sábado, 17 de agosto de 2013

O CURDISTÃO

  O Curdistão é uma região com cerca de 600 mil quilômetros quadrados, localizada entre os territórios da Turquia, da Síria, do Iraque, do Irã, da Armênia e do Azerbaijão. A palavra "curdistão" é de origem persa e significa "terra dos curdos". Atualmente, a população curda é de cerca de 26 milhões de habitantes, sendo a maioria islâmica. A Turquia concentra a maior parte dessa população (cerca de 13 milhões de pessoas), seguida do Irã (aproximadamente 5 milhões de habitantes) e do Iraque (cerca de 4 milhões de curdos). Os curdos são a maior nação sem território do mundo.
  A maioria são praticantes do islamismo sunita, que se organizam em clãs e, em algumas regiões, falam o idioma curdo. As maiores cidades são Mossul - Iraque (3.100.096 habitantes), Arbil - Iraque (1.293.820 habitantes), Kirkuk - Iraque (1.200.000 habitantes), Divarbaki - Turquia (902.713 habitantes), Hamadã - Irã (560.284 habitantes), Erzurum - Turquia (388.146 habitantes) e Saqqez - Irã (146.100 habitantes).
Cidade de Arbil - localizada no Iraque, é a segunda maior cidade do território reivindicado pelos curdos
  O Curdistão possui um relevo acidentado, onde as maiores altitudes estão localizadas nas montanhas da Alta Mesopotâmia. O ponto culminante é o Monte Ararat, localizado na fronteira entre a Turquia e a Armênia, com 5.165 metros acima do nível do mar, suavizando até os planaltos do norte iraquiano. Nessa região há também a cadeia de montanhas Anti-Taurus, entre a Síria e a Turquia.
  O seu maior lago é o Lago Van, localizado na Turquia, com 3.755 km². O Alto Tigres e o Alto Eufrates localizam-se nessa área.
Monte Ararat visto da Armênia. Para muitos estudiosos, foi nesse local que a Arca de Noé encalhou.
  Os curdos são um povo antigo, ariano, de língua persa. Seus hábitos e cultura foram delineados nas áreas montanhosas entre a Turquia, Iraque, Armênia e Irã. Possui uma rica história, cujo auge ocorreu na Idade Média, com a dinastia de Saladino, que venceu os cruzados e reconquistou a Palestina para os muçulmanos.
  Após 1918, quando é desmembrado o Império Turco-Otomano, formam-se novos países, como Turquia, Iraque e Síria, e a etnia curda, minoria, passa a ser reprimida.
  Desde a década de 1960, o movimento separatista curdo vem crescendo no Iraque. Na década de 1980, o Iraque realizou a destruição de cidades e a deportação de nacionalistas curdos, devido à oposição dos mesmos ao governo iraquiano.
Mulheres curdas protestando contra a morte de civis na Turquia
  Na década de 1990, as facções curdas retomaram as lutas internas desencadeadas por rivalidades entre as principais lideranças.
  Parte expressiva do povo curdo, especialmente os que vivem na Turquia e Iraque, deseja a independência de seus países, contribuindo para o surgimento de organizações políticas engajadas nesse objetivo.
  Dentre essas organizações encontra-se o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que busca esse objetivo no campo político e também por meio da luta armada. O PKK já provocou forte retaliação por parte dos governos turcos e iraquianos, causando o massacre de milhares de curdos nos dois territórios. O território do Curdistão, especialmente na parte situada no Iraque, é muito rico em petróleo.
Curdos protestam contra a morte de militantes na Turquia
  A região autônoma curda, ao norte do Iraque, submissa ao bloqueio internacional e ao imposto pelo Iraque, permaneceu desde 1991 sob a ameaça do aumento dos conflitos tribais e a intervenção dos exércitos turco e iraniano. Nessa região, a crise econômica, a violência e a fome se agravaram.
  Em 1996, o Partido Democrático do Curdistão (KDP) pediu ajuda ao próprio governo do Iraque para se impor ao partido. O PKK já provocou o rival, a União Patriótica do Curdistão (PUIC), que recebe apoio do Irã e da Turquia. Em meio à essa confusão, as tropas iraquianas ocuparam a capital do Curdistão iraquiano, Arbil, desrespeitando a zona de exclusão aérea acima do paralelo 36°. Esse fato provocou novamente a intervenção dos Estados Unidos no Iraque. Mas o KDP, com o apoio do governo do próprio Iraque, conseguiu em poucos dias (setembro de 1996) dominar as principais cidades curdas.
Distribuição da população curda
  Na Turquia, o governo aplicou, até 2002, políticas discriminatórias contra os curdos, privando-lhes da identidade, proibindo tanto seu idioma como alguns dos seus costumes mais característicos. No Irã, os curdos sofrem a perseguição da maioria xiita do país.
