sábado, 22 de junho de 2013

A EXPANSÃO DA FRONTEIRA AGRÍCOLA E O DESMATAMENTO

  A fronteira agrícola é o avanço da unidade de produção capitalista sobre o meio ambiente, terras cultiváveis e/ou terras de agricultura familiar. A fronteira agrícola está ligada à necessidade de maior produção de alimentos e a criação de animais sob a demanda internacional de importação destes produtos. Além disso, seu crescimento acelerado também está ligado pela ausência de políticas públicas eficazes onde a terra acaba sendo comprada barata e o controle fiscal é inoperante.
  O Brasil possui 850 milhões de hectares em seu território. Estima-se que 350 milhões são de terras agricultáveis. A cana-de-açúcar, com 22 milhões, e a soja, com 8 milhões, são os produtos agrícolas com maior área plantada no país. Já para a criação de gado, cerca de 211 milhões de hectares são destinados para a pastagem extensiva. Apesar do grande espaço utilizado para a produção de soja, cana-de-açúcar e criação de animais, a produtividade por cabeças de boi por hectare é baixa. Para aumentar a produção de cereais e carne, agricultores e pecuaristas estendem a fronteira de suas fazendas, adquirindo cada vez mais terras, a chamada fronteira agrícola. Esse processo contribui para o aumento da concentração fundiária no país.
Plantação de soja em Goioerê - PR
  As áreas que correspondem aos domínios naturais do Cerrado e da Amazônia, estavam relativamente pouco alteradas até meados da década de 1970, uma vez que as atividades econômicas praticadas pelas populações locais eram desenvolvidas em pequena escala e de modo tradicional. Até então, as técnicas empregadas eram transmitidas ao longo dos tempos pelas gerações, como o caso dos povos indígenas, das populações ribeirinhas e dos grupos que habitavam o Sertão. Atividades como o extrativismo vegetal, a caça, a pesca e a agricultura em pequenas áreas já eram praticadas secularmente na região sem, no entanto, afetar intensamente o equilíbrio ambiental.
Mapa do desmatamento na Amazônia
  A expansão agrícola no território brasileiro em áreas das regiões Norte e Centro-Oeste foi incentivada por planos governamentais a partir da década de 1970. Tal expansão foi facilitada pela construção de extensas rodovias - tais como a Transamazônica, Belém-Brasília, Cuiabá-Santarém e Cuiabá-Porto Velho - contribuindo, assim, para que migrantes de outras partes do país ocupassem terras nessas duas regiões. Por meio dos projetos de colonização, a migração avançou floresta adentro, efetivando a ocupação da terra com o cultivo de arroz, milho, feijão e cacau, diferentemente da prática agrícola tradicionalmente organizada pelos povos indígenas e pela população local.
Mapa da produção agropecuária no Brasil
  A partir da década de 1970, o Governo Federal, por meio do Incra (Instituo Nacional de Reforma Agrária), criou alguns programas de colonização e desenvolvimento regional, incentivando a ocupação territorial das regiões Centro-Oeste e Norte. Dentre eles, destaca-se o Programa de Integração Nacional (PIN), que se caracterizou pela abertura de grandes rodovias e pela instalação de agrovilas em meio à Floresta Amazônica. O fracasso do modelo veio à tona, pois as famílias não foram assentadas em áreas que dispusessem de infraestrutura de energia, transportes e serviços públicos de educação e saúde. Além disso, os locais não ofereciam condições de comercialização viável da produção.
Tratores fazem terraplenagem em trechos da Transamazônica na década de 1970
  Ao longo do tempo, os projetos de colonização e, mais tarde, os grandes latifúndios agropecuários, ligados a empresas que cultivam soja e introduzem pastagens, desmataram extensas áreas do Domínio Amazônico e do Cerrado. O resultado foi um grande impacto ambiental, com a perda de recursos vegetais e animais originalmente presentes nesses domínios naturais.
Mapa dos animais ameaçados de extinção no Brasil
  Nas áreas de floresta, a ocupação agropecuária tem provocado a deterioração do solo, em virtude das constantes queimadas para a retirada da vegetação. Com as frequentes chuvas, características do clima equatorial, ocorre a perda de nutrientes no solo. Assim, as terras ficam inférteis e inadequadas para a prática de atividades agropecuárias após uma década de uso.
  A degradação ambiental provocada por práticas agropecuárias inadequadas  em áreas do Domínio Amazônico tem agravado as condições de vida da população residente na região.
  Contribuem para agravar os problemas sociais e ambientais na região a dificuldade de obter meios de transporte e comunicação e a precária condição de vida nas cidades por causa da má qualidade dos serviços urbanos, como educação, tratamento de esgoto e moradia.
Imagem de satélite mostrando queimadas e desmatamento em Rondônia
  No Domínio do Cerrado, as monoculturas extensivas, intensamente mecanizadas, empregam a técnica de nivelamento do solo. O nivelamento facilita o trabalho de semear a terra com as máquinas.
  Essa prática agrícola de preparo do solo com o nivelamento faz com que as chuvas no verão atinjam a superfície com mais intensidade, provocando perda maior de nutrientes e sedimentos. Assim, o solo fica mais sujeito à erosão, além de aumentar o assoreamento dos rios, uma vez que grande quantidade de sedimentos é transportada pela água das chuvas para os leitos dos rios.
Mapa do desmatamento no Cerrado
FONTE: Giardino, Cláudio. Geografia nos dias de hoje, 7° ano / Cláudio Giardino, Lígia Ortega, Rosaly Braga Chianca. - 1. ed. - São Paulo: Leya, 2012.- (Coleção nos dias de hoje)

