sexta-feira, 26 de julho de 2013

O IMPÉRIO BIZANTINO

  O Império Bizantino ou Bizâncio, foi o Império Romano do Oriente durante o fim da Idade Antiga e a Idade Média, centrado na sua capital, Constantinopla.
  No século IV, o Império Romano dava sinais claros da queda do seu poder no Ocidente, principalmente em decorrência das invasões bárbaras. Diante disso, o Imperador Constantino transferiu a capital do Império Romano para a cidade oriental de Bizâncio, mudando o seu nome para Constantinopla. Essa mudança, ao mesmo tempo que significava a queda do poder no ocidente, contribuiu para aumentar o comércio, graças a localização de Constantinopla, que ficava entre o Mar Negro e o mar Egeu, onde no meio desses mares há o Mar de Mármara, separada pelo Estreito de Bósforo.
UMA CIDADE ENTRE DOIS CONTINENTES
  Por ficar numa área estratégica, que separa a Europa da Ásia, Bizâncio foi uma importante rota comercial da época. Aliada à sua posição estratégica, outro elemento favorável a Bizâncio era a sua topografia, que facilitava a defesa, junto com a construção de muralhas e outras obras.
Fotografia aérea do estreito de Bósforo
  Em 324, por ordem do imperador, foram reunidos arquitetos, engenheiros, artesãos e muitos outros trabalhadores para reformar a cidade e prepará-la para sua nova função. Construíram-se novas estradas, casas, igrejas, muralhas e outras edificações.
  As obras foram inauguradas em 330 por Constantino I com o nome de Nova Roma. Após essas obras, durante a Idade Média, Bizâncio passou a ser chamada de Constantinopla (ou Cidade de Constantino).
Mosaico de Constantino
A RECRIAÇÃO DE UM IMPÉRIO
  Após a morte do Imperador Teodósio I, em 395, o Império Romano foi dividido em duas partes. Constantinopla tornou-se a capital do Império Romano do Oriente, e Roma ficou como capital do Império Romano do Ocidente.
  Após a divisão do Império, Roma foi sofrendo sucessivas invasões de povos germânicos, levando a sua fragmentação e dissolução final. Já na parte oriental, o progresso foi tomando conta do império. Lá se encontravam algumas das maiores cidades da época, o comércio era dinâmico e havia muitas terras férteis para o cultivo. Constantinopla crescia, e em 412 chegou a contar com 250 mil habitantes.
Mapa de Constantinopla
  Ao longo dos séculos seguintes, o Império Romano do Oriente acumulou muitas riquezas, seus habitantes conseguiram resistir às invasões estrangeiras por muito tempo, levando os governantes a ampliar seus domínios.
  Assim, houve uma recriação do Império Romano durante a Idade Média, porém, centrado mais ao leste e com elementos culturais distintos do império localizado a oeste. Para separar essa distinção, o Império Romano do Oriente passou a se chamar "Império Bizantino".
A divisão do império após a morte de Teodósio I
  Império Romano do Ocidente

  Império Romano do Oriente
O CRESCIMENTO COMERCIAL E URBANO
  A localização de Constantinopla, favoreceu a atividade mercantil e o desenvolvimento econômico do Império Bizantino.
  Por meio de seus funcionários, o governo central controlava todas as atividades econômicas, fiscalizando a qualidade e a quantidade dos produtos. O próprio Estado bizantino era dono de negócios de pesca, metalurgia, armas e tecelagem.
  Nas cidades, as oficinas particulares de artesanato organizavam-se em corporações de ofícios, formadas por oficinas de um mesmo ramo, como carpintaria, tecelagem e sapataria.
Corporações de ofício - inicialmente adotadas na Europa, se expandiu no Império Bizantino
  O comércio com outras regiões gerou grandes lucros para os negociantes de Constantinopla. Entre os principais produtos comercializados, destacavam-se:
  • artigos de luxo - perfumes, tecidos de seda, peças de porcelana e vidro, feito por artesãos chineses, árabes, persas ou indianos e revendidos aos europeus mais ricos;
  • produtos agrícolas - trigo, especiarias, vinho e azeite, produzidos no norte da África, na Grécia e na Síria;
  • produtos artesanais das cidades do Império - joias, tecidos e artigos de ouro e marfim.
  A intensa e lucrativa atividade comercial contribuiu para movimentar a vida urbana no Império. A principal cidade era a capital, Constantinopla, que no século X chegou a ter um milhão de habitantes. Outras cidades também foram importantes no Império, como Tessalônica, Niceia, Edessa, Trebizonda e Tarso.
Muralhas bizantinas na cidade de Tessalônica - Grécia
A VIDA NAS CIDADES
  Nas maiores cidades do Império Bizantino viviam grandes comerciantes, donos de oficinas e manufaturas, membros do alto clero e altos funcionários do governo. Eles consumiam artigos de luxo, como roupas de lã e seda bordadas com fios de ouro e prata, vasos de porcelana e tapeçarias. Essas pessoas compunham a elite das cidades bizantinas.
  Também viviam nas cidades do Império escravos, artesãos, empregados de oficinas e manufaturas, funcionários do governo de médio e baixo escalão e pequenos comerciantes. Eram a maioria das populações urbanas.
Arte bizantina
  A vida em Constantinopla era considerada mais confortável do que em outras partes do Império, mas nem todos tinham acesso a seus bens e confortos. Para os trabalhadores livres que ganhavam pouco, era muito difícil comprar roupas e pagar por uma moradia. Por isso, muitos deles viviam nas ruas da cidade.
  Quem não tinha trabalho recebia alimentos gratuitamente. Cada cidadão livre tinha direito a receber seis formas de pão por dia.
A vida numa cidade bizantina
A VIDA NO CAMPO
  A maior parte da população do Império Bizantino era formada por trabalhadores pobres e a maioria deles vivia no campo. Eram os servos das grandes propriedades rurais (os latifúndios) e os escravos (prisioneiros de guerra) que trabalhavam nos serviços domésticos, nas minas, nas pedreiras e nas construções.
  Os latifúndios predominavam na Ásia Menor. Os maiores proprietários de terra eram os mosteiros e os nobres - militares que tinham recebido terras como recompensa pelos serviços prestados aos imperadores. Mas quase todo o trabalho nos latifúndios era feito pelos servos, que dependiam da terra para viver.
  Assim, a agricultura era uma atividade fundamental na economia bizantina, pois dela dependia a maior parte da alimentação do Império. Apesar de produzir mais que o Ocidente, o Império Bizantino nunca teve um grande excedente de alimentos. Sua produção chegava a ser insuficiente para abastecer todos os habitantes do Império.
Maquete de Constantinopla
OS PARTIDOS VERDE E AZUL
  Os dois principais partidos ou facções políticas do Império Bizantino eram os Verdes e os Azuis. Eles reuniam trabalhadores e moradores dos bairros da capital. Eram comandados por membros da elite bizantina, como grandes proprietários de terra, líderes do exército e autoridades da Igreja.
  Em Constantinopla, o principal local de concentração política era o hipódromo. Lá os partidos atuavam como torcidas organizadas das equipes de corrida de cavalos, mas também aproveitavam esses eventos para apresentar suas reivindicações ao imperador.
  As reivindicações dos partidos políticos podiam ser religiosas, sociais ou militares e geralmente visavam garantir privilégios. Os imperadores atendiam a muitas das reivindicações, pois precisavam do apoio dos partidos para governar.
Hipódromo de Constantinopla
O GOVERNO JUSTINIANO
  Justiniano (527-565) foi um dos mais importantes imperadores bizantinos. Durante o seu reinado, foram empreendidas guerras para conquistar territórios que haviam pertencido ao Império do Ocidente, numa tentativa de restaurar o antigo Império Romano.
  Além de enfrentar os germanos no Ocidente, os bizantinos tiveram de combater os persas no Oriente e os povos eslavos, que tentavam invadir o Império a partir da Europa Oriental.
  Todas essas guerras acarretaram enormes despesas com o pagamento de soldados, armas, transporte e abastecimento. Para cobrir esses gastos, os governantes bizantinos cobravam elevados impostos da população.
Imperador Justiniano e sua corte
O CÓDIGO DE JUSTINIANO
  Durante o reinado de Justiniano, o ireito romano foi reunido e revisto por juristas bizantinos, que buscaram adaptá-los às necessidades de uma nova sociedade cristã.
juris civilis (corpo das leis civis, em latim), uma extensa obra constituída de leis e normas, com destaque para o Código Justiniano.
  Posteriormente, essa obra serviria de base para as leis de muitos países ocidentais, como França, Alemanha, Portugal, Brasil, entre outros. 
  As modificações efetuadas pelos juristas bizantinos também ampliaram o poder do imperador e garantiram a manutenção das propriedades da Igreja e dos latifundiários. Os camponeses, por sua vez, continuaram sem direito à terra.
Expansão do Império Bizantino
A REVOLTA DE NIKA
  Em 532, a capital do Império foi palco de uma violenta revolta, fruto da insatisfação popular contra os altos impostos e a opressão pelo imperador e funcionários do governo. A revolta começou no hipódromo, um dos poucos locais públicos onde a população tinha contato com as maiores autoridades do governo. Terminada uma disputada corrida de cavalos, houve dúvida sobre quem teria vencido. O imperador Justiniano, que estava no hipódromo, quis escolher o vencedor. Mas as torcidas verde e azul estavam divididas entre os dois competidores e passaram a gritar: Nika! Nika! ("Vitória! Vitória!").
  As tensões sociais, até então contidas, transformaram-se em protesto popular. O imperador retirou-se para o palácio. Do hipódromo, o conflito ganhou as ruas de Constantinopla e tornou-se uma rebelião contra o soberano.
Mapa do Palácio de Constantinopla, onde teve início a revolta
  Justiniano teve a intenção de fugir da cidade, mas foi convencido por sua mulher, Teodora, a permanecer. A imperatriz foi dura com seu marido, fazendo com que o imperador desistisse da fuga. Seus generais organizaram as tropas, que reprimiram a revolta. O resultado dessa revolta foi um saldo de 35 mil mortos.


