Considera-se como um estado federal aquele em que as unidades administrativas que o compõem gozam de autonomia, embora não possam considerar-se independentes. Eles se contrapõe aos chamados estados unitários, cujo território é dividido em unidades administrativas governadas pelo poder central, diretamente ou por meio de delegados nomeados.
Na confederação, em que o poder regional é mais forte, os estados ou províncias que a compõem têm soberania, podendo em geral retirar-se da mesma, tendo desse modo o chamado direito de secessão.
Províncias da Argentina
Há, nos vários continentes e em localizações as mais diversas, uma grande quantidade de estados federados e composições políticas também as mais diversificadas. Configura-se um estado quando coexistem os três elementos: povo, território e governo; há uma diferença fundamental entre os conceitos de de estado, nação e povo. Assim, a vivência de um estado pressupõe a existência desses três elementos, mas quando nos referimos a uma nação sabemos da existência de apenas dois elementos, povo e território, e quando nos referimos a povo, abstraímos os outros elementos, desde que ele se encontre disperso por territórios diferentes. Um exemplo clássico de povo isolado, que não dispõe de território próprio nem de uma organização política determinada, é o povo cigano, com seus costumes, língua e tradições, disperso pelos mais diversos países dos vários continentes. Até a criação do estado de Israel, os judeus também eram apresentados como um povo, sem identificação com um estado ou com uma nação.
Ciganos - povos que habitam vários continentes, possuem tradições, línguas próprias mas não possuem um território próprio
No caso das nações, há uma tendência em que os membros aspirem à implantação de um estado que lhes seja próprio, o que nem sempre conseguem. Após a Primeira Guerra Mundial, houve uma forte corrente política, muito defendida pelo presidente Wilson, dos Estados Unidos, que propugnava pela criação de estados nacionais. Nem sempre as nações conseguiam implantar seus estados, como ocorre com os curdos, que compreendem entre 28 a 36 milhões de habitantes distribuídos pelos territórios de sete países - Iraque, Irã, Turquia, Síria, Armênia, Azerbaijão e Geórgia -, os tâmis, que habitam a Índia e o Sri Lanka, os hutus e os tutsis, que se espraiam por vários países da África central etc.
Principais áreas onde habitadas pelo povo curdo
A existência de nações que formam estados faz com que várias delas vivam aglomeradas em determinados estados, dando origem aos chamados estados multinacionais, como ocorre com a Federação Russa, onde convivem mais de cem nacionalidades sob o domínio dos russos, com a Etiópia, onde convivem os amaras, os galas, e numerosos grupos de somalis, ou com a República Sul-africana, onde convivem dois povos brancos, descendentes de ingleses e holandeses, ao lado de grupos negros das mais diversas nações e de indianos. Acontece, também, de alguns países, como a China e a Índia, possuírem, dispersos por países próximos ou vizinhos, grandes contingentes nacionais, fazendo com que ocorram fatos, como o de Cingapura e Malásia, onde a população chinesa é mais numerosa que a malaia, ou dos hindus, que ocupam grandes áreas na porção costeira de países da África Oriental, como o Quênia e a Tanzânia. Também os árabes, apesar de dominarem vários estados, se espraiam por numerosos outros, não dominantemente árabes, da África e do Oriente Próximo.
Mapa da Federação Russa
O CASO DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA
Já o Brasil é um país colonizado pelos europeus, que dominaram os indígenas aqui encontrados e trouxeram para cá negros de pontos diversos da África, fazendo com que nos tornássemos um país plurinacional, plurirracial e pluricultural, em que pessoas de cores e culturas as mais diferentes se dispersem pelo seu imenso território. Só as nações indígenas, que correspondem a 300 mil habitantes, cerca de 0,3% da população nacional, se encontram localizadas em reservas situadas em sua maioria no Centro-Oeste e na Amazônia. Os brancos de diversas origens se dispersam pela maioria dos estados, os negros e mulatos são encontrados sobretudo naqueles estados que tiveram sua economia baseada na agricultura de exportação, nos período colonial e imperial, quando era utilizado o braço escravo. Apesar de se admitir que o Brasil é um país latino, grande parte da população brasileira, incluindo-se naturalmente os negros e indígenas, não é de origem latina, levando-se em conta os grandes contingentes de orientais - japoneses, chineses e coreanos -, de semitas (árabes e judeus) e de europeus não latinos como os alemães, os russos, os ucranianos, os poloneses etc.
Moinho em Joinville - SC. Símbolo da imigração alemã no Brasil
Mesmo havendo o predomínio da língua portuguesa e da religião católica, é difícil admitir-se, de forma definitiva, a existência de uma civilização luso-brasileira única. A ela se poderia contrapor uma civilização ítalo-brasileira, teuto-brasileira, eslavo-brasileira, nipo-brasileira etc.
O Brasil [...] esteve, desde o período colonial, ora sob um sistema centralizado, ora sob um sistema descentralizado. Na perspectiva geopolítica atual, podemos afirmar que a descentralização e a adoção de um regime federativo de estado ocorreram com a Proclamação da República, a partir de 1889, com a concessão de autonomia às antigas províncias, então elevadas à categoria de estado.
MANUEL CORREIA DE ANDRADE
Manuel Correia de Oliveira Andrade, nasceu em 03 de agosto de 1922 no engenho Jundiá, em Vicência - PE, e faleceu em Recife, no dia 22 de junho de 2007. Filho de Joaquim Correia Xavier de Andrade e Zulmira Oliveira de Andrade, foi escritor, historiador, geógrafo, advogado e professor brasileiro. Formou-se em História, Geografia e Direito. Filiou-se ao Partido Comunista aos 20 anos, para logo depois afastar-se.
Realizou cursos de pós-graduação em universidades do Brasil e de Paris, tendo também estudado na Itália, Bélgica, Grécia e Israel. Ensinou Geografia do Brasil e História em vários colégios recifenses, bem como Geografia Física na Faculdade de Filosofia do Recife e Geografia Econômica na Universidade Federal de Pernambuco, onde era professor desde 1952 (aposentou-se oficialmente em 1985, mas se manteve sempre atuante como docente e pesquisador). Foi o responsável pela criação do Mestrado em Geografia na UFPE no final da década de 1970, do qual foi coordenador, chegando a exercer a chefia do Departamento de Geografia e a coordenação do Mestrado em Economia na mesma instituição. Nos últimos anos de sua vida, respondia, como coordenador, pela cátedra Gilberto Freyre, ligada ao Departamento de Sociologia da UFPE, sendo idealizador do evento anual "Redescobrindo o Brasil".
Além das pesquisas desenvolvidas na Universidade Federal de Pernambuco, era integrante do quadro de pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco, sendo um dos mais respeitados estudiosos da realidade nordestina. Ali dirigiu o Centro de Estudos de História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade.
Entre os vários títulos que recebeu, destacam-se os de Doutor Honoris Causa por parte de três Universidade Federais: Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe e pela Universidade Católica de Pernambuco, além de Professor Emérito da Universidade Federal de Pernambuco, em 1989.
FONTE:ANDRADE, M. C. ANDRADE, S. M.C. A federação brasileira: uma análise geopolítica e geossocial. São Paulo: Contexto, 1999. p. 9-11.