domingo, 13 de maio de 2012

ECONOMIA DO RIO GRANDE DO NORTE DE JANEIRO A ABRIL DE 2012

  Em alta, as exportações do Rio Grande do Norte apresentaram crescimento de 28,9% no mês de abril. Considerando a soma do quadrimestre, foram comercializados U$ 90,5 milhões contra U$ 64,8 milhões no mesmo período do ano passado.
  Os dados preliminares divulgados nesta quinta-feira (10/05/2012) pela Coordenadoria de Desenvolvimento Comercial da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico (SEDEC) apontam a castanha do caju como o principal item da pauta de exportações com a movimentação de U$ 15,5 milhões, seguido do melão com U$ 13,7 milhões. O açúcar, terceiro item da pauta - depois de retornar esse ano para a pauta das exportações - alcançou até o momento U$ 10 milhões.
  O setor mineral também confirma sua expansão no mercado externo com as vendas de tungstênio (scheelita), granito e minério de ferro. Juntos os produtos foram responsáveis pela movimentação de U$ 6,6 milhões e a expectativa é que os números permaneçam positivos ao longo do ano.
  Somente em 2011, o setor mineral atraiu R$ 1,5 bilhão em investimentos e iniciou as exportações de minério de ferro pelo Porto de Natal, o que deverá ampliar ainda mais os números da atividade mineral no Estado, tanto em vendas internacionais, como na geração de empregos.
  Para o secretário do Desenvolvimento Econômico, Benito Gama, a diversificada economia do Rio Grande do Norte está vivendo um novo momento, onde suas atividades potenciais podem aproveitar o cenário positivo para expandir os negócios e garantir presença no mercado nacional e internacional.
Importações - As compras de outros países registraram U$ 64,7 milhões, o que representa um crescimento de 6,1% comparado com o mesmo período ano passado. O polietileno (U$ 7,6 milhões) e máquinas têxteis (U$ 6,1 milhões) lideram a pauta de importação e Argentina, Chile e Estados Unidos são hoje os principais países que abastecem os empreendimentos potiguares.
  Com o início do funcionamento do Import RN - programa de apoio às importações e desenvolvimento portuário e aeroportuário - esses números serão ampliados, além do Rio Grande do Norte se transformar em uma das principais portas de entrada dos produtos importados pelo mercado brasileiro.
FONTE: SEDEC/RN

quinta-feira, 10 de maio de 2012

ESTRUTURA GEOLÓGICA DA TERRA

  A estrutura geológica de um lugar se caracteriza pela natureza das rochas (origem e idade) e pela forma como estão dispostas.
  De modo geral, podemos dividir a estrutura geológica dos continentes em crátons, dobramentos e vastas superfícies recobertas de sedimentos.
  Os crátons constituem blocos de rochas muito antigas formadas nos éons Arqueano e Proterozoico. São divididos em escudos cristalinos e plataformas. Os escudos (ou maciços) cristalinos são constituídos de rochas cristalinas (magmáticas ou metamórficas). Por se formarem no início da consolidação da crosta terrestre, constituindo os primeiros núcleos emersos, são de tectônica estável, resistentes, porém, muito desgastados pela erosão. Muitos minerais são explorados nessa estrutura. Como exemplos, citamos os escudos Siberiano, Canadense, Guiano, Guineano, Patagônico e Brasileiro.
Floresta de Taiga - paisagem marcante do escudo Canadense
  As plataformas são superfícies cratônicas recobertas por camadas de sedimentos, como a Plataforma Sul-Americana.
  As bacias sedimentares são depressões preenchidas por sedimentos de áreas com maiores altitudes. As mais antigas se formaram por processos ocorridos desde o início do Eón Fanerozoico, na Era Paleozoica e na Era Mesozoica. No entanto, o processo de sedimentação continuou com intensidade e isso é um processo ativo até os dias atuais, na Era Cenozoica, constituindo as bacias sedimentares recentes. A essa estrutura se associam jazidas de petróleo, carvão e gás natural. Constituem bacias importantes a Amazônica, a do Pantanal Mato-Grossense, a Australiana e a Russa.
Bacias sedimentares brasileiras
  O dobramentos são formados por rochas menos resistentes afetados por intensos movimentos tectônicos. Forças internas da Terra separaram continentes provocando o enrugamento de suas bordas, dando origem às maiores elevações do planeta.
  Os dobramentos modernos (ou dobramentos recentes) formaram altas cadeias de montanhas na Era Cenozoica, no Período Terciário, há cerca de 60 milhões de anos. Por se situarem próximas aos grandes falhamentos, essas cordilheiras, como os Alpes, os Andes, as Montanhas Rochosas, o Atlas e o Himalaia, estão sujeitas a terremotos e a atividades vulcânicas.
Alpes Suíços
  Os dobramentos antigos (como os Montes Apalaches, nos EUA, e a Serra do Mar, no Brasil) se formaram no Pré-Cambriano e no Paleozoico, períodos geológicos mais antigos.
  Tanto os fatores internos - tectonismo, vulcanismo e terremotos - como os externos - água, vento e seres vivos - que agiram no relevo no decorrer das eras geológicas influenciaram e continuam influenciando essa estrutura, determinando as formas irregulares da superfície terrestre.
Montes Apalaches nos EUA
FONTE: Terra, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil / Lygia Terra, Regina Araújo, Raul Borges Guimarães. - 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2010. p. 139-140.