  A Igreja católica teve uma grande influência sobre a sociedade bizantina. O cristianismo era a religião oficial do Império e o principal elemento unificador entre os distintos povos que compunham seu universo, como gregos, egípcios, sírios, povos da Mesopotâmia, entre outros.
O CESAROPAPISMO
Os imperadores bizantinos, usando a religião para alcançar mais poder e manter a unidade do Império, assumiram o papel de "representantes de Deus" na Terra. Assim, eles deveriam governar tanto para os assuntos políticos (do Estado) como religiosos (da Igreja católica).
  Esse sistema ficou conhecido como cesaropapismo ou cesaripapismo: os poderes imperial (césar) e papal estavam concentrados na figura do imperador.
  O cesaropapismo foi um sistema de relações entre a Igreja e o Estado em que, ao chefe do Estado, cabia a competência de regular a doutrina, a disciplina e a organização da sociedade cristã, exercendo poderes tradicionalmente reservados à suprema autoridade religiosa, unificando tendencialmente as funções imperiais e pontificiais em sua pessoa. Um dos primeiros imperadores a adotar o cesaropapismo  cristão foi Constantino.
Conversão de Constantino - pintura de Peter Paul Rubens
  No Império Bizantino, o imperador adotava o título de basileu, palavra de origem grega que significa "aquele que tem autoridade suprema". Assim, ele não apenas comandava o Império, mas também submetia a principal autoridade religiosa - o patriarca - que era o chefe da hierarquia eclesiástica na região.
  Essa concentração de poderes, porém, não foi pacífica, pois os patriarcas não aceitavam o domínio dos imperadores sobre os assuntos religiosos sem reagir.
Mosaico do imperador Justiniano

