quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A CULTURA AMERICANA NOS ANOS 1920

  Os Estados Unidos são uma nação multicultural, lar de uma grande variedade de grupos étnicos, tradições e valores. Além das populações nativas americanas e do Havaí, quase todos os estadunidenses ou os seus antepassados emigraram nos últimos cinco séculos. A cultura da maioria dos norte-americanos é a cultura ocidental, em grande parte derivada das tradições de imigrantes europeus, com influência de muitas outras culturas, como as tradições trazidas pelos escravos africanos.
  A classe média e profissional estadunidense iniciou muitas tendências sociais contemporâneas como o feminismo moderno, o ambientalismo e o multiculturalismo. A autoimagem dos estadunidenses, do ponto de vista social e de expectativas culturais, é relacionada com as suas profissões em um grau de proximidade incomum.
  As mulheres, na sua maioria, trabalham fora de casa e recebem a maioria dos diplomas de bacharel. O casamento entre pessoas do mesmo sexo é um tema controverso no país. Alguns estados permitem uniões civis, em vez de casamentos.
Os Estados Unidos são um dos países com as maiores diversidades culturais do mundo
  Os anos 1920 foram bastante marcantes no complexo século XX. Ao mesmo tempo em que o mundo passava por sérios conflitos políticos e desajustes econômicos, havia uma grande efervescência cultural e social.
  Os Estados Unidos viviam anos de pleno desenvolvimento, prosperidade, otimismo e euforia. Essa euforia capitalista criou o conceito de American way of life, o estilo de vida americano, exportado para o mundo como modelo de modernidade e progresso. Esse novo modo de vida era baseado no consumo frenético das novidades tecnológicas, de eletrodomésticos a automóveis; do rádio ao cinema. O American way of life é um exemplo de uma modalidade comportamental, desenvolvida no século XVIII e praticada até os dias atuais, e se refere a uma espécie de síntese de costumes nacionalista que se propõe a aderir aos princípios de vida, liberdade e a procura pela felicidade (direitos não-alienáveis de todos os americanos de acordo com a Declaração de Independência). O American way of life está relacionado diretamente ao American Dream - o sonho americano de ter a igualdade de oportunidades e de liberdade que permite a todos os residentes dos Estados Unidos atingirem seus objetivos na vida somente com seu esforço e determinação.
Clássico do American way of life, de 1937 - "Não há nenhuma maneira como o
American way of life"
  O avanço tecnológico ampliava e popularizava a produção cultural. Nessa época, houve uma grande expansão do sistema radiofônico que muito contribuiu para a divulgação da música e da informação. Em 1924, já havia 562 estações de rádio em funcionamento nos Estados Unidos.
  Era época do jazz, estilo musical com raízes na cultura africana que se tornou muito popular.
  A música dos Estados Unidos reflete a população multi-étnica através de uma gama de estilos diversos. Rock and roll, blues, country, rhythm and blues, jazz, pop, techno e hip-hop estão entre os gêneros musicais do país mais reconhecidos internacionalmente.
  Os povos nativos foram os primeiros habitantes dos Estados Unidos e tocaram sua primeira música. No início do século XVII, imigrantes do Reino Unido, Irlanda, Espanha, Alemanha e França, começaram a chegar em grande número na América do Norte, trazendo consigo novos estilos e instrumentos. Escravos africanos trouxeram tradições musicais e cada leva de imigrantes contribuiu para a miscigenação cultural.
Cantora de blues Bessie Smith (1894-1937)
  O jazz é uma manifestação artístico-musical originária nos Estados Unidos. Tal manifestação teria surgido por volta do início do século XX na região de Nova Orleans e em suas proximidades, tendo, na cultura popular e na criatividade das comunidades negras que ali viviam, um de seus espaços de desenvolvimento mais importantes.
  O jazz se desenvolveu com a mistura de várias tradições musicais, em particular a afro-americana.
  As origens da palavra "jazz" são incertas. A palavra tem suas raízes na gíria norte-americana. O jazz não foi aplicado como música até por volta de 1915.
Coleman Hawkins (1904-1969) - importante músico de jazz
  Inicialmente, o jazz era tocado em clubes noturnos onde se reuniam jovens que gostavam de dançar ao som de um ritmo envolvente, ouvindo músicos como Duke Ellington e Louis Armstrong. Os conservadores achavam aquelas músicas barulhentas e ficavam escandalizados com os movimentos dos dançarinos. Houve quem dissesse que era um sinal de loucura coletiva. Mas a adesão ao novo ritmo - embalado pelo som cadenciado do piano, baixo, trompete e bateria - foi incontrolável. Em poucos anos, músicos brancos aderiram à nova onda e o jazz se tornou um ritmo presente em todo o país.
Duke Ellington (1899-1974)
  Músicos de jazz tocavam em bares clandestinos conhecidos como speakeasies. Esses bares surgiram com a Lei Seca, proibição da venda de bebidas alcoólicas implantada por meio da 18ª emenda à Constituição dos Estados Unidos da América (EUA). Essa lei foi revogada em 1933, em razão dos problemas que gerou, particularmente o surgimento da Máfia, que controlava o comércio ilegal de bebidas. O italiano Afonso Capone, criado em Nova Iorque, mais conhecido como Al Capone ou "Scarface" (rosto com cicatriz), foi o mafioso americano mais conhecido dessa época. Envolvido em guerras de gângsteres e assassinatos brutais, foi preso em 1931 por crime de sonegação fiscal e passou oito anos na prisão de Alcatraz.
