quarta-feira, 6 de julho de 2011

UNIÃO EUROPEIA

  No fim da Segunda Guerra Mundial, a Europa estava devastada. Países como Inglaterra, França, Alemanha e Itália atravessavam uma grave crise. Não podiam mais exercer a influência que tinham até esse momento. Aproveitando a situação, Estados Unidos e União Soviética ocuparam a posição de liderança que antes era dos países europeus.
Berlim após a Segunda Guerra Mundial
  Os dois países eram rivais, pois defendiam sistemas políticos e socioeconômicos muito diferentes para administrar suas nações. Enquanto os Estados Unidos defendiam a liberdade econômica com presença de empresas particulares, a União Soviética praticava uma economia estatizada, em que o governo controlava toda a produção.
  Estados Unidos e União Soviética passaram, então, a disputar a hegemonia mundial, tentando expandir suas áreas de influência, inclusive na Europa. Esse cenário, que perdurou até o fim da década de 1980, foi denominado de Guerra Fria.

  Em 1945 a União Soviética já exercia uma forte influência sobre a Europa Oriental, que foi obrigada a adotar o sistema socialista. Diante dessa situação, muitos jornalistas passaram a chamar os países dessa região da Europa de “satélites” da União Soviética.
   O crescente poder soviético preocupou os líderes capitalistas, em especial os norte-americanos e os ingleses, que temiam uma possível expansão do socialismo sobre a Europa Ocidental.
  Em setembro de 1946, em Zurique, na Suíça, Winston Churchill sugeriu que a Europa se unisse como resposta à crescente força soviética no continente: "...nós devemos construir uma espécie de Estados Unidos da Europa".
Winston Churchill - ex-Primeiro-Ministro Britânico
  Outro líder da época, o francês Charles De Gaulle, disse em 1948, que, “a Europa deverá ser uma federação de povos livres”.
  Mas o sonho de Churchill e De Gaulle, de unir a Europa, esbarrava num problema criado pela guerra: a fragilidade econômica da Europa Ocidental e as rivalidades internas.


Charles De Gaulle
OS ESTADOS UNIDOS FINANCIAM A EUROPA OCIDENTAL
  Para afastar o risco de colapso econômico da Europa e o seu possível distanciamento do capitalismo norte-americano, diante do crescente poderio soviético, os Estados Unidos (que saíram da guerra praticamente sem perdas) ofereceram à Europa cerca de 13 bilhões de dólares – valor que equivale atualmente a mais de US$ 130 bilhões. Essa ajuda econômica poderia recuperar o capitalismo no continente.
  A União Soviética, apesar das perdas significativas durante a Segunda Guerra Mundial – mais de 20 milhões de mortos, indústrias destruídas, campos arrasados -, possuía um poder militar descomunal em relação aos demais países europeus. Esse desequilíbrio de forças gerava uma enorme tensão na Europa, que se sentia ameaçada por um possível expansionismo do socialismo soviético.
  Chamada oficialmente de Programa de Recuperação Europeia, essa iniciativa ficou mais conhecida pelo nome de Plano Marshall, em homenagem ao secretário de Estado norte-americano na época, George Marshall.
George Marshall
  Curiosamente, a União Soviética e os países da Europa Oriental foram convidados a participar do Plano Marshall. Mas o líder da superpotência socialista, Josef Stalin, viu o plano como uma ameaça à autonomia do bloco socialista, pois quem aceitasse ficaria devedor dos Estados Unidos. Desse modo, pressionou para que nenhum país do Leste Europeu tomasse emprestado dinheiro dos Estados Unidos.
Josef Stalin
  O dinheiro do Plano Marshall foi bem aproveitado. Quatro anos após sua aplicação, a economia dos países da Europa Ocidental já era maior do que antes da guerra.
  Por outro lado, a dívida com os Estados Unidos obrigava os países importantes da região, como França, Itália, Inglaterra e Alemanha Ocidental, a serem grandes aliados dos Estados Unidos.
A EUROPA OCIDENTAL BUSCA RETOMAR SUA SOBERANIA
  No início da década de 1950, a Europa Ocidental já estava reconstruída. Mas precisava resolver alguns problemas, como a ameaça de novos conflitos e a dependência de sua economia em relação aos Estados Unidos.
  A solução partiu de Jean Monnet (1888-1979), um renomado político francês, sugeriu o agrupamento dos Estados do continente “numa Federação ou entidade europeia”.
  Para tanto, seria necessário evitar novos conflitos, fato que só seria possível após o fim das antigas rivalidades em todo o continente.

Jean Monnet
  A maior rivalidade na Europa era entre França e Alemanha. Os dois países se envolveram em guerras, conflitos e disputas territoriais durante muito tempo. Além disso, sempre fizeram parte de alianças opostas.
  Uma das regiões mais disputadas por esses rivais era a Alsácia-Lorena. Rica em ferro e carvão, fundamentais para a industrialização, essa região fronteiriça foi um dos motivos principais das discórdias entre os dois países.
 Alsácia-Lorena
  Um grande passo para superar as rivalidades entre franceses e alemães foi dado em 1950. Monnet propôs que a Alemanha e a França compartilhassem a administração da região.