NOVAS FORMAS DE VER O MUNDO

A RAZÃO CONTRA A FÉ
  No contexto das revoluções do séculos XVIII e XIX, que permitiram às burguesias tomar o poder, teve início também uma grande secularização. Isso se deveu a fatores econômicos, políticos e culturais.
  • Do ponto de vista econômico, é necessário destacar o processo de urbanização: com o êxodo rural, a população camponesa escapou do controle social exercido pelas igrejas.
  • A legislação produzida pela Revolução Francesa debilitou a Igreja ao confiscar grande parte de suas propriedades; além disso, o Estado substituiu a Igreja no papel de regulador da vida pública e privada.
  • O desenvolvimento de uma mentalidade científica. Fé e razão se tornaram conflitantes e incompatíveis.
  Nesse novo mundo marcado por grandes transformações, a Igreja teve seu poder político reduzido e começou a perder influência na sociedade.
A REVOLUÇÃO TÉCNICA E CIENTÍFICA
  Desde o final do século XVIII, grande parte da Europa Ocidental conhecia o modelo de fábrica e o tomava como uma melhoria para a sociedade. Os problemas sociais e a piora nas condições de vida e de trabalho começavam a ser esquecidos para celebrar a tecnologia como algo positivo.
  No século XIX, a acelerada industrialização da Europa e o enorme avanço da ciência, da técnica e da tecnologia mudaram a mentalidade científica e cultural. Um dos principais responsáveis por essa mudança foi o naturalista inglês Charles Darwin.
Charles Darwin
UMA TEORIA QUE ESTREMECEU A CIÊNCIA
  A teoria da evolução desenvolvida por Darwin afirmava que o ambiente exercia influência fundamental sobre o ser humano. A sobrevivência e a reprodução das espécies estariam ligadas ao processo de seleção natural, o que significava que apenas os seres mais aptos de cada espécie, que apresentassem características mais favoráveis à adaptação ao meio ambiente, conseguiriam sobreviver.
Processo da evolução humana
  A partir dessa teoria, Darwin concluiu que nós, seres humanos, somos o resultado de uma seleção natural. Concluiu também que nós e as espécies que têm um parentesco evolutivo conosco - os chimpanzés, os orangotangos e os gorilas - somos o resultado da evolução de um ancestral comum. As conclusões de Darwin foram publicadas no livro A origem das espécies, em 1859.
CRÍTICOS E SEGUIDORES
  A teoria de Darwin contradizia as tradicionais explicações religiosas sobre o surgimento da vida, a existência do homem e a morte. Para Darwin, o ser humano não havia surgido pela obra de Deus, mas pelo resultado de uma lei natural. Com isso, a trajetória dos homens deixava de ser determinada apenas pela vontade do criador e passava a ser vista como resultado da relação entre o ser humano e o ambiente.
Charles Darwin observou as girafas para formular a sua teoria
  O reconhecimento do parentesco evolutivo com símios também contrariou princípios religiosos que relacionavam a figura do homem à imagem de Deus. Representantes de várias igrejas cristãs reagiram ao pensamento darwinista, mas não foram suficientes para impedir  que suas ideias ganhassem muitos seguidores.
  Nem sempre o conceito de evolução foi bem compreendido. Muitos cientistas associaram e ainda associam a ideia de evolução à de melhoria. Segundo essa noção equivocada, a humanidade passaria por um processo de aperfeiçoamento contínuo e cada conquista científica seria um passo em direção ao progresso, sempre de caráter positivo.
Darwin observou também uma grande variedade de aves
  Não foi apenas a mentalidade científica daquela época que manifestou essa crença no progresso e nas conquistas tecnológicas. Muitos escritores, artistas e intelectuais acreditavam, no século XIX, que o presente era melhor que o passado e que o futuro seria melhor que o presente.
A SENSIBILIDADE ROMÂNTICA
  O Romantismo foi um amplo movimento sociocultural que atravessou os últimos anos do século XVIII e as primeiras décadas do século XIX. Trouxe novas formas de comportamento, de pensamento político e social e de criação artística e literária.
  Destacam-se três características fundamentais do Romantismo:
  • A rebeldia dos românticos se manifestou em oposição ao racionalismo iluminista e ao modelo clássico de beleza. Outros se rebelaram contra a destruição da paisagem, das formas de vida tradicionais e contra a degradação das novas cidades, reforçando a crença de que o passado deveria ser recuperado.
  • A nova atitude diante da natureza consistiu em um sentimento de comunhão com ela. Os românticos não viram na natureza apenas um modelo de beleza; eles a perceberam como um ser vivo do qual eles mesmos faziam parte.
  • A nova visão de mundo e do ser humano. Reagindo ao racionalismo iluminista, parte dos românticos afirmavam ser impossível ao ser humano conhecer a realidade por meio da razão. Eles valorizavam a utopia e defendiam a superioridade do sentimento e da capacidade criativa.
A dama de Shalott, de John William Waterhouse, 1888
TÉCNICA OU POÉTICA?
  Na segunda metade do século XIX, o Realismo foi o estilo predominante, tanto na literatura quanto na pintura. Os artistas realistas demonstravam uma grande confiança na capacidade humana de conhecer e expressar a realidade e alguns alimentaram o otimismo científico da época.
  Os artistas realistas se diferenciavam dos românticos principalmente na valorização da observação como a qualidade mais importante de um artista. Numa clara expressão da racionalidade científica, os realistas buscavam a objetividade para expressar uma visão fria e distanciada das coisas.
Os quebradores de pedra. Obra de 1850 do pintor realista francês Gustave Coubert
  Os artistas realistas se dedicavam a temas de sua própria época e da realidade cotidiana: os camponeses, os trabalhadores urbanos, a vida nos subúrbios das grandes cidades, sempre procurando investigar e examinar a realidade social.
FONTE: Projeto Araribá: história / organizadora
Editora Moderna: obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna; editora responsável: Maria Raquel Apolinário. - 2. ed. - São Paulo: Moderna, 2007. p. 201-203 

