quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A GEOPOLÍTICA NO PÓS-GUERRA

A GUERRA FRIA
  "Guerra improvável, paz impossível." Assim o intelectual francês Raymond Aron (1905-1983) definiu a Guerra Fria. Dada a capacidade bélica dos dois países - Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS) -, uma guerra efetiva nunca aconteceria, mas o clima de tensão permanente, típico dos conflitos armados, continuaria enquanto as posições políticas não fossem alteradas. Foi o que ocorreu com a URSS nos anos 1980.
Mapa da antiga União Soviética
  O período da Guerra Fria é compreendido entre os anos de 1945 e 1991. Seus marcos são o término da Segunda Guerra Mundial e a dissolução da URSS. Com o término da Guerra Fria, estabeleceu-se a ideia de uma nova ordem mundial. A vigência da Guerra Fria seria, portanto, a velha ordem mundial.
A FORMAÇÃO DA BIPOLARIDADE
  As raízes do processo que culminou com a Guerra Fria são anteriores ao desfecho da Segunda Guerra Mundial. Com o vácuo de poder deixado por França e Inglaterra, fortemente afetadas pelo conflito mundial, consolidou-se a posição dos EUA e da URSS, as duas potências vencedoras da Segunda Guerra.
  Nas conferências de Yalta e Postdam, ao final da guerra, os limites da bipolarização (divisão do mundo em dois blocos antagônicos, o socialista e o capitalista) foram esboçados, pois ali já se cogitava a questão da divisão da Europa em áreas de influência soviética e estadunidense. Apontava-se uma situação de conflito nos campos ideológico, econômico e político, assim como nas dimensões militar e estratégica.
Winston Churchill (Grã-Bretanha), Harry S. Truman (EUA) e Josef Stalin (URSS) durante a Conferência de Postdam
  Após os julgamentos de Nuremberg (entre 1945 e 1946), em que a culpa pelos conflitos da Segunda Guerra Mundial foi atribuída aos alemães, o mundo assistia à formação de dois blocos de países com sistemas políticos e econômicos diferentes, que disputariam a supremacia em nível global.
  De um lado estavam os EUA, cujo território saíra praticamente ileso da Segunda Guerra Mundial, com uma economia em franca produção - graças ao esforço de guerra e à força política de quem entrou no conflito para apoiar os Aliados (franceses, ingleses e soviéticos). Do outro a URSS, também vencedora, mas com um saldo muito amargo. Os soviéticos enfrentaram e derrotaram o exército alemão em seu território, fazendo-o recuar às fronteiras germânicas. O preço da vitória militar  foi um rastro de destruição nas cidades e nas indústrias soviéticas. Os campos foram bombardeados, o que levou à queda das safras. As perdas humanas foram imensas: estima-se que mais de 20 milhões de soviéticos perderam a vida (a maioria civis), enquanto outros milhares ficaram feridos.
Tanques de guerra alemães passam por aldeia soviética em chamas, incendiada pelo povo antes da evacuação, durante a Segunda Guerra Mundial, em julho de 1941.
  Com esse histórico, EUA e URSS iniciaram um processo de consolidação e difusão dos seus regimes e ideologias para outras partes do globo. O restante dos países do mundo, sob influência de cada um deles, se alinharia em dois blocos.
A CORTINA DE FERRO
  Após a Segunda Guerra Mundial, o governo dos EUA criou o Plano Marshall, conjunto de medidas de ajuda econômica para que os países europeus pudessem reconstruir seus territórios. No âmbito político-militar, sob a liderança dos EUA, foi fundada, em 1949, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), cujo objetivo era proteger os países aliados capitalistas.
  A resposta soviética foi a constituição de organizações semelhantes, como o Conselho para Assistência Econômica Mútua (Comecom) e o Pacto de Varsóvia (1955), uma aliança militar de defesa e ajuda mútua em caso de ataque estadunidense a um dos países do bloco socialista.
Países membros da Otan (amarelo) e do Pacto de Varsóvia (laranja).
  A fronteira entre os países socialistas e capitalistas, tão bem definida pelas alianças militares, constituía o que veio a ser chamado de Cortina de Ferro: os países do Leste Europeu localizados na interface das áreas de influência de cada bloco.
Em vermelho a chamada "cortina de ferro" - linha que separava os países socialistas dos capitalistas na Europa.
OS CONFLITOS DA GUERRA FRIA
  Suponha-se inicialmente que, dadas as perdas soviéticas na guerra, a URSS não conseguiria enfrentar os EUA e suas bombas atômicas, como as lançadas sobre o território japonês (Hiroshima e Nagasaki, em 1945). Mas, ainda na década de 1950, os soviéticos já tinham toda a tecnologia e o know-how da bomba atômica e apresentaram seus artefatos nucleares. Depois, o primeiro satélite; o primeiro ser vivo mandado para o espaço (a cadelinha Laika); e o primeiro cosmonauta, Yuri Gagarin.
Yuri Gagarin - primeiro ser humano a sobrevoar o espaço terrestre
  Posteriormente, ocorreram as missões espaciais estadunidenses - a Apollo 8 sobrevoou o entorno da Lua e a Apollo 11 pousou em solo lunar. Os Estados Unidos ganhavam a dianteira na corrida espacial. Paralelamente aos avanços aeroespaciais, veio o crescimento dos arsenais militares, criando o chamado equilíbrio do terror: as duas potências poderiam destruir uma à outra e ao mundo.
Neil Armstrong - pisando e fincando a bandeira dos Estados Unidos no solo lunar, em 20 de julho de 1969.
  Ainda que não tenha havido guerras entre elas, houve momentos de grande tensão, como a crise dos mísseis, em 1962; mísseis nucleares soviéticos foram instalados em Cuba, sob o pretexto de auxiliar a ilha a defender seu território, que sofrera uma tentativa de invasão com apoio do governo estadunidense.
Mísseis soviéticos instalados em Cuba
  Houve também guerras, ainda que não nos territórios dos EUA e da URSS: da Coreia (1950-1953), do Vietnã (1962-1975) e do Afeganistão (1979-1989). Outros países se envolveram nas tensões da Guerra Fria, como Israel, apoiado pelos Estados Unidos. Todos esses conflitos tiveram participação direta ou indireta dos EUA e da URSS, que buscavam manter sua influência sobre o maior número possível de países.
Crianças fogem desesperadas após a explosão de uma bomba de napalm, em 1972, durante a Guerra do Vietnã.
A DESCOLONIZAÇÃO
  Na Segunda Guerra, os governos dos países colonizados pelas potências europeias perceberam que seus dominadores não tinham mais a força de outrora e não poderiam despender energia para confrontá-los. Isso fortaleceu os movimentos internos de libertação das colônias na África e no Sudeste Asiático.
  Esses movimentos assumiram características distintas, dependendo dos ideais que os norteavam e da reação das potências. O jogo político gerou em algumas colônias um processo gradual e pacífico às quais as potências concederam a independência. Em outras, o processo de descolonização deu-se por meio de sangrentas guerras.
