domingo, 24 de junho de 2012

AS CIDADES NA ECONOMIA GLOBAL

  No século XVI, a viagem da esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral demorou 43 dias para cruzar o Oceano Atlântico desde Lisboa até o litoral brasileiro, onde hoje está Porto Seguro (BA). Atualmente, de avião o mesmo percurso é feito em menos de 10 horas. A famosa carta de Pero Vaz de Caminha, que descrevia suas impressões sobre a nova terra, teve de fazer a travessia do oceano, a bordo de um navio que retornou à Europa, até chegar às mãos do rei de Portugal.
Porto Seguro - local onde a esquadra de Cabral atracou em 1500
  Podemos dizer que durante longo período da história humana a informação circulava à mesma velocidade das pessoas e das mercadorias, ou seja, a comunicação dependia dos meios de transporte e só começou a se separar deles a partir da invenção do telégrafo, no século XIX. Hoje, o avanço tecnológico, além de acelerar todas as modalidades de circulação, diferenciou definitivamente o tempo necessário ao transporte da informação (veiculada, por exemplo, na forma de bits) do tempo do transporte da matéria. Atualmente, as informações viajam praticamente à velocidade da luz. Se fosse hoje, Caminha enviaria sua carta por e-mail ou fax. Ela chegaria ao destino quase que imediatamente ou, como se diz, em "tempo real".
  Avanços tecnológicos como estes são a base da globalização, que, por sua vez, tem favorecido a dispersão da produção pelos lugares que oferecem maiores possibilidades de lucros às empresas e maior integração dos mercados, das finanças e das bolsas de valores. Tudo isso contribui para a expansão da infraestrutura urbana e da rede global de cidades, assim como para reforçar o papel de comando de algumas delas na fase histórica atual.
  A desconcentração das indústrias, que rumam para cidades médias, pequenas e até mesmo para a zona rural, ao contrário dos que muitos pensam tem contribuído para reforçar o papel de comando de muitas das grandes cidades, e mesmo de algumas médias. Essas cidades comandantes são importantes centros de serviços especializados e de apoio à produção - universidades e centros de pesquisa, escritório de advocacia e contabilidade, agências de publicidade e marketing, bancos e bolsas de valores, hotéis e centros de eventos e exposições etc. Um dos exemplos mais ilustrativos é São Paulo, que se consolidou como o principal centro de serviços e de negócios, não só do Brasil, mas da América do Sul.
São Paulo - SP
  As cidades globais, são os nós da rede urbana mundial. Nesse contexto da globalização, aparecem também as megacidades. De acordo com a ONU, as megacidades são aglomerações urbanas (regiões metropolitanas) com mais de 10 milhões de habitantes. Assim, as cidades globais, uma definição qualitativa, não coincidem necessariamente com as megacidades, definidas por um critério quantitativo. Por exemplo, de acordo com a publicação Urban agglomerations 2007 (ONU), Zurique, na Suíça, que tinha naquele ano 1,1 milhão de habitantes, não é uma megacidade, mas é uma cidade global pelo papel de comando que desempenha na rede urbana mundial. É sede de importantes empresas, oferece variados serviços globais - financeiros, administrativos, turísticos etc. - e apresenta densa infraestrutura de transportes e telecomunicações conectando-a aos fluxos globalizados. Há poucas pessoas marginalizadas e desconectadas nessa cidade.
Zurique - Suíça
  Segundo o mesmo documento, a região metropolitana de Daca, em Bangladesh, tinha 13,5 milhões de habitantes em 2007, sendo classificada como megacidade; porém, não é uma cidade global, devido à limitação de sua infraestrutura e à sua reduzida oferta de serviços globais. Além disso, uma grande parcela da população de Daca está marginalizada, desconectada dos fluxos globais.
Rua de Daca - Bangladesh
  Ainda que, segundo a ONU, somente 9% da população urbana mundial viviam em megacidades em 2007, elas estão crescendo e ganhando importância, sobretudo nos países em desenvolvimento. Das 19 megacidades existentes no mundo, 15 estão em países pobres ou emergentes. A maioria delas apresentam elevado crescimento populacional, com destaque para Daca (Bangladesh), Karachi (Paquistão) e as três cidades indianas (Mumbai, Délhi e Calcutá). Comparando a evolução delas com a das metrópoles dos países desenvolvidos, notamos que, embora Tóquio deva permanecer como a maior aglomeração urbana por alguns anos, seu crescimento será um dos mais baixos do período 2007-2025, e as outras cidades dos países ricos também crescerão muito pouco. Segundo projeções da ONU, em 2025 haverá 27 megacidades, das quais 22 em países em desenvolvimento. Excetuando Tóquio, as outras cidades dos países desenvolvidos que aparecem na lista têm perdido posições. Em 2025 a segunda maior cidade do mundo será Mumbai, na Índia, e Nova York cairá para a sétima posição.
 
