Nas últimas décadas, intensificou-se a chamada "migração de cérebros": trabalhadores e pesquisadores altamente qualificados que emigram para regiões desenvolvidas ou que estão em processo ascendente de desenvolvimento. O termo também é denominado "fuga de cérebros", o que dá a dimensão do que representa: para os países de onde essas pessoas saem isso pode ser entendido como uma perda, pois são doutores, pesquisadores, trabalhadores técnicos que deixam de contribuir com seus conhecimentos no país natal, embora possam proporcionar uma entrada de renda por meio das remessas.
O Brasil é um país que faz parte dessa realidade, pois não são poucos os pesquisadores e trabalhadores qualificados que saíram daqui nos últimos tempos, especialmente os envolvidos em ciência e tecnologia.
A Índia é um país que vive intensamente esse fenômeno: sabe-se que o país é o maior exportador de engenheiros do mundo, especialmente na área de tecnologia da informação. É muito comum ver pesquisadores e cientistas indianos em postos de comando das maiores empresas de tecnologia do mundo. A presença indiana é muito forte no Vale do Silício, por exemplo.
Migração de cérebros: o que é
Fuga de capital humano (também referida como fuga de cérebros, ou pelo seu termo em inglês, brain drain) é uma emigração em massa de indivíduos com aptidões técnicas ou conhecimentos, normalmente devido a fatores como conflitos étnicos e guerras civis, falta de oportunidade, riscos à saúde, ditaduras, totalitarismos, autoritarismos e instabilidades políticas nestes países. Uma fuga de cérebros é normalmente considerada custosa social, humana, filosófica, científica, significativa e economicamente, uma vez que os emigrados obtiveram suas formações de maneira patrocinada pelo governo.
A fuga de cérebros pode ser estagnada, através do fornecimento de conhecimento científico para a sociedade para que ela tenha oportunidades de carreira iguais e dando-lhes oportunidades de provar as suas capacidades. O fenômeno é inverso do ganho de cérebros, que ocorre quando há um fluxo de imigração e pessoas tecnicamente qualificadas para o país, também trazendo consequências financeiras. O termo foi criado pelo Royal Society para descrever a emigração de "cientistas, médicos e tecnólogos", à América do Norte da pós-guerra na Europa.
A fuga de cérebros é comum entre as nações em desenvolvimento, como ex-colônias da África, nas ilhas caribenhas e, particularmente, em economias centralizadas como as extintas Alemanha Oriental e União Soviética, onde as habilidades de mercado não teriam sido recompensadas financeiramente.
Causas da fuga de cérebros
Fuga de cérebros é um tipo específico de emigração caracterizado pela saída de profissionais altamente qualificados dos seus países de origem. Diversas causas podem estar associadas a esse fenômeno, sendo uma delas a questão da baixa empregabilidade, isto é, a dificuldade que essas pessoas têm de encontrar uma oportunidade de trabalho nas suas respectivas áreas, tanto no setor público quanto no privado. Esse problema está associado ainda aos baixos salários ofertados, muitas vezes incompatíveis com o cargo se comparado à mesma vaga em outros países.
A debandada de profissionais de alto nível acontece também quando há baixos investimentos destinados à ciência e à tecnologia, o que resulta, entre outros, na redução de verbas disponíveis aos cursos de pós-graduação e em um menor número de bolsas de pesquisa destinadas aos programas de pesquisa nas universidades e institutos de Ensino Superior. Com isso, alunos e professores, muitas vezes, buscam alternativas para darem continuidade aos seus trabalhos, encontrando essa oportunidade no exterior.
Zurique - a maior cidade da Suíça e a que mais recebe jovens talentos no mundo |
Consequências da fuga de cérebros
A perda de capital humano por meio da fuga de cérebros traz implicações muitas vezes negativas para os países de origem, ao mesmo tempo que podem beneficiar os países de destino. No primeiro caso, há uma grande perda de competitividade no cenário internacional, assim como se amplia em grandes proporções a escassez de profissionais qualificados, como médicos, professores de Ensino Superior e cientistas.
Ocorrem também impactos no desenvolvimento tecnológico e econômico desses países, no médio e longo prazo, pela falta de mão de obra especializada. Estabelece-se também certo fluxo de capitais ingressantes nesse país de origem, vindos diretamente daqueles profissionais que migraram e destinam esse dinheiro como forma de auxiliar seus familiares que ficaram.
Em contrapartida, países receptores são beneficiados pelo maior aporte de capital humano que ingressa no seu mercado de trabalho e que contribui diretamente em setores-chave da economia, da educação e da saúde.
Como evitar a fuga de cérebros
Existe um grande debate em torno de quais as melhores estratégias a serem adotadas a fim de evitar que profissionais qualificados deixem seu local de origem e possam, dessa forma, contribuir diretamente para o desenvolvimento econômico e tecnológico do país mediante a aplicação dos seus conhecimentos e expertise.
As principais medidas a serem adotadas nesse caso, são o maior incentivo às carreiras no meio científico e a ampliação dos investimentos destinados à ciência e educação, à inovação e à tecnologia, tornando as condições estruturais e a remuneração muito mais atraentes, tanto para novos talentos quanto para profissionais experientes. Além disso, é importante o desenvolvimento de políticas que estimulem a valorização profissional e a criação de vagas destinadas a esses profissionais altamente qualificados.
Estocolmo - capital da Suécia, é a segunda cidade que mais recebe jovens talentos no mundo |
Migração de cérebros no Brasil
A fuga de cérebros é um fenômeno que acontece há muitos anos no Brasil, mas que tem se intensificado na última década. Isso fez com que o país caísse oito posições no ranking de competitividade global de talentos, desenvolvido pelo Instituto Europeu de Administração de Empresas (Insead), passando da 72ª para a 80ª colocação entre 132 países em 2020.
Muitos pesquisadores que deixam o Brasil são motivados por vários fatores, como: desvalorização profissional e falta de oportunidades de trabalho; redução dos investimentos em ciência e tecnologia, o que afeta a estrutura de programas de pós-graduação; questões burocráticas; problemas estruturais, como os elevados índices de violência; entre outros.
Muitos desses profissionais se deslocam para países como os Estados Unidos, onde se concentram grandes empresas do setor e que absorvem profissionais do mundo todo. Destinos como Reino Unido, França, Suíça e Alemanha são também bastante procurados pelos brasileiros, o que se deve a fatores como melhor qualidade de vida, segurança e melhores salários.
Londres, capital do Reino Unido. Um dos principais destinos de estudantes brasileiros |
Fuga de cérebros no mundo
O fluxo de profissionais qualificados no mundo acontece de países menos desenvolvidos em direção aos países mais desenvolvidos. Esse padrão se intensificou a partir da segunda metade do século XX, período em que grandes ondas migratórias partiram da Índia, nos anos 1960, e de países africanos, durante as décadas de 1970 e 1980, rumo a nações mais desenvolvidas.
Os países da América Latina também são grandes exportadores de mão de obra altamente qualificada, e os motivos pelos quais isso acontece nas três regiões (Ásia, América Latina e África) são quase sempre os mesmos, embora variem de intensidade e grau de importância a depender da realidade local. Desse modo, a migração é motivada por questões socioeconômicas e políticas, principalmente, como escassez de vagas de emprego, condições precárias de trabalho, baixos salários, crises econômicas e conflitos militares.
Silicon Valley ou Vale do Silício. Localizado no oeste dos Estados Unidos, é um dos principais destinos de profissionais com elevada qualificação profissional |
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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