quinta-feira, 22 de maio de 2014

A REVOLUÇÃO CUBANA E A CRISE DE MÍSSEIS

  A Revolução Cubana ou Ditadura Cubana foi um movimento armado e guerrilheiro que culminou com a destituição do ditador Fulgêncio Batista de Cuba pelo Movimento 26 de Julho, liderado pelo então revolucionário Fidel Castro.
  O termo Revolução Cubana é genericamente utilizado como sinônimo do castrismo, governo autoritário, mas que em sua origem notabilizou-se pela implantação de uma série de programas assistencialistas sociais e econômicos, notadamente alfabetização e acesso à saúde universal.
  O primeiro dia do ano de 1959 marcou a vitória da Revolução Cubana, com a tomada da capital Havana. Depois de três anos de combates, os rebeldes comandados por Fidel Castro conseguiram derrubar o governo de Fulgêncio Batista. Hostilizado pelo governo dos Estados Unidos, os cubanos foram se aproximando cada vez mais da União Soviética, tonando-se o único país comunista das Américas.
Muro alusivo à Revolução Cubana, em Havana - Cuba
COMUNISTAS NA AMÉRICA
  Do século XVI até 1898, Cuba foi uma colônia da Espanha. Cuba estivera marginalizada no sistema espanhol até a última década do século XVIII, quando produtores franceses se transferiram para a ilha devido as revoltas dos escravos no Haiti. As feições escravista e latifundiária seriam definidas na sociedade cubana tardiamente, em relação ao restante do império colonial espanhol.
  O haitianismo encontrou eco em Cuba, desencorajando o radicalismo político das elites locais, que não se engajariam em lutas pela independência, como ocorrera na América do Sul, provocando um desinteresse pela ideia independentista nos anos de 1810 a 1820.
  As insatisfações cubanas seriam encaminhadas para o favorecimento da anexação pelos Estados Unidos nos anos 1840. Após a Guerra de Secessão, que culminou com a abolição da escravatura nos Estados Unidos, os escravistas cubanos se desinteressaram pela anexação.
Mapa de Cuba
  Em 1898, os Estados Unidos apoiaram um movimento de revoltosos cubanos contra a ocupação espanhola. As forças dos Estados Unidos venceram, forçando os espanhóis a deixarem a ilha.
  Ao final da Guerra Hispano-americana, os cubanos não participaram da negociação de paz e teriam que aceitar seus termos.
  Os Estados Unidos governaram Cuba até 1902, quando os cubanos puderam formar um governo próprio. Mas os estadunidenses continuaram presentes na ilha, onde construíram uma grande base naval na baía de Guantánamo, que mantêm até os dias atuais.
  De 1902 até 1959, Cuba foi governada por presidentes eleitos ou por ditadores totalmente dependentes do governo dos Estados Unidos e das empresas estadunidenses instaladas na ilha.
  Nesse período, Cuba tinha problemas políticos, mas não tão grandes quanto aqueles que viriam a acontecer. Fulgêncio Batista foi eleito presidente democraticamente pela primeira vez em Cuba, mas a sua presidência foi marcada por corrupção e violência.
Fulgêncio Batista (1901-1973)
  Entre 1906 e 1921, Cuba passaria por novas intervenções estadunidenses. O antiamericanismo se tornaria uma constante no quadro político do país.
  Nos anos de 1920, a revolta dos estudantes em meio a grave crise econômica culminou na vitória do liberal Gerardo Machado em 1924. Seu programa de diversificação econômica falhou. Houve mais protestos estudantis que foram reprimidos.
  Após anos de tensão, os estudantes chegariam ao poder, através de Ramón Grau San Martín. Uma revolta de suboficiais, do qual Fugêncio Batista participou, entregou o poder aos estudantes. Seguiram-se expropriações de engenhos, limitação da jornada de trabalho e outros atos políticos relevantes. A Revolução de 1933, ou Revolta dos Sargentos, deixou Cuba numa das piores crises de sua história. Após quatro meses de governo de Ramón Grau San Martín, Fulgêncio Batista toma o poder, instalando uma ditadura que duraria de 1933 a 1944.
