quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O ATOL DAS ROCAS

  O Atol das Rocas é um recife anelar elíptico situado a cerca de 145 km a oeste do arquipélago de Fernando de Noronha e a aproximadamente 260 km a nordeste da cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, sendo o único atol presente no Oceano Atlântico Sul Ocidental.
  Apresenta elevada importância ecológica por sua alta produtividade biológica e por ser importante zona de abrigo, alimentação e reprodução de diversas espécies de animais. O Atol das Rocas foi transformado na primeira Reserva Biológica Marinha do Brasil, em 5 de junho de 1979.
  Duas ilhas estão presentes na porção interior do Atol das Rocas:
  • Ilha do Farol - com cerca de 34,6 mil metros quadrados, 1 km de comprimento, por 400 metros de largura, era conhecida pelos franceses e ingleses com Sable ou Sand. O nome atual deve-se à construção do primeiro farol na ilha, em 1881, que acabou suspenso em virtude de a torre não atender às necessidades do local. O farol, que permanece em atividade na ilha, foi inaugurado em 1967;
  • Ilha do Cemitério - com cerca de 31,5 mil metros quadrados, 600 metros de comprimento, por 150 metros de largura, era chamada de Grass ou Capim. O nome atual é devido aos sepultamentos de faroleiros e familiares, assim como das vítimas dos diversos naufrágios. As duas ilhas estão a cerca de 3 metros acima da preamar, sendo avistadas, aproximadamente, a 10 milhas náuticas de distância, dependendo da direção de aproximação do Atol das Rocas.
Mapa da localização geográfica e esquema gráfico do Atol das Rocas
HISTÓRIA
  O primeiro mapa que mostra o Brasil descoberto pelos portugueses, o Planisfério de Cantino, de 1502, já registrava a existência do Atol das Rocas. Uma outra menção a Rocas é atribuída ao Almirante Phillip Lee, com a denominação de Baixo das Rocas ou Baixo das Cabras. Rocas aparece caracterizado como atol em 1858, através de um levantamento batimétrico feito pelo comandante Vital de Farias. O primeiro naturalista a mencionar Rocas foi  Jean de Léry, em 1880.
  Devido à pouca profundidade de suas águas, a navegação nesse trecho da costa é muito perigosa. Os acidentes marítimos em Rocas eram frequentes e, no final do século XIX, no dia 19 de novembro de 1881 iniciou-se a construção do primeiro farol do Atol das Rocas, na ilha atualmente conhecida como Ilha do Farol.
Planisfério de Cantino de 1502
A ORIGEM DO ATOL
  O Atol das Rocas tem sua origem na mesma fratura perpendicular à cadeia Dorsal Atlântica, de onde emergiu o arquipélago de Fernando de Noronha (Zona de Fratura de Fernando de Noronha). Assim como o arquipélago, o Atol das Rocas é o cume de um imenso edifício vulcânico, cuja base se perde no abismo atlântico. A diferença entre essas duas formações está em suas elevações vulcânicas. Enquanto Fernando de Noronha se ergueu a até 323 metros acima do nível do mar, Rocas se ergueu ao nível do mar (onde é mais susceptível à ação de ondas). Com o tempo, a ação das ondas reduziu todo o cume para alguns metros abaixo da superfície do mar. A formação desse substrato próximo à superfície oceânica, devido à disponibilidade de luz e nutrientes, possibilitou a ocorrência de colônias de algas calcárias e corais. O desenvolvimento dessas colônias, nas bordas das formações vulcânicas submersas, deu origem aos recifes em forma circular (devido ao cume do vulcão submarino), com a presença de lagunas em seu interior. A esta formação recifal dá-se o nome de atol.
Animação mostrando o processo dinâmico da formação de um atol de coral.
  O Atol das Rocas apresenta forma de uma elipse semicircular com área interna de 5,5 km². O seu eixo Leste-Oeste possui aproximadamente 3,7 quilômetros, e o eixo Norte-Sul, cerca de 2,5 quilômetros. Apesar de possuir dimensões pequenas e ausência de uma laguna profunda, fato usado como argumento para que Rocas não fosse considerado um atol verdadeiro, sua morfologia atual apresenta várias características que são encontradas nos atóis ao redor do mundo. Destacam-se entre elas:
  • a presença de uma laguna rasa e de ilhas arenosas a sotavento do recife, características dos atóis do Caribe;
  • a existência de uma crista de algas coralinas na borda recifal, particularidade dos atóis indo-pacíficos;
  • a maior extensão do anel recifal no lado a barlavento do atol.