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O ISLAMISMO

  A construção de um Estado árabe ocorreu juntamente com a criação do islã ou islamismo, religião monoteísta fundada por Maomé (570-632). Os seguidores do islamismo são chamados de muçulmanos (do árabe muslim, que significa "entrega a Deus").
  Quando jovem, Maomé era um comerciante de Meca, como muitos outros árabes do seu tempo. Ele trabalhava em caravanas e, em suas viagens pela península, encontrava frequentemente pessoas que seguiam religiões monoteístas, como judeus e cristãos.
  Conhecendo bem sua comunidade e os costumes dos povos vizinhos, Maomé era um crítico das pessoas que só se preocupavam em acumular riquezas na Arábia daquela época.
Profeta Maomé recitando o Alcorão em Meca (gravura do século XV)
  Pela versão tradicional dos muçulmanos, um anjo (chamado Gabriel) apareceu a Maomé quando este, com idade de 40 anos, meditava nas proximidades de Meca. O anjo lhe teria dito que ele (Maomé) era um emissário de Alá (palavra árabe que significa "o Deus", ou seja, o único e verdadeiro Deus).
  Maomé iniciou, então, suas pregações religiosas. Ele dizia que as representações de divindades (os ídolos) existentes na Caaba deviam ser destruídas, porque Alá era o único Deus.
Gravura otomana retratando o momento da revelação pelo anjo Gabriel do Alcorão para o profeta Maomé
  Isso provocou a reação de sacerdotes, pois Maomé atacava as religiões representadas por eles, e comerciantes da cidade, porque esse ataque podia prejudicar seus negócios, já que as cerimônias politeístas atraíam muita gente a Meca, beneficiando o comércio.
  Por causa desse conflito, Maomé foi obrigado a deixar Meca em 622 e refugiar-se em Yatreb, que mais tarde passou a ser chamada de Medina, a "cidade do profeta". Esse episódio marca o início do calendário muçulmano e é conhecido como Hégira - palavra de origem árabe que significa fuga ou emigração.
Maomé nos braços da mãe, Amina, em miniatura turca
A FORMAÇÃO DA ARÁBIA ISLÂMICA
  Maomé, porém, não se rendeu. Ele e seus seguidores difundiram a nova religião em Medina, onde construíram a primeira mesquita de que se tem notícia. Também organizaram um exército composto de fiéis.
  Em 630, esse exército invadiu e conquistou Meca. Os ídolos da Caaba foram destruídos e ela foi transformada em um centro de orações, onde passou a ser proibido adorar os deuses antigos. Desde aquele momento até hoje, o único objeto sagrado mantido dentro do templo é a Pedra Preta, mas só Alá pode ser cultuado.
  A partir de então, o islamismo difundiu-se por toda a Arábia, e seus habitantes foram se unificando em torno da nova religião. Assim, por meio dessa identidade religiosa, criou-se uma nova organização política e social entre os árabes. Era o primeiro Estado muçulmano a ser formado.
Mesquita de Quba, a primeira mesquita construída por Maomé em sua chegada à Medina
FUNDAMENTOS DO ISLAMISMO
  A religião islâmica prega a submissão dos fiéis à vontade de Alá. Essa submissão é chamada de islã ou islão.
  Os fundamentos do islamismo encontram-se no Corão. Este apresenta Alá como criador do Universo, bom e justo, a quem as pessoas devem obedecer sem questionamentos. Mas elas também podem ignorar seus mandamentos e seguir o caminho do mal, induzidas por Satã (Iblis, o anjo caído).
  Segundo o Corão, a recompensa aos bons e o castigo aos maus virão no dia do Juízo Final, quando todos os mortos ressuscitarão e serão julgados pelo que fizeram em suas vidas. Os maus irão para o inferno e os bons para o paraíso, onde permanecerão por toda a eternidade.
Alcorão - livro sagrado do islamismo
  De acordo com os ensinamentos básicos do islamismo, todo fiel deve:
  • crer em Alá e em Maomé (o grande profeta);
  • fazer cinco orações diárias com o rosto voltado para Meca;
  • ser generoso com os pobres e fazer caridade;
  • ir em peregrinação à Meca pelo menos uma vez na vida;
  • cumprir o jejum religioso durante todos os dias de determinado mês do Ramadã. Esse jejum vai do nascer ao pôr do sol.
  O Corão também inclui normas jurídicas, morais e políticas que orientam a vida dos muçulmanos.  Por ele, os fiéis estão proibidos de comer carne de porco, consumir bebidas alcoólicas, praticar jogos de azar, entre outros. O roubo deve ser severamente punido.
Jabal al-Nour, em Meca - local onde Maomé teria recebido a primeira revelação de Deus.
  Com relação à escravidão, o Corão proibiu o muçulmano de escravizar outra pessoa da mesma religião. Assim, a partir do século VII, os escravos que se convertiam ao islamismo eram libertos. Isso criou uma rede de fraternidade entre os membros do islamismo.