  Essa proposta foi prontamente aceita pelos dois países, que acabaram assinando a Declaração de Schuman. Robert Schuman (1886-1963), era o Ministro dos Negócios Estrangeiros da França, e apresentou um plano para uma cooperação europeia.
Robert Schuman
  A Declaração de Schuman inspirou outros quatro países: Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Em 1951, convencidos da necessidade de uma efetiva integração continental, assinaram, juntamente com a França e a Alemanha, o Tratado de Paris, que estabeleceu a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca). Essa organização também ficou conhecida como Europa dos Seis.
  A Ceca, vigorou até 2002, e reunia esses produtores de carvão e de aço. A principal meta do grupo era reduzir as tarifas de importação e exportação desses produtos, facilitando sua circulação entre os países membros.
Europa dos Seis
A CECA DÁ ORIGEM À CEE
  Os bons resultados da Ceca levaram muitos de seus líderes políticos dos anos 1950 a buscar maior integração econômica. Pensava-se em na possibilidade de ampliar as trocas, incluindo bens de consumo como roupas, sapatos, alimentos etc.
  Nesse período, já funcionava informalmente uma aliança entre Bélgica, Holanda e Luxemburgo, o Benelux, que permitia a livre troca de mercadorias entre esses três países. Os outros países foram influenciados pelo sucesso do Benelux, um dos primeiros e mais bem-sucedidos casos de integração europeia.
Benelux
O sucesso do Benelux encorajou os integrantes da Ceca a assinarem o Tratado de Roma, em 1957, que criou a Comunidade Econômica Europeia (CEE). Seu objetivo principal foi aprofundar a integração já existente.
  Uma das primeiras decisões tomadas pela CEE foi eliminar qualquer restrição ao comércio entre seus membros. Assim, deixaram de ser cobradas tarifas alfandegarias sobre grande parte das mercadorias fabricadas nos países membros.
  Os resultados foram muito positivos. Mais mercadorias passaram a circular no interior da comunidade. Mais empregos foram gerados, elevando a qualidade de vida da população. Desde a fundação da CEE até 1970, o comércio entre os países membros cresceu seis vezes e as trocas de mercadorias do bloco com o mundo triplicaram.
  O Tratado de Roma era um projeto de integração continental que ia muito além do livre comércio de produtos. Em 1962, entrou em vigor a Política Agrícola Comum (PAC). Esse programa, composto por financiamentos, subsídios e ajuda técnica, aumentou consideravelmente a produção agropecuária de toda a CEE. Gerou também autossuficiência na produção de alimentos e elevou os rendimentos dos agricultores.
Agricultura na Europa
  Em 1974, a CEE criou o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, com a função de transferir recursos financeiros das regiões ricas para as mais pobres. Os seus recursos deviam ser investidos na melhoria da infraestrutura de transportes e sistemas de comunicações.
  À medida que as regiões mais carentes recebiam recursos financeiros, geravam mais empregos. Esse resultado favorável, explica por que, atualmente, um terço do orçamento europeu é destinado a esse fundo.
Parque Industrial em Duisburg - Alemanha
A EXPANSÃO DA COMUNIDADE ECONÔMICA EUROPEIA
  O dinamismo da economia não foi o único resultado alcançado pela CEE. Pouco a pouco o bem-estar da população foi ficando mais patente. Esse fato chamou a atenção de outros países europeus, que passaram a solicitar seu ingresso no bloco.
  A primeira expansão da CEE se deu em 1973, quando ingressaram a Dinamarca, o Reino Unido e a Irlanda.
Europa dos Nove
  Nessa época o mundo enfrentava o “Primeiro Choque do Petróleo”, decorrente da Guerra do Yom Kippur, entre árabes e israelenses. Em decorrência disso, o Reino Unido iniciava uma intensa exploração petrolífera no Mar do Norte. Por isso, ao aceitar o ingresso do Reino Unido, a Comunidade Econômica Europeia passou a contar com um membro rico em recursos energéticos.
Plataforma de petróleo no Mar do Norte
  Na década de 1980 foi a vez da Grécia, da Espanha e de Portugal ingressarem na comunidade. Apesar de serem mais pobres do que os demais membros da CEE, esses países foram aceitos porque são grandes produtores de alimentos. Outro atrativo desses países era sua mão de obra abundante e barata, um item importante para as grandes empresas dos países ricos.
Madri - capital da Espanha
  O ingresso de novos Estados na CEE transformou-a, gradativamente, no grande polo de estabilidade politica e econômica da Europa. A crescente influência do bloco na politica e na economia mundiais tornou necessária sua participação nas mais importantes reuniões internacionais, como fóruns econômicos e ambientais.
Fórum Econômico Mundial em Davos - Suíça
NASCE A UNIÃO EUROPEIA
  Desde 1957, os membros da CEE têm como meta aprofundar sua integração. Por isso, em 1992, foi assinado um novo documento na cidade holandesa de Maastrich. Nesse tratado foram definidas as regras gerais de um bloco mais avançado que a CEE. Nasceu, assim, a União Europeia.
Assinatura do Tratado de Maastrich em 1992 na Holanda
  A União Europeia é a substituta imediata da CEE. Começou a vigorar um ano após a assinatura do Tratado de Maastrich, quando as “quatro liberdades fundamentais” começaram a sair do papel. Além da livre circulação de mercadorias, também os serviços, as pessoas e os capitais devem circular livremente no interior da comunidade.