Praia do Farol, no Atol das Rocas
  Na fratura geológica, da qual fazem parte Fernando de Noronha e o Atol das Rocas, existem várias outras montanhas submersas, alinhadas à altura (latitude) de Fortaleza, na costa cearense. Seus cumes ficam entre 20 e 30 metros abaixo da superfície marinha.
GEOGRAFIA
  As areias de Rocas têm origem biológica, sendo compostas principalmente por estruturas calcárias fósseis de algas coralináceas da sub-família Melobesioideae e da família Corallinaceae, além de algas verdes do gênero Halimeda e de foraminíferos bentônicos, principalmente Amphistegina radiata e Archaias sp.
  Essas areias de origem biológica, acumularam-se em duas faixas com forma de anel aberto no interior do atol, originando a Ilha do Farol e a Ilha do Cemitério. Juntas, têm uma área de aproximadamente 36 ha. Durante a maré baixa, o anel de recifes que forma o atol fica exposto e, no seu interior surgem piscinas naturais, de tamanhos diversos e profundidade de até 6 metros. Na maré alta, apenas duas ilhas interiores e o perímetro do atol, com sua margem formada por recifes, ficam emersas.
Visão aérea do Atol das Rocas
O CLIMA DO ATOL
  O cilma do Atol das Rocas é o oceânico tropical, amenizado pelos ventos alísios provenientes do Leste e do Sudeste, que sopram o ano todo. Ventos com velocidade variando entre 6 a 10 m/s predominam ao longo de todo o ano, mas, durante o inverno, ventos com velocidade entre 11 e 15 m/s são comuns. Velocidades superiores a 20 m/s são registradas com mais frequência durante o verão. A média de temperatura atmosférica anual é de 25ºC, sendo fevereiro o mês mais quente do ano e agosto, o mais frio. A precipitação é distribuída irregularmente ao longo do ano. De maneira geral, observa-se uma maior precipitação em agosto e uma menor precipitação em abril. As águas que circundam o Atol das Rocas pertencem à Corrente Sul-Equatorial, originadas nas costas da África, a partir da Corrente de Benguela. A temperatura média da água na parte externa do atol é de 27ºC, entretanto, nas piscinas presentes na região interna do recife, a água pode chegar a 39ºC.
Ventos alísios soprando no Atol das Rocas
COMUNIDADES BIOLÓGICAS PRESENTES NO ATOL DAS ROCAS
  O Atol das Rocas serve de berçário a muitas espécies. Todos os anos, milhares de aves e centenas de tartarugas-verdes retornam para lá para desovar. O local também é abrigo e alimentação da tartaruga-pente. Tem uma enorme importância fundamental por sua alta produtividade biológica e por ser uma importante zona de abrigo, alimentação e reprodução de diversas espécies animais.
  Ao lado do Arquipélago de Fernando de Noronha, o Atol das Rocas é considerado uma das áreas mais importantes para a reprodução de aves marinhas tropicais do Brasil, abrigando milhares de aves de várias espécies diferentes. Atualmente vivem, o ano todo, cinco espécies de aves residentes: duas de atobás, uma de trinta-réis ou andorinha-do-mar e duas de viuvinhas. Os atobás-de-patas-vermelhas e as fragatas vêm de Fernando de Noronha para pescar. Além delas, 25 espécies migratórias fazem de Rocas um porto permanente. Passam por ali espécies originárias da Venezuela, África e maçaricos provenientes da Sibéria.
O Atol das Rocas é um dos maiores ninhais de aves do Atlântico Sul
  O atol é também o paraíso de muitas espécies aquáticas. Por se tratar de uma "montanha" isolada, próxima de mares profundos e afastados da costa, ele é ideal para peixes de todos os tamanhos, moluscos, algas, crustáceos e tartarugas. Quase cem espécies de algas, 44 de moluscos, 34 de esponjas, sete espécies de coral e duas espécies de tartarugas já foram identificadas nesse local. Em Rocas foram catalogadas quase 150 espécies de peixes diferentes, entre os sargos, garoupas e xaréus. Apenas duas espécies, o gudião e a donzela são exclusivas da região, que abrange o Atol das Rocas e o Arquipélago de Fernando de Noronha.