Al Capone, em 1935
  Muito da moderna música popular tem suas raízes ligadas à música negra americana (com influência do blues) e ao crescimento da música gospel. A base afro-americana da música popular utilizou elementos vindos da música europeia e indígena. Os Estados Unidos tiveram também influência das tradições musicais e da produção musical na Ucrânia, Irlanda, Escócia, Polônia, América Latina, comunidades judaicas, entre outras.
  Muitas cidades americanas têm um cenário musical vibrante e, em cada uma, estilos regionais florescem. Juntamente com grandes centros musicais como Seattle, Nova Iorque, Minneápolis, Chicago, Nashville, Austin e Los Angeles, muitas cidades menores têm produzido destacados estilos musicais. O "Cajun", a música da Louisiana, a música havaiana, o bluegrass, a música antiga do Sudeste dos Estados Unidos são alguns exemplos da sua diversidade musical.
Dallas - localizada no Texas, é um importante centro cultural dos EUA
  A década de 1920 também foi a época de danças como o charleston e dos musicais da Broadway. As mulheres conseguiram avanços políticos importantes: em 1920, depois de longas campanhas, a 19ª emenda à Constituição dos EUA concedeu o direito de voto às mulheres. Ao mesmo tempo, muitas delas subiam audaciosamente as barras dos vestidos, mostrando tornozelos e joelhos, causando um verdadeiro escândalo. Usavam também os cabelos curtos, fumavam e bebiam em público. As "melindrosas" foram precursoras da emancipação feminina.
  Os carros eram bens acessíveis a uma parcela cada vez maior de indivíduos, graças ao barateamento da produção, resultante do processo de linha de montagem instituído por Henry Ford, em 1903. Também aumentou a parcela de jovens que conseguia cursar uma universidade.
Linha de montagem de Ford em 1913
  Embora ainda fosse grande o número de famílias que viviam modestamente, sobretudo entre os milhares de imigrantes que chegavam todos os anos ao país, eram crescente aquelas cuja renda propiciava uma vida cada vez mais confortável. Algumas, como as dos magnatas, chegavam a reunir imensas fortunas. E uma das formas de mostrar sua riqueza era a manutenção de coleções de obras de arte, várias das quais dariam, mais tarde, origem ao Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, entre outros.
Museu de Arte Moderna de Nova Iorque
  Era uma época de ouro do cinema em Hollywood, onde se concentravam as maiores indústrias cinematográficas do mundo. Até meados dos anos 20, os filmes mudos lotavam cinemas do mundo inteiro. Artistas como Charles Chaplin e Rodolfo Valentino se tornaram as primeiras grandes estrelas do cinema americano. Em 1927, chegou ao fim a era dos filmes mudos com a invenção dos filmes sonoros que tornaram o cinema cada vez mais popular.
Charles Chaplie, encarnando o seu inesquecível personagem Carlitos
  O cinema funcionava como uma máquina de sonhos, em que todas as fantasias humanas se tornavam realidade. Durante os anos 1930, quando a situação econômica mudou completamente com o cenário da crise, o cinema se tornou a principal válvula de escape para a população mundial. Era uma forma de fugir das misérias da depressão. No final dos anos 1930, 80 milhões de entradas de cinema eram vendidas a cada semana nos Estados Unidos, o que possibilita estimar que o estadunidense frequentava o cinema pelo menos uma vez a cada 15 dias.
  A influência do cinema podia ser medida pela sua capacidade de promover novos hábitos de consumo e de estilo de vida. Tudo o que as estrelas de Hollywood usavam virava moda e era copiado por pessoas em todo o mundo. Segundo alguns historiadores, nunca um sistema cultural teve tanto impacto e exerceu efeito tão profundo na mudança do comportamento e dos padrões de gosto e consumo de populações por todo o mundo, como o cinema de Hollywood no seu apogeu.
Sinal de Hollywood
  Consequentemente, o American way of life tornava-se cada vez mais internacionalizado. Atualmente, os hábitos, os produtos, o idioma, a comida, a moda, entre tantos outros modos culturais dos Estados Unidos, está amplamente difundida pelos continentes.
FONTE: Ribeiro, Vanise. Encontro com a História: 9° ano / Vanise Ribeiro; Carla Maria Junho Anastásia; Ilustrações José Luis Junhas ... [et al.]. - 3. ed. - Curitiba: Positivo, 2012.

domingo, 29 de setembro de 2013

O MOVIMENTO DE AUTONOMIA DE SZÉKELY - ROMÊNIA

  A Romênia, assim como muitos outros países europeus, não é um país homogêneo. Tem uma grande diversidade de povos e línguas, sendo que em alguns lugares, os romenos são minoria. É o caso de alguns municípios do centro do país, habitados principalmente por pessoas de origem húngara, os székelys.
  A Romênia é um país de aproximadamente 22 milhões de habitantes, cuja população está distribuída em um território de 238.391 km². Desse total, 1,4 milhão são de húngaros, ou magiares, e centenas de milhares de ciganos. A minoria húngara no país é grande o bastante para assegurar que ultrapasse regularmente a barreira de 5% necessária para garantir cadeiras nas eleições parlamentares. Nas primeiras eleições desde que a Romênia ingressou na União Europeia, em janeiro de 2007, a UDMR (União Democrática dos Húngaros da Romênia) conquistou 6,2% dos votos, assegurando cadeiras no Parlamento Europeu.
