terça-feira, 25 de junho de 2024

A IMPORTÂNCIA DA TERRA PARA OS POVOS INDÍGENAS

  Cada cultura produz seus próprios saberes e conhecimentos, a partir de suas crenças e olhares sobre o mundo. As culturas dos diferentes povos indígenas, além de serem distintas entre si, apresentam concepções particulares sobre a natureza e as relações humanas.

  Quando, a partir das referências da cultura ocidental, pensamos na questão da terra, por exemplo, um dos elementos centrais é o das relações de posse. No entanto, embora existam variações entre as diversas culturas indígenas, elas têm em comum a visão de que o ser humano pertence à terra e a natureza, e não a terra ao ser humano, estando ausente a noção de posse de propriedade da terra.

Índios pataxós

  Quando atentamos para as falas dos próprios pensadores indígenas, ficam evidentes essas diferenças nas visões da relação dos seres humanos com a terra e a natureza. Davi Kopenawa, um escritor, xamã e líder político dos ianomâmis, população indígena que vive na Floresta Amazônica, na fronteira entre Venezuela e Brasil, descreve assim a concepção do seu povo sobre suas origens e a ocupação de seus territórios:

    Assim, foi depois de todos terem virado animais, depois de o céu ter caído, que Omama nos criou tais como somos hoje.

    Nossa língua é aquela com a qual ele nos ensinou a nomear as coisas. Foi ele que nos deu a conhecer as bananas, a mandioca e todo o alimento de nossas roças, bem como todos os frutos das árvores da floresta. Por isso, queremos proteger a terra em que vivemos. Omama a criou e deu a nós para que vivêssemos nela. Mas os brancos se empenham em devastá-la, e, se não a defendermos, morreremos com ela.

KOPENAWA, D.; BRUCE, A. A queda do céu: palavras de um xamã ianomâmi. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 74.

  Na fala de Kopenawa aparecem vários elementos das crenças de seu povo e se evidencia como, para preservar suas tradições e culturas, os povos indígenas precisam enfrentar conflitos com os povos não indígenas, que não respeitam suas concepções de mundo e desejam suas terras. Esses conflitos significam, para os indígenas, inclusive, rever suas relações com a terra e buscar mecanismos dentro das lógicas das sociedades ocidentais que permitam a sobrevivência dos grupos.

Aldeia de índios isolados no Acre

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

KOPENAWA, D.; BRUCE, A. A queda do céu: palavras de um xamã ianomâmi. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

domingo, 23 de junho de 2024

A ESCRAVIDÃO NA ÁFRICA ANTES DOS EUROPEUS

   A África é um continente geográfica e culturalmente muito diverso. Antes da chegada dos europeus, havia escravidão nesse continente, assim como em outras partes do mundo. Contudo, é um erro dizer que os africanos escravizavam uns aos outros. Isso porque naquela época não havia um sentimento de identidade africana como conhecemos hoje. O texto a seguir ajuda a entender essa questão.

    "Os africanos não escravizaram africanos, nem se reconheciam então como africanos. Eles se viam como membros de uma aldeia, de um conjunto de aldeias, de um reino e de um grupo que falava a mesma língua, tinha os mesmos costumes e adoravam os mesmos deuses. Eram [...] mandingas, fulas, bijagós, axantes, daomeanos, vilis, iacas, caçanjes, lundas, niamuézis, macuas, xonas - e escravizavam os inimigos e os estranhos.

SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008, p. 88-89.

  Nas aldeias que se desenvolveram na região ao sul do Deserto do Saara, conhecida como África Subsaariana, o trabalho escravo era reduzido, como no oikos grego. Os escravizados, na maioria mulheres, atuavam principalmente nos serviços domésticos e na agricultura, realizando tarefas como a busca de água, o corte de lenha e os cuidados com o cultivo de produtos agrícolas. Havia também escravizadas que se tornavam concubinas de seus senhores. Nesse caso, seus filhos não eram escravizados, embora tivessem os mesmos direitos que os nascidos de mães livres.

