terça-feira, 31 de agosto de 2021

A CLASSE OPERÁRIA

  Classe trabalhadora é um conceito mais amplo da categoria clássica de proletariado, definida por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-185) no Manifesto do Partido Comunista de 1848. O conceito de classe trabalhadora abrange não só o proletariado, mas todas as camadas sociais que vivem da venda da sua força de trabalho.

  É importante distinguir que, em sociologia os conceitos de classe social mudam conforme a orientação de cada escola sociológica. A escola chamada histórico-crítica ou marxismo defende o conceito de que a divisão de classes deve ser compreendida a partir do lugar onde cada grupo de indivíduos está no processo de produção de mercadorias. Já as correntes de pensamento mais afetas ao liberalismo tem uma concepção de classe social conforme a renda e o padrão de vida do indivíduo ou grupo social.

  Para os marxistas, existem duas classes sociais autônomas politicamente no modo de produção capitalista: a burguesia, constituída pelos donos dos meios de produção e o proletariado, constituído pelos trabalhadores que fabricam mercadorias a partir da venda de sua força de trabalho. Vale ressaltar que a venda da força de trabalho não está limitada a venda para um empresário capitalista. Um pequeno proprietário de terras ou de comércio, permanece vendendo sua força de trabalho, apesar de não possuir um chefe e ser dono dos meios de produção ou detentor do capital intelectual que está utilizando o seu trabalho.

  Já a corrente liberal divide a sociedade por seus ganhos: existem, assim, estamentos sociais (estratificação social), organizados alfabeticamente (classe A, B, C, etc.), cada uma correspondendo a uma faixa de consumo e de renda.

  Atualmente, o conceito de classe trabalhadora sofre interferência das mudanças das relações de trabalho. O setor de serviços cresceu e muitas atividades, como, por exemplo, profissionais liberais e as consultorias, não utilizam meios de produção físicos (máquinas e ferramentas). Mesmo se utilizassem, seus donos seriam os próprios trabalhadores, porém, esse fato não os tirariam da classe trabalhadora.

Charge ilustrando a dominação do patrão sobre uma família operária

Formação da classe trabalhadora inglesa

  Nas fábricas inglesas havia operários de diferentes origens. Boa parte deles vinha do campo. Eram camponeses que tinham vivido em terras comunais (utilizadas de forma coletiva), de onde foram expulsos pelos grandes proprietários de terra. A tomada dessas terras deu-se com o apoio do governo inglês, que, desde o século XVI, vinha concedendo a esses proprietários rurais o direito de se apoderar das terras comunais para transformá-la em área de pastagem.

  Os camponeses viviam nessas terras comunais sem deter a posse delas; por isso, tiveram de abandoná-las, deixando para trás suas moradias e plantações. Na busca pela sobrevivência, esses camponeses migraram para as cidades, onde acabaram se tornando a principal mão de obra da nascente indústria inglesa.

  Também foram trabalhar nas indústrias diversos trabalhadores manuais, como sapateiros, ferreiros, tecelões, alfaiates, entre outros. Esses profissionais não tiveram condições de fazer frente à concorrência das indústrias.

  Para se ter uma ideia, um tecelão qualificado conseguia produzir, em sua oficina, uma peça de tecido por dia de trabalho. Nesse mesmo período, dois teares movidos a vapor produziam três peças e meia. Ainda que fosse de qualidade inferior, essas peças eram vendidas a preços bem mais em conta. Essa concorrência contribuiu para levar à ruína grande parte dos trabalhadores qualificados.

  Esses profissionais tiveram de vender seus equipamentos e suas ferramentas e buscar uma oportunidade de trabalho nas fábricas, que necessitavam de pessoas para operar as máquinas. Todo esse processo envolvendo trabalhadores rurais e urbanos deu origem ao surgimento de um novo grupo social, os proletários (operários).

Ilustração de 1865 que representa o papel central do maquinário nas indústrias do século XIX

As condições de trabalho

  As condições de trabalho do operariado eram precárias. Em geral, as pessoas permaneciam em locais úmidos e quentes, sem ventilação adequada. A alimentação servida era insuficiente e de péssima qualidade. As máquinas ofereciam perigo de acidentes ao menor descuido dos trabalhadores. Esses fatores, aliados à longas jornadas, contribuíam para reduzir a expectativa de vida dos operários.

  As fábricas tinham despesas elevadas com a compra das máquinas, mas se os equipamentos funcionassem por longos períodos os ganhos logo compensariam os gastos. Assim, interessados em recuperar rapidamente o capital investido, os patrões exigiam que seus funcionários realizassem jornadas de até 18 horas ininterruptas, seis dias por semana. Em muitas fábricas, só era permitido parar à noite para se alimentar. No restante da jornada, os funcionários eram obrigados a comer enquanto trabalhavam.

  Os trabalhadores eram vigiados por um supervisor ao longo de toda a jornada. Acidentes provocados pelo cansaço eram frequentes e acarretavam severas punições.

  As fábricas passaram a priorizar a contratação de mulheres e crianças - muitas com apenas 7 anos de idade, pois os patrões consideravam que trabalhadores com esse perfil eram mais dóceis. Além disso, ofereciam salários menores que os dos homens. Dessa maneira, muitos homens foram substituídos por seus filhos e esposas. Essa mudança contribuiu para a redução geral dos salários pagos a todos os trabalhadores.