Mapa da Romênia
  A UDMR exigiu a remoção do termo "país unificado" da Constituição romena, faz campanhas por melhores escolas para os cidadãos de etnia húngara e exige que o governo devolva os tesouros religiosos húngaros que foram confiscados em 1918.
  Um braço mais radical da UDMR, a União dos Cidadãos Húngaros, formada em 2004, está pressionando por relações mais estreitas com a Hungria e por uma autonomia de Székely, uma região no leste da Transilvânia e que é lar de cerca de 700 mil húngaros. O território é o coração cultural dos magiares da Romênia; em algumas cidades, mais de 90% dos moradores falam húngaro. Székely já foi uma região autônoma, entre 1952 e 1968, e partes da Transilvânia pertenceram à Hungria até 1920.
  O Székely Land ou Szekleland, é uma área histórica e etnográfica da Romênia, habitada principalmente pelos székelys, um subgrupo do povo húngaro do leste da Transilvânia. Seu território é de aproximadamente 16.943 km².
  Os székelys vivem nos vales e colinas dos Cárpatos Oriental, que corresponde ao atual Harghitha, Covasna e partes da Mures Concelhos, na Romênia. A área constitui um enclave étnico húngaro na Romênia. Seu centro cultural é a cidade de Targu Mures, o maior assentamento na região.
Cidade de Targu Mures - Romênia
ORIGEM
  A origem dos Székelys é muito controvérsia, tanto entre os historiadores quanto entre os próprios székelys. Uma teoria diz que eles são descendentes de tribos de guerra que foram assentadas pelos húngaros na Transilvânia para guardar as fronteiras orientais dos tártaros e outros povos bárbaros (o nome székely significa "guardas de fronteira"). Outras dizem que eles têm origem nos hunos, avaros e búlgaros. Há outras teorias que dizem que os székelys sempre foram húngaros, e as diferenças culturais devem-se ao seu relativo isolamento nas montanhas dos Cárpatos. Alguns estudiosos sugerem que os székelys eram simplesmente magiares, como outros húngaros transplantados na Idade Média para proteger as fronteiras. Há outros estudiosos que dizem que os székelys sejam de origem turca.
  Antigas lendas contam que um contingente de hunos se aliou ao exército húngaro que conquistou a Bacia dos Cárpatos no século IX.
Montes Cárpatos - Transilvânia
HISTÓRIA DOS SZÉKELYS
  Alguns historiadores têm datado a presença dos székelys nos Cárpatos Orientais no século V d.C.
  Durante a Idade Média, o povo székely, juntamente com os saxões, desempenhou um papel fundamental na defesa do Reino da Hungria contra os otomanos. Isso contribuiu para formar assentos, que se transformaram em unidades territoriais tradicionais dos Székely, na Transilvânia. Os assentos não eram parte tradicional do sistema húngaro e seus habitantes tiveram um maior nível de liberdade do que os que vivem nos municípios, especialmente até o século XVIII.
Aldeia Székely, em Covasna County - Romênia
  A partir do século XII até 1876, a Terra Székely teve uma quantidade considerável de assentos, mas variando de autonomia, primeiro como parte do Reino da Hungria, em seguida, no interior do Principado da Transilvânia e, finalmente, como parte do Império Habsburgo. A autonomia foi em grande parte devido ao serviço militar Székely, fornecida até o século XVIII. A Terra Székely medieval era uma aliança de sete Székely autônomos: Udvarhely, Csík, Maros, Sepsi, Kézdi, Orbai e Aranyos. O número de assentos foi reduzida mais tarde para cinco, quando Sepsi, Kézdi e Orbai se uniram para formar uma unidade territorial chamada de Háromszék. O assento principal era Udvarhely.
Székelys na fronteira leste e oeste do Reino da Hungria no século XIII
  Com o Tratado de Trianon de 1920 (que regularizou o novo Estado húngaro e substituiu o antigo Império Austro-Húngaro), a Transilvânia tornou-se parte da Romênia, e os székelys foram forçados a a aderir, em parte, à cultura romena. A língua húngara foi substituída pela romena, porém, os székelys conseguiram preservar a educação e a língua húngara.
  Em 1940, a Romênia foi obrigada a ceder o norte da Transilvânia à Hungria. Após a Segunda Guerra Mundial, a Transilvânia voltou a pertencer à Romênia, e em 1952, foi criada a Região Autônoma de Magyare, abrangendo a maior parte da terra habitada pelos székelys. Essa região durou até 1968, quando a reforma administrativa dividiu a Romênia para os atuais municípios.
Székely (em azul) na Transilvânia medieval, dentro do Reino da Hungria
  Atualmente, Harghita County engloba o ex-Udvarhely e Csik, sendo este último incluindo Gyergyószék. Cosvana County cobre mais ou menos o território da antiga Hározék. O ex-Aranyosszék está dividida em Cluj e Alba. Após a queda do comunismo, esperava-se que a ex-Região Autônoma de Magyar - abolida durante a ditadura de Nicolae Ceausescu - fosse restaurada. Isso não aconteceu, aumentando a iniciativa dos székelys pela autonomia e protestos de organizações Székely para alcançar um nível mais elevado de auto-governo para a Terra Székely na Romênia.
Divisão da Terra de Székely
MOVIMENTO DE AUTONOMIA
  Desde o fim da Região Autônoma da Mures-Magyares, por Nicolae Ceausescu, alguns székelys têm pressionado para que a autonomia seja restaurada. Várias propostas têm sido discutidas no seio da comunidade Székely húngara e pela maioria romena. Uma das iniciativas de autonomia Székely baseia-se no modelo da comunidade autônoma espanhola da Catalunha. A principal manifestação pacífica foi realizada em 2006, em favor da autonomia.