Ramón Grau San Martín (1881-1969)
A REVOLUÇÃO CUBANA
  Em 1953, um grupo comandado pelo ex-líder estudantil Fidel Castro organizou uma rebelião contra o governo do ditador Fulgêncio Batista. O movimento fracassou e Fidel foi preso e condenado a 20 anos de prisão, levando ao desaparecimento do movimento. Em 1954, Batista foi reeleito como governador e, posteriormente, em um ato de reconciliação, Fidel, depois de cumprir parte da pena, foi solto e saiu de Cuba, indo para o México.
  No México, Fidel Castro reuniu um grupo de 82 homens treinados e armados que passou a se separar para começar uma revolução em Cuba. Entre eles estavam seu irmão, Raúl, Camilo Cienfuegos e o médico argentino Ernesto (Che) Guevara. Os guerrilheiros foram gradualmente se tornando populares, com dois novos líderes: Raúl Castro e Juan Almeida.
Fidel Castro com um grupo de guerrilheiros
  Em 2 de dezembro de 1956, a bordo do iate Granma, o grupo desembarcou em um porto do litoral sul de Cuba dois dias depois do previsto porque o barco estava carregado demais, frustrando todas as esperanças para um ataque coordenado com o llano, o "plano do movimento". Mas logo ao desembarcar os invasores foram atacados pelo exército de Batista. Dos 82 rebeldes, apenas doze sobreviveram, entre eles os principais líderes: Fidel, Raúl, Cienfuegos e Guevara.
  Os sobreviventes se esconderam na mata e, com o apoio de camponeses locais, chegaram à serra Maestra. Lá organizaram uma guerrilha, que contou com a adesão cada vez maior da população cubana. Em dois anos, o movimento guerrilheiro cresceu de tal maneira que as forças do ditador Batista conseguiam defender apenas algumas cidades. Ao mesmo tempo, grupos rebeldes atuavam também na capital, Havana, e nas principais cidades.
Fidel Castro e dois guerrilheiros no esconderijo em serra Maestra
  Em 13 de março de 1957, um grupo distinto dos revolucionários - o Diretório Revolucionário -, invadiu o Palácio Presidencial, na tentativa de assassinar Batista e pôr fim ao regime. O ataque foi suicida. O líder do DR, o estudante José Antônio Echeverría, morreu em um tiroteio com as forças de Batista.
  Insatisfeito com o governo cubano, os Estados Unidos impuseram um embargo econômico a Cuba e chamou o seu embaixador, enfraquecendo o governo Batista. A ajuda de Batista estava limitada aos comunistas, porém, os mesmos começaram a retirar seu apoio a longo prazo.
  O regime recorreu a métodos muitas vezes letais para manter as cidades de Cuba sob o controle de Batista. Mas nas montanhas de Sierra Maestra, Fidel, auxiliado pro Frank Pais, Ramos Latour, Huber Matos e vários outros guerrilheiros, encenaram ataques bem-sucedidos em pequenas guarnições do exército de Batista.
Fidel Castro na prisão, em julho de 1953
  Apesar do exército de Castro ser bem pequeno (inferior a 500 guerrilheiros) em relação ao exército cubano (que contava com mais de 30 mil homens), sempre provocava o recuo das tropas de Batista, graças ao embargo de armas ao governo de Cuba pelos Estados Unidos.
  As forças de Batista responderam aos guerrilheiros com um ataque nas montanhas chamado Operação Verano, onde cerca de 12 mil soldados (dos quais a metade eram recrutas inexperientes) foram derrotados pelos guerrilheiros.
  Na Batalha de La Plata, que durou de 11 de julho a 21 de julho de 1958, as forças de Castro derrotou um batalhão inteiro, capturando 240 homens, perdendo apenas três dos seus guerrilheiros.