  Segundo classificação desenvolvida pelo Globallization and World Cities (GaWC), rede de pesquisas da globalização e das cidades globais sediada no Departamento de Geografia da Universidade de Loughborough (Reino Unido), em 2010 havia 147 cidades globais. Essa pesquisa classificou-as em três níveis (alfa, beta e gama), com seus subníveis de acordo com a densidade e a qualidade de sua infraestrutura, a oferta de bens e serviços e, consequentemente, a capacidade de polarização de cada uma delas sobre os fluxos regionais e mundiais.
Mapa das cidades globais
CIDADES GLOBAIS ALFA
 São as cidades de maior influência do planeta. Divide-se em: Alfa++, Alfa +, Alfa e Alfa -.
Alfa ++
  São as cidades mais influentes, que mais polarizam os fluxos de pessoas, investimentos, informações etc. e que comandam o processo de globalização. São três as cidades classificadas nesse grau: Nova York (Estados Unidos), Londres (Reino Unido Inglaterra) e Tóquio (Japão).
Nova York - cidade global Alfa ++
Alfa +
  Também possuem alto grau de integração, porém, complementares às três primeiras. São sete cidades que compõem esse grupo: Chicago (Estados Unidos), Dubai (Emirados Árabes Unidos), Hong Kong e Xangai (China), Paris (França), Singapura (Singapura) e Sydney (Austrália).
Dubai - cidade global Alfa +
Alfa
  São cidades fortemente conectadas, mas num patamar inferior às anteriores. Essa classificação engloba 17 cidades, que são: Amsterdã (Países Baixos), Los Angeles, São Francisco e Washington D.C. (Estados Unidos), Pequim (China), Bruxelas (Bélgica), Buenos Aires (Argentina), Frankfurt (Alemanha), Kuala Lumpur (Malásia), Madri (Espanha), Cidade do México (México), Milão (Itália), Moscou (Rússia), Mumbai (Índia), São Paulo (Brasil), Seul (Coreia do Sul) e Toronto (Canadá).
Kuala Lumpur - cidade global Alfa
Alfa -
  São cidades que possuem em seu território, uma moderna infraestrutura que as conecta aos fluxos globais. Vinte cidades compreendem a esse grupo, que são: Atlanta, Boston, Dallas, Miami e Filadélfia (Estados Unidos), Bangkok (Tailândia), Barcelona (Espanha), Dublin (Irlanda), Istambul (Turquia), Jacarta (Indonésia), Joanesburgo (África do Sul), Lisboa (Portugal), Melbourne (Austrália), Munique (Alemanha), Nova Délhi (Índia), Santiago (Chile), Taipei (Taiwan), Viena (Áustria), Varsóvia (Polônia) e Zurique (Suíça).
Viena - cidade global Alfa -
CIDADES GLOBAIS BETA
  São cidades que possuem influência bem menores que as Alfa, porém dispõem de serviços globais diversificados. Dividem-se em três categorias: Beta +, Beta e Beta -.
Beta +
  São 16 cidades que integram esse grupo, que são: Atenas (Grécia), Bangalore (Índia), Berlim, Düsseldorf e Hamburgo (Alemanha), Bogotá (Colômbia), Cairo (Egito), Copenhagen (Dinamarca), Houston (Estados Unidos), Manila (Filipinas), Montreal e Vancouver (Canadá), Praga (República Tcheca), Roma (Itália), Estocolmo (Suécia) e Tel Aviv (Israel).
Praga - cidade global Beta +
Beta
  Dezenove cidades compõem esse grupo, que são: Auckland (Nova Zelândia), Beirute (Líbano), Bucareste (Romênia), Budapeste (Hungria), Cidade do Cabo (África do Sul), Caracas (Venezuela), Chennai (Índia), Cantão (China), Cidade de Ho Chi Minh (Vietnã), Carachi (Paquistão), Kiev (Ucrânia), Lima (Peru), Luxemburgo (Luxemburgo), Manchester (Reino Unido - Inglaterra), Mineápolis e Seattle (Estados Unidos), Montevidéu (Uruguai), Oslo (Noruega) e Riad (Arábia Saudita).
Riad - cidade global Beta
Beta -
  Nesse grupo, fazem parte 29 cidades, que são: Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), Birmingham (Reino Unido - Inglaterra), Bratislava (Eslováquia), Brisbane e Perth (Austrália), Calcutá (Índia), Calgary (Canadá), Casablanca (Marrocos), Cleveland, Denver, Detroit, San Diego e St. Louis (Estados Unidos), Colônia e Stuttgart (Alemanha), Genebra (Suíça), Cidade da Guatemala (Guatemala), Helsinque (Finlândia), Lagos (Nigéria), Manama (Barein), Monterrey (México), Nicósia (Chipre), Osaka (Japão), Cidade do Panamá (Panamá), Port Louís (Maurício), Rio de Janeiro (Brasil), San Juan (Porto Rico), Shenzhen (China) e Sófia (Bulgária).
Lagos - cidade global Beta -
CIDADES GLOBAIS GAMA