Mapa da África mostrando como era o continente entre os séculos XI e XVI, antes da chegada dos europeus

  Nas cidades e reinos estabelecidos no Sahel, faixa de transição entre o Deserto do Saara e a savana africana, o número de escravizados era maior. Além de realizar tarefas domésticas, os escravizados atuavam nos exércitos, na produção de alimentos nas fazendas reais e na extração mineral. As condições de vida dos escravizados domésticos e daqueles que serviam o exército eram superiores às dos demais. Eles recebiam alimentação e vestimentas melhores e, eventualmente, podiam conquistar a liberdade. Ademais, o trabalho nas fazendas reais e nas minas era mais pesado e submetido à vigilância constante.

  Até a expansão islâmica pelo continente africano, iniciada no século VII, os principais meios para obtenção de escravos era a guerra contra povos rivais, as razias (conflito promovido com o objetivo específico de obter cativos) e os sequestros. A ocupação islâmica no norte do continente, contudo, alterou profundamente essa situação. As trocas comerciais na região foram intensificadas devido à presença de mercadores islâmicos, e os escravizados passaram a ser negociados para, depois, serem vendidos para o Oriente Médio, a Ásia e a Europa. Com a crescente demanda por escravizados, aumentaram as guerras entre as sociedades africanas, com o objetivo de capturar cativos, que se transformaram em importante mercadoria.

Mapa mostrando os reinos e impérios na região do Sahel entre os séculos X e XVI

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008.

terça-feira, 4 de junho de 2024

EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI

   No século XXI, a aceleração das inovações tecnológicas ocorre em intervalos de tempo cada vez mais curtos, acarretando nas sociedades uma série de transformações nos âmbitos político, econômico, social e cultural.

  Diante dessas transformações vertiginosas da tecnologia, surgem novos produtos e novas maneiras de produzi-los; profissões são extintas e outras são criadas; alteram-se as formas de comunicação e as relações interpessoais. As instituições também são modificadas para se adequar à nova realidade. A escola, por exemplo, se vê diante da necessidade de rever suas práticas na formação dos sujeitos que vivem nesse mundo atual.

  A educação contemporânea pressupõe a formação para a vida, no sentido de habilitar o jovem  à leitura e à análise crítica da realidade, além de promover o seu desenvolvimento integral, individual e social. Para atingir esse objetivo, é importante valorizar os conhecimentos prévios dos estudantes no processo de ensino e aprendizagem.

  O biólogo, psicólogo e filósofo suíço Jean Piaget (1896-1980) foi um dos pioneiros no estudo do desenvolvimento cognitivo e intelectual e do processo de construção do conhecimento. Embora o foco de Piaget não fosse a educação formal, suas pesquisas serviram de base para que outros estudiosos entendessem que o ponto de partida para a construção de um novo conhecimento é aquilo que o estudante já sabe. Amparado nas pesquisas de Piaget, David Ausubel (1918-2008), psicólogo estadunidense da área educacional, foi um dos primeiros a usar o termo conhecimento prévio. Para ele, o conjunto de saberes que um estudante traz é extremamente importante para a elaboração de novos conhecimentos e para a garantia de uma aprendizagem significativa.

Jean Piaget (1896-1980). Um dos mais importantes pensadores do século XX

  Na escola do século XXI, marcada pelo fenômeno da globalização e da sociedade da informação, torna-se também fundamental a promoção da discussão, da interpretação dos fatos, da análise crítica das informações e o uso criativo das novas tecnologias para a construção de conhecimentos. Segundo Maria Lúcia de Arruda Aranha: 

  O problema educacional não está, portanto, apenas em utilizar a tecnologia como instrumento avançado no ensino, acompanhar a sua evolução no mundo do trabalho, ou ainda estabelecer a interação entre a escola e a educação informal dos meios de comunicação de massa,

  mas questionar como deve ser daqui em diante uma pedagogia que realmente oriente o cidadão para compreender o mundo transformado pela técnica e atuar sobre ele de maneira crítica. Mas ainda, aprender de modo contínuo - tanto o aluno como o professor -, já que essas transformações continuarão ocorrendo de modo vertiginoso.

ARANHA, M. L. A. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006, p. 440-441.