Corais no Atol das Rocas
 1. Caracterização da flora
  No Atol das Rocas, a vegetação é tipicamente herbácea, resistente à salinidade, à excessiva luminosidade e à constante ação das marés. Algumas espécies possuem características próprias (apresentam seus ramos orientados para o mar e estruturas resistentes ao soterramento que crescem continuamente, formando um emaranhado). As espécies que ocorrem no atol pertencem às famílias Amaranthaceae, Aizoaceae, Portulacaceae, Cyperaceae, Gramineae e Amaryllidaceae. Na Ilha do Farol há duas casuarinas mortas que são pontos de apoio para as aves marinhas. De grande porte, existem apenas alguns poucos coqueiros introduzidos antes da criação da Reserva. Além disso, outras espécies de plantas introduzidas por pescadores e marinheiros.
Vegetação do Atol das Rocas
2. Composição dos recifes de coral e das comunidades bentônicas associadas
  No Atol das Rocas a superfície do recife mostra-se predominantemente recoberta por macroalgas e uma associação de algas calcárias incrustantes e gastrópodes vermetídeos. Corais maciços, com Siderastrea stellata, Montastrea cavernosa e Porites ocorrem apenas em áreas protegidas da energia das ondas, principalmente nas lagunas, poças de marés e em algumas reentrâncias da frente recifal.
  Apesar de se argumentar que as algas coralíneas têm, em geral, um papel limitado na construção de recifes, devido a restrições ecológicas e ambientais e a sua baixa taxa de crescimento vertical, Rocas é um exemplo de que esses organismos podem crescer verticalmente, a taxas relativamente elevadas.
Vegetação herbácea no Atol das Rocas
  No Atol das Rocas foram identificadas sete espécies de corais da ordem Scleractinia. As esponjas descritas somam 38 espécies, sobressaindo-se a Spirastrella coccinea, Chondrilla nucula e Topsentia ophiraphidites. Pesquisas indicam que o baixo grau de competição por espécies e a reduzida taxa de herbivoria no local podem ser fatores ecológicos que propiciaram o intenso crescimento das algas coralinas incrustantes em Rocas, além de energia hidrodinâmica elevada. A diversidade de crustáceos também é grande, representada por 11 famílias e 18 espécies, destacando-se o caranguejo terrestre, Gecarcinus lagostoma, e o aratu, Grapsus grapsus, espécies que ocorrem somente em ilhas oceânicas.
Caranguejo terrestre
3. Os peixes
  Nas águas circunvizinhas ao atol são encontradas, em grande quantidade, espécies de peixes de utilização comercial, como: a albacora ou atum, alguns tipos de agulhões, garoupa rajada, mero e badejo. Existem mais de 147 espécies de peixes na reserva do Atol das Rocas. Dessas, duas são endêmicas: a donzela de Rocas (Stegastes rocasensis) e a Thaassoma noronhanum.
Donzela de Rocas
  Apesar da biomassa de peixes herbívoros em Rocas ser equivalente à dos recifes em outras localidades no Brasil ou no Caribe, apenas um gênero de peixe pastador em algas coralinas foi encontrado no atol (gênero Sparisoma). Ademais, as espécies do gênero citado têm os músculos das mandíbulas menos potentes que os dos peixes-papagaio do gênero Scarus, que são os pastadores mais potentes do ecossistema recifal e não ocorrem em Rocas. Essa diferença na estrutura da comunidade de peixes de Rocas pode ter contribuído também para o incremento do potencial de crescimento e preservação das algas coralinas incrustantes, visto que a herbivoria por peixes-papagaio é um dos controles ecológicos mais importantes no desenvolvimento das algas coralinas.
Peixe-papagaio
4. As aves
  O Atol das Rocas detém a maior colônia de aves marinhas tropicais do Brasil. Cinco espécies se reproduzem (nidificam) no Atol, tanto na ilha do Farol, como na do Cemitério. As aves que se reproduzem no atol são: atobá-mascarado (Sula dactylatra), atobá-marrom (Sula leucogaster), trinta-réis-do-manto-negro (Sterna fuscata), viuvinha-marrom (Anous stolidus) e viuvinha-negra (Anous minutus).
Viuvinha-marrom
  Além das espécies que nidificam, surgem as forrageadoras constantes migratórias, visitantes esporádicas e limícolas (que vivem na lama e em terrenos alagadiços). Duas espécies de aves marinhas forrageadoras constantes podem ser registradas durante todo o ano, oriundas de Fernando de Noronha, as quais usam os coqueiros, os arbustos secos e as ruínas do Atol das Rocas como locais de pouso para o descanso e as áreas adjacentes para capturar suas presas: o atobá-do-pé-vermelho (Sula sula) e a fragata (Fregata magnificens).