O MONOFISISMO E A INOCLASTIA
  A história bizantina foi marcada por diversas polêmicas e movimentos religiosos. Um deles foi o monofisismo.
  Os membros do movimento monofisista - concentrados principalmente na Síria e no Egito - defendiam que Cristo tinha apenas uma natureza, a divina. Negavam que ele fosse humano e divino ao mesmo tempo, como estava estabelecido na doutrina da Santíssima Trindade (na qual Deus seria, simultaneamente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo).
  Outro movimento religioso importante surgido no Império Bizantino foi a inoclastia (ou inoclasmo), palavra que significa "quebra de imagens". Seus seguidores eram contrários ao culto das imagens dos santos, surgido entre os séculos VI e VII. Por isso, pregavam a destruição das estátuas das igrejas, para impedir que elas fossem idolatradas.
Página do Saltério Chludov criticando a inoclastia. No fundo há uma representação da crucificação de Jesus no Gólgota. O artista compara os soldados romanos maltratando Jesus com os patriarcas inoclastas destruindo o ícone de Cristo.
  As questões religiosas muitas vezes estiveram relacionas também com disputas econômicas e políticas. No caso do movimento inoclasta, havia uma briga entre os imperadores e os monges que chefiavam os mosteiros. Muitos mosteiros fabricavam e vendiam imagens de santos e relíquias religiosas. Assim, para controlar o poder desses monges, em 726 o imperador Leão III proibiu a adoração de imagens.
  Essa proibição foi também uma tentativa de unir os habitantes do Império contra os inimigos externos.  Nesse período, os árabes já haviam conquistado vários territórios do Império Bizantino na Ásia e tentavam dominar também a capital do Império, Constantinopla. Povos eslavos, originários da região central da Ásia, também lutavam contras os bizantinos na Europa Oriental.
  Durante mais de um século, os inoclastas destruíram uma enorme quantidade de esculturas e pinturas religiosas. Mas isso não garantiu a unidade dos bizantinos, nem os inimigos foram derrotados. A partir de 843, as pinturas voltaram a aparecer nas igrejas e a ser cultuadas pelos cristãos bizantinos.
Pintura do século XIII, de João Skylitzes, mostrando a execução de monges
A CISMA DO ORIENTE
  Os problemas gerados pelo movimento inoclasta ultrapassaram o limite do Império. Em 731 o papa Gregório III reuniu autoridades católicas para protestar contra as novidades que os bizantinos estavam promovendo - como a proibição e a quebra das imagens dos santos.
  Ao longo dos séculos seguintes, houve diversos conflitos entre os papas e os imperadores e patriarcas bizantinos. Essas diferenças acabaram levando a uma divisão da Igreja católica, em 1054, episódio que ficou conhecido como Cisma do Oriente. A partir de então, o mundo cristão separou-se em duas partes:
  • Igreja Católica do Oriente - conhecida como Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, com sede em Constantinopla, continuou a ser comandada pelo patriarca da cidade. Este era nomeado pelo imperador bizantino, a quem se subordinava;
  • Igreja Católica do Ocidente - conhecida como Igreja Católica Apostólica Romana, com sede em Roma, era comandada pelos papas.
Pintura retratando da divisão da Igreja católica (Cisma do Oriente)
  O Cisma do Oriente ocorreu num momento em que o comércio bizantino perdia parte de seus mercados para os comerciantes de cidades como Gênova e Veneza, que tinham relações estreitas com o papa, em Roma. Além disso, estes era apoiado pelos soberanos e nobres católicos da Europa Ocidental que lutavam nas Cruzadas.
  Foi nesse cenário que, em 1204, os comandantes e soldados de uma das Cruzadas ocuparam e saquearam Constantinopla, criando o chamado Império Latino do Oriente.
  A capital do Império Bizantino foi então transferida para Niceia, na Ásia Menor (atual Turquia), até 1261. Nesse ano, os bizantinos conseguiram derrotar os ocidentais e reconquistar sua antiga capital. O ataque dos cruzados consolidou a separação entre cristãos ocidentais e orientais.
Império Bizantino após a Quarta Cruzada
A RELIGIOSIDADE POPULAR
  Apesar da força da Igreja católica ortodoxa e do cristianismo, as populações do Império Bizantino mantiveram, muitas vezes, práticas religiosas proibidas pelas autoridades. Entre elas estava a adoração de deuses pagãos das antigas tradições gregas e romanas.
  Em festas populares, era comum o culto a Dionísio, deus do vinho e da aventura entre os antigos gregos. Para a Igreja cristã medieval, Dionísio era uma espécie de demônio do riso e da embriaguez. Apesar disso, nos carnavais bizantinos, homens e mulheres saíam às ruas mascarados, dançando, cantando e rindo em comemoração à renovação da vida na época das colheitas.
Estátua romana do século II representando Dionísio de acordo com um modelo helenístico
  A religiosidade popular também incluía a devoção aos ícones (pinturas representando santos ou Cristo) e às relíquias dos santos. Todas essas divergências criavam um confronto do mundo oficial do imperador, da corte e da Igreja com as vivências religiosas das pessoas comuns.
ARQUITETURA: IGREJAS E MOSTEIROS
  Na arquitetura bizantina destacaram-se as igrejas e os mosteiros, que expressavam o domínio do Estado sobre os assuntos religiosos. Pouco sobrou dos palácios, aquedutos e outros tipos de construções civis erguidas durante o Império Bizantino.
  O exemplo mais marcante da arquitetura bizantina é a igreja de Santa Sofia ("sagrada sabedoria", em grego). Ela foi construída no século IV e reconstruída entre 532 e 537, logo depois do incêndio que sofreu durante a Revolta de Nika.
  O projeto arquitetônico da igreja de Santa Sofia serviu de modelo para a construção de muitas igrejas no Ocidente e no Oriente.
Basílica de Santa Sofia, em Istambul - Turquia. Um dos exemplos da arquitetura bizantina
  Sua cúpula tem 34 metros de diâmetro, 56 de altura e parece flutuar sobre sua base quadrada. Suas fachadas são relativamente simples, como a maioria dos templos bizantinos, mas toda a parte interna é luxuosamente decorada. Marfim, pedras preciosas e mosaicos cobrem suas paredes, seu teto e seus vitrais. Na sua decoração, foram utilizados cerca de 18 toneladas de ouro.
  Depois da conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos no século XV, a igreja de Santa Sofia foi transformada em um templo muçulmano e recebeu quatro minaretes. Os mosaicos bizantinos foram cobertos com uma camada de cal. No século XX, porém, esses mosaicos foram restaurados, assim como o restante do antigo templo ortodoxo, que se tornou um museu.
Interior da Basílica de Santa Sofia
OS AFRESCOS E ÍCONES
  Os afrescos representando anjos, santos e autoridades religiosas foram um tipo de pintura decorativa frequente no Império Bizantino. Quase todos eles encontram-se em igrejas, mas também eram feitos nas casas das pessoas mais ricas.
  Também foram muito apreciados os ícones, pinturas feitas sobre painel de madeira representando imagens sagradas, como santos ou Cristo. Acreditava-se na época que eles não eram simplesmente pintados por mãos humanas, mas que o pintor atuava como um instrumento da revelação divina.
Afresco do Cristo Pantocrator, localizado no Mosteiro de Dafne - Grécia
MOSAICOS E ESCULTURAS
  Na arte bizantina, também se destacaram os mosaicos - obras feitas com pedaços de pedras e vidros coloridos, que eram colados sobre um vidro claro e recobertos por folhas de ouro. Os mosaicos bizantinos geralmente representavam animais, plantas e figuras religiosas ou da política.
  A escultura bizantina serviu principalmente aos ideais religiosos. Feitas em ouro, marfim ou vidro, eram obras com baixos-relevos e podiam ser usadas tanto em edifícios como em capas de livros.
Mosaico de João Batista - localiza-se no interior da Basílica de Santa Sofia
O GREGO E A LITERATURA
  Inicialmente, as obras literárias bizantinas eram escritas em latim, mas, com o tempo, a língua grega tornou-se mais importante. O grego era falado na capital e em outras regiões do Império, mas depois passou a ser utilizado nos textos dos escritores e das autoridades da Igreja e do governo.
  Assim como no Ocidente, as obras literárias em prosa ou poesia, eram manuscritas e depois recebiam ricas decorações, chamadas de iluminuras.
  Entre os gêneros literários desenvolvidos pelos autores bizantinos encontram-se hinos e textos sobre a vida dos santos, a guerra e a diplomacia, poesias líricas e romances épicos. Na escrita da História, destacaram-se Procópio de Cesareia (500-565) e Ana Comnena (1083-1148).
Afresco de Ana Comnena
  Além de escreverem textos originais, muitos autores reuniram, copiaram e traduziram textos da Antiguidade. Trabalhando nos mosteiros ou nas bibliotecas dos imperadores, ajudaram a preservar a cultura dos antigos gregos e romanos. Desse modo, ela pôde ser transmitida aos ocidentais quando Constantinopla passou para o domínio dos turcos otomanos.
A EDUCAÇÃO
  A maior preocupação do ensino bizantino era transmitir a fé cristã e a cultura helenista.
  Essa cultura integrava gregos, egípcios, persas e outros povos do Oriente. Os bizantinos acrescentaram a ela elementos culturais romanos, como o cristianismo e o latim.
  A boa formação educacional era valorizada principalmente entre os mais ricos. Desde os seis anos de idade, os meninos aprendiam a ler e a escrever e começavam a comentar textos de autores gregos como Homero e Platão.
  Mais tarde, os jovens tinham aula de retórica, filosofia, aritmética, música e astronomia. Em algumas escolas os professores também ensinavam direito, medicina e física. Os sacerdotes ensinavam os princípios da religião.
  As meninas de famílias ricas normalmente estudavam em casa, com professores particulares. Os filhos de artesãos, comerciantes e das famílias mais pobres estudavam só até se alfabetizarem.
A Academia de Platão - era uma das inspirações na educação dos bizantinos
 O DECLÍNIO DO IMPÉRIO BIZANTINO
  A história bizantina teve altos e baixos. Uma série de ataques externos enfraqueceu lentamente o Império. A partir do século VII, muitos territórios conquistados pelos bizantinos foram sendo perdidos para os inimigos.
  Seus principais adversários foram os árabes, tanto no aspecto militar quanto no cultural, pois estes conquistaram áreas do Oriente que haviam estado, até então, sob o domínio do Império Bizantino.
  Entre os séculos IX e XI, os bizantinos sofreram novas derrotas militares. Apesar disso, Constantinopla voltou a ser, nesse período, um importante centro de comércio no mundo mediterrâneo e a cultura bizantina alcançou momentos significativos. A administração tornou-se mais eficiente, a economia se estabilizou e as fronteiras na Europa, na Ásia e no norte da África foram reforçadas com tropas militares.
Perdas do Império Bizantino
A QUEDA DE CONSTANTINOPLA
  A prosperidade durou séculos, até que, em meados do século XV, ocorreu a crise que determinaria o declínio do Império Bizantino: em 1453, Constantinopla acabou sendo conquistada pelos turcos otomanos, após sucessivas tentativas de invasões derrotadas pelas forças militares bizantinas.
  Essa conquista é o marco mais comum utilizado para indicar o fim da Idade Média, pois desestruturou o Império Bizantino e desencadeou outros processos históricos.
  Uma das principais consequências do domínio turco otomano foi a mudança de intelectuais bizantinos para a península Itálica. Eles levaram consigo muitos conhecimentos da cultura clássica greco-romana, que havia sido preservada em Constantinopla. Isso teve grande influência na criação do movimento cultural conhecido como Renascimento.
O cerco de Constantinopla - pintado em 1499
  O domínio turco otomano também levou a um aumento no preço dos produtos e nos impostos cobrados dos comerciantes europeus que compravam em Constantinopla as mercadorias feitas na Ásia. Com isso, os produtos asiáticos se tornaram mais caros e difíceis de encontrar nas cidades da Europa Ocidental.
  Outra mudança do domínio turco, foi a transferência da rota marítima do Mediterrâneo para o Atlântico, que provocou a descoberta de novas terras. Esse episódio foi denominado de Grandes Navegações.
  Apesar dessas transformações, ao longo dos séculos seguintes foram mantidos muitos aspectos da cultura, da religião, da arte e do poder dos comerciantes bizantinos, especialmente na península Balcânica e na Rússia.
Restos da muralha de Constantinopla
FONTE: Cotrim, Gilberto, 1955 - Saber e fazer história, 6º ano / Gilberto Cotrim, Jaime Rodrigues. - 7. ed. - São Paulo: Saraiva, 2012.