Mapa da Transilvânia com a distribuição étnica e as aspirações dos CNS
  O atual presidente romeno, Traian Basescu, no posto desde 2004, vem enfrentando inúmeras manifestações dos székelys nos últimos anos pela autonomia da região, e a sua resposta sempre foi negativa. Segundo o executivo romeno, o autonomismo destas minorias esconde o intuito de alterar a integridade territorial dos Estados sob o disfarce da defesa dos direitos das minorias. Sempre que tem oportunidade, Basescu pontifica contra os direitos coletivos dos povos, e em várias ocasiões manifestou que nunca concederá a autonomia territorial dos húngaros.
Traian Basescu - presidente da Romênia
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Geografia: homem & espaço, 9° ano / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco. - 23. ed. - São Paulo: Saraiva, 2010.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O ATOL DAS ROCAS

  O Atol das Rocas é um recife anelar elíptico situado a cerca de 145 km a oeste do arquipélago de Fernando de Noronha e a aproximadamente 260 km a nordeste da cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, sendo o único atol presente no Oceano Atlântico Sul Ocidental.
  Apresenta elevada importância ecológica por sua alta produtividade biológica e por ser importante zona de abrigo, alimentação e reprodução de diversas espécies de animais. O Atol das Rocas foi transformado na primeira Reserva Biológica Marinha do Brasil, em 5 de junho de 1979.
  Duas ilhas estão presentes na porção interior do Atol das Rocas:
  • Ilha do Farol - com cerca de 34,6 mil metros quadrados, 1 km de comprimento, por 400 metros de largura, era conhecida pelos franceses e ingleses com Sable ou Sand. O nome atual deve-se à construção do primeiro farol na ilha, em 1881, que acabou suspenso em virtude de a torre não atender às necessidades do local. O farol, que permanece em atividade na ilha, foi inaugurado em 1967;
  • Ilha do Cemitério - com cerca de 31,5 mil metros quadrados, 600 metros de comprimento, por 150 metros de largura, era chamada de Grass ou Capim. O nome atual é devido aos sepultamentos de faroleiros e familiares, assim como das vítimas dos diversos naufrágios. As duas ilhas estão a cerca de 3 metros acima da preamar, sendo avistadas, aproximadamente, a 10 milhas náuticas de distância, dependendo da direção de aproximação do Atol das Rocas.
Mapa da localização geográfica e esquema gráfico do Atol das Rocas
HISTÓRIA
  O primeiro mapa que mostra o Brasil descoberto pelos portugueses, o Planisfério de Cantino, de 1502, já registrava a existência do Atol das Rocas. Uma outra menção a Rocas é atribuída ao Almirante Phillip Lee, com a denominação de Baixo das Rocas ou Baixo das Cabras. Rocas aparece caracterizado como atol em 1858, através de um levantamento batimétrico feito pelo comandante Vital de Farias. O primeiro naturalista a mencionar Rocas foi  Jean de Léry, em 1880.
  Devido à pouca profundidade de suas águas, a navegação nesse trecho da costa é muito perigosa. Os acidentes marítimos em Rocas eram frequentes e, no final do século XIX, no dia 19 de novembro de 1881 iniciou-se a construção do primeiro farol do Atol das Rocas, na ilha atualmente conhecida como Ilha do Farol.
Planisfério de Cantino de 1502
A ORIGEM DO ATOL
  O Atol das Rocas tem sua origem na mesma fratura perpendicular à cadeia Dorsal Atlântica, de onde emergiu o arquipélago de Fernando de Noronha (Zona de Fratura de Fernando de Noronha). Assim como o arquipélago, o Atol das Rocas é o cume de um imenso edifício vulcânico, cuja base se perde no abismo atlântico. A diferença entre essas duas formações está em suas elevações vulcânicas. Enquanto Fernando de Noronha se ergueu a até 323 metros acima do nível do mar, Rocas se ergueu ao nível do mar (onde é mais susceptível à ação de ondas). Com o tempo, a ação das ondas reduziu todo o cume para alguns metros abaixo da superfície do mar. A formação desse substrato próximo à superfície oceânica, devido à disponibilidade de luz e nutrientes, possibilitou a ocorrência de colônias de algas calcárias e corais. O desenvolvimento dessas colônias, nas bordas das formações vulcânicas submersas, deu origem aos recifes em forma circular (devido ao cume do vulcão submarino), com a presença de lagunas em seu interior. A esta formação recifal dá-se o nome de atol.
Animação mostrando o processo dinâmico da formação de um atol de coral.
  O Atol das Rocas apresenta forma de uma elipse semicircular com área interna de 5,5 km². O seu eixo Leste-Oeste possui aproximadamente 3,7 quilômetros, e o eixo Norte-Sul, cerca de 2,5 quilômetros. Apesar de possuir dimensões pequenas e ausência de uma laguna profunda, fato usado como argumento para que Rocas não fosse considerado um atol verdadeiro, sua morfologia atual apresenta várias características que são encontradas nos atóis ao redor do mundo. Destacam-se entre elas:
  • a presença de uma laguna rasa e de ilhas arenosas a sotavento do recife, características dos atóis do Caribe;
  • a existência de uma crista de algas coralinas na borda recifal, particularidade dos atóis indo-pacíficos;
  • a maior extensão do anel recifal no lado a barlavento do atol.
