segunda-feira, 11 de julho de 2011

BENELUX

  Bélgica, Holanda (Netherlands) e Luxemburgo formam o bloco conhecido por Benelux. Essas três nações localizam-se na planície norte europeia e apresentam relevo plano e baixo. Cerca de 1/3 do território holandês,localiza-se abaixo do nível do mar.
Paisagem típica da Holanda
  Mesmo tendo territórios pouco extensos, esses países são bem-sucedidos do ponto de vista econômico. A Holanda (Países Baixos), além de possuir um importante centro comercial e financeiro, abriga dois dos mais movimentados portos do globo - o de Roterdã e o de Amsterdã.
Porto de Roterdã - Holanda: um dos mais movimentados portos do mundo
  Suas indústrias, localizadas principalmente no eixo Roterdã-Haia-Amsterdã e na região de Eindhoven, têm projeção internacional. Nesse país, encontram-se a sede de algumas empresas transnacionais, como a Philips, a Shell e a Unilever (anglo-holandesa).
Sede da Philips em Amsterdã - Holanda
  Os setores industriais que se destacam são o siderúrgico, o têxtil, o químico e o de alta tecnologia (informática e eletrônica). O turismo é outra importante fonte de renda para o país.
Paisagem de Amsterdã - importante para o turismo
  Na Bélgica as indústrias estão instaladas principalmente no eixo Antuérpia-Bruxelas. Atualmente, destacam-se as indústrias químicas e as de lapidação de diamantes.
Câmara Municipal na praça principal de Bruxelas - Bélgica
  Em Luxemburgo, os principais setores industriais são o siderúrgico e o químico, beneficiados pela presença de minério de ferro nas regiões próximas à capital, Cidade de Luxemburgo, que abriga mais de 160 bancos e sedes de grandes empresas.
Estação Ferroviária da cidade de Luxemburgo
  Quanto à agropecuária, na Holanda e na Bélgica predominam as pequenas propriedades agrícolas, com utilização intensiva de fertilizantes e de máquinas agrícolas, ocorrendo uma alta produtividade. Destacam-se as produções de flores, cereais, frutas, beterraba e batata. Na pecuária, sobressaem os rebanhos bovino e suíno.
Cultivo de flores em uma propriedade na Holanda
  Um dos principais problemas enfrentados nesses países refere-se aos imigrantes ilegais. Em 2004, foi aprovada na Holanda uma lei que permitiu a deportação de cerca de 26 mil estrangeiros que buscavam asilo no país.
Imigrantes ilegais africanos sendo barrados pela polícia
ALGUNS DADOS DESSES PAÍSES
PAÍSES BAIXOS (HOLANDA)
NOME OFICIAL: Reino dos Países Baixos
CAPITAL: Amsterdã
Residências em Amsterdã
ÁREA (ONU): 41.528 km² (132°)
POPULAÇÃO (2011 - ONU): 16.645.313 habitantes (59°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA (ONU): 400,82 hab./km² (15°)
CIDADES MAIS POPULOSAS:
Amsterdã: 781 mil habitantes (2010)
Amsterdã - capital e maior cidade da Holanda 
Roterdã:
Roterdã - segunda maior cidade da Holanda
Haia:
Haia - terceira maior cidade da Holanda 
LÍNGUA OFICIAL: neerlandês (flamengo)
INDEPENDÊNCIA:
Declarada: 26 de julho de 1581 (Espanha)
Reconhecida: 30 de janeiro de 1648
IDH (ONU - 2010): 0,890 (7°)
PIB (FMI - 2010): U$ 783.293 bilhões (16°)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2005/2010): 79,8 anos (17°)
MORTALIDADE INFANTIL (ONU - 2005/2010): 4,7/mil (19°)
ÍNDICE DE ALFABETIZAÇÃO (ONU - 2007/2008): 99% (19°)
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2008): 82% (30°)
MOEDA: Euro
RELIGIÃO: cristianismo 54% (católicos 33%, Igreja Reformista Holandesa 14%, calvinistas 7%); islamismo (4,1%), hinduísmo (0,5%), sem filiação (39%); outras (2,4%).
SUBIDIVISÕES: os Países Baixos estão divididos em 12 regiões administrativas, também chamadas de províncias: Groninga, Frísia, Drente, Overijssel, Flevolândia, Guéldria, Utrech, Holanda do Norte, Holanda do Sul, Zelândia, Brabante do Norte e Limburgo.
 