quarta-feira, 9 de maio de 2012

FOCOS DE CONFLITOS NO LESTE EUROPEU

  Com o fim da Guerra Fria e a derrocada do socialismo no Leste Europeu, alguns países dessa região mergulharam em conflitos étnicos e turbulências políticas.
  A região dos Balcãs, cadeia montanhosa situada no sudeste da Europa, foi ocupada durante séculos por diversos povos de religiões diferentes (católica, ortodoxa e islâmica), que se enfrentaram em diversas ocasiões.
Região dos Balcãs
  As hostilidades que serviram de estopim para o início da Primeira Guerra Mundial ocorreram nessa região. Em 1908, os sérvios, com o apoio da Rússia, entraram em conflito com a Áustria, com a finalidade de conter o expansionismo austríaco que havia anexado a Bósnia-Herzegovina. A Sérvia, por sua vez, também pretendia se expandir e formar a Grande Sérvia, Estado que reuniria os povos eslavos. O assassinato do herdeiro do trono austríaco por um nacionalista sérvio, em Saravejo, na Bósnia em 1914, acirrou as tensões e deflagrou a Primeira Grande Guerra.
Arquiduque Francisco Ferdinando momentos antes de ser assassinado em Saravejo
  A dissolução da antiga Iugoslávia começou em 1991, depois de uma violenta guerra civil entre os grupos étnicos que disputavam os territórios do país. A Iugoslávia foi formada em 1929 pela junção dos reinos sérvio, croata e esloveno, reunindo muitas etnias. O processo de fragmentação da Iugoslávia deu origem a sete novos Estados: Bósnia-Herzegóvina, Croácia, Eslovênia, Macedônia, Sérvia, Montenegro e Kosovo.
Mapa da distribuição étnica e religiosa da região dos Balcãs
  Conheça um pouco mais sobre esse processo de fragmentação e sobre os países que dele resultaram:
  • Eslovênia: por apresentar composição étnica mais homogênea (91% de eslovenos), foi o primeiro país a conseguir independência, em 1991. Após a dissolução da Iugoslávia e de uma breve guerra, o país estabilizou-se e, a partir de 2004, passou a integrar a União Europeia.
  • Croácia: conseguiu a independência após uma guerra civil (1991-1992) entre croatas e a minoria sérvia. Sua entrada na União Europeia continua condicionada ao fim da intolerância étnica e da corrupção.
  • Macedônia: embora existindo tensões étnicas entre cristãos, ortodoxos e a minoria muçulmano-albanesa, conseguiu a independência de forma pacífica em 1991.
  • Bósnia-Herzegóvina: declarou sua independência em 1992. Imediatamente, teve início uma violenta guerra civil, que terminou em 1995 graças à intervenção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Os conflitos entre croatas, sérvios e muçulmanos causaram milhares de mortes e tornaram refugiados 2,5 milhões de pessoas. Até 2009, o país continuava sob mediação internacional e vigilância de soldados da Força da União Europeia, o que impedia negociações para a sua entrada nessa comunidade.
  • Montenegro: manteve-se unido à Sérvia com o nome de República Federal da Iugoslávia até 1992, quando passou a chamar-se Sérvia-Montenegro. As tensões com os separatistas de Kosovo cresceram em 1998. Montenegro se separou pacificamente da Sérvia em 2006; no mesmo ano iniciou conversações para ingresso na União Europeia.
  • Sérvia: unida até 2006 a Montenegro, foi palco de conflitos entre bósnios, eslovenos, croatas e sérvios, entre 1991 e 1995.
  • Kosovo: era inicialmente uma província autônoma da Sérvia, possui uma população composta de 90% de albaneses muçulmanos. Em 1998, os albaneses de Kosovo reivindicaram a independência e foram reprimidos por tropas sérvias. Esse massacre étnico deixou um saldo de muitos albaneses mortos. A província administrada pela ONU desde então declarou sua independência em fevereiro de 2008. A independência de Kosovo foi reconhecida por muitos países, entre os quais os Estados Unidos e a maior parte dos membros da União Europeia. Entretanto, Espanha, Chipre, Romênia, Bulgária, Grécia e Eslováquia não reconhecem Kosovo como Estado independente, talvez temendo que ele se torne um exemplo para as minorias étnicas de seus próprios países. Na América do Sul, Brasil, Argentina, Bolívia, Uruguai e Venezuela também se posicionaram contra a existência de Kosovo.
Pristina - capital de Kosovo 
  Outros movimentos separatistas ainda persistem na Europa. Os bascos, etnia localizada entre a Espanha e a França, continuam lutando para formar um país independente. Na Irlanda do Norte (também chamada de Ulster), a maioria da população é protestante e pretende continuar sob o domínio do Reino Unido; já a minoria católica, após 30 anos de luta pela autonomia e integração com a Irlanda (ou Eire, país de maioria católica), aceitou um acordo de paz iniciado em 1998 e concluído em 2007.
Região do País Basco
FONTE: Terra, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil / Lygia Terra, Regina Araújo, Raul Borges Guimarães. 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2010.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O NORTE PRECISA DE IMIGRANTES