  Essa reflexão pode ser complementada com a seguinte afirmação do historiador Nicolau Sevcenko (1952-2014): "(a crítica) é a contrapartida cultural diante da técnica, é o modo de a sociedade dialogar com as inovações, ponderando sobre seu impacto, avaliando seus efeitos e perscrutando seus desdobramentos. A técnica, nesse sentido, é socialmente consequente quando dialogado com a crítica". SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 17

  Nesse sentido, a escola e a sociedade como um todo precisam estabelecer um diálogo crítico com essas inovações tecnológicas para a avaliação de seus impactos, efeitos e desdobramentos no mundo contemporâneo. Segundo Sevcenko, esse diálogo pressupõe três movimentos fundamentais:

  O primeiro consiste em conseguirmos desprender-nos do ritmo acelerado das mudanças atuais [...]. O segundo requer que recuperemos [...] o tempo histórico, aquele que nos fornece o contexto no interior do qual podemos avaliar a escala, a natureza, a dinâmica e os efeitos das mudanças em curso, bem como quem são seus beneficiários e a quem eles prejudicam. O terceiro movimento seria, então, o de sondar o futuro a partir da crítica em perspectiva histórica, ponderando como a técnica pode ser posta a serviço de valores humanos, beneficiando o maior número de pessoas. SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 19.

Nicolau Sevcenko (1952-2014) - 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ARANHA, M. L. A. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006.

SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

quarta-feira, 22 de maio de 2024

TERRITÓRIOS VIRTUAIS

   As novas territorialidades não se limitam ao uso dos espaços físicos, mas também estendem seus domínios a espaços virtuais como o ciberespaço, isto é, o território virtual. Elas são expressas por grupos que atuam em redes sociais variadas. Nesses territórios virtuais, como no território material, as pessoas também lutam por espaço, formam grupos e comunidades. Muitas buscam ganhar seguidores, comentários, likes e ter seus conteúdos vistos e compartilhados por um número expressivo de pessoas, o que acontece com alguns, conhecidos como influenciadores digitais. Pessoas com valores e comportamentos semelhantes associam-se, formam grupos e dão apoio mútuo de acordo com o código de cada rede social, onde isso mais se desenvolve. Alguns buscam afirmação e reconhecimento, assumem uma postura de oposição ao outro e se especializam em criticar, perseguir e sabotar outras pessoas, opiniões ou grupos. São os haters ("odiadores").

Hater - palavra de origem inglesa que significa "os que odeiam" ou "odiadores"

  Boa parte dessas comunidades virtuais tem jovens entre seus integrantes, e muitas delas são exclusivamente formadas por jovens. Isso se justifica, em parte, pelo fato de o jovem, em geral, ter mais habilidade para lidar com as novas tecnologias. Entretanto, as redes sociais são dinâmicas. Algumas tornam-se tão populares que os jovens não as reconhecem mais como seu território. Isso porque, quando tais redes se popularizam, passam a ser utilizadas por pessoas mais velhas, que não compartilham a linguagem, os comportamentos e os valores dos jovens, que começam a usar outras ferramentas dentro da rede ou então migram para outras redes sociais. Isso também ocorre se as redes virtuais servirem para a afirmação, apropriação ou mesmo embate e disputa por territorialidades físicas.

Os atuais aparelhos de celular, os smartphones, são verdadeiros computadores portáteis que possibilitam aos indivíduos acessar conteúdo e publicá-los nas redes sociais. Entretanto, seu uso fornece informações sobre seus hábitos para as empresas, deixam os usuários suscetíveis a golpes e a ter contato com discursos de ódio, caso não tomem cuidado.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

ALVES, Maria Zenaide; OLIVEIRA, Igor. Juventudes e territórios: o campo e a cidade. In: CORREA, Lucínia Maria; ALVES, Maria Zenaide; LINHARES, Carla (org.). Cadernos temáticos: juventude brasileira e Ensino Médio. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 014.

segunda-feira, 20 de maio de 2024

CABO VERDE: UM PEQUENO PAÍS INSULAR DA ÁFRICA QUE FALA O PORTUGUÊS

   Cabo Verde é um país insular localizado em um arquipélago no Oceano Atlântico central, formado por dez ilhas vulcânicas. Essas ilhas ficam entre 600 e 850 quilômetros a oeste da península senegalesa de Cabo Verde, situada no ponto mais ocidental da África continental. As ilhas de Cabo Verde fazem parte da ecorregião da Macaronésia, juntamente com os Açores, as Ilhas Canárias, a Madeira e as Ilhas Selvagens.