  No Iraque, os curdos alimentam a esperança de verem reconhecido o seu status como país. Essas expectativas foram frustradas e o governo iraquiano implementou uma política de deslocamento da população curda, gerando confrontos armados.
  Na Síria, existe a milícia Unidade de Defesa Popular (YPG), que é uma milícia formada para proteger as áreas curdas das forças de oposição no país. O YPG tem sido ligado ao Partido da União Democrática (PYD), o mais poderoso partido curdo da Síria.
Militantes do YPG
FONTE: Antunes, Celso Avelino. Geografia e participação: 9° ano / Celso Avelino Antunes, Maria do Carmo Pereira, Maria Inês Vieira. - 2. ed. - São Paulo: IBEP, 2012.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A AGROPECUÁRIA NA ÁFRICA


  Apesar de predominar as atividades agrícolas de subsistência e o pastoreio nômade do gado, praticados por diferentes grupos étnicos ao longo do paralelo do Equador, destaca-se na economia africana a produção monocultora, sobretudo, de produtos tropicais, como cacau, tabaco, algodão e cana-de-açúcar, bem como as atividades de extração vegetal (sisal, látex, óleo de palma, entre outros) e mineral (petróleo, ouro, diamantes, minério de ferro, entre outros).
  A agricultura do continente africano apresenta-se sob duas formas: a de subsistência e a comercial. A primeira é rudimentar, itinerante e extensiva - planta-se em grandes extensões de terra, que são cultivadas anos seguidos, até ocorrer o esgotamento do solo. Em seguida, busca-se outra área, em que se repete o mesmo processo. Trata-se de um sistema pouco produtivo, cujas colheitas abastecem, em geral, apenas os próprios agricultores. Como principais produtos de cultivo estão inhame, mandioca, milho, sorgo, batata e arroz.
Cultivo de milho na forma de subsistência na África
  A forma comercial está representada pela plantation, sistema introduzido pelos europeus durante o período colonial e que persiste até os dias de hoje. Esse tipo de cultivo baseia-se na monocultura de gêneros tropicais em grandes extensões de terra, cuja produção é voltada para atender quase que exclusivamente o mercado externo. Muitas vezes as propriedades encontram-se sob o comando de grandes empresas agroindustriais, que encaminham os produtos agrícolas para o processamento industrial.
Grupo de agricultores de Burkina Fasso
ÁFRICA ISLÂMICA
  Na África Islâmica, a agricultura está adaptada às condições do clima e dos solos da região. Além disso, a aplicação recente de recursos tecnológicos, por parte dos grandes fazendeiros, tem possibilitado aumentar a rentabilidade por meio da mecanização das lavouras, do uso de sementes selecionadas e de melhoramentos genéticos aplicados em rebanhos.
  Há importantes cultivos agrícolas e pecuária extensiva na costa da Tunísia, da Argélia e do Marrocos. No norte desses países o inverno é frio e o verão é quente, com baixos índices pluviométricos, característicos do clima mediterrâneo. Esses fatores possibilitam o desenvolvimento da agricultura mediterrânea, como o cultivo do trigo, das oliveiras, das videiras e das frutas cítricas.
  Já no Egito, na Líbia e no restante da Argélia, em meio ao Saara, a agropecuária é praticada nos solos férteis do vale do rio Nilo, e também nos oásis, formados quando as águas subterrâneas afloram à superfície, tornando a terra úmida e adequada à prática agrícola dos povos do deserto.
Agricultura no Marrocos
Os oásis do deserto africano
  Há muitos povos que se mantêm por meio dos produtos cultivados nos oásis. Foi por meio desses oásis que pequenas cidades habitadas por povos tradicionais se desenvolveram.
  Há diferentes tipos de aproveitamento dos oásis. Ghadames, na Líbia, é uma cidade de 7 mil habitantes, declarada pela Unesco como patrimônio da humanidade. Jaghbub, também na Líbia, é uma importante cidade desértica, sendo habitada por diferentes povos. Awjila, no deserto líbio, é habitada por uma comunidade berbere. Il Salah é uma tradicional cidade tuaregue desenvolvida em função do oásis no centro da Argélia. Farafra, no Egito, produz melões, tâmaras e arroz que sustentam sua população e seu excedente é vendido para outras partes do país.
Ghadames - Líbia
  Recentemente, muitos oásis passaram a ser explorados para fins turísticos. Um deles é Chibika, na Tunísia, e de Ubari, na Líbia, que, apesar de possuírem um pequeno contingente populacional, a atividade turística é muito importante para a vida dos povos do deserto.