  "Até 2025, os países europeus precisam receber 159 milhões de novos imigrantes, enquanto os Estados Unidos necessitarão de outros 150 milhões, caso queiram evitar os efeitos do envelhecimento das populações sobre suas economias.
  No estudo 'Migrações de substituição: uma solução para as populações que envelhecem', técnicos da Divisão de População das Nações Unidas calculam que somente a entrada massiva de pessoas dos outros continentes permitirá à União Europeia (UE) manter o atual equilíbrio de quatro ou cinco pessoas economicamente ativas para cada pessoas fora do mercado de trabalho.
  Para manter o número de habitantes em idade ativa de 1995, a UE deveria importar 25 milhões de imigrantes. 'Temos consciência de que essas cifras são politicamente inaceitáveis para os europeus', explicou o diretor da Divisão de População da ONU, Joseph Chamie. 'Francamente não vejo outra solução que a de encarar os problemas de frente: as populações de todos os países do mundo estão envelhecendo a uma taxa alarmante, o que torna imprescindível considerar as consequências econômicas e sociais dessa realidade', destaca Chamie.
  A taxa atual de natalidade (1,4 filho por mulher em toda a Europa comunitária) está em clara queda em todo o mundo industrial, enquanto o aumento da esperança de vida completa o panorama do envelhecimento das populações dos países industrializados.
Taxa de natalidade dos países da União Europeia
  Os pesquisadores também levaram em conta para sua análise o objetivo desses países em sustentar um crescimento econômico comparável aos últimos anos e aumentos de produtividade equivalentes.
  A entrada tardia de jovens no mercado de trabalho, o aumento da esperança de vida e a baixa natalidade levariam os europeus a uma proporção de dois ativos para um não ativo em menos de 50 anos.
  Para superar a crise previsível, a UE precisa incorporar cerca de 159 milhões de pessoas em idade de trabalho, cabendo aos Estados Unidos recorrer a outros 150 milhões. Caso as tendências de hoje se mantivessem, em 2050 cerca de 47% da população europeia estaria aposentada e o número de pessoas com menos de 59 anos teria baixado em 11%. [...]"
FONTE: Enciclopédia do mundo contemporâneo. 3. ed. Milênio/Publifolha, 2002. p. 22

sexta-feira, 4 de maio de 2012

INFLAÇÃO E ALGUNS CONCEITOS RELACIONADOS

  A inflação é definida como um argumento generalizado e contínuo dos preços. Quando, ao contrário, ocorre uma baixa generalizada e contínua dos preços, tem-se o conceito inverso de inflação: a deflação.
  É importante notar que o aumento do preço de algum bem ou serviço em particular não constitui inflação, que ocorre apenas quando há um aumento generalizado dos preços. Se a maioria dos bens e serviços se torna mais cara, tem-se inflação. Essa inflação será tanto maior quanto maiores os aumentos nos preços nas mercadorias. Normalmente, esses aumentos de preços não ocorrem de forma sincronizada, ou seja, não há um aumento igual do preço de todas as mercadorias e serviços; desse modo há um problema para calcular o tamanho da inflação. A forma como isso é resolvido é fazer uma média ponderada da elevação dos preços [...].
  A contrapartida desse aumento dos preços é a perda de poder aquisitivo da moeda, ou seja, uma mesma unidade monetária pode adquirir menos bens e serviços, pois estes estão mais caros.
  É importante diferenciar inflação da aceleração inflacionária. Quando ocorre um aumento dos preços temos a inflação. Quando se diz que a inflação foi de 10% em determinado mês (ou ano) está-se dizendo que naquele período os preços em média aumentaram 10%. Se essa taxa se mantém constante nos meses (ou anos) seguintes, isso significa que os preços continua a subir em média 10% por mês (ou ano). A inflação está estabilizada em 10%, mas não os preços. Se a inflação passa para 15% no mês seguinte, 20% no subsequente, existe uma aceleração inflacionária, em que os preços estão em média subindo e subindo cada vez mais - a inflação é cada vez mais alta.
  Dependendo do tamanho da inflação, pode-se dizer que é moderada (ou rastejante) ou que ocorre uma hiperinflação. Quando os aumentos de preços são pequenos, a inflação é dita rastejante ou moderada; se são muito grandes, utiliza-se o conceito de hiperinflação.
  Não há um ponto certo para se dizer quando deixamos uma situação com inflação moderada e passamos para uma de hiperinflação. Algumas pessoas consideram, por exemplo, que uma inflação de 50% ao mês pode ser considerada hiperinflacionária, outras colocam esse patamar mais abaixo ou mais acima. De forma geral, pode-se dizer que a hiperinflação é uma situação em que a inflação é tão alta que a perda do poder aquisitivo da moeda faz com que as pessoas abandonem aquela moeda. Passam a utilizar outra moeda como unidade de conta, isto é, como forma de definir os preços das mercadorias; e também como meio de pagamento, isto é, como instrumento para realizar os pagamentos. Por exemplo, em momentos de hiperinflação, as pessoas abandonam a moeda local e passam a usar a moeda de um outro país, como o dólar, para fazer suas transações dentro de seu país.
Tipos de inflação
  Se se tomar as causas da inflação, encontrar-se-ão dois tipos básicos: inflação de demanda e inflação de custos.
  A inflação de demanda deve-se à existência de excesso de demanda em relação à produção disponível. Nesse sentido, essa inflação aparece quando ocorre aumento da demanda não acompanhado pela oferta; portanto, é mais provável que ela apareça quanto maior for o grau de utilização da capacidade produtiva da economia, isto é, quanto mais próximo estiver do pleno emprego.
  Esse excesso de demanda pode ser ocasionado por expansão monetária decorrente de déficit público não financiado por poupança privada (colocação de títulos do governo junto ao público). Nesse caso, os indivíduos veem seus saldos monetários aumentar e, com isso, vão ampliar a demanda; como a oferta é relativamente rígida a curto prazo, os preços tendem a subir. É importante destacar que o aumento do estoque de moeda gera um aumento no nível geral dos preços, que só se tornará um processo inflacionário caso o processo de emissão montária continue, isto é, persista o déficit público. Sendo assim, o combate a inflação de demanda implica eliminar o déficit público, de modo a estancar a emissão monetária.
  Tanto a chamada corrente monetarista, como a corrente fiscalista, partem de um diagnóstico de inflação de demanda, diferindo na forma de combatê-la: os monetaristas enfatizam a política monetária e os fiscalistas priorizam políticas fiscais e de rendas (exemplo: congelamento de preços e salários).
  A inflação de custos pode ser considerada uma inflação de oferta, que decorre do aumento de custos das empresas repassadas para preços. Várias podem ser as pressões de custos:
  1. aumento no preço das matérias-primas e de insumos básicos decorrentes de quebra de safra agrícola, por exemplo, ou desvalorização cambial que aumenta o preço da matéria-prima importada;
  2. aumentos salariais, via negociações ou política governamental, sem estarem ancorados em aumentos de produtividade do trabalhador;
  3. elevações nas taxas de juros etc.
FONTE: GREMAUD, Amaury P.; VASCONCELOS, Marcos A. S.; TONETO JR., Rudinei. Economia brasileira contemporânea. São Paulo: Atlas, 2009. p. 95-89.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