  Cabo Verde foi colônia de Portugal desde o século XV (quando foi descoberto pelos portugueses) até 1975 (quando tornou-se independente), e desempenhou um papel importante no comércio de escravos e das principais rotas de navegação durante o período colonial.

  Santiago é a maior ilha de Cabo Verde, concentrando aproximadamente 50% da população.

Mapa com as ilhas de Cabo Verde

História

  A descoberta de Cabo Verde se deu no século XV, por volta de 1460, tendo sua colonização iniciada logo após a descoberta nas ilhas de Santiago e Fogo. Para incentivar a colonização, a Corte portuguesa estabeleceu uma carta de privilégios aos moradores de Santiago relativa ao comércio de escravos na Costa da Guiné. Na Ribeira Grande, na ilha de Santiago, estabeleceu-se a primeira feitoria, que serviu como ponto de escala para os navios portugueses e para o tráfico e comércio de escravos. Com a abolição da escravidão, Cabo Verde entra em decadência, sobrevivendo por meio de uma economia de subsistência.

Igreja de Nossa Senhora do Rosário, a mais antiga igreja colonial do mundo, construída em 1495, em Cidade Velha, ilha de Santiago

  Visando incentivar o povoamento, em 12 de junho de 1466, D. Afonso V concedeu aos habitantes de Cabo Verde o poder de comercializar em toda a costa da Guiné, com exceção da feitoria de Arquim (monopólio real), podendo levar todas as mercadorias que quisessem, salvo armas, ferramentas, navios e seus apetrechos. As mercadorias adquiridas, após o recolhimento dos impostos régios, podiam ser vendidas em Portugal e seus domínios, ou mesmo fora do reino. O objetivo dessa liberdade era incentivar o povoamento de Cabo Verde e ampliar seu comércio, beneficiando os interesses da Coroa.

  Com a mudança da política portuguesa no norte da África, diante da necessidade de prosseguir a exploração das costas africanas, em 1469, o soberano arrendou a Fernão Gomes o comércio da Guiné por cinco anos, com a obrigação de nesse período se descobrirem cem léguas do litoral africano para o sul.

  Anos mais tarde, em 1497, a Armada, sob o comando de Vasco da Gama, escalou em Cabo Verde, a caminho da Índia, na baía da Ribeira Grande.

Posição do arquipélago nas rotas comerciais portuguesas ou carreira da Índia: percurso seguido na ida (vermelho) e rota de regresso (verde)

  As dificuldades de aproveitamento agrícola nas ilhas foram apontadas desde as suas primeiras descrições. Ainda assim, no século XVI os principais itens da pauta de exportações das ilhas eram: couro, sebo, cavalos, açúcar, aguardente e frutas, como figos, uvas e melões, além da reexportação de tecidos para o continente africano.

  Entre 1513 e 1515, o comércio de escravos estava em expansão. O seu principal centro, a Ribeira Grande de Santiago (atual Cidade Velha), foi elevado à categoria de cidade, tornando-se sede de um Bispado.

  Em 1587, Duarte Lobo foi nomeado primeiro governador de Cabo Verde e, na Ribeira Grande, inicia-se a construção do Forte Real de São Filipe.

Forte Real de São Filipe, em Cidade Velha, Cabo Verde

  Com a abertura do porto da Praia, em 1612, o antigo porto da Ribeira Grande entra em decadência. No contexto da Guerra da Restauração (conjunto de confrontos realizados entre o Reino de Portugal e a Coroa de Castela), em 1650 Cabo Verde passa a administrar o território português da Guiné, situação que se estenderia até 1879.

  Diante da escassez de capitais para o desenvolvimento da região, os Conselhos da Fazenda e Ultramarino, autorizam a fundação da Companhia da Costa da Guiné, em 1664, voltada para o comércio de escravos, colocando fim ao período dos arrendatários individuais e abrindo o das companhias escravagistas. Entre estas, destaca-se a Companhia de Cacheu e Rios da Guiné, que operou entre 1676 e 1682, sendo sucedida, em 1690, pela Companhia do Cacheu e Cabo Verde. Ainda nesse século, destaca-se na pauta de exportações de Cabo Verde o óleo de baleia, com destino ao Brasil.