  A maior fonte de divisas da África Islâmica é a atividade extrativa do petróleo, sobretudo na Líbia, e a do gás, na Argélia. Outros importantes recursos minerais são extraídos, como o fosfato, na Tunísia e no Marrocos, onde há também uma importante extração do cobre, e de urânio na Argélia.
  As maiores companhias mineradoras que exploram o subsolo da África são de origem europeia, mas há também empresas americanas e japonesas. Apesar de gerar divisas para os países explorados, o lucro que as companhias obtêm com a exploração do petróleo não é revertido em melhorias nas condições de vida da população local, pois o capital é enviado aos países de origem das empresas.
Oásis de Ubari - Líbia
ÁFRICA SUBSAARIANA
  Essa região apresenta extensas áreas férteis e abriga grandes lavouras monocultoras.  Os principais produtos cultivados são: cana-de-açúcar, amendoim, abacaxi, banana e cacau.
Cacau: principal produto agrícola africano
  Os maiores produtores e os melhores grãos de cacau do mundo estão na África. A produção é totalmente voltada à exportação para os países desenvolvidos e a população local não consome o chocolate produzido com o cacau africano.
  Os maiores produtores de cacau do continente africano são: Costa do Marfim (que também é o maior produtor mundial, com cerca de 40% da produção global), Gana, Nigéria e Camarões.
  Apesar de se tratar de uma monocultura voltada para a exportação, alguns países, como a Nigéria, têm feito tentativas de associar a cultura do cacau a outras atividades econômicas, a fim de poder aumentar a renda da agricultura familiar.
  Um dos projetos que se tem desenvolvido é a associação entre a plantação de cacau e a apicultura. Os produtos advindos da apicultura têm valor comercial e vem contribuindo para o aumento da renda das famílias que se dedicam à produção do cacau.
Cultivo de cacau na Costa do Marfim - o maior produtor mundial
  O cultivo de produtos agrícolas destinados à exportação na África Subsaariana baseia-se no sistema da agricultura de plantation (cultivo agrícola baseado na monocultura e cuja produção é quase toda voltada para a exportação, além de empregar uma numerosa mão de obra). A mão de obra utilizada nesse cultivo prepara o solo, planta as sementes, aplica os recursos fertilizantes e agrotóxicos, além de realizarem a colheita.
  A produção agrícola do continente africano conta com poucos recursos tecnológicos e, por isso, os trabalhadores são submetidos  a grande esforço físico, além de serem mal remunerados, o que impede o desenvolvimento econômico e social do continente.
  A falta de modernização da produção agrícola africana não estimula a qualificação técnica dos profissionais, e por isso existem poucas escolas profissionalizantes, o que contribui para a dependência econômica da África em relação aos países ricos.
Mulheres cultivando a terra na Tanzânia
  A baixa qualificação profissional africana (cuja grande maioria das pessoas são analfabetas) torna a mão de obra no continente muito barata, favorecendo os custos baixos da produção primária e maiores lucros por parte dos grandes proprietários de terras e dos produtores rurais.
  Outro fator que contribui para aumentar o quadro de miséria no continente africano refere-se ao fato de que as melhores terras são usadas pelas grandes propriedades monocultoras, restando aos africanos que desenvolvem a agricultura de subsistência as áreas menos férteis.
  A produção de muitos gêneros tradicionais, como a mandioca, o inhame e o sorgo, é prejudicada por esse processo de organização da economia agrícola, e se torna insuficiente para atender às necessidades alimentares por parte da população africana, obrigando a importação de alimentos.
  Em países como República Democrática do Congo, Gabão e Camarões são praticadas atividades extrativistas vegetais, das quais se obtêm muitos produtos, como a borracha e o óleo da palmeira. Já no litoral da Costa do Marfim, Gana, Togo, na República do Congo, em Camarões, no Quênia e em Uganda, cultivam-se diferentes monoculturas.
Cultivo de arroz no Senegal
  No sul do continente, na Namíbia, Zimbábue e África do Sul, há importante criação pecuária, intensiva e extensiva, principalmente de ovinos e bovinos. A África do Sul é também uma importante produtora de uva e de oliva, além de trigo, centeio, milho, cana-de-açúcar, café e amendoim.
  De modo geral, a pecuária da África Subsaariana se caracteriza pela subsistência. Contudo, a África do Sul, além de apresentar diversificada produção agrícola, destaca-se pela ovinocultura, direcionada à produção de lã. O segundo maior criador de gado da África é Etiópia, onde predomina o gado bovino.
Agropecuária no Lesoto
FONTE: Geografia nos dias de hoje, 8º ano / Cláudio Giardino ... [et al.]. – 1. ed. – São Paulo: Leya, 2012. – (Coleção nos dias de hoje).