Domínios coloniais na África, Ásia e Oceania
  A Inglaterra adotou uma postura mais pacifista, enquanto a França e a Holanda tiveram posturas mais duras, tentando conter as "insubordinações". Ambas, entretanto, acabaram cedendo à pressão dos movimentos populares de resistência e libertação.
A DESCOLONIZAÇÂO NA ÁSIA
  As Filipinas tornaram-se independentes em 1946. Antiga colônia estadunidense, o arquipélago foi o pioneiro no processo de independência. Em 1949, foi a vez da Indonésia. Apesar de perder uma guerra travada com os holandeses, as forças nacionalistas conseguiram formar um governo reconhecido pela antiga metrópole.
Domínios estrangeiros na Ásia e Oceania
  Denominada Indostão, a região que hoje abrange os territórios da Índia, de Bangladesh e do Paquistão tornou-se independente no fim dos anos 1940. Em 1942, no auge do conflito mundial, acentuou-se a luta dos indianos pela independência, sob a lideranaça de Mahatma Gandhi - que pregava a resistência pacífica contra o domínio inglês - e Jawaharlal Nehru, entre outros. Esses líderes haviam estudado em universidades britânicas e voltado ao seu país para fortalecer o movimento de libertação.
Indostão
  No final da Segunda Guerra Mundial, graves distúrbios sociais abalaram a Índia e, em 1947, a diplomacia britânica concedeu a liberdade ao país.  Nehru tornou-se o primeiro chefe de Estado indiano. Mas o governo sofreu forte oposição da Liga Muçulmana, que defendia a existência de um Estado muçulmano independente. No mesmo ano, o território foi dividido em dois Estados soberanos: a Índia (de população hindu) e o Paquistão (de população muçulmana). Em 1948, Gandhi foi assassinado por um radical hindu revoltado pela atitude de conciliação do líder para com os muçulmanos. Bangladesh só viria a se tornar independente em 1971, após conflito armado com o Paquistão.
Mahatma Gandhi - a "Grande Alma"
  Ainda hoje são percebidas marcas da colonização britânica, como o idioma inglês, falado por grande parte da população indiana, e o gosto pelo críquete, tradicional esporte britânico.
  Na Indochina, entre 1946 e 1954, a França entrou em violento conflito, que deixou como saldo a fragorosa derrota do exército francês. O resultado disso foi a independência da região que se dividiu em três países: Laos, Camboja e Vietnã. Este último dividiu-se em Vietnã do Norte e Vietnã do Sul, cada qual sob a influência de uma das potências da Guerra Fria, tornando-se mais tarde palco de uma violenta guerra de mais de uma década (1962-1975), que impôs aos EUA uma grande derrota.
Península da Indochina
A DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA
  O processo de descolonização da África iniciou-se nos anos 1950. Nesse continente, a questão da independência tem características específicas, pois os países estão presos às fronteiras projetadas pelos cartógrafos europeus que realizaram a divisão africana na Conferência de Berlim. São Estados forjados no processo de divisão colonial, cujos territórios abrigam grupos étnicos historicamente rivais, que passaram a disputar oficialmente o poder.
  Manter os traçados dos colonizadores é um paradoxo: ao mesmo tempo que isso desrespeita a história, é o caminho mais viável para a consolidação de um processo de paz no continente. Desfazer as fronteiras é muito mais difícil do que estabelecê-las.
Divisão da África de acordo com a Conferência de Berlim
Processos violentos e pacíficos
  Uma das principais marcas do processo de colonização africana foi o racismo dos colonizadores, expressado com mais clareza no apartheid, implantado na África do Sul.
  Houve movimentos de libertação na África, principalmente nas antigas colônias inglesas, como Gana e Nigéria, que mesmo sendo países pluriétnicos conquistaram a independência de modo rápido e relativamente pacífico. Também na Líbia o processo foi relativamente fácil, dada a inexpressiva resistência da Itália, em 1951.
Mapa da independência dos países da África
  Após nove anos de guerra, a França foi obrigada a reconhecer a independência da Indochina, derrota que estimulou a manutenção de uma postura firme na África. Assim, a região do Magreb, no norte da África, sofreu por anos com um dramático conflito. Durante quase uma década, até o armistício de 1962, o exército francês guerreou na Argélia. Aproveitando que o conflito acontecia com maior intensidade no país vizinho, Marrocos e Tunísia declararam-se independentes em 1956, sendo reconhecidos pelo governo da França.
Em destaque a região do Magreb
  Com a chegada de Charles de Gaulle ao poder na França, em 1958, o processo de descolonização foi facilitado. De Gaulle buscava restabelecer a imagem da França no continente europeu e recuperar o prestígio do país, que ficou muito abalado após as duas grandes guerras e o desgaste com as guerras coloniais. Todas as ex-colônias francesas foram libertadas.
Charles de Gaulle
  As colônias portuguesas (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe) foram as que mais demoraram a se libertar. Até 1974, Portugal manteve com mão de ferro seus domínios na África. Portugal nunca fora uma potência industrial e mantinha um vínculo com as colônias ao estilo antigo, como no tempo das Grandes Navegações (séculos XV e XVI). Apenas com a Revolução dos Cravos, em 1974, as colônias portuguesas alcançaram a independência.
Colônias portuguesas na África: 1 - Guiné-Bissau; 2 - Moçambique; 3 - São Tomé e Príncipe; 4 - Cabo Verde; 5 - Angola.
  A independência do Congo Belga (atual República Democrática do Congo - RDC) também foi sangrenta. Fruto de uma aquisição pessoal do rei Leopoldo II, da Bélgica, esse território ficou de herança para o país após a morte do soberano. Nos anos 1950, explodiram os movimentos de libertação nacional, e em 1960 a independência foi reconhecida. Os anos seguintes foram marcados por guerras e massacres levados a cabo por Mobutu Sese Seko, que tomou o poder, mudou o nome do país para Zaire e governou até sua ditadura ser derrubada, em 1997.
República Democrática do Congo
O MOVIMENTO DOS NÃO ALINHADOS
AS ORIGENS
  O movimento dos países africanos e asiáticos não alinhados teve suas origens na Conferência de Bandung, em 1955. Nela, os representantes desses países se posicionaram contra um alinhamento aos blocos capitaneados pelas grandes potências, EUA e URSS. Todavia, participaram desse evento países como a Turquia, o Paquistão, o Iraque, a China e o Vietnã do Norte, que mantinham relações políticas e laços muito estreitos com os blocos que compunham o sistema bipolar.
  Inicialmente, compunham o movimento alguns países que haviam acabado de ser libertados da dominação dos impérios coloniais, como a Índia, a Indonésia e o Egito.