  No dia 29 de julho, o pequeno exército de Fidel foi quase destruído na Batalha de Las Mercedes. Com suas forças presas pelos números superiores, Castro pediu e foi concedido um cessar-fogo temporário no dia 1 de agosto. Nos sete dias seguintes, enquanto as negociações não chegavam a um consenso, as forças de Castro escaparam e voltaram para as montanhas, terminando em fracasso a Operação Verano.
Sierra Maestra - local de refúgio das tropas de Fidel Castro
  No dia 21 de agosto de 1958, após a derrota da "ofensiva" de Batista, as forças de Castro começaram a sua ofensiva. Foram quatro frentes na província de Oriente, que estava dividido em Santiago de Cuba, Granma, Guatánamo e Holguín, tendo à frente os irmãos Fidel  e Raúl Castro e Juan Almeida Bosque, proporcionando uma série de vitórias dos guerrilheiros. No lado oeste, foram formados três colunas, tendo à frente Che Guevara, Camilo Cienfuegos e Jaime Vega.
  No dia 31 de dezembro de 1958, ocorreu a Batalha de Santa Clara, provocando uma derrota das tropas de Batista, que amedrontado, fugiu de Cuba para a República Dominicana.
  No dia 1 de janeiro de 1959, o exército de Batista foi completamente derrotado. Os guerrilheiros tomaram toda a ilha e Fidel foi nomeado primeiro-ministro.
  A maioria da população apoiou a Revolução. Mas milhares de pessoas deixaram o país e se exilaram no sul dos Estados Unidos, sobretudo na Flórida, onde formaram uma força política que tenta de todas as formas derrubar o governo de Fidel Castro.
Percurso dos guerrilheiros até conseguirem tomar o poder em Cuba
DEPOIS DA REVOLUÇÃO
  Com a vitória da revolução, os guerrilheiros que ajudaram Fidel Castro a tomar o poder receberam cargos em seu governo. Che Guevara tornou-se presidente do Banco Central, ministro da Indústria e, mais tarde, percorreu diversos países em missão diplomática. Os opositores e críticos da revolução fugiram para os Estados Unidos ou foram presos.
  O governo de Fidel Castro fez uma reforma agrária em Cuba, transferindo para o Estado as terras dos latifundiários, incluindo as da própria família de Fidel. Os meios de produção, como hotéis, refinarias de petróleo e outras empresas existentes no país, foram estatizados.
  Uma ampla campanha nacional, com o envio de professores para o campo, permitiu o fim do analfabetismo no país. A educação básica tornou-se obrigatória. Foram garantidas vagas nos cursos superiores a todos os interessados. Os serviços de saúde também foram estendidos a toda a população; os médicos passaram a visitar regularmente todas as famílias em suas casas.
Guerrilheiros junto com a população de Havana comemoram a vitória da Revolução
  Essas transformações puderam ser realizadas em grande parte por causa do apoio recebido da União Soviética.
  Em 1960, Fidel Castro foi a Nova York para explicar a Revolução Cubana na assembleia da ONU. Ele pretendia solicitar o apoio do governo estadunidense, mas não foi recebido por Dwight Eisenhower, então presidente dos Estados Unidos. Entretanto, o governante soviético Nikita Kruschev, também presente à reunião, aceitou conversar com Fidel e convidou-o a visitar a União Soviética.
  A aproximação com o governo soviético e as atitudes nacionalistas de Fidel Castro incomodaram o governo dos Estados Unidos e os donos das empresas e dos bancos que tinham propriedades em Cuba. Mas John Kennedy, o novo presidente dos Estados Unidos se recusou a comprar o açúcar cubano, principal produto de exportação do país. Mas a pressão econômica dos EUA não funcionou, pois os soviéticos se ofereceram para comprar açúcar e fornecer petróleo a Cuba.