Pedra Badejo - com uma população de 9.761 habitantes, é a sexta cidade mais populosa de Cabo Verde

  Corsários franceses, sob o comando de Jacques Cassard, assaltam e destroem grande parte da Ribeira Grande, em 1712, causando a transferência da capital para a cidade de Praia, em 1769.

  A extração e o comércio de urzela são declarados monopólio da Coroa Portuguesa, em 1732. Em 1757, a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão tem os seus privilégios ampliados com exclusividade do comércio no arquipélago de Cabo Verde e na Guiné. Com a extinção desta, em 1778, foi criada a Companhia de Comércio da Costa da África, que atuou entre 1780 e 1786. A partir de 1794, intensifica-se o povoamento na ilha de São Vicente. Em 1814, cessa o comércio de escravos, pouco influenciando na economia das ilhas.

  Em 1817 é aberta a primeira escola primária, em Praia. De 1831 a 1833 há uma grande fome nas ilhas, levando à morte de milhares de pessoas. A ajuda internacional veio por meio dos Estados Unidos, já que Portugal encontrava-se numa guerra civil, a Guerra Civil Portuguesa (1828-1834). Com o advento da navegação a vapor, os ingleses instalam no Porto Grande (Mindelo, ilha de São Vicente), em 1838, um depósito de carvão, sendo esse porto aberto à navegação em 1850. Em 1874, os ingleses trazem os cabos telegráficos. Com o fim do tráfico de escravos, em 1876, diminui o interesse pelo arquipélago.

São Filipe - com uma população de 8.487 habitantes (estimativa 2024) é a sétima cidade mais populosa de Cabo Verde

  A partir da década de 1950, com o surgimento dos movimentos de independência dos povos africanos, Cabo Verde vincula-se a luta pela libertação da Guiné Portuguesa (atual Guiné-Bissau).

  Em 1956, o intelectual de Bafatá (região centro-norte de Guiné-Bissau), Amílcar Cabral, fundou em Bissau, o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Exilado em Conacri (capital da República da Guiné), criou uma delegação e sede do partido, sendo assassinado em 1973. Em consequência da Revolução dos Cravos em Portugal, Cabo Verde ganhou sua independência em 1974, sendo declarada em 5 de julho de 1975.

  Em 1980, o presidente de Guiné-Bissau, Luís Cabral, foi deposto. Nesse ano, o PAIGC realizou em Cabo Verde, um congresso de emergência devido às mudanças políticas em Guiné-Bissau. Em 1981, todos os laços com Guiné-Bissau foram rompidos. Em 1982, por mediação de Angola e Moçambique, as relações entre os dois países foram retomadas.

  Em 1984, uma seca reduziu as colheitas cabo-verdianas. O sistema de distribuição de alimentos e a eficiente gestão estatal evitaram a proliferação da fome pelo país.

  Em 1986, o "Segundo Plano de Desenvolvimento", deu prioridade ao setor privado da economia e ao combate à desertificação. O objetivo era recuperar mais de cinco mil hectares de terra e colocar em operação um sistema único de administração e distribuição das reservas hídricas do país.

  Em 1992 o país ganhou uma Constituição multipartidária, mudando a bandeira, o emblema e o hino nacional (que anteriormente era o mesmo que o da Guiné-Bissau), e converteu o país em uma democracia semipresidencialista.

Tarrafal - com uma população de 6.452 habitantes (estimativa 2024) é a oitava cidade mais populosa de Cabo Verde

Geografia

  Cabo Verde é um arquipélago localizado ao largo da costa da África Ocidental. As ilhas vulcânicas que o compõem são pequenas e montanhosas. O país é constituído por dez ilhas, das quais nove são habitadas e vários ilhéus desabitados.

  Geologicamente, as ilhas são compostas principalmente por rochas ígneas, com estruturas vulcânicas e detritos piroclásticos que compõem a maior parte do volume total do arquipélago. As rochas vulcânicas e plutônicas são distintamente básicas.

  Anomalias magnéticas identificadas nas imediações do arquipélago, indicam que as estruturas que formam as ilhas datam de aproximadamente 125-150 milhões de anos.