  Mas a escravidão continuou a existir entre os árabes, pois estes passaram a escravizar não muçulmanos, como os negros da África ao sul do Saara. Além disso, os ex-escravos convertidos ao islamismo mantiveram-se em uma condição social inferior, subordinados aos seus antigos senhores.
A peregrinação (hajj) a Meca, é um dos cinco pilares do islamismo
SUNITAS E XIITAS
  Com a morte de Maomé, em 632, o Estado muçulmano passou a ser governado por califas. Isso provocou desacordos políticos e religiosos entre os muçulmanos, provocando uma divisão entre os islâmicos.
  Os principais grupos muçulmanos são os sunitas e os xiitas.
  • Sunitas - defendem que o chefe de Estado muçulmano (o califa) deve ser homem honrado e trabalhador e respeitar as leis. Além do Corão, aceitam como fonte de ensinamentos religiosos os atos e as palavras atribuídos a Maomé e seus companheiros. Esses atos e palavras foram transmitidos pela tradição (denominada Suna) e seu registro é chamado de hadic ou hadith.
  • Xiitas - defendem que o Estado muçulmano só pode ser chefiado por um descendente legítimo ou aparentado de Maomé. Acreditam que o Corão deve ser a única fonte sagrada da religião. Afirmam ainda que os chefes das comunidades  islâmicas (aiatolás) são inspirados diretamente por Alá, sendo que todos os fiéis devem obedecê-los.
  Atualmente, os xiitas vivem principalmente em países como o Irã, Iraque e o Iêmen. Nas outras regiões do mundo islâmico predominam os sunitas, que correspondem a aproximadamente  84% dos muçulmanos.
Nações que têm o islamismo como religião estatal:
  Islamismo (Sunita ou Xiita)
  Sunitas
  Xiitas
LUGARES SAGRADOS DOS MUÇULMANOS
  Além de Meca, que é o principal centro sagrado dos muçulmanos, outros lugares são considerados santos por eles, e que estão vinculados de alguma maneira a essa cidade.
  Um desses lugares é Jerusalém, que teria sido visitada pelo próprio Maomé graças a um milagre de Alá. De acordo com o islamismo, enquanto Maomé rezava na Caaba, ele teria sido transportado para Jerusalém pelo anjo Gabriel. Depois de pousarem num templo, teriam subido até o céu e encontrado os outros profetas: Adão, Jesus, Moisés e Abraão.
Miniatura persa que retrata a ascensão de Maomé ao céu
  Após a morte de Maomé, um califa quis marcar exatamente o lugar onde o profeta islâmico esteve em Jerusalém. Para isso, mandou construir o Domo ou Templo da Rocha, também conhecido como Mesquita de Omar.
  A crença no caráter sagrado do território de Jerusalém está presente também no judaísmo e no cristianismo. Essa semelhança entre essas três religiões, fez com que Jerusalém seja disputada por seus seguidores ao longo dos séculos, desde a Idade Média até os dias atuais.
Parte antiga de Jerusalém, com destaque para a Cúpula da Rocha e o Muro Ocidental
A EXPANSÃO ISLÂMICA
    Após o falecimento de Maomé, os árabes muçulmanos deram início a um processo de expansão que excedeu os limites da península Arábica. Sob a liderança dos califas, promoveram diversas guerras com outros povos, deixando de ser senhores apenas do território onde viviam.
  Entre os motivos que estimularam essa expansão, destacam-se:
  • o crescimento populacional;
  • a busca de terras férteis;
  • o interesse em ampliar o comércio;
  • a luta contra os que não seguiam o islamismo, a guerra santa (jihad) contra os "infiéis".
Al Masjid e Al-Haram, em Meca - considerado o maior centro de peregrinação do mundo
TERRITÓRIOS CONQUISTADOS
  Inicialmente, os exércitos muçulmanos guerrearam contra os habitantes do Império Bizantino e conquistaram a Síria, a Palestina, o Egito e outras regiões do norte da África.
  Em uma segunda etapa, dirigiram-se para o Oriente e dominaram a Pérsia, parte da Índia, da China e da Ásia Central. Avançaram, também, sobre a Europa, dominando quase toda a península Ibérica.
  Quando tentaram estender-se em direção ao Reino dos Francos, foram detidos pelos soldados comandados por Carlos Martel, na Batalha de Poitiers, em 732.
  Os invasores se mantiveram, porém, na península Ibérica, onde sustentaram uma dominação que durou cerca de 700 anos. Nesse período, muitos aspectos da cultura muçulmana foram transmitidos aos habitantes dessa região. O principal centro econômico, político e artístico era a cidade de Córdoba, onde viviam cerca de 200 mil pessoas durante o século X.
Mapa da expansão do islamismo
  Expansão até a morte de Maomé, 622-632