terça-feira, 23 de julho de 2013

CONHEÇA UM POUCO SOBRE A NOVA ZELÂNDIA

  A Nova Zelândia é um arquipélago localizado a sudeste da Austrália, formado por duas grandes ilhas - a Ilha do Norte e a Ilha do Sul - e várias outras ilhas menores.
  A Nova Zelândia é notável por seu isolamento geográfico: está situada a cerca de dois mil quilômetros a sudeste da austrália, separada pelo mar da Tasmânia e os seus vizinhos mais próximos ao norte são a Nova Caledônia, Fiji e Tonga.
  Devido ao seu isolamento, o país desenvolveu uma fauna distinta dominada por pássaros, alguns dos quais foram extintos após a chegada dos europeus e dos mamíferos introduzidos por eles.
  Muitos dos nichos ecológicos que normalmente teriam sido ocupados por mamíferos eram ocupados por aves, como o kiwi e a moa.  O kiwi (Cyathea dealbata), é característico das florestas nativas deste país e é um símbolo nacional.
Kiwi - ave símbolo da Nova Zelândia
  As moas, agora extintas, podiam crescer até uma altura de três metros. A moa gigante (Dinornis novazealandiae) botava de um a dois ovos grandes com aproximadamente 24 centímetros de comprimento e 17 centímetros de largura.
  A Nova Zelândia é também a residência do tuatara (Sphenodon punctatus), uma espécie antiga de réptil, e do weta (Deinacrida heteracantha), um inseto que pode atingir mais de oito centímetros de comprimento.
Tuatara - réptil típico da Nova Zelândia
  O relevo da Nova Zelândia é constituído predominantemente de montanhas, muitas da quais são vulcões ativos. O país está localizado na faixa do Círculo de Fogo do Pacífico, próximo ao limite de duas placas tectônicas (Indo-Australiana e do Pacífico), em uma zona sujeito a abalos sísmicos e vulcanismo.
  O ponto culminante do país é o Monte Cook, com 3.764 metros de altitude, situado nos Alpes Neozelandeses, na Ilha do Sul. A Ilha do Sul é a maior massa de terra, onde há dezoito picos com mais de três mil metros de altitude.
Monte Cook - ponto culminante da Nova Zelândia
  A Ilha do Norte é menos montanhosa do que a Ilha do Sul, mas é marcada por uma intensidade maior de vulcanismo. Nessa parte da Nova Zelândia, a montanha mais alta é a Ruapehu, com 2.797 metros acima do nível do mar e é um cone vulcânico ativo.
  Também fazem parte da paisagem neozelandesa muitos lagos e planícies. O litoral é bastante recortado e apresenta diversas penínsulas e fiordes.
  O país tem água em abundância, proveniente de seus inúmeros lagos interiores, de origem vulcânica e glacial. Devido ao tamanho reduzido do território e da irregularidade do relevo, os rios nezelandeses têm pequena extensão, mas, apesar disso, são utilizados para a produção de energia elétrica. Destaca-se o Rio Waikato, com 320 km de extensão, localizado na Ilha do Norte.
Vale do Hooker, tendo ao fundo o Monte Cook
   Na Nova Zelândia predomina um clima temperado úmido, com temperaturas médias anuais variando de 10 ºC no sul até 16 ºC no norte.
  Em termos gerais, a Nova Zelândia possui um clima oceânico. No entanto, as temperaturas oscilam entre subtropical no norte, até quase subantártico nas áreas montanhosas do sul. A mudança das estações não são muito marcadas: o verão nunca é desconfortavelmente quente e no inverno as temperaturas não são tão frias como em outras partes do mundo. A precipitação varia de acordo com a área, e os invernos são mais úmidos que os verões.
  A vegetação da Nova Zelândia é composta de florestas temperadas e pradarias. Também se destacam as florestas de coníferas, que foram bastante devastadas.  Atualmente, o país incentiva o reflorestamento.
  A vegetação nativa consiste principalmente em bosques de árvores perenifólias. As florestas, que já ocuparam dois terços do território, reduziram-se no fim do século XX a menos de um terço.
Paisagem da Nova Zelândia
  A população da Nova Zelândia é de pouco mais de quatro milhões de habitantes. O país é predominantemente urbano, com 72% de sua população vivendo em 16 áreas urbanas principais e 53% vivendo nas quatro maiores cidades do país, que são Auckland, Christchurch, Wellington e Hamilton.  A maior parte da população dedica-se a atividades terciárias, relacionada ao comércio e à prestação de serviços.
  A Nova Zelândia foi povoada por imigrantes, a maioria de origem britânica. Os habitantes nativos do território, os maoris, hoje representam menos de 15% da população. Entre as décadas de 1860 e 1870, ocorreram vários conflitos entre esse povo e os colonizadores, resultando na morte de muitos maoris. Ao longo do século XX, esse povo foi bastante reduzido.
  Em 1840, foi assinado o Tratado de Waitangi. Entre os principais termos desse tratado, um afirmava que os maoris continuariam donos de suas terras e dos locais de pesca; em troca aceitariam o poder local dos ingleses. Os ingleses tentaram, assim, acalmar as tensões, mas esse acordo não foi cumprido integralmente. A lei existe até hoje e ainda há maoris que reivindicam na justiça a reintegração da posse de suas terras.
  Embora a maioria de imigrantes sejam do Reino Unido e da Irlanda, a imigração vinda do Leste da Ásia (principalmente da China, Coreia do Sul, Taiwan, Japão e Hong Kong) tem aumentado bastante nos últimos anos.
Jovem maori
  A Nova Zelândia tem uma moderna, próspera e desenvolvida economia de mercado.
  No mercado internacional, a Nova Zelândia é reconhecida por ser um país estável economicamente e com uma infraestrutura completa, o que tende a atrair investimentos externos. 
  A atividade industrial está vinculada, principalmente, à agropecuária, com destaque para as indústrias alimentícias e têxteis, embora os setores siderúrgico e metalúrgico também contribuam para a economia do país.
  Historicamente, as indústrias extrativistas têm contribuído fortemente para a economia da Nova Zelândia, concentrando-se, de acordo com a época do ano, na caça às focas e baleias, ao linho, à extração do ouro e da madeira nativa. Com o desenvolvimento do transporte refrigerado no final do século XIX, a carne e os produtos lácteos passaram a ser exportados para a Grã-Bretanha, comércio este que serviu de base para o forte crescimento econômico da Nova Zelândia. A elevada demanda de produtos agrícolas do Reino Unido e dos Estados Unidos ajudou os neozelandeses a alcançar um elevado padrão de vida.
Centro Financeiro de Auckland, com destaque para a Sky Tower, a estrutura mais alta do hemisfério Sul
  A pecuária e a agricultura têm uma grande importância na economia do país. Apesar das restrições do meio natural, por causa do relevo montanhoso e das extensas áreas de florestas, o alto nível de modernização permite elevar a produtividade dessas atividades.
  A produção de carne, lã e leite se destaca, sendo esses produtos os principais do país, ao lado do kiwi.
  No setor agrícola, a produção de uvas destinada à fabricação de vinho também tem uma importância econômica que se destaca no cenário internacional. O vinho da Nova Zelândia vem sendo considerado um dos melhores do mundo.
Plantação de uvas na Nova Zelândia
  Entre os produtos destinados à exportação, estão os frutos do mar, criados em fazendas marinhas com alto controle de qualidade.
  O parque industrial do país não é muito grande, e sua indústria está ligada diretamente às matérias-primas agropecuárias. O país é um dos maiores produtores mundiais de ovinos.
  A Nova Zelândia destaca-se, ainda, nas políticas ambientais e na maneira como vem desenvolvendo o reflorestamento, aplicando pesquisas em reprodução e em crescimento das florestas nativas.
  O Departamento de Conservação da Nova Zelândia desenvolveu um programa de preservação visando minimizar o impacto ambiental em seu território. Seus objetivos englobam a regeneração da floresta natural, o uso da energia solar e a reciclagem de lixo.
Paisagem da Nova Zelândia
  Outra atividade econômica bastante desenvolvida na Nova Zelândia é o turismo. Essa atividade combina todo o tipo de turismo de aventura: Queenstown é considerada a capital mundial dos esportes radicais. A beleza das montanhas, combinada com as águas do Lago Wakatipu, forma uma bela paisagem. O turista pode realizar uma série de atividades como bungee jump, esqui, snowboarding, rafting, canoagem, montain bike, caiaque, trilhas em carros 4 X 4, parapente, asa-delta e paraquedismo.
Milford Sound - uma das mais populares destinações turísticas da Nova Zelândia
ALGUNS DADOS SOBRE A NOVA ZELÂNDIA
NOME: Nova Zelândia
CAPITAL: Welligton
Visão noturna de Wellington - capital da Nova Zelândia
LÍNGUA OFICIAL: inglês, maori e língua de sinais neozelandesa
GOVERNO:
Monarquia Constitucional Parlamentarista Independência: do Reino Unido em 26 de setembro de 1907
GENTÍLICO: neozelandês