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O ARQUIPÉLAGO DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

  O Arquipélago de São Pedro e São Paulo (ASPSP) é um conjunto de pequenas ilhas rochosas e pedregosas pertencente ao estado de Pernambuco. Situa-se na parte central do oceano Atlântico equatorial. É formado por cinco ilhotas maiores e várias outras de menor tamanho. Suas coordenadas geográficas são: 00º56'N e 29º22'W, distando 330 milhas náuticas do Arquipélago de Fernando de Noronha e 510 milhas náuticas do Cabo Calcanhar, no Rio Grande do Norte, o ponto mais próximo da costa brasileira.
  Do ponto de vista científico, sua posição geográfica, localizado entre os Hemisférios Norte e Sul e os continentes africano e americano, atribui ao Arquipélago de São Pedro e São Paulo uma condição única para a realização de pesquisas em diversos ramos da ciência. A construção da Estação Científica no Arquipélago de São Pedro e São Paulo transformou-o em um Navio Oceanográfico permanentemente fundeado no meio do Oceano Atlântico, à disposição da comunidade científica brasileira. Essa estação, foi inaugurada em 1998 e situa-se na Ilha Belmonte, dando início ao Programa Arquipélago de São Pedro e São Paulo (Proarquipélago) sob a administração da Secretaria de Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM).
Ilhas do Arquipélago de São Pedro e São Paulo
  O sistema de previsão do clima na região ocidental do oceano Atlântico Tropical, baseado apenas em dados obtidos por satélites, mostra-se insuficiente para entender a variabilidade do clima. Assim, estudos desenvolvidos a partir da instalação de uma estação meteorológica no Arquipélago de São Pedro e São Paulo, além de contribuírem para o conhecimento da climatologia do Oceano Atlântico como um todo, permitem a formulação de modelos mais eficientes de previsão climática, possibilitando, assim, a avaliação dos impactos sobre as anomalias do clima, como a seca no Nordeste do Brasil e a formação de tempestades tropicais.
  Na área de Geologia e Geofísica Marinha, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo representa uma oportunidade única para melhor conhecer a estrutura do manto superior, já que o mesmo constitui-se de uma formação geológica que decorre do fato de o Arquipélago constituir um afloramento do manto suboceânico resultante de uma falha transformante da Dorsal Meso-Atlântica. Esse afloramento se eleva de profundidades abissais - em torno de quatro mil metros - até a poucos metros acima da superfície. Devido estar situado em uma falha transformante, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo é um dos pontos do território brasileiro com maior atividade sísmica, aspecto de particular relevância para o desenvolvimento de estudos de sismologia.
Mapa da localização e posicionamento geotectônico do Arquipélago de São Pedro e São Paulo
  Em relação à Oceanografia Física, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo, em função de sua proximidade da Linha do Equador, representa um local altamente privilegiado para o desenvolvimento de estudos acerca do Sistema Equatorial de Correntes, no qual encontra-se inserido, sofrendo a influência direta da Corrente Sul-Equatorial e da Corrente Equatorial Submersa. Essa última é uma das mais rápidas, variáveis e menos conhecidas entre todas as correntes oceânicas do Atlântico, chegando a atingir velocidades superiores a 100 cm/s. Do ponto de vista hidrológico, o desenvolvimento de pesquisas no entorno do ASPSP contribui para melhor entendimento dos fenômenos de enriquecimento, resultantes da interação entre as correntes oceânicas e o relevo submarino, a exemplo de ressurgência orográfica - afloramento de águas profundas ricas em nutrientes, ao encontrarem a porção de rocha submersa da ilha.
Base Científica mantida pela Marinha do Brasil no ASPSP
  Em decorrência de sua localização, o ASPSP é, também, uma área de enorme importância biológica, pois exerce papel relevante no ciclo de vida de várias espécies que têm, no arquipélago, etapa importante de suas rotas migratórias, quer como área de reprodução - como o peixe-voador - quer como zona de alimentação, como é o caso da albacora-laje e de crustáceos (lagostim), aves (atobá), quelônios (tartaruga-de-pente), e mamíferos aquáticos (golfinho nariz-de-garrafa). Estudos genéticos para identificação das populações presentes no ASPSP, poderão esclarecer questões ainda pendentes em relação à estrutura populacional de espécies de grande valor comercial, como o espadarte. A posição estratégica do ASPSP torna-o local ideal para o desenvolvimento de um trabalho dessa natureza.
  Além de pesquisas genéticas, trabalhos de marcação e telemetria realizados com as espécies presentes no ASPSP em muito poderão contribuir para elucidar seus movimentos migratórios, tanto em pequena escala (movimentos diários, no entorno do Arquipélago), como em larga escala (migrações sazonais transoceânicas).