Che Guevara com Fidel Castro
  Em abril de 1961, seis aviões dos EUA, pintados com as cores da Força Aérea Cubana, bombardearam aeroportos da ilha. Apenas três aviões foram atingidos em terra, mas sete civis cubanos foram mortos. No enterro dos civis, Fidel Castro declarou que a Revolução Cubana era socialista.
  A repercussão desse acontecimento foi péssima para o governo Kennedy. Em vez de abalar o poder de Fidel Castro, fortaleceu ainda mais o apoio à Revolução Cubana.
  Ainda em abril de 1961, exilados cubanos que viviam nos EUA desembarcaram na baía dos Porcos para tentar derrubar o governo de Fidel Castro. O governo Kennedy não cumpriu a promessa de enviar apoio aéreo, temendo agravar os problemas causados pelo bombardeio anterior. Sem a ajuda prometida, em apenas três dias os exilados cubanos foram vencidos pelas forças leais a Fidel.
Mapa da Baía dos Porcos
A CRISE DOS MÍSSEIS
  Ainda em 1961, o espião soviético Oleg Penkovsky entregou ao governo dos Estados Unidos uma cópia dos planos de instalação de armas nucleares soviéticas em Cuba. Em outubro do ano seguinte, um avião dos EUA sobrevoou Cuba e fotografou bases de mísseis nucleares.
  No dia 22 de outubro de 1962, o presidente John Kennedy fez um pronunciamento na televisão, informando a população sobre a existência de mísseis nucleares soviéticos em Cuba, capazes de destruir Nova York em 15 minutos. No mesmo dia, o espião Oleg Penkovsky foi preso em Moscou, onde seria executado no ano seguinte. Diante das pressões e das ameaças dos Estados Unidos, o ministro das Relações Exteriores da União Soviética, Andrei Gromiko, foi a Washington para negociar a retirada dos mísseis de Cuba.
  Como não conseguiram um acordo com o governo soviético, os EUA decretaram um bloqueio naval a Cuba, impedindo que qualquer armamento ingressasse na ilha. Esse bloqueio foi chamado pelos Estados Unidos de quarentena, para disfarçar uma intervenção em águas internacionais, que era tão ilegal quanto a instalação dos mísseis em Cuba. Navios soviéticos continuaram sendo enviados à ilha, apesar do bloqueio. Muitas pessoas acreditavam que a tão temida guerra nuclear iria começar quando os navios soviéticos fossem interceptados pelo bloqueio.
Míssil nuclear SS-4
  A crise se agravou no dia 27 de outubro, quando um avião dos Estados Unidos sobrevoou Cuba para fotografar novamente as bases de mísseis e foi derrubado. Para evitar uma guerra nuclear, o primeiro-ministro soviético, Nikita Kruschev, propôs trocar a retirada dos mísseis soviéticos de Cuba pela retirada dos mísseis estadunidenses instalados na Turquia, que ameaçavam o território soviético. O governo estadunidense aceitou, mas pediu que os soviéticos guardassem segredo.
  Na manhã do dia 28 de outubro, Kruschev anunciou que os mísseis seriam retirados de Cuba. No ano seguinte, os EUA removeram silenciosamente seus mísseis da Turquia. Assim, os governos dos Estados Unidos e da União Soviética reafirmaram o pacto informal que existia desde a Segunda Guerra Mundial: a América (com exceção de Cuba) seria dominada apenas pelos norte-americanos; em compensação, o Leste europeu seria controlado pelos soviéticos.
Área de alcance dos mísseis instalados em Cuba
FONTE: Cardoso, Oldimar. Leituras da história, 9º ano / Oldimar Cardoso. -- São Paulo: Escala Educacional, 2012. -- (Leituras da história).

Um comentário:

Anônimo disse...

Esta foi uma leitura agradável e esclarecedora,pois,a questão dos mísseis americanos na Turquia não era de meu conhecimento.A minha compreensão sobre esse tema estzava truncada devido a esse quesito.Realmente foi uma boa aula de história.Obrigado

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