A migração interna no Brasil acontece principalmente por motivos econômicos e desastres ecológicos. A população de um país não é apenas modificada pelas mortes e nascimentos de seus habitantes. É preciso levar em conta, também, os movimentos de entrada e de saída, ou seja, as migrações que ocorrem em seu território. As migrações internas são aquelas que se processam no interior de um país, como por exemplo, o êxodo rural.
Um exemplo de migração foi devido às secas que devastou o Nordeste brasileiro na década de 1960, que fizeram com que milhares de pessoas abandonassem suas casas no sertão nordestino por falta de alternativa agrícola e políticas sociais na região. Outro exemplo foi a migração de nordestinos para a região Norte do Brasil no fim do século XIX. Isto se deu por dois motivos: o início do ciclo da borracha e a grande seca que devastou a região Nordeste. Destaca-se também a movimentação de migrantes nordestinos e sulistas em busca de uma melhoria de vida na região Sudeste, único polo industrial na década de 1970.
A história do povo brasileiro é uma história de migrações. A migração no Brasil não ocorreu nem ocorre por causa de guerras, mas pela inconstância dos ciclos econômicos e de uma economia planejada, independente das necessidades da população.
Mapa mostrando alguns fluxos migratórios que ocorreram no território brasileiro |
As migrações internas podem ser:
- Êxodo rural - saída de moradores do campo para o meio urbano;
- Pendular - migração diária, típica das grandes metrópoles, em que o trabalhador sai cedo da cidade onde reside ou da periferia para chegar ao trabalho em outra cidade ou região central e só retorna no fim do dia;
- Transumância - migração periódica, sazonal e reversiva, como no caso os cortadores de cana, que se deslocam para as regiões produtoras de açúcar e álcool durante a colheita e depois retornam para o seu local de origem.
O fluxo migratório interno no Brasil é tradicionalmente intenso. A mobilidade interna sempre ocorreu, desde o início da colonização.
Migrações clássicas que ocorreram no território brasileiro |
Igualmente ao que ocorre com a migração internacional, o principal motivo da mobilidade demográfica interna é o aspecto socioeconômico. Na metade do século XX, quando o Brasil passou gradativamente a se transformar de país agroexportador para urbano industrial, os fluxos internos tornaram-se mais intensos.
A industrialização concentrada no Sudeste passou a exercer espetacular força de atração demográfica, principalmente o estado de São Paulo, para onde milhões de nordestinos migraram a partir dos anos 1950. A força e a marca dessa migração deixam fortes traços culturais até os dias de hoje.
Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, mais conhecido como Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. É um pavilhão que promove a cultura e o comércio de produtos nordestinos. |
As regiões brasileiras vão se caracterizando como de atração populacional, com destaque para o Sudeste, e outras de repulsão populacional (Nordeste, Minas Gerais, Espírito Santo e Santa Catarina). O êxodo rural, a partir da segunda metade do século XX, foi decisivo para a transformação da realidade demográfica brasileira.
Casa abandonada na zona rural de Floresta (PE), exemplo do êxodo rural |
Também merece destaque outro importante período de fluxo migratório: foi o iniciado nos anos 1970 e intensificado nas décadas de 1980 e 1990, quando muitas pessoas se dirigiram para as regiões Centro-Oeste e sul da Amazônia, motivadas pela expansão da fronteira agrícola brasileira, tendo a soja como carro-chefe desse movimento. Foi o período conhecido como "expansão das frentes pioneiras". Os sulistas foram os principais migrantes para essas regiões.
Fluxos migratórios no Brasil durante a década de 1970 |
Os estados onde a população aumentou nos últimos anos estão localizados nas regiões Norte e Centro-Oeste, exatamente o destino das migrações internas e onde ocorreu a expansão agrícola. O Censo de 2010 confirma que Amapá, Roraima e Acre foram os estados que mais cresceram demograficamente. Porém, o mesmo censo indica uma diminuição do ritmo das migrações internas no país, com uma redução de 11% do volume de migrantes em relação à primeira década deste século. Espera-se que essa tendência se confirme pelo censo programado para 2022.
Deslocamentos populacionais no Brasil |
Finalmente, nas duas primeiras décadas do século XX, deu-se o fenômeno da "migração de retorno". Milhares de nordestinos que no passado migraram sobretudo para a região Sudeste passam a retorna para os respectivos municípios e estados nativos, apesar de muitos deles continuarem a migrar para São Paulo e Rio de Janeiro. Esse retorno aconteceu em razão do reaquecimento da economia nordestina nos anos 2000 e 2010, movimento que pode ser interrompido pela estagnação econômica brasileira dos últimos anos, agravada pela pandemia da Covid-19.
Principais fluxos migratórios do Brasil no século XXI |
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
IBGE. Atlas nacional do Brasil Milton Santos. Rio de Janeiro, 2010.
GIRARDI, G.; ROSA, J. V. Atlas geográfico do estudante. São Paulo: FTD, 2016.
IBGE. Atlas do censo demográfico 2010. Rio de Janeiro, 2013.
RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
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