LOCALIZAÇÃO: sudoeste do Oceano Pacífico
ÁREA: 270.534 km² - incluindo as ilhas Antípodas, Auckland, Bounty, Campbell, Chatham e Kermadec (74º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2013): 4.414.400 habitantes (121º)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 16,32 hab./km² (170º)
MAIORES CIDADES:
Auckland (Estimativa 2013): 1.398.300 habitantes
Auckland - maior cidade da Nova Zelândia
Wellington (Estimativa 2013): 408.600 habitantes
Wellington - capital e segunda maior cidade da Nova Zelândia
Christchurch  (Estimativa 2012): 396.765 habitantes
Christchurch - terceira maior cidade da Nova Zelândia
PIB (FMI - 2011): U$ 161,851 bilhões (56º)
IDH (ONU - 2012): 0,919 (6º)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2005/2010): 80,13 anos (16º)
CRESCIMENTO VEGETATIVO: 0,90% (135º)
MORTALIDADE INFANTIL (ONU - 2005/2010): 5,07/mil (29º)
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA WORLD FACTBOOK - 2008): 87% (20º)
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (PNUD - 2009/2010): 99% (19º)
PIB PER CAPITA (FMI - 2011): U$ 36.648 (23º)
MOEDA: Dólar Neozelandês
RELIGIÃO (2010): sem religião (34%), protestantes (30%), católicos (13%), outras religiões não-cristãs (13%), outras religiões cristãs (10%)
DIVISÃO: a Nova Zelândia está dividida em 16 regiões para a administração de assuntos ambientais e de transportes. Doze regiões são governadas por um conselho regional eleito, enquanto quatro (uma cidade e três distritos) são governados por Autoridades Territoriais, que também desempenham a função de um conselho regional, e por isso são conhecidas como autoridades unitárias.
  As regiões administrativas são: 1. Northland; 2. Auckland; 3. Waikato; 4. Bay of Plenty; 5. Gisborne; 6. Hawke's Bay; 7. Taranaki; 8. Manawatu-Wanganuí; 9. Wellington; 10. Tasman; 11. Nelson; 12. Marlborough; 13. West Coast. 14. Canterbury. 15. Otago; 16. Southland.

 FONTE: Perspectiva geografia, 9 / Cláudia Magalhães ... [et al] -- 2. ed. -- São Paulo: Editora do Brasil, 2012. -- (Coleção perspectiva)