  Expansão durante o Califado Rashidun, 632-661

  Expansão durante o Califado Omíada, 661-750


AS ATIVIDADES ECONÔMICAS
  Os conquistadores árabes também desenvolveram inúmeras atividades econômicas nas diversas regiões ocupadas, implantando suas técnicas e conhecimentos.
  Uma delas referem-se às obras de irrigação, transformando terras estéreis e pobres em áreas produtivas. Desenvolvendo uma agricultura variada, cultivaram produtos adaptados ao clima de cada região, como trigo, algodão, arroz, linho, cana-de-açúcar, café, azeitona e diversos tipos de frutas (laranja, tâmara, banana, figo e damasco).
Tâmara - uma das frutas mais apreciadas pelos árabes
  Ao mesmo tempo em que ampliavam seus territórios e promoviam uma centralização política, os muçulmanos expandiram seus negócios, levando a um crescimento do comércio. Eles dominaram, durante muitos séculos, as rotas comerciais terrestres e marítimas que uniam territórios da Índia à Espanha, passando pelo norte da África e pelo mar Mediterrâneo.
  Comerciantes habilidosos, os árabes criaram diversos recursos usados até hoje na realização dos negócios: cheques, letras de câmbio, recibos e sociedades comerciais.
Porcentagem da população muçulmana por país
  Com o crescimento do comércio, desenvolveu-se também a produção artesanal. O artesanato é uma das principais mercadorias comercializadas pelos árabes. Várias cidades ou regiões dominadas pelos muçulmanos destacaram-se pela criação de distintos produtos, como:
  • Bagdá - onde os artesãos faziam joias, vidros, cerâmicas e sedas;
  • Damasco -  onde se fabricavam armas e ferramentas de metal, além de tecidos de seda e linho (um dos quais tomou emprestado o nome da cidade);
  • Toledo - onde se produziam espadas cobiçadas pelos cavaleiros medievais - inclusive os que lutariam nas Cruzadas contra os próprios muçulmanos.