  Depois da conferência, começou um movimento de rejeição à política dos dois blocos hegemônicos da Guerra Fria. As discussões avançaram com a realização da Convenção dos Países Não Alinhados, na cidade do Cairo, e da Cúpula dos Países Não Alinhados, em Belgrado, na então Iugoslávia, ambas em 1961.
Países que participaram do Movimento dos Países Não Alinhados.
A POSIÇÃO POLÍTICA
  Ser um país não alinhado tinha, inicialmente, muitos significados, uma vez que eles eram desmerecidos pelas duas potências. Os EUA os consideravam traidores da democracia e os soviéticos contrapunham-se a qualquer país que não pertencesse ao bloco socialista.
  Alguns desses significados eram extremamente importantes, como a manutenção de uma posição anti-imperialista. Outro ponto relevante era abster-se de configurar nas opções políticas e estratégicas dos países de ambos os blocos, ainda que suas fronteiras fossem próximas. Um terceiro ponto de relevância era a postura de não assumir posições militares de apoio. Ou seja, esses países não adeririam a nenhum tratado militar que fosse proposto, tampouco cederiam suas bases territoriais para quaisquer tipos de atividade ou ação militar de países pertencentes a um dos blocos.
A DESCOLONIZAÇÃO E O TERCEIRO MUNDO
  Com as guerras de independência e o constante movimento de descolonização e dissolução dos impérios coloniais, principalmente na Ásia e na África, uma série de novos países foi surgindo no globo. Por conta de suas economias destruídas pelas guerras e/ou pelos longos períodos de dominação colonial, eles foram engrossando as fileiras do movimento dos não alinhados. Dos 29 países que se encontraram em Bandung, em 1955, o grupo hoje conta com mais de cem países.
Movimento dos Países Não Alinhados em 2005: países membros (azul escuro) e observadores (azul claro)
O TERCEIRO MUNDO E O NÃO ALINHAMENTO
  Durante a Guerra Fria, era comum dividir o mundo em três blocos: Primeiro Mundo (países capitalistas desenvolvidos), Segundo Mundo (países socialistas) e Terceiro Mundo (países capitalistas não desenvolvidos). Foram fundamentalmente os países pertencentes a este último grupo que formaram o bloco dos não alinhados.
  É importante notar que esse é um bloco heterogêneo, que abriga desde países como Cuba (socialista) até países como a Índia e o Egito, que sempre se declararam capitalistas.
Divisão dos países durante a Guerra Fria em: Primeiro Mundo (azul), Segundo Mundo (vermelho) e Terceiro Mundo (verde).
A DINÂMICA INTERNA
  As bases do movimento, discutidas em três conferências - Bandung (1955), Cairo (1961) e Belgrado (1961) - foram levadas à Organização das Nações Unidas (ONU), de modo que dessem maior publicidade  a sua posição de neutralidade política. Esse foi um gesto eminentemente político, pois sendo os países membros das Nações Unidas, a neutralidade clássica foi quase impossível, devido a estrutura da própria organização, que mantém um Conselho de Segurança e possui algumas prerrogativas para formar forças de paz e de intervenção em conflitos armados em diferentes territórios.
  Também houve mudanças na atuação e na linha política do bloco. O ímpeto inicial anti-imperialista e anti-Guerra Fria foi se alterando com as mudanças ocorridas nas relações entre EUA e URSS ao longo do tempo. Ainda hoje o movimento existe formalmente, e sua última conferência foi realizada em Havana, capital de Cuba, em 2006. Mas no mundo atual é difícil verificar a posição de não alinhamento, dados o fim da Guerra Fria e o esgarçamento das bandeiras iniciais do movimento.
Representantes de vários países durante a XVI Cúpula do Movimento dos Países Não Alinhados, em Havana, Cuba, em setembro de 2006.
O FIM DA UNIÃO SOVIÉTICA E A NOVA ORDEM MUNDIAL
  A União Soviética constituiu, por mais de cinquenta anos, um sistema antagônico ao capitalismo; firmou-se como uma grande potência militar após vencer os alemães, fez frente aos Estados Unidos, da ideologia política aos processos industriais, desenvolvendo poderio atômico e forte  indústria aeroespacial.
  Durante as décadas de 1970 e 1980, o planejamento estatal dava sinais de fadiga. A excessiva burocracia político-administrativa soviética gerava corrupção, pouca motivação e acomodação. Os excessos burocráticos também causavam desperdícios de matéria-prima, levando a diminuição da produtividade e à falta de produtos.
Kremlin - era a sede oficial do Soviete Supremo da União Soviética
  Envolvido em conflitos externos, como a guerra com o Afeganistão, e em disputas políticas internas, o país assistiu ao fracasso de seus planos de melhoria em setores como habitação e transporte. Os recursos destinados a esses setores eram alocados em outros, especialmente no militar. Além disso, a população estava insatisfeita com a falta de liberdade e de participação política no país, que era subordinada ao partido único, o Partido Comunista.
  Esse conjunto de fatores contribuiu para a dissolução da União Soviética.
  Diante desses desafios, Mikhail Gorbachev assumiu a liderança do país, em 1985.
  Ele conhecia as agruras do sistema, pois fizera carreira política no Comitê Central do Partido Comunista. Seu programa de mudanças acabou levando o regime comunista à dissolução.
  Em 1986, a URSS revogou, de maneira unilateral, os testes nucleares subterrâneos. No dia seguinte, assinou um tratado de eliminação de mísseis de médio alcance e logo depois retirou as tropas do Afeganistão (invadido em 1979). Seu plano era fortalecer a economia, diminuindo o peso dos gastos militares.
Retirada das tropas soviéticas do Afeganistão em 1988
  Paralelamente, Gorbachev colocou em prática uma reforma interna pautada na perestroika (reestruturação econômica) e na glasnost (abertura política). Reduziu ainda a estrutura estatal repressiva e as atribuições da KGB (a polícia secreta da URSS), liberou a formação de novos partidos políticos e arrefeceu o controle exercido sobre os países-satélites europeus.
Mikhail Gorbachev
  Prontamente houve reações. Os conservadores eram contra as mudanças; outros setores queriam que se estabelecesse o capitalismo. Quando as repúblicas bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia) defenderam sua autonomia, a pressão interna aumentou. Em agosto de 1991, Gorbachev sofreu um golpe de Estado e foi restituído do poder; mas, enfraquecido, passou o cargo a Boris Yeltsin, presidente da Rússia, em dezembro. Era o fim da URSS, que se fragmentou em 15 Estados nacionais.
  Nascia assim a Comunidade dos Estados Independentes (CEI), cuja república principal é a Federação Russa (Rússia). A máquina militar, debilitada abriu espaço também para o processo  de desmontagem da Cortina de Ferro: os antigos países sob a influência da URSS desvincularam-se dela e mudaram de lado. Redesenhou-se o mapa da Europa e da Ásia.