O TRATADO ANTÁRTICO

  Os onas, povo indígena que vivia no extremo sul da América do Sul e na Terra do Fogo, costumavam fazer incursões na Antátida [...]. Como eles viviam em uma área pertencente aos territórios do Chile e da Argentina, esses países reivindicaram o controle territorial da Antártida, utilizando como argumento o princípio da precedência de ocupação. Mas esse argumento, certamente o mais empregado nas disputas territoriais, de nada valeu para o Chile ou a Argentina, que aceitaram a pressão das forças hegemônicas na época da Guerra Fria.
  Em 1948, o Chile já cedia às pressões dos Estados Unidos e apresentava a Declaração de Escudero, na qual propunha uma pausa de cinco anos nas discursões acerca da soberania da Antártida. [...]
Ushuaia - cidade argentina localizada na Terra do Fogo, é a cidade mais austral do planeta
  Com base no Princípio da Proximidade Geográfica, reivindicavam soberania sobre a Antártida aqueles Estados-nações que se localizavam próximo ao continente antártico. Esse princípio excluía as duas superpotências emergentes do segundo pós-guerra de sua presença na Antártida, e não logrou êxito.
  O Princípio da Defrontação ou dos Setores Polares foi deixado de lado por interferência dos países do Hemisfério Norte. Ele definia a soberania a partir da projeção dos meridianos que tangenciassem os pontos extremos da costa de países que se encontram defronte a Antártida. A partir daí, se traçaria uma reta em direção ao centro do continente gelado, definindo a faixa territorial de domínio de um determinado país. A proximidade dos países do Hemisfério Sul dava a eles uma vantagem em relação aos países do Hemisfério Norte, levando à não aplicação deste princípio.
Mapa da Antártida
  [...] A primeira reunião internacional que teve como pauta a Antártida foi a Conferência de Paris, realizada em 1955. Naquela ocasião, África do Sul, Argentina, Austrália, Bélgica, Chile, Estados Unidos, França, Inglaterra, Japão, Noruega, Nova Zelândia e URSS reuniram-se para discutir a edificação de uma base científica na Antártida. [...]
  Como resultado da reunião de Paris, decidiu-se pela construção da base Amundsen-Scott pelos Estados Unidos. À outra potência da época, a URSS, coube a construção da base Vostok no Polo da Inacessibilidade. Assim, quase sem pedir licença, as superpotências instalaram-se no continente branco. A Guerra Fria chegava à Antártida.
Base russa Vostok
  Como ocorria em outras situações, a disputa entre os Estados Unidos e a URSS pela soberania [sobre a] Antártida foi dissimulada. Nesse caso, ela ganhou uma roupagem científica. Pouco tempo depois da reunião de Paris, o interesse por novas descobertas sobre a última região sem fonteiras da Terra foi utilizado como argumento para novos empreendimentos no continente.
  Com o objetivo de observar as explosões solares que ocorreram na segunda metade da década de 1950, os estudiosos do assunto optaram por instalar pontos de observação em alguns lugares da Terra, entre eles a Antártida, que foi apontada como o melhor local para observação do fenômeno. Para registrar seu intento, os cientistas nomearam os trabalhos como Ano Geofísico Internacional (AGI). [...]
Aurora austral sobre a estação Amundsen-Scott
  Por ocasião da AGI, o governo dos Estados Unidos propôs - em abril de 1958 - um tratado para regularizar as ações antrópicas no continente branco. Como justificativa, apresentou a necessidade de realizar mais pesquisas para entender melhor a dinâmica natural naquela porção do mundo.
  As negociações promovidas pelos Estados Unidos resultaram no Tratado Antártico, que foi firmado em 1º de dezembro de 1959. Após ser ratificado pela África do Sul, Argentina, Austrália, Bélgica, Chile, Estados Unidos, França, Inglaterra, Japão, Noruega, Nova Zelândia e URSS, denominados membros consultivos, passou a ser aplicado, em 23 de junho de 1961. [...]
  Com o Tratado Antártico, estabeleceu-se o intercâmbio científico entre as bases instaladas na Antártida. Deixada de lado a polêmica da definição de fronteiras nacionais no continente gelado, a ocupação foi direcionada para a produção de conhecimento, instalando-se a infraestrutura necessária para tal intento. A troca de informações científicas procurava garantir uma diplomacia "Antártica", ao mesmo tempo que não se discutiam questões de ordem territorial ou aproveitamento dos "recursos" a serem identificados e estudados cooperativamente.
  A Antártida representa um dos casos que justificam a discussão da questão da soberania envolvendo a temática ambiental durante a Guerra Fria. Ao abrir mão, mesmo que temporariamente, da reivindicação da soberania territorial sobre a Antártida, o Chile iniciava uma ação que agradava sobremaneira os Estados Unidos.
Base brasileira na Antártida Comandante Ferraz
  A Declaração de Escudero representou uma abertura para que se iniciassem conversações sobre a ocupação daquela parte do mundo por países que não tinham argumentos para reivindicar soberania territorial sobre qualquer porção daquele ambiente natural. A capacidade de produzir conhecimento a partir de bases científicas instaladas na Antártida passou a ser a medida para integrar-se aos países que tiveram o direito de ocupá-la. [...]
FONTE: RIBEIRO, Wagner Costa. A ordem ambiental internacional. 
São Paulo: Contexto, 2001. p. 55-57.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