Praia do Farol, no Atol das Rocas
  Na fratura geológica, da qual fazem parte Fernando de Noronha e o Atol das Rocas, existem várias outras montanhas submersas, alinhadas à altura (latitude) de Fortaleza, na costa cearense. Seus cumes ficam entre 20 e 30 metros abaixo da superfície marinha.
GEOGRAFIA
  As areias de Rocas têm origem biológica, sendo compostas principalmente por estruturas calcárias fósseis de algas coralináceas da sub-família Melobesioideae e da família Corallinaceae, além de algas verdes do gênero Halimeda e de foraminíferos bentônicos, principalmente Amphistegina radiata e Archaias sp.
  Essas areias de origem biológica, acumularam-se em duas faixas com forma de anel aberto no interior do atol, originando a Ilha do Farol e a Ilha do Cemitério. Juntas, têm uma área de aproximadamente 36 ha. Durante a maré baixa, o anel de recifes que forma o atol fica exposto e, no seu interior surgem piscinas naturais, de tamanhos diversos e profundidade de até 6 metros. Na maré alta, apenas duas ilhas interiores e o perímetro do atol, com sua margem formada por recifes, ficam emersas.
Visão aérea do Atol das Rocas
O CLIMA DO ATOL
  O cilma do Atol das Rocas é o oceânico tropical, amenizado pelos ventos alísios provenientes do Leste e do Sudeste, que sopram o ano todo. Ventos com velocidade variando entre 6 a 10 m/s predominam ao longo de todo o ano, mas, durante o inverno, ventos com velocidade entre 11 e 15 m/s são comuns. Velocidades superiores a 20 m/s são registradas com mais frequência durante o verão. A média de temperatura atmosférica anual é de 25ºC, sendo fevereiro o mês mais quente do ano e agosto, o mais frio. A precipitação é distribuída irregularmente ao longo do ano. De maneira geral, observa-se uma maior precipitação em agosto e uma menor precipitação em abril. As águas que circundam o Atol das Rocas pertencem à Corrente Sul-Equatorial, originadas nas costas da África, a partir da Corrente de Benguela. A temperatura média da água na parte externa do atol é de 27ºC, entretanto, nas piscinas presentes na região interna do recife, a água pode chegar a 39ºC.
Ventos alísios soprando no Atol das Rocas
COMUNIDADES BIOLÓGICAS PRESENTES NO ATOL DAS ROCAS
  O Atol das Rocas serve de berçário a muitas espécies. Todos os anos, milhares de aves e centenas de tartarugas-verdes retornam para lá para desovar. O local também é abrigo e alimentação da tartaruga-pente. Tem uma enorme importância fundamental por sua alta produtividade biológica e por ser uma importante zona de abrigo, alimentação e reprodução de diversas espécies animais.
  Ao lado do Arquipélago de Fernando de Noronha, o Atol das Rocas é considerado uma das áreas mais importantes para a reprodução de aves marinhas tropicais do Brasil, abrigando milhares de aves de várias espécies diferentes. Atualmente vivem, o ano todo, cinco espécies de aves residentes: duas de atobás, uma de trinta-réis ou andorinha-do-mar e duas de viuvinhas. Os atobás-de-patas-vermelhas e as fragatas vêm de Fernando de Noronha para pescar. Além delas, 25 espécies migratórias fazem de Rocas um porto permanente. Passam por ali espécies originárias da Venezuela, África e maçaricos provenientes da Sibéria.
O Atol das Rocas é um dos maiores ninhais de aves do Atlântico Sul
  O atol é também o paraíso de muitas espécies aquáticas. Por se tratar de uma "montanha" isolada, próxima de mares profundos e afastados da costa, ele é ideal para peixes de todos os tamanhos, moluscos, algas, crustáceos e tartarugas. Quase cem espécies de algas, 44 de moluscos, 34 de esponjas, sete espécies de coral e duas espécies de tartarugas já foram identificadas nesse local. Em Rocas foram catalogadas quase 150 espécies de peixes diferentes, entre os sargos, garoupas e xaréus. Apenas duas espécies, o gudião e a donzela são exclusivas da região, que abrange o Atol das Rocas e o Arquipélago de Fernando de Noronha.
Corais no Atol das Rocas
 1. Caracterização da flora
  No Atol das Rocas, a vegetação é tipicamente herbácea, resistente à salinidade, à excessiva luminosidade e à constante ação das marés. Algumas espécies possuem características próprias (apresentam seus ramos orientados para o mar e estruturas resistentes ao soterramento que crescem continuamente, formando um emaranhado). As espécies que ocorrem no atol pertencem às famílias Amaranthaceae, Aizoaceae, Portulacaceae, Cyperaceae, Gramineae e Amaryllidaceae. Na Ilha do Farol há duas casuarinas mortas que são pontos de apoio para as aves marinhas. De grande porte, existem apenas alguns poucos coqueiros introduzidos antes da criação da Reserva. Além disso, outras espécies de plantas introduzidas por pescadores e marinheiros.
Vegetação do Atol das Rocas
2. Composição dos recifes de coral e das comunidades bentônicas associadas
  No Atol das Rocas a superfície do recife mostra-se predominantemente recoberta por macroalgas e uma associação de algas calcárias incrustantes e gastrópodes vermetídeos. Corais maciços, com Siderastrea stellata, Montastrea cavernosa e Porites ocorrem apenas em áreas protegidas da energia das ondas, principalmente nas lagunas, poças de marés e em algumas reentrâncias da frente recifal.