Atobá-do-pé-vermelho
  Cinco espécies de aves migratórias oceânicas foram registradas no Atol das Rocas, sendo três provenientes do Norte e duas do Sul. Pardais (Passer domesticus), com poucos indivíduos, podem ser registrados próximos ao farol, provavelmente oriundos de embarcações que visitaram o Atol, assim como, esporadicamente, a garça-vaqueira (Bulbucus ibis), o rabo-de-junco-do-bico-amarelo (Phaethon aethereus) e a limícola paleártica - andorinha do deserto (Glareola pratincola) -, além da espécie marinha Sterna antillarum, que provavelmente vem do Caribe e do Golfo do México.
Garça-vaqueira
  O último grupo de aves que pode ser registrado no Atol, um dos mais espetaculares pelas características peculiares que apresenta, é o das aves limícolas, provenientes tanto do Hemisfério Norte, como do Velho e do Novo Mundo, como os maçaricos (Tringa spp), a batuíra-de-coleira (Charadrius semipalmatus) e o fuselo (Limosa laponica).
Batuíra-de-coleira
5. As tartarugas-marinhas
  A área também se destaca por ser a segunda maior área de desova da tartaruga-verde (Chelonia mydas) no Brasil, além de ser uma área de abrigo e alimentação da tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata). O primeiro convênio elaborado para a efetiva implantação da Rede de Biodiversidade do Atol das Rocas foi firmado em 1990, entre o Ibama e a Fundação Pró-Tamar. O Tamar pôde coletar dados importantes, não somente sobre a biologia reprodutiva da tartaruga-verde, mas também sobre a bioecologia de indivíduos juvenis, tanto da tartaruga-verde como da tartaruga-de-pente, que habitam a área repleta de bancos e algas e recife de corais e esponjas, os quais se constituem nos principais itens alimentares dessas espécies.
Tartaruga-verde
ESTADO DE CONSERVAÇÃO E PRINCIPAIS AMEAÇAS AO ATOL
  O Atol das Rocas é protegido pela reserva biológica homônima. Esta é a primeira Reserva Biológica Marinha do Brasil, tendo sido declarada em 5 de junho de 1979 - através do Decreto-lei Nº 83.549 - e reconhecido como Sítio do Patrimônio Natural Mundial, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), em 13 de dezembro de 2001. As reservas biológicas protegem, sobretudo, a fauna, sendo fechadas ao turismo e a qualquer tipo de exploração econômica. Porém, é muito muito difícil evitar a presença de pesqueiros, navios e veleiros nos 36 mil hectares de área protegida, incluindo as terras emersas e as formações calcárias submarinas.
Casa e ruína do antigo farol no Atol das Rocas
  Pela legislação brasileira em vigor, para descer no Atol ou mergulhar em suas águas é preciso ter autorização do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Até 1993, essa exigência era simplesmente ignorada pela grande maioria dos navegantes e curiosos, visto que a fiscalização era nula. Em 1993, foi construído um posto permanente (duas casas de madeira pré-fabricadas instaladas ao lado das ruínas do antigo farol) para as equipes de voluntários, no revezamento de fiscalização do Ibama. A administração da reserva está a cargo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Mapa geomorfológico do Atol das Rocas
  A preocupação maior dessas equipes é com a ousadia crescente dos pesqueiros industriais nas águas de pesca proibida, além de eventuais vazamentos de diesel e outros poluentes, às vezes trazidos de alto-mar pelas correntes.
  Tal como na maioria das ilhas oceânicas, camundongos, (Mus musculus), escorpiões (Isometrus maculatus), baratas (Periplaneta americana) e outras pragas foram inadvertidamente introduzidos no Atol e lá proliferaram. Porém, não há indícios  de que essas espécies interfiram diretamente nos ovos ou nas aves, embora disputem espaço e possam, futuramente, prejudicar o equilíbrio ecológico das ilhas, com seus ecossistemas sempre mais frágeis do que os continentais, dado o isolamento e a exiguidade do ambiente.
Visão aérea do Atol das Rocas


FONTE: Geografia: ensino fundamental e ensino médio: o mar no espaço geográfico brasileiro / coordenação Carlos Frederico Simões Serafim, organização Paulo de Tarso Chaves. - Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2005. 304 p. (Coleção explorando o ensino, v. 8)

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns. Estou realizando pesquisas sobre o Atol das Rocas. Seu material foi muito valioso.
Gratidão.

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