Países que faziam parte da antiga União Soviética: 1 - Armênia; 2 - Azerbaijão; 3 - Bielorrúsia (Belarus); 4 - Estônia; 5 - Geórgia; 6 - Cazaquistão; 7 - Quirguistão; 8 - Letônia; 9 - Lituânia; 10 - Moldávia; 11 - Federação Russa (Rússia); 12 - Tadjiquistão; 13 - Turcomenistão; 14 - Ucrânia; 15 - Uzbequistão.
UM NOVO MAPA PARA A EUROPA
  A derrocada da URSS formalizou o fim da Guerra Fria, mas os sinais de deterioração já eram claros. Em novembro de 1989, a queda do Muro de Berlim - que dividia Berlim Oriental (comunista) de Berlim Ocidental (capitalista) - foi o mais evidente símbolo do fim da hegemonia da União Soviética e anunciou a dissolução do bloco socialista.
  Outros países passaram por processos de desmonte das estruturas comunistas e adaptação ao capitalismo. Houve uma redefinição das fronteiras nacionais da Europa e a busca de um rearranjo étnico nos países.
Mapa da Europa durante a Guerra Fria
  Na Tchecoslováquia, a Revolução de Veludo (1989) derrubou o comunismo. Alguns anos depois, por uma série de razões de ordem econômica, cultural e social, o país foi dividido em dois: República Tcheca e Eslováquia. A Polônia, também em 1989, proclamou a chamada Terceira República e, em 1990, instituiu um programa de reformas internas para se adequar às estruturas capitalistas.
República Tcheca (azul) e Eslováquia (verde)
  Na Romênia, a derrubada do regime comunista ocorreu de maneira sangrenta. Nicolae Ceausescu, líder do país por mais de duas décadas, foi fuzilado pelo Exército romeno após ser acusado de genocídio e outros crimes e julgado culpado.
  A situação mais dramática aconteceu na Iugoslávia. Norman Stone escrevia, em 1992, no jornal inglês Sunday Times: "Na Iugoslávia havia seis repúblicas (Eslovênia, Croácia, Bósnia, Sérvia, Montenegro e Macedônia), cinco povos (eslovenos, croatas, sérvios, albaneses e montenegrinos), cinco idiomas (sérvio, macedônio, bósnio, croata e eslovênio) , três religiões (católica, muçulmana e ortodoxa), dois alfabetos (cirílico e latino) e um partido - o comunista". A frase sintetiza o caldeirão étnico-cultural que compunha o país. De 1945 a 1980, a Iugoslávia foi governada por Josip Broz Tito, que conseguiu manter a unidade do país. Com sua morte, porém, surgiram os primeiros problemas relacionados à xenofobia interna, embora o comunismo ainda fosse o sustentáculo do Estado.
Mapa da étnico-religioso da ex-Iugoslávia
  Com a queda do regime comunista, as repúblicas da Croácia e da Eslovênia declararam independência. O governo respondeu com violentos ataques do exército, mas os países foram reconhecidos internacionalmente.
  Em 1992 iniciou-se um violento conflito na Bósnia-Herzegóvina. A guerra, que durou até 1995, envolveu sérvios, croatas e muçulmanos. As forças de Paz da ONU intervieram, bem como a Otan, o que pôs fim ao conflito e confirmou a independência da Bósnia-Herzegóvina.
  Ainda em 1992, a Macedônia conseguiu autonomia por acordo político. Em 1999, a província de Kosovo declarou-se independente e teve seu território invadido pelas tropas sérvias. Os albaneses, maioria da população de Kosovo, acusou o presidente iugoslavo, Slobodan Milosevic, de praticar uma carnificina na província. A Iugoslávia foi invadida por tropas da Otan, pondo fim ao conflito. Em 2003, o território remanescente da Iugoslávia passou a chamar-se Sérvia e Montenegro. Depois de um plebiscito, Montenegro separou-se da Sérvia em 2006.
Atual divisão da ex-Iugoslávia
FONTE: Geografia, 3° ano: ensino médio / organizadores Fernando dos Santos Sampaio, Ivone Silveira Sucena. 1. ed. - São Paulo: Edições SM, 2010. (Coleção ser protagonista).

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

AS TERMELÉTRICAS CONVENCIONAIS

  A central termoelétrica ou usina termoelétrica, é uma instalação industrial usada para geração de eletricidade que gera energia a partir da energia proveniente da queima de combustíveis renováveis (biocombustíveis) ou não renováveis (carvão mineral, gás natural e petróleo).
  Assim como na energia hidrelétrica, em que um gerador, impulsionado pela água, gira,transformando a energia potencial em energia elétrica, nas termelétricas a fonte de calor aquece uma caldeira com água gerando vapor d'água em alta pressão, e o vapor move as pás da turbina do gerador.
Usina termelétrica em Victória - Austrália
  A primeira termelétrica no Brasil foi inaugurada em 1883, em Campos dos Goytacazes (RJ), com a potência de 52 KW.
  A partir do ano 2000, foram construídas diversas termelétricas no Brasil com o objetivo de diversificar a matriz energética do país. Os combustíveis mais utilizados para movimentá-las são gás natural, óleo diesel e carvão.
  Essas usinas podem ser construídas em lugares isolados, economizando o custo das linhas de transmissão. Entretanto, têm como desvantagens o alto preço do combustível e os impactos ambientais causados principalmente pela poluição do ar e a construção de estradas.
Mapa da termeletricidade no Brasil
  No Brasil, as usinas termelétricas movidas a diesel distribuem-se principalmente em áreas pouco servidas por redes hidrelétricas, como a Região Norte.
  As usinas termelétricas consomem 85% do carvão produzido no país. As maiores reservas de carvão mineral estão nos estados da Região Sul, notadamente no Rio Grande do Sul, que dispõe de mais de 90% das reservas. Além de gerar um volume insuficiente para o consumo, a produção carbonífera brasileira apresentam características que dificultam e encarecem a sua exploração, como o reduzido poder calorífico, em razão da  presença elevada de impurezas, e a existência de camadas finas e descontínuas nas jazidas.
Termelétricas a carvão no Brasil
  No Rio Grande do Sul, a ampliação da usina a carvão Candiota duplicará o consumo desse combustível no estado.
  As termelétricas movidas a carvão e gás concentram-se em lugares onde já existem gasodutos em operação ou estão perto das reservas - o que favorece o acesso ao suprimento.
  Em 2012, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) existiam no Brasil mais de 100 usinas termelétricas em operação abastecidas a gás natural, que geram em torno de 13.000 MW (megawatts).
Termelétricas a gás natural no Brasil
FONTE: Terra, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil / Terra Lygia, Regina Araújo, Raul Borges Guimarães. - 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2010.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

HIDRELETRICIDADE E AMEAÇAS À SOCIOBIODIVERSIDADE

  Segundo dados da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) 2011, as usinas hidrelétricas respondem por 81,7% da matriz de oferta de energia elétrica no Brasil, constituindo-se na maior fonte produtora de eletricidade no país.