Bagdá - capital do Iraque
OS CALIFADOS INDEPENDENTES
  Iniciado no século VII, a expansão muçulmana atingiu seu apogeu no século XI. No entanto, desde o século VIII o poder central já enfrentava crises internas nas várias áreas que tinham sido conquistadas.
  Uma das causas dessas crises eram as rivalidades entre os califas. Com o tempo, essas disputas levaram à divisão do Estado muçulmano, criado por Maomé e seus seguidores, em vários califados independentes, como o de Córdoba (Espanha) e o de Cairo (Egito). Isso aos poucos foi enfraquecendo o império muçulmano.
Córdoba - Espanha
O DECLÍNIO DO DOMÍNIO ISLÂMICO
  A Idade Média da civilização islâmica corresponde, mais especificamente, ao período entre os séculos XI e XIV, quando há um declínio no domínio islâmico.
  Nesse período, diversos povos nômades passaram a atacar áreas dominadas pelos seguidores do islamismo. Entre esses povos, destacaram-se:
  • os berberes - originários do deserto do Saara, conquistaram o norte da África;
  • os turcos - vindos da Ásia Central, controlaram áreas antes dominadas por bizantinos e árabes, como o Egito, a Mesopotâmia (atual Iraque), a Síria, a Palestina e a Ásia Menor, formando um império que sobreviveu até o século XX;
  • os mongóis - liderados por Genghis Khan, saquearam Bagdá (a principal cidade muçulmana desse período).
Genghis Khan
  Nessa época, também aconteceram reações dos povos conquistados contra a dominação muçulmana. Um desses exemplos ocorreu na península Ibérica, onde os cristãos se uniram para expulsar os muçulmanos, em um movimento que ficou conhecido como Reconquista.
  No século XIV, o mundo muçulmano também viveu uma crise semelhante à sofrida pelas populações da Europa cristã no mesmo período:
  • o poder político se fragmentou, formando-se vários Estados muçulmanos independentes e inimigos;
  • seus governantes se envolveram em guerras;
  • milhões de pessoas foram levadas à morte por epidemias, o que provocou uma diminuição da população do Oriente Médio e do norte da África.
  No entanto, apesar das perdas mencionadas, governantes muçulmanos ainda lideraram seus exércitos em novas conquistas em direção à Índia e sobre os territórios ocupados pelas populações negras do sul do Saara (África).
A Mesquita Azul, em Istambul - Turquia
FONTE: Cotrim, Gilberto, 1955 - Saber e fazer história, 6º ano / Gilberto Cotrim, Jaime Rodrigues. - 7. ed. - São Paulo: Saraiva, 2012.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