  São cidades cujos fluxos de ofertas e serviços são bem menores em comparação com os dois primeiros. Divide-se em Gama +, Gama e Gama -.
Gama +
  Vinte e três cidades fazem parte dessa classificação, que são: Adelaide (Austrália), Amã (Jordânia), Antuérpia (Bélgica), Baltimore, Charlotte, Cincinnati, Portland e San José (Estados Unidos), Belgrado (Sérvia), Bristol (Reino Unido - Inglaterra), Doha (Qatar), Edimburgo e Glasgow (Reino Unido - Escócia), Hanói (Vietnã), Hyderabad (Índia), Jidá (Arábia Saudita), Cidade do Kuwait (Kuwait), Lahore (Paquistão), Nairóbi (Quênia), Riga (Letônia), San José (Costa Rica), Tunis (Tunísia) e Zagreb (Croácia).
Zagreb - cidade global Gama +
Gama
  Dezoito cidades compõem essa classificação, que são: Almaty (Cazaquistão), Columbus, Indianápolis, Kansas City, Phoenix, Pittsburgh e Tampa (Estados Unidos), Leeds (Reino Unido - Inglaterra), Edmonton (Canadá), Guadalajara (México), Lyon (França), Quito (Equador), Roterdã (Países Baixos), San Salvador (El Salvador), Santo Domingo (República Dominicana), São Petersburgo (Rússia), Valência (Espanha) e Vilnius (Lituânia).
San Salvador - cidade global Gama
Gama -
  Vinte e seis cidades fazem parte dessa classificação, que são: Acra (Gana), Austin, Milwaukee, Orlando e Richmond (Estados Unidos), Belfast (Reino Unido - Irlanda do Norte), Colombo (Sri Lanka), Curitiba e Porto Alegre (Brasil), Durban (África do Sul), George Town (Ilhas Cayman), Gotemburgo (Suécia), Guayaquil (Equador), Islamabad (Paquistão), Ljubljana (Eslovênia), Marselha (França), Mascate (Omã), Nagoya (Japão), Ottawa (Canadá), Porto (Portugal), Pune (Índia), Southampton (Reino Unido - Inglaterra), Tallinn (Estônia), Tegucigalpa (Honduras), Turim (Itália) e Wellington (Nova Zelândia).
Ljubljana - cidade global Gama -
  O que limita o acesso aos bens e serviços é especialmente a disponibilidade desigual de renda, embora algumas pessoas possam restringir seu consumo por  consciência ecológica. No capitalismo, os investimentos são concentrados em certos lugares e voltados para os setores econômicos e sociais nos quais o lucro é maior. Assim, se não forem realizados investimentos para garantir o desenvolvimento de todos os lugares, as pessoas mais pobres tendem a permanecer marginalizadas.
Favela de Dharavi, no centro financeiro de Mumbai - Índia
  Em 2008, a revista estadunidense Foreign Policy, em conjunto com a empresa de consultoria A. T. Kearney e pelo Conselho de Chicago sobre Assuntos Globais, publicou um ranking de cidades globais, com base em entrevistas com Saskia Sassen, Witold Rybczynski e outros. A Foreign Policy observou que "as maiores e mais interconectadas cidades do mundo ajudam a definir as agendas globais, perigo para transnacionais e servem como hubs (concentração de aparelhos para informática) de integração global. Elas são os motores de crescimento para seus países e os portais para os recursos de suas regiões.
  Em 2010, o índice foi atualizado. As únicas cidades lusófonas e brasileiras a aparecer no ranking foram São Paulo e Rio de Janeiro, nas posições 35ª e 49ª, respectivamente. As trinta primeiras cidades do ranking foram:
Posição                         Cidade                             Pontuação
1 Nova York (EUA) 6.22
2 Londres (Inglaterra) 5.86
3 Tóquio (Japão) 5.42
4 Paris (França 5.35
5 Hong Kong (China) 4.14
6 Chicago (EUA) 3.94
7 Los Angeles (EUA) 3.90
8 Singapura (Singapura) 3.45
9 Sydney (Austrália) 3.44
10 Seul (Coreia do Sul) 3.40
11 Bruxelas (Bélgica) 3.29
12 São Francisco (EUA) 3.26
13 Washington D. C. (EUA) 3.25
14 Toronto (Canadá) 3.13
15 Pequim (China) 3.12
16 Berlim (Alemanha) 3.03
17 Madri (Espanha) 3.02
18 Viena (Áustria) 2.96
19 Boston (EUA) 2.78
20 Frankfurt (Alemanha) 2.78
20 Xangai (China) 2.78
22 Buenos Aires (Argentina) 2.73
23 Estocolmo (Suécia) 2.71
24 Zurique (Suíça) 2.68
25 Moscou (Rússia) 2.61
26 Barcelona (Espanha) 2.57
27 Dubai (Emirados Árabes Unidos) 2.56
28 Roma (Itália) 2.56
29 Amsterdã (Países Baixos) 2.54
30 Cidade do México (México) 2.41
 Estocolmo - capital da Suécia
FONTE: Sene, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil, volume 3: espaço geográfico e globalização: ensino médio / Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. - São Paulo: Scipione, 2010