  O Pico do Fogo é o maior vulcão ativo na região e também o ponto mais elevado do país, com uma altitude de 2.829 metros acima do nível do mar.

Pico do Fogo, localizado na ilha do Fogo, é o ponto mais elevado de Cabo Verde

  Extensas salinas são encontradas nas ilhas de Sal e Maio. O arquipélago de Cabo Verde encontra-se localizado na zona climática subsaheliana, com um clima árido e semiárido. A Corrente das Canárias modera a temperatura. A média anual raramente é superior a 25ºC com mínimas sempre acima de 20ºC.

  A estação chuvosa, de agosto a outubro, é muito irregular e geralmente com escassa pluviosidade, em especial nas ilhas de São Vicente e Sal. As ilhas de Santo Antão, Santiago e Fogo, ocorrem as maiores pluviosidades.

  A estação mais seca, de dezembro a julho, é caracterizada por ventos constantes. A chamada "bruma seca", trazida pelo vento harmatão das areias do deserto do Saara, chega a provocar a interrupção dos serviços nos aeroportos.

Estrada da Baía das Gatas, na ilha de São Vicente

Demografia

  Os cabo-verdianos são descendentes de africanos e também de alguns povos europeus, que incluem na sua grande maioria portugueses. Há uma miscigenação de várias etnias da Alta Guiné, além de muitas vezes terem uma mistura significativa de não-africanos. Há também cabo-verdianos que têm antepassados judaicos vindos do Norte da África, principalmente nas ilhas de Boa Vista, Santiago e Santo Antão. Grande parte dos cabo-verdianos emigrou para outros países, principalmente para os Estados Unidos, Portugal e França.

  Há um grande número de jovens no país. O IDH do país era de 0,661 em 2023, considerado médio. A expectativa de vida em 2023 era de 74,5 anos. A taxa de natalidade é de 13,1/mil, a de mortalidade de 6,0/mil e a mortalidade infantil é de  de 10,6/mil. A taxa de fecundidade do país é de 1,9 filho/mulher. A escolaridade é elevada para os padrões africanos, onde 90,9% da população é considerada alfabetizada. A taxa de urbanização é de 66,9%. Grande parte dos cabo-verdianos professam a religião católica, seguido de protestantes e minorias muçulmanas, judaicas e outras religiões.

  O português é a língua oficial do país, porém, o francês e o inglês são lecionados no ensino secundário. Cabo Verde é membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, e desde 1996 é membro da Organização Internacional da Francofonia. O inglês é falado por uma comunidade de imigrantes nigerianos, que residem em Praia.

Sal Rei - com uma população de 5.648 habitantes (estimativa 2024) é a nona maior cidade de Cabo Verde

Economia

  Cabo Verde possui uma economia subdesenvolvida, sofrendo com carência de recursos. As principais atividades econômicas desenvolvidas nas ilhas são a agricultura, a riqueza marinha, o setor de serviços (que corresponde a 80% do PIB) e o turismo, atividade que mais vem ganhando relevância na economia.

  A agricultura sofre com os constantes períodos de seca e carece de uma melhor infraestrutura e modernização das técnicas agrícolas. Os principais produtos agrícolas cultivados no país são o milho e o feijão, que se destina principalmente para abastecer o mercado interno. São cultivados também produtos da hortifruticultura, café, banana e cana-de-açúcar. O setor de pescados também é bastante importante para a economia.

Assomada - com uma população de 12.562 habitantes (estimativa 2024) é a quarta cidade mais populosa de Cabo Verde

  Cabo Verde tem muitos emigrantes espalhados pelo mundo, que contribuem com remessas financeiras significativas para o país.

  A localização estratégica de Cabo Verde, no cruzamento das vias aéreas e marítimas no meio do Atlântico tem sido reforçada por melhorias significativas no porto de Mindelo (Porto Grande) e nos aeroportos internacionais do Sal e de Praia.

  Os principais portos são Mindelo e Praia, mas todas as outras ilhas habitadas possuem instalações portuárias menores.

  As perspectivas econômicas futuras do país dependem fortemente da manutenção dos fluxos de ajuda e cooperação estrangeira, do incentivo ao turismo, das remessas do exterior, da terceirização do trabalho para países africanos e do impulso do programa de desenvolvimento do governo.