OS FLUXOS POPULACIONAIS NA GLOBALIZAÇÃO

  Os fluxos populacionais no mundo globalizado constituem-se de múltiplas formas de migração e revelam-se cada vez mais como uma característica marcante do processo de globalização.
  O fenômeno da migração é tão antigo quanto a própria humanidade, que sempre se deslocou para novos territórios, às vezes já ocupados por outros grupos. Cada vez mais pessoas têm migrado nas últimas décadas, ao mesmo tempo em que os fenômenos migratórios e a presença de migrantes entre as populações nativas tem sido marcantes em outros contextos. Uma delas tem sido a formação dos Estados nacionais no continente americano, principalmente entre os séculos XVIII e XIX. Ela contou com numerosas levas de imigrantes, sobretudo europeus e asiáticos, aos quais se somaram os africanos, trazidos à força do continente africano.
Chegada de imigrantes na Ellis Island, Nova York, em 1904.
  Os movimentos migratórios contemporâneos são fenômenos sociais amplamente discutidos e sua dinâmica global é um importante aspecto da atual fase da globalização.
  Os fluxos populacionais atuais contrastam com os ocorridos em outros períodos da história. Porém, não pela proporção de migrantes no conjunto das populações, ainda que sua quantidade absoluta seja cada vez maior. O principal contraste em relação a períodos anteriores da história são suas novas características, como: direção predominante, principais emissores e, especialmente, a forma contraditória como são tratados os imigrantes nos países de destino.
  Entre os séculos XIX e início do século XX predominou a migração de europeus para os outros continentes, mas, atualmente, ocorre o inverso: povos de todos os continentes migram em direção à Europa e à América do Norte, principalmente.
Correntes imigratórias até a metade do século XX
  Em ambos os casos, a principal motivação para o deslocamento é de ordem econômica. Trata-se de fluxos de trabalhadores em busca de melhores condições de vida e trabalho, tendo, geralmente, o sonho de um dia retornar ao seu país de origem. Assim, os fluxos de trabalhadores no mundo, em geral, caracterizaram importantes contribuições econômicas e culturais para outros países. No entanto, em países mais ricos, tem crescido a onda de discriminação e preconceito contra imigrantes de países pobres, expressa nas legislações cada vez mais restritiva a estrangeiros. Há também um número crescente de agressões e hostilidades de grupos locais contra famílias de trabalhadores imigrantes.
Fluxo migratório no final do século XX
  Tal reação é provocada pelo sentimento conhecido como xenofobia, caracterizado pela aversão a pessoas, crenças e modos de vida externos à sua comunidade. Esse problema está fortemente associado a um pensamento equivocado de que os imigrantes seriam “concorrentes” e, portanto, causadores de problemas, como o mercado de trabalho cada vez mais saturado nos países desenvolvidos, ameaçando a mão de obra local, aumentando o desemprego e pressionando os salários para níveis mais baixos.
  Os estudos desenvolvidos pela ONU contestam essa visão e contrapõem-se fortemente a ela, alegando que é ilegítima e repudiando atitudes de grupos xenófobos. Segundo os pesquisadores da organização, a presença de migrantes tende a enriquecer social, econômica e culturalmente os locais receptores, e os recentes problemas de desemprego nesses países têm outras causas, mais ligadas às questões demográficas de diminuição de mão de obra para determinados cargos e processos econômicos do mundo globalizado.
Imigrantes haitianos no Brasil
  Uma evidência contemporânea bastante contundente de que os fluxos populacionais de países subdesenvolvidos não devem ser vistos simplesmente como problemas para a população dos países ricos é a recepção diferenciada dada a turistas e trabalhadores qualificados, provenientes de países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Esses trabalhadores, compondo o fenômeno conhecido como “fuga de cérebros”, deixam seu país de origem, também, em busca de oportunidades mais promissoras de trabalho.
  Nesse sentido, são conhecidos os numerosos casos de chineses e indianos altamente qualificados, geralmente em áreas ligadas à informática, trabalhando ou especializando-se em universidades norte-americanas ou em outras universidades de renome internacional. Até mesmo atletas sul-americanos, levados por universidades e às vezes naturalizados em países da Europa ou nos Estados Unidos, são, por vezes, considerados mão de obra altamente valorizada. Em geral, os países de origem desses profissionais sofrem com esses fluxos de indivíduos, já que são muito importantes para o seu desenvolvimento. No entanto, os países desenvolvidos que recebem esses jovens profissionais são beneficiados por seus talentos.
Membros da comunidade paquistanesa em protesto em Atenas, Grécia
  Outra tendência significativa em relação aos fluxos populacionais atuais é a intensificação da chamada migração Sul-Sul. Esse tipo de migração representa uma parcela cada vez maior das migrações mundiais, sendo composta de trabalhadores oriundos de países subdesenvolvidos que vão para países emergentes, com grau de desenvolvimento e industrialização mais elevado. Um desses exemplos, é a vinda de trabalhadores bolivianos, principalmente para a cidade de São Paulo ou o fluxo de países da África Subsaariana, como Zimbábue, Botsuana, Zâmbia, Angola e Moçambique para a África do Sul.
Imigrantes africanos tentando entrar na Europa
FONTE: Torrezani, Neiva Camargo. Vontade de saber geografia: 9° ano / Neiva Camargo Torrezani. – 1. ed. – São Paulo: FTD, 2012.