BÉLGICA
NOME OFICIAL: Reino da Bélgica
CAPITAL: Bruxelas
Palácio em Bruxelas
ÁREA (ONU): 30.528 km² (137°)
POPULAÇÃO (2011 - ONU): 10.403.951 habitantes (76°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA (ONU): 340,80 hab./km² (17°)
CIDADES MAIS POPULOSAS:
Bruxelas: 1.067.000 (2010)
Bruxelas: capital e maior cidade da Bélgica
Antuérpia: 500.000 habitantes (2010)
Antuérpia - segunda maior cidade da Bélgica
Ghent: 240.000 habitantes (2010)
Ghent - terceira maior cidade da Bélgica
LÍNGUA OFICIAL: flamengo, francês e alemão
INDEPENDÊNCIA: 
Declarada: 4 de outubro de 1830 (Países Baixos)
Reconhecida: 19 de abril de 1839 
IDH (ONU - 2010): 0,867 (18°)
PIB (FMI - 2010): U$ 465.676 bilhões (21°)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2005/2010): 79,4 (20°)
MORTALIDADE INFANTIL (ONU - 2005/2010): 4,2/mil (11°)
ÍNDICE DE ALFABETIZAÇÃO (ONU - 2007/2008): 99% (19°)
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2008): 97% (6°) 
MOEDA: Euro
RELIGIÃO: católicos (90%); islâmicos (1,1%); sem filiação e ateísmo (7%); outros (1,9%).
SUBDIVISÕES: a Bélgica divide-se em duas regiões (Flandres e Valónia), cada uma com cinco províncias, e a Região de Bruxelas-Capital.
██ Região de landres
██ Região de Valónia
██ Região Bruxelas-Capital  
Região de Flandres
1. Antuérpia
2. Limburgo
3. Flandres Oriental
4. Brabante Flamengo
5. Flandres Ocidental
Valónia
1. Brabante Valão
2. Hainaut
3. Liège
4. Luxemburgo
5. Namur
LUXEMBURGO
NOME OFICIAL: Gão-Ducado do Luxemburgo
CAPITAL: Luxemburgo
Catedral de Notre Dame de Luxemburgo
ÁREA (ONU): 2.586 km² (168°)
POPULAÇÃO (2011 - ONU): 406.006 (165°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA (ONU): 157 hab./km² (45°)
CIDADES MAIS POPULOSAS:
Luxemburgo: 100.000 habitantes (2010)
Vista da cidade de Luxemburgo
Esch-sur-Alzette: 20.000 habitantes
Esch-sur-Alzette - segunda maior cidade de Luxemburgo
Differdange: 19.000 habitantes
Differdange - terceira maior cidade de Luxemburgo
LÍNGUA OFICIAL: alemão, francês e luxemburguês
INDEPENDÊNCIA: 9 de junho de 1815 (França)
IDH (ONU - 2010): 0,852 (24°)

PIB (FMI - 2010): U$ 54.950 bilhões (70°)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2005/2010): 78,7 anos (32°)
MORTALIDADE INFANTIL (ONU - 2005/2010): 4,5/mil (18°)
ÍNDICE DE ALFABETIZAÇÃO (ONU - 2007/2008): 99% (19°)

TAXA DE URBANIZAÇÂO (CIA World Factbook - 2008): 82% (31°)
MOEDA: Euro
RELIGIÃO: 87% de católicos, 13% de outros (protestantes, ortodoxos, judeus, muçulmanos, ateus etc).
SUBDIVISÕES: Luxemburgo está dividido em 3 distritos, que por sua vez estão subdivididos em 12 cantões e estes em 116 comunas.
1. Diekirch
2. Grevenmacher
3. Luxemburgo
FONTE: Bigotto, José Francisco. Geografia sociedade e cotidiano: espaço mundial 2, 9° ano/José Francisco Bigotto, Márcio Abondanza Vitielo, Maria Adailza Martins de Albuquerque. -- 2. ed. -- São Paulo: Escala Educacional, 2009.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