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O MERCOSUL

  O Mercosul (Mercado Comum do Sul), constitui uma etapa importante nos esforços de integração econômica da América Latina, e começou a vigorar em 26 de março de 1991, após a assinatura do Tratado de Assunção para a formação de uma área de livre comércio entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Desde então, esses países passaram a eliminar, gradativamente, as barreiras alfandegárias cobradas sobre as mercadorias comercializadas entre eles, visando à implementação de uma zona de livre comércio.
  Pelo tratado, o mercado ficaria estabelecido em 31 de dezembro de 1994, implicando em:
  • livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os países, através, entre outros, da eliminação dos direitos alfandegários e restrições não-tarifárias à circulação de mercadorias e de qualquer outra medida de efeito equivalente;
  • estabelecimento de uma tarifa externa comum, a adoção de uma política externa comum em relação a terceiros Estados e a coordenação de posições em foros econômicos/comerciais regionais e internacionais;
  • a coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os Estados-Partes de comércio exterior, agrícola, industrial, fiscal, monetária, cambial e de capitais, de serviços, alfandegária, de transportes e comunicações e outras que se acordem, a fim de assegurar condições adequadas de concorrência entre os países-membros;
  • e o compromisso dos Estados-Partes de harmonizar suas legislações, nas áreas pertinentes, para lograr o fortalecimento do processo de integração.
Presidentes: Luis Alberto Lacalle (Uruguai), Carlos Menem (Argentina), Andres Rodriguez (Paraguai) e Fernando Collor de Melo (Brasil) assinam o Tratado de Assunção, em 1991
  Em 1995, o livre comércio entre esses países foi estabelecido para cerca de 90% das mercadorias que passaram a circular entre eles sem cobrança de tarifas comerciais. Alguns impostos, porém, ainda foram mantidos para produtos considerados de setores estratégicos, como o da informática.
  Os parceiros desse bloco adotam uma mesma TEC (Tarifa Externa Comum) sobre os produtos vindos de outros países. Assim, se um produto vier da Europa, dos Estados Unidos, da China ou de outros países, ele pagará o mesmo imposto para entrar em qualquer país do bloco.
  Bolívia, Chile, Peru, Colômbia e Equador participam do Mercosul como membros associados, ou seja, suas relações com os demais países do bloco restringem-se ao âmbito da zona de livre-comércio, não participando da união aduaneira nem das negociações que envolvem aspectos relacionados à criação do mercado comum.
ANTECEDENTES DO MERCOSUL
  Podem-se elencar antecedentes remotos e recentes do Mercosul. Os gerais são esforços globais de integração e cooperação entre os países latino-americanos, ocorridos sob a égide dos Tratados de Montevidéu de 1960 (Associação Latino-Americana de Livre Comércio - Alalc) e de 1980 (Associação Latino-Americana de Integração - Aladi), que veio substituir o primeiro. Este último acordo, que permanece inalterado, une Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Chile, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela no desejo comum de promover um processo convergente, que conduza ao estabelecimento de um mercado comum regional. Para tanto, previu-se como mecanismo básico a criação de uma zona de preferência tarifária regional, observando-se especialmente os interesses dos países de menor desenvolvimento relativo e estimulando-se a celebração de acordos bilaterais, pelos quais os países envolvidos poderiam aprofundar as concessões feitas globalmente, desde que se permitisse a adesão de outros Estados integrante da Aladi.
  Diversos problemas dificultaram que se atingisse a plena liberalização do comércio regional, particularmente os reflexos negativos que a conjuntura recessiva dos anos 80 tiveram no Continente, agravados pelo grave problema da dívida externa dos três países de maior desenvolvimento - Brasil, Argentina e México.
OBJETIVOS
  Busca uma integração mais competitiva das economias dos países-membros num mundo em que se consolidam grandes espaços econômicos e onde o progresso técnico se torna cada vez mais essencial para o êxito dos planos de investimento.
  Igualmente, pretende favorecer as economias de escala, reforçando as possibilidades de cada ano um dos países-membros com o incremento da produtividade, bem como estimular os fluxos de comércio com o resto do mundo, tornando mais atraente os investimentos na região.
  Promovendo-se tal esforço de abertura das economias, que deverá conduzir à integração global da América Latina, pretende-se, também, balizar as ações dos setores privados, que deverão ser os principais motores da integração.
  De acordo com o Tratado de Assunção, com a instituição do Mercosul, os Estados-Partes desejam promover o desenvolvimento científico e tecnológico, modernizando  suas economias para ampliar a oferta e qualidade dos bens e serviços disponíveis, a fim de melhorar as condições de vida de seus habitantes, o que se pretende alcançar igualmente pelo aproveitamento mais eficaz dos recursos disponíveis.
  A criação do Mercosul promoveu um desenvolvimento significativo do comércio entre os parceiros do bloco, saltando de quase 10 bilhões de dólares, no início do acordo, para cerca de 80 bilhões de dólares. Cerca de 27% de todas as exportações e 34% das importações dos países do Mercosul vêm do comércio realizado entre os próprios parceiros, sobretudo entre o Brasil e a Argentina, que possuem as principais economias e os maiores mercados consumidores do bloco.
  Em 2005, a Venezuela foi admitida como membro pleno, mas a efetivação da  da adesão, foi um processo longo e conturbado. Após a assinatura de seu Protocolo de adesão, em 2006, foram necessários três anos de espera até que os países-membros (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) o ratificassem.
  Durante este período, foram cogitadas razões tanto para sua adesão, como para sua exclusão. Porém, a aprovação da entrada da Venezuela no bloco está na dependência de aprovação do Congresso Nacional do Paraguai, pois os congressos nacionais do Brasil, Argentina e Uruguai já aprovaram a entrada do país no Mercosul.
  O grande motivo contrário à associação da Venezuela ao Mercosul era de caráter político, que supostamente iria de encontro aos pressupostos democráticos estabelecidos no Tratado de Assunção. Entretanto, as razões econômicas eram fortes o suficiente para que os argumentos contrários fossem, não ignorados, mas reconsiderados.
  A Venezuela representa um mercado importante para os produtos dos demais membros, particularmente para o Brasil. Parcerias entre os dois países no setor petrolífero são consideradas estratégias para ampliar a capacidade de produção, refino e transporte, tanto de petróleo como de gás. No entanto, a entrada da Venezuela no Mercosul era alvo de críticas de setores da sociedade brasileira, pois a ampliação de poderes por parte do presidente venezuelano Hugo Chávez e a possibilidade de reeleição ilimitada que obteve em 2009 eram entendidas como um risco à democracia.
Hugo Chávez - presidente da Venezuela
  Os países-membros do Mercosul representam cerca de 40% da população latino-americana e mais da metade de todo o valor produzido pela economia dessa parte do continente.  Ao longo da década passada, as relações comerciais entre os países-membros tiveram avanços, e alguns projetos de infraestrutura, como estradas, hidrovias e hidrelétricas, foram desenvolvidos, levando em conta o crescimento desse mercado.
Hidrovia Mercosul
  Alguns setores econômicos dos países que integram o bloco ficaram prejudicados com a concorrência externa, mas no início as trocas comerciais se intensificaram. Várias empresas brasileiras instalaram-se no Uruguai e, principalmente, na Argentina. Diversos produtos agropecuários e alimentícios uruguaios e, sobretudo, argentinos passaram a ser vendidos em maior quantidade no mercado brasileiro.