Golfinhos nariz-de-garrafa - espécie que procura as águas do ASPSP para se alimentar
  Em função de seu posicionamento remoto, o ASPSP apresenta também elevado grau de endemismo, ocorrência de espécies somente encontradas na região, constituindo-se a presença da Estação Científica em importante ação para o conhecimento e conservação da biodiversidade e do patrimônio genético nacional. Algumas espécies bastante raras, como o tubarão-baleia, são encontradas com relativa frequência nas proximidades do Arquipélago, que oferece, assim, excelente oportunidade para estudos de comportamento.
  Além de sua importância ecológica, do ponto de vista econômico, o ASPSP constitui também uma das mais importantes áreas de pesca do Nordeste brasileiro, sendo bastante visitada por embarcações baseadas em portos nordestinos, principalmente em Natal-RN e Recife-PE. Desde 1988, a frota atuneira sediada em Natal, mantém pesca regular nas adjacências do Arquipélago, objetivando a captura de espécies pelágicas migratórias, como o peixe-rei, a albacora-laje e o peixe-voador.
Tubarão-baleia - espécie comum nas águas do ASPSP
  Além da importância do Arquipélago de São Pedro e São Paulo nos aspectos científico, econômico e social, soma-se, ainda, seu significado estratégico para o País, no cenário político internacional. A convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), assinada pelo Brasil em 1982 e ratificada em dezembro de 1988, mudou a ordem jurídica internacional relativa aos espaços marítimos, instituindo o direito de os Estados costeiros explorarem e aproveitarem os recursos naturais da coluna d'água, do solo e do subsolo dos oceanos, presentes na sua Zona Econômica Exclusiva. No entanto, em relação ao Regime de Ilhas, o artigo 121 da Convenção, em seu parágrafo 3°, afirma que: "os rochedos por si próprios não se prestam à habitação humana ou à vida econômica não devem ter Zona Econômica Exclusiva nem Plataforma Continental". O desenvolvimento do Programa Arquipélago, a partir da garantia da presença humana permanente, além da geração contínua de informações científicas, contribui, de forma decisiva, para o efetivo estabelecimento da Zona Econômica Exclusiva brasileira no entorno do ASPSP, como diz a CNUDM.
O Brasil e sua Zona Econômica Exclusiva
  Outro aspecto político de grande significação estratégica reside no fato de o ASPSP situar-se no Atlântico Norte, fator de importância crucial na definição de cotas de capturas dos recursos de atuns e afins do Atlântico.
  Além de constituir um ecossistema único para o desenvolvimento de pesquisas científicas nas áreas de meteorologia, geologia e oceanografia, incluindo seus componentes físico, químico e biológico, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo possui grande importância ecológica, econômica, social e política para o Brasil.
MORFOLOGIA MARINHA
  O Arquipélago de São Pedro e São Paulo situa-se na zona de expansão entre a Placa Sul-Americana e a Placa Africana. O sistema da falha transformante de São Paulo (Saint Paul Transform Fault System) é uma das maiores falhas transformantes do Oceano Atlântico, ocorrendo em cerca de 630 quilômetros de descontinuidade dos segmentos da cadeia mesooceânica. Esta é uma das regiões mais profundas do Oceano Atlântico e algumas localidades têm mais de 5.000 metros de profundidade. A morfologia abissal apresenta que o Arquipélago situa-se no topo de uma elevação morfológica submarina, com comprimento de 100 quilômetros, largura de 20 quilômetros e altura aproximada de 3.800 metros a partir do fundo do oceano, denominada Cadeia Peridotítica de São Pedro e São Paulo. Sendo de diferentes vulcões submarinos, esta saliência é constituída por duas elevações tabulares orientadas segundo o sentido leste-oeste, apresentando uma forma similar a  Brachiosaurus cuja cabeça é direcionada à leste. Nos flancos do Arquipélago, a partir do nível do mar até 1.000 metros de profundidade, ocorre taludes de alto ângulo, em torno de 50° de inclinação. Ao sul do Arquipélago existe uma escarpa vertical com altura maior que 2.000 metros. Essas morfologias submarinas instáveis sugerem que o soerguimento do Arquipélago foi originado de um tectonismo recente, que está em continuação até o presente.
Morfologia submarina em torno do Arquipélago de São Pedro e São Paulo
ROCHA ULTRAMÁFICA SERPENTINIZADA
  A rocha constituinte do Arquipélago de São Pedro e São Paulo é o peridotito serpentinizado, uma rocha ultramáfica. O ASPSP corresponde à única localidade do Oceano Atlântico em que o manto abissal está exposto acima do nível do mar.