Porto Novo - com uma população de 9.850 habitantes (estimativa 2024) é a quinta cidade mais populosa de Cabo Verde



Cultura

  A cultura de Cabo Verde caracteriza-se por uma miscigenação de elementos europeus e africanos.

  O povo cabo-verdiano é conhecido por sua musicalidade, bem expressa por manifestações populares como o Carnaval de Mindelo, cuja importância faz com que a cidade seja conhecida nos dias dos festejos momescos como "Brazilim", ou "pequeno Brasil". Na música há diversos gêneros musicais próprios, dos quais se destacam a morna, o funaná, a coladeira e o batuque.

  A dieta do cabo-verdiano é baseada em peixes e alimentos básicos como o milho, arroz e feijão. Um prato popular servido em Cabo Verde é a cachupa, um cozido de milho, feijão e peixe ou carne.

Ponta do Sol - com uma população de 4.831 habitantes (estimativa 2024) é a décima cidade mais populosa de Cabo Verde

ALGUNS DADOS SOBRE CABO VERDE

NOME: República de Cabo Verde

INDEPENDÊNCIA: de Portugal, em 5 de julho de 1975

CAPITAL: Praia

Visão aérea da cidade de Praia

GENTÍLICO: cabo-verdiano (a)

LÍNGUA OFICIAL: português

GOVERNO: Republica Semipresidencialista Unitária

LOCALIZAÇÃO: oeste da África (Oceano Atlântico)

ÁREA: 4.033 km² (166º)

POPULAÇÃO (ONU - Estimativa para 2024): 568.385 habitantes (166°)

DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 140,93 hab./km² (71º). Obs: a densidade demográfica, densidade populacional ou população relativa é a medida expressa pela relação entre a população total e a superfície de um determinado território.

CRESCIMENTO POPULACIONAL (ONU - Estimativa 2024): 2,23% (41°). Obs: o crescimento vegetativo, crescimento populacional ou crescimento natural é a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade de uma  determinada população.

CIDADES MAIS POPULOSAS (Estimativa para 2024):

Praia: 166.143 habitantes

Praia - capital e maior cidade de Cabo Verde

Mindelo: 73.798 habitantes

Mindelo - segunda maior cidade de Cabo Verde

Santa Maria: 24.902 habitantes

Santa Maria - terceira maior cidade de Cabo Verde

PIB (FMI 2023): US$ 2,53 bilhões (186º). Obs: o PIB (Produto Interno Bruto), representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer sejam países, estados ou cidades), durante um período determinado (mês, trimestre, ano).

PIB PER CAPITA (FMI 2023): US$ 4.451 (118°). Obs: o PIB per capita ou renda per capita é o Produto Interno Bruto (PIB) de um determinado lugar dividido por sua população. É o valor que cada habitante receberia se toda a renda fosse distribuída igualmente entre toda a população.

Países ou territórios por PIB per capita em 2023

  >$60,000
  $50,000 - $60,000
  $40,000 - $50,000
  $30,000 - $40,000
  $20,000 - $30,000
  $10,000 - $20,000
  $5,000 - $10,000
  $2,500 - $5,000
  $1,000 - $2,500
  $500 - $1,000
  <$500
  Sem dados

IDH (ONU - 2023): 0,661 (131°). Obs: o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população. Este índice é calculado com base em dados econômicos e sociais, variando de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o país. No cálculo do IDH são computados os seguintes fatores: educação (anos médios de estudos), longevidade (expectativa de vida da população) e PIB per capita. A classificação é feita dividindo os países em quatro grandes grupos: baixo (de 0,0 a 0,500), médio (de 0,501 a 0,800), elevado (de 0,801 a 0,900) e muito elevado (de 0,901 a 1,0).

Mapa-múndi representando as quatro categorias do Índice de Desenvolvimento Humano, baseado no relatório publicado em 2024, com dados referentes a 2022

  0,800 – 1,000 (muito alto)
  0,700 – 0,799 (alto)
  0,555 – 0,699 (médio)
  0,350 – 0,554 (baixo)
  Sem dados

EXPECTATIVA DE VIDA (OMS - 2023): 74,5 anos (84º). Obs: a expectativa de vida refere-se ao número médio de anos para ser vivido por um grupo de pessoas nascidas no mesmo ano, se a mortalidade em cada idade se mantém constante no futuro, e é contada da maior para a menor.

