérsico.
  Contrariando o luxo existente em Dubai, existe centenas de pessoas vivendo em condições subumanas. São os trabalhadores, que ganham em média 3,8 dólares por dia, trabalhando em turnos de 12 horas diárias, sob calor abrasador (em média 45°C). Esses homens vivem num verdadeiro pesadelo.

ALGUNS DADOS SOBRE OS EMIRADOS ÁRABES UNIDOS
NOME OFICIAL: Emirados Árabes Unidos
CAPITAL: Abu Dhabi
Visão noturna de Abu Dhabi - capital dos Emirados Árabes Unidos
GENTÍLICO: árabe, emiratense, emiradense, árabo-emiradense, árabe-emiradense
LÍNGUA OFICIAL: árabe
GOVERNO: Monarquia Constitucional Parlamentarista
INDEPEDÊNCIA: do Reino Unido
Declarada: 2 de dezembro de 1971
LOCALIZAÇÃO: Golfo Pérsico - Oriente Médio (Ásia)
ÁREA: 83.600 km² (114°)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2014): 9.023.108 habitantes (87°)
MAIORES CIDADES (Estimativa 2014): 59,72 hab./km² (116°)
Dubai: 2.666.569 habitantes
Dubai - maior cidade dos Emirados Árabes Unidos
Abu Dhabi: 1.421.044 habitantes
Abu Dhabi - capital e segunda maior cidade dos Emirados Árabes Unidos
Sharjah: 951.687 habitantes
Sharjah - terceira maior cidade dos Emirados Árabes Unidos
PIB (Banco Mundial - 2013): U$ 361,912 bilhões (32°)
IDH (ONU - 2014): 0,827 (40°)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2012): 79,2 anos (39°)
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU - 2005/2010): 2,85% (19)
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2013):  Obs: essa mortalidade é contada de menor para maior.
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook - 2014): 2,36 filhos/mulher (88°) Obs: essa taxa refere-se ao número médio de filhos que uma mulher teria até o fim do seu período reprodutivo (de 15 a 49 anos).
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factook - 2014): 77,9% (156°) Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que podem ler e escrever.
TAXA DE URBANIZAÇÃO (Pnud - 2010/2011): 78% (35°)
PIB PER CAPITA (CIA World Factbook - 2013): U$ 43.875 (19°)
MOEDA: Dirham dos Emirados
RELIGIÃO: islamismo (76,8%), católicos romanos (5,6%), católicos ortodoxos (3,2%), outras religiões cristãs (3,7%), hinduísmo (8,4%), sem religião, outras religiões e ateísmo (2,3%).
DIVISÃO: a Nação dos Emirados Árabes Unidos é constituída por sete regiões administrativas, que são chamados "emirados". Os sete emirados são: Abu Dhabi, Dubai, Sharjah, Ajman, Umm al-Quwain, Ras al-Khaimah e Fujairah. Cada emirado é uma monarquia controlada por uma família real com soberania sobre o território regional. Desses sete emirados, o emirado de Abu Dhabi, que cobre 86,7% da área total do país, é dividido em três sub-emirados: o sub-emirado que compreende a cidade de Abu Dhabi, um sub-emirado leste e um sub-emirado oeste.
Divisão administrativa dos Emirados Árabes Unidos
FONTE: Geografia nos dias de hoje, 9° ano / Cláudio Giardino ... [et al.]. - 1. ed. - São Paulo: Leya, 2012. - (Coleção nos dias de hoje).

ADSENSE

Pesquisar este blog