  A partir da década de 1940, com o crescimento industrial, o Brasil orientou sua política energética para a hidreletricidade. O clima equatorial e os subtipos de climas tropicais que predominam no Brasil apresentam elevadas médias pluviométricas, fornecendo um grande volume de água para os rios. Além disso, os extensos planaltos são responsáveis pelos desníveis e cachoeiras, que propiciam força necessária para a geração de energia nas turbinas.
Matriz elétrica brasileira em 2011
  Em 1962, foi criada a Eletrobrás (Centrais Elétricas Brasileiras S.A.) para controlar o sistema de geração e transmissão de energia elétrica no Brasil. Atualmente, essa companhia, a maior do setor de energia elétrica da América Latina, atua como holding, centralizando o controle de seis subsidiárias (Chesf, Furnas, Eletrosul, Eletronorte, CGTEE e Eletronuclear) e de grande parte dos sistemas de geração e transmissão de energia no país.
  As redes elétricas brasileiras figuram entre as mais potentes e extensas do mundo. Suas linhas de transmissão percorrem grandes distâncias, permitindo, assim, o aproveitamento do potencial hidrelétrico de rios distantes dos grandes centros consumidores.
  Na década de 1990, o Estado realizou intervenções no setor elétrico que alteraram seu funcionamento. Depois de mais de 50 anos de controle estatal, a Lei de Concessões Públicas, de 1995, permitiu à iniciativa privada distribuir e comercializar energia elétrica. Em 1996, foi criada a Aneel para regular e fiscalizar a produção, a transmissão, a distribuição e a comercialização de energia elétrica. A exploração dos potenciais hidráulicos, passou a ser concedida por meio de concorrência ou leilão. Nessa década, diversas empresas estatais de energia foram privatizadas, como Light, Coelba, CEEE-Centro-Oeste, CEEE-Norte-Nordeste, Eletropaulo, Celpa, Elektro, Gerasul, Celpe, Cemar, Saelpa etc.
  A geração de hidreletricidade utiliza uma fonte de energia renovável que não emite gases causadores do efeito estufa. No entanto, a construção de uma hidrelétrica envolve grandes obras de engenharia, desvio ou aumento do nível dos rios e formação de barragem para o aproveitamento do fluxo das águas. A inundação de extensas áreas prejudica a fauna e a flora locais. Cidades inteiras e áreas de produção agrícola também podem ser inundadas, exigindo o deslocamento da população ribeirinha, o que acarreta, assim, prejuízos à sua subsistência.
Usina Hidrelétrica de Balbina - recebeu muitas críticas por causa do elevado custo de construção e por ter provocado o maior desastre ambiental do Brasil.
  Com mais de 80 grandes usinas hidrelétricas e pequenas centrais hidráulicas, o Brasil é o país com o maior potencial hidrelétrico do mundo.
USINAS HIDRELÉTRICAS E AS BACIAS HIDROGRÁFICAS
  As maiores usinas hidrelétricas do Brasil se concentrarem nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste, por onde o parque elétrico do país começou a ser desenvolvido. Isso se deve à maior concentração nessas regiões de áreas urbanas e atividades econômicas.
Principais usinas hidrelétricas do Brasil
  No rio Paraná encontram-se importantes usinas: Itaipu, que é a maior hidrelétrica do Brasil, Ilha Solteira, Jupiá e Porto Primavera. A Usina Binacional de Itaipu possui capacidade de 18.200 MW e é uma das maiores do mundo, sendo suplantada apenas pela Usina de Três Gargantas (China), quando operada em sua capacidade máxima. O início de seu funcionamento data de 1984, após um tratado com o Paraguai, o que lhe confere uma gestão compartilhada entre os dois países. Além de suprir 30% da demanda nacional de eletricidade e 38% da demanda das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, essa usina proporciona ao Paraguai autossuficiência na produção de eletricidade, sendo seu excedente vendido ao Brasil.
Usina Hidrelétrica de Itaipu
  Apesar da importância de Itaipu para os dois países, a geração concentrada acarreta o risco de desabastecimento energético em grandes áreas no caso de falha no sistema de transmissão.
  A bacia do rio Parnaíba abriga as usinas de Itumbiara e de São Simão.
  Na Bacia do Rio São Francisco localizam-se as usinas de Xingó, Paulo Afonso, Itaparica, Sobradinho e Três Marias.
Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso na Bahia
  A Bacia Amazônica, que possui o maior potencial hidráulico do país, é a que apresenta o menor aproveitamento. Com extenso percurso navegável, seu imenso potencial hidrelétrico concentra-se nos afluentes do Rio Amazonas, que percorrem áreas de relevo planáltico. Somente 0,4% do potencial é aproveitado por apenas três usinas hidrelétricas: Balbina, no Rio Uatumã (AM), Curuá-Una, no Rio Curuá-Una (PA) e Samuel, no Rio Jamari (RO).
Usina Hidrelétrica de Samuel, em Rondônia
  Ainda na bacia do Amazonas, no Rio Madeira, estão sendo planejadas as usinas de Santo Antônio, com capacidade instalada de 3.150 MW e de Jirau, com 3.300 MW de potência. Essas usinas deverão conectar Rondônia ao sistema elétrico, expandindo a oferta de energia na região. No Rio Xingu, está sendo construída a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, próximo à Altamira (PA), que vem recebendo vários protestos dos povos da floresta e ambientalistas.
  Na Bacia do Tocantins-Araguaia localizam-se as usinas de Serra da Mesa e Tucuruí. No entanto, 90% do grande potencial disponível nessa bacia tem alguma restrição ambiental.
Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará
FONTE: Terra, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil / Terra Lygia, Regina Araújo, Raul Borges Guimarães. - 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2010.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

COREIA DO NORTE

  A Coreia do Norte é um país do Leste Asiático que ocupa a metade norte da Península da Coreia. A Zona Desmilitarizada da Coreia serve com uma área de divisão entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte. A península foi governada pelo Império Coreano até ser anexada pelo Japão, após a Guerra Russo-Japonesa de 1905. Ela foi dividida entre zonas de ocupação norte-americana e soviéticas em 1945, após o final da Segunda Guerra Mundial. A Coreia do Norte recusou-se a participar da eleição supervisionada pelas Nações Unidas, feita em 1948, que levava à criação de dois governos coreanos separados para as duas zonas de ocupação. Ambas as Coreias reivindicavam a soberania sobre a península inteira, o que levou-os à Guerra da Coreia, em 1950.
GEOGRAFIA
  Situada no Extremo Oriente, na porção setentrional da Península da Coreia, a Coreia do Norte faz fronteira a oeste com a China e o Mar Amarelo, a leste com o Mar do Japão e ao sul com a Coreia do Sul. No norte, o país possui uma pequena fronteira com a Rússia.