Planisfério com a expectativa de vida dos países

TAXA DE NATALIDADE (ONU - 2023): 13,1/mil (73º). Obs: a taxa de natalidade é a porcentagem de nascimentos ocorridos em uma população em um determinado período de tempo para cada grupo de mil pessoas, e é classificada do maior para o menor.

Mapa com a taxa de natalidade dos países

TAXA DE MORTALIDADE (CIA World Factbook 2023): 6,0/mil (137º). Obs: a taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um índice demográfico que reflete o número de mortes registradas, em média por mil habitantes, em uma determinada região por um período de tempo e é classificada do maior para o menor.

TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2023): 10,6/mil (119°). Obs: a taxa de mortalidade infantil refere-se ao número de crianças que morrem no primeiro ano de vida entre mil nascidas vivas em um determinado período, e é classificada do menor para o maior.

Mapa da taxa de mortalidade infantil no mundo

TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook 2023): 1,9 filhos/mulher (94º). Obs: a taxa de fecundidade refere-se ao número médio de filhos que a mulher teria do início ao fim do seu período reprodutivo (15 a 49 anos), e é classificada do maior para o menor.

Mapa da taxa de fecundidade de acordo com o CIA World Factbook de 2020

TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2023): 90,9% (134º). Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que sabem ler e escrever.

Mapa da taxa de alfabetização no mundo em 2020

TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2023): 66,9% (84°). Obs: essa taxa refere-se a porcentagem da população que mora nas cidades em relação à população total.

Mapa da taxa de urbanização no mundo em 2020

MOEDA: Escudo cabo-verdiano

RELIGIÃO: católicos (73,2%), protestantes (17,3%), muçulmanos (2,4%), judeus (1,5%), outras religiões/sem religiões (5,6%).

Igreja Nossa Senhora de Fátima, em Assomada

DIVISÃO: o território de Cabo Verde encontra-se subdividido em concelhos, que se subdividem em freguesias. São 22 concelhos e 32 freguesias. A nível administrativo, logo abaixo do governo, encontram-se os municípios, que administram os concelhos, e abaixo destes, as juntas de freguesias, que administram as freguesias. Os municípios são constituídos por uma câmara municipal - órgão executivo - e por uma assembleia municipal - órgão deliberativo.

  As ilhas são tradicionalmente divididas em duas regiões geográficas (sem significado administrativo): Barlavento (ou "do lado de onde sopra o vento"), as que estão situadas mais ao norte; e Sotavento, as quatro ilhas do sul.

  • Ilhas de Barlavento - Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia (desabitada), São Nicolau, Sal e Boa Vista. Pertencem ainda ao grupo de Barlavento os ilhéus desabitados de Branco e Raso, situados entre Santa Luzia e São Nicolau, o ilhéu dos Pássaros, em frente a cidade de Mindelo, na ilha de São Vicente, e os ilhéus Rabo de Junco (na costa da ilha do Sal),  de Sal Rei e do Baluarte (na costa da ilha de Boa Vista).
  • Ilhas de Sotavento - Maio, Santiago, Fogo e Brava. O ilhéu de Santa Maria, em frente à cidade de Praia, na ilha de Santiago; os ilhéus Grande, Rombo, Baixo, de Cima, do Rei, Luís Carneiro e o ilhéu Sapado (situados a cerca de 8 quilômetros da ilha Brava) e o ilhéu da Areia (junto à costa dessa mesma ilha).

Mapa das ilhas de Cabo Verde

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALBUQUERQUE, Luís de. O descobrimento das ilhas de Cabo Verde. In: SANTOS, Maria Emília Madeira; ALBUQUERQUE, Luís de (coord.). História Geral de Cabo Verde (vol. 1). Lisboa: Instituto de Investigação Científica de Portugal. Cidade da Praia: Instituto de Investigação Cultural de Cabo Verde, 2001.

BARDELOS, Christiano José de Senna. Subsídios para a História de Cabo Verde. Cidade da Praia: Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, 2003.

FRANCISCO, Wagner de Cerqueira e. Cabo Verde. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/cabo-verde.htm. Acesso em: 09/04/2024.

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