Bandeira da União Europeia
   Em 1995 a Áustria, a Suécia e a Finlândia entraram na União Europeia. Assim, a comunidade ficou conhecida como “Europa dos Quinze”.
Europa dos Quinze
  Em 1999, houve um avanço ainda maior rumo à unidade europeia. Criou-se a União Monetária e Econômica, um modelo revolucionário de integração de nações baseado na implantação de uma moeda única, que foi batizada com o nome de euro.
Cédulas de Euro
  Para administrar a integração monetária e econômica foi criado o Banco Central Europeu. Essa instituição financeira é responsável por importantes questões, como a emissão de euros. O euro circula livremente na União Europeia desde 2002.
Banco Central Europeu
  Três países da União Europeia – Dinamarca, Reino Unido e Suécia – não permitem a livre circulação do euro em seu território. Eles não quiseram adotar a moeda porque temem perder sua autonomia. Na Zona do Euro, os assuntos econômicos são decididos em conjunto e não individualmente. Os países que aderirem à moeda única devem acatar as decisões do Banco Central Europeu, e por isso, esses três países não aderiram ao euro.
OS MAIS NOVOS MEMBROS DA UNIÃO EUROPEIA
  À medida que evoluía a integração da União Europeia, mais países mostravam interesse em entrar para o bloco.
  Vários países-candidatos tinham sido satélites da União Soviética durante a Guerra Fria. Eram socialistas e enfrentaram uma profunda crise econômica na década de 1980. Para superar essa condição, passaram por uma transição para a economia capitalista nos anos 1990.
Europa Oriental
  O cotidiano dos habitantes desses países também mudou bastante. Antes de 1990, o Estado controlava toda a economia e centralizava as decisões. As empresas e os meios de comunicação eram estatais, assim como os transportes, a educação e a saúde.
  Esse sistema socialista modelado pela União Soviética não conseguiu satisfazer algumas necessidades da população. Por isso, no início da década de 1990, vários governantes do Leste Europeu permitiram o ingresso de empresas privadas em seus países, o que transformou o cotidiano. Ao mesmo tempo, as relações capitalistas foram fortalecidas e muitas das antigas empresas estatais foram privatizadas. Assim, houve uma maior aproximação desses países com a União Europeia.
  Nos últimos anos, diversas transnacionais europeias e norte-americanas têm investido no Leste Europeu, atraídas pela mão de obra extremamente barata. Outra vantagem dessa mão de obra é a sua elevada escolaridade. Apesar de receber salários mais baixos em relação aos trabalhadores da Europa Ocidental, grande parte dessa mão de obra é qualificada – herança da fase socialista que priorizava a excelência na educação e no esporte. 
Varsóvia - capital da Polônia
  Isso impulsionou uma nova industrialização em algumas cidades do Leste Europeu, que começaram a ficar conhecidas por sua capacidade produtiva. Indústrias automobilísticas ocidentais têm se instalado em Budapeste, na Hungria. Essa cidade é chamada de Detroit do Leste, uma referência à cidade norte-americana que é considerada a Capital do Automóvel.
Budapeste - capital da Hungria
  A Estônia, devido ter atraído capitais ligados ao setor de informática, é conhecida como o Vale do Silício do Báltico, uma referência à região da Califórnia onde estão as principais empresas especializadas nessa área tecnológica.
Tallin - capital da Estônia
  Eslovênia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, República Tcheca, Eslováquia e Hungria ingressaram no bloco europeu em 2004. Mas seus governos ainda estão se adequando às condições impostas pela União Europeia. Juntamente com esses oito ex-países socialistas, as ilhas de Malta e Chipre também ingressaram, em 2004 na União Europeia. Em 2007 entraram a Bulgária e a Romênia, que também fizeram parte do bloco socialista.
Mapa da União Europeia
  Com o ingresso da Romênia e da Bulgária, a União Europeia passou a ter mais de 500 milhões de habitantes em 2007.
  A Bulgária e a Romênia registram agora a mesma situação vivida pelos outros ex-países socialistas que ingressaram no bloco em 2004. Receberão uma grande ajuda financeira da União Europeia, estimada em mais de 40 bilhões de euros. Esses recursos deverão ser usados para a ampliação e a melhoria das rodovias, ferrovias, aeroportos e sistemas de telecomunicações. Esse dinheiro também se destina ao desenvolvimento da agropecuária associada a projetos de proteção ao meio ambiente e ao investimento em educação e segurança, entre outros fins.

CHIPRE, UM PROBLEMA PARA A UNIÃO EUROPEIA
  A ilha de Chipre está localizada no mar Mediterrâneo. Essa ex-colônia inglesa tem uma população majoritariamente cristã de origem grega, mas possui uma importante minoria muçulmana de origem turca, que habita o norte do país.
  Na década de 1960, os habitantes de origem grega declararam a independência da ilha e prometeram que a vice-presidência ficaria sempre com um cipriota turco.
  Em 1974, militares de origem grega lideraram um golpe de Estado que afastou os cipriotas turcos do poder. Diante dessa situação, no mesmo ano a Turquia invadiu o norte da ilha e apoiou a criação de um país chamado de República Turca do Norte do Chipre.
Mesquita Selimiye, em Nicósia Chipre. Uma das heranças da ocupação turca no século XVI.