sexta-feira, 19 de julho de 2013

A ILHA DA TRINDADE E O ARQUIPÉLAGO DE MARTIM VAZ

  Trindade e Martim Vaz é um arquipélago brasileiro localizado no Oceano Atlântico, sendo um território pertencente ao município de Vitória (ES), localizada a 1.200 quilômetros da capital capixaba. De todas as ilhas do arquipélago, apenas a Ilha da Trindade é habitada, sendo que a única localidade existente na ilha é o Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (POIT), que é uma guarnição militar mantida pela Marinha do Brasil. O POIT, é o local habitado mais remoto do Brasil, estando situado a 1.025 km  de distância da localidade mais próxima, que é a guarnição mantida pela Marinha na Ilha de Santa Bárbara, no Arquipélago dos Abrolhos. As Ilhas de Martim Vaz, são conhecidas por serem o ponto extremo leste de todo o território brasileiro, sendo, juntamente com o arquipélago de São Pedro e São Paulo, um dos dois primeiros lugares onde acontecem o nascer e o pôr do Sol no Brasil.
  O arquipélago é constituído por duas ilhas principais (Trindade e Martim Vaz), separadas por 48 quilômetros, que somam uma área total de 10,4 km². As ilhas são consideradas, pelos navegadores, como um imenso paredão no meio do Atlântico.
Localização das Ilhas da Trindade e Martim Vaz
  O surgimento da Ilha da Trindade e do Arquipélago de Martim Vaz no meio do Atlântico Sul ocidental, se deu pelo movimento das placas tectônicas que formam a superfície terrestre. A crosta do planeta Terra é formada por várias placas e na junção delas existem zonas de intenso movimento e vulcanismo. Por conta dessa dinâmica, ocorreu uma imensa fratura na placa sul-americana, que se estende de Vitória até cerca de mil quilômetros a leste do Arquipélago de Martim Vaz, chegando a alcançar o limite sul da Bacia do Cuanza, ao largo da costa africana, já no Atlântico Sul oriental.
  Essa fratura no leito oceânico fez com que o magma extravasasse em escala colossal. Para se converter em ilha, precisou emitir magma numa razão de aproximadamente cem quilômetros cúbicos, por um milhão de anos. Foram necessários aproximadamente 10 milhões de anos para atingir a superfície do mar. Diversos pontos dessa fratura liberaram mais magma que outros. Assim, imensas colunas foram galgando o fundo oceânico rumo à superfície. O que encontramos hoje, defronte ao Estado do Espírito Santo, é uma antiga cadeia de grandes vulcões submarinos extintos, submersos a poucas dezenas de metros da superfície do mar, denominada Cadeia Vitória-Trindade. Alguns desses vulcões oceânicos são conhecidos como bancos pesqueiros, sendo muito procurado por embarcações de pesca comercial. Da costa do Espírito Santo, mergulhando em direção à África, encontram-se os bancos Vitória, Eclaireur, Montague, Jaseur, Davis, Dogaressa e Colúmbia.
Vista parcial da Ilha da Trindade
  As bases desses vulcões estão no leito oceânico, em profundidades abissais, entre 3 mil e 5,5 mil metros e a cerca de 1,1 mil quilômetros da costa do Espírito Santo surgem os únicos pontos emersos dessa cadeia de vulcões: pequenos rochedos que formam o Arquipélago de Martim Vaz e a imponente Ilha da Trindade.
  A atividade vulcânica em Trindade perdurou até cerca de 5 mil anos atrás e ocorreu na extremidade oriental da ilha, onde se formou uma cratera de mais de 200 metros de raio. Atualmente resta apenas uma pequena parte do arco dessa cratera.
  Pesquisas recentes dão conta que quatro vulcões formaram Trindade (Vulcão do Vaiado, Vulcão do Desejado, Vulcão do Morro Vermelho e Vulcão do Paredão). Trindade é hoje uma sucessão de colunas e paredes de um imenso edifício vulcânico em ruínas, com uma beleza cênica singular, ao mesmo tempo agressiva e agradável.
Paisagem da Ilha da Trindade
TRINDADE: COBIÇADA DESDE O INÍCIO DAS GRANDES NAVEGAÇÕES
  A história humana na ilha começou juntamente com o início das Grandes Navegações e seu descobrimento é, até hoje, motivo de dúvida. Alguns historiadores creditam o descobrimento de Trindade ao navegador espanhol João da Nova, que viajava a serviço de Portugal e teria descoberto Trindade em março de 1501. Contudo, outros historiadores afirmam que o português Estevão da Gama, durante a segunda viagem de Vasco da Gama às Índias, teria descoberto Trindade em 1502. Nessa ocasião a ilha foi batizada de Ilha da Santíssima Trindade.
Mapa da Ilha da Trindade na obra The Cruise of the Alert, de E. F, Kinight
  Quase dois séculos depois, durante uma expedição para realizar medições magnéticas no Atlântico para o governo inglês, a bordo do navio H. M. S. Panorame, o famoso astrônomo inglês Edmund Halley, teria tomado a ilha, desconsiderando a posse de Portugal. Naquele momento, em abril de 1700, como prática usual entre os navegadores da época, foram soltos diversos animais na ilha, dentre eles várias cabras e porcos, para servir de alimento a possíveis náufragos ou aos ingleses que fossem iniciar a ocupação britânica num futuro próximo. Mais tarde, aquele simples ato desencadearia drásticas alterações na flora da ilha, com consequências extremas na perda do solo e na descaracterização geral da cobertura vegetal.
Rochedo sem cobertura vegetal na Ilha da Trindade
  Oitenta e um anos após a visita de Edmund Halley, a Inglaterra ocupou a ilha com tropas militares. Sabendo da ocupação, Portugal protestou em Londres. Enquanto o assunto tramitava lentamente nos meios diplomáticos, em 1783, o vice-rei do Brasil, Luís de Vasconcelos, enviou 150 pessoas, entre militares e civis, para a ilha, a bordo da nau Nossa Senhora dos Prazeres, sob o comando do Capitão José de Mello Brayner, para de lá expulsar os ingleses. Porém, quando os militares portugueses chegaram, os ingleses já haviam deixado Trindade.
  Depois da retirada inglesa, Portugal resolveu colonizar a ilha, deixando militares e seis casais de açorianos no local. Municiados de sementes e animais, os açorianos promoveram a derrubada do restante da vegetação arbórea da ilha, que havia resistido à voracidade do rebanho de cabras, para dar lugar aos platôs agricultáveis. A madeira retirada da Colubrina glandulosa, árvore confundida com o pau-brasil, era muito apreciada para a confecção de móveis, graças à sua resistência e belíssima cor avermelhada.
Colubrina glandulosa, conhecida como sobragi, sobrasil, saguari, falso-pau-ferro, sabiá-do-mato e socorujuva - árvore mais abundante na Ilha da Trindade antes do desmatamento da ilha.
  Contudo, o isolamento, somado ao insucesso no plantio de milho e o esgotamento do extrativismo da madeira, levou Portugal a retirar os açorianos da ilha, que passou a ser ocupada somente por militares. Tal ocupação perdurou até 1795, quando o novo vice-rei, o Conde de Resende, determinou a desocupação da ilha, que voltou a ficar abandonada.
  Entre 1822 e 1889, a Ilha da Trindade foi dominada por comerciantes de escravos e piratas. Esse fato originou a lenda de que foi enterrado, em algum local da ilha, um grande tesouro, desde o século XVII, por piratas ingleses que teriam interceptado um galeão espanhol com muito ouro e prata roubados da Catedral de Lima, após a independência do Peru. Foram realizadas aproximadamente 12 expedições em busca desse tesouro, incluindo a de E. F. Knight, em 1885, que empreendeu esforços após receber, de um suposto pirata sobrevivente, um mapa com a localização do tesouro.
Localização da Estação Científica da Ilha da Trindade
  Em 1895, a Inglaterra voltou a ocupar Trindade, incorporando-a a seu vasto território de possessões. Depois de uma batalha diplomática, os ingleses resolveram recuar, e em agosto de 1896, retiraram os sinais de sua presença. No ano seguinte, o cruzador brasileiro Benjamin Constant dirigiu-se à ilha para promover uma nova tomada de posse. Na ocasião, foi construído um marco na encosta do morro Pão de Açúcar, com duas placas comemorativas que, infelizmente, não existem mais.
  Anos mais tarde, em 1911, foi instalado um marco de granito na Praia do Andrada, para afirmar a posse brasileira sobre Trindade. Ainda hoje, já desgastado pelo tempo, sol e maresia, ele continua de pé num platô vulcânico acima da Praia do Andrada.
Marco do Andrada - erigido em 1911, marca a posse definitiva da ilha para o Brasil
  Durante a Primeira Guerra Mundial, a ilha serviu de base para guarnições militares e, logo após o término dos conflitos, foi novamente abandonada. Entre os anos de 1924 e 1926, o presidente Artur Bernardes transformou Trindade em presídio político. Estiveram presos na ilha o patrono da Força Aérea Brasileira, o marechal-do-ar Eduardo Gomes, o general Sarmento, o capitão Juarez Távora e o tenente Magessi, entre outros militares insubordinados.
Eduardo Gomes - um dos presos políticos na Ilha da Trindade