  Apesar de se argumentar que as algas coralíneas têm, em geral, um papel limitado na construção de recifes, devido a restrições ecológicas e ambientais e a sua baixa taxa de crescimento vertical, Rocas é um exemplo de que esses organismos podem crescer verticalmente, a taxas relativamente elevadas.
Vegetação herbácea no Atol das Rocas
  No Atol das Rocas foram identificadas sete espécies de corais da ordem Scleractinia. As esponjas descritas somam 38 espécies, sobressaindo-se a Spirastrella coccinea, Chondrilla nucula e Topsentia ophiraphidites. Pesquisas indicam que o baixo grau de competição por espécies e a reduzida taxa de herbivoria no local podem ser fatores ecológicos que propiciaram o intenso crescimento das algas coralinas incrustantes em Rocas, além de energia hidrodinâmica elevada. A diversidade de crustáceos também é grande, representada por 11 famílias e 18 espécies, destacando-se o caranguejo terrestre, Gecarcinus lagostoma, e o aratu, Grapsus grapsus, espécies que ocorrem somente em ilhas oceânicas.
Caranguejo terrestre
3. Os peixes
  Nas águas circunvizinhas ao atol são encontradas, em grande quantidade, espécies de peixes de utilização comercial, como: a albacora ou atum, alguns tipos de agulhões, garoupa rajada, mero e badejo. Existem mais de 147 espécies de peixes na reserva do Atol das Rocas. Dessas, duas são endêmicas: a donzela de Rocas (Stegastes rocasensis) e a Thaassoma noronhanum.
Donzela de Rocas
  Apesar da biomassa de peixes herbívoros em Rocas ser equivalente à dos recifes em outras localidades no Brasil ou no Caribe, apenas um gênero de peixe pastador em algas coralinas foi encontrado no atol (gênero Sparisoma). Ademais, as espécies do gênero citado têm os músculos das mandíbulas menos potentes que os dos peixes-papagaio do gênero Scarus, que são os pastadores mais potentes do ecossistema recifal e não ocorrem em Rocas. Essa diferença na estrutura da comunidade de peixes de Rocas pode ter contribuído também para o incremento do potencial de crescimento e preservação das algas coralinas incrustantes, visto que a herbivoria por peixes-papagaio é um dos controles ecológicos mais importantes no desenvolvimento das algas coralinas.
Peixe-papagaio
4. As aves
  O Atol das Rocas detém a maior colônia de aves marinhas tropicais do Brasil. Cinco espécies se reproduzem (nidificam) no Atol, tanto na ilha do Farol, como na do Cemitério. As aves que se reproduzem no atol são: atobá-mascarado (Sula dactylatra), atobá-marrom (Sula leucogaster), trinta-réis-do-manto-negro (Sterna fuscata), viuvinha-marrom (Anous stolidus) e viuvinha-negra (Anous minutus).
Viuvinha-marrom
  Além das espécies que nidificam, surgem as forrageadoras constantes migratórias, visitantes esporádicas e limícolas (que vivem na lama e em terrenos alagadiços). Duas espécies de aves marinhas forrageadoras constantes podem ser registradas durante todo o ano, oriundas de Fernando de Noronha, as quais usam os coqueiros, os arbustos secos e as ruínas do Atol das Rocas como locais de pouso para o descanso e as áreas adjacentes para capturar suas presas: o atobá-do-pé-vermelho (Sula sula) e a fragata (Fregata magnificens).
Atobá-do-pé-vermelho
  Cinco espécies de aves migratórias oceânicas foram registradas no Atol das Rocas, sendo três provenientes do Norte e duas do Sul. Pardais (Passer domesticus), com poucos indivíduos, podem ser registrados próximos ao farol, provavelmente oriundos de embarcações que visitaram o Atol, assim como, esporadicamente, a garça-vaqueira (Bulbucus ibis), o rabo-de-junco-do-bico-amarelo (Phaethon aethereus) e a limícola paleártica - andorinha do deserto (Glareola pratincola) -, além da espécie marinha Sterna antillarum, que provavelmente vem do Caribe e do Golfo do México.
Garça-vaqueira
  O último grupo de aves que pode ser registrado no Atol, um dos mais espetaculares pelas características peculiares que apresenta, é o das aves limícolas, provenientes tanto do Hemisfério Norte, como do Velho e do Novo Mundo, como os maçaricos (Tringa spp), a batuíra-de-coleira (Charadrius semipalmatus) e o fuselo (Limosa laponica).
Batuíra-de-coleira
5. As tartarugas-marinhas
  A área também se destaca por ser a segunda maior área de desova da tartaruga-verde (Chelonia mydas) no Brasil, além de ser uma área de abrigo e alimentação da tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata). O primeiro convênio elaborado para a efetiva implantação da Rede de Biodiversidade do Atol das Rocas foi firmado em 1990, entre o Ibama e a Fundação Pró-Tamar. O Tamar pôde coletar dados importantes, não somente sobre a biologia reprodutiva da tartaruga-verde, mas também sobre a bioecologia de indivíduos juvenis, tanto da tartaruga-verde como da tartaruga-de-pente, que habitam a área repleta de bancos e algas e recife de corais e esponjas, os quais se constituem nos principais itens alimentares dessas espécies.