  Até hoje, essa região se encontra política e economicamente separada do restante da ilha, e por isso, não faz parte da União Europeia. Já o sul, habitado pela população de origem grega, ingressou na UE em 2004 e usa o euro como moeda oficial desde 2008.
Nicósia - capital de Chipre
ÒRGÃOS IMPORTANTES DA UNIÃO EUROPEIA
  A União Europeia avançou muito além das "quatro liberdades fundamentais". A prova disso é a existência de vários órgãos que fiscalizam, apoiam e executam as decisões do bloco.
  Um desses órgãos administrativos é o Parlamento Europeu, sediado em Estraburgo, na França. Seus 785 deputados são eleitos diretamente pelos cidadãos dos 27 países membros por um período de cinco anos. O Parlamento Europeu é responsável pelo orçamento da União Europeia, e são esses deputados que decidem onde devem ser investidos os recursos dos impostos. O Parlamento Europeu vem, nos últimos anos, se preocupando com as leis trabalhistas para garantir a liberdade de circulação no interior da União Europeia aos trabalhadores do bloco.
Edifício do Parlamento Europeu em Estrasburgo - França
  O Conselho da União Europeia, é o órgão que reúne os ministros dos países membros para discutir questões internas como agricultura, educação, e telecomunicações.
  A Comissão Europeia, situada em Bruxelas, é o órgão executivo da União Europeia. É responsabilidade sua aplicar os tratados e as decisões do Parlamento e do Conselho da União Europeia.
Edifício Berlaymont, em Bruxelas - sede da Comissão Europeia
OS IMPACTOS DA UNIFICAÇÂO NO COTIDIANO DAS PESSOAS
  Muitas coisas mudaram na vida do cidadão europeu em decorrência da unificação do continente. O passaporte europeu passou a ser uma realidade. Ele permite que se atravessem livremente as fronteiras internas da Europa. O livre trânsito favorece os profissionais, que podem exercer suas funções em qualquer país da União. Aos europeus é permitido também desfrutar de uma carteira de motorista comum e dirigir automóveis em qualquer país membro do bloco.
  Após sucessivos avanços, a União Europeia encontrou uma barreira para continuar sua unificação. Desde o final da década de 1990, os líderes europeus vêm se manifestando contra ou a favor de uma Constituição única para o bloco. Essa Constituição seria o auge para o processo de unificação, pois levaria a União Europeia a ter leis comuns para todos os países membros.

terça-feira, 5 de julho de 2011

O VALE DE YOSEMITE - CALIFÓRNIA

  O Parque Nacional de Yosemite, nos Estados Unidos, foi criado em 1890 para preservar uma das mais belas paisagens do mundo. O vale de Yosemite é seu cenário principal. Os paredões rochosos que o delimitam e o fundo plano por onde flui mansamente o rio Merced guardam as marcas de uma história geológica de milhões de anos.
Rio Merced
  A serra Nevada, onde se situa o vale do Yosemite, começou a emergir do fundo do mar há mais de 50 milhões de anos, como resultado do choque entre placas tectônicas que formou os dobramentos do oeste da América do Norte. Há 10 milhões de anos, imensos blocos de granito compunham cadeias montanhosas paralelas, entre as quais corriam as águas furiosas de um rio. As águas do rio escavaram as rochas e esculpiram um cânion estreito, com escarpas de 900 metros.
Cânion no vale de Yosemite
  Há cerca de um milhão de anos, o cânion de Yosemite foi recoberto de gelo por uma das glaciações do período Quaternário. Em seguida, até 12 mil anos atrás, várias vezes, a geleira derreteu-se e cristalizou-se novamente.
Arco-iris lunar no vale de Yosemite
  A água, ao passar do estado líquido para o sólido, experimenta aumento do volume. A cristalização sucessiva da geleira agiu como uma poderosa lixa nas escarpas de granito. A erosão glacial, ao longo do tempo, aprofundou e alargou o vale de Yosemite. As escarpas transformaram-se em paredões verticais. O cânion tornou-se um vale em forma de U.
Estrutura Half Dome
  No fim da última glaciação, a água do degelo foi represada por detritos de rocha, que fecharam o vale e provocaram a formação de um lago. Esse lago não existe mais. Ele foi soterrado pela deposição de sedimentos, que formaram o atual fundo do plano do vale, onde passou a correr o rio Merced.
Vale de Yosemite durante o inverno
  As temperaturas menos frias possibilitaram o aparecimento de carvalhos, pinheiros, cedros e sequoias. A floresta ocupou o fundo do vale.
FONTE: Magnoli, Demétrio
Estudos de geografia, 8° ano/ Demétrio Magnoli. - 1. ed. -- São Paulo: Atual, 2008

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL E OS CONFLITOS ÁRABE-ISRAELENSE

  A criação de um Estado israelense segue mais ou menos a trajetória de formação de Estados na região do Oriente Médio, no transcorrer do século XX, a partir da influência de potências estrangeiras, especialmente do Reino Unido. A grande diferença de Israel em relação aos demais países é que os judeus, em sua imensa maioria, vieram de fora da região; eles não eram (a não ser uma minoria insignificante), habitantes que já ocupavam essas áreas, como é o caso dos árabes nos atuais países árabes, dos persas no Irã, dos turcos na Turquia etc.