EVOLUÇÃO DA PEDAGOGIA

  O conceito de ensino, assim como o conceito de educação, evoluiu graças aos questionamentos e pesquisas realizadas por diversos pensadores, educadores, psicólogos, sociólogos etc.
  Segundo o conceito etmológico, ensinar (do latim signare) é "colocar dentro, gravar no espírito". De acordo com esse conceito, ensinar é gravar ideias na cabeça do aluno, ou seja, o método de ensino é o de marcar e tomar a lição.
  Do conceito etimológico surgiu o conceito tradicional de ensino: "Ensinar é transmitir conhecimentos". Seguindo esse conceito, o método utilizado baseia-se em aulas expositivas e explicativas. O professor fala aquilo que sabe sobre determinado assunto e espera que o aluno saiba reproduzir o que ele lhe disse.
  Esse tipo de ensino, no entanto, por mostrar-se cada vez mais ineficaz, passou a receber uma série de críticas. Essas críticas, formuladas a partir do final do século XIX, foram, aos poucos, dando origem a uma nova teoria da educação. Toma corpo, assim, um novo conceito de ensino e de educação que passou a se denominar Escola-novismo ou Escola Nova.
  Com a Escola Nova o eixo da questão pedagógica passa do intelecto (ensino tradicional) para o sentimento; do aspecto lógico para o psicológico; dos conteúdos cognitivos para os métodos ou processos pedagógicos; do professor para o aluno; do esforço para o interesse; da disciplina para a espontaneidade; do diretivismo para o não-diretivismo; da quantidade para a qualidade; de uma pedagogia de inspiração filosófica centrada na ciência da lógica para uma pedagogia de inspiração filosófica centrada na ciência da lógica para uma pedagogia de inspiração experimental baseada principalmente nas contribuições da Biologia e da Psicologia. Assim, essa teoria pedagógica considera que o importante não é o aprender, mas aprender a aprender.
  Para funcionar de acordo com os princípios da Escola Nova, o ensino teria que passar por uma sensível reformulação. "O professor agiria como um estimulador e orientador da aprendizagem cuja iniciativa principal caberia aos próprios alunos. Tal aprendizagem seria uma decorrência espontânea do ambiente estimulante e da relação viva que se estabeleceria entre os alunos e entre estes e o professor. Para tanto, cada professor teria de trabalhar com pequenos grupos de alunos, sem o que a relação interpessoal, essência da atividade educativa, ficaria dificultada; e num ambiente estimulante, dotado de materiais didáticos ricos, biblioteca de classe etc. Em suma, a feição das escolas mudaria seu aspecto sombrio, disciplinado, silencioso e de paredes opacas, assumindo um ar alegre, movimentado, barulhento e multicolorido" (SAVIANI, D. "As teorias da educação e o problema da marginalidade na América Latina". Cadernos de pesquisa, São Paulo, Fundação Carlos Chagas (42); 8-18, ago. 1982)
  No entanto, esse tipo de ensino e de escola é de  difícil realização. Ele implica custos bem mais elevados do que o ensino tradicional. Por isso, a Escola Nova organizou-se basicamente na forma de escolas experimentais ou como núcleos raros, muito bem equipados e circunscritos a pequenos grupos de elite. No entanto, o ideário escolanovista, tendo sido amplamente difundido, penetrou nas cabeças dos educadores, acabando por gerar consequências também nas amplas redes escolares oficiais organizadas na forma tradicional. Em contrapartida, a Escola Nova aprimorou a qualidade do ensino destinado às elites.
  No entanto, ao término da primeira metade do século XX, um sentimento de desilusão começa a se alastrar nos meios educacionais com relação ao escolanovismo. Surge, assim, uma nova concepção de ensino e educação: a concepção tecnicista.
  Segundo a concepção tecnicista, o ensino deve se inspirar nos princípios de racionalidade, eficiência e produtividade. Por isso, deve-se planejar a educação e o ensino de maneira a evitar as interferências subjetivas que possam pôr em risco sua eficiência. Deve-se operacionalizar os objetivos e, em certos aspectos, mecanizar o processo. Surgem, então, propostas pedagógicas como o enfoque sistêmico, o microensino, o tele-ensino, a instrução programada, as máquinas de ensinar etc.
FONTE: PILETTI, Cláudio. Didática Geral. São Paulo: Ática, 1989.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS GEOGRÁFICOS