terça-feira, 18 de junho de 2013

ÁFRICA: DOS REINOS AUTÔNOMOS À COLONIZAÇÃO ÁRABE E EUROPEIA

  Antes da chegada de forasteiros, as terras africanas eram ocupadas por povos que chegaram a organizar alguns reinos. O Egito, considerado o berço da civilização, foi o mais desenvolvido entre eles. Existem indícios de que o povoamento na área começou em 10.000 a.C., mas os registros arqueológicos confirmam a presença humana na região pelo menos 4.000 anos a.C.
  Os egípcios se estabeleceram e se organizaram junto ao Rio Nilo e aprenderam a conviver com as cheias sazonais do rio para praticar a agricultura. Também aprenderam a explorar metais, como o ouro e o cobre. As pirâmides marcam até hoje a paisagem egípcia.
Pirâmides de Gizé, no Egito
  Além do Egito, outros reinos ganharam destaque, como o de Cuche, que acabou dominado pelos egípcios. Esse reino ficava na Núbia, faixa que se estendia do Nilo até as terras que atualmente pertencem ao Sudão.
  No oeste do continente, Gana foi um poderoso império que se estabeleceu nas terras que hoje pertencem à Mauritânia e ao Mali. Posteriormente, as terras que pertenciam a Gana foram conquistadas pelo Mali, outro império de destaque, que se estendeu seus domínios até o litoral oeste.
Em verde o império de Gana
  A organização dos povos africanos em reinos não impediu a sua dominação por invasores. Um dos primeiros invasores foi Alexandre, o Grande, rei da Macedônia aos 18 anos de idade. Com grande habilidade militar, ele conquistou várias áreas da África para o domínio grego, entre elas, as terras do antigo império egípcio, em 332 a.C. Na passagem pelo Egito, fundou Alexandria, que existe até hoje e que no passado teve papel fundamental para o comércio no Mediterrâneo.
Império de Alexandre, o Grande
  Em 44 a.C. os romanos chegaram ao continente e conquistaram as terras ao norte da África, até então de domínio grego. A presença romana não teve a mesma repercussão atingida em outras partes do mundo, como na Europa. Na África, os romanos estavam preocupados em manter a posse das terras para manter o controle sobre o Mediterrâneo. Um dos objetivos foi conquistar Cartago, importante polo comercial e portuário, cuja população era muito influenciada pelos egípcios. Depois de três guerras, chamadas Guerras Púnicas, os romanos conseguiram derrotar os cartagineses em 149 a.C.
  As Guerras Púnicas consistiram numa série de três conflitos que opuseram a República Romana e a República de Cartago, Cidade-Estado fenícia, no período de 264 a.C a 146 a.C. Depois de quase um século de lutas, ao fim das Guerras Púnicas, Cartago foi totalmente destruída e Roma passou a dominar o mar Mediterrâneo.
Mapa das Guerras Púnicas
  A partir de 670 d.C., os árabes passaram a controlar as terras que os romanos dominaram e, aos poucos, converteram os povos dessa área africana ao islamismo. A influência árabe pode ser observada até hoje no norte da África.
  Para os povos árabes, essa conquista foi estratégica, pois facilitou a penetração no sul da Espanha e a dominação da Andalúzia, por volta de 711 d.C. Além disso, a partir de Cartago, esses povos se deslocaram para as ilhas da Sicília e depois para a Sardenha, atualmente território da Itália.
  Outros povos voltaram a cobiçar as terras e as riquezas africanas a partir do século XV. Entre os europeus, os primeiros foram os portugueses, exímios navegadores da época, que aportaram suas caravelas em vários pontos da costa africana. Eles instalaram algumas bases comerciais e de exploração dos recursos naturais tanto na costa leste, quanto, principalmente, na costa oeste.
Grandes Navegações
  Os principais objetivos dos portugueses eram: retirar marfim e ouro e capturar pessoas para escravizar. O marfim era muito apreciado na época, pois era usado para confeccionar teclas de piano e bolsas de bilhar. Estudos indicam que, no século XVI, cerca de 2.000 africanos foram escravizados e levados à força para outras regiões. A partir de 1680 já chegavam a cerca de 10 mil africanos escravizados por ano.
Tráfico negreiro
FONTE: Ribeiro, Wagner Costa. Por dentro da geografia, 8º ano: mundo / Wagner costa Ribeiro. 1. ed. - São Paulo: Saraiva, 2012.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

