A Guerra do Vietnã, iniciada em 1959 e estendida até 1975, foi o enfrentamento entre o Vietnã do Norte e o Vietnã do Sul, ambos lutando pela unificação do país sob seu domínio. O conflito no Vietnã contou, a partir de 1965, com a participação ativa dos Estados Unidos, o qual lutou ao lado das tropas do Vietnã do Sul contra as forças do Vietnã do Norte. A atuação americana nessa guerra fez parte de sua política de contenção do comunismo em nível internacional durante o período da Guerra Fria.
Ao longo dos anos 1960, a agressividade da política externa do governo estadunidense se ampliou. O maior exemplo foi o envolvimento nos conflitos do Vietnã, que se originaram no processo de descolonização com a divisão do território em duas partes: uma próxima aos princípios comunistas e outra adepta ao capitalismo. Os Estados Unidos intervieram militarmente no embate, com o propósito de derrotar os defensores do comunismo. A iniciativa, porém, resultou em grande desastre militar, com graves consequências à população vietnamita
Ao longo de 11 anos, o governo estadunidense mobilizou grandes recursos para ocupar a região. Em 1964, eram cerca de 150 mil soldados envolvidos na guerra - quatro anos depois, o número ultrapassava os 500 mil homens. As tropas contavam ainda com tecnologias bélicas avançadas e bastante destrutivas, inclusive armas químicas, que provocaram a morte tanto de soldados vietnamitas quanto da população local.
No início do conflito, a opinião pública estadunidense defendeu os ataques. A resistência vietnamita, porém, impossibilitou uma vitória rápida, obrigando a crescente mobilização de recursos e soldados, inclusive com a morte de um número considerável de indivíduos enviados ao combate. Nos Estados Unidos surgiram movimentos pacifistas e defensores de direitos civis, que passaram a lutar pelo fim do conflito e pela retirada das tropas estadunidenses do Vietnã. Ainda assim, o governo só começou a retirar seus exércitos do país em 1973. Dois anos depois, a guerra chegou ao fim, com a unificação do país e a tomada do poder pelos comunistas, para grande descontentamento dos Estados Unidos.
Mapa do Vietnã com a divisão do país em Vietnã do Norte (vermelho) e Vietnã do Sul (azul) |
Nomes para a guerra
Vários nomes foram aplicados ao conflito. Guerra do Vietnã é o nome mais comumente usado. Também tem sido chamado de Segunda Guerra da Indochina e Conflito do Vietnã.
As principais organizações militares envolvidas na guerra foram, de um lado, o Exército da República do Vietnã (ARVN) e as Forças Armadas dos Estados Unidos, e, por outro lado, o Exército Popular do Vietnã (PAVN - mais comumente chamado de Exército do Vietnã do Norte), e a Frente Nacional para a Libertação do Vietnã do Sul (FNL, mais conhecido como Vietcongue), uma força de guerrilha comunista do Vietnã do Sul.
Museu em Hanói com as armas utilizadas na Guerra do Vietnã em exposição |
Pré-guerra
A Guerra do Vietnã é considerada pelos historiados um desdobramento direto da guerra travada na década de 1950, na região, pela independência e contra o domínio colonial francês. O Vietnã, juntamente com Camboja e Laos, formou, durante décadas, a Indochina Francesa e, após a Segunda Guerra Mundial, viu o poder colonial francês ser enfraquecido. O resultado desse conflito foi a consolidação do fim do domínio francês na região com a independência do Vietnã, Laos e Camboja.
No caso do Vietnã, a independência aconteceu de maneira mais complexa, pois o país estava dividido em duas grandes forças antagônicas. Essa divisão foi ratificada na Conferência de Genebra, em 1954, em que foi estipulado que o Vietnã do Norte teria como capital Hanói e seria governado pelos comunistas de Ho Chi Minh, e o Vietnã do Sul, com capital em Saigon (atual Ho Chi Minh), seria governado por Bao Dai, aliado dos Estados Unidos.
Apesar da divisão existente, na mesma Conferência de Genebra, determinou-se a realização de eleições livres para formar um governo que promovesse a unificação dos países. No entanto, a escalada da tensão entre as duas partes e as diferenças ideológicas fizeram com que o governo do Vietnã do Sul recusasse a realização dessas eleições.
