No século XXI, a aceleração das inovações tecnológicas ocorre em intervalos de tempo cada vez mais curtos, acarretando nas sociedades uma série de transformações nos âmbitos político, econômico, social e cultural.
Diante dessas transformações vertiginosas da tecnologia, surgem novos produtos e novas maneiras de produzi-los; profissões são extintas e outras são criadas; alteram-se as formas de comunicação e as relações interpessoais. As instituições também são modificadas para se adequar à nova realidade. A escola, por exemplo, se vê diante da necessidade de rever suas práticas na formação dos sujeitos que vivem nesse mundo atual.
A educação contemporânea pressupõe a formação para a vida, no sentido de habilitar o jovem à leitura e à análise crítica da realidade, além de promover o seu desenvolvimento integral, individual e social. Para atingir esse objetivo, é importante valorizar os conhecimentos prévios dos estudantes no processo de ensino e aprendizagem.
O biólogo, psicólogo e filósofo suíço Jean Piaget (1896-1980) foi um dos pioneiros no estudo do desenvolvimento cognitivo e intelectual e do processo de construção do conhecimento. Embora o foco de Piaget não fosse a educação formal, suas pesquisas serviram de base para que outros estudiosos entendessem que o ponto de partida para a construção de um novo conhecimento é aquilo que o estudante já sabe. Amparado nas pesquisas de Piaget, David Ausubel (1918-2008), psicólogo estadunidense da área educacional, foi um dos primeiros a usar o termo conhecimento prévio. Para ele, o conjunto de saberes que um estudante traz é extremamente importante para a elaboração de novos conhecimentos e para a garantia de uma aprendizagem significativa.
Jean Piaget (1896-1980). Um dos mais importantes pensadores do século XX |
Na escola do século XXI, marcada pelo fenômeno da globalização e da sociedade da informação, torna-se também fundamental a promoção da discussão, da interpretação dos fatos, da análise crítica das informações e o uso criativo das novas tecnologias para a construção de conhecimentos. Segundo Maria Lúcia de Arruda Aranha:
O problema educacional não está, portanto, apenas em utilizar a tecnologia como instrumento avançado no ensino, acompanhar a sua evolução no mundo do trabalho, ou ainda estabelecer a interação entre a escola e a educação informal dos meios de comunicação de massa,
mas questionar como deve ser daqui em diante uma pedagogia que realmente oriente o cidadão para compreender o mundo transformado pela técnica e atuar sobre ele de maneira crítica. Mas ainda, aprender de modo contínuo - tanto o aluno como o professor -, já que essas transformações continuarão ocorrendo de modo vertiginoso.
ARANHA, M. L. A. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006, p. 440-441.
Essa reflexão pode ser complementada com a seguinte afirmação do historiador Nicolau Sevcenko (1952-2014): "(a crítica) é a contrapartida cultural diante da técnica, é o modo de a sociedade dialogar com as inovações, ponderando sobre seu impacto, avaliando seus efeitos e perscrutando seus desdobramentos. A técnica, nesse sentido, é socialmente consequente quando dialogado com a crítica". SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 17
Nesse sentido, a escola e a sociedade como um todo precisam estabelecer um diálogo crítico com essas inovações tecnológicas para a avaliação de seus impactos, efeitos e desdobramentos no mundo contemporâneo. Segundo Sevcenko, esse diálogo pressupõe três movimentos fundamentais:
O primeiro consiste em conseguirmos desprender-nos do ritmo acelerado das mudanças atuais [...]. O segundo requer que recuperemos [...] o tempo histórico, aquele que nos fornece o contexto no interior do qual podemos avaliar a escala, a natureza, a dinâmica e os efeitos das mudanças em curso, bem como quem são seus beneficiários e a quem eles prejudicam. O terceiro movimento seria, então, o de sondar o futuro a partir da crítica em perspectiva histórica, ponderando como a técnica pode ser posta a serviço de valores humanos, beneficiando o maior número de pessoas. SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 19.
Nicolau Sevcenko (1952-2014) - |
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ARANHA, M. L. A. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006.
SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
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