Muro das Lamentações em Jerusalém
  A criação de um Estado judaico foi ideia de um movimento denominado sionismo, que nasceu no fim do século XIX na Europa. Os judeus encontravam-se espalhados por vários países e continentes e, no fim do século XIX sofriam perseguições em alguns países, devido ao fato de serem estigmatizados pelos cristãos como aqueles que teriam crucificado Jesus Cristo, sejam porque alguns deles eram muito ricos e as autoridades locais queriam se apropriar de seus bens.
Theodor Herzl - fundador do sionismo
  No início o sionismo não sabia exatamente onde fundar o Estado judaico, havendo várias possibilidades: na ilha de Chipre, no sul da Argentina ou no Congo, entre outros locais julgados propícios. Mas acabaram se decidindo pela Palestina, por ser a terra – que já foi chamada de Canaã e de Judeia na Antiguidade – onde os judeus residiram a mais de dois mil anos, antes de serem expulsos pelos romanos, quando ocorreu a diáspora judaica (dispersão dos judeus pelo mundo). Mas a escolha dessa região também se deveu ao fato de que no início do século XX alguns judeus ilustres – como o Lorde Rothschild, um dos banqueiros mais importantes do mundo na época, que simpatizava com o movimento sionista – tinham ótimas relações com as autoridades britânicas, e o Reino Unido ainda era a grande potência mundial e desejava tomar dos turco-otomanos aquela área onde hoje estão Israel, Síria, Jordânia etc.
  Durante a Primeira Guerra Mundial os britânicos fizeram um jogo duplo: ao mesmo tempo em que prometiam toda aquela terra aos árabes, que os ajudaram na luta contra os turcos, também prometiam uma parte dela aos judeus, tendo o governo do Reino Unido feito a Declaração de Balfour, em 1917, que destinava à Palestina ao povo judeu caso eles (os britânicos) derrotassem o Império Otomano, que ainda dominava aquela região por ocasião da Primeira Guerra Mundial. Os britânicos não se opuseram as migrações em massa do povo judeu para a região, pelo contrário, até incentivaram. Só que depois, quando começaram a ocorrer sérios conflitos entre judeus e árabes na Palestina, eles acabaram por se omitir, entregando o problema para a ONU logo após a Segunda Guerra Mundial.
  Assim, o movimento sionista promoveu uma intensa migração de judeus de diversas partes do mundo para a Palestina: de 50 mil logo no começo do século XX, os judeus dessa área passaram para mais de 480 mil em 1947. Em vista disso, os conflitos entre judeus e palestinos começaram a se multiplicar. No início eles até foram bem recebidos pelos árabes palestinos, pois durante séculos houve uma boa convivência de árabes com judeus e outros povos, como curdos, armênios etc., em várias partes do Império Otomano. Além disso, os judeus vinham com o valorizado dinheiro dos países europeus, principalmente com a libra esterlina inglesa, e conseguiram comprar propriedades palestinas por baixos preços. Mas quando eles se tornaram uma minoria significativa, na área, e também com a posse de inúmeras propriedades, isso passou a incomodar as lideranças árabes, que começaram a temer a perda de sua pátria.
  Percebendo o enfraquecimento de sua dominação nessa área e a intensa rivalidade entre esses povos, em 1936 os britânicos propuseram um plano para a divisão da Palestina em três partes, o que foi recusado pelos interessados. Mas, após o fim da Segunda Guerra Mundial, foi fundada a ONU, que em 1947 propôs criar dois Estados na Palestina: um judeu e outro árabe. Essa divisão do território palestino, foi uma das consequências da Segunda Guerra, na qual as potências europeias começaram a perder suas colônias na Ásia e na África. Houve, assim, uma grande redefinição do mapa político no Oriente Médio. E, como uma das grandes vítimas da guerra e do nazismo havia sido o povo judeu, a opinião pública em geral era amplamente favorável à criação de uma pátria para esse povo, que vivia espalhado por inúmeros países, em vários continentes. Essa decisão da ONU, de 1947, estabelecia ainda que a cidade de Jerusalém, considerada pelas três principais religiões monoteístas do globo (cristianismo, judaísmo e islamismo) seria proclamada uma área internacional, não pertencente nem ao Estado judaico nem ao árabe ou palestino.
  Os árabes – e a Liga Árabe, que havia sido criada em 1945 – discordaram veementemente dessa decisão da ONU, argumentando que o povo local era a maioria da população na área (70% do total) e não foi consultado. Além disso, eles reclamaram do fato de que uma minoria, os judeus, ficou com mais da metade das terras da Palestina (14,1 mil km², ou 57% do total). Mesmo assim, o Estado de Israel foi criado em 1948, apesar da reação dos vizinhos árabes. Logo que a independência de Israel foi proclamada, ele entrou em guerra com os países árabes vizinhos (Egito, Jordânia, Síria, Iraque e Líbano), fato que ocasionou a fuga de 800 mil árabes palestinos, que perderam suas casas e passaram a ser refugiados em países vizinhos. Aí começou o problema dos refugiados palestinos, aqueles que moram em outros países – muitas vezes em campos de refugiados, em tendas improvisadas – e almejam (pelo menos uma parte) um dia voltar à Palestina.