  O turismo foi outro setor que registrou forte crescimento entre os países do Mercosul, em parte devido à facilidade de trânsito, com a eliminação de visto de entrada para os cidadãos dos países-membros.
Buenos Aires - uma das cidades mais visitadas pelos turistas do Mercosul
MERCOSUL: IMPASSES E PERSPECTIVAS
  Apesar de a eliminação das barreiras alfandegárias ter estimulado o comércio entre os países do Mercosul, esse bloco econômico vem enfrentando um período de crises nos últimos anos. Essa situação tem gerado algumas dificuldades na integração mais efetiva entre os parceiros.
  De maneira geral, essas crises estão associadas às turbulências econômicas internas e externas que, muitas vezes, afetam os países do bloco, gerando consequências diretas sobre os demais parceiros. No plano externo, essas turbulências são provocadas pela política dos Estados Unidos, que tentam minar o fortalecimento do Mercosul para consolidar o projeto de criação de um único bloco em todo o continente, a Alca (Área de Livre Comércio das Américas). As turbulências internas ocorrem, principalmente, devido à fragilidade econômica desses países, decorrente do aumento dos déficits comerciais, do crescente endividamento externo e das pressões inflacionárias, da estagnação ou da recessão da economia.
Agricultura - um dos principais produtos do Uruguai
  Essa situação tem colocado em risco o próprio projeto de integração regional, pois os impasses criados por tais problemas emperram o avanço das negociações e os acordos necessários à construção efetiva do bloco. Isso ocorre, muitas vezes, porque o estabelecimento de certos acordos podem produzir repercussões positivas ou negativas na economia de cada parceiro.
  Os agricultores brasileiros, por exemplo, se queixam da acirrada concorrência com os produtores argentinos, que, por apresentarem maiores índices de produtividade, são mais competitivos. Por outro lado, os empresários argentinos sofrem diretamente os efeitos da concorrência com a indústria brasileira, que, por ser mais diversificada e avançada do ponto de vista tecnológico, consegue ser mais competitiva que as empresas argentinas.
Principais atividades econômicas da Argentina
A COMISSÃO PARLAMENTAR CONJUNTA DO MERCOSUL
  Inicialmente instalada em 6 de dezembro de 1991, em Montevidéu, Uruguai, a Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul encontra-se fundamentada juridicamente no art. 24 do Tratado de Assunção que determinava: "Com o objetivo de facilitar a implementação do Mercado Comum, estabelecer-se-á Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul. Os Poderes Executivos dos Estados-Partes manterão seus respectivos poderes legislativos informados sobre a evolução do Mercado Comum objeto do presente Tratado", e nos arts. 22 a 27  do Protocolo de Ouro Preto, firmado em 17 de novembro de 1994.
  No art. 8º do Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento, firmado entre Brasil e Argentina em 1988, já estava prevista a Comissão Parlamentar Conjunta de Integração, sendo pois a Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul, sucessora desta. O art. 82 já caracterizava-lhe o caráter consultivo, atribuía-lhe competência de emitir recomendações aos executores do Tratado, determinava também a composição e mandato de seus membros.
Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul
  A Comissão Parlamentar Conjunta é o órgão representativo dos Parlamentos dos Estados-Partes no âmbito do Mercosul. Compete-lhe, em obediência ao processo legislativo de cada Estado-Parte, incorporar ao Direito Positivo interno normas emanadas dos órgãos do Mercosul. Tem caráter consultivo e deliberativo, podendo ainda formular propostas. Suas atribuições serão, dentre outras:
  • acompanhar o processo de integração e manter os Congressos Nacionais informados;
  • tomar as medidas necessárias à futura instalação do Parlamento do Mercosul;
  • constituir subcomissões para análise dos temas relacionados ao processo de integração;
  • emitir recomendações ao Conselho do Mercado Comum e ao Grupo Mercado Comum sobre a condução do processo de integração e a formação do Mercosul;
  • realizar os estudos necessários à harmonização das legislações dos Estados-Partes e submetê-los aos Congressos Nacionais;
  • estabelecer relações com entidades privadas de cada um dos Estados-Partes, e com entidades e organismos internacionais de modo a obter informações e assessoramento especializado nos assuntos de seu interesse;
  • estabelecer relações de cooperação com os Parlamentos de outros Estados e com entidades envolvidas com assuntos pertinentes à integração regional;
  • subscrever acordos de cooperação e assistência técnica com organismos públicos e/ou privados, de caráter nacional, supranacional e internacional; e
  • deliberar sobre seu orçamento e fazer gestões junto aos Estados-Partes para a obtenção de outros financiamentos.
Cúpula do Mercosul no Uruguai em 2010
  A Comissão será composta por até 64 parlamentares, em efetivo exercício de seus mandatos, 16 por país, com igual número de suplentes, designados pelo Congresso Nacional do qual sejam membros, com um mandato de dois anos, no mínimo. Terão seus trabalhos coordenados por uma Mesa Diretiva, integrada de quatro Presidentes (um por país).
  Ordinariamente, duas vezes por ano e, extraordinariamente, mediante convocação de seus quatro presidentes, a Comissão se reunirá. As reuniões devem realizar-se no território de cada um dos Estados-Partes, denominada Reunião Quadripartite de maneira sucessiva e alternada. Os documentos emitidos pela Comissão são:
  • Declaração - emitida pela Comissão quando de assuntos sensíveis e relevantes nos quatro países;
  • Recomendação - documento emitido pela Comissão em sua Reunião Quadripartite, recomenda ao Conselho do Mercado Comum, sobre determinado assunto de interesses dos quatro países, de natureza política sensível;
  • Disposição - documento emitido quando da realização da Reunião Quadripartite, para tratar, regulamentar ou formalizar assuntos internos da Comissão.
Membros da Comissão Parlamentar do Mercosul
  As decisões da Comissão serão tomadas por consenso, pela votação dos integrantes dos Parlamentares de cada Estado-Parte.
  Ficou estabelecido que os idiomas oficiais da Comissão Parlamentar Conjunta são o português e o espanhol. A versão oficial dos documentos de trabalho será elaborada no idioma do país que sediar cada reunião, competindo às Secretarias Administrativas do Mercosul, porém, elaborá-los em espanhol e português.
HISTÓRICO
  Instituída em 17 de dezembro de 1994, através do Protocolo de Ouro Preto em seus arts. 22 a 27, teve o seu Regimento Interno aprovado pelo Congresso Nacional na forma do decreto Legislativo nº 49, de 1995.
  Através da Resolução nº 1, do Congresso Nacional de 1996, ficou inserido nos trabalhos do Parlamento Brasileiro a Representação do Congresso Nacional na Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul. A Representação brasileira tem caráter de Comissão Mista obedecendo os regimentos Internos das duas Casas, bem como o Regimento Comum.
  A Presidência Pró-Tempore da Comissão segue os prazos e datas dos mandatos do Conselho do Mercado Comum, ou seja, cada Estado-Parte tem a Presidência Pró-Tempore pelo período de seis meses, em caráter rotativo, obedecendo sempre a ordem alfabética. A Presidência Pró-Tempore finda-se sempre no final dos seis meses que o Estado-Parte está sediando, durante a Reunião Quadripartite, sediada pelo país que está em presidência Pró-Tempore.
  A Representação brasileira, teve suas presidências Pró-Tempore nos períodos de:
  • julho a dezembro de 1994;
  • julho a dezembro de 1996;
  • julho a dezembro de 1998.
Ouro Preto - MG. Cidade onde foi realizada a reunião que criou a Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul
FONTE:Pires, Valquíria. Projeto radix: geograia, 9° ano / Valquíria Pires, Beluce Belluci. -- São Paulo: Scipione, 2009. -- (Coleção projeto radix)