A POLUIÇÃO DOS OCEANOS

  Quase metade das águas oceânicas está seriamente prejudicada pela sobrepesca, pela poluição e pelas mudanças climáticas, segundo um grande estudo sobre o impacto das atividades humanas na vida marinha. Atualmente, 40% dos oceanos estão com suas águas significativamente alteradas e apenas 4% ainda permanecem em estado original.
  A degradação dos oceanos é especialmente dramática, uma vez que, as algas oceânicas produzem grande parte do oxigênio presente na atmosfera. Além disso, os oceanos recompõem os estoques  de água doce por meio do ciclo da água.
Mapa do impacto no homem nos oceanos
  O ciclo da água ou ciclo hidrológico, como é mais conhecido, refere-se à troca contínua de água na hidrosfera, entre a atmosfera, a água dos solos, águas superficiais, subterrâneas e das plantas.
  A água se move perpetuamente através de cada uma destas regiões no ciclo da água, constituindo em vários processos:
  • evaporação dos oceanos e outros corpos d'água (rios, lagos e lagunas) no ar e a evapotranspiração das plantas terrestres e animais para o ar. Ao evaporarem, as águas oceânicas formam nuvens de chuva que são levadas pelos ventos para os continentes e abastecem os rios;
  • precipitação, pela condensação do vapor de água do ar e caindo diretamente na terra ou no mar;
  • escoamento superficial sobre a terra, que geralmente atingem o mar.
  A maior parte do vapor de água sobre os oceanos retorna ao mar, mas os ventos transportam o vapor de água para a terra com a mesma taxa de escoamento para o mar.
Esquema do ciclo da água
  Na costa norte-americana do Golfo do México, é enorme a quantidade de fertilizantes dissolvidos na água. Esses agrotóxicos são provenientes dos cinturões agrícolas existentes na parte central dos Estados Unidos, e são transportados pelo rio Mississipi juntamente com resíduos de agrotóxicos que praticamente eliminam o oxigênio da água. A inexistência de uma política mundial para controlar o lançamento de dejetos no mar agrava essa destruição. Muitos produtos químicos e metais pesados, como o mercúrio, são encontrados em peixes, como o salmão, o cação e o arenque. No Golfo do México há uma área  que ficou conhecida como "Zona Morta do Golfo do México".
Bacia do Mississipi-Missouri e zona morta no Golfo do México
  A zona morta é uma área do Golfo do México, é uma área submarina com pouco ou nenhum oxigênio. O bolsão, conhecido pelos especialistas como zona hipóxica do norte do Golfo do México possui atualmente entre 17 mil a 20 mil quilômetros quadrados.
  A zona morta é resultado, via Mississipi, do fluxo de nitrogênio (na forma de nitrato) de compostos usados na atividade agrícola. Os nutrientes estimulam a multiplicação exagerada de algas. As algas afundam, se decompõem e consomem nesse processo grande parte do fornecimento de oxigênio, indispensável para a sobrevivência de vários organismos marinhos.
  Com o vazamento da plataforma de petróleo da British Petroleum, em 2010, o óleo ampliou a dimensão da zona hipóxica por meio da quebra do nível microbial do óleo, processo que consome oxigênio.
Água poluída do golfo do México em decorrência do vazamento de petróleo da plataforma da British Petroleum
  Outra grave fonte de poluição dos mares é o derramamento de petróleo. Todos os oceanos do planeta sofrem com esse problema, resultante do descaso internacional em relação à fiscalização dos navios.
  A pesca predatória também é responsável por muita destruição. Essa atividade, que atende às transnacionais produtoras de alimentos, não respeita o período de reprodução da vida marinha.
  Calcula-se que 90% das espécies de peixes que abastecem as indústrias alimentícias estão ameaçadas de extinção imediata em razão da pesca predatória.
  Além disso, imobiliárias têm promovido loteamentos de alto padrão até em manguezais, que são os principais "berçários" de inúmeras espécies marinhas. A destruição dos manguezais e a construção de habitações alteram o equilíbrio ambiental e comprometem a sobrevivência das espécies que aí se reproduzem.
Construções em áreas de mangue - uma grande ameaça a esse ecossistema
FONTE: Tamdjian, James Onnig. Estudos de geografia: o espaço do mundo II, 9° ano / James Onnig Tamdjian, Ivan Lazzari Mendes. - São Paulo: FTD, 2012.

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