  Deflagrada a Segunda Guerra Mundial, a Marinha do Brasil voltou a ocupar Trindade devido a sua privilegiada localização estratégica no Atlântico Sul. A ocupação da marinha durou até 13 de junho de 1945. Em 1950, a ilha foi visitada por uma importante expedição científica, sob a orientação do ministro João Alberto, com a finalidade de planejar a colonização e a construção de uma base aeronaval. Nessa época, o ministro levou consigo uma equipe de notáveis para, também, realizar estudos diversos na ilha.
  Finalmente, em 29 de maio de 1957, a bordo dos navios Almirante Saldanha e Imperial Marinheiro, foi dado início a criação do Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (POIT), como parte do programa de participação do Brasil no Ano Geofísico Internacional. Desde então, a ilha permanece guarnecida pela Marinha do Brasil, que ali mantém um contingente de aproximadamente 40 homens, que se revezam a cada quatro meses.
Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (POIT)
O CLIMA DAS ILHAS
  O clima de Trindade e Martim Vaz é oceânico tropical, amenizado pelos ventos alísios do Leste e do Sudeste. A temperatura média anual é de 25°C, sendo fevereiro o mês mais quente do ano e setembro, o mês mais frio. Quase todos os dias, principalmente no verão, ocorrem chuvas rápidas, que recebem o nome de pirajás. Entre os meses de abril e outubro, a ilha sofre invasões periódicas de frentes frias vindas da Antártica que sobem pela Argentina e pelo Sul do Brasil. Quando chegam à Região Sudeste, desviam para o oceano e atingem Trindade, provocando mudanças abruptas nas condições do mar.
Rochedo de Martim Vaz
  A alta frequência de chuvas se deve à altura de Trindade. Como seu pico sobe 600 metros acima do nível do mar, forma-se um imenso obstáculo para as nuvens carregadas, que precipitam sua carga após chocarem-se com essa enorme muralha. Essas chuvas mantém três grandes fontes de água potável na ilha: uma na Enseada da Cachoeira, a mais abundante, outra na Praia do Príncipe e a terceira na Enseada dos Portugueses, a utilizada pela população da ilha.
  As águas que circundam Trindade e Martim Vaz pertencem à Corrente do Brasil e são caracterizadas pela alta salinidade, pela temperatura morna (27°C) e por alcançar transparências de até 50 metros, o que possibilita mergulhos fantásticos.
Gruta da Ilha da Trindade
A FLORESTA NEBULAR DE SAMAMBAIAS-GIGANTES
  A imponência da ilha e seu isolamento geográfico lhe conferem ar de paraíso intocado, que acaba por encobrir o grave problema da degradação ambiental de séculos de impactos causados pelo homem. Após anos de extrativismo vegetal intenso, tentativas fracassadas de cultivo e séculos de ataque impiedoso do rebanho caprino, a flora de Trindade mudou drasticamente e, com ela, o solo. Por volta de 1700, a floresta cobria quase 80% de toda a área da ilha. em 1965, essa cobertura vegetal já havia sido reduzida a aproximadamente 20% e, atualmente, não chega a cobrir 10%.
  A vegetação de Trindade é pobre em número de espécies. Pesquisas recentes estimaram uma riqueza de aproximadamente 124 espécies botânicas, incluindo as trazidas pelos homens e as cultivadas na horta da Marinha. Dessas espécies, 14 são endêmicas, sendo a samambaia gigante a principal delas.
Vegetação da Ilha da Trindade com a horta da Marinha
  A fauna, assim como a flora de Trindade, desperta interesse extremo nos pesquisadores, pois o isolamento geográfico propiciou a evolução de espécies únicas, endêmicas desse pequeno ponto emerso no meio do Atlântico.
OS CRUSTÁCEOS
  Algumas espécies de crustáceos habitam os recifes e as praias de Trindade, entre elas lagostas e caranguejos. Na zona entremarés, destacam-se o caranguejo-da-arrebentação (Plagusia depressa) e o aratu-vermelho (Grapsus grapsus). Já em terra, o "dono-da-ilha" é o caranguejo-amarelo ou carango (Gecarcinus lagostoma). Essa espécie ainda é muito comum em Trindade e Martim Vaz, apesar da crescente captura para consumo humano entre o pessoal da guarnição militar e os visitantes de Trindade. O carango vive desde a zona entremarés até o Pico do Desejado e se alimenta de enorme gama de itens, de folhas de amendoeiras ou castanheiras a ovos e filhotes das tartarugas-verdes.
Caranguejo-amarelo ou carango - espécie muito comum na Ilha da Trindade
OS PEIXES
  Em pesquisas recentes, foram levantadas aproximadamente 100 espécies de peixes nos recifes de Trindade. A baixa riqueza de espécies, também encontrada em outras ilhas tropicais isoladas do Atlântico, é explicada pela restrição na disponibilidade de ambientes e grau de isolamento.
  A riqueza de espécies é baixa, porém, a abundância de algumas formas é surpreendente. Na proximidade da ilha existem os cardumes colossais  de sardinha (Harengula sp) e purfa (Melichthys niger) que fazem fervilhar as águas que circundam a ilha. Existe também um elevado índice de espécies únicas em Trindade e Martim Vaz. Das aproximadamente 100 espécies levantadas pelos pesquisadores, seis são endêmicas dos recifes que circundam essas ilhas. Dentre essas espécies estão o peixe-donzela de Trindade (Stegastes trindadensis) e a maria-da-toca ou moreia-de-trindade (Scartella poiti). A garoupa-trindade ou garoupa-gostosa (Dermatolepis inermis) é uma das mais belas espécies de peixe recifal que ocorrem em Trindade e Martim Vaz.
Garoupa-Trindade ou garoupa-gostosa
AS TARTARUGAS-MARINHAS
  Três espécies de tartarugas-marinhas vivem nos recifes ou ao largo de Trindade e Martim Vaz. A tartaruga-gigante ou tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) habita o mar aberto ao largo das ilhas ao longo da cadeia Vitória-Trindade. Além de ser a maior espécie de tartaruga-marinha, também é a mais ameaçada de extinção, pois vem sofrendo declínio populacional, devido ao aumento da poluição dos mares e à captura acidental em espinhel oceânico.
Tartaruga-gigante ou tartaruga-de-couro - uma das espécies da Ilha da Trindade e Martim Vaz
  Outra tartaruga-marinha que frequenta as águas de Trindade e Martim Vaz é a tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), que faz dos recifes dessas ilhas, bem como dos bancos oceânicos da cadeia Vitória-Trindade, um de seus sítios de alimentação prediletos em águas brasileiras. Essa espécie de tartaruga se alimenta de esponjas.
Tartaruga-de-pente
  A última espécie é a tartaruga-verde (Chelonia mydas), que tem em Trindade seu maior sítio reprodutivo do Atlântico Sul e um dos maiores do mundo. As fêmeas de tartaruga-verde, medindo em média 1,20 metros de comprimento e pesando cerca de 250 quilos, frequentam as praias de Trindade durante a estação reprodutiva, que se prolonga de outubro a maio. Cada fêmea põe em média de 130 a 150 ovos. No total, milhares de ovos são enterrados nas areias, mas por causa da forte depredação por inúmeros animais, como caranguejos, fragatas, polvos e peixes, algumas poucas tartaruguinhas conseguem chegar à fase adulta e reiniciar o ciclo de reprodução em Trindade.
Tartaruga-verde
  O senso de orientação das tartarugas é impressionante. Tartarugas-verdes nascidas em Trindade migram para a costa do Brasil, onde se alimentam de algas. Quando atingem a idade adulta, entre 20 e 25 anos, dispersam-se na imensidão dos mares. Porém, na época reprodutiva, sabem exatamente o momento e o local para acasalar e colocar os seus ovos. Nesse instante, as tartarugas-verdes viajam longas distâncias e retornam às ilhas oceânicas onde nasceram para recomeçar um novo ciclo de descendentes.
Filhote de tartaruga-verde
AS AVES MARINHAS
  As ilhas, de uma forma geral, representam um porto seguro para as aves marinhas. Mesmo aquelas espécies estritamente oceânicas necessitam de um local em terra firme para construir seus ninhos e criar seus filhotes. Trindade e Martim Vaz não são exceções e abrigam cerca de 20 espécies de aves marinhas, migratórias ou residentes, nos seus céus e penhascos.
  Os atobás (Sula dactylatra e Sula sula), as viuvinhas ou grazinas (Anaus stalidus e A. tenuirostris), as noivinhas ou fantasminhas (Gygis alba), os trinta-réis (Sterna fusca ta), as fragatas (Fragata minor e Fragata ariel) e as pardelas ou petréis-de-trindade (Pterodroma arminjaniana) são algumas das mais conhecidas.
Atobá
  Apesar de alguns pesquisadores creditarem a ocorrência do petrel-de-trindade também para a Ilha Round, situada no Oceano Índico meridional, é bastante plausível que ele seja endêmico de Trindade. Aves possuem grande capacidade de dispersão, porém, a distribuição geográfica proposta é muito disjunta, o que leva a crer que essas sejam duas formas distintas e ainda pouco estudadas de petrel.
Petrel-de-trindade
FONTE: Geografia: ensino fundamental e ensino médio: o mar no espaço geográfico brasileiro / coordenação Carlos Frederico Simões Serafim, organização Paulo de Tarso Chaves. - Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2005. 304 p. (Coleção explorando o ensino, v. 8)

