domingo, 6 de fevereiro de 2011

PROPOSTAS DO GOVERNO DO EGITO NÃO BASTAM, DIZ IRMANDADE MUÇULMANA

 
Mubarak oferece concessões à oposição reforma constitucional.
Reuters
País tenta voltar à normalidade após 13 dias de violentos protestos.
  As reformas propostas pelo regime do presidente Hosni Mubarak para que o Egito saia da crise política em que está mergulhado são "insuficientes", anunciou neste domingo (6) o grupo islâmico Irmandade Muçulmana, importante força da oposição.
   O projeto de criar uma comissão  para preparar reformas constitucionais não basta, declarou Mohamed Mursi, líder do grupo, em entrevista no Cairo. "As demandas são ainda as mesmas. O governo não respondeu à maioria deles, apenas a algumas e de forma superficial", disse Essam al-Aryane, um outro dirigente da Irmandade.
   A decisão de criar a comissão foi tomada em encontro entre o vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, e líderes oposicionistas. O grupo deveria apresentar resultados antes da primeira semana de março, disse o porta-voz do governo, Magdi Radi.
   As mudanças vão, entre outras coisas, impor limites ao poder da Presidência. O governo também prometeu concessões à oposição: prometeu liberdade de imprensa e não interferir mais nas comunicações e na internet, como ocorreu durante os protestos, o que gerou críticas da comunidade internacional.
 Soldado lê jornal dentro de vaículo armado neste domingo (6) na Praça do Tahrir, Cairo. Fonte: G1
   Também prometeu libertar todas as pessoas detidas durante os confrontos de rua dos últimos dias e não perseguir os líderes das manifestações que agitaram o país nos últimos 13 dias, matando pelo menos 300 pessoas, deixando mais de 5.000 feridos e paralisando a economia e o turismo.
   As leis de emergência que vigoram no país desde a posse do contestado presidente Hosni Mubarak, em 1981, também deverão ser levantadas assim que a situação de segurança do país permitir.
   O acordo foi recebido com ceticismo por várias forças de oposição. Uma fonte da Irmandade Muçulmana disse à TV Al Jazeera que não confiava em que o governo iria cumprir sua palavra e dizia que a pressão pela saída de Mubarak deveria continuar.
   Ainda não está claro se os oposicionistas vão recuar de sua posição de exigir a saída imediata. Pressionado, Mubarak afirmava que só sairia em setembro, data das eleições presidenciais, por temer que o "caos" se instale no país com sua renúncia agora.
   O vice Suleiman, que foi durante muito tempo chefe da inteligência do país, parece ser cada vez mais, pelo menos publicamente, o centro da definição do futuro do país. Ele teria recusado a proposta de assumir os poderes de Mubarak durante a transição, segundo fontes que participaram da reunião.
   A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, saudou a entrada do grupo islâmico no diálogo.
Volta ao normal
   Os manifestantes anti-Mubarak continuavam a vigília na Praça Tahrir, a principal da capital, mas com menos pessoas do que nos dias anteriores. O Exército reforçou a segurança do local durante a madrugada.
  As ruas estavam cheias de motoristas e pedestres, e os engarrafamentos retornam à capital, assim como as buzinas dos automóveis. Alguns  estabelecimentos comerciais abriram as portas.
Pressão dos EUA
   O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, convocou líderes da Alemanha, do Reino Unido e dos Emirados Árabes Unidos para discutir a situação no Egito e a necessidade de mudanças políticas na região, segundo comunicado emitido sábado pela Casa Branca. "O presidente enfatizou a importância de uma transição ordenada e pacífica, começando agora, para um governo que responda às aspirações do povo egípcio, incluindo negociações com credibilidade e com a participação do governo atual e da oposição", disse o comunicado.
   Obama expressou "séria preocupação com os ataques a jornalistas e a grupos de direitos humanos, e reafirmou que o governo do Egito tem a obrigação de proteger os direitos de seu povo e de libertar imediatamente todos os que foram detidos injustamente" durante os protestos nos últimos dias.
   No comunicado emitido pelo governo americano, Obama não comentou as declarações de seu enviado especial ao Egito, Frank Wisner, que disse que o presidente egípcio Hosni Mubarak deve ficar no podr por enquanto para conduzir as mudanças necessárias a uma transição política.
Protestos seguiam, mas com menos gente neste domingo (6) na Praça Tahrir. Fonte: AP
   "Necessitamos chegar a um consenso nacional em torno das condições prévias para dar um próximo passo à frente. O presidente deve permanecer em seu cargo para liderar essas mudanças", disse Frank Wisner, de Washington, durante teleconferência com os participantes de um evento de segurança mundial em Munique, na Alemanha.
   Também neste sábado, a liderança do Partido Nacional Democrático, do governo do Egito renunciou em massa, atitude saudada pelos EUA como "um passo positivo. Gamal Mubarak, de 47 anos, filho de Mubarak e seu herdeiro político, está entre os que saíram, no que parece ser mais uma tentativa de conciliação do governo com o crescente movimento oposicionista.
   Outra TV, a Al Arabiya, chegou a informar que o presidente Mubarak também havia deixado o comando do partido, informação que não chegou a ser confirmada oficialmente e depois acabou corrigida pelo próprio canal.
   Hossam Badrawi, considerado da ala liberal do partido e que estava "escanteado" por conta de suas críticas ao governo nos últimos anos, assume como novo secretário-geral do comitê central.
   Ele, que tem boa relação com os oposicionistas, entra no lugar de Safwat el-Sharif, considerado um político bastante impopular e próximo a Mubarak.

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