Representação mostrando mulheres e crianças trabalhando em uma tecelagem na Inglaterra, no século XIX

Más condições de trabalho e trabalho infantil

  Os donos de fábrica costumavam recrutar crianças pobres em orfanatos. Elas recebiam o salário de aprendiz, o equivalente a cerca de metade do valor pago a um adulto, e podiam ficar com esse mesmo salário até os 21 anos de idade. Mesmo pequenos, meninos e meninas enfrentavam jornadas diárias de até 15 horas, podendo apanhar caso dormissem de cansaço durante o serviço.

  Em 1789, por exemplo, dois terços dos 1.150 funcionários que trabalhavam nas três fábricas da cidade de Derbyshire, na Inglaterra, eram crianças. Em meados da década de 1830, a cada quatro trabalhadores das fábricas inglesas de tecidos, havia um homem adulto, uma mulher e duas crianças e adolescentes.

  Uma das principais consequências da adoção da mão de obra infantil nas fábricas britânicas foi o aumento drástico da morte de crianças, por causa de acidentes de trabalho ou pelas doenças decorrentes da extensa jornada em locais insalubres, ou ainda por desnutrição.

  O salário que os trabalhadores recebiam mal dava para o sustento. A maior parte do dinheiro era gasto com o pagamento de impostos e taxas urbanas, pouco sobrando para a alimentação. A fome e a fraqueza deixavam os operários suscetíveis a doenças e epidemias, como cólera, febre tifoide e outras enfermidades que proliferavam nos bairros operários.

  Nesses bairros, as condições de higiene e saúde eram precárias. As pessoas viviam em cortiços e construções superlotadas, em casebres desprotegidos do vento e da chuva ou em habitações temporárias. Essas moradias ficavam em ruas escuras, sem pavimentação e mal ventiladas. As residências não tinham água suficiente, e o sistema de saneamento era precário ou inexistente.

Crianças trabalhando em uma fábrica de tecidos na Inglaterra no século XIX

A organização da classe trabalhadora

  A dura realidade das fábricas motivou os operários a se organizar e a lutar contra as más condições de trabalho e contra a exploração que sofriam nas fábricas. Sem nenhuma lei que os protegesse, muitos começaram a recusar os serviços nas unidades fabris. Preocupado com essa evasão de mão de obra, o governo inglês adotou diversas medidas repressivas. Uma delas estabelecia que o operário que abandonasse o emprego poderia ser acusado de vadiagem e até preso.

  As primeiras reações violentas dos trabalhadores ingleses começou em 1811, quando eles invadiram fábricas à noite para destruir máquinas. Esses trabalhadores ficaram conhecidos como ludittas, pois seu líder chamava-se Ned Ludd. As máquinas eram vistas como o principal responsável pela situação em que os operários se encontravam, pois substituíam a mão de obra operária e provocavam o desemprego. O movimento espalhou-se nas décadas seguintes para países como Bélgica, França e suíça.

  O luddismo, contudo, atacava apenas um aspecto do processo, a substituição dos trabalhadores pelas máquinas, deixando de lado suas causas: os diferentes interesses de trabalhadores e donos das fábricas.

  Muitos trabalhadores perceberam que essas ações não eram suficientes para melhorar as condições de vida do proletariado. Preocupados com os acidentes de trabalho, as doenças e o desemprego, os trabalhadores fundaram as primeiras associações de auxílio mútuo. O objetivo dessas entidades era criar uma reserva monetária para auxiliar os operários nos momentos de necessidade.

Representação dos ludditas destruindo uma máquina de tear em 1811

Nascem os sindicatos

  O surgimento das associações de auxílio mútuo foi o primeiro passo para a criação dos sindicatos trabalhistas, entidades destinadas a lutar pelos direitos do proletariado. Uma vez organizados em sindicatos, os trabalhadores ingleses - e mais tarde os de outros países - fariam importantes conquistas, como melhores salários, redução da jornada de trabalho, aposentadoria, descanso semanal remunerado, férias, etc.

  Um dos principais instrumentos adotados pelos trabalhadores para exigir mudanças nas relações de trabalho foi a greve. Assim, em vez de destruir as máquinas - como faziam os ludditas -, os operários paravam de trabalhar, paralisando as fábricas e a produção. Essa paralisação afetava diretamente os interesses dos donos das fábricas, pois a produção parada reduzia seus lucros.

  A luta dos operários começou a alcançar resultados mais efetivos a partir da década de 1830, quando os trabalhadores ingleses reuniram suas reivindicações na chamada Carta do Povo. Era um programa de seis reivindicações que operários apresentaram ao Parlamento britânico. Entre outras coisas, os trabalhadores defendiam jornada de dez horas de trabalho por dia e o direito de eleger seus representantes para o Parlamento.

  Nascia o cartismo, primeiro grande movimento político do proletariado que obteve importantes avanços trabalhistas, em especial quanto à jornada de trabalho de adultos e quanto ao trabalho infantil. A pressão deu resultado e, entre os anos de 1830 e 1840, o Parlamento inglês aprovou diversas leis que protegiam e regulamentavam as atividades de homens, mulheres e crianças nas fábricas. UM dos desdobramentos dessa luta dos trabalhadores foi o nascimento dos movimentos socialistas.

Representação de manifestação do cartismo em Londres

Nenhum comentário:

ADSENSE

Pesquisar este blog