quinta-feira, 21 de junho de 2012

ACNUR ADVERTE NA RIO + 20 SOBRE VULNERABILIDADE DE MIGRANTES URBANOS


  O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e a Organização Internacional para Migrações (OIM) fizeram nesta quarta-feira, dia 20 de junho, um alerta sobre a vulnerabilidade de migrantes e refugiados que vivem nas cidades.
  Durante um painel na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio + 20), o Alto Comissário da ONU para Refugiados, Antônio Guterres, destacou que, atualmente, a maioria das pessoas que deixaram seus países por situações de conflito ou por motivos políticos, econômicos ou ambientais vai para as grandes cidades, onde se estabelece em áreas pobres e vive em situações de marginalidade.
  Guterres enfatizou a necessidade de esforços por parte das comunidades locais, além de ações nacionais conjuntas, para acolher da melhor forma possível os refugiados. "Temos de estar preparados para isso", declarou.
  Ao mencionar a Convenção da ONU de 1951 sobre o Estatuto dos Refugiados, o alto comissário reconheceu que existe uma lacuna no direito internacional sobre a proteção de pessoas que deixam seus lares para fugir de condições econômicas e ambientais adversas, pois o tratado de seis décadas atrás abrange apenas deslocados forçados.
  Por outro lado, Guterres manifestou apoio a esforços governamentais que buscam driblar essa lacuna para acolher essas pessoas, tal como fez o Brasil neste ano para ajudar haitianos que solicitavam refúgio no país. Como a convenção de 1951 não abrange deslocados não forçados, o governo Dilma Rousseff concedeu-lhes visto permanente "por razões humanitárias". "O Brasil fez o certo com os haitianos", declarou.
  "É importante que os Estados ouçam essa questão. Deve-se buscar formas de proteção internacional que permitam garantir os direitos, não necessariamente as mesmas da Convenção de 1951, e a dignidade daqueles que são forçados a se moverem por razões de natureza ambiental, social ou outras", declarou Guterres à Agência Efe.
  Ele disse duvidar da possibilidade de a comunidade internacional estabelecer uma nova convenção vinculante sobre o assunto que passe a considerar como refugiados as pessoas que se deslocam por motivos não relacionados a conflitos.
Antônio Guterres
  No mesmo evento, o diretor geral da OIM, William Swing, advertiu sobre os impactos dos altos índices de migrações pelo mundo e ressaltou que cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo - um sétimo da humanidade - se encontram atualmente em 'ação migratória', seja cruzando fronteiras ou dentro dos territórios nacionais.
  Para ele, é preciso que essas pessoas tenham acesso a serviços públicos, como saúde e educação, pois, caso contrário, as próprias sociedades terão problemas consequentes. Ele também defendeu que haja flexibilidade dos governos quanto às situações de múltipla nacionalidade.
  'As migrações vão continuar nas maiores cidades do mundo', previu Swing, que alertou ainda que cada vez mais mulheres e crianças compõem a população migratória global.
  Outro participante do painel, o chanceler de Bangladesh, Mohamed Mijarul Quayes, lembrou que as cidades estão crescendo e muitas vezes não dão conta dos novos habitantes que já migram em condições de vida dificultadas. Ele adverte que não são apenas os migrantes que sofrem com esses problemas, mas também seus descendentes, o que multiplica 'de forma incalculável' o número de pessoas afetadas.
FONTE: Agência Efe

RIO + 20: CIDADES SUSTENTÁVEIS E INOVAÇÕES

  A promoção do uso de dejetos como fonte de energia renovável e o planejamento antecipado da sustentabilidade e da qualidade de vida são as recomendações da sociedade para os Chefes de Estado. O desafio de aplicar conceitos sustentáveis a cidades com um ritmo cada vez mais acelerado de crescimento populacional pautou as discussões dos dez palestrantes do painel "Cidades Sustentáveis e Inovação". O tema marcou o encerramento do terceiro dia dos Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável, série de encontros com representantes da sociedade civil, comunidade acadêmica e científica e setor privado.
  O arquiteto chileno Alejandro Aravena defendeu a necessidade de simplificar o processo de ações de medidas sustentáveis. Aravena defendeu que, mais do que tecer estrategemas complexos, é preciso usar modelos exitosos como ponto de partida. "A complexidade é paralisante", argumentou o arquiteto. Entre esse modelo, está o de Masdar, uma pequena cidade em Abu-Dhabi, cujo modelo foi apresentado pela diretora de sustentabilidade Nawal Al-Hosany. Graças a um planejamento eficiente, a cidade conta com espaços comunitários e bom transporte público. Desde a implantação de inovações sustentáveis, como telhados de prédios que geram até um megawatt de energia, Masdar viu a demanda energética cair em mais de 50%. A temperatura também é dez graus abaixo do observado em cidades vizinhas.
Masdar - a primeira cidade 100% sustentável do mundo
  O arquiteto japonês Shigeru Ban e o americano Barry Bergdoll, curador-chefe de arquitetura designer do MOMA, falaram sobre o conceito de sustentabilidade aplicado a regiões que sofreram recentemente catástrofes naturais, como as que atingiram o Japão há um ano. Convocado pelo governo do país para construir estruturas temporárias para os desabrigados, Ban falou sobre o dilema entre o uso dessas estruturas e instalações permanentes. Sugeriu que houvesse cidades que se deslocassem pelo país. "Deveríamos fazer uma nova cidade, que fosse a capital do Japão, e mudá-la a cada quatro anos. Talvez essa seja a chave para a sustentabilidade: parar de construir", disse o arquiteto.
Tsunami que atingiu o Japão em 2011
  O canadense David Cadman, presidente do Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais Locais, lembrou que desastres naturais serão mais prováveis caso não haja mudanças drásticas nas grandes cidades: "Dois terços da população vivem hoje em áreas costeiras. Se não reduzirmos o ritmo das mudanças, climáticas, teremos grandes inundações em menos de 20 anos e, aí então, será muito difícil arranjar qualquer tipo de solução para as cidades".
É comum em dias de chuva ocorrer inundações na cidade de São Paulo
  Ligada a todas as questões de sustentabilidade nas grandes cidades, a mobilidade urbana também foi discutida na mesa-redonda. O ex-governador do Paraná Jaime Lerner, lembrou que 75% das emissões de carbono se originam nas cidades e que metade delas vem dos carros. "O carro é o cigarro da cidade", comparou. "O que já se investiu em bancos e na indústria automobilística daria para salvar todas as cidades do mundo, com qualidade de vida. Não é difícil ser sustentável se você usa pouco o carro, separa o lixo e mora perto do trabalho", afirmou Lerner.
Jaime Lerner - ex-governador do Paraná
  As grandes distâncias entre favelas e regiões centrais e os desgastantes deslocamentos de trabalhadores também receberam críticas do mexicano Enrique Ortiz, ex-presidente da Coalizão Internacional de Habitação. "As cidades viraram um paraíso de especulação imobiliária. Os pobres estão sendo enviados para muito longe. Teve cidades no México que cresceram até 30 vezes. Não podemos pensar numa cidade sustentável com esses parâmetros", afirmou Ortiz.
  A preocupação é compartilhada pelo senegalês Khalifa Sall, prefeito de Dakar, que destacou o intenso êxodo rural observado em regiões africanas, e pela americana Janice Perlman, presidente do Projeto Megacidades, que há 40 anos trabalha com favelas ao redor do mundo.
A proliferação de favelas foi um dos temas do Cidades Sustentáveis
  Presidente emérito do Instituto Ethos, o brasileiro Odebe Grejew lembrou que não basta apontar problemas e ter ideias, é preciso estabelecer metas, prazos e sanções para governos que descumpram compromissos estabelecidos. "Sem uma cobrança forte, nada será feito", afirmou Grejew. "Será muito frustrante se isso não der em nada".
  No fim do encontro, foram apresentadas as recomendações mais votadas pelo público online e pelos presentes da plenária. As escolhidas foram "A promoção do uso de dejetos como fonte de energia renovável em ambientes urbanos" e "O planejamento antecipado da sustentabilidade e da qualidade de vida nas cidades". Insatisfeitos com a pouca abrangência da lista de sugestões disponíveis, os palestrantes se dispuseram a fazer a redação de uma nova recomendação, que consolide os temas discutidos nesse diálogo.
Sobre os Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável
  Os Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável iniciaram-se no sábado, 16 de junho, e se encerraram na terça-feira, dia 19 de junho, na Plenária do Pavilhão 5 do Riocentro. Foram dez rodadas de discussão, com dez participantes em cada uma, que abordaram temas prioritários da agenda internacional de sustentabilidade. A cada rodada, três propostas foram escolhidas, uma pelos palestrantes, uma pelos participantes da sessão e uma pelos internautas. As trinta sugestões mais votadas serão levadas aos Chefes de Estado e de Governo durante o Segmento de Alto Nível na Conferência.
FONTE: www.rio20.gov.br