  Ao longo da história os grupos humanos gradativamente foram transformando a natureza com o objetivo de garantir sua subsistência. Com isso, o espaço geográfico foi ficando cada vez mais artificializado.
Pré-História
  De um meio natural o homem avançou para um meio cada vez mais técnico: expandiram-se as áreas agrícolas, desenvolveram-se as cidades e as indústrias, construíram-se estradas, portos, hidrelétricas etc.
Revolução Industrial - período da História em que a natureza começa mais a ser modificada
  Poucas áreas da superfície terrestre ainda não sofreram transformações. E mesmo aquelas intocadas, como muitas no interior da Floresta Amazônica ou do continente Antártico, o território está delimitado e sob o controle político - sujeito a soberania nacional ou a acordos internacionais. Sobre esses territórios atuam interesses de diferentes grupos, que buscam sua preservação ou que desejam explorá-los de forma predatória. Em um meio natural, aparentemente intocado, existem relações políticas, econômicas, culturais e ambientais que nem sempre são visíveis na paisagem.
Base científica espanhola na Antártica
  De acordo com o geógrafo brasileiro Milton Santos (1926-2001), paisagem é somente a aparência da realidade, aquilo que nossa percepção, especialmente a visual, capta. Embora as paisagens materializem relações sociais, econômicas e políticas travadas entre os homens, essas relações não são facilmente percebidas. Desvendá-las requer observação, estudo e pesquisa, sendo esse o caminho para que o espaço seja apreendido em sua essência.
Paisagem - é tudo aquilo que a nossa visão alcança
  A paisagem pode ser natural e cultural, humanizada ou geográfica. Paisagem natural é àquela em que prevalecem os aspectos naturais, como uma floresta, uma cachoeira, dentre outros.
Exemplo de paisagem natural
  A paisagem cultural, também chamada de humanizada ou geográfica é àquela em  os aspectos artificiais, ou seja, aquela que sofreu ou sofre a interferência humana, prevalecem, como uma lavoura, uma cidade, uma ponte, dentre outros.
Zona urbana de Patos de Minas - MG. Exemplo de uma paisagem humanizada
  O espaço geográfico é formado pela associação entre a sociedade e a paisagem. O espaço contém todos os objetos naturais e humanizados, mais as relações humanas que se desenvolvem na vida em sociedade.
  Para compreender o espaço geográfico, precisamos entender as relações sociais e as marcas deixadas pelos grupos humanos na paisagem no decorrer da história, ou seja, entender as relações próprias da sociedade e, de forma integrada, as relações entre sociedade e natureza. É a isso que a Geografia, enquanto ciência, estuda hoje.
Inscrições rupestres em Carnaúba dos Dantas - RN. Marcas deixadas pelos grupos humanos pré-históricos na natureza.
  A origem da geografia é antiga. Desde a Antiguidade muitos pensadores elaboraram estudos considerados geográficos, embora o conhecimento fosse disperso e desarticulado, vinculado à filosofia, à matemática e às ciências da natureza. Na Grécia Antiga, Heródoto (484-420 a.C), Eratóstenes (275-194 a.C) e Estrabão (63a.C-entre 21 e 25 d.C), entre outros, nalisaram a dinâmica dos fenômenos naturais, elaboraram descrições de paisagens e estudaram a relação homem-natureza.
Estátua dedicada à Heródoto em Bodrum - Grécia
  Mesmo durante o período em que estiveram sob o domínio romano, os gregos continuaram desenvolvendo seus estudos teóricos. Nas obras de Cláudio Ptolomeu, como a que se intitula Geografia, há importantes registros geográficos, cartográficos e astronômicos. Ele viveu em Alexandria aproximadamente entre os anos 100 e 180 de nossa era, período em que o Egito fazia parte do Império Romano, mas seus estudos só foram descobertos no século XV.
Representação medieval de Ptolomeu
  Os conhecimentos legados por Ptolomeu, como o de um sistema de projeção e coordenadas, ajudaram na produção de mapas mais precisos, fundamentais para a expansão marítima europeia do século XVI.
  No século XVIII diversos filósofos contribuíram para o desenvolvimento da geografia, com destaque para o alemão Immanuel Kant (1724-1804), um dos primeiros a se preocupar com a sistematização do conhecimento geográfico.
Immanuel Kant
  Kant influenciou fortemente seus compatriotas fundadores da geografia como ciência: alexander von Humboldt (1769-1859) e Karl Ritter (1779-1859).
Karl Ritter
  Em meados do século XIX, os dois cientistas alemães gradativamente sistematizaram o arcabouço teórico-metodológico da geografia, que se transformou em disciplina acadêmica, passando a ser pesquisada e ensinada nas universidades. Humboldt foi um importante explorador, fez viagens pela América e, em Cosmos, sua obra maior, sintetizou anos de estudos geográficos.
Alexander von Humboldt
  No final do século XIX, outro importante pesquisador alemão - Friedrich Ratzel (1844-1904) - definiu a geografia como ciência humana, embora na prática a tenha tratado como ciência natural. Ratzel considerou a influência que as condições naturais exercem sobre a humanidade como objeto de estudo da disciplina. Seus discípulos radicalizaram suas ideias, dando origem ao "determinismo geográfico". Além disso, Ratzel foi um dos principais formuladores da geopolítica.
Friedrich Ratzel
