sábado, 24 de maio de 2014

CIGANOS: A MAIOR MINORIA EXCLUÍDA DA EUROPA

  Ciganos é um exônimo para roma e designa um conjunto de populações nômades que têm, em comum, a origem indiana e uma língua (o romani) originária do noroeste do subcontinente indiano. Também são conhecidos pelos termos boêmios, gitanos, calons (no Brasil), judeus (em Minas Gerais), quicos (também em Minas Gerais e em São Paulo), calés e calôs. Essas populações constituem minorias étnicas em inúmeros países do mundo.
  Grande parte da população cigana reside na Europa. Pouco se sabe sobre a origem e os costumes desse povo, além dos estereótipos amplamente difundidos. É fato, no entanto, que há muito tempo a população cigana sofre perseguição e discriminação em todo o mundo.
  Além de migrarem voluntariamente, esses grupos também foram historicamente submetidos a processos de deportação, subdividindo-se em vários clãs, denominados segundo antigas profissões, procedência geográfica, que falam línguas ou dialetos diferentes.
Ciganos romenos
HISTÓRIA
  Muitos, quando ouvem a palavra "cigano", pensam em povos nômades que preveem o futuro. Há diversas teorias sobre a origem destes povos, pois não existem muitos registros sobre sua história inicial.
  Somente a partir de meados do século XVIII, os primeiros livros sobre os ciganos europeus foram publicados e, quase todos os autores reforçaram ainda mais os estereótipos negativos. Muitos acreditam que sua origem vem do Egito, outros  da Índia ou do Paquistão. No final do século XVIII, antropólogos culturais levantaram a hipótese da origem indiana dos roma, baseada na evidência linguística - o que foi posteriormente confirmado pelos dados genéticos, tendo originados de populações do noroeste do Subcontinente Indiano, das regiões do Punjab e do Rajastão, tendo sido obrigados a emigrar em direção ao ocidente entre os anos 500 e 1.000 d.C. A saída da Índia provavelmente, foi motivado pelas invasões do sultão Mahmud de Ghazni. Mahmud fez várias incursões no norte da Índia, capturando os povos que ali viviam.
  Por volta de 1019-1020, o sultão saqueou a cidade sagrada de Kannauj, que era então, uma das mais antigas e letradas da Índia, capturando milhares de pessoas e vendendo-as em seguida aos persas. Estes, por sua vez, venderam os prisioneiros como escravos na Europa.
Rotas migratórias do povo cigano na Europa
  No Leste Europeu, cerca de 2.300 deles foram para as zonas dos principados cristãos ortodoxos da Transilvânia e da Moldávia, onde foram convertidos em escravos do príncipe, dos conventos e dos latifúndios.
  Em 1422, chegam a Bolonha, na Itália, em 1428 a França e a Suíça e, em 1500, ao Reino Unido.
  No século XV, vários povos, como judeus, muçulmanos e ciganos são perseguidos na Europa. Na Alemanha e nos Países Baixos, os ciganos eram exterminados a tiros por caçadores pagos por cabeça.
  Atualmente, eles vivem espalhados pelo mundo, e grande parte deles se concentra na Europa, continente no qual sofreram o maior massacre de sua história. A Romênia, com cerca de 2,5 milhões de ciganos, é o país que abriga o maior contingente dessa minoria no mundo.
Porcentagem da população cigana em cima da população total na Europa
  No período da Alemanha nazista, os ciganos foram um dos principais alvos do massacre contra minorias. Além dos judeus, os ciganos foram exterminados durante o holocausto (1939-1945) e alguns historiadores apontam que 25% da população cigana desapareceu. Entre 200.000 e 500.000 ciganos europeus teriam sido exterminados nos campos de concentração nazistas. Os ciganos também foram reprimidos e perseguidos em outros locais da Europa como Itália e Espanha.
  Os ciganos fazem parte de uma das minorias étnicas mais marginalizadas da Europa. A Suíça foi um dos primeiros países a instituir leis contra os ciganos em seu território, por volta de 1470.
Ciganas húngaras