quarta-feira, 20 de junho de 2012

RIO + 20: DEBATE SOBRE OCEANOS ENCERRA OS DIÁLOGOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Última rodada de debates definiu três propostas sobre o tema, que serão apresentadas aos líderes mundiais
  O tema Oceanos reuniu dez debatedores, brasileiros e estrangeiros, entre acadêmicos, empresários e representantes de Organizações Não-Governamentais na última sessão dos Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável. Do encontro, saíram três recomendações que serão apresentadas aos Chefes de Estado e de Governo durante o Segmento de Alto Nível da Rio + 20, que se inicia dia 20 de junho. Lançar um acordo global para salvar a biodiversidade marina em alto-mar. Esta foi a proposta eleita pelos cerca de mil membros da sociedade civil presentes no Rio Centro. Evitar poluição dos oceanos pelo plástico por meio da educação e da colaboração comunitária foi a recomendação eleita pelas votações realizadas pela Internet, encerradas no dia 15 de junho. Os debatedores, por sua vez, decidiram unir duas recomendações das que vieram da plataforma online: desenvolver uma rede global de áreas marinhas protegidas internacionais; e a criação de mecanismos de governança global dos oceanos para preservar a biodiversidade e os recursos genéticos em um cenário de crescente nacionalização do ambiente marinho. A redação final será feita pelos organizadores.
  O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República do Brasil, Gilberto Carvalho, encerrou os Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável. "Nós podemos dizer, hoje, que a Rio + 20 é a maior conferência da história das Nações Unidas em termos de envolvimento popular. Este método de participação veio para ficar", afirmou Carvalho. Ele informou que, em média, cada sessão contou 1,3 mil votos do público.
Gilberto Carvalho
  O moderador Philippe Cousteau abriu a sessão com uma declaração que seu avô, Jacques Cousteau, fez há 20 anos, na Rio 92. "Destaco a importância das delegações redigirem decisões originais." Segundo Philippe, a participação da sociedade civil por meio dos Diálogos da Rio + 20 é a essência desta inovação. A falta de um entendimento internacional sobre a proteção dos oceanos foi o ponto mais destacado pelos debatedores convidados. Jean-Michel Cousteau ressaltou que 70% do planeta é água e 65% dos oceanos são  uma terra de ninguém, onde todos fazem o que querem. Cousteau ainda acrescentou que esta é a grande oportunidade da comunidade internacional criar uma regulamentação para os oceanos.
Philippe Cousteau
  "Na Eco-92, acreditava-se que os oceanos eram infinitos. Hoje, sabe-se muito bem que isso não é verdade,  e ainda não fizemos nada. Essa pode ser a nossa última chance.", enfatizou Sylvia Earle, fundadora da Fundação Mission Blue. A bióloga marinha da Western Austrália University, Asha de Vos, disse que a agenda dos oceanos é urgente. "Isso é imediato! Para amanhã, porque não temos mais 20 anos". Ela defende que a comunidade mundial se organize para atingir o objetivo que dissemina o conhecimento por meio das novas mídias disponíveis.
Sylvia Earle
  Grande defensor de que a reversão dos impactos ambientais reside na ciência e tecnologia, Segen Farid Estefen, professor da COPPE-UFRJ, ressaltou que os oceanos são uma enorme fonte de energia renovável. "A energia criada pelas ondas, marés e mudanças de temperatura da água excede a necessidade do mundo." Arthur Bogason, presidente da Associação Nacional de Proprietários de Pequenas Embarcações da Islândia, concorda e acrescenta que é preciso unir tecnologia com o conhecimento tradicional. "As pesquisas costais são as mais sustentáveis. Criam três vezes mais empregos, sem perda de lucro, e seus pequenos barcos consomem até 10 vezes menos combustível. Até a fabricação dessas embarcações é local."
  A pesca predatória e sem controle foi apontado pelos participantes como um dos grandes desafios para salvar o ecossistema dos oceanos. Margareth Nakato, representante do World Fishermen Forum, defendeu as pequenas comunidades pesqueiras que, segundo ela, são as mais vulneráveis às mudanças climáticas. "Para saber se os oceanos estão bem, precisamos ver se os peixes estão bem. Os peixes não vão bem.", disse Ussif Rashid Sumaila, diretor da Fisheries Centre e Fisheries Economics Research Unit da British Columbia University. Ele acrescentou que é uma ilusão o homem acreditar que pode produzir peixes em fazendas marítimas tão bem quanto a natureza.
  A poluição dos mares com os resíduos deixados pelos navios e os plásticos também é vista pelos especialistas como algo que precisa envolver governos e sociedade. "A total falta de governança sobre os oceanos impede que essas questões sejam tratadas com clareza. Precisamos investir na pesquisa sobre os reais impactos causados nos mares por essa poluição", disse o representante do Global Ocean Forum, Richard Delaney. Shaj Thayil, vice-presidente da Technical Services and Ship Management, apresentou números relevantes para discussão: 80% do lixo do mundo vai para o mar, uma garrafa plástica demora 450 anos para se decompor e os oceanos absorvem um terço das emissões de gás carbônico do mundo, ressaltando que isso leva a acidificação dos mares. "A acidificação tornará os oceanos irreconhecíveis.", reforçou Robin Mahon, professor da University of West Indies.
  "Nós não herdamos a Terra dos nossos antepassados. Nós só a pegamos emprestada das gerações futuras", encerrou Shaj Thayil, fazendo uso do provérbio indiano.
FONTE: www.rio20.gov.br