TIPOS DE ESTADOS

  Considera-se como um estado federal aquele em que as unidades administrativas que o compõem gozam de autonomia, embora não possam considerar-se independentes. Eles se contrapõe aos chamados estados unitários, cujo território é dividido em unidades administrativas governadas pelo poder central, diretamente ou por meio de delegados nomeados.
  Na confederação, em que o poder regional é mais forte, os estados ou províncias que a compõem têm soberania, podendo em geral retirar-se da mesma, tendo desse modo o chamado direito de secessão.
Províncias da Argentina
  Há, nos vários continentes e em localizações as mais diversas, uma grande quantidade de estados federados e composições políticas também as mais diversificadas. Configura-se um estado quando coexistem os três elementos: povo, território e governo; há uma diferença fundamental entre os conceitos de de estado, nação e povo. Assim, a vivência de um estado pressupõe a existência desses três elementos, mas quando nos referimos a uma nação sabemos da existência de apenas dois elementos, povo e território, e quando nos referimos a povo, abstraímos os outros elementos, desde que ele se encontre disperso por territórios diferentes. Um exemplo clássico de povo isolado, que não dispõe de território próprio nem de uma organização política determinada, é o povo cigano, com seus costumes, língua e tradições, disperso pelos mais diversos países dos vários continentes. Até a criação do estado de Israel, os judeus também eram apresentados como um povo, sem identificação com um estado ou com uma nação.
Ciganos - povos que habitam vários continentes, possuem tradições, línguas próprias mas não possuem um território próprio
  No caso das nações, há uma tendência em que os membros aspirem à implantação de um estado que lhes seja próprio, o que nem sempre conseguem. Após a Primeira Guerra Mundial, houve uma forte corrente política, muito defendida pelo presidente Wilson, dos Estados Unidos, que propugnava pela criação de estados nacionais. Nem sempre as nações conseguiam implantar seus estados, como ocorre com os curdos, que compreendem entre 28 a 36 milhões de habitantes distribuídos pelos territórios de sete países - Iraque, Irã, Turquia, Síria, Armênia, Azerbaijão e Geórgia -, os tâmis, que habitam a Índia e o Sri Lanka, os hutus e os tutsis, que se espraiam por vários países da África central etc.
Principais áreas onde habitadas pelo povo curdo
  A existência de nações que formam estados faz com que várias delas vivam aglomeradas em determinados estados, dando origem aos chamados estados multinacionais, como ocorre com a Federação Russa, onde convivem mais de cem nacionalidades sob o domínio dos russos, com a Etiópia, onde convivem os amaras, os galas, e numerosos grupos de somalis, ou com a República Sul-africana, onde convivem dois povos brancos, descendentes de ingleses e holandeses, ao lado de grupos negros das mais diversas nações e de indianos. Acontece, também, de alguns países, como a China e a Índia, possuírem, dispersos por países próximos ou vizinhos, grandes contingentes nacionais, fazendo com que ocorram fatos, como o de Cingapura e Malásia, onde a população chinesa é mais numerosa que a malaia, ou dos hindus, que ocupam grandes áreas na porção costeira de países da África Oriental, como o Quênia e a Tanzânia. Também os árabes, apesar de dominarem vários estados, se espraiam por numerosos outros, não dominantemente árabes, da África e do Oriente Próximo.
Mapa da Federação Russa
O CASO DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA
  Já o Brasil é um país colonizado pelos europeus, que dominaram os indígenas aqui encontrados e trouxeram para cá negros de pontos diversos da África, fazendo com que nos tornássemos um país plurinacional, plurirracial e pluricultural, em que pessoas de cores e culturas as mais diferentes se dispersem pelo seu imenso território. Só as nações indígenas, que correspondem a 300 mil habitantes, cerca de 0,3% da população nacional, se encontram localizadas em reservas situadas em sua maioria no Centro-Oeste e na Amazônia. Os brancos de diversas origens se dispersam pela maioria dos estados, os negros e mulatos são encontrados sobretudo naqueles estados que tiveram sua economia baseada na agricultura de exportação, nos período colonial e imperial, quando era utilizado o braço escravo. Apesar de se admitir que o Brasil é um país latino, grande parte da população brasileira, incluindo-se naturalmente os negros e indígenas, não é de origem latina, levando-se em conta os grandes contingentes de orientais - japoneses, chineses e coreanos -, de semitas (árabes e judeus) e de europeus não latinos como os alemães, os russos, os ucranianos, os poloneses etc.
Moinho em Joinville - SC. Símbolo da imigração alemã no Brasil
  Mesmo havendo o predomínio da língua portuguesa e da religião católica, é difícil admitir-se, de forma definitiva, a existência de uma civilização luso-brasileira única. A ela se poderia contrapor uma civilização ítalo-brasileira, teuto-brasileira, eslavo-brasileira, nipo-brasileira etc.
  O Brasil [...] esteve, desde o período colonial, ora sob um sistema centralizado, ora sob um sistema descentralizado. Na perspectiva geopolítica atual, podemos afirmar que a descentralização e a adoção de um regime federativo de estado ocorreram com a Proclamação da República, a partir de 1889, com a concessão de autonomia às antigas províncias, então elevadas à categoria de estado.
MANUEL CORREIA DE ANDRADE
  Manuel Correia de Oliveira Andrade, nasceu em 03 de agosto de 1922 no engenho Jundiá, em Vicência - PE, e faleceu em Recife, no dia 22 de junho de 2007. Filho de Joaquim Correia Xavier de Andrade e Zulmira Oliveira de Andrade, foi escritor, historiador, geógrafo, advogado e professor brasileiro. Formou-se em História, Geografia e Direito. Filiou-se ao Partido Comunista aos 20 anos, para logo depois afastar-se.
  Realizou cursos de pós-graduação em universidades do Brasil e de Paris, tendo também estudado na Itália, Bélgica, Grécia e Israel. Ensinou Geografia do Brasil e História em vários colégios recifenses, bem como Geografia Física na Faculdade de Filosofia do Recife e Geografia Econômica na Universidade Federal de Pernambuco, onde era professor desde 1952 (aposentou-se oficialmente em 1985, mas se manteve sempre atuante como docente e pesquisador). Foi o responsável pela criação do Mestrado em Geografia na UFPE no final da década de 1970, do qual foi coordenador, chegando a exercer a chefia do Departamento de Geografia e a coordenação do Mestrado em Economia na mesma instituição. Nos últimos anos de sua vida, respondia, como coordenador, pela cátedra Gilberto Freyre, ligada ao Departamento de Sociologia da UFPE, sendo idealizador do evento anual "Redescobrindo o Brasil".
  Além das pesquisas desenvolvidas na Universidade Federal de Pernambuco, era integrante do quadro de pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco, sendo um dos mais respeitados estudiosos da realidade nordestina. Ali dirigiu o Centro de Estudos de História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade.
  Entre os vários títulos que recebeu, destacam-se os de Doutor Honoris Causa por parte de três Universidade Federais: Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe e pela Universidade Católica de Pernambuco, além de Professor Emérito da Universidade Federal de Pernambuco, em 1989.
FONTE:ANDRADE, M. C. ANDRADE, S. M.C. A federação brasileira: uma análise geopolítica e geossocial. São Paulo: Contexto, 1999. p. 9-11.