Reunião que criou o Estado de Israel
  Esse primeiro conflito entre Israel e os árabes também ampliou a área territorial de Israel: logo o país se expandiu e passou a controlar 75% do território que seria destinado aos palestinos, além de se apossar da parte ocidental da cidade de Jerusalém. Apesar de terem uma população muito maior que a de Israel, os árabes foram derrotados nessa e em várias outras ocasiões porque, desde que foi criado, o Estado judaico conta com a ajuda das potências ocidentais, principalmente dos Estados Unidos, que lhes forneceram e ainda fornecem recursos financeiros e os mais modernos armamentos. Além disso, desde o início Israel conta com militares competentes, ao contrário dos árabes, que eram verdadeiras tribos, pois inúmeros judeus que serviram como oficiais ou soldados na marinha e no exército britânico foram para a nova pátria após a Segunda Guerra Mundial.
OS CONFLITOS ÁRABE-ISRAELENSES
  Desde que foi criado, Israel já se envolveu em várias guerras contra os vizinhos árabes. Esse conflito entre Israel e os palestinos é o grande problema do Oriente Médio e fonte de inúmeros conflitos e atos terroristas. A primeira guerra ocorreu em 1948, a segunda em 1956, a terceira em 1967 e a quarta em 1973. Mas além dessas guerras convencionais, existem as guerras não declaradas, ou seja, os conflitos diários nos quais soldados israelenses matam palestinos, terroristas árabes matam israelenses etc.
Palestinos resgatam corpos após ataque israelense
GUERRA DE SUEZ (1956)
  Essa guerra foi deflagrada com a nacionalização do Canal de Suez pelo governo do Egito. Israel, apoiado pelos franceses e ingleses, invadiu o norte do Egito, a região da Península do Sinai, de onde se retirou após a pressão da União Soviética e dos Estados Unidos.
Tropas israelenses no Sinai
GUERRA DOS SEIS DIAS
  Essa guerra ocorreu após vários ataques terroristas contra Israel, que reagiu bombardeando zonas fronteiriças. Isso levou a uma situação de pré-guerra com os países vizinhos, que finalmente foram invadidos por tropas israelenses, se antecipando a um ataque ao seu território. Nesse conflito, Israel ocupou a Península do Sinai (Egito), as Colinas de Golã (Síria) e a Cisjordânia (Jordânia), além de ter se apossado da parte oriental de Jerusalém, ampliando enormemente a sua extensão territorial.
  Em 1973, na guerra do Yom Kippur (o “dia do perdão para os israelenses”) ou do Ramadã (o “período de jejum”, para os árabes), o Egito e a Síria, ajudados pela Jordânia, tentaram, sem sucesso, retomar as áreas de seus territórios anexadas por Israel em 1967.
  Com a assinatura dos Acordo de Paz de Camp David, em 1979, Israel concordou em devolver ao Egito a Península do Sinai. Após a devolução dessas terras ao Egito, Israel passou a ter uma área de 20.900 km². Porém, o Estado israelense ainda ocupa outras áreas que, oficialmente, não fazem parte do seu território: as Colinas de Golã (1.500 km²), a parte leste e oriental de Jerusalém (70 km²), a Cisjordânia (5.789 km²) e a Faixa de Gaza (378 km²), sendo que a Faixa de Gaza e a Cisjordânia constituiriam o virtual ou embrionário Estado palestino, onde essas duas áreas estão sob o controle da Autoridade Palestina. Essas áreas, objeto de disputas e negociações, são pleiteadas pelos árabes e, em tese, podem ser ou não devolvidas a eles após negociações que conduzam a uma situação de paz. São as áreas constantemente discutidas nos diversos processos ou negociações de paz que ocorreram nos últimos anos, geralmente promovidos com a intermediação dos Estados Unidos, pois sem a sua participação, dificilmente haverá paz nessa região.
ECONOMIA DE ISRAEL
  País mais industrializado do Oriente Médio, Israel possui uma indústria de armamentos  bastante desenvolvida, além de indústrias químicas, têxteis, de informática, de material de transportes, de lapidação de diamantes, de produtos eletrônicos etc.
Fábrica da Intel em Kiryat Gat - Israel
  A população é de aproximadamente 7 milhões de habitantes, sendo que 81% são judeus e 19% árabes, e há cerca de 300 mil trabalhadores de diversas nacionalidades. Israel gasta cerca de 25% a 35% de seu orçamento na defesa, um percentual elevadíssimo, provavelmente o mais elevado de todo o mundo.
  O treinamento militar isralense é rigoroso, onde todos os cidadãos, exceto os judeus ultraortodoxos, deve servir às forças armadas, onde será bem treinado para o combate durante três anos (homens) ou um ano (mulheres). Praticamente, todos os isralenses possuem armas em casa, para a eventualidade de um conflito.
Soldado israelense em momento de oração
  Discute-se muito os motivos de os Estados Unidos apoiarem tão firmemente Israel, a ponto de terem usado seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, em várias ocasiões, para impedir que essa organização internacional pressionasse ou condenasse Israel por causa dos maltratos ou torturas contra os palestinos, ou do fato de ter se apropriado de terras de outros países.