  O clima da Coreia do Norte é relativamente temperado. A maior parte do país possui um clima classificado como do tipo Dwa na classificação climática de Köppen-Geiger (clima temperado frio, com inverno seco e verão quente). No verão, há uma pequena temporada de chuvas chamada changma. No dia 7 de agosto de 2007, ocorreram as maiores inundações dos últimos 40 anos, que levou o governo norte-coreano a pedir ajuda internacional.
Enchente na Coreia do Norte provocada pela chagma - chuva de verão
Topografia
  Alguns europeus que visitaram a Coreia do Norte observaram que o país parecia "um mar em uma tempestade pesada" por causa das muitas serras sucessivas que cruzam a península. Cerca de 80% da Coreia do Norte é composta por montanhas e planaltos, separados por vales profundos e estreitos, com todas as montanhas da península possuindo elevações superiores a 2.000 metros. As planícies costeiras são largas no oeste e descontínuas no leste. A grande maioria da população vive nos planaltos ou nas planícies.
Topografia da Coreia do Norte
  O ponto mais elevado da Coreia do Norte é a Montanha Baekdu - com 2.744 m - uma montanha vulcânica próxima à fronteira com a China, um planalto de lava basáltica de elevações entre 1.400 e 2.000 metros acima do nível do mar. A serra de Hamgyong, localizada no extremo nordeste da península possui muitos picos altos, incluindo Gwanmosan, com aproximadamente 1.756 m. Outras serras maiores incluem as Montanhas Rangrim, localizadas na parte centro-norte da Coreia do Norte, e a Serra Kangman, que faz seu curso ao longo da fronteira com a China.
Lago na caldeira vulcânica do Baekdu - o ponto culminante da Coreia do Norte
  Na maior parte, as planícies são pequenas. As mais extensas são as planícies de Pyongyang e Chaeryong, cada uma cobrindo uma área de cerca de 500 km². Pelo motivo de as montanhas da costa oeste se desgastarem abruptamente em direção ao mar, as planícies são menores no leste do que na parte oeste.
HISTÓRIA
  No decorrer de sua história, o país sofreu invasões mongóis, russas, chinesas e japonesas e, em 1910, em vista do expansionismo japonês, foi transformado em colônia até 1945. Com a derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial, tropas soviéticas e norte-americanas ocuparam o território coreano.
Antes da divisão
  Acredita-se que os primeiros habitantes da Coreia chegaram há aproximadamente 500 mil anos. De acordo com a tradição, no ano 2.333 a.C., Tangun (também chamado Dangun), fundou a dinastia Choson.
  A antiga Coreia passou a albergar uma série de cidades-estado em constantes guerras, que apareciam e desapareciam constantemente. Contudo, três reinos - Baekje, Silla e Koguryo, se fortaleceram e dominaram a cena histórica da Coreia por mais de duzentos anos, no período conhecido como os "Três Reinos da Coreia". Em 676 d.C., Silla unificou com sucesso quase todo o território coreano, com exceção do reino de Balhae. O domínio destes reinos, sobretudo a Coreia e parte da Manchúria, deu origem ao período dos estados Norte e Sul.
Três Reinos da Coreia
  Em 918, o general Wang Geon fundou o reino de Goryeo (ou Koryo, de onde provém o nome Coreia). No século XIII, a invasão e dominação dos mongóis debilitou este reino. Depois de quase trinta anos, o reino conservou o domínio sobre o território da Coreia, ainda que, na realidade, era um Estado tributário dos mongóis. A queda do Império Mongol foi seguida de uma série de lutas políticas e, após a rebelião do general Yi Seong-gye, em 1388, a dinastia Goryeo foi substituída pela dinastia Joseon.
  Entre 1592 e 1598, os japoneses invadiram a Coreia, depois da dinastia Joseon ter negado a passagem ao exército japonês liderado por Toyotomi Hideyoshi, em sua campanha a conquista da China. A guerra só terminou quando os japoneses se retiraram após a morte de Hideyoshi. É nesta guerra que surge como herói nacional o almirante Yi Sun-sin e a popularização do famoso Navio Tartaruga.
Réplica do Navio Tartaruga num museu militar em Seul, Coreia do Sul
  No século XVII, a Coreia foi finalmente derrotada pelos manchus e se uniu ao Império Chinês da Dinastia Qing. Durante o século XIX, graças à sua política isolacionista, a Coreia ganhou o nome de "Reino Eremita". A dinastia Joseon tratou de proteger-se contra o imperialismo ocidental. Depois da Segunda Guerra Sino-Japonesa e da Guerra Russo-Japonesa, a Coreia passou a ser parte do domínio japonês (1910-1945). No final da Segunda Guerra Mundial, as forças japonesas se renderam às forças da União Soviética, que ocuparam o norte da Coreia (atual Coreia do Norte), e dos Estados Unidos, que ocuparam a parte sul (atual Coreia do Sul).
Depois da Divisão
  Estados Unidos e União Soviética estabeleceram o Paralelo 38 como linha de divisória entre as forças de ocupação: os soviéticos ficaram com o norte e os Estados Unidos com o sul da península. Em seguida formou-se uma comissão russo-americana para a reunificação da Coreia, que não obteve sucesso. Nem mesmo a intervenção da ONU conseguiu resolver o impasse.
Paralelo 38, que separa a Coreia do Norte da Coreia do Sul
  Em 1947, foram realizadas eleições na Coreia do Sul, sob a supervisão da ONU, para eleger os governantes de uma Coreia unificada. A União Soviética não reconheceu o governo formado no Sul e, em 1948, apoiou a instalação da República Popular da Coreia do Norte, um governo socialista, em sua zona de ocupação. Nesse mesmo ano, como consequência da divisão da península entre soviéticos e norte-americanos, surgiram duas novas entidades que permanecem até hoje: a Coreia do Norte e a Coreia do Sul. No norte, um guerrilheiro antijaponês chamado Kim Il-sung obteve o poder através do apoio soviético; no sul, um político de direita, Syngman Rhee, foi nomeado como presidente.
Syngman Rhee - nomeado presidente da Coreia do Sul em 1948
   Em 25 de junho de 1950, em uma nova tentativa de reunificação, os coreanos do norte ultrapassaram o Paralelo 38 e invadiram a Coreia do Sul. Esse fato desencadeou um conflito armado: a Guerra da Coreia. O Conselho de Segurança das Nações Unidas decidiu intervir contra a invasão com uma força liderada pelos Estados Unidos. Essa decisão só foi possível porque o delegado da União Soviética no Conselho de Segurança das Nações Unidas esteve ausente como forma de protesto pela admissão da República Popular da China naquele órgão. Por sua parte, a União Soviética e a China decidiram apoiar a Coreia do Norte, enviando efetivos militares e provisões para as tropas norte-coreanas. Os Estados Unidos, em apoio à Coreia do Sul, também participaram diretamente da luta, enviando tropas, munições, armamentos etc. Calcula-se que cerca de 5 milhões de pessoas tenham morrido nessa guerra, em que foram testados novos armamentos e estratégias militares. A luta estendeu-se até o armistício de 1953 e deixou o país dividido como antes.