Tartaruga-verde
ESTADO DE CONSERVAÇÃO E PRINCIPAIS AMEAÇAS AO ATOL
  O Atol das Rocas é protegido pela reserva biológica homônima. Esta é a primeira Reserva Biológica Marinha do Brasil, tendo sido declarada em 5 de junho de 1979 - através do Decreto-lei Nº 83.549 - e reconhecido como Sítio do Patrimônio Natural Mundial, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), em 13 de dezembro de 2001. As reservas biológicas protegem, sobretudo, a fauna, sendo fechadas ao turismo e a qualquer tipo de exploração econômica. Porém, é muito muito difícil evitar a presença de pesqueiros, navios e veleiros nos 36 mil hectares de área protegida, incluindo as terras emersas e as formações calcárias submarinas.
Casa e ruína do antigo farol no Atol das Rocas
  Pela legislação brasileira em vigor, para descer no Atol ou mergulhar em suas águas é preciso ter autorização do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Até 1993, essa exigência era simplesmente ignorada pela grande maioria dos navegantes e curiosos, visto que a fiscalização era nula. Em 1993, foi construído um posto permanente (duas casas de madeira pré-fabricadas instaladas ao lado das ruínas do antigo farol) para as equipes de voluntários, no revezamento de fiscalização do Ibama. A administração da reserva está a cargo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Mapa geomorfológico do Atol das Rocas
  A preocupação maior dessas equipes é com a ousadia crescente dos pesqueiros industriais nas águas de pesca proibida, além de eventuais vazamentos de diesel e outros poluentes, às vezes trazidos de alto-mar pelas correntes.
  Tal como na maioria das ilhas oceânicas, camundongos, (Mus musculus), escorpiões (Isometrus maculatus), baratas (Periplaneta americana) e outras pragas foram inadvertidamente introduzidos no Atol e lá proliferaram. Porém, não há indícios  de que essas espécies interfiram diretamente nos ovos ou nas aves, embora disputem espaço e possam, futuramente, prejudicar o equilíbrio ecológico das ilhas, com seus ecossistemas sempre mais frágeis do que os continentais, dado o isolamento e a exiguidade do ambiente.
Visão aérea do Atol das Rocas


FONTE: Geografia: ensino fundamental e ensino médio: o mar no espaço geográfico brasileiro / coordenação Carlos Frederico Simões Serafim, organização Paulo de Tarso Chaves. - Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2005. 304 p. (Coleção explorando o ensino, v. 8)

domingo, 22 de setembro de 2013

INICIATIVA PARA A INTEGRAÇÃO DA INFRAESTRUTURA REGIONAL SUL-AMERICANA - IIRSA

  A Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana, ou simplesmente IIRSA, é um programa conjunto dos governos dos 12 países da América do Sul que visa promover a interligação sul-americana através da integração física desses países.
  Criada em 2000, a IIRSA tem como meta construir uma infraestrutura  de transportes, energia e comunicações entre os países sul-americanos.
  A IIRSA surgiu por meio de uma proposta apresentada em agosto de 2000 em Brasília, durante a Reunião de Presidentes da América do Sul, onde foi discutido a ideia de coordenar o planejamento para a construção de infraestrutura dos diferentes países do continente sul-americano. Esta iniciativa surgiu a partir de uma proposta brasileira, baseada na experiência de planejamento e em estudos desenvolvidos com o foco na integração da infraestrutura logística do país, financiados pelo BNDES.
Logomarca da IIRSA
  A IIRSA se apresenta como uma iniciativa multinacional, multisetorial e multidisciplinar que contempla mecanismos de coordenação entre governos, instituições financeiras multilaterais e o setor privado. A necessidade da integração da infraestrutura física da América do Sul baseia-se no reconhecimento de que não basta a redução ou o fim das barreiras aduaneiras regionais para integrar um continente ou região, mas é necessário planejar a construção dos meios físicos que permitam o desenvolvimento da livre circulação de produtos, serviços e pessoas. Neste quadro, a IIRSA tem como propósito declarado promover o desenvolvimento com qualidade ambiental e social, a competitividade e a sustentabilidade da economia dos países sul-americanos, favorecendo a integração da infraestrutura e da logística regional, integrando os mercados de logística (transportes, fretes, seguros, armazenamento) e processamento de licenças, inserindo-se na "era do novo regionalismo", destacando-se pelo foco na infraestrutura física da integração regional.
O transporte aéreo é um dos projetos de integração da IIRSA
  A IIRSA envolve, além dos governos e bancos governamentais dos países sul-americanos e de organizações do setor privado destes países, três instituições financeiras multilaterais da região: o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Corporação Andina de Fomento (CAF) e o Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata (FONPLATA).
  Para atingir essa meta, foram definidos 10 Eixos de Integração e Desenvolvimento, que são a base para o desenvolvimento dos projetos. Cada eixo deve envolver mais de um país e contemplar a gestão dos recursos naturais e populacionais da área que abrange.
  Os Eixos são os seguintes:
  • Eixo Andino (Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia): integração energética, com destaque para a construção de gasodutos.
  • Eixo Interoceânico de Capricórnio (Antofagasta - Chile, Jujuy - Argentina, Assunção - Paraguai e Porto Alegre - Brasil): integração energética, incorporação de novas terras à agricultura de exportação e biocombustíveis.
  • Eixo do Amazonas (Colômbia, Peru, Equador e Brasil): criação de uma rede eficiente de transportes entre a Bacia Amazônica e o litoral do Pacífico, com vista à exportação.
  • Eixo Sul (sul do Chile - Talcahuano e Concepción - e da Argentina - Neuquén e Bahía Blanca): exploração do turismo e dos recursos energéticos (gás e petróleo).