Palestino carrega criança que foi atingida pelos ataques israelenses na Faixa de Gaza   
  Provavelmente, sem esse apoio estadunidense, Israel já teria sido massacrado pelos países vizinhos ou até mesmo sofrido sérias sanções por parte da comunidade internacional, da ONU.
  Alguns chegaram a afirmar que esse apoio estadunidense se deve ao fato de Israel estar em uma região rica em petróleo, sendo assim, uma garantia pelo seu forte poderio militar a favor dos Estados Unidos. Porém, essa interpretação não se sustenta, pois Israel mais atrapalha do que ajuda os interesses petrolíferos e econômicos estadunidenses nessa região. Esse apoio a Israel suscita o ódio dos árabes, principalmente dos mais radicais, que fazem ataques terroristas até mesmo dentro dos Estados Unidos, além de indispor o país com os verdadeiros donos do petróleo, que já nacionalizaram as empresas estadunidenses que exploravam petróleo em suas terras, já fizeram boicotes aos Estados Unidos e subiram demasiadamente os preços desse combustível, fato que prejudica a população norte-americana.
Produção de petróleo no Oriente Médio 
  Outros afirmam que esse apoio estadunidense a Israel refere-se ao imenso peso da comunidade judaica nos Estados Unidos, que constituem um dos principais lobbies que existem no país, tendo uma grande influência sobre a política externa norte-americana devido ao seu poder na mídia e ao seu peso nas doações para as campanhas eleitorais de vários políticos estadunidenses.
Comunidade judaica nos Estados Unidos
  A agricultura israelense baseia-se no cultivo de frutas cítricas, abacate, legumes, trigo, batata etc. Ela é conhecida em todo mundo pelas fazendas coletivizadas - os kibutzim - e pelo sistema de irrigação empregado, que permite aos israelenses cultivar produtos agrícolas em áreas do deserto de Neguev, onde se localiza grande parte dos seus solos.
Cultivo de trigo no deserto de Neguev - Israel  
  O kibutz - palavra hebraica que significa "ajuntamento", "comunidade", "colônia coletivista", "reunião", e que em Israel significa "grupo" - é uma propriedade coletiva inspirada num ideal socialista de igualdade. Apesar de geralmente se localizar numa zona rural, o kibutz não é voltado somente para a agropecuária. Nessas propriedades também se desenvolvem o artesanato, pesquisas de novas tecnologias para a produção agrícola e até atividades industriais.
Visão aérea de um Kibutz 
  Embora somente 3,5% da população do país more nos kibutzim, essas fazendas coletivizadas são responsáveis por 40% da produção agrícola exportada e por uma parte da produção industrial de Israel. Os kibutzim, contudo, vêm enfrentando dificuldades ultimamente. Por causa dos conflitos militares e do desinteresse dos jovens pelo ideal de vida coletiva, tem sido difícil a criação de novos kibutzim e até mesmo a manutenção dos já existentes.
Kibutz 
  Do ponto de vista de seu desempenho na economia e na tecnologia e a boa qualidade de vida, Israel apresenta todas as condições para ser classificado como um país do Norte. Mas, sua existência como Estado e seu desenvolvimento econômico estão intimamente ligados às relações tensas e conflituosas que, desde a sua criação, mantém com os seus vizinhos do Oriente Médio.
Tel Aviv 
A DIFÍCIL CRIAÇÃO DE UM ESTADO PALESTINO
  A situação do povo palestino constituiu a mais grave e dramática questão do Oriente Médio, com repercussões em todo o mundo por ser o principal motivo para o radicalismo árabe e islâmico, inclusive, para os principais grupos terroristas na região e no mundo.
Militantes do grupo radical Hamas
  Com a criação de Israel e as subsequentes guerras, os palestinos em grande parte foram expulsos de suas terras e de suas casas. Boa parte deles foi exilada, passando a viver como refugiados em países vizinhos - ou até em países distantes, como o Brasil. Os que ficaram na Palestina hoje concentram-se em duas áreas: na Cisjordânia (onde há 2,5 milhões de habitantes, sendo que 300 mil deles são colonos judeus) e na Faixa de Gaza (onde há 1,4 milhão de habitantes em apenas 360 km², o que resulta numa das mais elevadas densidades demográficas do mundo: quase 4 mil hab./km²).
Prédios completamente destruídos na Faixa de Gaza pelo Exército israelense
  Tendo perdido o seu território e em 1948 e passando a viver como refugiados -  ou como populações vigiadas, verdadeiros "cidadãos de segunda classe" nas áreas controladas por Israel -, os palestinos começaram a reagir por meio de ações armadas, entre o fim da década de 1950 e início da década de 1960. Assim, fundaram-se várias organizações palestinas com o objetivo de retomar as suas terras ou de criar o seu Estado.
  Em 1964, foi fundada a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que se tornou a mais importante delas.
Yasser Arafat (1929-2004) - fundador da OLP
  Em 1993, depois dos acordos de Oslo, na Noruega, onde palestinos e israelenses discutiram a paz com a intermediação dos Estados Unidos, a OLP passou a constituir a Autoridade Palestina (AP), com jurisdição na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.
Yitzhak Rabin e Yasser Arafat mediado pelo ex-presidente dos EUA Bill Clinton durante o Acordo de Oslo, na Noruega em 1993.