  A relação entre o Estado e o espaço é central em sua obra mais importante - Antropogeografia. Segundo ele, a partir do momento em que uma sociedade se organiza para defender um território, transforma-se em Estado. Através disso, surgiu o conceito de território, que é o espaço geográfico sob o controle de um poder instituído.
  No início do século XX, um geógrafo francês - Paul Vidal de la Blache (1845-1918) - passou a criticar o método puramente descritivo e a defender que a geografia se preocupasse com a relação homem-meio, posicionando os seres humanos como agentes que sofrem influência da natureza, mas que também agem sobre ela, transformando-a. Ele inaugurava, uma contraposição ao "determinismo", uma corrente teórica conhecida como "possibilismo", ambas posteriormente rotuladas como "geografia tradicional".
Vidal de la Blache
  A geografia lablachiana, embora tenha avançado em relação à visão naturalista de Ratzel, não rompeu totalmente com ela: a disciplina continuava sendo uma ciência dos lugares, não dos homens.
  Até meados do século XX a grande maioria dos geógrafos se limitava a descrever as características físicas, humanas e econômicas das diversas formações socioespaciais, procurando estabelecer comparações e diferenciações entre elas. Nesse período desenvolveu-se a geografia regional, fortemente influenciada pela escola francesa, e o conceito de região ganhou importância na análise geográfica.
  A região pode ser conceituada como uma determinada área da superfície terrestre, com extensão variável, que apresenta características próprias e particulares que a diferencia das demais. Desde então região ficou associada à noção de particularidade e pode ser definida por diversos critérios. Pode ser natural, quando o critério de distinção é a paisagem natural, ou geográfica, se a diferenciação for econômica, social ou cultural.
Região Amazônica - exemplo de região natural
  Embora tenha um importante papel no desenvolvimento da geografia como ciência, a geografia tradicional nos legou um ensino escolar centrado na memorização de lugares, dados estatísticos sobre população e economia, características físicas de relevo, clima, vegetação e hidrografia. Essa estrutura perdurou até a segunda metade do século XX, quando a descrição das paisagens, com seus fenômenos naturais e sociais, passou a ser realizada de forma mais atraente e eficiente pela televisão. A partir daí, os geógrafos foram obrigados a buscar novos objetos de estudo que permitissem à geografia sobreviver como disciplina escolar no ensino básico e como ramificação das ciências humanas em nível universitário.
Templo budista na cordilheira do Himalaia em Butão
  O processo de mudança do objeto de estudo da disciplina teve seu divisor de águas na década de 1970, quando a geografia passou por uma efervescente renovação em suas bases teórico-metodológicas. Esse processo teve como um dos pioneiros o geógrafo francês Yves Lacoste (1929), que em 1976 publicou A geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra.
Yves Lacoste
  Essa obra balançou as estruturas da geografia tradicional ao denunciá-la como instrumento ideológico a serviço de interesses políticos e econômicos dominantes. Mas, ao mesmo tempo, indicou caminhos para a renovação crítica da disciplina.
Livro de Lacoste
  Lacoste denunciou a existência da "geografia dos Estados maiores" - a serviço do Estado e do capital, ou seja, a geopolítica - e da "geografia dos professores" - ensinada nas salas de aula e materializada nos livros didáticos. Segundo ele, a última acabava cumprindo a função de mascarar o papel da geopolítica e seus vínculos com os interesses dominantes.
  No Brasil um dos pioneiros nesse processo de renovação foi o geógrafo Milton Santos, com a obra Por uma geografia nova, de 1978.
Milton Santos
  Enquanto a renovação na França e no Brasil teve forte influência do pensamento de esquerda, sobretudo do marxismo, nos Estados Unidos a contraposição à corrente tradicional foi a geografia quantitativa ou pragmática. Essa vertente da renovação condenava o atraso tecnológico da geografia tradicional e passou a utilizar sistemas matemáticos e computacionais na interpretação do espaço geográfico.
  Essa corrente tecnicista e utilitarista, que mascarava os conflitos e as contradições sociais denunciados pelos geógrafos críticos, era uma perspectiva conservadora, a serviço do status quo.
  O fim do socialismo real reduziu a influência do marxismo nas ciências humanas, o que abriu caminho para a difusão de outras correntes teórico-metodológicas na geografia crítica, como a fenomenologia e o existencialismo, ao mesmo tempo em que as correntes críticas passaram a valorizar as novas tecnologias.
Sputnik I - os satélites são uma das tecnologias utilizadas pelos geógrafos
  Atualmente, depois de mais de três décadas de renovação e com o avanço da globalização, consolida-se a certeza de que a geografia é uma disciplina fundamental para a compreensão do mundo contemporâneo e de seus problemas - a produção e o consumo, a questão ambiental, o caos urbano, as crises financeiras, entre tantos outros - em diferentes escalas geográficas.
Fonte: SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil, volume 1: espaço geográfico e globalização: ensino médio/ Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. - São Paulo: Scipione, 2010.

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