terça-feira, 19 de junho de 2012

PACTO DO DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO: PARCERIA ENTRE PAÍSES RICOS E POBRES

  "[...] O Relatório do Desenvolvimento Humano apresenta um novo plano de ação - o Pacto do Desenvolvimento do Milênio - para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Os Objetivos, confirmados por todos os Estados-membros das Nações Unidas, estabelecem uma série de metas [...] que vão desde a redução pela metade da percentagem de pessoas que vivem na pobreza extrema até a estagnação da propagação do HIV/aids até 2015.
  Entre outras constatações, o Relatório observa que a primeira destas metas globais - reduzir pela metade a percentagem de pessoas que vivem com menos de 1 dólar por dia - tem hipóteses de ser alcançada graças ao crescimento econômico que registram os dois países mais populosos do mundo, a China e a Índia. Nos últimos 10 anos, o dinamismo econômico da China levou a que 150 milhões de chineses conseguissem sair da pobreza. Quanto à Índia, registrou um crescimento per capita extraordinário: 4% ao ano entre 1990 e 2000.
Objetivos do Desenvolvimento do Milênio
  1. Erradicar a pobreza extrema e a fome.
  2. Alcançar o ensino básico universal.
  3. Promover a igualdade de gênero e a autonomia da mulher.
  4. Reduzir a mortalidade infantil.
  5. Melhorar a saúde materna.
  6. Combater o HIV/aids, malária e outras doenças.
  7. Garantir a sustentabilidade ambiental.
  8. Criar uma parceria global para o desenvolvimento.
  'A pobreza humana não é uma fatalidade' diz no Relatório a redatora-principal, Sakiko Fukuda-Parr. '[...] Durante as últimas três décadas, a expectativa de vida nos países pobres aumentou em oito anos e o analfabetismo foi reduzido pela metade.
  Contudo, apesar do progresso registrado em tantos países, o Relatório do Desenvolvimento Humano, apresenta dados que provam uma reversão sem precedentes no Índice de Desenvolvimento Humano em alguns países mais pobres do mundo. Mais de 1 bilhão de pessoas vivem ainda na pobreza extrema e, muitas delas, veem o seu nível de vida piorar cada vez mais. O Relatório é claro ao avisar que, para atingir os Objetivos até 2015, todos os países ricos e pobres, devem combater ferozmente este flagelo da pobreza extrema.
  'Não pedimos um cheque em branco', diz Mark Malloch Brown, Administrador do PNUD. 'Uma nova parceria já está em ação e essa parceria nos diz que a ajuda não tem um sentido único. Os países pobres têm de pôr em prática reformas que se destinam a países pobres e os países ricos têm de prestar uma ajuda mais efetiva.'
Relatório identifica países que necessitam de ação prioritária
  O Relatório do Desenvolvimento Humano, identifica 59 países prioritários onde, a menos que seja levada a cabo uma ação urgente, os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio não serão atingidos. [...]
  Muitos destes 59 países prioritários enfrentam problemas endêmicos relacionados com a situação geográfica ou outros fatores, os quais não foi dada a devida atenção em estratégias de desenvolvimento efetuadas no passado. [...]
  O quadro político no qual se inscrevem os esforços despendidos tendo em vista a realização dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio foi estabelecido por um novo acordo mundial, concluído em 2002, em Monterrey, no México, entre o Norte e o Sul. Os países ricos que participaram, comprometeram-se a remover as barreiras comerciais e a fornecer maior assistência, assim como uma significativa ajuda no que se refere ao alívio da dívida aos países em desenvolvimento que estejam a empreender reformas políticas e econômicas de envergadura.
O fim da pobreza é possível?
  Bastaria utilizar as tecnologias existentes e canalizar mais adequadamente os meios financeiros para resolver muitos dos problemas que uma grande parte do mundo em desenvolvimento enfrenta hoje - a reduzida fertilidade dos solos, o isolamento das rotas comerciais, a prevenção de doenças e o insuportável fardo da dívida.
  O Pacto de Desenvolvimento do Milênio recomenda aos países que concedam aos países pobres uma assistência adicional considerável. Segundo as estimativas das Nações Unidas, o fluxo de assistência anual deve ser aumentado pelo menos em até cem bilhões de dólares, para que os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio sejam alcançados. Se os países destinatários se esforçassem por aumentar o montante das receitas públicas coletadas e se redirecionar os recursos no sentido da luta contra a pobreza, o aumento da assistência anual poderá funcionar, para os países mais pobres, como um trampolim que lhes permita chegar aos Objetivos. Esta é a conclusão deste Relatório.
  'O princípio de prestação de contas dos governos aos respectivos povos, princípio que deve ser igualmente seguido pelos países ricos e pobres entre si, está no cerne da Declaração do Milênio', disse Malloch Brown. 'Numa era em que a democracia está expandindo por todo o mundo, a existência de dados claros sobre se os governos estão ou não fazendo progressos no sentido dos Objetivos permitir aos cidadãos avaliar por si próprios os sucessos e os fracassos dos seus líderes'. [...]"
FONTE: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Disponível em: www.undp.org.

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