  Mas a morte de Arafat, líder carismático palestino e fundador da OLP, em 2004, e as frequentes denúncias de corrupção de seus líderes, fizeram com que a OLP perdesse grande parte de sua popularidade perante os palestinos. Em 2006 os palestinos votaram a favor da organização terrorista e islâmica  fundamentalista Hamas, que passou a controlar a Faixa de Gaza.
Políticos do grupo Hamas
  A convivência entre israelenses e palestinos sempre foi problemática, cheia de violência, pelo menos desde 1948. De um lado, as tropas israelenses agem de forma truculenta e não respeitam os direitos dos palestinos, às vezes nem mesmo nos próprios territórios destes: invadem acampamentos, prendem pessoas, espancam mulheres e crianças etc. E de outro lado os grupos terroristas palestinos fazem frequentes ataques terroristas, muitas vezes suicidas, matando dezenas de civis.
Equipe de socorro atendendo vítimas de ataque terrorista em Israel
  Um dos capítulos ou momentos mais famosos desse conflito entre palestinos e israelenses começou a ocorrer em 1987, quando a população palestina, sobretudo jovem, inclusive crianças, iniciou um forte movimento de protesto contra a ocupação israelense lançando pedras contra as tropas. Esse movimento, que causou a morte de centenas de jovens palestinos e de alguns soldados israelenses, recebeu o nome de Intifada (rebelião). Também é conhecido como "Revolta das Pedras", pois os jovens palestinos fazem das pedras o seu instrumento de luta.
Jovens palestinos participando da Intifada
  Mas as outras intifadas que ocorreram, principalmente no início do século XXI, não foram de pedras, e sim de fuzis, metralhadoras e até lança-foguetes, pois os palestinos passaram a receber ajuda financeira do Irã e eventualmente da Síria.
  Existem várias dificuldades quase incontornáveis para a paz. Mas, o único caminho para selar a paz entre esses dois povos seria a troca de terras por paz, ou seja, Israel devolver as terras que ocupou, inclusive Jerusalém, e conceder uma efetiva soberania aos palestinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Mas é improvável que isso ocorra, pois existem os radicais judeus que não apenas são contra a devolução de terras, como almejam tomar ainda mais. Eles querem construir um "grande Israel", argumentando que toda essa área seria a terra que Deus (Jeová) lhes teria prometido. E do lado dos árabes existem aqueles grupos radicais que pensam que a guerra só vai terminar no dia em que Israel não mais existir, o que significa que eles querem de volta toda a Palestina.
  Um grande problema para Israel e para a paz é a existência dos colonos judeus - geralmente ortodoxos ou radicais - que constroem suas casas em terras palestinas, principalmente na Cisjordânia. Eles tornam difícil a ação do governo de Israel, pois este não consegue desalojá-los sem usar a violência, e se usar terá contra si a opinião pública do país.
  Um outro importante problema para a paz é o desejo de retorno dos refugiados palestinos que residem em países vizinhos. As áreas destinadas para a criação do Estado Palestino - a Faixa de Gaza e a Cisjordânia - evidentemente não são suficientes para garantir a volta de todos esses refugiados.
  A Faixa de Gaza já é uma das áreas mais superpovoadas do mundo, com baixíssimas condições de vida e sérios problemas de abastecimento de moradias, de abastecimento de água, de rede de esgotos etc. Por esse motivo, nas negociações internacionais, as autoridades israelenses sempre recusam colocar na pauta o direito de retorno dos refugiados palestinos. Essa atitude de Israel se explica pelo fato de que, se aceitar o direito de retorno dos refugiados, logo será pressionado pela comunidade internacional a devolver suas terras ou lhes dar uma indenização, algo em que nem querem pensar.
Caminhões transportando material de construção na Faixa de Gaza
O MURO DE ISRAEL
  Em 2002, o governo israelense começou a construir uma obra polêmica e criticada por muitos e até mesmo dentro do país: um muro que irá separar Israel da Cisjordânia. Em 2004, a Corte Internacional de Justiça, que pertence à ONU, considerou esse muro "ilegal e contrário ao Direito Interncaional", mas mesmo assim, ele vem sendo edificado.
  Ele impede a livre circulação de pessoas, principalmente de palestinos, muitos dos quais trabalham em Israel, e avança sobre a chamada "Linha Verde", isto é, os limites entre o território de Israel e da Cisjordânia, o que significa que amplia ainda mais a área de Israel. Uma vez terminado, esse muro terá uma extensão de 703 quilômetros, contornando o território da Cisjordânia.
  O argumento israelense é que o muro é um instrumento de defesa contra os ataques terroristas. Mas ele passou por cima de muitas propriedades palestinas, cujos moradores foram desalojados e perderam as suas fontes de renda.
Desenho feito no muro no lado palestino 
  Alguns críticos desse muro, inclusive israelenses, afirmam que o seu propósito seria anexar mais terras para as crescentes colônias judaicas da Cisjordânia. A construção desse muro já provocou o confisco de alguns dos principais recursos das aldeias palestinas que ficam no seu percurso, como terras férteis e reservas hídricas. Dezenas de aldeias palestinas ficaram isoladas do lado de dentro do muro, o que obrigou as pessoas a virar mão de obra barata para a indústria israelense.
 

Fonte: VESSENTINI, José William. Geografia: o mundo em transformação. 1ª edição. Editora Ática: São Paulo, 2009.

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