Soldados sul-coreanos em Seul durante a Guerra da Coreia
  O armistício de 1953, dividiu a península ao longo da Zona Desmilitarizada da Coreia, traçada muito próximo à linha de demarcação original. Nenhum tratado de paz foi firmado, e tecnicamente os dois países continuaram em guerra.
  A Guerra da Coreia foi um confronto entre o capitalismo e o socialismo, ocorrido durante a Guerra Fria. Várias vezes, o Paralelo 38 foi ultrapassado por aviões e helicópteros da Coreia do Sul, onde existem bases militares dos Estados Unidos, e por soldados da Coreia do Norte.
Mapa da Zona Desmilitarizada da Coreia
  Em 1979, foram reiniciadas negociações para a unificação do país, com a participação dos Estados Unidos. Mas nada ficou resolvido concretamente.
  Em julho de 1990, deu-se um passo importante para a unificação das Coreias. Depois de vários anos de silêncio, comissões oficiais de representantes dos dois países ou sociedades se reuniram para discutir a reunificação. Entretanto, nos anos 1990, surgiu um fato complicador. A Aiea (Agência Internacional de Energia Atômica) acusou a Coreia do Norte de possuir um programa nuclear militar. Solicitada a abrir o país para inspeções de técnicos da Agência, a Coreia do Norte negou permissão - fato que agravou a crise entre as duas Coreias e entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte.
Parada militar em Pyongyang em 2010
  No final da década de 1990, o Sul transita para um modelo liberal democrático, com o sucesso da política Nordpolitik (semelhante à política feita pela Alemanha Ocidental em prol dos alemães orientais, na década de 1980), e o poder do Norte tendo sido retomado pelo filho de Kim Il-sung, Kim Jong-il, as duas nações começaram a se aproximar publicamente pela primeira vez, com a Coreia do Sul declarando sua Política Sunshine (Política do Sol - política externa da Coreia do Sul para a Coreia do Norte).
Kim Jong-il - ex-líder da Coreia do Norte
  Em 2002, o então presidente norte-americano, George W. Bush, acusou publicamente a Coreia do Norte de desenvolver, de forma camuflada, mísseis de longo alcance e de participar do "eixo do mal" e um "posto avançado da tirania", assim como o Irã e o Iraque, por desenvolverem armas de destruição em massa e por apoiarem organizações terroristas.
Eixo do Mal. Crédito: folha.uol
  Em 2006, aproximadamente 37.000 soldados estadunidenses permaneceram na Coreia do Sul, embora, em junho de 2009, este número tenha caído para cerca de 30.000. Kim Jong-il, em particular, declarou aceitar a permanência das tropas norte-americanas na península, mesmo após uma possível reunificação. Publicamente, a Coreia do Norte exige fortemente a retirada das tropas da Coreia.
  Em 13 de junho de 2009, a agência de notícias norte-americana Associated Press reportou que, em resposta às novas sanções das Nações Unidas, a Coreia do Norte declarou que iria avançar com seu programa de enriquecimento de urânio. Isto marcou a primeira vez que o país reconheceu publicamente que estava conduzindo um programa de enriquecimento de urânio. Em agosto de 2009, o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, encontrou-se com Kim Jong-il para garantir a libertação de duas jornalistas norte-americanas.
Encontro entre Bill Clinton e Kim Jong-il em agosto de 2009
  Em duas ocasiões em 2010, em janeiro e agostos, ambos países trocaram ataques artilheiros nas proximidades da linha de delimitação do mar Amarelo, objeto de uma disputa fronteiriça. No final de outubro de 2010, militares sul e norte-coreanos enfrentaram-se num tiroteio na Zona Desmilitarizada da Coreia.
  As relações entre os dois países pioraram em 26 de março de 2010 num incidente da corveta sul-coreana Cheonam, que afundou no mar Amarelo, depois de padecer uma explosão na fronteira com a Coreia do Norte. O acidente causou a morte de 46 marinheiros sul-coreanos. Seul responsabilizou Pyongyang pelo acidente, que qualificou de "falsos" os resultados de investigação.
Corveta Cheonam sendo resgatada após explosão em 26 de março de 2010
  Em 23 de novembro de 2010, produziu-se um novo intercâmbio de hostilidades entre os dois países. Após um exercício regular de artilharia sul-coreano em águas na ilha de Yeongpyeong, no mar Amarelo, as forças militares norte-coreanas dispararam cerca de 170 projéteis de artilharia e foguetes na ilha, atingindo alvos civis e militares. O bombardeio causou danos generalizados, matando quatro sul-coreanos e ferindo dezenove. A Coreia do Sul retaliou bombardeando posições de armas norte-coreanas. Os norte-coreanos posteriormente afirmaram que haviam respondido aos projéteis sul-coreanos disparados em águas territoriais da Coreia do Norte. O incidente causou uma escalada de tensão na Península da Coreia e provocou a condenação internacional generalizada das ações da Coreia do Norte.
Fogo na ilha de Yeongpyeong, após o bombardeio norte-coreano em 23 de novembro de 2010
  Em junho de 2010, a 12ª sessão da Suprema Assembleia Popular elegeu Choe Yong-rim para substituir Kim Jong-il no cargo de primeiro-ministro.
  Em 17 de dezembro de 2011, Kim Jong-il veio a falecer, deixando no trono o seu filho, o general Kim Jong-un.
Kim Jong-un - atual líder da Coreia do Norte
POLÍTICA
  A Coreia do Norte é regida sob um governo Juche (marxismo-leninismo-kimilsonguismo) autodeclarado com um acentuado culto de personalidade organizado em volta de Kim Il-sung (o fundador da Coreia do Norte e o primeiro e único presidente do país) e seu filho e herdeiro, Kim Jong-il. Após a morte de Kim Il-sun, em 1994, ele não foi substituído, mas sim recebeu a designação de "Presidente Eterno", e foi sepultado no Palácio Memorial de Kumsusan, no centro de Pyongyang.
Palácio Memorial de Kumsusan
  Embora a posição ativa de presidente tenha sido abolida, em deferência à memória de Kim Il-sung, o chefe de Estado de fato é o Presidente da Comissão de Defesa Nacional da Coreia do Norte. A Suprema Assembleia Popular faz as vezes o papel de poder legislativo.
  A Coreia do Norte é um Estado unipartidário. O partido governante é a Frente Democrática de Reunificação da Pátria, uma coligação do Partido dos Trabalhadores da Coreia e outros dois partidos menores, o Partido Social-Democrata da Coreia e o Partido Chondoista Chongu. Estes partidos nomeiam todos os candidatos para cargos e ocupam todos os assentos da Suprema Assembleia Popular.