terça-feira, 1 de maio de 2012

ÁFRICA: NOVOS CONFLITOS, NOVOS PERSONAGENS

  O conflitos existentes no continente africano, classificados genericamente de étnicos e que eclodem periodicamente em países da África Subsaariana, têm como tônica o envolvimento de povos vizinhos, cujas características são mais ou menos diferentes. Alguns desses conflitos são esporádicos e duram alguns dias ou semanas, como tem acontecido na Nigéria. Outros, como na região da África Oriental (planalto dos Grandes Lagos), no Sudão, na Somália, no Congo, mas também na África Ocidental (Libéria, Serra Leoa, Costa do Marfim), são bem mais graves e persistentes podendo durar vários anos e têm sido responsáveis por milhões de vítimas.
  Na maior parte dos casos, os conflitos são internos, entre populações mais ou menos próximas, muitas vezes misturadas, como é o caso de tutsis e hutus em Ruanda e em Burundi. Todavia, tem sido cada vez mais comum que esses conflitos acabem envolvendo países vizinhos, como o que ocorreu recentemente na República Democrática do Congo (ex-Zaire), onde forças armadas de Ruanda, Uganda, Zimbábue e Angola não só tomaram partido das facções congolesas em luta, como acabaram se enfrentando em pleno território congolês.
Mapa da República Democrática do Congo
  A novidade dos conflitos recentes é que eles não são mais explicados apenas por razões geopolíticas de grande envergadura (tipo capitalismo x socialismo), como acontecia no tempo da Guerra Fria. Por outro lado, a ação de grupos fundamentalistas islâmicos, fenômeno que pode ser considerado de grande envergadura no início do século XXI, tem importância pequena ou quase nula no contexto geopolítico do centro-sul do continente. Vale ressaltar que, na bacia do rio Congo e do planalto dos Grandes Lagos, o número de muçulmanos é pouco expressivo e é justamente nessas regiões que os conflitos têm sido mais mortíferos e duradouros.
  Não se pode também entender os conflitos da África Subsaariana sem levar em conta a extrema diversidade étnica e linguística da região e, sobretudo, não se deve esquecer que nessa parte do mundo o tráfico negreiro durou cerca de três séculos. Esse evento histórico deixou marcas profundas no relacionamento entre grupos "capturados" e "captores" que o tempo não tem conseguido apagar.
Mapa do tráfico negreiro
  A multiplicação dos conflitos pode ser explicada também pelo crescimento demográfico dos diferentes grupos étnicos e pela necessidade de cada um deles em estender suas terras cultivadas para compensar os efeitos da degradação dos solos. A exacerbação dos conflitos entre hutus e tutsis em Ruanda resultou, parcialmente, da luta por terras férteis num pequeno país cuja densidade demográfica é de aproximadamente 300 habitantes por km².
Conflito entre tutsis e hutus em Ruanda - um dos maiores conflitos étnicos da África ocorrido nas últimas décadas
  Ademais, a África Subsaariana tem sofrido, mais do que em outras partes, dos problemas ambientais inerentes ao mundo tropical, sobretudo porque as produções agrícolas se fazem  principalmente sobre solos lateríticos pobres e frágeis. Na África, fora dos vales, os diferentes grupos étnicos que praticam a agricultura, cujos rendimentos declinam sistematicamente, se esforçam em estender seu território em detrimento dos grupos vizinhos.
  Os recentes conflitos africanos ensejaram o surgimento ou realçaram a ação de novos e antigos personagens. Se durante a Guerra Fria as figuras mais importantes dos conflitos eram militares ou homens públicos, hoje seus papéis são, de maneira geral, secundários. Três personagens emblemáticos nos conflitos atuais nos merecem destaque: o senhor da guerra, a criança-soldado e o refugiado.
Crianças-soldados
  O senhor da guerra normalmente não pertence ao grupo que está no poder, mas é muito poderoso. Ele é ao mesmo tempo um combatente, um aproveitador sem escrúpulos e um traficante. Combatente, pois é líder de grupos armados. Suas vitórias lhe dão prestígio e seu interesse é prolongar o conflito pelo maior tempo possível.
  Ele é também inescrupuloso porque se vale compulsoriamente dos recursos da população civil e, eventualmente, interfere ou impede a ação de organismos internacionais de ajuda humanitária. Como traficante, o senhor da guerra participa dos circuitos ilegais de comércio, facilitando o tráfico de drogas, armas e outros produtos como pedras preciosas. Para esse personagem as atividades militares e criminais estão intimamente ligadas. Um dos mais importantes senhores da guerra na África foi o líder da Unita, Jonas Savimbi, que durante quase três décadas dominou amplas áreas de Angola, até ser morto em combate em 2002.
Jonas Savimbi - líder da Unita (União Nacional para a  Independência Total de Angola) - foi um dos principais senhores da guerra na África
  Outro personagem dos conflitos atuais é a criança-soldado. Muitas vezes ela tem menos de dez anos e, embora não existam dados confiáveis a respeito, acredita-se que na África existiam pelo menos 200 mil delas. Seu "alistamento" quase sempre acontece de forma brutal. Após ter sido testemunha de atrocidades cometidas contra seus parentes, ela acaba sendo levada, "criada" e treinada pelos algozes de sua família. O desenvolvimento de armas cada vez mais leves pela indústria bélica tem facilitado a ação dessas crianças que, com certa frequência, encaram os combates como se estivessem participando de uma "brincadeira de guerra".
  Já o refugiado não tem sexo ou idade; pode ser um homem, uma mulher, uma criança ou um idoso que foram obrigados a deixar o local onde viviam para escapar da guerra e de seu cortejo de horrores. Seu número aumentou consideravelmente nas últimas duas décadas. Uma parcela significativa deles é composta por refugiados internos, isto é, pessoas que saíram ou foram expulsas de seu local de origem, mas não atravessaram fronteiras internacionais.
Campo de refugiados de Darfur no Chade - um dos maiores campos de refugiados do mundo
  Cerca de 30% dos refugiados do mundo atual encontram-se em solo africano, principalmente em duas áreas. Na África Ocidental, por conta dos conflitos em Serra Leoa, Libéria e Costa do Marfim e na porção centro-oriental do continente, num amplo arco norte-sul que se estende do Sudão, passa pela região do "chifre" africano e envolve a região dos Grandes Lagos.
FONTE: Nelson Bacic Olic, "África: novos conflitos, novos personagens",, In Revista Pangea Mundo, publicada em 22/03/2004. Disponível em http://www.clubedomundo.com.br/revistapangea/, acesso em 01/04/2012.

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