  • Eixo Interoceânico Central (Sudeste brasileiro, Paraguai, Bolívia, norte do Chile e sul do Peru): rede de transportes para a exportação de produtos agrícolas brasileiros e minerais bolivianos pelo Pacífico.
  • Eixo Mercosul-Chile (Brasil, Argentina, Uruguai e Chile): integração energética, com ênfase nos gasodutos e na construção de hidrelétricas.
  • Eixo Peru-Bolívia-Brasil: criação de um eixo de de transportes envolvendo o Brasil, Bolívia e Peru, com a conexão portuária peruana no Pacífico, permitindo a expansão do comércio destes países com a Ásia.
  • Eixo Hidrovia Paraguai-Paraná (sul e sudoeste do Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai): integração dos transportes fluviais e incremento na oferta de energia hidrelétrica.
  • Eixo do Escudo Guiano (Venezuela, Suriname e extremo-norte do Brasil): aperfeiçoamento da rede rodoviária.
  • Eixo Andino do Sul (região andina da fronteira do Chile com a Argentina): turismo e rede de transportes.
Eixos de integração e desenvolvimento da IIRSA
ESTRUTURA
  O trabalho do IIRSA se organiza em três níveis:
  • Comitê de Direção Executiva (CDE): integrados pelos ministros de infraestrutura ou planejamento designados pelos Governos dos países envolvidos, cuja finalidade é definir os lineamentos estratégicos do trabalho e aprovação dos planos de ação.
  • Grupos Técnicos Executivos (GTEs): integrados por funcionários de alto nível e especialistas designados pelos países. Há um GTE para cada Eixo de Integração e Desenvolvimento (EID) e para cada Processo Setorial de Integração (PSI), com o objetivo de analisar temas específicos e realizar ações de âmbito multinacional.
  •  Comitê de Coordenação Técnica (CCT): integrado pelo BID, a CAF e o FONPLATA, que dá apoio técnico e financeiro aos países, atuando como coordenador das atividades conjuntas.
Ponte sobre o rio Tacutu, que liga as cidades de Lethem (Guiana) a Bonfim (Roraima) - faz parte do Eixo do Escudo Guiano
  Em cada país a Iniciativa se estrutura em torno de Coordenadores Nacionais, responsáveis por articular a participação dos diversos Ministérios e órgãos governamentais envolvidos, além de outros setores considerados relevantes (empresas, governos sub-nacionais, academias, ONGs etc.).
VISÕES, POLÊMICAS E CONTROVÉRSIAS
  Na visão política defendida pelo BID, a IIRSA deveria se basear em princípios como: abertura aos mercados mundiais, promoção da iniciativa privada e retirada do Estado da atividade econômica direta.
Estrada do Pacífico, ligando o Brasil ao litoral do Peru no Oceano Pacífico (trecho do Anel Viário de Rio Branco - AC)
  O IIRSA recebe críticas de caráter ambiental e político. Os ambientalistas denunciam que os projetos induzirão ao desmatamento, em especial os do eixo 5, na faixa do Amazonas. O complexo de obras que inclui a hidrovia e as hidrelétricas do Rio Madeira, incluiriam eclusas que permitiriam o transporte hidroviário na região, são consideradas por muitas ONGs ambientalistas como sendo um projeto que supostamente vai causar grande impacto ambiental.
  Este é um dos casos mais controversos, na medida em que estas obras são fundamentais para gerar energia em uma das regiões mais pobres do Sul da Amazônia, possibilitando a oferta de eletricidade para milhares de habitantes da região, que hoje não tem acesso a energia, tanto no território brasileiro quanto no boliviano.
Obras da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Porto Velho - RO. No fundo, árvores mortas devido ao alagamento da represa.
  Também alegam que os projetos da Hidrovia Paraguai-Paraná, eixo 4, também gerarão impactos ambientais graves em áreas sensíveis, como o Pantanal.
  Os que defendem a integração, dizem que a construção de eclusas irá facilitar a integração das hidrovias já existentes na Bacia Amazônica e na Bacia Platina (além da Paraguai-Paraná, existe também a Tietê-Paraná), permitindo o transporte hidroviário por todo o interior do continente sul-americano, barateando os custos de transportes e diminuindo a poluição, dinamizando consideravelmente a economia dos países beneficiados e permitindo que regiões isoladas do interior do continente possam se desenvolver e exportar os produtos típicos locais para o mercado internacional a um custo viável.
Hidrovia Paraguai-Paraná
  Considerando que, embora polêmicas, a maioria das hidrovias contribui para o desenvolvimento sustentável, alguns analistas e políticos brasileiros criticam abertamente as ONGs ambientalistas que são contra a construção de hidrovias e outras obras de infraestrutura da IIRSA. Estes críticos defendem que muitos destes grupos recebem dinheiro de governo dos países ricos para defender propostas supostamente ambientalistas, mas visam apenas a dificultar o desenvolvimento regional e a integração sul-americana.
  As críticas políticas referem-se aos beneficiários do IIRSA. Muitos analistas dizem que a infraestrutura para a exploração dos recursos naturais na América do Sul proporcionará mais benefícios para as empresas multinacionais do que para a população residente nessa porção do continente.
Corredor Bioceânico - ligará o Atlântico ao Pacífico
  Independente das críticas, o IIRSA é a maior iniciativa para elaborar e instaurar uma política territorial envolvendo os países da América do Sul.
FONTE: Ribeiro, Wagner Costa. Por dentro da geografia, 8° ano: mundo / Wagner Costa Ribeiro. 1. ed. - São Paulo: Saraiva, 2012.

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