Conferência de Genebra de 1954, na qual promoveu a divisão do Vietnã |
Tanto o governo do Norte quanto o do Vietnã do Sul apresentavam posturas ditatoriais e repressivas. O norte, por exemplo, promovia julgamentos sumários, fuzilamentos em massa e confinamentos em campos de trabalho forçado, enquanto o Sul desenvolvia um governo extremamente corrupto e ditatorial, que impôs perseguição a dissidentes e suspeitos de adesão ao comunismo.
A partir de 1955, esses governos desenvolveram campanhas um contra o outro, além de aliarem-se a potências internacionais que poderiam dar-lhes suporte em caso de conflito. O Vietnã do Norte passou a contar com o apoio da União Soviética, e o Vietnã do Sul foi apoiado pelos Estados Unidos. A crescente tensão precipitou pequenos conflitos entre as tropas das duas forças, o que conferiu ares de guerra civil a partir de 1959.
Camponeses presos suspeitos de serem Vietcongue sob detenção do exército dos Estados Unidos, em 1966 |
Participação americana na guerra
Durante os primeiros anos do conflito, os Estados Unidos não se envolveram diretamente e mantiveram sua atuação apenas no fornecimento de armas e na ação de conselheiros norte-americanos que preparavam as tropas do Vietnã do Sul para as batalhas. Apesar do apoio estadunidense, as tropas vietcongues (nome usado em referência aos vietnamitas comunistas do Norte) levavam a vantagem no conflito.
O governo de Diem, que estava no poder desde 1955, passou por um forte enfraquecimento e enfrentou inúmeros protestos no Vietnã do Sul. Isso levou os Estados Unidos a apoiarem conspirações internas que articularam o golpe e a execução de Diem em 1963. Pouco tempo depois, o assassinato do presidente americano John F. Kennedy fez com que os Estados Unidos assumissem uma nova postura no conflito.
Com a morte de Kennedy, o vice, Lyndon Johnson, ocupou a presidência dos Estados Unidos e, durante o seu governo, o país passou a atuar diretamente no conflito com o envio de tropas. A entrada dos norte-americanos no conflito aconteceu após o Incidente do Golfo de Tonquim. Nesse incidente, a embarcação USS Maddox foi supostamente atacada duas vezes por torpedeiros norte-vietnamitas (o segundo ataque nunca foi comprovado). Isso foi utilizado como pretexto por Lyndon Johnson para autorizar o ataque ao Vietnã do Norte e o envio de tropas.
O presidente americano Lybdon B. Johnson na assinatura da Resolução do Golfo de Tonquim, que dava autoridade para a Casa Branca levar à nação a guerra no sudoeste da Ásia |
A entrada dos Estados Unidos na guerra motivou o envio de 184 mil soldados ao final de 1965. Esse número cresceu gradativamente nos anos seguintes, chegando a 429 mil soldados, em 1966, e 543 mil em abril de 1969. A presença estadunidense no conflito também promoveu intensos bombardeios no Vietnã e nos vizinhos Camboja e Laos.
A participação dos Estados Unidos na guerra, no entanto, não conseguiu a derrota das forças vietcongues. Utilizando-se do conhecimento geográfico das matas e de táticas de guerrilha, os vietcongues tornaram as batalhas desgastantes para as forças norte-americanas. Além disso, o uso de armamentos, como as bombas incendiárias Napalm, os ataques contra civis e o grande número de norte-americanos mortos no conflito impulsionaram uma campanha na imprensa dos Estados Unidos pela saída do país do conflito.
Soldados americanos inspecionando vilas vietnamitas em busca de soldados do Vietcongue |
Essas pressões da sociedade e da imprensa norte-americana levaram o presidente Richard Nixon a assinar um cessar-fogo e, em 1973, concluiu a retirada das tropas americanas do Vietnã. Sem esse apoio, o Vietnã do Sul não conseguiu conter as tropas comunistas e, em 1975, os vietcongues conquistaram a cidade de Saigon, realizando a unificação do Vietnã sob o comando dos comunistas em 1976.
Estima-se que, em decorrência desse conflito, os Estados Unidos tiveram por volta de 58 mil baixas, enquanto os exércitos do Vietnã do Sul 225 mil baixas e do Vietnã do Norte 1,1 milhão de soldados.
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