  Os artigos científicos revelam que as rochas ultramáficas do manto abissal expostas no Arquipélago são, provavelmente, originado de megamullion. Este fato é devido ao soerguimento tectônico ativo que ocorreu após sua exposição no fundo do oceano, há aproximadamente 7 milhões de anos. Esse soerguimento está em aceleração e continuará por até mais 7 milhões de anos.
Duas plataformas de abrasão marinha encontradas na Ilha Belmonte
FONTE: Geografia: ensino fundamental e ensino médio: o mar no espaço geográfico brasileiro / coordenação Carlos Frederico Simões Serafim, organização Paulo de Tarso Chaves. - Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2005. 304 p. (Coleção explorando o ensino, v. 8)

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A ECONOMIA PRIMÁRIA DO RIO GRANDE DO NORTE

  O Rio Grande do Norte é um dos estados que mais cresceu economicamente nas últimas décadas. Foram vários fatores que contribuíram para esse crescimento. Os incentivos fiscais, aliados a mão de obra barata, são os principais fatores que têm contribuído para esse crescimento.
CANA-DE-AÇÚCAR
  A cana-de-açúcar é uma espécie originária do Sudeste Asiático e cultivada em diversas regiões do globo, especialmente nas áreas de clima quente e úmido.
  A cana-de-açúcar foi a primeira atividade econômica do Rio Grande do Norte. Essa atividade começou a ser desenvolvida no início do século XVII, quando familiares de Jerônimo de Albuquerque Maranhão fundaram o Engenho Cunhaú, no atual município de Canguaretama. Na segunda década desse século há a fundação de um segundo engenho, o Engenho Ferreiro Torto, localizado no atual município de Macaíba.
Capela do Engenho Cunhaú
  A cana-de-açúcar dirige o povoamento para a Zona da Mata, produzindo uma geografia localizada nas várzeas terminais dos rios Curimataú e Potengi-Jundiaí, caracterizada pelas áreas de cultivo da cana, pelo engenho, pela casa grande, a senzala e os espaços de escoamento da produção - o porto, espaço que vai se diferenciar daquele usado pelas populações nativas, que vivendo através da caça, pesca e de outras coletas de alimentos, não modificavam o meio geográfico.
  Dentre os fatores que contribuíram para o desenvolvimento do cultivo da cana-de-açúcar, não só no Rio Grande do Norte, mas em todo o litoral leste da região Nordeste, estão o solo de massapê (rico em matéria orgânica), o clima tropical (quente e bastante úmido) e a proximidade da Europa.
Casa grande do Engenho Ferreiro Torto em Macaíba - segunda unidade de produção de cana-de-açúcar do Rio Grande do Norte
  As atividades vinculadas à produção de açúcar geraram relações de trabalho aparentemente contraditórias à expansão do capitalismo mercantil, pois permitiam o trabalho forçado (trabalho escravo), que criava condições para uma acumulação primitiva por parte dos senhores de engenho e uma acumulação mercantil na metrópole e nos países europeus com influência sobre a economia portuguesa. Porém, a cana-de-açúcar não possibilitava a criação de um mercado interno, pois os trabalhadores não eram assalariados. Assentada no latifúndio, a empresa agrícola criou uma cultura política com desdobramentos que se reproduzem até hoje e que são apontados como causa de pobreza: a concentração de terras.
Usina Estivas, localizada no município de Arês - RN
  A cana-de-açúcar é uma cultura tradicional da economia norte-rio-grandense, sendo responsável por uma razoável absorção de mão de obra no período da colheita. Beneficiada em anos anteriores com políticas de incentivo praticadas pelo Governo Federal, a atividade canavieira tem apresentado oscilações em decorrência de condições climáticas nem sempre favoráveis por um lado e de preços dos produtos derivados dessa cultura (açúcar e álcool) por outro.
  Os principais produtores de cana-de-açúcar do Rio Grande do Norte são: Baía Formosa, Canguaretama, Ceará-Mirim, Goianinha, São José de Mipibu, Taipu, Arês, Brejinho, São Gonçalo do Amarante e Pedro Velho.
Engenho no município de Ceará-Mirim
FRUTICULTURA IRRIGADA
  A fruticultura do Rio Grande do Norte, antes de sua modernização, apresentava-se dispersa por várias regiões do Estado, sua produção destinava-se ao mercado local/regional e sua característica maior era a ausência de tecnologia. Este quadro começa a modificar-se na década de 1970, quando projetos pioneiros de fruticultura irrigada são criados, primeiro na região de Mossoró, com a Mossoró Agroindustrial S.A - MAISA - e depois no Vale do Açu, com a AgroKnool e a Frunorte.
