terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

O MAIO DE 1968 NA FRANÇA

   O Maio de 1968 foi um movimento político na França que, marcado por greves gerais e ocupações estudantis, tornou-se ícone de uma época onde a renovação dos valores veio acompanhada pela proeminente força de uma cultura jovem. A liberação sexual, a Guerra do Vietnã, o movimento pela ampliação dos direitos civis compunham toda a pólvora de um barril construído pela fala dos jovens estudantes da época. Mais do que iniciar algum tipo de tendência, o Maio de 68 pode ser visto como desdobramento de toda uma série de questões já propostas pela revisão dos costumes feita por lutas políticas, obras filosóficas e a euforia juvenil. Essa foi a maior revolta estudantil da década na França.

Barricadas em Bordeaux, em maio de 1968

  Vários fatores contribuíram para essa insurreição: desde a década de 1950, repercutia na França a luta pela descolonização e independência de países africanos que estavam sob o domínio de nações europeias; o desemprego crescia; havia insatisfação com a Guerra do Vietnã, então em sua fase mais violenta. Ademais, protestos de universitários e grupos políticos em todo o mundo começaram a questionar a ocupação do Vietnã pelos Estados Unidos.

  Outros eventos que refletiram nos movimentos estudantis francesas foram o assassinato de Martin Luther King Jr. (1929-1968), líder da luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, e os acontecimentos da Primavera de Praga.

  Os estudantes franceses, que já se encontravam em um estado de efervescência, ficaram ainda mais mobilizados contra as reformas propostas pelo governo para o sistema educacional do país, que aumentava consideravelmente o ingresso de universitários em um sistema que não estava preparado física, organizacional e intelectualmente para receber um influxo tão grande. Em uma visão mais ampla, as manifestações estudantis na França aconteciam esporadicamente desde 1966.

Policial lança bomba de gás para dispersar a multidão em Paris (França), em maio de 1968. A revolta estudantil francesa demonstrava a profunda insatisfação com a falta de liberdade e perspectiva.

  O início das manifestações se deu quando estudantes franceses da Universidade Paris X Nanterre (atual Universidade Paris Nanterre, uma das treze resultantes da divisão ocorrida em 1971, da antiga Universidade de Paris) ocuparam a instituição em retaliação à punição de colegas que protestavam contra a Guerra do Vietnã. Em 2 de maio de 1968, ocorreu um confronto violento com a polícia, e os estudantes que participavam foram ameaçados de expulsão pela administração da universidade.

  Diante da violência e da repressão policial, os protestos espalharam-se por outras universidades, chegando à Soubonne, unidade mais importante da antiga Universidade de Paris. As ruas da capital francesa foram tomadas por barricadas, e o número de pessoas e feridos aumentou. Segundo o sociólogo Michel Thiollent, os policiais incendiavam carros para que a opinião pública ficasse contra os estudantes, que respondiam lançando paralelepípedos. O movimento ganhou o apoio dos trabalhadores que, por sua vez, aproveitaram para reivindicar melhorias em suas condições de trabalho. Convocados pelos sindicatos, eles iniciaram uma greve geral que, segundo estimativas, mobilizou cerca de 10 milhões de trabalhadores franceses.

Estudantes no Quartier Latin, em Paris, durante as manifestações

  O governo do general Charles de Gaulle (1890-1970) recorreu às Forças Armadas para acabar com os protestos dos estudantes e concedeu aumento salarial aos operários, que terminaram a greve. Sem o apoio dos trabalhadores, os estudantes ficaram enfraquecidos. A população se dividia: uns eram a favor das reivindicações; outros clamavam pela volta da "ordem".

  Mesmo após seu fim, o movimento continuou provocando uma grande revisão de valores pela geração dos anos 1960. Os questionamentos morais e políticos dos jovens ganharam visibilidade e serviram de incentivo para vários movimentos sociais no mundo que defendiam as liberdades civis e democráticos, a liberdade sexual, a luta feminista, a igualdade entre negros e brancos, o consumo consciente, os direitos dos imigrantes e outras minorias.

  Nas eleições convocadas pelo governo francês, os políticos vinculados à figura de Gaulle conseguiram expressiva vitória. O presidente saiu do episódio como uma figura capaz de contornar os problemas enfrentados pela sociedade da época.

  Mesmo sem alcançar algum tipo de conquista objetiva, o movimento de Maio de 1968 indicou uma mudança de comportamento. As artes, a filosofia e as relações afetivas seriam o espaço de ação de um mundo marcado por mudanças.

Manifestantes em enfrentamento com a polícia nos arredores da Universidade de Soubonne

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

THIOLLENT, Michel. Maio de 1968 em Paris: testemunho de um estudante. Tempo Social (Rev.sociol. USP), São Paulo, v. 10 n. 2, out. 1998.

1968, quando a Terra tremeu. Roberto Sander. São Paulo: Vestígio, 2018.

1968, o ano que não terminou. Zuenir Ventura. São Paulo: Objetiva, 2018.

Um comentário:

Rita de Cassia Soares disse...

Um excelente matéria. Parabéns professor MARCIANO Dantas.

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