Assembleia Popular Suprema da Coreia do Norte
RELAÇÕES EXTERIORES
  A Coreia do Norte há muito mantém estreitas relações com a República Popular da China e com a Rússia. A queda do comunismo na Europa Oriental, em 1989, e a desintegração da União Soviética, em 1991, resultaram em uma queda devastadora da ajuda da Rússia à Coreia do Norte, embora a República Popular da China continue a fornecer ajuda substancialmente. O país continua a ter fortes laços com seus aliados socialistas do Sudoeste da Ásia, como o Vietnã, Laos e Camboja. A Coreia do Norte começou a instalar uma barreira de concreto e arame farpado na sua fronteira ao norte, em resposta ao desejo chinês de reduzir os refugiados que fogem do governo norte-coreano. Anteriormente a fronteira entre a China e a Coreia do Norte era fracamente patrulhada. Como resultado do programa de armamento nuclear norte-coreano, o six-party talks (negociações entre seis países) foi estabelecida para  procurar uma solução pacifica para o mal-estar crescente entre os governos de ambas as Coreias, a Federação Russa, a República Popular da China, o Japão e os Estados Unidos.
Arco da Reunificação - simbolização de uma Coreia reunida
  Em 17 de julho de 2007, inspetores das Nações Unidas verificaram o encerramento de cinco instalações nucleares norte-coreanas, segundo um acordo feito em fevereiro de 2007.
  Em 4 de outubro de 2007, o presidente sul-coreano Roh Moo-hyun e o líder norte-coreano Kim Jong-il assinaram um acordo de paz, sobre a questão da paz permanente, conversações de alto nível, cooperação econômica, renovações ferroviárias, viagens aéreas e rodoviárias, e uma seleção olímpica conjunta.
Cumprimento entre os líderes das duas Coreias em 2007
  Os Estados Unidos e a Coreia do Sul anteriormente designavam o Norte como um Estado patrocinador do terrorismo. Em 1983, uma bomba matou membros do governo da Coreia do Sul e destruiu um avião comercial sul-coreano; estes ataques foram atribuídos à Coreia do Norte. O país também admitiu a responsabilidade pelo sequestro de 13 cidadãos japoneses nas décadas de 1970 e 1980, cinco dos quais retornaram ao Japão em 2002. Em 11 de outubro de 2008, os Estados Unidos removeram a Coreia do Norte de sua lista dos Estados patrocinadores do terrorismo.
  A maioria das embaixadas estrangeiras conectadas com laços diplomáticos à Coreia do Norte estão situadas em Pequim, ao invés de Pyongyang.
Embaixada da Coreia do Norte em Brasília - DF

ECONOMIA
  A Coreia do Norte tem uma economia industrializada, autárquica e altamente centralizada.
  A industrialização da Coreia do Norte foi realizada com o apoio da União Soviética e da China e dirigiu-se prioritariamente para a indústria de base: siderurgia, mecânica, máquinas têxteis, produção de energia elétrica, cimento, química, mineração, etc.
  Com um subsolo rico em minerais, o país explora  carvão mineral, minério de ferro, grafite, tungstênio, cobre, chumbo, ouro, prata, estanho, zinco, magnesita etc.
  Os ramos industriais relativos aos bens de consumo não apresentam grande desenvolvimento.
  A atividade agrícola, que é coletivizada, tem por base arroz, milho, aveia, trigo e sorgo. O país passou por grave crise de abastecimento alimentar entre os anos de 1995 e 1997, causada por inundações e seca prolongada que destruíram suas plantações. Recorreu à ajuda humanitária internacional, mas mesmo assim ocorreram muitas perdas humanas.
Granja coletiva na província norte-coreana de Chagang
  A política de isolação da Coreia do Norte faz com que o comércio  internacional seja muito restrito, dificultando um potencial significativo do crescimento da economia. No entanto, devido à sua localização estratégica no Leste da Ásia, conectado à quatro maiores economias do mundo e possuindo uma mão de obra barata, jovem e qualificada, a economia norte-coreana tem tudo para crescer entre 6 e 7% ao ano.
DIREITOS HUMANOS
  Múltiplas organizações internacionais de direitos humanos, incluindo a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, acusam a Coreia do Norte de ter um dos piores registros de direitos humanos devido às severas restrições à liberdades política e econômica. Desertores norte-coreanos testemunharam a existência de campos de concentração com uma estimativa de 150.000 a 200.000 pessoas, e reportaram torturas, fome, estupros, assassinatos, experimentos médicos desumanos, trabalhos e abortos forçados. Prisioneiros políticos condenados e suas famílias são enviados para estes campos, onde são proibidos de casar-se, cultivar seu próprio alimento, além do corte à comunicação externa.
ALGUNS DADOS SOBRE A COREIA DO NORTE
NOME: República Democrática Popular da Coreia
CAPITAL: Pyongyang
Pyongyang - capital da Coreia do Norte
LÍNGUA OFICIAL: coreano
GOVERNO: República Popular Unipartidária
INDEPENDÊNCIA: do Japão
Declarada: 15 de agosto de 1945
Reconhecida: 9 de setembro de 1945
ÁREA: 120.538 km² (97º)
POPULAÇÃO (ONU - 2011): 24.457.492 habitantes (48º)

DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 202,90 hab./km² (39°)
MAIORES CIDADES:
Pyongyang (Estimativa 2010): 3.555.888 habitantes
Parte moderna de Pyongyang
Hamhung (Estimativa 2010): 798.609 habitantes
Hamhung - segunda maior cidade da Coreia do Norte
Chomgjin (2010): 707.929 habitantes
Chomgjin - terceira maior cidade da Coreia do Norte
PIB (FMI - 2011): US$ 40,988 bilhões (82º)
IDH (ONU - 2011): 0,766 (59º)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2005/2010): 67,3 anos (125º)
CRESCIMENTO VEGETATIVO: 0,34/mil (179°)
MORTALIDADE INFANTIL (ONU - 2005/2010): 90,50/mil (123°)
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA WORLD FACTBOOK - 2008): 63% (78°)

TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (PNUD - 2007/2008): 99% (19°)
PIB PER CAPITA (FMI - 2011): U$ 1.800 (130°)
MOEDA: Won norte-coreano
RELIGIÃO (2010): sem religião (64,31%), xamanismo (16%), chondoismo (13,5%), budismo (4,5%), cristianismo (1,69%).
DIVISÃO: a Coreia do Norte é subdividida em nove províncias, duas cidades controladas diretamente pelo Governo Central e três regiões administrativas especiais com várias designações. 1. Pyongyong 2. Região Industrial de Kaesong 3. Região Turística de Kumgang-san 4. Região Administrativa Especial de Shinuiju 5. Pyongan Sul 6. Pyongan Norte 7. Changang 8. Hwanghae Sul 9. Hwanghae Norte 10. Kangwon 11. Hamgyong Sul 12.  Hamgyong Norte 13. Ryanggang
FONTE: Adas, Melhem. Geografia / Melhem Adas. - 5. ed. - São Paulo: Moderna, 2006.

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