  Esses projetos, que vão produzir melão irrigado para o mercado interno e internacional, se caracterizam por intensa adoção de tecnologias e pelo uso da água em grandes quantidades. Na região de Mossoró, fazendas como a MAISA, São João e Santa Júlia vão retirar dos poços profundos a água para irrigar o melão. No Vale do Açu o suprimento d'água usado pelas fazendas é retirado do rio Piranhas-Açu, depois de sua perenização no seu baixo-curso, através da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, que começa a armazenar água a partir de 1982.
Fazenda MAISA em Mossoró - RN
  A fruticultura irrigada, que tem no melão o seu principal produto, cresce desde o início da atividade aqui no Estado, mas o seu período de maior crescimento, principalmente em termos de exportação, ocorre entre os anos de 1995 e 1998.
  O ano de 1998 é marcado também pelo crescimento do cultivo de outras frutas, que passam a ser produzidas no Estado e a fazer parte da pauta de exportações, como castanha de caju, banana, manga, melancia, abacaxi e mamão.
  Dois fatos novos marcaram essa economia nos últimos anos: a falência das duas maiores empresas fruticultoras do Estado - a MAISA e a FRUNORTE, a primeira na região de Mossoró e a segunda no Vale do Açu. O outro fato está relacionado ao surgimento de pequenos e médios produtores, que terminaram ocupando o espaço deixado por essas empresas e garantindo a continuidade das exportações, quer seja para o mercado interno, quer seja para o mercado externo.
Mossoró - principal centro fruticultor do RN
  Essa mudança no perfil do empresariado que lida com esse agronegócio fez de Baraúna o município que mais produz melão no Estado e fez surgir também o cultivo de mamão do tipo "papaya" para exportação. Outro fato importante é a incorporação de outros territórios do Estado na produção de frutas tropicais. É o caso dos municípios de Touros, São José de Mipibu, Ielmo Marinho e Ipanguaçu que, juntamente com Baraúna, Mossoró, Carnaubais e Alto do Rodrigues, formam os polos de fruticultura irrigada do Rio Grande do Norte.
Alguns dos produtos da fruticultura do Rio Grande do Norte
  Os principais produtos da fruticultura no rio Grande do Norte são:
1. MELÃO
  O melão é uma fruta nativa do Oriente Médio. Existem inúmeras variedades que são cultivadas em regiões semiáridas de várias partes do mundo.
  A produção de melão no Rio Grande do Norte se concentra no Agropolo de Mossoró-Açu. O melão é a cultura de maior expressão do setor agrícola do Estado. O Rio Grande do Norte é o maior produtor nacional desse fruto, sendo que essa produção é quase toda destinada ao mercado externo. Dentre os fatores que contribuem para a elevada produção de melão no Estado estão a elevada insolação, as terras férteis e a água abundante. O clima árido reduz as possibilidades de pragas, porém, a mosca branca é a principal ameaça ao cultivo do melão.
  Os estados que mais produzem melão no Brasil, em ordem, são o Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia.
  Apesar do sucesso desta atividade, a comercialização do fruto ressente-se de uma melhor organização, especialmente no que se refere aos pequenos e médios produtores, que normalmente vendem sua produção para empresas âncoras que intermediam a exportação. Essas empresas requerem uma padronização das técnicas de produção, para que satisfaçam as exigências dos importadores. Os principais compradores de melão do Rio Grande do Norte são a Inglaterra e os Países Baixos (Holanda), na Europa, e Japão e China, na Ásia.
Produção de melão em Mossoró
  Dentre as principais empresas que controlam a produção e exportação do melão, estão a Nolem, a Agrosol e a Soagri.
  Os municípios que mais produzem melão no Rio Grande do Norte são Baraúna, Mossoró, Açu, Carnaubais, Ipanguaçu, Alto do Rodrigues, Afonso Bezerra, Pendências, Serra do Mel e Itajá.
2. BANANA
  Originária do Sudeste Asiático, a banana é cultivada em praticamente todas as regiões tropicais do planeta e é uma das frutas mais consumidas do mundo.
  A banana é o segundo produto de exportação da fruticultura do Rio Grande do Norte. Nos últimos anos, a banana tem sido o produto agrícola de maior crescimento em termos de exportação, superando até mesmo o melão.
  Os maiores produtores de banana no Rio Grande do Norte são Ipanguaçu, Alto do Rodrigues, Baraúna, Touros, Rio do Fogo, Extremoz, Maxaranguape, Açu, Carnaubais e Pureza. Entre os estados brasileiros, o Rio Grande do Norte lidera a produção, seguido de Santa Catarina e Ceará.