  Com o fim da Segunda Guerra Mundial, grande parte da população cigana migrou para os Estados Unidos, país que aglomera cerca de 1 milhão de ciganos.
  O Relatório do Banco Mundial (BM) de 2008 afirmou que em alguns casos os ciganos são até dez vezes mais pobres que o resto da população europeia. Sua expectativa de vida é entre 10 a 15 anos menor que a média e sofrem altos níveis de discriminação nos setores de educação, trabalho, casa e saúde.
  Em 2006, o Conselho Europeu iniciou uma campanha para tentar combater a questão.
  No dia 2 de abril de 2009, o presidente do Parlamento Europeu, Hans-Gert Pöttering, recebeu um prêmio pelo trabalho desenvolvido na defesa dos direitos da comunidade cigana na Europa.
  No final de julho de 2010, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, decidiu, após dois incidentes envolvendo membros franceses da comunidade cigana, promover o retorno em massa dos ciganos à Romênia e Bulgária, o que suscitou uma grande polêmica.
Ciganas francesas
  Sempre que a situação fica mais difícil, os ciganos voltam a ser perseguidos. Embora a situação geral tenha melhorado com o fim do comunismo há mais de 20 anos e o ingresso da Romênia na União Europeia, para a minoria, as mudanças trouxeram retrocesso. Na era comunista, os ciganos eram integrados ao sistema de produção, embora em profissões simples. Muitos trabalhavam como ajudantes na construção civil. Com a privatização e o fechamento de empresas, foram os primeiros a serem demitidos em consequência da baixa qualificação.
Policial observa ciganos que embarcam para a Romênia, no aeroporto de Marselha - França
A RELIGIÃO DOS CIGANOS
  Os ciganos não têm uma religião própria, um Deus próprio, sacerdotes ou cultos originais. O mundo do sobrenatural para eles é constituído pela presença de uma força benéfica, Del ou Devél, e de uma força maléfica, Beng, contrapostas, numa espécie de zoroastrismo, provável resíduo de influências que esta crença teve sobre grupos que, em época remota, atravessaram o Irã.
  As crenças ciganas incluem uma série de entidades, cuja presença se manifesta sobretudo à noite. Em geral, os ciganos parecem ter-se adaptados, ao longo da história, às confissões vigentes nos países que os hospedaram, embora sua adesão pareça ser exterior ou superficial, com maior atenção aos aspectos coreográficos das cerimônias, como as procissões e as peregrinações, próprias de uma religiosidade popular, sobretudo católica.
Ciganas em ritual de Umbanda
CULTURA
  Os ciganos não representam um povo compacto e homogêneo. Mesmo pertencendo a uma única etnia, existe a hipótese de que a migração desde a Índia tenha sido fracionada no tempo e que, desde sua origem, eles fossem divididos em grupos e subgrupos, falando dialetos diferentes, ainda que afins entre si. O acréscimo de componentes léxicos e sintáticos das línguas faladas nos países que atravessaram no decorrer dos séculos, acentuou fortemente tal diversificação, a tal ponto que podem ser tranquilamente definidos como dois grupos separados, que reúnem subgrupos muitas vezes em evidente contraste social entre si.
Ciganas brasileiras
  As diferenças de vida, a forte vocação ao nomadismo de alguns, contra a tendência à sedentarização  de outros pode gerar uma série de contrastes que não se limitam a uma simples incapacidade de conviver pacificamente.
  Muitas pessoas de origem cigana tornaram-se famosos. Dentre eles se destacam ou destacaram: Juscelino Kubitschek, ex-presidente do Brasil, Zlatan Ibrahimovic, jogador sueco, Ricardo Quaresma, jogador da seleção portuguesa, dentre outros.
Juscelino Kubitschek - primeiro presidente de origem cigana do Brasil
FONTE: Projeto Araribá: geografia / organizadora Editora Moderna: obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna; editor responsável Fernando Carlo Vedovate. - 3. ed. - São Paulo: Moderna, 2010.

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