terça-feira, 16 de julho de 2013

O MITO DA EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA

  Depois da Segunda Guerra Mundial, as taxas de mortalidade começaram a cair nos países subdesenvolvidos. Com quase 50 anos de atraso em relação à Europa, esses países começavam a ter acesso aos novos medicamentos, à vacinação em massa e ao controle sobre doenças epidêmicas, principalmente difteria, tifo e malária.
  As inovações nos campos da prevenção e da cura de doenças epidêmicas ficaram conhecidas como Revolução Médico-Sanitária e se traduziram numa drástica redução da mortalidade: a média anual estimada para o conjunto dos países subdesenvolvidos era de 40% em 1920 e caiu para menos de 8,9% nos primeiros anos do século XXI.
A Revolução Médico-Sanitária foi um dos fatores que contribuíram para a redução do crescimento vegetativo no mundo
  Como a população nos países subdesenvolvidos era numericamente maior do que a europeia, a redução em seus índices de mortalidade traduziu-se em um elevadíssimo pico de crescimento natural: as taxas médias de incremento demográfico foram superiores a 2% ao ano no conjunto dos países subdesenvolvidos, entre 1950 e 1985, e a maior parte deles registrou taxas superiores a 3% na fase aguda da transição demográfica.
  Hoje, a população dos países asiáticos é cerca de 10 vezes maior do que em 1950, e em alguns países da África Subsaariana viram sua população aumentar até 20 vezes na segunda metade do século XX.
  Na década de 1960, em pleno auge do crescimento da população mundial, surgiu o chamado neomalthusianismo, que consistiu na retomada dos prognósticos catastróficos do reverendo inglês.
  O neomalthusianismo é a atualização da Teoria Populacional Malthusiana, criada pelo demógrafo Thomas Malthus.
Thomas Malthus - criador da Teoria Malthusiana, na qual dizia que "enquanto a produção de alimentos crescia em progressão aritmética (1, 2, 3, ...) a população mundial crescia em progressão geométrica (1, 2, 4, 8, ...); assim iria faltar alimentos para grande parte da população.
  Muita gente aderiu à ideia de que o alto crescimento demográfico constituía uma das principais causas da generalização da pobreza em vastas regiões subdesenvolvidas, tanto por exigir investimentos maciços em atividades não produtivas, como a manutenção de creches e escolas, quanto por criar uma relação desfavorável entre o número de pessoas em idade de trabalhar e o total de habitantes. Assim, haveria mais crianças para serem criadas e alimentadas do que adultos em idade produtiva gerando riquezas suficientes para sustentá-las.
  Nesse cenário, o controle da natalidade surgia como a solução ideal. Com isso, surgiram instituições, muitas delas mantidas com o capital de empresas privadas, que financiaram subsídios aos países pobres para implementação de políticas que ajudassem a reduzir suas taxas de natalidade.
Evolução do crescimento da população mundial
  A partir da década de 1970, diversas associações ligadas ao movimento ambientalista ingressaram nas fileiras daqueles que se preocupavam com a chamada "explosão demográfica". Para eles, o crescimento acelerado da população colocaria em risco os ecossistemas tropicais e equatoriais, por exigirem mais área para plantio, habitação etc. Desse modo, o controle da natalidade surgia mais uma vez como elemento salvacionista, que permitia preservar o patrimônio ambiental para as futuras gerações.
  Porém, muito mais do que o crescimento vegetativo dos países pobres, é o padrão de produção e de consumo dos países ricos, justamente aqueles nos quais a população parou de crescer, que mais causa impactos negativos no meio ambiente. Os países desenvolvidos, que abrigam 20% da população mundial, são responsáveis por 80% do consumo de recursos naturais do planeta.
Mapa da transição demográfica no mundo
  Em escala mundial, a modernização da economia e a urbanização têm contribuído para diminuir as taxas de natalidade. Para as populações urbanas de baixa renda, um filho a mais representa gastos extras (principalmente com alimentação), que só começarão a ser compensados quando ele estiver com idade para ingressar no mercado de trabalho. Fenômeno semelhante pode ser observado nas zonas rurais, onde o avanço do trabalho assalariado restringe a participação das crianças no processo produtivo.
A mecanização da agricultura reduziu a população rural, contribuindo, assim, para a diminuição do crescimento vegetativo
CENÁRIOS DEMOGRÁFICOS
  Desde a década de 1970, o acelerado processo de urbanização e modernização da agricultura provocam uma redução rápida e constante das taxas de natalidade nos países da América Latina. Ao mesmo tempo, a incidência da desnutrição apresenta taxa de declínio.
  Na África Subsaariana, a queda da natalidade foi muito pequena entre 1965 e 1980, período em que a mortalidade caía rapidamente. Hoje, já se observam os primeiros sinais de redução no crescimento natural nessa região, embora as taxas de nascimento dos países que a compõem continuem sendo as mais elevadas do planeta. Neles, o processo de modernização das economias, que teve início na década de 1960, logo após a saída dos colonizadores europeus, foi interrompido em virtude da falta de novos investimentos produtivos. A miséria, as catástrofes alimentares periódicas e as elevadas taxas de mortalidade infantil mantiveram a mortalidade em alta e, consequentemente, as famílias conservaram o hábito de ter muitas crianças.
Mapa da fome no mundo
  Na China, país mais populoso do mundo, o controle da natalidade é uma das políticas prioritárias desde o começo da década de 1970. A meta demográfica estabelecida pelo governo é de um único filho por família, na maioria das províncias chinesas. As mulheres têm direito à licença paga para realizar abortos (catorze dias), fazer laqueadura de trompas (dez dias) ou inserir o DIU (três dias). Em muitas regiões da China, o Estado oferece bônus para as famílias que têm o primeiro filho, mas exige que os benefícios sejam restituídos no caso de um segundo nascimento.
  A política demográfica chinesa tem sido a causa de várias tragédias cotidianas na sociedade. Estima-se que, por medo de sofrerem represálias, cerca de 200 milhões de famílias optem por esconder o nascimento de um segundo bebê. O abandono de menores, sobretudo meninas, também ocorre com frequência.
  Outro efeito negativo da "Política do Filho Único" chinesa é a disparidade entre nascimentos de meninos e meninas. Como o casal só pode ter um filho, muitos casais optam por interromper a gestação quando descobrem que estão esperando meninas. Desse modo, para cada 113,8 nascimentos do sexo masculino, ocorrem apenas 100 do sexo feminino.
Cartaz incentivando o filho único na China
  A Índia é outro "gigante demográfico" do planeta. As políticas de controle da natalidade também estão contribuindo para a desigualdade entre os sexos: a população masculina é superior à feminina em 50 milhões.
FONTE: Terra, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil / Lygia Terra, Regina Araújo, Raul Borges Guimarães. 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2010.

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