  A Del Monte Fresh, localizada no município de Ipanguaçu, é responsável por mais de um terço da produção de banana no Rio Grande do Norte, cerca de 60 mil toneladas. Sem concorrente, ela é responsável por toda a exportação da fruta, gerando uma receita anual de mais de U$ 25 milhões. Beneficiada com isenção de impostos, o retorno ao Estado vem através da geração de emprego, onde são mais de 1.500 empregos.
  A Del Monte é líder no mundo em produção de frutas. Além do Brasil, a empresa mantém produção própria em mais 10 países e operações de comercialização, venda e compra em outros 50 países.
Cultivo de bananas em Ipanguaçu - RN
3. CASTANHA DE CAJU
  O caju é um pseudofruto originário do Nordeste brasileiro. Muito antes da chegada dos portugueses, o caju já era o alimento básico das populações autóctones. Os colonizadores portugueses foram os responsáveis por introduzir essa planta em outras regiões, como a Ásia e África. O fruto do cajueiro, e principal produto econômico, é a castanha de caju, uma amêndoa rica em aminoácidos e vitaminas
  De todos as culturas tradicionais do Estado, o cultivo do cajueiro é o mais representativo para a economia agrícola potiguar. Teve um grande impulso há três décadas, quando a expansão do mercado de castanha de caju provocou a plantação do cajueiro em extensas áreas. O aquecimento do mercado externo e interno, fez surgir agroindústrias de beneficiamento de castanha espalhadas por diversas regiões do Estado.
  O Rio Grande do Norte é o terceiro maior produtor nacional de castanha de caju, perdendo apenas para o Ceará e o Piauí.
  No Rio Grande do Norte a safra de castanha de caju vai de novembro a fevereiro. Os municípios que mais produzem castanha de caju são Serra do Mel, Mossoró, Cerro Corá, Pureza, Macaíba, Touros,  João Câmara e Apodi.
Serra do Mel - município maior produtor de caju do Rio Grande do Norte
4. MAMÃO
  O mamoeiro é considerado uma planta tropical e tem como provável centro de origem a região compreendida entre o Norte da Bacia Amazônica Superior e a América Central. Como planta tropical apresenta melhor desenvolvimento em regiões de clima quente e úmido. Atualmente, graças aos trabalhos de melhoramento genético seu cultivo tem-se estendido para regiões subtropicais e atualmente está presente em mais de sessenta países.
  No Rio Grande do Norte, o cultivo do mamoeiro intensificou-se nas últimas décadas, tornando o Estado o terceiro maior produtor nacional, perdendo apenas para a Bahia e o Espírito Santo.
  O crescimento do cultivo de mamão teve a participação de empresas agrícolas que se instalaram e desenvolveram atividades de produção, visando principalmente a comercialização com os mercados internacionais, especialmente o europeu e o norte-americano. A principal empresa responsável pela produção de mamão no Estado é a Caliman Agrícola.
  Os principais produtores de mamão no Rio Grande do Norte são os municípios de São José de Mipibu, Baraúna, Pureza e Ceará-Mirim.
Cultivo de mamão em São José de Mipibu - RN
5. ABACAXI
  O ananás ou abacaxi é uma planta originária da América tropical, e já era bastante cultivada pelos indígenas antes da chegada dos europeus.
  No Rio Grande do Norte o abacaxi é cultivado tradicionalmente na região Agreste. Nos últimos anos, graças à demanda por produtos orgânicos nos mercados nacional e internacional, entre os quais inclui esse fruto, verifica-se uma expansão da área cultiva em direção ao Litoral Norte, fazendo uso de sistemas de irrigação como forma de enfrentar os períodos de estiagem.
  No Rio Grande do Norte, os principais produtores são Touros, Ielmo Marinho e Pureza.
Abacaxi - produto que teve um grande incremento nas últimas décadas
6. MANGA
  A manga é uma fruta nativa do Sul e do Sudeste Asiático e um dos principais produtos da pauta de exportações do Rio Grande do Norte. O produto é cultivado em todo Estado. Existem diversos tipos desse fruto, porém o principal tipo de manga que é exportada pelo RN é a Tommy Atkins.
  A Finobrasa, localizada no Vale do Açu, é a maior produtora e exportadora de manga do Rio Grande do Norte.
  As exportações de manga destinam-se principalmente a dois mercados: Holanda e Estados Unidos.
  Os municípios que mais produzem a manga são Ipanguaçu, Açu e Carnaubais.
Cultivo de manga em Ipanguaçu - RN

FONTE: Felipe, José Lacerda Alves. Atlas, Rio Grande do Norte: espaço geo-histórico e cultural: José Lacerda Alves Felipe, Edilson Alves de Carvalho, Aristotelina Pereira Barreto Rocha. João Pessoa, PB: Editora Grafset, 2010.

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