Apesar dos avanços, a educação brasileira ainda enfrenta problemas na atualidade. No Ensino Médio, em particular, há grandes desafios, como garantir uma escola mais atrativa para os jovens, combater a evasão escolar e oferecer um ensino de qualidade.
A evasão escolar é um fenômeno complexo, que pode resultar de vários fatores, como ingresso precoce no mercado de trabalho, dificuldades de aprendizagem ou de acesso à escola, falta de interesse pelo modelo escolar existente no país, entre outros.
Em relação à falta de interesse pela escola, especialistas apontam que esse fator é responsável por cerca de 40% da evasão escolar. Entretanto, a questão é: Quais são as razões desse desinteresse pela educação?
A resposta não é simples, mas estudiosos identificam alguns aspectos, entre os quais está a falta de protagonismo do jovem. Na educação tradicional, o estudante é visto como objeto, destino, alvo, e não como sujeito da aprendizagem. Ele cria muito pouco e não é estimulado a refletir e vivenciar aquilo que é transmitido pelo professor na sala de aula. Enfim, tratado como agente passivo, o estudante não se envolve no processo de ensino e aprendizagem.
O Ensino Médio brasileiro vinha sendo organizado em 13 disciplinas obrigatórias e com uma abordagem de conteúdos muitas vezes desconectados entre si, mostrando-se pouco atraentes e sem responder às necessidades e às expectativas dos jovens no conteúdo histórico atual.
Na tentativa de implementar um novo modelo de Ensino Médio, a lei de Reforma do Ensino Médio propôs um currículo diversificado, em uma estrutura que compreende a formação geral básica, incluindo quatro áreas do conhecimento, a formação técnica e profissional e os itinerários formativos. O objetivo é flexibilizar o currículo de modo a possibilitar diferentes arranjos curriculares, que sejam relevantes para o contexto local e possam ser ajustados às diversas realidades das escolas e dos sistemas de ensino.
Algumas mudanças com o Novo Ensino Médio |
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
Um passo para concretizar essa proposta foi a aprovação da BNCC do Ensino Médio de 2018, que delimita os direitos e os objetivos de aprendizagem dos estudantes, expressos no desenvolvimento de competências e habilidades. A BNCC não é um currículo, mas, sim, um orientador curricular. Cabe aos estados e municípios elaborarem seus currículos a partir dos princípios e aprendizagens essenciais definidos por ela.
Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos) e habilidades, como práticas cognitivas e socioemocionais.
O Conselho Nacional de Educação (CNE), responsável por aprovar o texto final em dezembro de 2017, resolveu que, na BNCC, competências e habilidades estão relacionadas aos direitos e objetivos de aprendizagem dos estudantes.
O conceito de competência é associada à mobilização de conhecimentos e habilidades indispensáveis para a vida em sociedade. Foram definidas dez competências gerais que devem guiar o trabalho de todos os anos e em todas as áreas de conhecimento.
Entre as competências listadas na base estão: trabalhar em grupo, aceitar as diferenças, lidar com conflitos e argumentar, entre outras. Quatro das dez competências tratam do desenvolvimento de habilidades socioemocionais.
A proposta da base, no entanto, não é ensinar essas competências de forma isolada. Por isso, o professor terá papel fundamental no processo. Caberá a ele encontrar formas para, de maneira intencional e planejada, aliar o aprendizado dos conceitos ao desenvolvimento das competências. Além das competências gerais, cada área e cada componente curricular possuem suas competências específicas.
As habilidades dizem respeito às aprendizagens essenciais separadas para cada área, componente curricular e ano. São sempre iniciadas por um verbo que, segundo o texto da Base, "explicita o processo cognitivo envolvido".
Competências gerais da BNCC |
No Ensino Médio, a BNCC apresenta referências que rompem com a organização curricular centrada exclusivamente em componentes curriculares, dando maior espaço para o trabalho com áreas de conhecimento a fim de favorecer as abordagens interdisciplinares.
Segundo a orientação desse documento oficial, cada escola e sistema de ensino deverão elaborar o próprio currículo, com o intuito de promover o desenvolvimento dos estudantes nas dimensões intelectual, física, emocional, social e cultural. Esse direcionamento implica que, além dos aspectos acadêmicos, as unidades de ensino devem expandir a capacidade dos estudantes de lidar com seu corpo e bem-estar, suas emoções e relações, sua atuação profissional e cidadã, sua identidade e repertório cultural. Nesse princípio, a BNCC defende o princípio de uma educação integral dos estudantes.
Em síntese, a educação integral deve:
- Eleger o estudante como foco central e protagonista de seus processos de ensino e aprendizagem.
- Respeitar a diversidade e a singularidade do estudante no que diz respeito a sexo, etnia, identidade de gênero, orientação sexual, religião ou deficiência.
- Estimular a participação reflexiva, ativa, propositiva e colaborativa dos estudantes no cotidiano de suas escolas e na relação com seus pares.
A BNCC também defende a construção de currículos e propostas pedagógicas que atendam mais adequadamente às especificidades locais e à multiplicidade de interesses dos estudantes, estimulando o exercício do protagonismo juvenil.
O protagonismo deve ser entendido como a capacidade de enxergar-se como agente principal da própria vida, responsabilizando-se por suas atitudes, distinguindo suas ações das dos outros, e expressando iniciativa e autoconfiança. O estudante protagonista acredita que pode aprender e encontrar as melhores formas de fazer isso não apenas individualmente, mas atuando de forma colaborativa e participativa no contexto escolar.
Nesse sentido, a BNCC propõe que os estudantes deixem de desempenhar um papel de meros espectadores para se tornarem sujeitos ativos do seu processo de aprendizagem e de desenvolvimento pessoal. Portanto, a BNCC sugere que as situações de ensino e aprendizagem devem ser organizadas de modo que os estudantes exerçam, efetivamente, um papel autoral, ativo, criativo e autônomo de (re)construção e de invenção.
Ao considerarmos esse princípio de autoria e de protagonismo juvenil estaremos atentos à diversidade de cenários e de condições socioculturais nos quais a escola de Ensino Médio está inserida. Dentro dessa diversidade, é preciso promover a equidade.
2 comentários:
Uma matéria extraordinária. Gostei professor MARCIANO Dantas.
obrigado professor Rita de Cássia Soares
Postar um comentário